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TÍTULO: Casos Policiais LOCAL: Macau DATA: 1984 INFORMANTE SEXO: M IDADE: 23 anos ESCOLARIDADE: 4 anos PROFISSÃO: Contínuo - mas estava portan[...], estávamos portanto a falar, eh, sobre a possibilida[...], sobre ter ou não ter ido a, a Portugal. -> sim. - eh, você, não lhe diz nada Portugal, não gostava de ir lá? -> bem, não, não conheço nenhum tio nem nenhuma prima nem ninguém lá. nunca correspondi com eles nem nada. - nem tem curiosidade? -> não. - mas você há-de ter... -> daquilo que eu ouvi o meu pai falar - sim. -> acerca de, de, das pessoas lá de Portugal, bem, o meu pai é português, nasceu lá, é puro português, ele é de Santarém, freguesia de [...], Santarém de... Atalaia - não conheço, mas já ouvi falar -> e...é a família que el[...], que ele tem lá, quer dizer, bem, é, é difícil explicar, mas, quer dizer, são, são mais, como é que se diz, são incompreensíveis, é que o meu pai diz - pois. -> e s[...], como é que se diz, mordem-lhe na pele, é como ele diz. eh... - provavelmente não devem ter gostado -> pois. - que o seu pai ficasse cá em Macau. -> bem, não sei, eh, ele agora já, como já faleceu também... - pois. a sua mãe é chinesa, é? -> não, é mes[...], é macaense é [...] - macaense? -> é, é mestiça. - é por isso que você fala tão bem português, porque falavam os dois português em casa, o pai e a mãe. -> bem, eu já não falo bem português, eu já, eu quando estava a estudar ainda falava bem português, agora já perdi muito a prática. [...] - você fala perfeitamente português. -> não. - como qualquer português. -> não! - fala, fala. -> falo, mas gaguejo muito. tenho que pensar primeiro antes de falar. - ah, isso é porque não está habituado, porque normal[...] -> não tenho prática. - no seu dia-a-dia deve falar muito chinês também e... -> e... o português que eu falo, quer dizer, é... um português muita, muito grosseiro, quer dizer, se, se, se me disser para falar um português, assim, vá lá, como um, um português, falar assim um português da, da rua, como eu digo, assim um português, vá lá, carroceiro, como o meu pai diz, bem, eu consigo falar e falo rápido, sem gaguejar nem nada, quer dizer, é um português com palavrões misturados e continuando a ir, sempre a andar para a frente, mas se falar assim, sem palavrões nem nada, devagarinho, assim já custa, já gaguejo um bocadinho, estou habituado é ao português, sei lá, é ao Clube Militar, eh, nesse estilo. - você costuma frequentar o Clube Militar? -> costumava. ia lá, s[...], quase sempre. tem lá bom café. - hum, hum. -> café... - mas o Clube Militar não é aberto ao público... em geral!? -> não, é, tem, sendo sócio. - você é sócio de lá? -> era. agora - hum. -> parei de ir lá. parei, paguei, parei de pagar a quota, parei de ir lá. - é cara, a quota? -> não, é coisa de cinquenta patacas por mês. - mas você já v[...], não é de Macau, você é de Macau, nunca foi a Portugal, mas já viajou aqui à volta, não? -> estive na Tailândia, estive nas Filipinas. - e gostou dessas viagens? -> bem, para turista, como turista gostei. aquilo é tudo barato. - as Filipinas também? -> é. as Filipinas ainda é mais barato. mais barato do que a, do que a Tailândia. - e há divertimentos, assim, por lá? -> há. há muitos. especialmente divertimentos que eu gosto. - como por exemplo? - lá há música. - há música? -> assim, sítios de música, nas Filipinas, se aqui têm músicos filipinos a pontapés, imagina lá! eles tocam mesmo, os bons nunca vêm para cá, não precisam. - pois. -> portanto, num clube qualquer, uma pessoa entra lá, está a ouvir uma música pare[...], quase igualzinha ao original, mas está a ouvir ao vivo. - pois. -> eles tem, imitam mesmo, quase igual. como músicas Trio Los Panchos, el[...], qualquer sítio encontra e são filipinos que tocam - pois. -> como o Trio Odemira, músicas do Trio Odemira eles também tocam, também é muito conhecido lá, nas Filipinas. - e você quando vai às Filipinas, não fala a língua local, pois não, [...]? -> não, falo inglês. falo inglês, quer dizer, mas é um inglês aldrabado, pontapés na gramática, mas lá, bem, eles também falam assim, o inglês deles também não é assim, não é assim mu[...] [...] - e todos se entendem, não é, todos acabam por se entender. e na Tailândia também [...] -> na Tailândia, eu, bem, já tive muitas facilidades. eu fui, não fui, não fui com, com, com guia turista. eu fui fui sozinho. com ele e um amigo, fomos lá, estivemos a passear de um lado para o outro. porque eu falo um bocadinho de tailandês. - ah, sim! como é que aprendeu isso? -> aprendi aqui. - aqui em Macau? nas saunas, está-se mesmo a ver! -> não, não foi nas saunas, quer dizer, eu, bem, não frequento saunas, mas, quer dizer, conheço-as - hum, hum. -> e, já há... muitos anos. desde os meus dezassete anos que eu ando sempre nos clubes nocturnos. gosto de cantar. então lá eu, tem lá, há sempre música, e eu lá, vou