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532 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Chiropotes%20satanas | Chiropotes satanas | O cuxiú preto (Chiropotes satanas) é um macaco do Novo Mundo da família Pitheciidae e gênero Chiropotes, endêmico do Brasil. É uma das cinco espécies de cuxiú. Possui tamanho médio (30-50 cm), sendo principalmente primatas frugívoros, e se alimentam principalmente de sementes. O nome do gênero Chiropotes significa "bebedor manual", pois foram observados usando as mãos como conchas para colocar água na boca. Acredita-se que esse comportamento seja uma forma de manter e proteger suas barbas características. O habitat do cuxiu-preto sofreu forte fragmentação de habitat, tornando incerto o futuro estado de conservação da espécie.
Distribuição e habitat
O cuxiú-preto é endêmica do extremo leste da Amazônia no Brasil, em uma área restrita a uma região relativamente pequena do rio Tocantins, no leste do Pará, até o rio Grajaú, no Maranhão (semelhante à distribuição do igualmente ameaçado macaco Cebus kaapori). A área natural do cuxiú-preto pode variar de 200 a 250 hectares. É o único pitecídeo amazônico encontrado a leste do rio Tocantins.
Anatomia e morfologia
O cuxiú-preto pode ser identificado por seus cabelos pretos e grossos, barba distinta que molda o rosto e uma cauda espessa que se assemelha a uma raposa. A cauda não é preensível e utilizam movimento quadrúpede para locomoção. Possuem alguns destaques marrom-amarelados nas costas e nos ombros e podem pesar de 2 kg a 4 kg. Os machos são ligeiramente maiores que as fêmeas e também têm uma testa saliente.
Anteriormente, o Chiropotes chiropotes, o Chiropotes israelita e o Chiropotes utahicki, outro membro do gênero Chiropotes, foram classificados como subespécies ou variações taxonomicamente insignificantes da mesma espécie chamada Cuxiú, mas com base em diferenças de pelagem e análise molecular tem recomendado tratá-los como espécies separadas.
O cuxiú-preto é a única espécie de cuxiu-barbudo de nariz escuro com o dorso enegrecido, embora algumas fêmeas e jovens tenham o dorso mais claro e acastanhado. Os dentes evoluíram para a predação de sementes: essas adaptações dentárias permitem que eles quebrem e acessem sementes em vagens extremamente duras. Conseguem abrir frutas de casca dura, utilizando os dentes de forma eficiente.
Comportamento
Dieta
Os cuxiús-pretos são altamente frugívoros, especializados na predação de sementes, pois 90% de sua dieta se origina de frutas e sementes. Alimentam-se principalmente de plantas das famílias Sapotaceae, Lecythidaceae e Chrysobalanaceae, mas são conhecidos por se alimentarem de mais de cem espécies e são capazes de adaptar suas dietas. Complementam suas dietas com polpas de frutas e pequenos insetos. Usam seus fortes dentes caninos para abrir cascas duras de frutas e nozes, permitindo-lhes acessar as sementes verdes dentro das frutas.
Comportamento social
São animais sociais, geralmente cuidando e brincando uns com os outros, mesmo com os de outras espécies de primatas. Os cuxiús-pretos podem ser encontrados em grupos de vinte a trinta indivíduos. Os indivíduos de um grupo se separam e se reúnem ao longo do dia, vivem em grandes áreas e viajam longas distâncias diariamente.
Movimento
O cuxiú-preto passa a maior parte do tempo descansando, viajando e comendo. Usam principalmente movimento quadrúpede para se mover no dossel das árvores.
Reprodução
Os cuxiús-pretos têm um período de gestação de cinco meses e produzem um filhote de cada vez. Se tornam sexualmente maduros aos quatro anos de idade e têm uma expectativa de vida de dezoito anos. Dão à luz filhotes a cada dois anos.
Conservação
O cuxiú-preto é uma espécie criticamente ameaçada de extinção. Nas últimas décadas, a urbanização na Amazônia brasileira trouxe consigo rodovias, agricultura e barragens, criando um influxo de fragmentação de habitat, destruição de habitat e pressão proveniente da caça furtiva. De acordo com o informado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em 2018, suspeita-se que houve uma redução de pelo menos 80% da população original nas últimas três gerações, correspondendo a trinta anos.
Modificações comportamentais devido à fragmentação da floresta
Estudos revelam que o cuxiú-preto pode se adaptar a habitats com até 3% do tamanho original. No entanto, não está claro se essa flexibilidade comportamental é suficiente para a viabilidade a longo prazo dessa espécie em habitats fragmentados. A fragmentação da floresta resultou em mudanças comportamentais que permitem a adaptação da espécie, mas podem prejudicar seu estado de conservação a longo prazo. Grupos desta espécie não deixarão trechos isolados de floresta fragmentada a menos que a ponte de floresta secundária cresça. Grupos em trechos menores de floresta tendem a se mover e vocalizar menos enquanto descansam mais. A densidade populacional aumentará à medida que o tamanho do habitat diminuir, causando uma tendência positiva de doenças entre a população que vive em pequenos fragmentos.
O cuxiú-preto vive em pequenos fragmentos de floresta e são limitados em suas escolhas alimentares devido ao número reduzido de espécies de plantas presentes e, portanto, consomem espécies que os indivíduos que habitam florestas contínuas ignorariam. Mudanças nos padrões de alimentação ocorrem onde a fragmentação foi acompanhada pela extração seletiva de espécies usadas como alimento. A capacidade de ter uma dieta flexível e incluir sementes e frutos verdes ajuda essa espécie a sobreviver em fragmentos florestais menores, mas parece que essas condições são inviáveis a menos que a conectividade aumente entre os fragmentos florestais e a floresta contínua na paisagem. A sobrevivência futura do cuxiú-preto dependerá da adequada metapopulação e manejo do habitat. A conservação do habitat é de alta prioridade, pois esta espécie tem um alcance particularmente pequeno. O cuxiú-preto é considerado o primata mais ameaçado da Amazônia e já está extinto localmente em grande parte de sua distribuição original.
Sobrevivência
Estudos realizados na área explorada pelo Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais registraram as mudanças de comportamento causadas nos cuxiús pela fragmentação do habitat. Grupos de cuxiú-preto que vivem em fragmentos de dez hectares de floresta tropical isolada apresentaram falta de reprodução em um período de 3,5 anos. Isso pode ocorrer devido à falta de recursos nesses pequenos fragmentos isolados de habitat. Fragmentos menores de floresta também resultam em densidades populacionais mais altas. O aumento da densidade desta espécie nos pequenos fragmentos pode afetar sua saúde. Grupos de maior densidade que vivem em fragmentos florestais são mais propensos a parasitas e a doenças do que aqueles que vivem em áreas não perturbadas.
Em 2017, o Ministério do Meio Ambiente aprovou Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas Amazônicos (PAN Primatas Amazônicos), o qual incluiu o cuxiú-preto. O PAN Primatas Amazônicos objetivava melhorar o estado de conservação dos primatas amazônicos ameaçados em cinco anos, com os objetivos abrangendo o planejamento territorial, a mitigação e compensação dos efeitos de empreendimentos e a redução da pressão da caça.
Ligações externas
Primatas do Brasil
Mamíferos descritos em 1807
Pitheciinae
Fauna endêmica do Brasil | 6,161 |
533 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Carn%C3%ADvoros | Carnívoros | Os carnívoros (latim científico: Carnivora) constituem uma ordem de animais mamíferos placentários, encontrados em quase todo o mundo. Suas características comuns são a presença de pés com quatro ou cinco dedos, apresentando garras; machos com báculo; e dentes adaptados para cortar, com presença de caninos fortes, cônicos e pontiagudos.
Alguns carnívoros, como os gatos e os pinípedes, dependem inteiramente da carne para a sua nutrição. Outros, como os guaxinins e os ursos, dependendo do habitat local, são mais onívoros: o panda gigante é quase que exclusivamente um herbívoro, mas também consome peixes, ovos e insetos, enquanto que o urso polar subsiste principalmente de focas. Os carnívoros têm dentes e garras adaptadas para capturar e mastigar a carne de outros animais. Muitos caçam em bandos e são animais sociais, dando-lhes uma vantagem sobre presas maiores.
Esses tipos de animais caracterizados por possuírem um aparato carniceiro (dentes pré-molar superior e primeiro molar inferior com cúspides em forma de lâminas) que facilita a mastigação dos animais.
Classificação
Sequência linear
O número de gêneros e espécies segue Wozencraft in Wilson e Reeder (2005), totalizando: 126 gêneros e 286 espécies.
Ordem Carnivora Bowdich, 1821
Subordem Feliformia Kretzoi, 1945
Família †Stenoplesictidae Schlosser, 1923
Família †Percrocutidae Werdelin e Solounias, 1991
Família †Nimravidae Cope, 1880 (5–36 Ma)
Família Nandiniidae Pocock, 1929 (1 gênero, 1 espécie)
Superfamília Feloidea
Família Prionodontidae Pocock, 1923 (1 gênero, 2 espécies)
Família †Barbourofelidae Schultz et al., 1970 (6–18 Ma)
Família Felidae G. Fischer, 1817 (14 gêneros, 40 espécies)
Infraordem Viverroidea
Família Viverridae Gray, 1821 (15 gêneros, 35 espécies)
Superfamília Herpestoidea
Família Hyaenidae Gray, 1821 (3 gêneros, 4 espécies)
Família Eupleridae Chenu, 1850 (7 gêneros, 8 espécies)
Família Herpestidae Bonaparte, 1845 (14 gêneros, 33 espécies)
Subordem Caniformia Kretzoi, 1945
Família †Amphicyonidae Haeckel, 1886 (9–37 Ma)
Família Canidae G. Fischer, 1817 (13 gêneros, 35 espécies)
Infraordem Arctoidea Flower, 1869
Superfamília Ursoidea Tedford, 1976
Família †Hemicyonidae Frick, 1926 (2-22 Ma)
Família Ursidae G. Fischer, 1817 (5 gêneros, 8 espécies)
Superfamília Musteloidea
Família Ailuridae Gray, 1843 (1 gênero, 1 espécie)
Família Mephitidae Bonaparte, 1845 (4 gêneros, 12 espécies)
Família Mustelidae G. Fischer, 1817 (22 gêneros, 59 espécies)
Família Procyonidae Gray, 1825 (6 gêneros, 14 espécies)
Superfamília Pinnipedia Illiger, 1811
Família †Enaliarctidae Mitchell e Tedford, 1973 (23–20 Ma?)
Família Odobenidae Allen, 1880 (1 gênero, 1 espécie)
Família Otariidae Gray, 1825 (7 gêneros, 16 espécies)
Família Phocidae Gray, 1821 (13 gêneros, 19 espécies)
Árvore filogenética
Outras classificações
Simpson (1945)
Ordem Carnivora
Subordem Creodonta
Superfamília Arctocyonoidea (Arctocyonidae)
Superfamília Mesonychoidea (Mesonychidae)
Superfamília Oxyaenoidea (Oxyaenidae e Hyaenodontidae)
Subordem Fissipedia
Superfamília Miacoidea (Miacidae)
Superfamília Canoidea (Canidae, Ursidae, Procyonidae e Mustelidae)
Superfamília Feloidea (Viverridae, Hyaenidae e Felidae)
Subordem Pinnipedia (Semantoridae, Otariidae, Odobeniidae e Phocidae)
Ver também
Lista de carnívoros por população
Referências
SIMPSON, G.G. (1945). The Principles of Classification and a Classification of Mammals. Bull. Mus. of Natural History, New York: 1-350.
WOZENCRAFT, W.C. (2005). Order Carnivora. In Wilson D.E., Reeder, D.M. (eds) Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference, 3rd ed., The Johns Hopkins University Press, Baltimore: 532-628.
Ligações externas | 36,290 |
535 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cin%C3%A9tica%20qu%C3%ADmica | Cinética química | A cinética química é a área da físico-química que estuda a velocidade das reações químicas e os fatores que a influenciam.
Na físico-química, duas questões são primordiais: a questão termodinâmica, que avalia se um fenômeno químico pode ou não ocorrer por meio da energia livre de Gibbs; e a questão cinética, em quanto tempo ocorrerá. Ambos os estudos podem ser considerados complementares um ao outro, e muito importantes quando se refere à estabilidade de um determinado composto, tendo-se a ressalva de que a cinética se preocupa grandemente com o fator tempo. O estudo cinético de uma reação pode ser dividido em duas categorias: (1) a determinação experimental da velocidade de uma reação e sua dependência com os parâmetros que a influenciam, e (2) a descrição do mecanismo de reação pelo qual se descreve todas as etapas para a formação do produto.
Cinética química inclui investigações de como diferentes condições experimentais podem influir a velocidade de uma reação química e informações de rendimento sobre o mecanismo de reação e estados de transição, assim como a construção de modelos matemáticos que possam descrever as características de uma reação química.
A velocidade da reação recebe geralmente o nome de taxa de reação. A taxa de reação está relacionada com: as concentrações dos reagentes e seu estado particular (estado físico, estado nascente dos gases, estado cristalino ou amorfo dos sólidos),o fato dos reagentes estarem ou não em solução (neste caso a natureza do solvente irá influir na velocidade da reação), a temperatura, a eletricidade, a luz, a pressão, a presença de catalisadores e dos produtos de reação.
Sua importância é muito ampla, já que se relaciona com temas como, por exemplo, a rapidez com que um medicamento atua no organismo ou com problemas industriais, tais como a descoberta de catalisadores para acelerar a síntese de algum novo produto.
Em 1864, Peter Waage e Cato Guldberg tornaram-se os pioneiros no desenvolvimento da cinética química pela formulação da lei de ação das massas, a qual estabelece que a velocidade de reação é proporcional a quantidade de substâncias reagentes.
Taxa de reação
A cinética química principia com a determinação experimental das taxas de reação das quais as equações cinéticas de reações químicas (ou mais simplesmente, "lei de velocidade ou taxa") e a constantes de velocidade são derivados. Leis de taxa relativamente simples existem para reações de ordem zero (no qual as taxas de reação são independentes da concentração), reações de primeira ordem, e reações de segunda ordem, e podem ser derivado para outras.
Em reações consecutivas a etapa de determinação de taxa muitas vezes determina a cinética. Em reações consecutivas de primeira ordem, uma aproximação de estado estacionário a lei de taxa. A energia de ativação para uma reação é determinada experimentalmente através da equação de Arrhenius e a equação de Eyring. Os principais fatores que influenciam a taxa de reação incluem: o estado físico dos reagentes, a concentração dos reagentes, a temperatura em que a reação ocorre, e se há ou não algum catalisador presente na reação.
Fatores que influenciam na velocidade da reação
Natureza dos reagentes
Dependendo de quais substâncias reagem, o tempo de tais reações varia, ou, mais detalhadamente, a rapidez ou velocidade com que se formam ou rompem as ligações dependem da natureza dos reagentes. Reações ácidas, a formação de sais, as troca iônica são reações rápidas.
Exemplos típicos de reações rápidas são as reações dos explosivos, muitas vezes ocorrendo inicialmente dentro da própria molécula de uma única substância. Outro exemplo de reações rápidas são as oxidações de metais nobres, que produzem óxidos extremamente resistentes e aderentes que impedem a continuidade da reação (passivação), como com o ouro ou o cromo, presente no aço inoxidável.
Quando a formação de ligações covalentes toma lugar entre as moléculas e quando moléculas grandes são formadas, as reações tendem a ser muito lentas. A natureza e força das ligações em moléculas influencia grandemente a taxa de sua transformação em produtos. As reações que não envolvem menor rearranjo de ligações ocorrem mais rapidamente que as que envolvem maior arranjo de ligações, como se evidencia nas diferentes velocidades de formação de polímeros, como o polietileno (mais rápido) e o poliéster (mais lento).
Temperatura
Com o aumento da temperatura, aumenta-se a energia cinética média das moléculas em um sistema e consequentemente o número de colisões efetivas entre elas. Alimentos na geladeira, como por exemplo leite, ovos, carnes e etc, demoram muito mais para estragar do que em uma temperatura ambiente. Isso porque as reações químicas feitas pelos microorganismos decompositores são retardados pelas baixas temperaturas.
Há uma regra, formulada no século XIX pelo holandês Jacobus Henricus van 't Hoff, que diz que um aumento de 10 graus Celsius na temperatura do sistema, o mesmo irá reagir duplicando a velocidade da reação. Hoje sabe-se que essa regra apresenta várias exceções, mas ela é muitas vezes útil para se fazerem previsões aproximadas do comportamento da velocidade de certas reações. Ela é conhecida como Regra de Van't Hoff.
Estado físico
O estado físico (sólido, líquido, ou gasoso) de um reagente é também um importante fator da taxa de reação. Quando reagentes estão na mesma fase, como em solução aquosa, o movimento térmico os coloca rapidamente em contato. Entretanto, quando eles estão em diferentes fases, a reação é limitada a interface entre os reagentes. A reação somente pode ocorrer na área de contato, no caso de um líquido ou gás, na superfície de um líquido. Agitação vigorosa e/ou turbilhonamento podem ser necessários para conduzir a reação a realizar-se completamente. Isto significa que quanto mais finamente dividido um sólido ou líquido reagente é, a sua maior área de superfície, tornará mais rápida a reação (o que é analisado mais detalhadamente em Superfície de contato, abaixo). Em química orgânica existe a exceção que reações homogêneas (no mesmo meio e fase) podem ocorrer mais rapidamente que reações heterogêneas.
