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TÍTULO: Arte Urbana
LOCAL: Brasil - Rio de Janeiro
DATA: Década de 80
INFORMANTE 
	SEXO: F
	IDADE: 44 anos
	ESCOLARIDADE: 11 anos
	PROFISSÃO: Doméstica




- escuta você estava falando para mim que conhece Minas, não é, 

-> conheço, e gostei muito, porque eu tinha uma vontade muito grande de ir lá.

- hum.

-> o ano passado, quando t[...], aproveitou-se um congresso de médico que não se foi, aí, em vez de nós irmos ao congresso, no meio do caminho eu disse "vamos a Minas." aí, lá fomos nós para Ouro Preto, Mariana e aquilo tudo. depois fomos a São João del Rei e Tiradentes. é o que eu te disse que adorei, mas adorei! porque eu gosto muito de coisa antiga, sabe,

- sei. 

-> a minha família, como toda família de Pernambuco, tem uma mania de coisas antigas, de casa, de móvel, meu pai foi fazendeiro, então, tem essa história toda aí, eu gosto muito, sabe, e eu achei, mas eu achei uma be[...], adorei! 

- hum, hum.

-> adorei. achei a melhor coisa que eu fiz assim em termos de viagem, assim de coisa pi[...], nada de excepcional, mas eu acho uma beleza. e depois assim aquele contraste muito grande, não é, entre as, as igrejas, e tudo do lado de fora tem aquela simplicidade, quando você entra é aquela, aquele, coisa de uma ostensividade, não é, 

- sem dúvida.

-> é, do, do luxo, do, do, do ouro, do dourado e além disso aquela coisa toda, que também tem as pinturas, os coloridos. eu acho aqueles coloridos, assim, da maior exuberância, não é, que aquilo tudo fica, é muito, é muito brasileiro, não é, quer dizer, é muito português, é, mas é muito nosso também, então...

- sem dúvida. é muito da nossa história ali dentro, não é,

-> ah! achei, achei uma, adorei! agora, eu sou louca para conhecer Olinda. 

- ah é? 

-> é que eu não conheço o norte. eu tenho maior vontade!
 
- os pais pernambucanos, mas você nunca foi?
 
-> nunca fui a Pernambuco. não, não s[...], meus pais não, mas meus avós.

- é os avós.

-> a minha família toda é pernambucana. é. 

- hum, hum.

-> e eu nunca fui. mas eu tenho uma vontade muito grande de conhecer. Olinda! ir a Maranhão, a São Luís, isso tudo. mas eu não sei, eu achei Minas uma maravilha. e depois, também por causa da diferença, sabe, eu acho que é muito diferente para quem viveu a vida inteira em termo de Rio de Janeiro,  você sair daqui e pegar um lugar assim, assim, cinza, como eu estou te dizendo, com aquelas montanhas assim... 

- ham, ham. 

-> aí dá en[...], para entender mais o jeitão do mineiro, não é,

- o que é que você acha que é o jeitão do mineiro, Heloiza? 

-> eu acho, sabe, que tem aquele de[...], assim, aquela coisa assim, aquela coisa sóbria, sabe, aquela coisa

- hum.

-> sóbria que o mineiro tem, que não é tão exuberante feito nós somos, mas tem aquele ar assim, assim ma[...], fechado, sabe, que não tem a água, em termos de mar, assim, a coisa da abertura, dá aquela coisa, assim, mais introspectiva... 

- sei. 

-> é, eu acho que ele tem, tem todo o astral em volta para dar aquela certa concentração. 

- ham, ham. 

-> sabe, 

- é, é tudo entre montanhas, não é,

-> é. e tem um vento, é uma coisa incrível, eu fiquei impressionada, parecia que você estava dentro de um navio, em Ouro Preto. porque venta tanto, não é, você tem a sensação que você está num navio, sem ter água!

- correcto!

->  eu gostei.

- você chegou a conhecer em Tiradentes aquela, aquela igreja de Santo António? aquela matriz de Santo António... 

-> que coisa maravilhosa! aquela que tem, que tem o órgão?
 
- que tem o órgão, o primeiro órgão. 

