lemorim/portuguese_audios_male · Datasets at Hugging Face

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	E eu, pobre e triste, Que só no teu olhar leio a ventura, Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora?	4367
	E tu, descendo na onda harmoniosa, Pousaste n'este solo angustiado, Estrella envolta n'um clarão sagrado, Do teu limpido olhar na luz radiosa.	4367
	a mim o que me ha dado?	4367
	E a mim, a quem deu olhos para ver-te, Sem poder mais.	4367
	Voz, que te cante, e uma alma para amar-te!	4367
	A	4367
	Conserva na tua alma a virgindade, E tenha o coração na rica aurora Das rosas o matiz; Se a donzela cuspir nos teus amores Chora perdida essa ilusão primeira. Mas vive e sê feliz!	4367
	Se o peito morto Doce conforto Sentisse agora Na sua dor; Talvez nest'hora Viver quisera Na primavera De casto amor!	4367
	Oh! meu céu de primavera Que doce a vida não era Nessa risonha manhã!	4367
	No branco leito de pedra, Onde a miséria não medra, Sonhar os sonhos do céu!. Ha tantas rosas nas campas! Tanta rama nos ciprestes!	4367
	pude ver o volume completo e o entrego hoje sem receio e sem pretensões. Todos aí acharão cantigas de criança, trovas de mancebo, e raríssimos lampejos de reflexão e de estudo:	4367
	Que amor, que sonhos, que flores. Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!	4367
	E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel!	4367
	Tu, que foste a vestal dos sonhos d'ouro, O anjo-tutelar dos meus anelos, Estende sobre mim as asas brancas. Desenrola os anéis dos teus cabelos!	4367
	Morena, minha sereia, Tu és a rosa da aldeia, Mulher mais linda não há; Ninguém t'iguala ou t'imita Co'as tranças presas na fita, Co'as flores no samburá!	4367
	Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus!	4367
	A gota de orvalho Tremendo no galho Do velho carvalho, Nas folhas do ingá; O bater do seio, Dos bosques no meio O doce gorjeio Dalgum sabiá;	4367
	Numa hora de desalento rasguei muitas dessas páginas cândidas e quase que pedi o bálsamo da sepultura para as úlceras recentes do coração;	4367
	Perfumes da floresta, vozes doces, Mansa lagoa que o luar prateia, Claros riachos, cachoeiras altas, Ondas tranqüilas que morreis na areia;	4367
	Como a ave dos palmares Pelos ares Fugindo do caçador; Eu vivo longe do ninho, Sem carinho; Sem carinho e sem amor!	4367
	Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!	4367
	As tardes estivas, E as rosas lascivas Erguendo-se altivas Aos raios do sol;	4367
	Ó anjo da loura trança, A onda é mansa O céu é lindo dossel; E sobre o mar tão dormente, Docemente Deixa correr teu batel.	4367
	Se brasileiro eu nasci Brasileiro hei de morrer, Que um filho daquelas matas Ama o céu que o viu nascer;	4367
	Mancebo, atrás da glória que sorria, Sonhou grandezas para a pátria um dia, E a ela os sonhos deu;	4367
	Do templo nas naves As notas suaves, E o trino das aves Saudando o arrebol;	4367
	Oh! quantas vezes a prendi nos braços! Que o diga e fale o laranjal florido! Se mão de ferro espedaçou dois laços Ambos choramos mas num só gemido!	4367
	Oh! vem depressa, minha vida foge. Sou como o lírio que já murcho cai! Ampara o lírio que inda é tempo hoje! Orvalha o lírio que morrendo vai!.	4367
	Feliz! Feliz quem pudera Colher-te na primavera De galas rica e louçã!	4367
	Pois essa alma é tão sedenta Que um só amor não contenta E louca quer variar? Se já tens amores belos, P'ra que vais dar teus desvelos Aos goivos da beira-mar? Não	4367
	Deixava a pátria, é verdade, Ia morrer de saudade Noutros climas, noutras plagas; Mas tinha orações ferventes Duns lábios inda inocentes Enquanto cortasse as vagas.	4367
	Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!	4367
	Mas hoje, minha querida, Eu dera até esta vida P'ra poupar Essas lágrimas queixosas, Que as tuas faces mimosas Vêm molhar!	4367
	Vós do tronco feliz doce renovo, Vede agora, Senhor, na voz do povo Quão grande é seu amor!	4367
	Meu Deus! tu que és tão bom e tão clemente, P'ra que apagas, Senhor, a chama ardente Num crânio de vulcão? P'ra que poupas o cedro já vetusto E, sem dó, vais ferir o pobre arbusto Às vezes no embrião?!	4367
	O país, n'alegria todo imerso, Velava atento à roda só dum berço.	4367
	Na juventude, no florir dos anos, Não sei que vozes nos entornam n'alma Canções de querubim!	4367