Superfície de contato
Se numa reação atuam reagentes em distintas fases, o aumento da superfície de contato entre eles aumenta a velocidade das reações. Considerando, por exemplo, uma reação entre uma substância sólida e uma líquida, quanto mais reduzida a pó estiver a substância sólida, maior é a superfície de contacto entre as partículas de ambas as substâncias e portanto, maior é a possibilidade de essas partículas colidirem umas com as outras. Fazendo-se uma analogia, por exemplo, quando acende-se uma lareira, usa-se palha ou papel e destes acende-se as mais grossas porções de lenha.
Exemplos claros deste tipo de influência na velocidade de reações é o perigo que representa em silos de farinhas e grãos de cereais a combustão violenta, explosiva, de partículas finamente divididas com o ar. Um exemplo laboratorial que é apresentado sobre este fator é a reação do iodo "metálico", granulado, com o metal zinco. A reação se processa muito mais rapidamente com o zinco em pó que o zinco em lâmina, após o acréscimo de água sobre os reagentes.
Presença de um catalisador
Os catalisadores aumentam a velocidade de uma reação química, mas não participam da formação dos produtos, sendo completamente regenerados no final. Atuam ao promover rotas de reação com menor energia de ativação. O catalisador acelera a reação, pois diminui a energia de ativação do sistema reacional, mas não participa da reação, ou seja, não ocorre nenhuma mudança nos produtos que serão obtidos a partir da reação, e o catalisador, ao final do processo, continua intacto.
A ação do catalisador é abaixar a energia de ativação, possibilitando um novo caminho, mais curto, para a reação. O abaixamento da energia de ativação é que determina o aumento da velocidade da reação.
Presença de um inibidor
Os inibidores são substâncias que tem um papel oposto ao dos catalisadores, atua diminuindo a velocidade das reações por aumentar a energia de ativação necessária. Também é conhecido como veneno do catalisador, anticatalisador ou catalisador negativo.
Concentração dos reagentes
As reações químicas resultam do choque eficaz entre os corpúsculos dos reagentes para se formarem os produtos da reação. Ao aumentar a concentração, aumenta-se o nº de corpúsculos e consequentemente a probabilidade dos choques eficazes, traduzindo-se isso em uma maior velocidade.
Pressão
Um aumento de pressão em um sistema aumenta o número de colisões entre as moléculas que o compõe, o que possibilitará um maior número de colisões efetivas entre as partículas
Notar que a pressão só exerce influência significativa na taxa de reação quando houver ao menos uma substância gasosa como reagente.
Ordem de reação
Consideremos uma reação química de primeira ordem na qual um composto A
reage dando origem a outros dois compostos B e C
Cada molécula do composto A tem uma determinada probabilidade de reagir por
unidade de tempo. Assim, o número de moléculas que reagem por unidade de tempo
é diretamente proporcional ao número de moléculas existentes, e a velocidade
da reação é diretamente proporcional à concentração [A] do composto A
(admitindo um volume constante). A medida que o composto reage, a sua
concentração diminui e a velocidade de reação também; em qualquer instante a
taxa de diminuição de [A] é diretamente proporcional a [A]
Este tipo de reação designa-se de reação de primeira ordem. A
equação anterior é a mesma equação obtida para o decaimento radioativo, já
que o mecanismo das reações de primeira ordem e do decaimento radioativo são
análogos, a nível atômico e nuclear.
Consideremos agora uma reação na qual dois reagentes A e B combinam-se
formando um composto C
Cada molécula de A tem uma determinada probabilidade de reagir com uma
molécula de B (por unidade de tempo); na presença moléculas do
composto B, a probabilidade de reagir que tem cada molécula de A é .
É claro que uma molécula terá maior probabilidade de
reagir com as moléculas vizinhas do que com outras moléculas afastadas, mas
vamos admitir que é a probabilidade média e permanece constante.
Assim o
número médio de reações por unidade de tempo é , sendo e o número de moléculas de A e B existentes nesse instante; este será também o aumento do numero de
moléculas do composto C, , por unidade de tempo:
Em função das concentrações dos compostos A, B e C, a equação
diferencial obtida é
onde é a concentração do composto C e e as concentrações iniciais de A e de B. Este tipo de reações são de segunda ordem.
Exemplo
[Problema de evaporação]
Uma esfera de naftaleno tem um raio inicial de e depois de
três meses observa-se que o raio diminuiu até . Calcule
quanto tempo tardará a esfera em evaporar-se completamente.
O volume da esfera sólida que se evapora em cada instante é
diretamente proporcional à área da superfície
onde é o volume da esfera, e a área da sua superfície. Substituindo na equação diferencial, obtemos uma equação simples
para o raio da esfera
a sua solução mostra que o raio diminui linearmente e função do tempo:
consequentemente, se o raio diminuiu a metade em três meses, tardará outros
três meses a em chegar a ser zero.
Ver também
Energia de ativação
Temperatura
Taxa ou velocidade de reação
Termodinâmica da reação química
Entalpia
Entropia
Energia livre de Gibbs
Catálise
Catalisador
Ligações externas
Repaso de Cinética química Septiembre, 2001
Reações químicas | 19,448 |
537 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo%20Verde | Cabo Verde | Cabo Verde, oficialmente República de Cabo Verde, é um país insular localizado em um arquipélago no Oceano Atlântico central, consistindo de dez ilhas vulcânicas com uma área de terra combinada de cerca de 4 033 km². Essas ilhas ficam entre 600 a 850 km a oeste da península senegalesa do Cabo Verde, situada no ponto mais ocidental da África continental. As ilhas de Cabo Verde fazem parte da ecorregião da Macaronésia, juntamente com os Açores, as Ilhas Canárias, a Madeira e as Ilhas Selvagens.
O arquipélago de Cabo Verde ficou desabitado até ao século XV, altura em que exploradores portugueses descobriram e colonizaram as ilhas, estabelecendo assim o primeiro povoamento europeu nos trópicos. Uma vez que as ilhas de Cabo Verde estavam localizadas em uma localização conveniente para desempenhar um papel no comércio de escravos no Atlântico, Cabo Verde tornou-se economicamente próspero durante os séculos XVI e XVII, atraindo mercadores, corsários e piratas. O arquipélago declinou economicamente no século XIX devido à supressão do comércio de escravos no Atlântico, e muitos de seus habitantes emigraram durante esse período. No entanto, a economia cabo-verdiana se recuperou gradualmente, tornando-se um importante centro comercial e um ponto de escala útil ao longo das principais rotas de navegação. Em 1951, Cabo Verde foi incorporado como departamento ultramarino de Portugal, mas os seus habitantes continuaram a campanha pela independência, que alcançaram em 1975.
Desde o início da década de 1990, Cabo Verde tem sido uma democracia representativa estável e continua a ser um dos países mais desenvolvidos e democráticos de África. Na falta de recursos naturais, sua economia em desenvolvimento é principalmente orientada para os serviços, com um foco crescente no turismo e no investimento estrangeiro. Sua população de cerca de 550 000 habitantes (em meados de 2019) é majoritariamente de herança mista africana e europeia, e predominantemente católica romana, refletindo o legado do domínio português. Existe uma comunidade considerável da diáspora cabo-verdiana em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos e em Portugal, com um número consideravelmente superior de habitantes nas ilhas. Cabo Verde é um estado membro da União Africana, das Nações Unidas e um membro-fundador da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Etimologia
O nome do país provém do vizinho Cabo Verde, na costa senegalesa, avistado por exploradores portugueses em 1444, alguns anos antes de as ilhas serem descobertas. Em 24 de outubro de 2013, foi anunciado nas Nações Unidas que o nome oficial não deveria mais ser traduzido para outras línguas. Em vez de "Cabo Verde", a designação "República de Cabo Verde" está a ser usada para fins oficiais, como na Organização das Nações Unidas (ONU).
História
Colonização europeia
A história refere que a descoberta de Cabo Verde se deu no século XV, mais precisamente em 1460. A colonização portuguesa começou logo após a sua descoberta, sendo as primeiras ilhas a serem povoadas as de Santiago e Fogo. Para incentivar a colonização, a corte portuguesa estabeleceu uma carta de privilégios aos moradores de Santiago relativa ao comércio de escravos na Costa da Guiné. Na Ribeira Grande, na ilha de Santiago, estabeleceu-se a primeira feitoria, que serviu ponto de escala para os navios portugueses e para o tráfego e comércio de escravos, que começava a crescer por essa época. Mais tarde, com a abolição da escravatura, o país começou a dar sinais de fragilidade e entrou em decadência, revelando uma economia pobre e de subsistência.
No século XX, a partir da década de 50, começam a surgir os movimentos independentistas no continente africano. Cabo Verde vinculou-se à luta pela libertação da Guiné-Bissau, lutando contra o colonialismo português e promovendo marchas pela independência em todo o país.
A posição estratégica das ilhas nas rotas que ligavam Portugal ao Brasil e ao resto da África contribuiu para o facto de essas serem utilizadas como entreposto comercial e de aprovisionamento. Abolido o tráfico de escravos em 1876, o interesse comercial do arquipélago para a metrópole portuguesa decresceu, só voltando a ter importância a partir da segunda metade do século XX. No entanto, a partir de então, já haviam sido criadas as condições para o Cabo Verde independente de hoje: europeus e africanos uniram-se numa simbiose, criando um povo de características próprias.
Durante a colonização portuguesa, as secas crónicas devidas à desflorestação levaram a fomes regulares, sem que a colónia recebesse qualquer ajuda alimentar. Entre 1941 e 1948, 50 000 pessoas morreram, ou seja, mais de um terço da população, enquanto as autoridades portuguesas permaneceram indiferentes.
O processo de independência
As origens históricas nacionais da independência de Cabo Verde podem ser localizadas no final do século XIX e no início do século XX. Foi um processo gradual. Surgiu como uma tentativa de solução para as reivindicações da elite crioula de então, que protestava contra o desleixo e a negligência da metrópole portuguesa em relação ao que se passava em Cabo Verde.
Com o processo de formação nacional, muito cedo a máquina administrativa foi sendo assegurada pelos nascidos em Cabo Verde, ou pelos que já tinham grande identificação com a colónia, com excepção aos cargos elevados como governadores, chefes militares etc., ainda reservados aos representantes da soberania de Portugal. Esta "auto-suficiência" administrativa de Cabo Verde estava associada a uma escolarização relativamente desenvolvida e à existência de uma imprensa mais ou menos dinâmica introduzida por Portugal, que contribuíram para o surgimento de uma elite intelectual e burocrática. Esta começou, no século XX, a discutir cada vez mais a questão da independência, gerando um clima de atrito com os representantes da metrópole. Os leitores que acompanhavam a imprensa oficial entendiam que se devia lutar pela independência ou, pelo menos, por uma autonomia honrosa.
O processo de independência Cabo-Verdiana esteve sempre ligada a Guiné-Bissau, na altura também uma colónia Portuguesa. Em 1956, partidários pela independência de ambos os países formaram o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), estando entre os fundadores vários Cabo-Verdianos radicados em Guiné-Bissau, tais como Amílcar Cabral (líder do movimento até à sua morte em 1973) Aristides Pereira, e Luís Cabral. O PAIGC tinha como objectivo a lutar contra o que chamavam de "deplorável política ultramarina portuguesa", e eventualmente unir as duas colónias num único sistema político. Ao contrário do que aconteceu em Guiné-Bissau, nunca foram realizadas atividades de guerrilha no território de Cabo Verde. Apesar de o PAIGC ter organizado uma estrutura clandestina nas ilhas, problemas de logística, controlo apertado da PIDE, uma seca prolongada, e a falha do previsto apoio Cubano tornaram impossível uma maior presença do movimento em Cabo Verde.
Com o fim do regime político do Estado Novo em Portugal a 25 de Abril de 1974, foi criada em Cabo Verde a Frente Ampla Nacional e Anticolonial, tendo como objectivo unir os diferentes nacionalistas Cabo-Verdianos numa única organização. Ao mesmo tempo, ocorreram manifestações pela libertação de prisioneiros políticos encarcerados no campo de concentração do Tarrafal, e o PAIGC começou a enviar os primeiros guerrilheiros para as ilhas.
A 26 de Agosto de 1974 foi assinado o Acordo de Argel, que reconheceu formalmente a independência de Guiné-Bissau e “o direito do povo de Cabo Verde à autodeterminação e independência”. A 14 de Setembro desse mesmo ano o Presidente da República Portuguesa, António de Spínola, visitou Cabo Verde, tendo sido recebido por manifestações da população (incitada pelo PAIGC) a exigir uma resolução rápida para o problema da independência.
No entanto, Portugal ainda hesitava em entregar poder ao PAIGC devido a vários motivos: a percepção por Spínola e outros políticos (como Mário Soares, que preferia autonomia administrativa semelhante a Açores e Madeira, em vez de independência) de que Cabo Verde era culturalmente mais similar a Portugal do que a Guiné-Bissau, a falta de consenso sobre o PAIGC entre a população Cabo-Verdiana, e a viabilidade económica do novo estado que atravessava uma seca de 7 anos e era muito dependente de Portugal. Além disso, no contexto da Guerra Fria, a posição geoestratégica de Cabo Verde teria grande interesse para os Estados Unidos, que se poderia opor à independência, visto que o PAIGC era aliado à União Soviética. Em resposta o PAIGC tomou uma posição mais agressiva, tendo havido confrontos entre apoiantes do PAIGC e elementos das forças armadas Portuguesas, a PSP, e a Polícia Militar, e tendo sido realizada uma greve da função pública com forte adesão. Ao mesmo tempo, o PAIGC começou a preparar uma possível ação armada no arquipélago (até à demissão de António de Spínola, que levou a uma alteração desses planos).
A 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o governo Português e o PAIGC que afirmava “o direito do Povo de Cabo Verde à autodeterminação e independência” (artigo 1º), e previa que um governo de transição seria nomeado até à efectivação de independência. Esse governo de transição, liderado pelo Alto-Comissário Almirante Vicente Almeida d’Eça, e composto por elementos apontados pelo PAIGC, tomou posse 12 dias mais tarde. Foi função deste governo começar a lidar com os muitos problemas do país, incluindo a seca, a falta de bens alimentares, o desemprego generalizado, as dificuldades de financiamento, e o regresso de emigrantes vindos de Angola.
A independência foi finalmente declarada na cidade de Praia a 5 de Julho de 1975, tendo o PAIGC (e o seu sucessor PAICV) estabelecido um sistema de partido único que governou as ilhas até 1990, quando as primeiras eleições multi-partido foram realizadas, e o artigo que considerada o PAICV como a única força política foi removido da Constituição.
Quando obteve a independência em 1975, o arquipélago de Cabo Verde herdou uma situação económica difícil, resultante de vários anos de seca e de vários séculos de estagnação económica sob o domínio colonial português. A agricultura do território só pode cobrir uma pequena parte das suas necessidades alimentares, menos de 10%. A balança comercial é profundamente deficitária, cerca de 93%, e os cofres do Estado estão vazios.
A chegada ao poder do Movimento para a Democracia (MPD, centro-direita) em 1991 acelerou significativamente a transição para uma economia de mercado (iniciada nos anos 80). O governo lançou um programa de privatização do qual beneficiaram investidores portugueses (bancos, centrais eléctricas, estações de serviço, etc.). Portugal recuperou assim o que tinha perdido com a descolonização.
Cabo Verde produz pouco: os seus recursos minerais são quase inexistentes, sofre de seca crónica e a produção agrícola cobre apenas 10% das suas necessidades.
Geografia
Cabo Verde é um arquipélago localizado ao largo da costa da África Ocidental. As ilhas vulcânicas que o compõem são pequenas e montanhosas. Existe um vulcão activo, na ilha do Fogo, que é igualmente o ponto mais elevado do arquipélago, com 2829 m. O país é constituído por 10 ilhas, das quais 9 habitadas, e vários ilhéus desabitados, divididos em dois grupos:
Ao norte, as ilhas de Barlavento. Relacionando de oeste para leste: Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia (desabitada), São Nicolau, Sal e Boa Vista. Pertencem ainda ao grupo de Barlavento os ilhéus desabitados de Branco e Raso, situados entre Santa Luzia e São Nicolau, o ilhéu dos Pássaros, em frente à cidade de Mindelo, na ilha de São Vicente e os ilhéus Rabo de Junco, na costa da ilha do Sal e os ilhéus de Sal Rei e do Baluarte, na costa da ilha de Boa Vista;
Ao sul, as ilhas de Sotavento. Enumerando de leste para oeste: Maio, Santiago, Fogo e Brava. O ilhéu de Santa Maria, em frente à cidade de Praia, na Ilha de Santiago; os ilhéus Grande, Rombo, Baixo, de Cima, do Rei, Luís Carneiro e o ilhéu Sapado, situados a cerca de 8 km da ilha Brava e o ilhéu da Areia, junto à costa dessa mesma ilha.
As maiores ilhas são a de Santiago, a sudeste, onde se situa Praia, a capital do país, e a ilha de Santo Antão, no extremo noroeste. Praia é também o principal aglomerado populacional do arquipélago, seguida por Mindelo, na ilha de São Vicente.
Geologia
Geologicamente, as ilhas, que cobrem uma área total de pouco mais de 4 033 km2, são compostas principalmente de rochas ígneas, com estruturas vulcânicas e detritos piroclásticos que compõem a maior parte do volume total do arquipélago. As rochas vulcânicas e plutônicas são distintamente básicas; o arquipélago é uma província petrográfica de soda-alcalina, com uma sucessão petrológica que é semelhante à encontrada em outras ilhas da Macaronésia.