lá e eu pronto. - portanto você conhece bem Macau por dentro! -> oi, conheço todos os sítios. é por isso que na polícia não me aceitaram. nunca fui preso, nunca respondi em tribunal. portanto, o meu... registo criminal é limpo. concorri para a polícia. fui concorrer para a polícia, fazer os conformes e ir para a polícia. quê? informações. mas que raio de informações! o que interessa estava preto no branco, não é, - pois. -> nunca cometi nada assim de especial, mas não me aceitaram no, na polícia. fiq[...], fiquei aprovado em tudo. - e eles não... -> em todas as provas. - [...] -> tanto em português, em português, então, fui um dos melhores que estava ali. - pois, ah! faço ideia, pois. e eles não lhe explicaram porque era? -> não, só disse, ah, o ju[...], o júri achou que o senhor não estava interessado, quando eu fui perguntar e... eu, bem, eu pela primeira vez conco[...], que fui concorrer, não é, bem, lá engoli, mas pela segunda fui outra vez. bem, achou que eu não estava interessado?! bem, fui pela segunda, também não me aceitaram. bem, não aceitaram, eles sabem porquê. bem, entra um guarda... qualquer para lá, vá lá, por, como guarda de primeira, um guarda de segunda, um guarda de terceira ou coisa assim, do que, do que sabe, sabe tanto como um comissário, se calhar, e o que o comissário faz e o que os outros fazem, não é, negócio atrás da porta, como a gente diz aqui. - há muito disso? -> oi! ah, pois não! - e você conhe[...] -> os pequenos comem, quer dizer, se, quer dizer, se comem, não, quer dizer, se, se recebem disso, os grandes estão em cima, mas quando os grandes recebem, quem é que está em cima? não está ninguém. - e você está dentro desses meandros todos, nâo é, -> conheço! não estou dentro. conheço. - conheç[...], pois! eu digo, está dentro, no, no sentido de conhecer isso tudo. pois, então eles tiveram, tiveram medo. -> Macau é um paraíso para quem tem dinheiro. - hum, hum. -> em Hong Kong, antigamente era. anti[...], antes de, antes da ICAC... era, era tal e qual como Macau é agora. portanto os grandes podem comer à grande... que não tem problemas nenhuns. quem tem dinheiro nunca é preso. - pois, lá diz o ditado... -> aqui em Macau, houve algum, algum, alguma pessoa com dinheiro preso? - não sei -> é muito raro. só se for uma ordem lá de Portugal. como o caso dos passaportes e [...] - essa história dos passaportes o que é que foi? -> bem, também não sei, não, não estive muito a par mas... segundo o que ouvi falar foi... passaportes falsos. - e quem é que foi? -> dado às pessoas que nem eram residentes aqui em Macau. os chineses. bastavam pagar, ficavam com um passaporte. - e pagavam a quem? -> pag[...], bem, ao intermediário e não sei quantos, e não sei quantos, até ao chefe. o chefe é que organizava aquilo tudo. - e o que é que aconteceu a essa gente depois? -> bem, está a maio[...], bem, está, a maior parte ainda estão na cadeia. [...], o julgamento vai ser daqui a dias. daqui a m[...], poucos dias, não sei se é no dia vinte e seis se é no dia vinte e, vinte e oito. não sei, é num desses dias. já ouvi falar. - os intermediários... -> eu tenho, tenho um amigo que agora está nas Filipinas. ele conseguiu fugir. ele era... segundo oficial. segundo oficial ou o que é que era. ele está nas Filipinas. está em Kaison. eu fui lá e encontrei com ele. - portanto... -> ele diz que está à espera depois do julgamento, a ver como é que é. depois só volta depois do julgamento. quer dizer, depois - se não tiver prisão [...] -> se não tiver, se não tiver captura para ele - pois. mas e são os intermediários que vão ser julgados ou os... -> bem, um, o, os chefes, também, também, estão, estão agora, estão à rasca, também estão lá dentro, à espera, a aguardar o julgamento. - e os chineses que pagavam para ter o passaporte, o que é que lhes acontece? -> bem, esses já desapareceram todos. - pois -> esses se fo[...], mesmo se for caços, se foram caços, foram, foi um ou outro - pois -> a maior parte já fugiram. basta ter o passaporte na mão, tendo dinheiro, pschit... toca a ir embora. chegou a outro país, rasga o passaporte. - passaporte novo. -> pois é. chegou a outro país, não! não precisa. tenho um passaporte português, eu chego na América para que é que eu quero o passaporte português? - pois. -> rasga o passaporte, trabalha lá. arranja uma mulher americana, casou. pronto: cidadão americano. - os americanos estão a controlar bastante isso agora. -> pelo Canadá, então, entrar assim, vão daqui pelo c[...], entram pelo Canadá, para a América. houve um português que já me convidou, ele, ele também é músico, ele é pianista. ele, bem, ele até tem, tem, tem bilhete de identidade de cidadão americano. mas ele veio cá. bem, eu conheci-o, foi há dois anos, ele agora está cá outra vez, já me, já me disse, vem comigo para a América, vamos pelo lado do Canadá, a gente entra. a gente entra de carro, não tem problemas nenhuns. |