	lamentemos essa pura estrela Sumida, como no horizonte a vela Nas névoas da manhã! A sepultura foi há pouco aberta. Mas o dormente já se não desperta À voz de sua irmã!	4367
	Dorme pois! Sobre a campa mal cerrada, Nós que sabemos que esta vida é nada Choramos um irmão;	4367
	Uns perdem, como eu, cedo os verdores, Mas outros crescem no primor das graças E tu serás assim	4367
	Oh! dias da minha infância!	4367
	Tremem as folhas e palpita o lago Da brisa louca aos amorosos frisos. Na primavera tudo é viço e gala, Trinam as aves a canção de amores.	4367
	Eu vi-a lacrimosa sobre as pedras Rojar-se essa mulher que a dor ferira! A morte lhe roubara dum só golpe Marido e filho, encaneceu-lhe a fronte,	4367
	Eu serei teu vassalo e teu cativo Nas terras onde és rei A sombra dos bambus vem tu ser minha Teu reinado de amor, doce rainha, Na lira cantarei.	4367
	Volvo contente para o pátrio ninho, Deixei sorrindo esses vergéis do sul; Tinha saudades deste sol de fogo. Não deixo mais este meu céu azul!.	4367
	Ai! Morena, ai! meus amores, Eu quero comprar-te as flores, Mas dá-me um beijo também; Que importam rosas do prado Sem o sorriso engraçado Que a tua boquinha tem?.	4367
	vem! eu sou a flor aberta à noite Pendida no arrebol! Dá-me um carinho dessa voz lasciva, E a flor pendida s'erguerá mais viva Aos raios desse sol!	4367
	E d'envolta c'os prantos da amizade Aqui trazemos, nos goivos da saudade, As vozes da oração!	4367
	Um anjo dorme aqui: na aurora apenas, Disse adeus ao brilhar das açucenas Sem ter da vida alevantado o véu.	4367
	Lá, quando a terra s'embuçar nas sombras E o sol medroso s'esconder nas águas, Teu pensamento, como o sol que morre, Há de cismando mergulhar-se em mágoas!	4367
	Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal!	4367
	Feliz oh! flor dos amores, Quem te beber os odores Nos orvalhos da manhã!	4367
	Na hora da despedida Tão cruel e tão sentida P'ra quem sai do lar fagueiro; Duma lágrima orvalhada, Esta rosa foi-me dada Ao som dum beijo primeiro.	4367
	E como a flor que solitária pende Sem ter carícias no voar da brisa, Minh'alma murcha, mas ninguém entende Que a pobrezinha só de amor precisa!	4367
	Quisera a vida mais longa Se mais longa Deus m'a dera, Porque é linda a primavera, Porque é doce este arrebol, Porque é linda a flor dos anos Banhada da luz do sol!	4367
	Era um louco, em noites belas Vinha fitar as estrelas Nas praias, co'a fronte nua! Chorava canções sentidas E ficava horas perdidas Sozinho, mirando a lua!	4367
	Eu de pé sobre as rochas erguidas Sinto o pranto que manso desliza E repito essas queixas sentidas Que murmuram as ondas	4367
	Dizem que há gozos nas mundanas galas, Mas eu não sei em que o prazer consiste.	4367
	Era a mesma expressão, o mesmo rosto, Os mesmos olhos só nadando em luz, E uns doces longes, como dum desgosto. Toldando a fronte que de amor seduz!	4367
	Quando a lua majestosa Surgindo linda e formosa, Como donzela vaidosa Nas águas se vai mirar! Nessas horas de silêncio, De tristezas e de amor,	4367
	Depois. o caçador chega cantando. À pomba faz o tiro. A bala acerta e ela cai de bruços, E a voz lhe morre nos gentis soluços, No final suspiro.	4367
	Eram uns olhos escuros Muito belos, muito puros, Como os teus! Uns olhos assim tão lindos Mostrando gozos infindos, Só dos céus!	4367
	Julgo ver sobre o mar sossegado Um navio nas sombras fugindo, E na popa esse rosto adorado Entre prantos p'ra mim se sorrindo! Compreendo esse amargo sorriso, Sobre as ondas correr eu quisera.	4367
	Minha campa será entre as mangueiras Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar!	4367
	Era a mesma visão que eu dantes via, Quando a minha alma transbordava em fé; E nesta eu creio como na outra eu cria, Porque é a mesma visão, bem sei que é!	4367
	Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil;	4367
	Borboleta dos amores, Como a outra sobre as flores, Porque és volúvel assim? Porque deixas, caprichosa, Porque deixas tu a rosa E vais beijar o jasmim?	4367
	Em troca do seu perfume Quanta saudade resume E quantos prantos também!	4367
	Como o nauta olha o céu de primavera, Eu, sentado a seus pés, ébrio de amor, Espreitara tremendo no seu rosto A sombra fugitiva dum desgosto, À nuvem duma dor!	4367