Anomalias magnéticas identificadas nas imediações do arquipélago indicam que as estruturas que formam as ilhas datam de 125–150 milhões de anos: as próprias ilhas datam de 8 milhões (no oeste) e 20 milhões de anos (no leste). A origem vulcânica das ilhas tem sido atribuída a um ponto quente, associado com o inchamento batimétrico que formou Cabo Verde. A ascensão é uma das maiores protuberâncias em oceanos do mundo, subindo 2,2 km em uma região semicircular de 1 200 km2, associado a um aumento do fluxo de calor na superfície do geoide.
O Pico do Fogo é o maior vulcão ativo na região e sua última erupção foi em Novembro de 2014. Tem uma caldeira 8 km de diâmetro, cuja bordeira tem 1 600 m de altitude e um cone interior que sobe para 2 829 m acima do nível do mar. A caldeira resultou de subsidência, após a evacuação parcial (erupção) da câmara de magma, ao longo de uma coluna cilíndrica dentro da câmara de magma (a uma profundidade de 8 km).
Extensas salinas são encontradas em Sal e Maio. Em Santiago, Santo Antão e São Nicolau, encostas áridas cederam lugar a canaviais ou plantações de banana espalhadas ao longo da base de montanhas imponentes. Penhascos em direção ao oceano foram formados por avalanches catastróficas de detritos.
No entanto, de acordo com o presidente de Nauru, Cabo Verde foi classificado como a oitava nação mais em risco devido a inundações por conta das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.
Clima
O arquipélago de Cabo Verde está localizado na zona subsaheliana, com um clima árido ou semiárido. A Corrente das Canárias modera a temperatura. A média anual raramente é superior a 25 °C e não desce abaixo dos 20 °C. A temperatura da água do mar varia entre 21 °C em fevereiro e 25 °C em setembro. As estações do ano são fundamentalmente duas: "as-águas" e "as-secas" ou "tempo das brisas".
A estação chuvosa, de agosto a outubro, é muito irregular e geralmente com escassa pluviosidade, em especial nas ilhas de São Vicente e Sal, onde tem havido vários anos seguidos sem chuva. As ilhas mais acidentadas, como Santo Antão, Santiago e Fogo, beneficiam de maior pluviosidade.
A estação mais seca, de dezembro a julho, é caracterizada por ventos constantes. A chamada "bruma seca", trazida pelo vento harmatão das areias do Saara, chega a provocar a interrupção dos serviços nos aeroportos.
Demografia
Os cabo-verdianos são descendentes de africanos (livres ou escravos) e de europeus de várias proveniências, na sua maioria portugueses, mas também italianos, franceses ou espanhóis, dentre outros povos europeus. Há também cabo-verdianos que têm antepassados judaicos vindos do Norte África principalmente nas ilhas de Boa Vista, Santiago e Santo Antão. Grande parte dos cabo-verdianos emigrou para o estrangeiro, principalmente para os Estados Unidos, Portugal e França, de modo que há mais cabo-verdianos a residir no estrangeiro que no próprio país.
É marcadamente jovem na sua estrutura etária, com 40% dos efetivos entre os 0 e 14 anos (estimativa 2005) e apenas 6% acima dos 65 anos. A média de idades da população cabo-verdiana ronda os 24 anos. A esperança média de vida, que, em 1975, rondava os 63 anos, atingiu, em 2003, os 71 anos (67 para homens; 75 para as mulheres). A taxa de mortalidade infantil, que, em 1975, rondava os 110‰, representava, em 2004, um valor de 20‰ em 1990; 26‰ em 2000), um valor inferior às taxas de outros países de categoria de rendimento semelhante.
A taxa de crescimento da população, dependente dos fluxos migratórios, situou-se, no decénio 1990–2000 (data do último censo populacional), em cerca de 2,4%, valor que se manteve constante até 2005. De aí em diante, prevê-se que a mesma estabilize em torno do 1,9%. Os agregados familiares, em 2006, eram constituídos, em média, por 4,9 membros (5 no meio rural e 4,5 no meio urbano).
Ao contrário dos países do continente africano, não há etnias em Cabo Verde. Em contrapartida, a trajetória histórica do país incluiu, desde o início, um processo de formação de classes sociais. Neste momento, pode constatar-se a ausência de uma "burguesia", mas a existência de vários tipos de "pequena burguesia", numericamente significativos. A maioria da população é, no entanto, constituída pelo campesinato e algum operariado.
Religião
Os cabo-verdianos são, na sua maioria, cristãos, com os católicos representando 72,5% da população religiosa. Outras denominações cristãs também estão implantadas em Cabo Verde, com destaque para os protestantes da Igreja do Nazareno e da Igreja Adventista do Sétimo Dia, assim como a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), a Congregação Cristã em Cabo Verde, Assembleia de Deus, Testemunhas de Jeová e outros grupos pentecostais e adventistas.
Há minorias compostas por muçulmanos, judeus e da Fé Bahá'í. A liberdade de religião é garantida pela Constituição e respeitada pelo governo. Há boas relações entre as diversas confissões religiosas.
Língua
A língua oficial é o português, usado nas escolas, na administração pública, na imprensa e nas publicações. A língua nacional de Cabo Verde, a língua do povo, é o crioulo cabo-verdiano (o criol ou kriolu). Cabo Verde é formado por dez ilhas e cada ilha tem a sua variante do crioulo (menos Santa Luzia pois não é habitada). O crioulo está oficialmente em processo de criação duma norma e discute-se a sua adoção como segunda língua oficial, ao lado do português.
Cabo Verde é membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Cabo Verde é país-sede de um organismo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
O francês e o inglês são leccionados no ensino secundário.
Cabo Verde é membro da Organização Internacional da Francofonia desde 1996. O país conta com mais de 10% de francófonos segundo esta organização.
Existe uma comunidade de imigrantes senegaleses, especialmente na ilha do Sal, que fala também francês.
Nos últimos anos, constituiu-se, principalmente na cidade da Praia, uma comunidade de imigrantes nigerianos que fala inglês.
Urbanização
Governo e política
Cabo Verde é uma república semipresidencialista, no quadro de uma democracia representativa. Trata-se de uma das nações mais democráticas do mundo, ocupando o 26.º do mundo, de acordo com o Índice de Democracia de 2012.
A constituição nacional — adoptada em 1980 e revista em 1992, 1995 e 1999 — define os princípios básicos de funcionamento do governo. O presidente é o chefe de estado e é eleito por voto popular para um mandato de 5 anos. O primeiro-ministro é o chefe de governo e propõe outros ministros e secretários de estado. O primeiro-ministro nomeado pelo presidente e sujeito a aprovação da Assembleia Nacional, cujos membros são eleitos por voto popular para mandatos de cinco anos. Existem três partidos que têm assento na Assembleia Nacional: Partido Africano da Independência de Cabo Verde (40), Movimento para a Democracia (30) e União Caboverdiana Independente e Democrática (2) e também o novo Partido Popular, que se irá estrear nas eleições presidenciais de 2016.
O sistema judicial é composto por um juiz do Supremo Tribunal de Justiça — cujos membros são nomeados pelo Presidente da República, a Assembleia Nacional e o Conselho da Magistratura — e os tribunais regionais. Há tribunais separados para ouvir casos civis, constitucionais e penais.
Relações internacionais
Cabo Verde segue uma política de não alinhamento e mantém relações de cooperação com todos os estados. Angola, Brasil, China, Cuba, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Senegal, Rússia, Luxemburgo e Estados Unidos mantêm embaixadas na Praia. O país está activamente interessado nos assuntos externos, especialmente em África.
O governo cabo-verdiano mantém relações bilaterais com alguns países lusófonos e mantém uma participação em diversas organizações internacionais, incluindo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que Cabo Verde preside no biênio 2019–2020. Cabo Verde é a sede mundial do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, vinculado à CPLP. Também participa em conferências internacionais sobre questões políticas e económicas. Desde o ano de 2007 que Cabo Verde tem um estatuto de parceria especial com a União Europeia, no âmbito do Acordo de Cotonou, e poderá vir a solicitar adesão especial, até porque o escudo cabo-verdiano se encontra indexado ao euro.
Divisão administrativa
A capital de Cabo Verde é a cidade da Praia na Ilha de Santiago que, juntamente com o Mindelo, na Ilha de São Vicente, são as duas cidades principais do País. Até 2005, Cabo Verde contava com dezessete concelhos. No primeiro semestre de 2005, foi aprovada pela Assembleia Nacional cabo-verdiana a constituição de cinco novos concelhos, resultando nos actuais 22 concelhos, distribuídos pelas 9 ilhas habitadas do arquipélago:
Ilha da Boa Vista
Boa Vista
Ilha Brava
Brava
Ilha do Maio
Maio
Ilha do Sal
Sal
Ilha de São Nicolau
Concelho da Ribeira Brava
Tarrafal de São Nicolau
Ilha do Fogo
Mosteiros
São Filipe
Santa Catarina do Fogo
Ilha de Santo Antão
Paul
Porto Novo
Ribeira Grande
Ilha de Santiago
Praia
Santa Catarina,
Santa Cruz
São Domingos
São Miguel
Tarrafal
Ribeira Grande de Santiago
São Lourenço dos Órgãos
São Salvador do Mundo
Ilha de São Vicente
São Vicente
Mindelo
Economia
Cabo Verde é um estado arquipélago com uma economia subdesenvolvida e que sofre com uma carência de alternativa de recursos e com o crescimento populacional. Os principais meios económicos são a agricultura, a riqueza marinha do arquipélago, a prestação de serviços (que corresponde a 80% do produto interno bruto) e, mais recentemente, o turismo (que tem ganhado crescente relevância). As principais ilhas turísticas são a Ilha do Sal e a Ilha da Boa Vista.
A agricultura sofre com os constantes períodos de seca e carece de uma melhor infraestrutura e modernização das técnicas agrícolas; os investimentos que atenderiam a essa necessidade adviriam de uma melhor educação dos cultivadores e da organização de um mercado de consumo dos produtos. Os produtos desta agricultura de sequeiro, com base na associação tradicional do milho e dos feijoeiros anuais, destinam-se basicamente ao mercado interno cabo-verdiano (embora não suficientes para atender à procura, sendo indispensável importação maciça de alimentos). Também têm se introduzido novas culturas de produtos e plantas como legumes, frutas e hortaliças para a distribuição interna no mercado. Os principais produtos exportados são o café, a banana e a cana-de-açúcar, que possuem mercados restritos e limitados.
No setor de pescas, vem sendo implantada a modernização dos meios artesanais e métodos tradicionais para melhor aproveitamento desses recursos. Isso vem sendo feito através do apoio de organismos especializados, porém a rentabilidade da pesca exige a industrialização do pescado e a organização dos mercados para que seja escoada a produção.
Portugal tem fortemente cooperado e ajudado Cabo Verde a nível económico e social, o que resultou na indexação de sua moeda, o escudo cabo-verdiano, ao euro, e no crescimento de sua economia interna. O ex-primeiro-ministro de Portugal e presidente da Comissão Europeia no segundo semestre de 2004, José Durão Barroso, prometeu integrar Cabo Verde à área de influência da União Europeia, através de maior cooperação com Portugal.
A economia cabo-verdiana desenvolveu-se significativamente desde o final da década de 2000. Nos dias atuais, essa transformação é sustentada por um vasto programa de infraestrutura por parte do governo em domínios vitais como os transportes terrestres, os transportes marítimos, os transportes aéreos e as comunicações, entre outros.
O país tem muitos emigrantes espalhados pelo mundo (com especial foco para Estados Unidos e Portugal), que contribuem com remessas financeiras significativas para o seu país de origem.
Em 2007, Cabo Verde aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e, em 2008, o país deixou a classificação de "subdesenvolvido" para de renda média.
A ilha de Santiago é a que mais contribui para o PIB nacional com um peso de 52,3% em 2002 e de 53,2% em 2012, a seguir a ilha de São Vicente com 16,1% (2002) e de 15,2% (2012) e o Sal com 12,8 (2002) e 10,8% (2012). Em igual período, as ilhas que menos contribuíram para o PIB foram São Nicolau com 2,2% e 2,1%, o Maio com 1,3% e 1,2% e a Brava com 1,0% para 0,8%. A ilha da Boa Vista cresceu consideravelmente nas contribuições, passando de 2,5 para 5,2%. A ilha do Fogo manteve a sua posição com 5,2% e a ilha de Santo Antão com 6,7% em 2002 e 6,2% em 2012. Só o concelho da Praia tem um peso de 39%, e os demais concelhos de Santiago tiveram um peso de 14% no ano de 2012 sob o PIB nacional.
Turismo
A localização estratégica de Cabo Verde, no cruzamento das vias aéreas e marítimas no meio do Atlântico, tem sido reforçada por melhorias significativas no porto do Mindelo (Porto Grande) e nos aeroportos internacionais do Sal e de Praia. Um novo aeroporto internacional foi inaugurado em Boa Vista em dezembro de 2007 e outro na ilha de São Vicente (Aeroporto de São Pedro) foi inaugurado no final de 2009. As instalações de reparação naval em Mindelo foram abertas em 1983.
Os principais portos são Mindelo e Praia, mas todas as outras ilhas têm instalações portuárias menores. Além do aeroporto internacional do Sal, aeroportos chegaram a ser construídos em todas as ilhas habitadas. Todos, exceto os aeroportos na Brava e em Santo Antão, gozam de serviço aéreo regular. O arquipélago tem 3 050 km de estradas, dos quais 1 010 km são pavimentados, sendo a maioria calcetadas.
As perspectivas económicas futuras do país dependem fortemente da manutenção dos fluxos de ajuda e cooperação estrangeira, do incentivo ao turismo, remessas do exterior, terceirização de trabalho para países africanos vizinhos e o impulso do programa de desenvolvimento do governo.
Infraestrutura
Saúde
A taxa de mortalidade infantil em Cabo Verde é de 18,5 por 1 000 nascidos vivos, enquanto a taxa de mortalidade materna é de 53,7 mortes por 100 000 nascidos vivos. A taxa de prevalência da SIDA é baixa: há cerca de 1 000 pacientes com HIV/SIDA no país, com pouco mais de metade dos quais em Praia, de acordo com um relatório das Nações Unidas. Com uma expectativa de vida de 75 anos, Cabo Verde (junto com Tunísia e Líbia) tem a maior expectativa de vida em toda a África; 71 anos para os homens e 79 anos para mulheres em 2012, de acordo com o Banco Mundial e a UNICEF. Há seis hospitais regionais em cinco ilhas (Santiago (2), São Vicente, Santo Antão, Fogo e Sal). Há centros de saúde, centros de saneamento e uma variedade de clínicas privadas localizadas em todo o arquipélago.
A população de Cabo Verde é uma das mais saudáveis em África. Desde a sua independência, o país tem melhorado muito os seus indicadores de saúde. Além de ter sido promovido ao grupo de países de "desenvolvimento médio" em 2007, deixando a categoria países menos desenvolvidos (sendo apenas a segunda vez que isso aconteceu a um país.) Cabo Verde é atualmente o nono país africano mais bem classificado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Educação
Embora o sistema educativo cabo-verdiano seja semelhante ao sistema português, ao longo dos anos as universidades locais têm cada vez mais passado a adotar o sistema educacional estadunidense; por exemplo, todas as dez universidades no país oferecem programas de bacharelato de 4 anos, em vez de programas de graduação de 5 anos como em Portugal. O país tem o segundo melhor sistema educacional na África, depois da África do Sul. O ensino primário em Cabo Verde é obrigatório e gratuito para as crianças com idades entre 6 e 14 anos.
Em 2011, a taxa de escolarização líquida no ensino primário foi de 85%. Cerca de 90% do total população com mais de 15 anos de idade é alfabetizada e cerca de 25% da população tem um diploma universitário; 250 desses recém-formados têm diplomas de doutoramento em diferentes áreas académicas. Livros didáticos foram disponibilizados para 90% das crianças em idade escolar e 98% dos professores participaram de formação de outros professores. Embora a maioria das crianças tenha acesso à educação, alguns problemas permanecem. Por exemplo, o gasto público é insuficiente para material escolar, merenda e livros.
Sua principal instituição de ensino superior é a Universidade de Cabo Verde.
Transportes
A maioria dos transportes em Cabo Verde é feito de avião. Existem voos regulares entre as principais ilhas (Santiago, Sal e São Vicente), com voos menos frequentes para as outras ilhas. O transporte de barcos também está disponível, embora não seja amplamente utilizado. Nas principais cidades, o transporte público por autocarro é periódico e táxis são comuns. Os principais aeroportos do país são o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na Ilha do Sal; o Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na Ilha de Santiago; o Aeroporto Internacional Aristides Pereira, na Ilha da Boa Vista; e o Aeroporto de São Pedro, na Ilha de São Vicente.
A maioria das estradas cabo-verdianas são pavimentadas e cortadas através do basalto local. Com ajuda internacional, muitas estradas foram asfaltadas, como a rodovia entre Praia-Tarrafal e Praia-Cidade Velha.
Mindelo, na Ilha de São Vicente, é o principal porto de cruzeiros e o terminal para o serviço de ferryboats para Santo Antão. Praia, na Ilha de Santiago, é um centro principal para serviços de ferryboats para outras ilhas. Palmeira, na Ilha do Sal, fornece combustível para o principal aeroporto da ilha, o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, e é importante para a construção de hotéis na ilha. Porto Novo, em Santo Antão, é a única fonte de importação e exportação de produtos da ilha, bem como o tráfego de passageiros, desde o encerramento da pista de pouso em Ponta do Sol. Existem portos menores espalhados pelo país.