-> ah, mas é linda, das mais lindas que eu achei! achei das mais lindas. 

- é considerada a segunda em riqueza, não é, 

-> ai, achei lindíssima! linda! Tiradentes é um, realmente encantador. achei lindo! depois as pessoas de lá são tão agradáveis, as pessoas do lugar, não é, então, sabe, você faz uma perguntinha qualquer, e eles são tão simpáticos, assim, achei óptimo! óptimo. e depois, teve uma coisa, porque eu achei Ouro Preto, Mariana, aquilo tudo a[...], por ali, eu achei sujo

- hum.

-> muito sujo. agora, em Tiradentes não! é limpo! é, é, é limpo, sabe como é, eu acho que já é, é, é mais, eu achei uma gracinha! muito pequenininho, tudo isso, mas achei uma gracinha, porque é limpo. e eu não sei se é porque tem mais verde, não é, parece um presépio, eu achei lindo. 

- você não teve assim aquela sensação de, ao entrar assim, como que estar fazendo uma volta ao passado, dentro daquela cidade? 

-> ai, não! não era questão de volta ao passado. eu achei que era um lugar que eu já conhe[...], não era nem que conhecia. é um negócio que faz parte de mim, está entendendo? 

- hum.

-> é assim, era uma coisa assim que me dava a sensação de "é, isso eu já conheço!" dá, sabe, assim, já conheço no sentido, mas um conheço gostoso. não é aquele conheço, assim, chato, já conheço chato. 

- sei.

-> um já conheço assim, é uma coisa que faz parte da, da minha herança, da minha vida, de tudo que eu gosto.

- Heloísa, você sentiu assim que tanto em Tiradentes, São João del Rei, todas essas cidades, muita coisa que é realmente histórica e está assim muito abandonada...
 
-> abandonada? mas eu acho que tud[...], dá, dá, dá uma sensação. em Ouro Preto, então, é muito, não é, é muito. agora, vou te dizer um negócio, mas ao mesmo tempo, eu acho que está havendo uma preocupação maior, não é, no sentido de preservar o que é da gente, não é, porque você vê, aqui perto tem uma cidadezinha, chamada Bananal, que fica perto de Barra Mansa. 

- não conheço. 

-> é uma cidade que também tem muito coisas antigas. mas é uma tristeza, as pessoas do lugar não dão o menor valor, sabe, por exemplo, eles acham que coisa antiga é coisa velha. então botam para, arrebentam com o negócio, acham lindo fazer uma casa assim género planalto, é, palácio da alvorada...

- sei.

-> assim, sabe, no meio, uma coisa assim... 

- ham, ham. 

-> tacar ladrilho nas casas que não têm nada a ver. mas eu acho que, pelo menos eu acho que, que lá já está havendo mais, dentro do povo mesmo, da gente do lugar, uma consciência maior do que aqui, o velho não é, o, quer dizer, o antigo não é velho. 

- correcto.

-> eu acho que tem uma preocupação maior. mas acho que, aí é que eu acho. eu acho que é uma questão de educação, não é, e acho que isso, que o governo tem muita responsabilidade nisso. tem que ter. no sentido, sabe, eu acho que, por exemplo, deveria usar a televisão para se fazer propaganda, para se preservar, para se educar, para mostrar que a, que antigo não é velho!

- correcto.

-> sabe, eu acho que é uma questão de educação. 

- nesse ponto aí, você concorda então com essa, a, essa, toda essa campanha que o, a Fundação Roberto Marinho vem fazendo e [...]

-> ah concordo! claro! mas não interessa. eu acho que, contanto, sabe, que as coisas sejam preservadas e, e der uma consciência maior em termos de povo, de educação, eu acho que é o mais importante, sabe, porque eu acho que todas essas, eh, televisão e essas companhias particulares, as pessoas que têm o dinheiro na mão, tinham mais é que se preocupar com essas coisas mesmo. no sentido de uma educação, não é,

- correcto. sem dúvida.

-> de uma educação, porque eu acho que é, o maior problema da gente é educação. tudo vem em decorrência dele.

- hum.