	Não manches meu poeta as vestes brancas No mundo infame; mirra-se a grinalda E vão-se as ilusões! A crença se desbota e o nauta chora Desanimado no vaivém teimoso Dos grossos vagalhões!	4367
	Toda essa ternura Que a rica natura Soletra e murmura Nos hálitos seus, Da terra os encantos, Das noites os prantos, São hinos, são cantos Que sobem a Deus!	4367
	Mártir do estudo, na ciência ingrata Bebeu nos livros esse fel que mata E pobre adormeceu!	4367
	Depois eu indolente descuidei-me Da planta nova dos gentis amores, E a criança, correndo pela vida, Foi colher nos jardins mais lindas flores.	4367
	Eu olhei, ela olhou. doce mistério! Minh'alma despertou-se à luz da vida, E as vozes duma lira e dum piano Juntas se uniram na canção querida.	4367
	Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo,	4367
	Da noite o pranto, que tão pouco dura, Brilha nas folhas como um rir celeste, E a mesma gota transparente e pura Treme na relva que a campina veste.	4367
	Adormecia sorrindo E despertava a cantar!	4367
	Mas vê-la depois lascada Em duas cair no chão!. Mas ver o pobre mancebo Em quem a seiva reluz, No sonho cândido e puro Nas glórias do seu futuro Dourando a vida de luz	4367
	Mas se Deus cortar-me os dias No meio das melodias, Dos sonhos da mocidade, Minh'alma tranqüila e pura À beira da sepultura Sorrirá à eternidade.	4367
	A natureza se desperta rindo, Um hino imenso a criação modula, Canta a calhandra, a juriti arrula, O mar é calmo porque o céu é lindo.	4367
	é o coração que se espraia sobre o eterno tema do amor e que soletra o seu poema misterioso ao luar melancólico das nossas noites.	4367
	Ao menos, nesse momento Em que o letargo nos vem Na hora do passamento, No suspirar da agonia Terei a fronte já fria No colo de minha mãe! Mas	4367
	Eu era entusiasta então e escrevia muito, porque me embalava à sombra duma esperança que nunca pude ver realizada.	4367
	Oh! que saudades tamanhas Das montanhas, Daqueles campos natais! Daquele céu de safira Que se mira, Que se mira nos cristais!	4367
	As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci!	4367
	Vi-a e amei-a, que a minha alma ardente Em longos sonhos a sonhara assim; O ideal sublime, que eu criei na mente, Que em vão buscava e que encontrei por fim!	4367
	Ilusão!. que a minha alma, coitada, De ilusões hoje em dia é que vive; É chorando uma gloria passada, É carpindo uns amores que eu tive!	4367
	Da tarde virei da selva Sobre a relva Os meus suspiros te dar; E de noite na corrente Mansamente Mansamente te embalar!	4367
	É uma folha caída Do livro da minha vida, Um canto imenso de dor!	4367
	Depois, mais tarde, nas ribas pitorescas do Douro ou nas várzeas do Tejo, tive saudades do meu ninho das florestas e cantei;	4367
	Quando o bronze da torre da aldeia Seus gemidos aos ecos envia, E que o peito que em mágoas anseia Bebe louco essa grave harmonia;	4367
	Quando se sente como eu sinto e sofro, A mente ferve e o coração palpita De glórias e de amor: Se ouço Arthur ao piano eu me extasio, Mas ouvindo teus hinos me arrebato E pasmo ante o cantor!	4367
	Não sabes que a flor traída Na débil haste pendida Em breve murcha será? Que de ciúmes fenece E nunca mais estremece Aos beijos que a brisa dá?.	4367
	Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro, E desses olhos um volver, um só; E verás que meu estro, hoje rasteiro, Cantando amores s'erguerá do pó!	4367
	Senhor! livrai-a da rajada dura A flor mimosa que desponta agora; Deitai-lhe orvalho na corola pura, Dai-lhe bafejos, prolongai-lhe a aurora!	4367
	Corri pelas campinas noite e dia Atrás do berço d'ouro dessa fada; Rasguei-me nos espinhos do caminho. Cansei-me a procurar e não vi nada!	4367
	veio por seu turno debruçar-se sobre o espelho mágico da minha alma e aí estampar a sua imagem fugitiva. Se nessa coleção de imagens predomina o perfil gracioso duma virgem, facilmente se explica:	4367
	E depois. quando a lua ilumina O horizonte com luz prateada, Julgo ver essa fronte divina Sobre as vagas cismando, inclinada!	4367
	Por ventura te esqueceste Quando de amor me perdeste Num sorrir? Agora em cólera imensa Já queres dar a sentença Sem me ouvir!	4367
	Como a criança que banhada em prantos Procura o brinco que levou-lhe o rio, Minh'alma quer ressuscitar nos cantos Um só dos lírios que murchou o estio.	4367