Cultura
Em todos os seus aspectos, a cultura de Cabo Verde caracteriza-se por uma miscigenação de elementos europeus e africanos. Não se trata de um somatório de duas culturas, convivendo lado a lado, mas sim, um terceiro produto, totalmente novo, resultante de um intercâmbio que começou há quinhentos anos.
O caso cabo-verdiano pode ser situado no contexto comum das nações africanas, no qual as elites, que questionaram a superioridade racial e cultural europeia e que, em alguns casos, empreenderam uma longa luta armada contra o imperialismo europeu e pela libertação nacional, utilizam hoje o domínio dos códigos ocidentais como principal instrumento de dominação interna.
Música
O povo cabo-verdiano é conhecido por sua musicalidade, bem expressa por manifestações populares como o Carnaval de Mindelo, cuja importância faz com que a cidade seja conhecida nos dias dos festejos momescos como "Brazilim" (ou "pequeno Brasil"). Na música, há diversos géneros musicais próprios, dos quais se destacam a morna, o funaná, a coladeira e o batuque. Cesária Évora foi a cantora cabo-verdiana mais conhecida no mundo, conhecida como a "diva dos pés descalços", pois assim gostava de se apresentar no palco. O sucesso internacional de Cesária Évora fez com que outros artistas cabo-verdianos, ou descendentes de cabo-verdianos nascidos em Portugal, ganhassem maior espaço no mercado musical. Exemplos disso são as cantoras Sara Tavares, Lura e Mayra Andrade.
Bana, um dos primeiros a internacionalizar a música cabo-verdiana, começou a sua carreira quando Cabo Verde era ainda um território português, enquanto trabalhava como guarda-costas e moço de recados do compositor e intérprete B. Leza. Juntando-se ao coro dos diferentes cantores que contavam e cantavam as mornas, os amadores dos violões, das violas e dos cavaquinhos apercebem-se rapidamente da voz invulgar, "admitindo-o" entre os grandes de então.
Outro grande expoente da música tradicional de Cabo Verde foi Antonio Vicente Lopes, mais conhecido como Travadinha e Ildo Lobo, falecido em 2004. A Casa da Cultura, no centro da cidade da Praia é chamada de Casa da Cultura Ildo Lobo, em sua homenagem.
Cinema
O documentário chamado Tchindas (2015), que aborda os preparativos para o Carnaval de Cabo Verde, foi exibido no festival de cinema Outfest de Los Angeles em 2015, onde recebeu o Grande Prémio do Júri.
Culinária
A dieta de Cabo Verde é principalmente baseada em peixes e alimentos básicos como o milho e o arroz. Os vegetais disponíveis durante a maior parte do ano são batatas, cebolas, tomates, mandioca, repolho, couves e feijões secos. Frutas como bananas e papaias estão disponíveis durante todo o ano, enquanto outras, como mangas e abacates, são sazonais.
Um prato popular servido em Cabo Verde é a cachupa, um cozido de milho, feijão e peixe ou carne. Um aperitivo comum é o pastel, geralmente recheado com carne ou peixe.
Desportos
A formação desportiva mais bem sucedida do país é a Seleção Cabo-Verdiana de Basquetebol, que ganhou a medalha de bronze no Afrobasket de 2007 da FIBA, depois de vencer o Egito em seu último jogo. O jogador mais conhecido do país é Walter Tavares, que teve passagem pela NBA e hoje joga pelo Real Madrid da Espanha.
Cabo Verde é famoso pelo windsurf e kiteboarding. A equipa de futebol nacional de Cabo Verde, apelidada de "Tubarões Azuis" ou "Crioulos", é a Seleção Cabo-Verdiana de Futebol e é controlada pela Federação Cabo-Verdiana de Futebol. A equipa jogou no Campeonato Africano das Nações em 2013 e 2015.
O país competiu em todas os Jogos Olímpicos de Verão desde 1996.
Feriados
Ver também
África
Crioulo cabo-verdiano
Lista de países
Império Português
Missões diplomáticas de Cabo Verde
Português de Cabo Verde
Constituição Política da República de Cabo Verde
Bibliográficas
Ligações externas
Presidência da República de Cabo Verde
Governo da República de Cabo Verde
Instituto Nacional de Estatística
Alterações Climáticas e Cabo Verde — Projecto PNUD
Cabo Verde — Paraíso do Atlântico Colonial, por Agata Bloch, Porto Alegre: Editora Fi, 2019 | 389,278 |
538 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conscienciologia | Conscienciologia | A conscienciologia é um movimento dissidente do espiritismo e de cunho pseudocientífico fundado pelo cirurgião plástico e médium brasileiro Waldo Vieira. Vieira propõe o estudo "da consciência de forma integral", sustentando a crença em fenômenos parapsíquicos, como a experiência extracorporal, e a serialidade da vida humana através da reencarnação. No contexto da conscienciologia, a consciência, também chamada de ego, alma, espírito, self ou individualidade, possuiria uma existência própria que transcenderia a vida biológica.
Autodenominada uma "ciência não convencional", adota o que chama de "paradigma consciencial", cuja abordagem é também subjetiva e não somente objetiva e dando ênfase ao experimentalismo em contraste com a metodologia científica padrão. A conscienciologia surgiu a partir da projeciologia, subcampo de pesquisa mais aplicado. Ambas compartilham do mesmo paradigma, sendo por isso consideráveis componentes de um mesmo sistema, por tal descritos juntamente na literatura.
A conscienciologia propõe um conjunto de neologismos que caracterizam um jargão cientificista próprio, como por exemplo a palavra ressoma (Reativação do Soma/ corpo físico) para substituir reencarnação.
Embora parte da escassa literatura científica sobre a conscienciologia classifique-a como um fenômeno religioso (do movimento New Age ou das religiosidades pós-tradicionais) dissidente do espiritismo e identifique sua proposta cientificista como uma continuação da teodiceia de Allan Kardec, seus adeptos rejeitam qualquer conotação religiosa às suas práticas.
Princípios
Na conscienciologia se verifica a existência de múltiplas vidas, energias e dimensões extrafísicas, experiência fora-do-corpo bem como no processo de evolução ao longo das reencarnações. Os pesquisadores da conscienciologia sustentam que tais conceitos não têm origem em crenças religiosas, mas na constatação de sua veracidade através da investigação e experimentação.
Paralelamente, em contraste com o espiritismo de Kardec, que acredita na evolução através da caridade e da expiação terrestre, a conscienciologia preconiza a evolução através do aquisição de cons, que seria a medida mínima de lucidez consciencial. Vieira classifica os indivíduos conforme seu grau de consciência: os humanos pouco desenvolvidos estão na categoria pré-serenão; os mais alto grau de evolução é chamado de serenão. Existe uma escala evolutiva de consciências com dezenas de categorias.
Os conscienciólogos adotam o que denominam princípio da descrença definido pelo lema "Não acredite em nada, experimente e tire suas próprias conclusões", tipificando um traço distintivo da paraciência em relação à religião: a valorização do empirismo (ainda que um "paraempirismo" de sustentação subjetiva) em oposição a crenças com base na tradição e na fé.
A conscienciologia compartilha com outras paraciências da Nova Era a crença na possibilidade de controle das bioenergias, da paranormalidade e da projetabilidade pelo exercício de técnicas mentais. Defende também que todos são capazes de ver, ouvir e conversar com consciências em outras dimensões e a saída da consciência do corpo acontece durante o sono profundo.
Waldo Vieira, fundador na conscienciologia, permaneceu como líder do grupo e principal formulador de seu ideário até o seu falecimento (ou dessoma, no jargão conscienciológico). Exercia liderança do tipo carismática, apresenta-se com vasta barba branca, vestia-se sempre de roupas brancas e possuía dons de mediunidade, projetabilidade, clarividência e manipulação de energias para cura e materializações. Segundo Vieira, esta apresentação é intencional e visa marcar sua presença, fazendo-se lembrar por quem já o viu.
Neologismos
Homo sapiens serenissimus
Homo sapiens serenissimus ou serenão é nome dado por Vieira às consciências que atingiram o mais alto grau de evolução na vida terrestre. Ao final dessa última vida intrafísica ele passa a condição de consciência livre, onde inicia um novo ciclo evolutivo. Segundo eles, os serenões já foram denotados em outras situações como Bodhisattvas, Avatares, Mestres Ascensionados, Espíritos de Luz, Espíritos Planetários, Arcanjos e Elohins.
Tenepes
O neologismo foi criado por Waldo Vieira em 1966. A Tenepes (acrônimo de tarefa energética pessoal ), também conhecida pelos espíritas como passe para o escuro ou sessão do eu sozinho, é uma técnica assistencial que, consiste na transmissão de bioenergias espirituais para fins assistenciais. A técnica é individual; programada com horário diário, do ser humano, auxiliado e amparado por amparadores extrafísicos (ajudantes espirituais já desencarnados, espírito guia); durante a vigília; diretamente para consciências vivas ou mortas (que estariam no plano espiritual, denominadas extrafísicas) enfermas ou necessitadas, intangíveis e invisíveis à visão humana comum ou indivíduos projetados, ou não, próximos ou distantes, também carentes ou doentes.
O praticante da tenepes denomina-se tenepessista. É o indivíduo que se compromete para o resto da sua vida intrafísica a manter esta prática diária. O Tenepessista realiza suas sessões energéticas de modo anônimo, solitário, em local isolado, fechado, silencioso e escuro sem testemunhas físicas.
Projeciologia
A projeciologia (do latim projectio significa projeção e logos no grego significa tratado) é o ramo de caráter mais prático da conscienciologia. O neologismo projeciologia foi proposto por Waldo Vieira em 1981 no livro Projeções da Consciência, uma reunião de relatos de experiências fora do corpo do próprio autor, em forma de diário. As projeções também são conhecidas como EFC (Experiência Fora-do-Corpo), OBE (Out-of-Body Experience), desdobramento, projeção astral, dentre outras. Além da experiência fora-do-corpo, a projeciologia também se dedica a dezenas de fenômenos parapsíquicos correlatos tais como: bilocação, clarividência, deja-vú, experiência de quase-morte (EQM), precognição, retrocognição, telepatia e outros.
Experiências pessoais
A projeciologia rejeita a metodologia científica padrão. Para ela, o mais importante é o auto-pesquisador experimentar suas próprias experiências a fim de formar suas próprias convicções. O que acaba esbarrando contra conceitos da ciência que não leva em consideração o auto-experimento, já que seres humanos estão propícios a falhas (estamos presos a cinco sentidos, facilmente enganados por truques de ilusão de ótica) por isso é imprescindível a utilização de métodos (como por exemplo utilização de equipamentos específicos) que possam estar neutros para conseguir registrar dados.
Embora inúmeras alegações já tenham sido feitas, não há evidência científica aceita da existência do fenômeno da projeção da consciência para fora do corpo humano. Os adeptos da crença em projeções, alegam que diversos experimentos já foram realizados, sobretudo em universidades norte-americanas no século XX, supostamente provando a possibilidade da projeção consciente e a possibilidade da consciência projetada influir de forma sutil no ambiente, quando fora do corpo. Tais experimentos, entretanto, jamais convenceram a comunidade científica em geral, que em sua maioria apontou possíveis erros e enganos, ou exigiu a realização de um número maior de experimentos por pesquisadores independentes, ou mesmo sugeriu outras possíveis explicações, mais prosaicas, para os resultados observados.
Bibliografia
Vieira, Waldo; 700 Experimentos da Conscienciologia, IIP, Rio de Janeiro (1994)
Vieira, Waldo; 200 Teáticas da Conscienciologia, IIPC, Rio de Janeiro (1997)
Conscienciologia | 16,040 |
542 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cavalo-marinho | Cavalo-marinho | Hippocampus é um gênero de peixes ósseos, pertencente à família Syngnathidae, de águas marinhas temperadas e tropicais que engloba as espécies conhecidas pelo nome comum de cavalo-marinho.
Descrição
Os cavalos-marinhos caracterizam-se por terem uma cabeça alongada, com filamentos que lembram a crina de um cavalo, e por exibirem mimetismo semelhante ao do camaleão, podendo mudar de cor e mexer os olhos independentemente um do outro. Nadam com o corpo na vertical, movimentando rapidamente as suas barbatanas. Algumas espécies podem ser confundidas com plantas marinhas, corais ou anêmonas marinhas. Geralmente medem entre 15 e 18 centímetros, mas podem medir desde 13 a 30 centímetros, dependendo da espécie, com peso entre 50 e 100 gramas. Vivem em águas de regiões de clima temperado e tropical.
Todas as espécies de cavalos-marinhos estão em perigo de extinção. Uma das causas é pesca predatória e a destruição de habitat. Outra causa é o captura frequente deles para serem usados como peça de decoração ou simplesmente serem criados em um aquário.
Existem três espécies brasileiras de cavalos-marinhos, o Hippocampus erectus, Hippocampus reidi e o Hippocampus patagonicus, que foi descoberto em 2004.
Nome científico
Os hipocampos eram seres da mitologia grega (séquitos de Poseidon), que possuíam as partes superiores de seus corpos iguais a de um cavalo, com crina membranosa, guelras e membranas interdigitais nos supostos cascos, e suas partes inferiores eram a de um peixe ou golfinho, por isso eram conhecidos como "cavalos-marinhos".
Hábitos alimentares
As espécies desse gênero são carnívoras. Alimentam-se de pequenos crustáceos, moluscos, vermes, e plâncton, que são sugados através de suas bocas tubulares. Como eles não tem o costume de irem atrás de alimento, eles comem o que estiver passando por eles. A cauda desses animais é longa e preênsil, o que permite que eles se agarrem às plantas submarinas enquanto se alimentam.
Reprodução
A reprodução dos cavalos-marinhos geralmente ocorre na primavera. Para se reproduzirem, as fêmeas dos cavalos-marinhos dão preferência ao macho de maior tamanho corporal e que tenha mais ornamentos em seu corpo. Para que os machos consigam uma fêmea para se reproduzirem, eles também precisam atraí-la fazendo uma dança do acasalamento.
A reprodução inicia quando os Óvulos da espécie são transferidos da bolsa incubadora da fêmea para a do macho, no momento do acasalamento. Os Óvulos, já na bolsa incubadora do macho, que se localiza na base de sua cauda, são fertilizados por esperma que o próprio macho libera lá dentro. Dois meses mais tarde, os Óvulos eclodem e o macho realiza violentas contorções para expelir os filhotes, que estão dentro da sua bolsa incubadora.
Os filhotes, quando nascem, são transparentes e medem menos de um centímetro, mas com variações, dependendo da espécie. Eles sobem logo à superfície para encherem suas bexigas natatórias de ar, para poderem se equilibrar na água ao nadarem. Após nascerem, já são totalmente independentes de seus pais, mesmo sendo frágeis. Um cavalo-marinho macho geralmente gera 100 a 500 filhotes por gestação, dependendo da espécie. Geralmente, quase 97% dos filhotes de cavalos-marinhos são mortos por predadores naturais, que são, geralmente, peixes maiores.
Espécies
Localização
Os cavalos-marinhos são encontrados principalmente em águas rasas tropicais e temperadas em todo o mundo, e preferem viver em áreas abrigadas, tais como leitos de algas marinhas, estuários, recifes de corais ou mangues. Nas águas do Pacífico, da América do Norte à América do Sul, há cerca de quatro espécies. No oceano Atlântico, o Hippocampus erectus varia de Nova Escócia para o Uruguai. Hippocampus zosterae, conhecido como o cavalo-marinho-anão, é encontrado nas Bahamas. Colônias foram encontrados nas águas europeias como o estuário do Tamisa.
Três espécies vivem no mar Mediterrâneo: Hippocampus guttulatus (o cavalo-marinho-de-focinho-longo), o cavalo-marinho-de-focinho-curto e Hippocampus fuscus (o pônei-do-mar). Nessas áreas, os machos ficam dentro de 1 metro quadrado em seu território, enquanto fêmeas variam de cerca de cem vezes isso.
Lista de espécies
Hippocampus algiricus
Hippocampus angustus
Hippocampus barbouri
Hippocampus borboniensis
Hippocampus breviceps
Hippocampus camelopardalis
Hippocampus capensis
Hippocampus casscsio
Hippocampus comes
Hippocampus coronatus
Hippocampus curvicuspis
Hippocampus denise
Hippocampus erectus
Hippocampus fisheri
Hippocampus fuscus
Hippocampus guttulatus
Hippocampus haema
Hippocampus hippocampus
Hippocampus ingens
Hippocampus japapigu
Hippocampus jayakari
Hippocampus kelloggi
Hippocampus kuda
Hippocampus lichtensteinii
Hippocampus minotaur
Hippocampus mohnikei
Hippocampus nalu
Hippocampus patagonicus
Hippocampus reidi
Hippocampus sindonis
Hippocampus spinosissimus
Hippocampus subelongatus
Hippocampus trimaculatus
Hippocampus whitei
Hippocampus zebra
Hippocampus zosterae
Cavalos-marinhos pigmeus
Cavalos-marinhos pigmeus tem menos do que 15 milímetros (0,59 in) de altura e 17 milímetros (0,67 in) de largura. Anteriormente, o termo foi aplicado exclusivamente para a espécie H. bargibanti. Mas, desde 1997, as descobertas fizeram este termo obsoleto. As espécies H. minotauro, H. denise, H. colemani, H. pontohi, H. severnsi e H. satomiae têm sido descritas assim. Outras espécies, que ainda não foram classificadas, também têm sido relatadas em livros, revistas de mergulho e na internet. Eles podem ser distinguidos de outras espécies de cavalos-marinhos pelos seus anéis de tronco 12, baixo número de anéis de cauda em comparação com os cavalos-marinhos normais (26-29), a localização na qual jovens são postos na região do tronco dos machos e seu tamanho extremamente pequeno. A análise molecular (de RNA ribossômico) de 32 espécies Hippocampus descobriram que H. bargibanti pertence a um clado separado de outros membros do gênero e, portanto, que as espécies divergiram das outras espécies em um passado "antigo". Cavalos-marinhos pigmeus são melhor camuflados e vivem em estreita associação com outros organismos, incluindo hidrozoários coloniais (Lytocarpus e Antennellopsis), algas coralíneas (Halimeda) fãs do mar (Muricella, Annella, Acanthogorgia). Isto, combinado com seu pequeno porte, explica por que a maioria das espécies só foram notadas e classificadas a partir de 2001.
