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TÍTULO: A Juventude Ontem e Hoje LOCAL: Portugal - Braga DATA: 1995 INFORMANTE SEXO: F IDADE: 82 anos ESCOLARIDADE: 11 anos PROFISSÃO: Professora Primária reformada OBSERVAÇÕES: A filha da informante está presente durante a conversa. -> naquele tempo não, não, não se andava muito ah, ah, sozinho, era, tinha de ser. isto, já está a ver, há sessenta e tal anos. eu estou com oitenta e quatro, faz favor de ver. - eh, eh, disse que naquele tempo não se andava muito sozinho -> não. - ao contrário do que se passa hoje, não é, -> oh, oh, hoje é uma desgraça. só, as, os pequenas - tenho uma sobrinha-neta que aos catorze ou quinze anos já queria, sei lá, andar sozinha, não queria n[...], era de noite e de dia, tudo mais, já sabe como é. elas agora entendem que a, que a liberdade e a felicidade que se constrói assim mas... está bem. - e acha que os pais actualmente podem fazer alguma coisa? -> não podem, porque q[...], se quiserem prender em casa, estragam tudo. porque eles vão, encontram-se uns com os outros "ou o teu velho faz assim, o teu velho faz assado, eu não ad[...], eu não admitia isso, eu fugia", até a[...], aconselham isto. portanto, os de fora, se todos se, se reunissem e fossem homoge[...], uma, uma educação homogénea, não! mas não é. porque cada um o que se quer é ver livre dos filhos. não se preocupam com o futuro deles. preocupam-se com o bem-estar deles e que tem a sua fa[...], eu bem sei que agora a, a altura também não é para brincadeiras. o pai trabalha, a mãe trabalha, os filhos ficam abandonados, não é, eles lá já se habituam a preparar os seus alimentos, etc., etc., tudo coisas que no meu tempo nunca acontecia, não é, e enfim, a, a, a mentalidade agora é diferente porque também a vida é completamente diferente da que eu fui criada. - claro. -> completamente diferente. de maneira que, olhe, temos de s[...], de andar com os tempos, mas olhe que escandaliza muito. esc[...], é verdade. - faço ideia. faço ideia. -> escandaliza, escandaliza. lá, olhe, na, na, no meu tempo, Deus me livre. então! nós, as festas do Carnaval e tudo o mais fazíamo-las no colégio. de maneira que vestiam-se umas de rapaz, outras de raparigas e faziam os bailes, etc, etc, as que fossem mais magrinhas era, eram rapazes, as que fossem mais rechonchudinhas eram meninas, olhe, e nós éramos felizes, no meio daquilo tudo éramos felizes. mas... enfim. não tínhamos as aspirações que agora têm estas meninas agora, não, não. - e na sua opinião, como é que isto vai evoluir para o futuro? -> eu, eu não sei. olhe que, preocupa-me muito isto. porque daqui, mas também digo: as telenovelas brasileiras têm tido grande influência nisto. eu acho que, ou, eu não sei, o senhor doutor não se perde com as telenovelas mas, nós agora, entretemo-nos. eu vejo que não há rapariguinha nenhuma de treze, catorze anos que sim, que seja enfim uma, uma, uma rapariguinha s[...], s[...], s[...], direita, séria. e estão mortinhas por, por conhecer toda a vida etc, etc. ora isto, as de cá também vêem isto - claro. -> e acham que é tudo muito natural. e é porque é natural mesmo. agora nas nossas universidades é, é, é, é o que, é o que se sabe, não é, - pois é. -> tem grande influência, também, isso tem, porque se a, se o, se as... telenovelas tivessem um, enfim, um, antes de serem exibidas, se, se as fiscalizassem e etc, etc, ajudavam muito a modificar isto. assim não. vamos cada vez para pior. - para pior. -> vamos cada vez para pior. infelizmente, mas, mas vamos, vamos. - mas eu estou convencido que... nem sequer no Brasil a vida é como as telenovelas mostram. -> ora é isso. eu também estou convencida. mas fazem muito mal. - pois. -> fazem mal. porque eu quantas e quantas vezes eu digo ao meu marido "é