E eu, pobre e triste, Que só no teu olhar leio a ventura, Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora?

4367

E tu, descendo na onda harmoniosa, Pousaste n'este solo angustiado, Estrella envolta n'um clarão sagrado, Do teu limpido olhar na luz radiosa.

4367

a mim o que me ha dado?

4367

E a mim, a quem deu olhos para ver-te, Sem poder mais.

4367

Voz, que te cante, e uma alma para amar-te!

4367

A

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Conserva na tua alma a virgindade, E tenha o coração na rica aurora Das rosas o matiz; Se a donzela cuspir nos teus amores Chora perdida essa ilusão primeira. Mas vive e sê feliz!

4367

Se o peito morto Doce conforto Sentisse agora Na sua dor; Talvez nest'hora Viver quisera Na primavera De casto amor!

4367

Oh! meu céu de primavera Que doce a vida não era Nessa risonha manhã!

4367

No branco leito de pedra, Onde a miséria não medra, Sonhar os sonhos do céu!. Ha tantas rosas nas campas! Tanta rama nos ciprestes!

4367

pude ver o volume completo e o entrego hoje sem receio e sem pretensões. Todos aí acharão cantigas de criança, trovas de mancebo, e raríssimos lampejos de reflexão e de estudo:

4367

Que amor, que sonhos, que flores. Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!

4367

E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel!

4367

Tu, que foste a vestal dos sonhos d'ouro, O anjo-tutelar dos meus anelos, Estende sobre mim as asas brancas. Desenrola os anéis dos teus cabelos!

4367

Morena, minha sereia, Tu és a rosa da aldeia, Mulher mais linda não há; Ninguém t'iguala ou t'imita Co'as tranças presas na fita, Co'as flores no samburá!

4367

Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus!