Na medicina tradicional
As populações de cavalos-marinhos estão sendo ameaçadas nos últimos anos pela pesca excessiva e a destruição de habitat. As espécies de cavalos-marinhos são usadas na medicina tradicional chinesa e aproximadamente 20 milhões são capturados a cada ano e vendidos para esta finalidade. Cavalos-marinhos não são facilmente criados em cativeiro pois são muito suscetíveis à doença e acredita-se que os "selvagens" têm melhores propriedades medicinais comparadas a cavalos-marinhos de aquário. Os cavalos-marinhos são também utilizados como medicamentos pelos indonésios, filipinos e muitos outros grupos étnicos. Importação e exportação de cavalos-marinhos tem sido controlada pela CITES desde 15 de maio de 2004. No entanto, Indonésia, Japão, Noruega e Coreia do Sul decidiram optar por sair das regras comerciais estabelecidos pela CITES. O problema pode ser exacerbado pelo crescimento de comprimidos e cápsulas como o método preferido de ingerir a medicação à base de cavalos-marinhos. Eles são mais baratos e acessíveis do que os tradicionais e o conteúdo é mais difícil de rastrear. Os cavalos-marinhos devem ter de um certo tamanho e qualidade antes de serem aceites pelos praticantes da medicina tradicional chinesa (MTC) e consumidores. O declínio da disponibilidade e da preferência aos de grande porte torna possível para os comerciantes da MTC venderem os mais jovens, o que não era comum anteriormente. Hoje, quase um terço dos cavalos-marinhos vendidos na China são pré-embalados, aumentando a pressão sobre as espécies.
Ligações externas
Vimeo.com, Vídeo de espécies de cavalos-marinhos diversos no Monterey Bay Aquarium.
Arkive (Em Ingles),imagens e filmes do cavalo-marinho-pigmeu (bargibanti Hippocampus) (Em Ingles)
Cavalo - Marinho (Em Ingles) na Enciclopédia da Vida.
Hippocampus | 137,506 |
548 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Carv%C3%A3o%20mineral | Carvão mineral | O carvão mineral é uma rocha sedimentar combustível, de cor preta ou marrom, que ocorre em estratos chamados camadas de carvão. As formas mais duras, como o antracito, podem ser consideradas rochas metamórficas devido à posterior exposição à temperatura e pressão elevadas. É composto basicamente por carbono, enxofre, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, além de elementos vestigiais. Quanto maior o teor de carbono, mais puro se considera. Existem quatro tipos principais de carvão mineral: turfa, linhito, hulha e antracito (em ordem crescente do teor de carbono). É extraído do solo por mineração a céu aberto ou subterrânea.
Entre os diversos combustíveis produzidos e conservados pela natureza sob a forma fossilizada, acredita-se ser o carvão mineral o mais abundante. Com o coque e o alcatrão de hulha, seus subprodutos são vitais para muitas indústrias modernas.
Formação do carvão fóssil
O carvão fóssil foi formado pelos restos soterrados de plantas tropicais e subtropicais, especialmente durante os períodos Carbonífero e Permiano.
As alterações climáticas registradas no mundo explicam porque o carvão ocorre em todos os continentes, até mesmo na Antártida. Segundo a visão tradicional, os depósitos carboníferos se formaram de restos de plantas acumuladas em pântanos, que se decompuseram, fazendo surgir as camadas de turfa.
A elevação do nível das águas do mar ou o rebaixamento da terra provocaram o afundamento dessas camadas sob sedimentos marinhos, cujo peso comprimiu a turfa, transformando-a, sob elevadas temperaturas, em carvão. Apenas o carvão de cor marrom (linhitos) têm origem estritamente a partir de plantas.
Empregam-se, em geral, dois métodos para determinar a composição dos carvões: a "análise elementar", estabelece as porcentagens totais dos elementos presentes (carbono, hidrogênio, oxigênio, enxofre e nitrogênio); e a "análise aproximada" fornece uma estimativa empírica das quantidades de umidade, cinza e materiais voláteis, e de carbono fixo. Os carvões classificam-se ou ordenam-se de acordo com o seu conteúdo de carbono fixo, cuja proporção aumenta à medida que o minério se forma. Em ordem ascendente, os principais tipos são: linhito, que se desgasta rapidamente, pode incendiar-se espontaneamente e tem baixo valor calorífico; é usado sobretudo na Alemanha e na Austrália; carvão sub-betuminoso, utilizado principalmente em estações geradoras; carvão betuminoso, o tipo mais comum e que, transformado frequentemente em coque tem amplo emprego industrial; o antracito, um carvão lustroso, de combustão lenta, excelente para uso doméstico.
Consequências do uso do carvão
Embora utilizado como combustível, em Gales, na Grã-Bretanha, desde o segundo milênio a.C., o carvão só começou a ser minerado de forma mais ou menos sistemática na Europa por volta do século XIII, época em que já era conhecido dos índios norte-americanos. A primeira mina comercial de carvão da América foi aberta em Richmond, nos EUA em 1745, e o antracito começou a ser extraído principalmente na região de Wilkes-Barre, no nordeste da Pensilvânia, em 1775 e não continuou depois de 1820. A revolução industrial ampliou a demanda do minério, que só reduziu no século XX, com a difusão do emprego do petróleo como combustível e marcando seu fim com o fechamento das minas de carvão em 2015. As reservas mundiais de carvão são estimadas em cerca de sete trilhões de toneladas, o suficiente para atender a demanda durante alguns séculos, nas taxas de consumo atuais.
A queima de carvão para obtenção de energia produz efluentes altamente tóxicos como por exemplo o mercúrio e outros metais pesados como vanádio, cádmio, arsênio e chumbo. Além disso, a libertação de dióxido de carbono causa poluição na atmosfera, agravando o aquecimento global e contribuindo para a chuva ácida. Na década de 1950, a poluição atmosférica devido ao uso do carvão causou elevado número de mortes e deixou milhares de doentes em Londres, durante "o grande nevoeiro de 1952".
Entrepostos de carvão no Brasil
Existem doze entrepostos instalados com capacidade de armazenar oito milhões de toneladas de carvão mineral, sendo que o de Tubarão, Santa Catarina, é para seis milhões de toneladas, ocupando uma área de 120 hectares.
Maiores produtores
Os maiores produtores de carvão mineral são a China, os Estados Unidos, a Austrália, a Rússia e a Indonésia. A China, sozinha, produz quase metade do carvão mineral do mundo, tendo produzido em 2008, 2,761 bilhões de toneladas.
Em 2018, os maiores exportadores do mundo eram a Indonésia (472 milhões de toneladas), a Austrália (426 milhões de toneladas), a Rússia (231 milhões de toneladas), os Estados Unidos (115 milhões de toneladas), a Colômbia (92 milhões de toneladas), a África do Sul (88 milhões de toneladas), a Mongólia (39 milhões de toneladas), Canadá (37 milhões de toneladas) e Moçambique (16 milhões de toneladas). Poucos países no mundo são grandes exportadores de carvão. Devido à alta necessidade energética mundial, estes países realizam um trabalho importante ao manter países altamente industrializados funcionando normalmente. Os maiores importadores de carvão do mundo, em 2018, foram: China (281 milhões de toneladas), Índia (223 milhões de toneladas), Japão (189 milhões de toneladas), Coréia do Sul (149 milhões de toneladas), Taiwan (76 milhões de toneladas), Alemanha (44 milhões de toneladas), Holanda (44 milhões de toneladas), Turquia (38 milhões de toneladas), Malásia (34 milhões de toneladas) e Tailândia (25 milhões de toneladas).
Ver também
Aquecimento global
Cavalete do Poço de São Vicente
Combustível
Etanol de carvão
Gases do efeito estufa
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Mudança do clima
O grande nevoeiro de 1952
Poluição atmosférica
Protocolo de Quioto
São Pedro da Cova
Carvão
Rochas sedimentares | 110,091 |
549 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Carboqu%C3%ADmica | Carboquímica | Carboquímica é o ramo da química que estuda a transformação de carvões (hulha, antracite, linhite, grafite e vegetal) em produtos úteis e matérias-primas. Os processos que são usados em carboquímica incluem processos de desgaseificação, como carbonização e coqueificação, processos de gaseificação e processos de liquefação.
História
O início da carboquímica remonta ao século XVI. Naquela época, grandes quantidades de carvão eram necessárias para a fundição de minérios de ferro. Como a produção de carvão vegetal exigia grandes quantidades de madeira de regeneração lenta, o uso do carvão foi estudado. O uso de carvão puro era difícil devido à quantidade de subprodutos líquidos e sólidos que eram gerados. Para melhorar o manuseio o carvão foi inicialmente tratado como madeira em fornos para produção de coque.
Por volta de 1684, John Clayton descobriu que o gás de cidade gerado a partir do carvão era combustível. Ele descreveu sua descoberta na Philosophical Transactions of the Royal Society.
Ligações externas
Site sobre química
Instituto de Química da USP
Química inorgânica | 2,225 |
550 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Chimpanz%C3%A9 | Chimpanzé | O termo chimpanzé aplica-se aos primatas do gênero Pan, da família Hominidae, subfamília Homininae, com duas espécies conhecidas: os chimpanzés-comuns (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus).
Estudos apontam que os chimpanzés são parentes próximos dos seres humanos na evolução; eles separam-se do tronco do ancestral comum por volta de há 4 a 7 milhões de anos, e ambas as espécies compartilham 98-99% de DNA.
Como o homem, o chimpanzé consegue reconhecer a própria imagem no espelho, capacidade que poucos animais apresentam. Também são capazes de aprender certos tipos de linguagens, como a dos sinais.
Devido à destruição do seu habitat e à caça ilegal de chimpanzés pelo mercado de carne e de animais, pensa-se que restam apenas 150.000 chimpanzés nos bosques e florestas da África Central e Ocidental. Estima-se que no início do século XX havia aproximadamente dois milhões.
Características
Os chimpanzés fazem parte da família Hominidae, possuindo uma semelhança genética de mais de 99% com os humanos. Medem entre 75 cm e 95 cm, e seu peso varia entre 30 e 55 kg. A coloração negra de seus pelos modifica-se para uma cor acinzentada conforme a idade avança.
Os chimpanzés vivem em grupos que podem variar de cinco até mais de cem indivíduos, aquando no seu estado natural. Contudo, as fêmeas possuem hábitos mais solitários, passando a maior parte do tempo sozinhas. Nos grupos de Pan Troglodytes os machos são dominantes sobre as fêmeas, assim como sobre os machos mais jovens, já no caso de Pan Paniscus as fêmeas são dominantes.
São animais de hábitos diurnos, terrestres e arborícolas. Costumam-se locomover pelo solo, no entanto tem o preferência a se alimentarem sobre as árvores, durante o dia. Estes são primatas quadrúpedes, ou seja, locomovem-se utilizando os pés e as mãos, simultaneamente, para andar e correr, além de serem capazes de escalar, pular e ficarem suspensos. Além disso, ocasionalmente, podem se movimentar de forma bípede, tal como os humanos. Geograficamente estão distribuídos nas florestas e matas secas de savana, e nas florestas tropicais de áreas baixas até áreas montanhosas, superiores a 3000 metros de altitude, na região central do continente africano.
Os chimpanzés possuem uma alimentação bem variada, sendo as frutas o principal alimento de sua dieta, porém também consomem folhas, flores, sementes e insetos, como formigas, cupins e larvas. Em certas ocasiões também se alimentam de carne, variando de pequenos antílopes a outras espécies de primatas, como o Colobus.
Estes animais, aparentemente, possuem culturas diferentes, dependendo da região em que vivem, assim como os humanos, e são capazes de ensiná-las de uma geração para outra. Entre tais ensinamentos estão, por exemplo, técnicas para extrair cupins de seus cupinzeiros, utilizando-se de gravetos; utilização de pedras para quebrarem sementes e frutos duros; e outros tipos de ferramentas adaptadas, usadas inclusive para caçar alguns pequenos mamíferos.
Machos dessa espécie podem se unir para manter a liderança sobre o grupo, ou roubar a posição do líder. Para intimidar os rivais, eles se demonstram agressivos, com vocalizações altas, agitações de galhos e até mesmo o ataque.
Os chimpanzés machos podem fazer pares com fêmeas, mas a promiscuidade é comum na espécie. Há casos em que a fêmea copulou 50 vezes com quatorze machos diferentes em um só dia. Estes animais tem orgasmos e vocalizações específicas de cópula. Na verdade, são conhecidos 34 tipos diferentes de vocalizações nesta espécie.
Características Físicas
O esqueleto é menos maciço que o do gorila. Pode-se dizer que o esqueleto do chimpanzé é semelhante ao do homem, exceto pela formação característica do quadril. Possuem muita força física. Um chimpanzé macho adulto, tem em média 1,5 a força de homem adulto, de acordo com pesquisa da universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Isso se deve à sua anatomia muscular e cerebral, e também a seu estilo de vida semi-arborícola, que requer muita força física.
Em comum com o homem ele tem reações serológicas (ou sanguíneas) análogas, a possibilidade de enxerto testicular e a semelhança das circunvoluções do cérebro.
Eles têm até mesmo um esboço da circunvolução de Broca, que é a sede da palavra no homem. Os machos adultos possuem espáduas largas, tronco maciço. O tórax, bastante musculoso, é pouco abaulado. Os braços, muito longos, descem abaixo dos joelhos e são menos musculosos que os do gorila.
Os dedos, grossos, fortes e rugosos, são muito longos. O polegar é curto e delgado; o médio é o maior dos dedos.
Eles têm a tíbia fina e a batata da perna pouco aparente, os seus pés são achatados, com o grande artelho longo e grosso, nitidamente destacado dos demais. Mais parece uma mão do que propriamente um pé.
Desloca-se quase sempre sobre os quatro membros, mantendo o corpo em posição oblíqua, como os demais antropoides, mas pode assumir uma posição bípede em certas ocasiões.
Comportamento
Bonobos e chimpanzés possuem um modo de viver muito semelhante como o nomadismo e a presença de machos dominantes.
Porém apresentam gritantes diferenças: nos grupos dos chimpanzés existe hierarquia clara, com um ou dois machos dominantes. Essa hierarquia pode mudar, inclusive, com a formação de coalizões entre outros machos. Essas coalizões podem ser utilizadas para agredir machos de outros grupos. Já foram reportados casos de "guerras" e linchamentos entre chimpanzés. As fêmeas, de modo geral, são submissas aos machos. Os chimpanzés respondem à música movendo-se de maneira semelhante à dança - embora o grau em que dançam varie significativamente entre eles.
Entre os bonobos, a hierarquia é mais diluída e não se observa casos de extrema violência, como nos chimpanzés. As fêmeas possuem coalizões fortes e o sistema é matrilinear.
Inteligência
O primeiro cientista a se preocupar com a inteligência dos chimpanzés foi o professor Wolfgang Köhler (1887-1967). Ele fez experiências testando a inteligência do símio.
Uma experiência de Köhler comprovou o poder de memória do chimpanzé. Vários testes confirmam uma inteligência significativamente elevada comparada por vezes com a das crianças humanas de até 3 anos.
Após as experiências de Köhler, outros chimpanzés foram estimulados a desenvolver a capacidade mental. Alguns aprenderam a linguagem dos surdos e a partir daí comunicaram-se com os seres humanos.
Recentemente um bonobo chamado Kanzi, de 23 anos, foi criado aprendendo a comunicar com humanos. Este domina a linguagem dos surdos, sendo até capaz de usar o teclado de um computador para escrever, exprimindo os seus pensamentos.
Estudos e experiências realizadas com chimpanzés, revelaram nessa espécie da ordem dos primatas, uma inteligência bastante aguçada.
Dieta do Chimpanzé
A dieta varia com as estações do ano. Mais de 250 tipos de frutas que fazem parte da alimentação dos chimpanzés. Os mamíferos que fazem parte da dieta dos chimpanzés são outros primatas (12 espécies), gulungos – um antílope africano, potamoquero – porco selvagem de África, cabritos, roedores e procávias. Os chimpanzés usam algumas plantas para o que tem vindo a ser descrito como fins medicinais. Os investigadores conseguiram isolar um agente antitumoral de uma destas plantas.
A dieta é composta por:
Fruta, 45-76%;
Folhas, 12-45%;
Flores, 1-19%;
Sementes, 1-11%;
Presas animais, (incluindo mamíferos, aves, formigas, térmitas, vespas, e larvas), 0-5%.
