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TÍTULO: O Linho |
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LOCAL: Portugal - Ponta Garça, Vila Franca do Campo, Açores |
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DATA: 1996 |
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INFORMANTE |
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SEXO: M |
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IDADE: 62 anos |
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ESCOLARIDADE: 4 anos |
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PROFISSÃO: Agricultor |
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OBSERVAÇÕES: O informante produz 'currales' por "currais", fenómeno ainda frequente nas camadas mais idosas da região dos Açores. |
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-> semeava-se, eh, as senhoras co[...], conhecem a semente do linho, não conhecem? |
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- sim. |
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-> é uma sementinha muito miudinha, não é, |
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- linhaça. |
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-> é uma lia[...], tratam de linhaça, que é a semente, que até é muito, diz que é muito bom para deitar em vistas quando, quando está inflamado e que no tempo a gente deitava, na nossa casa deitava-se, se tinha alguma coisa dentro aquilo no out[...], a gente deitava um grãozinho daquilo e aquilo limpava a vista, tirava tudo para fora. aquilo semeava-se na terra, um bocadinho de terra daquilo, não é, aquilo crescia, não é, bom, quando estava assim grandinho, aquilo era mondado. tirar aquela erva que não e[...], que não era boa, para o li[...], para o linho crescer. as mulheres, raparigas iam mondar aquilo, nem sequer os homens mondavam. era, se tinham tempo os homens também ajudavam a mondar, mas quase sempre era raparigas que trabalhavam nisso. ele crescia mais um bocadinho, não é, crescia. é, o linho era, com rapazes outras vezes e as raparigas, era todo amassado, debulhado, todo, am[...], para ele amassar |
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- [...] |
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-> para ele tombar. para ele ficar tombado, a dormir para ali. ficava ali. e ele dali é que se punha em pé outra vez. chegava à fim de muito tempo ele ia-se pondo em pé. até ele espigar e dar a semente outra vez. chegava a altura da semente estar cheia, as pessoas arrancavam o linho e, ah, traziam-no para casa. havia um ripanço - a senhora, não sei se sabem o que é um ripanço |
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- [...] |
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-> com uns dentes assim de ferro, sim senhora. encostavam-lha, encostavam aquilo num banco |
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- calça-se a uma pedra. |
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-> calçavam duas pedras aqui que eram pesadas para aguentar o banco, calçavam o, o ripanço atrás com uma pedra, também pesada, não é, e as mulheres ripavam aquilo. para, para a semente cair toda, para, para tirar a semente, para o ano ter semente outra vez. depois do linho estar ripado, o linho era estendido em currais de reses, que havia muito curral de reses |
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- [...] |
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-> nout[...],num lugar duro, num lugar, não é, na, na terra. num lugar fir[...], num... chão duro. e aquilo estava para ali a secar. acabava de secar, estava ali uma temporada a secar, não é, acabava de secar, o linho ia para o forno. as mulheres coziam pão, e o linho entrava para o forno e coiso, depois de tirar o pão, o forno quente |
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- pois, pois. |
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-> aquilo estava tudo em manchinhos, para o forno a secar. acabava de, de secar bem. quando ele estava bem seco, havia aqui nesta casa de meu sobrinho, que é aqui, nessa entrada dessa canada havia ali um, umas pedras do mar, que era de amassar o linho. com a ajuda das mulheres todas ali, que aquilo e[...], estava sempre pedido, quando um acabava entrava outro, aqui essa casa, a minha madrinha tinha isso ali. era o lugar de, de ma[...], de amassar bem o linho. |
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- com quê? |
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-> com uma maça, com uma maça de madeira, eu te[...], ainda tenho lá uma em casa, também. as mulheres lá am[...], amassando aquilo bem amassado, acabavam de amassar o linho, o linho entrava outra vez para o forno. ia outra vez ao forno e do forno ia para as pastagens. se[...], ah, estendiam nas pastagens, depois do pasto est[...], ter, ta[...], estar comido, não é com erva grande, é quando, ah, as vacas acabavam de comer o pasto, as mulheres pediam aos lavradores "homem, tu podes-me deixar estender linho no teu pasto, e assim, assim", ele lá deixava. estendiam aquilo tudo. havia temporadas de vento, que às vezes enrolava aquilo tudo para os cômoros, para as barreiras, alarg[...], era só dizer a elas "o linho está para ir, vocês vão ver o linho que aquilo estava tudo lá pa[...]", lá as pobrezinhas, juntar aquilo outra vez, para deitar aquilo tudo. quando a erva pegava bem no linho, é que o vento nunca mais levantava. |
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- pois. |
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-> aquilo estava ali uns tempos outra vez em [...] e traziam o linho para baixo. ah, lá l[...], l[...], linho para baixo outra vez para as, havia outras mulheres que trabalhavam no linho, que era... gramar o linho. |
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- [...] |
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-> com a gramadeira, gramar o linho. depois do linho gramado ia pa[...], para as costas de uma cadeira, para a tasquinha, para tasquinhar o linho. |
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- que era para tirar o quê? |
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-> eh, para pôr o linho fino. |
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- pois. |
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-> a tasquinha é que tirava aquela folhada toda do linho, aquilo tudo que não prestava que ia fora. e ficava aqueles cabelos, f[...], aqueles cabelos fininhos, muito fininhos, bem tasquinhado, a mulher estava nas costas da cadeira e com uma tasquinha, que era como uma espada de, tudo em madeira |
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- pois. |
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-> sempre a dar-lhe e dava, viravam aquilo para um lado e para o outro, tasquinhavam aquilo muito bem tasquinhado. depois de ter bem tasqu[...], eh, tast[...], eh, eh... |
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- tasquinhado. |
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-> tasquinhado, ia para os teares, para, ah, ah! havia |
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- [...] havia |
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-> ainda havia uma roca. |
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- as mulheres que fiavam... |
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-> as mulheres que fiavam, com a, com saliva da boca e estavam com a roca fiando com um fuso. enrolavam aquilo, quando aquilo estava em fio |
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- fazer linhas, para fazer linhas. |
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-> fazer linha, é, é que aquilo ia fazer obra. |
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