4367

A gota de orvalho Tremendo no galho Do velho carvalho, Nas folhas do ingá; O bater do seio, Dos bosques no meio O doce gorjeio Dalgum sabiá;

4367

Numa hora de desalento rasguei muitas dessas páginas cândidas e quase que pedi o bálsamo da sepultura para as úlceras recentes do coração;

4367

Perfumes da floresta, vozes doces, Mansa lagoa que o luar prateia, Claros riachos, cachoeiras altas, Ondas tranqüilas que morreis na areia;

4367

Como a ave dos palmares Pelos ares Fugindo do caçador; Eu vivo longe do ninho, Sem carinho; Sem carinho e sem amor!

4367

Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!

4367

As tardes estivas, E as rosas lascivas Erguendo-se altivas Aos raios do sol;

4367

Ó anjo da loura trança, A onda é mansa O céu é lindo dossel; E sobre o mar tão dormente, Docemente Deixa correr teu batel.

4367

Se brasileiro eu nasci Brasileiro hei de morrer, Que um filho daquelas matas Ama o céu que o viu nascer;

4367

Mancebo, atrás da glória que sorria, Sonhou grandezas para a pátria um dia, E a ela os sonhos deu;

4367

Do templo nas naves As notas suaves, E o trino das aves Saudando o arrebol;

4367

Oh! quantas vezes a prendi nos braços! Que o diga e fale o laranjal florido! Se mão de ferro espedaçou dois laços Ambos choramos mas num só gemido!

4367

Oh! vem depressa, minha vida foge. Sou como o lírio que já murcho cai! Ampara o lírio que inda é tempo hoje! Orvalha o lírio que morrendo vai!.

4367

Feliz! Feliz quem pudera Colher-te na primavera De galas rica e louçã!

4367

Pois essa alma é tão sedenta Que um só amor não contenta E louca quer variar? Se já tens amores belos, P'ra que vais dar teus desvelos Aos goivos da beira-mar? Não

4367

Deixava a pátria, é verdade, Ia morrer de saudade Noutros climas, noutras plagas; Mas tinha orações ferventes Duns lábios inda inocentes Enquanto cortasse as vagas.

4367

Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!

4367

Mas hoje, minha querida, Eu dera até esta vida P'ra poupar Essas lágrimas queixosas, Que as tuas faces mimosas Vêm molhar!

4367

Vós do tronco feliz doce renovo, Vede agora, Senhor, na voz do povo Quão grande é seu amor!

4367

Meu Deus! tu que és tão bom e tão clemente, P'ra que apagas, Senhor, a chama ardente Num crânio de vulcão? P'ra que poupas o cedro já vetusto E, sem dó, vais ferir o pobre arbusto Às vezes no embrião?!

4367

O país, n'alegria todo imerso, Velava atento à roda só dum berço.

4367

Na juventude, no florir dos anos, Não sei que vozes nos entornam n'alma Canções de querubim!

4367

lamentemos essa pura estrela Sumida, como no horizonte a vela Nas névoas da manhã! A sepultura foi há pouco aberta. Mas o dormente já se não desperta À voz de sua irmã!

4367

Dorme pois! Sobre a campa mal cerrada, Nós que sabemos que esta vida é nada Choramos um irmão;

4367

Uns perdem, como eu, cedo os verdores, Mas outros crescem no primor das graças E tu serás assim

4367

Oh! dias da minha infância!

4367

Tremem as folhas e palpita o lago Da brisa louca aos amorosos frisos. Na primavera tudo é viço e gala, Trinam as aves a canção de amores.

4367

Eu vi-a lacrimosa sobre as pedras Rojar-se essa mulher que a dor ferira! A morte lhe roubara dum só golpe Marido e filho, encaneceu-lhe a fronte,

4367

Eu serei teu vassalo e teu cativo Nas terras onde és rei A sombra dos bambus vem tu ser minha Teu reinado de amor, doce rainha, Na lira cantarei.

4367

Volvo contente para o pátrio ninho, Deixei sorrindo esses vergéis do sul; Tinha saudades deste sol de fogo. Não deixo mais este meu céu azul!.

4367

Ai! Morena, ai! meus amores, Eu quero comprar-te as flores, Mas dá-me um beijo também; Que importam rosas do prado Sem o sorriso engraçado Que a tua boquinha tem?.