impossível que seja tudo assim, porque isto, isto é uma pouca vergonha. tanto faz casados como solteiros, como miúdas, como miúdos tud[...], tudo aquilo, tu[...], tudo, é mesmo, só, só pensam em, em sexo e porcarias e... é só na te[...], naquilo. aquilo é, tem de ser. porque se não, pronto. - este hábito que as, que, que a juventude tem de tratar os pais por os velhos... -> pelos velhos, os meus velh[...] - concorda com essa maneira de tratar os pais? -> mas isso é brasileiro. isso é brasileiro. - acha que sim? -> os velhos. é, é. eles t[...], na, na televisão cá vem ele "ai o meu velho faz assim, o meu velh[...], o meu coroa, o meu velho", é tudo isto assim. - acha bem essa maneira -> não! - dos filhos se dirigirem aos pais? -> não. e tratá-los por tu, ainda menos! esta trata. os outros dois não. esta é mais atrevida. mas, mas a, mas os outros dois não. e eu nunca lhe dei licença de tratar por tu. até o neto agora também que a mãe na[...], trata, o neto também trata, o filho dela. mas não gosto porque perdem um bocado do respeito. não gosto não, não gosto. - portanto acha que os seus outros filhos r[...], a respeitam mais que a s[...]? -> muito mais, muito mais. nunca, nunca nos tra[...], nem um nem outro. sentem muito, muito medo. - sim. mas... -> é, é. - se calhar, isso, não é isso o mais importante, não é... -> não é o mais importante mas olhe que tem influência. tem, tem. os outros dois são mais respeitadores do que esta. estou pro[...], pr[...], dá o sermão no[...], logo aos pais c[...], por menos de nada. e, e os outros não fazem isso. - é a mais nova? -> é, é, é, é por isso, é. é a mais nova, é a única rapariga e, e, pois o pai... tinha sempre um fraco pelas meninas, depois sempre nasceu esta e... enfim. foi, foi mais... mal educada. - acha que as meninas dão mais trabalho a educar do que os rapazes? -> eu hoje dizia que antes queria três, três filhos do que um fi[...], dois filhos e uma rapariga. a rapariga dá sempre mais canseira. mais canseira. é mais difícil. mas... também há, há ca[...], há alguns casais, também já tenho encontrado alguns casais que dizem que são mais felizes com as raparigas, principalmente no estudo. - hum, hum. -> que são mais cuidadosas que o rapaz, que os rapazes. esta não foi. esta não foi assim muito, não. aquilo foi mais obrigada senão... - [...] -> Deus me livre! mas o, o, os rapazes também lá deram conta de si, vamos, mas, mas est[...], mas esta também deu, mas, mas foi mais um, à força. mas, ah, mas eu, nesse ponto não tive essa sorte. mas, há, há pessoas, há casais que nos têm dito "ai, as meninas são mais cuidadosas, são mais aplicadas, são assim, são assado", está bem, pronto. que seja assim mas eu p[...], por mim não reparei assim muito lá, cá, comigo. - mas não acha que agora dá mais apoio, se calhar, que os irmãos, não? -> sim! agora está aqui - ah! -> na, mora aqui pegado mesmo - hum, hum. -> e assim. agora está bem. bem, mas, eu digo no, no tempo em, de meninas, dos meninos. - claro. -> era muito refilona, muito refilona. - a quem terá saído? -> não sei. a mim não. ai, não, não, não, não. não, não, não! [...] já viu, a força dela?! - [...] -> é, é, a mim não saíu não, que eu, eu, eu tratava a minha mãe - ai meu Deus - se a minha mãe me ch[...], quando a minha mãe me cha[...], chamava "ó dona Adília" eu já não sabia de, "que virá por aí?" e nunca a tratei por tu, nunca na vida. e d[...], quando ela me chamasse com aquelas senhorias todas eu desconfiava logo que havia mouro na costa. mas... não, não. nós também estávamos pouco tempo com ela. mas mesmo assim. - a sua mãe era professora? -> não, não era. - ah, desculpe. -> era doméstica. era doméstica. - era doméstica. -> o meu pai é que era - [...] -> tesoureiro da câmara, n[...], em Lourenço Marques. |