Distribuição
Os chimpanzés podem ser encontrados numa vasta área da África Central e África Ocidental, desde a Nigéria, a Norte, até ao território de Angola, a Sul e a Oriente podem ser encontrados até na Tanzânia e Quénia. Floresta, árvores e água são factores importantes para as comunidades de chimpanzés. Contudo, existem alguns grupos destes animais a viver acima dos 2000 metros de altitude onde, apesar de não haver árvores, os chimpanzés adaptaram-se às condições e habitam grutas.
Estes animais vivem em grupos que podem ser pequenos, com cinco ou 6 animais, ou bastante numerosos, com cerca de 100 animais.
Na sociedade dos chimpanzés existe um escalonamento hierárquico bem definido. Se algum elemento do grupo o desrespeitar, fica sujeito às sanções que o macho dominante do grupo entender, que podem ir desde uma simples repreensão, até à violência física, ou mesmo ao afastamento do grupo.
Estado de conservação
As duas espécies se encontram em perigo de extinção. Apesar do vasto território que ocupam, estes animais têm sido dizimados pelos humanos com a caça ilegal, quer para alimentação, quer para a produção de amuletos para a medicina tradicional. Muitos são ainda capturados e utilizados nos circos ou noutros espetáculos afins, ou mesmo para serem criados como animais de companhia.
As guerras, que sistematicamente assolam esta região, têm vitimado muitos animais, aumentando o número de órfãos. Por outro lado, o stress que estas situações provocam nas fêmeas tem reduzido muito a natalidade nessas zonas.
Atualmente, existem cerca de 150.000 chimpanzés a viver em liberdade.
Ligações externas
Comparando o genoma do ser humano e do chimpanzé, estudo genético, 2010, em inglês, 2005
Espécies no anexo I da CITES
Gêneros de mamíferos
Chimpanzés | 127,864 |
552 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias%20da%20sa%C3%BAde | Ciências da saúde | As ciências da saúde ou ciências médicas são as áreas de estudo relacionadas com a vida, a saúde e a doença, e incluem a medicina humana, a biologia, a medicina veterinária, a biomedicina, a enfermagem, a fonoaudiologia, as análises clínicas, a farmácia, a Ciências do Esporte, a educação física, a odontologia, a psicologia, a terapia ocupacional, a nutrição, a fisioterapia e a engenharia biomédica, entre outras.
As ciências da saúde, utilizam principalmente dos seguintes princípios metodológicos e atuações: na fase diagnóstica: anamnese, sondagem, exames clínicos, exames laboratoriais e testes. Na fase de atuação: indicação de medicamentos, aplicação de manobras, massagens, exercícios terapêuticos específicos e atividades físicas, orientações de dietas, posturas e mudança comportamental. Na fase de acompanhamento: comparações de exames e testes, avaliação clínica e retornos periódicos.
Formação
Em Portugal existem actualmente uma licenciatura com este nome cujo plano curricular serve de tronco comum a qualquer outro curso na área da saúde, nomeadamente medicina, medicina dentária e ciências farmacêuticas. Esta licenciatura funciona apenas em duas faculdades: Faculdade de Medicina de Lisboa e Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
História
Ramos da medicina
Anestesiologia – ramo da medicina que lida com suporte de vida e anestesia durante a cirurgia.
Angiologia - ramo da medicina que trata das doenças do sistema circulatório .
Audiologia - concentra-se na prevenção e cura de danos auditivos.
Bariatrics - o ramo da medicina que lida com as causas, prevenção e tratamento da obesidade
Cardiologia – ramo da medicina que trata das doenças do coração e dos vasos sanguíneos .
Medicina de cuidados intensivos – centra-se no suporte de vida e nos cuidados intensivos de doentes graves.
Odontologia - ramo da medicina que consiste no estudo, diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças, distúrbios e condições da cavidade oral, comumente na dentição, mas também na mucosa oral, e de estruturas e tecidos adjacentes e relacionados, particularmente em a área maxilofacial (mandíbula e facial).
Dermatologia – ramo da medicina que trata da pele, sua estrutura, funções e doenças.
Medicina de emergência – centra-se nos cuidados prestados no serviço de urgência .
Endocrinologia – ramo da medicina que trata dos distúrbios do sistema endócrino .
Medicina de família - uma especialidade médica dedicada a cuidados de saúde abrangentes para pessoas de todas as idades.
Gastroenterologia – ramo da medicina que estuda e cuida do sistema digestivo .
A Clínica Geral (muitas vezes chamada de Medicina de Família ) é um ramo da medicina especializado em cuidados primários .
Geriatria – ramo da medicina que se ocupa da saúde geral e do bem-estar dos idosos .
Ginecologia – ramo da medicina que trata da saúde do aparelho reprodutor feminino e das mamas .
Hematologia – ramo da medicina que trata do sangue e do sistema circulatório .
Hepatologia – ramo da medicina que trata do fígado, da vesícula biliar e do sistema biliar .
Doença infecciosa – o ramo da medicina que trata do diagnóstico e tratamento de doenças infecciosas, especialmente para casos complexos e pacientes imunocomprometidos .
Cinesiologia - o estudo científico do movimento do corpo humano ou não humano.
Medicina laboratorial – um ramo da medicina que lida com exames e testes laboratoriais de diagnóstico e sua interpretação o que faz em um laboratório médico .
Física médica – o ramo da medicina e da ciência que lida com aplicações de conceitos, teorias e métodos de física para medicina ou cuidados de saúde .
Neurologia – um ramo da medicina que lida com o cérebro e o sistema nervoso .
Nefrologia – ramo da medicina que trata dos rins .
Oncologia – ramo da medicina que estuda o câncer .
Oftalmologia – ramo da medicina que trata dos olhos .
Ortopedia - ramo da cirurgia preocupado com as condições que envolvem o sistema músculo-esquelético
Otorrinolaringologia – ramo da medicina que trata dos ouvidos, nariz e garganta .
Patologia – o estudo das doenças, e as causas, processos, natureza e desenvolvimento da doença.
Pediatria – ramo da medicina que trata da saúde geral e do bem-estar das crianças .
Farmácia - a arte e a prática de preparar, conservar, combinar e dispensar medicamentos
Farmacologia – estudo e aplicação prática da preparação, uso e efeitos de drogas e medicamentos sintéticos.
Saúde pública e medicina preventiva - ramo da medicina que se preocupa com a saúde das populações.
Pneumologia – ramo da medicina que trata do sistema respiratório .
Psiquiatria – um ramo da medicina que lida com o estudo, diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais .
Psicologia clínica Disciplina de saúde preocupada com o estudo biopsicossocial da mente, cérebro, comportamento e diagnóstico, tratamento e prevenção de distúrbios psicológicos .
Radiologia – o ramo da medicina que emprega imagens médicas para diagnosticar e tratar doenças.
Reumatologia – ramo da medicina que se ocupa do diagnóstico e tratamento das doenças reumáticas .
Esplancnologia – ramo da medicina que estuda os órgãos viscerais.
Cirurgia – um ramo da medicina que usa técnicas cirúrgicas para investigar ou tratar doenças e lesões, ou para ajudar a melhorar a função ou a aparência do corpo.
Urologia – ramo da medicina que trata do sistema urinário e do aparelho reprodutor masculino .
Medicina veterinária – um ramo da medicina que lida com a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, distúrbios e lesões em animais/não humanos.
Ver também
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Ligações externas
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Links para sites de profissões de saúde
Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental
A Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA
Referencias
Ciências da saúde
Epidemiologia
Antropologia médica
Saúde pública | 18,596 |
554 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia | Ciência | Ciência (do latim scientia, traduzido por "conhecimento") refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemáticos. Em sentido estrito, ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas.
Este artigo foca o sentido mais estrito da palavra. Embora as duas estejam fortemente interconectadas, a ciência tal como enfatizada neste artigo é muitas vezes referida como ciência experimental a fim de diferenciá-la da ciência aplicada, que é a aplicação da pesquisa científica a necessidades humanas específicas.
A ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como o Universo funciona. Refere-se tanto à (ao):
investigação ou estudo racionais do Universo, direcionados à descoberta de fatos compulsoriamente atreladas e restritas à Realidade Universal. Tal estudo ou investigação é metódico e compulsoriamente realizado em acordo com o método científico — um processo de avaliar o conhecimento empírico —;
corpo organizado de conhecimentos adquiridos por tais estudos e pesquisas.
A ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca fatos, os mais gerais e abrangentes possíveis, bem como a aplicação das leis científicas; ambas especificamente obtidas e testadas através do método científico. Nestes termos, ciência é algo bem distinto de cientista, podendo ser definida como o conjunto que encerra em si o corpo sistematizado e cronologicamente organizado de todas as teorias científicas — com destaque normalmente dado para os paradigmas válidos — bem como o método científico e todos os recursos necessários à elaboração das mesmas.
Da definição segue que um cientista é um elemento essencial à ciência, e como qualquer ser humano dotado de um cérebro imaginativo que implica sentimentos e emoções, o cientista certamente também pode ter suas crenças — convicções que vão além da realidade tangível —, podendo esse até mesmo ser, não raramente ou obstante, um teísta ou religioso convicto. Ao definirem-se ciência e cientista, é de relevância ressaltar por tal que a definição de ciência exige expressamente que o cientista saiba manter tais crenças longe de seus artigos científicos e das teorias científicas com as quais esteja a trabalhar; constituindo-se estes dois elementos — ciência e cientista — por definições certamente muito distintas, portanto.
Da correta compreensão é fato que a ciência não exclui os crentes, teístas ou religiosos do seu leque de cientistas; Porém é também fato que a ciência, graças aos pré-requisitos do método científico, exclui por completo, dela e de suas teorias científicas, as convicções não testáveis e comprováveis frente ou mesmo transcendentes ao factualmente real; sendo a ciência, por parágrafo constitutivo explícito em sua definição stricto sensu — e por ausência de fato contraditório — expressamente cética e secular no que lhe cabe.
Etimologia e definição
A etimologia da palavra ciência vem do latim scientia ("conhecimento"), o mesmo do verbo scire ("saber") que designa a origem da faculdade mental do conhecimento. Esta acepção do termo se encontra, por exemplo, na expressão de François Rabelais: "Ciência sem consciência arruína a alma". Ele se referia assim a uma noção filosófica (o conhecimento puro, a acepção "de saber"). A raiz "ciência" reencontra-se em outros termos tais como "a consciência" (etimologicamente, "com o conhecimento"), "presciência" ("o conhecimento do futuro"), "onisciência" ("o conhecimento de tudo"), por exemplo.
Definição larga
A palavra ciência possui vários sentidos, abrangendo principalmente três acepções:
Saber, conhecimento de certas coisas que servem à condução da vida ou à dos negócios;
Conjunto dos conhecimentos adquiridos pelo estudo ou pela prática.
Hierarquização, organização e síntese dos conhecimentos através de modelos e princípios gerais (teorias, leis, etc.).
Cita-se de passagem que o próprio conceito de teoria tem várias acepções não específicas que mostram-se muito distintas da que é encontrada em um meio científico, sendo entre estas certamente conhecida a acepção em senso comum de teoria como algo duvidoso, não provado, descartável. Esta acepção e correlatas mostram-se contudo radicalmente diferente da acepção de teoria científica ao considerar-se a acepção stricto sensu da palavra ciência.
Definição estrita
Segundo Michel Blay, a ciência é "o conhecimento claro e evidente de algo, fundado quer sobre princípios evidentes e demonstrações, quer sobre raciocínios experimentais, ou ainda sobre a análise das sociedades e dos fatos humanos. Esta definição permite distinguir os três tipos de ciência: as ciências formais, compreendendo a Matemática e as ciências matemáticas como a estatística; as ciências físico-químicas e experimentais (ciências da natureza e da terra como a física, a química, a biologia e a medicina); e as ciências sociais, que ocupam-se do Homem, de sua história, do seu comportamento, da língua, do social, do psicológico e da política, entre outros. No entanto, embora convencionais, seus limites não são rígidos, e não se mostram estritamente definidos; em outras palavras, a rigor, não existe categorização sistemática dos tipos de ciência, e, para tentar-se fazê-lo, ter-se-ia antes que resolver um complicado questionamento epistemológico.
A stricto sensu, a ciência é única: se um corpo de conhecimento é produzido mediante os rigores do método científico, este é ciência, em caso contrário, bastando para tal transcender em qualquer ponto o método científico, não o é.
A ciência é única também ao considerar-se o conjunto de evidências — de fatos — sobre o qual trabalha. Embora seja comum priorizar-se ou destacar-se o subconjunto de fatos mais pertinentes a um problema ou área de estudo em particular — vez por outra falando-se pois nos "fatos da física", "fatos da química", etc. —, uma hipótese científica, para ser aceita com valor lógico verdadeiro no paradigma científico válido, deve estar em acordo com todos os fatos científicos conhecidos à época em consideração.
As condições impostas sobre as hipóteses implicam não apenas que o conjunto de todas as hipóteses de uma teoria científica estejam necessariamente harmônicas com o conjunto de todos os fatos conhecidos, como também implicam a necessária harmônicas destas, e das diversas teorias de um paradigma válido — quaisquer que sejam — entre si. Se divergências forem verificadas, as respectivas teorias encontram-se impelidas a evoluir.
Definições filosóficas
Embora para um cientista a definição de ciência que vale é a estrita, há considerável discussão sobre o que é ciência no meio filosófico, e neste meio acham-se várias definições de ciência, e várias considerações sobre sua abrangência.
A palavra ciência, no seu sentido estrito, se opõe à opinião (doxa em grego), e ao dogma, ou a afirmações de natureza arbitrárias. No entanto a relação entre a opinião de um lado e a ciência do outro não é estritamente sistemática; o historiador das ciências Pierre Duhem pensa com efeito que a ciência é a âncora no sentido comum, que deve salvar as aparências.
O discurso científico se opõe à superstição e ao obscurantismo. Contudo, a opinião pode transformar-se num objeto de ciência, ou mesmo uma disciplina científica à parte. A Sociologia da ciência analisa esta articulação entre ciência e opinião; os relatos são mais complexos ou mais tênues em acordo com a situação, mas de forma geral podem ser resumidos na frase de Gaston Bachelard: "a opinião pensa mal; não pensa".
Em senso estrito, a ciência certamente se opõe às crenças em seu método de trabalho, contudo em meios não acadêmicos, ou mesmo acadêmicos, é comum esquecer-se a última parte da frase, e afirmar-se simplesmente que a ciência se opõe às crenças; por extensão a ciência é frequentemente considerada como contrária às religiões. Esta interpretação é mais comum do que se pensa, sendo frequentemente usada em ambos os lados, embora com maior frequência por cientistas do que por religiosos.
A ideia de ciência com o objetivo de produzir conhecimento é problemática para alguns; vários dos domínios reconhecidos como científicos não têm por objetivo a produção de conhecimentos, mas a de instrumentos, máquinas, de dispositivos técnicos. Terry Shinn assim propôs a noção de "investigação técnico-instrumental".Os seus trabalhos com Bernward Joerges a propósito da instrumentação assim permitiram destacar que o critério científico não é atribuído unicamente às ciências do conhecimento.
A acepção da palavra ciência conforme definida no século XX e XXI é a da instituição da ciência, ou seja, o de conjunto das comunidades científicas que trabalham para melhorar o saber humano e a tecnologia, incluso nesta acepção considerações de natureza internacional, metodológica, ética e ou política.
A noção de ciência acima apresentada, ou mesmo outra, está longe, entretanto, de ser consensual. Segundo o epistemologista André Pichot, é "utópico querer dar uma definição a priori da ciência".
O historiador das ciências Robert Nadeau explica, por seu lado, que é "impossível passar aqui em revista o conjunto dos critérios de demarcação propostos desde cem anos pelos epistemologistas [para se definir ciência] ... [e que] pode-se aparentemente formular um critério que exclui qualquer coisa que se queira excluir, e conserva qualquer coisa que se queira conservar."
O físico e filósofo das ciências Léna Soler, no seu manual de epistemologia, começa igualmente por sublinhar pelos limites da operação de definição.
Os dicionários propõem certamente algumas definições. Mas, como recorda Léna Soler, estas definições não são satisfatórias, como quase nunca são quanto o assunto são verbetes ligados às cadeiras científicas. As noções de universalidade, de objetividade ou de método científico (sobretudo quando este último é concebido como a uma única noção em vigor) é objeto de numerosas controvérsias para que possam constituir o pedestal de uma definição aceitável. É necessário, por conseguinte, ter em conta estas dificuldades para descrever a ciência. E esta descrição continua a ser possível tolerando-se certa vaporosidade epistemológica.
Das correntes filosóficas à definição estrita
Empirismo
De acordo com o empirismo, as teorias científicas são objetivas, empiricamente testáveis e preditivas — elas predizem resultados empíricos que podem ser verificados e possivelmente contraditos —.
Mesmo alheio à tradição empírica, há de se compreender que "predição" em ciência refere-se mais ao planejamento de experimentos ou estudos futuros e às expectativas quanto aos resultados do que literalmente predizer o futuro, mesmo que o número de acertos associados à predição — graças a uma teoria bem corroborada — venha a ser considerável. Certamente consegue-se hoje prever com enorme antecipação a hora de um eclipse, contudo dizer que "um paleontólogo pode fazer predições a respeito do achado de um determinado tipo de dinossauro" também é plenamente consistente com o uso empírico da predição, mesmo que por um azar do destino, este nunca venha a encontrá-lo. Embora a capacidade de fazer tais predições certamente sejam objetivos destas cadeiras via avanços contínuos nos modelos associados, tem-se ainda que ciências como a geologia ou meteorologia não precisam ser capazes de fazer predições acuradas sobre terremotos ou sobre o clima para serem qualificadas como ciência. Em particular para a meteorologia, com os avanços tecnológicos verificados nas últimas décadas, não se "prevê" mais o clima, se sim se "vê", via satélite, como estará o clima daqui a uma semana ou mais. Expandindo um pouco o leque filosófico, o filósofo empírico Karl Popper argumentou que determinada verificação é em verdade impossível, e que a hipótese científica pode ser apenas falseável (falseabilidade).