4367

vem! eu sou a flor aberta à noite Pendida no arrebol! Dá-me um carinho dessa voz lasciva, E a flor pendida s'erguerá mais viva Aos raios desse sol!

4367

E d'envolta c'os prantos da amizade Aqui trazemos, nos goivos da saudade, As vozes da oração!

4367

Um anjo dorme aqui: na aurora apenas, Disse adeus ao brilhar das açucenas Sem ter da vida alevantado o véu.

4367

Lá, quando a terra s'embuçar nas sombras E o sol medroso s'esconder nas águas, Teu pensamento, como o sol que morre, Há de cismando mergulhar-se em mágoas!

4367

Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal!

4367

Feliz oh! flor dos amores, Quem te beber os odores Nos orvalhos da manhã!

4367

Na hora da despedida Tão cruel e tão sentida P'ra quem sai do lar fagueiro; Duma lágrima orvalhada, Esta rosa foi-me dada Ao som dum beijo primeiro.

4367

E como a flor que solitária pende Sem ter carícias no voar da brisa, Minh'alma murcha, mas ninguém entende Que a pobrezinha só de amor precisa!

4367

Quisera a vida mais longa Se mais longa Deus m'a dera, Porque é linda a primavera, Porque é doce este arrebol, Porque é linda a flor dos anos Banhada da luz do sol!

4367

Era um louco, em noites belas Vinha fitar as estrelas Nas praias, co'a fronte nua! Chorava canções sentidas E ficava horas perdidas Sozinho, mirando a lua!

4367

Eu de pé sobre as rochas erguidas Sinto o pranto que manso desliza E repito essas queixas sentidas Que murmuram as ondas

4367

Dizem que há gozos nas mundanas galas, Mas eu não sei em que o prazer consiste.

4367

Era a mesma expressão, o mesmo rosto, Os mesmos olhos só nadando em luz, E uns doces longes, como dum desgosto. Toldando a fronte que de amor seduz!

4367

Quando a lua majestosa Surgindo linda e formosa, Como donzela vaidosa Nas águas se vai mirar! Nessas horas de silêncio, De tristezas e de amor,

4367

Depois. o caçador chega cantando. À pomba faz o tiro. A bala acerta e ela cai de bruços, E a voz lhe morre nos gentis soluços, No final suspiro.

4367

Eram uns olhos escuros Muito belos, muito puros, Como os teus! Uns olhos assim tão lindos Mostrando gozos infindos, Só dos céus!

4367

Julgo ver sobre o mar sossegado Um navio nas sombras fugindo, E na popa esse rosto adorado Entre prantos p'ra mim se sorrindo! Compreendo esse amargo sorriso, Sobre as ondas correr eu quisera.

4367

Minha campa será entre as mangueiras Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar!

4367

Era a mesma visão que eu dantes via, Quando a minha alma transbordava em fé; E nesta eu creio como na outra eu cria, Porque é a mesma visão, bem sei que é!

4367

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil;

4367

Borboleta dos amores, Como a outra sobre as flores, Porque és volúvel assim? Porque deixas, caprichosa, Porque deixas tu a rosa E vais beijar o jasmim?

4367

Em troca do seu perfume Quanta saudade resume E quantos prantos também!

4367

Como o nauta olha o céu de primavera, Eu, sentado a seus pés, ébrio de amor, Espreitara tremendo no seu rosto A sombra fugitiva dum desgosto, À nuvem duma dor!

4367

Não manches meu poeta as vestes brancas No mundo infame; mirra-se a grinalda E vão-se as ilusões! A crença se desbota e o nauta chora Desanimado no vaivém teimoso Dos grossos vagalhões!

4367

Toda essa ternura Que a rica natura Soletra e murmura Nos hálitos seus, Da terra os encantos, Das noites os prantos, São hinos, são cantos Que sobem a Deus!

4367

Mártir do estudo, na ciência ingrata Bebeu nos livros esse fel que mata E pobre adormeceu!

4367

Depois eu indolente descuidei-me Da planta nova dos gentis amores, E a criança, correndo pela vida, Foi colher nos jardins mais lindas flores.

4367

Eu olhei, ela olhou. doce mistério! Minh'alma despertou-se à luz da vida, E as vozes duma lira e dum piano Juntas se uniram na canção querida.

4367

Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo,

4367

Da noite o pranto, que tão pouco dura, Brilha nas folhas como um rir celeste, E a mesma gota transparente e pura Treme na relva que a campina veste.

4367

Adormecia sorrindo E despertava a cantar!

4367

Mas vê-la depois lascada Em duas cair no chão!. Mas ver o pobre mancebo Em quem a seiva reluz, No sonho cândido e puro Nas glórias do seu futuro Dourando a vida de luz

4367

Mas se Deus cortar-me os dias No meio das melodias, Dos sonhos da mocidade, Minh'alma tranqüila e pura À beira da sepultura Sorrirá à eternidade.

4367

A natureza se desperta rindo, Um hino imenso a criação modula, Canta a calhandra, a juriti arrula, O mar é calmo porque o céu é lindo.

4367

é o coração que se espraia sobre o eterno tema do amor e que soletra o seu poema misterioso ao luar melancólico das nossas noites.

4367

Ao menos, nesse momento Em que o letargo nos vem Na hora do passamento, No suspirar da agonia Terei a fronte já fria No colo de minha mãe! Mas

4367

Eu era entusiasta então e escrevia muito, porque me embalava à sombra duma esperança que nunca pude ver realizada.

4367

Oh! que saudades tamanhas Das montanhas, Daqueles campos natais! Daquele céu de safira Que se mira, Que se mira nos cristais!

4367

As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci!

4367

Vi-a e amei-a, que a minha alma ardente Em longos sonhos a sonhara assim; O ideal sublime, que eu criei na mente, Que em vão buscava e que encontrei por fim!

4367

Ilusão!. que a minha alma, coitada, De ilusões hoje em dia é que vive; É chorando uma gloria passada, É carpindo uns amores que eu tive!

4367

Da tarde virei da selva Sobre a relva Os meus suspiros te dar; E de noite na corrente Mansamente Mansamente te embalar!

4367

É uma folha caída Do livro da minha vida, Um canto imenso de dor!

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Depois, mais tarde, nas ribas pitorescas do Douro ou nas várzeas do Tejo, tive saudades do meu ninho das florestas e cantei;

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Quando o bronze da torre da aldeia Seus gemidos aos ecos envia, E que o peito que em mágoas anseia Bebe louco essa grave harmonia;

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Quando se sente como eu sinto e sofro, A mente ferve e o coração palpita De glórias e de amor: Se ouço Arthur ao piano eu me extasio, Mas ouvindo teus hinos me arrebato E pasmo ante o cantor!

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Não sabes que a flor traída Na débil haste pendida Em breve murcha será? Que de ciúmes fenece E nunca mais estremece Aos beijos que a brisa dá?.

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Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro, E desses olhos um volver, um só; E verás que meu estro, hoje rasteiro, Cantando amores s'erguerá do pó!

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Senhor! livrai-a da rajada dura A flor mimosa que desponta agora; Deitai-lhe orvalho na corola pura, Dai-lhe bafejos, prolongai-lhe a aurora!

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Corri pelas campinas noite e dia Atrás do berço d'ouro dessa fada; Rasguei-me nos espinhos do caminho. Cansei-me a procurar e não vi nada!

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veio por seu turno debruçar-se sobre o espelho mágico da minha alma e aí estampar a sua imagem fugitiva. Se nessa coleção de imagens predomina o perfil gracioso duma virgem, facilmente se explica:

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E depois. quando a lua ilumina O horizonte com luz prateada, Julgo ver essa fronte divina Sobre as vagas cismando, inclinada!

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Por ventura te esqueceste Quando de amor me perdeste Num sorrir? Agora em cólera imensa Já queres dar a sentença Sem me ouvir!

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Como a criança que banhada em prantos Procura o brinco que levou-lhe o rio, Minh'alma quer ressuscitar nos cantos Um só dos lírios que murchou o estio.

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