O Positivismo, uma forma de empirismo, defende a utilização da ciência, tal como é definida pelo empirismo, a fim de governar as relações humanas. Em consequência à sua afiliação próxima, os termos "positivismo" e "empirismo" são geralmente usados intercambialmente. Ambos têm sido objetos de críticas.
Realismo científico
Em contraste, o realismo científico define ciência em termos da ontologia: a ciência se esforça em identificar os fenômenos no meio, os elementos físicos envolvidos nestes fenômenos, suas relações de causalidade, e por fim os mecanismos através dos quais a causalidade se estabelece.
W. V. Quine demonstrou a impossibilidade de existir uma linguagem de observação independente da teoria, ou seja, compreende-se o desconhecido com base no conhecido. As observações são sempre carregadas de teorias.
Thomas Kuhn argumentou que a ciência sempre envolve "paradigmas", grupos de regras, práticas, premissas (geralmente sem precedentes) e teorias tidas até então como válidas, e as transições entre paradigmas geralmente não envolvem necessariamente a verificação ou falseabilidade de teorias científicas. Além disso, ele argumentou que a ciência não progrediu historicamente com a acumulação constante de fatos, como o modelo empirista expressa.
As posturas filosóficas fazem-se mais uma vez presentes:
Irracionalismo
Para Nietzsche, expoente da filosofia que se convencionou a chamar irracionalista, não existe diferença da ação para o sujeito. Sujeito e ação são a mesma coisa, uma vez que são constituídos por vontades. Mesmo que, os sujeitos existissem, não seria possível acessá-los a não ser através da vontade, de uma ação.
Para Søren Kierkegaard, mundo seria o que é perante a fé do sujeito . Logo, se a ciência "parecesse" ou se "apresentasse" como algo prejudicial ou desconfortável, o sujeito teria simplesmente o direito de negá-la, junto com os seus métodos, em prol da sua tradição.
O melhor de cada uma
É contudo verificável que o método científico — base da definição da ciência moderna — preserva os traços mais importantes — estes não conflitantes — tanto da postura empirista como da realista. A saber identifica-se facilmente, nas teorias científicas modernas e no método, a existência obrigatória de um conjunto de fatos empíricos, a obrigatoriedade do teste experimental, a previsibilidade de fenômenos ou fatos ainda desconhecidos, a causalidade, os mecanismos que implicam a relação de causa efeito, e vários outros.
Em resumo, verificado que os dois juntos funcionam harmonicamente, se é a teoria que determina a observação (realismo), ou a observação que determina a teoria (empirismo)— pelo menos à luz da ciência — não importa. O problema de se determinar o início e o fim de uma curva fechada (o método científico é descrito por um diagrama fechado) não é um problema para a ciência, quer seja este um problema filosófico, quer não.
História
Visão geral
Enquanto a investigação empírica do mundo natural encontra-se descrita desde a antiguidade, a exemplo por Aristóteles, Teofrasto e Caio Plínio Segundo (ver: ciência greco-romana), e o método científico desde a Idade Média, a exemplo por Ibn al-Haytham, Abu Rayhan Biruni e Roger Bacon, o surgimento do que se chama hoje por ciência moderna é normalmente definido como coincidente com o início da Idade Moderna e com uma fase da história que ficou conhecida como a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII. Esse período sucede o final da Idade Média e engloba a Renascença, época marcada pela retomada dos conhecimentos clássicos produzidos pelos gregos há cerca de dois milênios atrás e por uma subsequente enorme evolução nas ideias científicas ligadas à física, à astronomia, e à biologia, entre outras.
Não renegando-se a importância de obras e personalidades anteriores, àquela época a primeira teoria que se consolidaria em moldes modernos seria a teoria da mecânica conforme proposta por Isaac Newton, encontrando-se esta pela primeira vez no renomado livro Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, publicado em 5 de julho de 1687. A obra se tornaria uma verdadeira lenda dentro da história e da ciência pois a publicação do "Principia" - conforme ficou conhecido - que contém, além da lei da gravitação universal, as três leis de Newton para a dinâmica dos corpos, determinaria uma verdadeira revolução na ciência, na sociedade, e na forma de se pensar e compreender a natureza.
Dada a acuracidade da teoria da mecânica frente os fatos conhecidos à época, nos dois séculos que se seguiram as ideias mecanicistas do universo se propagaram com vigor não só para as diversas subáreas da física como também para as mais variadas áreas do conhecimento, e sua difusão seria tão frutífera abrangente que a visão de mundo mecanicista perduraria sólida e inabalável até o primeiro ano do século XX, ano em que Max Planck e cinco anos mais tarde Albert Einstein estabeleceriam um segundo marco na ciência, e levariam a ciência moderna à era da física moderna. Graças à física a ciência moderna se estabelecera, e graças a ela a ciência moderna evoluiria a passos largos no século XX — a ponto deste século ser reconhecido pela comunidade científica como o século da física —.
As mudanças mais recente e significativas nos paradigmas científicos em tempos atuais se devem contudo não à física mas sim à outra área da ciência natural, a biologia. Ao que tudo indica, apoiada pelo avanço tecnológico-científico ocorrido, a biologia será para a ciência do século XXI o que o a física representou para a mesma no século XX.
Origens da Ciência
Em uma visão cronológica a ciência nasceu como uma tentativa de se descobrir respostas para os questionamentos humanos, questionamentos como "o que há lá fora?", "do que o mundo é feito?", "qual é o segredo da vida?" e "como chegamos até aqui?". Mais do que capaz de satisfazer a curiosidade, mostrou-se gradualmente como uma verdadeira ocupação, inspirando trabalhos de vidas inteiras. Isso porque percebeu-se que, por meio da observação e experimentação — do método científico — era possível não só compreender o mundo que nos cerca mas também a nós mesmos, isso de forma a impelir o desenvolvimento de novas tecnologias e, assim, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, embora não exista por si só e sim como uma produção humana, a ciência é, de longe, a ferramenta mais indispensável à manutenção do progresso.
Com um longo caminho ainda a trilhar antes de atingir a definição e status atual, o aqui com ressalvas chamado "pensamento científico" surgiu na Grécia Antiga com os pensadores pré-socráticos que foram chamados de Filósofos da Natureza e também Pré-cientistas. Nesse período a sociedade ocidental pela primeira vez ousou abandonar a forma de pensar baseada em mitos e dogmas para estabelecer uma nova forma de pensar, uma forma de pensar naturalista baseada no ceticismo.
O pensamento dogmático coloca as ideias como sendo superiores ao que se observa. O Pensamento cético coloca o que é observado como sendo superior às ideias. Por mais que se observe fatos que destruam o dogma, uma pessoa com pensamento dogmático preservará o seu dogma. Para a ciência uma teoria é composta por um corpo de fatos e ideias, e se observarem-se fatos que comprovem a falsidade da ideia, o cientista tem a obrigação de modificar ou reconstruir a teoria.
Na época de Sócrates e seus contemporâneos, o pensamento científico se consolidou, principalmente com a difusão do conceito de prova científica (ao rigor moderno, "evidência científica", "fato científico") atrelado à observância de repetição do fenômeno natural.
Embora não se encontre na Grécia antiga a definição de ciência em moldes modernos, é nela que encontra-se o primeiro passo para se alcançá-la. Tanto as religiões como a ciência tentam descrever a natureza. A diferença está na forma de pensar. O cientista não aceita descrever o natural com o sobrenatural, e para ele é necessária a observação de evidências que eventualmente falseiam as ideias. Para um cientista a ciência é uma só, pois a natureza é apenas uma. Sendo assim, as ideias da física devem complementar as ideias da química, da paleontologia, geografia e assim por diante. Embora a ciência seja dividida em áreas, para facilitar o estudo, ela ainda continua sendo apenas uma.
Método científico
Os termos "modelo", "hipótese", "lei" e "teoria" têm significados diferentes em ciência e na linguagem coloquial.
Os cientistas usam o termo modelo para referir-se a uma ou um conjunto de construções abstratas ou mesmo materiais construídas sobre hipóteses cientificamente corroboradas que permitam estabelecer uma representação de um dado objeto ou fenômeno — geralmente, mas não obrigatoriamente, específico — em estudo . Sua construção têm por fim, via analogia, uma melhor compreensão do fenômeno ou objeto modelado. A palavra é pois usada em ciência com a acepção estrita desta — o de fruto de um trabalho de modelagem —. Os modelos são elaborados a partir da coleta de dados (fatos) e observação cautelosa, e construídos de forma que possam ser usados para inferir características e fazer predições testáveis por experimento ou observação. Os testes e observações são contudo executados sobre o objeto ou fenômeno em si, e não sobre o modelo, e os resultados são usados para aprimorar tanto a teoria associada como os modelos em si. A diferença entre um modelo científico e um artístico reside pois apenas no objetivo final e na metodologia empregada para construí-lo. Em modelos científicos, é certamente obrigatório que a metodologia empregada esteja em pleno acordo com a metodologia científica. Os modelos, assim como as hipóteses e fatos científicos associados, também integram, certamente, as teorias científicas, sendo em verdade tão essenciais às teorias quanto os demais.
Ao falar-se de modelo, é importante ressaltar que, por mais trabalhado e elaborado que seja um modelo, um modelo não é o objeto que se modela, e há sempre o nele se melhorar, sendo o trabalho de modelagem, em verdade, um trabalho sem fim. Ao fim do raciocínio é possível até mesmo interpretar as teorias científicas como grandes e sofisticados modelos acerca da natureza. O eterno trabalho de aperfeiçoá-los cada vez mais — quer em detalhes, quer em abrangência — constitui o principal objetivo da ciência e a labuta diária dos cientistas.
Uma hipótese científica é uma proposição falseável e testável acerca de algum fato, conjunto de fatos ou fenômenos naturais. Em princípio, embora nem toda hipótese seja científica, todas as ideias científicas são hipóteses, o que equivale a dizer que a ciência é cética, por definição. Há contudo uma "hierarquização" das hipóteses dentro da ciência em função de sua relevância e em função do nível de corroboração por evidências que as mesmas possuam.
As hipóteses nascem como simples conjecturas, geralmente carecendo ainda dos testes experimentais (e similares) pertinentes ao método científico. Recebendo a corroboração por parte dos primeiros testes, e nenhuma contradição, esta eleva-se ao nível de "hipótese" plausível, e na sequência, à medida que a abrangência e o nível de corroboração aumentam, esta pode elevar-se ao nível de postulado.
Um postulado é uma hipótese que, em vista de consideráveis corroborações e ausência de contradição, mantido o ceticismo científico, passou a ser aceita como verdade, já podendo e geralmente sendo utilizada como base para a dedução ou a corroboração lógica de outras verdades científicas.
Uma lei física ou uma lei da natureza consiste em uma hipótese que conseguiu, após exaustivos, variados e abrangentes testes, todos favoráveis à sua veracidade, alcançar um patamar que lhe permite ser usada como uma descrição científica generalização de uma ampla gama de observações empíricas. O poder de uma lei científica geralmente reside em sua simplicidade e abrangência, contudo não se deve esquecer que esta é, antes de tudo, assim como as demais ideias científicas, uma hipótese.
A palavra teoria é mal entendida particularmente pelos não profissionais. O uso comum da palavra "teoria" refere-se a ideias que não possuem provas firmes ou base. Neste contexto não científico uma teoria seria a mais vil das hipóteses, bem abaixo de uma simples conjectura. No meio acadêmico, entretanto, a acepção de teoria é drasticamente diferente; os cientistas usam essa palavra como referência ao corpo de ideias que permite fazer descrições e predições geralmente mas não necessariamente específicas, ideias estas necessariamente embasadas em um conjunto bem estabelecido de fatos científicos, e necessariamente falseáveis perante tais, ou, principalmente, perante fatos sendo descobertos. Ressalta-se que fatos sozinhos não têm sentido, sendo a relação cronológica causal dos mesmos — o sentido dos mesmos — estabelecida pelas ideias. Igualmente ideias sem fatos que as corroborem estão livres da necessária conexão com a ciência do real, e apesar de poderem manter entre si estrutura lógica impecável, não estão nestes termos obrigatoriamente conexas à realidade, e assim não constituem uma teoria científica por si só. A teoria é assim não somente o conjunto de ideias, nem tão pouco somente o conjunto de fatos, mas a união indissociável dos dois conjuntos, o de ideias e o de fatos, ambos necessariamente estabelecidos nos moldes científicos.
A teoria da gravitação universal de Newton é um corpo de ideias que permite ao cientista explicar um conjunto de fatos observacionais relacionados, a exemplo, a queda de uma maçã ou mesmo o movimento da lua ao redor da Terra. Além disso, esta teoria permite fazer predições sobre novas ocorrências, a saber como estes corpos comportar-se-ão com o passar do tempo, ou como outros corpos massivos, a exemplo, um satélite artificial ou uma sonda espacial, mover-se-ão sob a mesma influência causal que determina a ocorrência das observações anteriores conforme foram observadas. Fatos e ideias andam necessariamente juntos em um teoria científica.
Uma teoria especialmente frutífera que tem sobrevivido a incontáveis testes ao longo do tempo e tem uma considerável quantidade de evidências integrando-a é dita por muitos, inclusive por cientistas, quando não muito cautelosos com suas palavras, "provada". No sentido científico estrito, entretanto, uma teoria científica, qualquer que seja, nunca é provada. Não se prova uma teoria científica. Uma teoria científica, entendida em termos exatos não somente como o conjunto de ideias pertinentes à descrição e previsão de fatos, mas como a união indissociável deste conjunto de ideias e do conjunto de fatos naturais pertinentes, nunca encontra-se provada pois não se prova a veracidade de uma ideia em ciência. Uma ideia científica é uma eterna hipótese, necessariamente falseável, e por tal, nunca é provada, pois não se pode garantir que em algum momento futuro uma nova evidência, até então desconhecida, venha a contradizê-la.Em acordo com o descrito, o uso da palavra "provada", quando anexo ao conceito de teoria, é desencorajado, e se encontrado, deve ser substituído pela ideia correta que expressa, a de uma teoria exaustivamente testada e corroborada frente ao conjunto, neste caso consideravelmente grande e abrangente, de fatos que a integra. Diz neste caso que a teoria é universalmente aceita até aquela data, ou ainda, que constitui um paradigma científico válido até aquele data.
Algumas teorias científicas universalmente aceitas tais como a teoria heliocêntrica, a teoria atômica, a teoria do electromagnetismo e a evolução biológica encontram-se em teste frente aos fatos naturais já há séculos, e estão tão bem estabelecidas que é atualmente inconcebível um meio que permita a descoberta de um fato pela qual estas possam ser falsificadas. Outras, tais como a relatividade e a mecânica quântica têm sobrevivido a testes empíricos rigorosos sem serem contraditas nas últimas décadas apenas, e por tal encontram-se sobre escrutínio cerrado dos pesquisadores. Mas não há garantia de que elas não serão um dia suplantadas, e isto vale igualmente para todas elas, e não só para as últimas. "Teorias" ainda mais recentes tais como a teoria da rede ou teoria das cordas podem conter ideias promissoras passíveis de serem testadas, mas ainda não receberam nem mesmo o título de teorias científicas uma vez que estas não encerram um conjunto razoável de fatos capaz de corroborar as ideias que propõem.
Em outras palavras:
TEORIA CIENTÍFICA, CORROBORA-SE OU É CONTRADITA, POR FATOS CIENTÍFICOS. JAMAIS SE PROVA UMA TEORIA CIENTÍFICA.
Os cientistas nunca falam em conhecimento absoluto. Diferentemente da prova matemática, uma teoria científica "provada" está sempre aberta à falseabilidade se novas evidências forem apresentadas. Até as teorias mais básicas e fundamentais podem tornar-se superadas se novas observações mostrarem-se inconsistentes com suas ideias.
As teorias da dinâmica e gravitação universal de Newton, que integram a teoria da mecânica clássica, são exemplos de teorias que perduraram absolutas durante séculos, mas cujas ideias não puderam se sustentar frente a fatos oriundos de experimentos envolvendo movimentos em velocidades próximas à da luz, frente à dimensões nanométricas, ou em proximidade a campos gravitacionais muito fortes, experimentos que tornaram-se passíveis de serem levados a cabo somente no século XX. Na ausência destes novos fatos as Leis de Newton continuam sendo um excelente modelo para o movimento e para a gravidade, mas uma evolução fez-se necessária: há hoje teorias mais abrangentes, capazes de descrever a relação cronológica causal inclusive para os novos fatos; a saber a relatividade geral e a mecânica quântica detém atualmente o status de paradigmas válidos nestas áreas. Ressalva-se entretanto que a mecânica clássica não foi abandonada, não foi para "o lixo", e ainda é o paradigma ensinado à praticamente a totalidade da população mundial que frequenta um curso de ensino médio. A razão é óbvia: restringindo-se ao subconjunto de fatos sobre os quais a mecânica clássica se ergueu, a quase totalidade de fatos naturais acessíveis aos "simples mortais" em seu dia a dia, a mecânica clássica permanece sendo uma excelente teoria para explicá-los. Nem mesmo a conquista espacial exige teorias além da clássica. Contudo, sabe-se hoje que a natureza é mais complexa do que ela prediz.
Matemática e o método científico
A Matemática é essencial para muitas ciências. A função mais importante da Matemática na ciência é o papel que ela desempenha na expressão de modelos científicos. Colher dados a partir da observação bem como hipotetizar e prever geralmente requerem modelos matemáticos e um extensivo uso da Matemática.
Apesar de todos os ramos da Matemática terem suas aplicações em ciência — mesmo áreas "puras" tais como a teoria numérica e a topologia —, há de se mencionar que os ramos matemáticos mais utilizados na ciência incluem o cálculo e a estatística. Em verdade, o cálculo foi desenvolvido por Isaac Newton como uma ferramenta necessária para este resolver os problemas de física com os quais se preocupava. Uma análise rigorosa mostra que não é possível desvincularem-se a história da matemática da história da ciência, principalmente no que concerne às ciências naturais tais como a Física ou a Química, onde esta prevalece como uma linguagem universal. Embora certamente presente em menor nível em algumas ciências sociais, a Matemática encontra-se de alguma forma presente em todas as ciências visto que a Lógica é um ramo da Matemática.
Alguns pensadores veem os matemáticos como cientistas, considerando os experimentos físicos como não essenciais ou as provas matemáticas como equivalentes a experimentos. Outros não veem a Matemática como ciência, já que ela não requer teste experimental de suas teorias e hipóteses. Embora a decisão sobre quem está certo ou errado recaia mais uma vez sobre os ombros da filosofia e seus filósofos — é há uma área filosófica especialmente dedicada à Matemática — em qualquer caso não é uma discussão filosófica se a Matemática é ou não uma linguagem natural e universal, e por tal uma ferramenta extremamente útil na descrição do universo, indispensável à ciência.
É importante ressaltar que, em vista do método científico, a matemática, por si só, não é uma ciência, contudo esta é certamente a linguagem da ciência. Dentre todas as possíveis linguagens que poderiam ser usadas para a descrição da natureza em alternativa à matemática, a matemática é, em proporção similar à de um átomo para todo o universo conhecido, a mais versátil, simples, e eficaz; e, por tal, a unanimemente eleita: simplesmente indispensável. Em palavras simples:
"A natureza se escreve — ou seria escreve-se — em linguagem matemática!"
Objetivos
A ciência não se considera dona da verdade absoluta e inquestionável. A partir do racionalismo crítico, todas as suas "verdades" podem ser quebradas, bastando apenas um pingo de evidência. A ciência pois cria modelos e destes tira conclusões acerca da realidade intrínseca e inerente ao universo natural, valendo-se para tal de observações cautelosas da natureza, de experimentação, e dos fatos destas resultantes.
A ciência não é uma fonte de julgamentos de valores subjetivos, apesar de poder certamente tomar parte em casos de ética e política pública ao enfatizar as prováveis conseqüências naturais das ações tomadas. O que alguém projeta não apenas a partir de hipóteses científicas válidas mas também a partir de bases oriundas de outras áreas de conhecimento que não as científicas não se configura em um tópico científico, e o método científico não oferece qualquer assistência ou corroboração para quem deseja fazê-lo dessa maneira. A justificativa científica — via refutação — para muitas coisas é, ao contrário, frequentemente exigida e, por questão de lógica, espera-se que válida, mesmo em áreas fora da ciência. Faz-se claro contudo que, nestes casos, os valores dos julgamentos sobre o que concerne à ciência — tais como veracidade e cientificidade da questão — são intrínsecos à ciência.
O objetivo subjacente — o propósito da ciência para a sociedade e indivíduos — é o de produzir modelos úteis da realidade. Tem-se dito que é virtualmente impossível fazerem-se inferências a partir dos sentidos humanos que realmente descrevam o que "é". Por outro lado, como dito, a ciência pode fazer predições baseadas em teorias oriundas das observações, e é inegável que essas predições geralmente beneficiam a sociedade ou indivíduos humanos que fazem uso delas; por exemplo, a física Newtoniana, e em casos mais extremos a relatividade, nos permitem compreender e predizer desde a dinâmica de uma uma bola de bilhar e o efeito que terá em outras até trajetórias de sondas espaciais e satélites. Do efeito em uma bola de futebol ao voo de um avião passando certamente pela construção de casas e edifícios, deve-se muito à mecânica de Newton. As ciências sociais nos permitem predizer (com acurácia limitada até agora) coisas como a turbulência econômica e também permitem melhor entender o comportamento humano, o que leva à produção de modelos úteis da sociedade e consequências como a elaboração de políticas governamentais mais adequadas visto que encontram-se empiricamente suportadas. A Física, a Química e a Biologia juntas têm transformado nossa vida diária ao fornecerem a estrutura tecnológico-científica necessária para se transferir o árduo labor antes diretamente posto pela natureza sobre nossos ombros à maquinaria auxiliar que hoje nos cerca. Nos tempos modernos, essas disciplinas científicas segregadas estão cada vez mais sendo utilizadas conjuntamente a fim de produzirem-se modelos e ferramentas cada vez mais complexos.
Em resumo, a ciência produz modelos úteis sobre o universo natural os quais nos permitem fazer predições e construir equipamentos de apoio cada vez mais úteis. A ciência tenta descrever o que é e procura dizer o que pode ser, mas não é capaz de impor o que é ou o que será — o que é impossível de se fazer, para razões naturais —. Procura fazer com que a natureza jogue a nosso favor, e não contra nós, sem contudo afrontá-la. A ciência é uma ferramenta útil… é um corpo crescente de entendimento que nos permite identificarmo-nos mais eficazmente com o meio ao nosso redor e nos permite decidir sobre a melhor forma de adaptarmo-nos e evoluirmos como uma sociedade unida, contudo independentemente.
O individualismo é uma suposição tácita subjacente a muitas bases empíricas da ciência que trata a ciência como se ela fosse puramente uma forma de um único indivíduo confrontar a natureza, testando e predizendo hipóteses. Ao rigor da análise, contudo, a ciência é sempre uma atividade coletiva conduzida por uma comunidade científica. Isso pode ser demonstrado de várias maneiras; mesmo o resultado mais básico e trivial proveniente da ciência é comunicado com uma linguagem; é por tal de se esperar que os valores das comunidades científicas permeiem a ciência que elas produzam.
Filosofia da ciência
A eficácia da ciência a tornou assunto de questionamento filosófico. A filosofia da ciência busca entender a natureza e a justificação do conhecimento científico e suas implicações éticas. Tem sido difícil fornecer uma explicação do método científico definitiva que possa servir para distinguir a ciência da não-ciência, e, mesmo que para um cientista a fronteira mostre-se precisa e clara, há em princípio argumentos filosóficos legítimos sobre exatamente onde estão os limites da ciência, e tais são traduzidos no que é conhecido como problema da demarcação. Há, no entanto, um conjunto de preceitos principais que possuem um consenso entre os filósofos da ciência e dentro da comunidade científica. Por exemplo, é universalmente aceito que deve ser possível testar independentemente as hipóteses e teses científicas de outros cientistas para que sejam aceitas pela comunidade científica.
Há diferentes escolas do pensamento na filosofia do método científico. O naturalismo metodológico mantém que a investigação científica deve aderir aos estudos empíricos e verificação independente como processo para desenvolver e avaliar apropriadamente as explicações naturais de fenômenos observáveis. Desse modo o naturalismo metodológico rejeita explicações sobrenaturais, argumentos de autoridades e estudos observacionais tendenciosos. O racionalismo crítico por outro lado afirma que a observação não tendenciosa não é possível, e que a demarcação entre explicações classificadas como "naturais" e "sobrenaturais" é arbitrária; no lugar deste critério ela propõe a falseabilidade como o limite para as teorias empíricas (científicas) e falsificação como o método empírico universal. O racionalismo crítico, uma corrente do racionalismo em princípio definida pelo filósofo austro-britânico Karl Popper rejeita a maneira como o empirismo descreve a conexão entre teoria e observação. É afirmado que as teorias não derivam das observações, mas que as observações são feitas à luz das teorias, e o único jeito que uma teoria pode ser afetada pela observação é quando esta entra em conflito com aquela. Ele propõe que a ciência deveria se contentar com a eliminação racional dos erros em suas teorias, não em buscar a sua verificação (como afirmar certeza, ou prova, e contraprova provável; tanto a proposta como a falsificação de uma teoria são apenas um caráter metodológico, conjectural e tentador no racionalismo crítico). O instrumentalismo rejeita o conceito de verdade e enfatiza apenas a utilização das teorias como instrumentos para explicar e predizer fenômenos.
Ramos da Ciência
Ao se falar em classificações da ciência não se deve jamais esquecer, antes de tudo, que a ciência tem pilares muito bem definidos sobre os quais esta se constrói, e que entre eles têm-se pilares os quais afirmam que a ciência é uma só, e que ela tem fronteiras muito bem definidas.
Segue-se que as classificações são feitas apenas por mera questão de sistematização ou referência, o mesmo valendo para a divisão das "classes" nas respectivas subáreas — a exemplo em cadeiras científicas como física, química, e outras — e até mesmo para as subáreas específicas a cada subárea — a exemplo a termodinâmica, o eletromagnetismo ou a ótica, subáreas da física, esta por sua vez uma subárea das ciências naturais, que é subárea das ciências empíricas, correspondendo a última, em mesmo nível das ciências formais, a uma das duas grandes classes na qual a ciência é geralmente separada —.
Enfatizando, ao lidar-se com qualquer classificação, divisão ou subdivisão da ciência, tem-se que ter em mente que estas se dão por mera formalidade e não por independência das partes, e não se deve jamais esquecer o "princípio Uno": a ciência tem fronteiras muito bem definidas, e é uma só.
Ciências formais e factuais, e ciências naturais e sociais
Uma das classificações mais fundamentais da ciência se dá em função dos objetos ou alvos de estudo. Neste nível a ciência geralmente é separada em ciências formais, consideradas o estudo das ideias, e ciências factuais, estas voltadas ao estudo dos fatos e fenômenos naturais em si — incluso o Homem em sua integridade —.
A divisão entre ciências formais e factuais leva em consideração seis aspectos principais. O objeto ou tema das disciplinas, já que as ciências formais tratam de enunciados, e as ciências factuais, de objetos empíricos; a diferença entre enunciados, pois as ciências formais referem-se a relações entre símbolos, e as factuais, a fenômenos ou processos; o método através do qual se comprovam os enunciados, já que as ciências formais contentam-se com a lógica, no entanto, as ciências factuais necessitam do experimento; o grau de suficiência em relação ao conteúdo, visto que as ciências formais podem ser consideradas “autossuficientes” por construírem seu próprio objeto de estudo, diferentemente das ciências factuais; o papel da coerência para se alcançar a verdade, pois, para as ciências formais, um enunciado dado com base em um sistema de ideias pré-estabelecido já é suficiente para sua compreensão, no entanto, cria uma verdade relativa (uma proposição correta em uma teoria pode não ser válida em outra) e, para as ciências factuais, esse sistema de ideias pré-estabelecido é necessário, mas não suficiente — é preciso o experimento para que o enunciado seja considerado “provavelmente adequado” —; por último, o resultado alcançado também é levado em conta para a divisão entre as ciências, pois as ciências formais demonstram, ao passo que as ciências factuais apenas verificam, por tratarem de hipóteses provisórias.
As ciências formais dedicam-se às ideias, ou seja, ao estudo de processos puramente lógicos e matemáticos. São objetos de estudo das ciências formais os sistemas formais, como por exemplo, a lógica, matemática, teoria dos sistemas e os aspectos teóricos da ciência computacional, teoria da informação, microeconomia, teoria da decisão, estatística e linguística. Sobre as ciências formais é contudo importante lembrarem-se aqui os pilares e limites da ciência bem como a questão de a matemática ser ou não ciência, questão já debatida e adequadamente respondida em seções anteriores. Considerações pertinentes e similares cabem também a todas as ciências formais, certamente.
O primeiro pesquisador a dividir as ciências em formais e factuais foi Rudolf Carnap. Partindo dessa premissa, Mario Bunge, por sua vez, dividiu as ciências factuais em duas classificações: ciências naturais, cujo alvo principal de estudo é a natureza como um todo aparte o comportamento humano em específico, e ciências sociais, que estudam o comportamento do Homem e suas sociedades.
As ciências sociais estudam os aspectos sociais do mundo humano, ou seja, a via social de indivíduos e grupos humanos. Isso inclui Antropologia, estudos da comunicação, Economia, Geografia humana, História, Linguística, ciências políticas, Ciência da Religião, Psicologia e Sociologia. Embora o alvo de estudo das ciências sociais seja um alvo científico legítimo, a metodologia específica empregadas por muitas subáreas de estudo neste grupo encerradas muitas vezes exigem importantes considerações a respeito dos pilares da ciência, principalmente quanto ao associado às suas fronteiras. Ao se considerarem as ciências sociais não é raro encontrarem-se estudos no limite do que se considera científico.
As ciências naturais se encarregam de estudar os fatos e fenômenos naturais em si — à parte a questão humana —, como dito. Por encontrarem-se facilmente apoiadas na observação e na experimentação, geralmente não implicam considerações mais rigorosas quanto à unicidade e fronteiras da ciência, sendo o método científico facilmente compatível com a metodologia específica a cada uma das subáreas neste grupo — qualquer que seja a escolhida — e, por tal, seguido em essência.
As ciências naturais estudam o universo, que é entendido como regulado por regras ou leis de origem natural, ou seja, os aspectos físicos, ficando os aspectos humanos geralmente em segundo plano - estes deixados estes para as ciências sociais. Isso é válido para praticamente para todas as subáreas — todas as cadeiras científicas —, a saber a Astronomia, Biologia, Física, Química, Geografia e outras. As cadeiras que visam estudar diretamente os fenômenos ligados ao planeta Terra, entre elas a geografia, geologia, e outras, geralmente são classificadas em um grupo nomeado ciências da terra, e não obstante fala-se com frequência em ciências naturais e da terra.
Ciências puras e aplicadas
Esta classificação envolve a motivação e a finalidade dos estudos científicos em consideração, e há neste esquema de classificação duas classes principais: as ciências puras, também chamada de ciências fundamentais ou ainda ciências básica, que têm por objetivo o "conhecimento" em si, o "conhecer por conhecer" - aparte da sua utilidade - e as ciências aplicadas, que estudam formas de aplicar o conhecimento humano — geralmente oriundos da primeira — em benefício do Homem.
As ciências puras ou ciências fundamentais englobam a parte da ciência que busca compreender os mais básicos elementos da natureza tais como as partículas fundamentais, as relações entre eles — expressas geralmente via conceito de força fundamentais — e as leis que os governam; seguindo a lógica do reducionismo científico de forma muito difundida, geralmente pressupõe-se nesta classe que todos os outros fenômenos podem ser em princípio compreendidos a partir dos fundamentais.
Há uma diferença marcante entre ciência pura e ciência aplicada, portanto: as ciências puras, em contraste com as ciências aplicadas, são marcadas por buscarem as minúcias do conhecimento básico que desenvolvem, a compreensão a mais completo possível acerca do objeto em estudo. A ciência básica é o coração de todas as descobertas, e o progresso científico é feito geralmente tendo a mesma por catapulta. A ciência pura é independente da preocupação com aplicações práticas.
As ciências aplicadas visam a aplicação do conhecimento para a solução de problemas práticos, e geralmente uma vez solucionados, não se preocupam em ir muito além disto, a não ser que um problema prático mais complicado se siga à solução do primeiro. As ciências aplicadas são importantes para o desenvolvimento tecnológico, e identificam-se de maneira forte com o que se denomina tecnologia. Seu uso no cenário industrial é normalmente referenciado como pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Ciências exatas e inexatas
Esta classificação divide as ciências de acordo com o grau de precisão das descrições e previsões realizadas com base nos modelos — nas teorias — científicas pertinentes. As ciências exatas são em princípio capazes de fornecer resultados com elevado grau de precisão acerca dos sistemas abrangidos — envolvendo sempre modelos matemáticos geralmente acurados —, enquanto as ciências inexatas as previsões são geralmente direcionais, e não exatas. A exemplo, pegando-se dois casos situados em extremidades opostas em temos de precisão, é possível prever-se com precisão "exata" e confirmar-se com certeza experimental na casa dos milímetros qual será a trajetória da Lua ao redor da Terra, contudo embora se possa descrever, com base na psicologia, o "modus operandi" de um maníaco e a partir dela se cogitar as ações futuras deste, não é possível prever-se com precisão qual será seu próximo passo, onde este se dará, ou mesmo se ele vai realmente dá-lo.
Frente à classificação aqui proposta é importante ressaltar que não existe medida experimental absolutamente precisa. Toda medida envolve no mínimo considerações a respeito da precisão e qualidade dos aparelhos usados para executá-la — não sendo certamente este o único fator a contribuir para a incerteza final da medida —. Ressaltando-se que "incerteza" não é o mesmo que "erro" quando empregado no sentido de realizar-se o experimento de forma incorreta, ou seja, executarem-se passos que comprometam a validade dos resultados durante o experimento, incerteza é algo inerente ao processo de medida, associada não só ao processo de leitura da escala no instrumento em si como também a perturbações aleatórias ou sistemáticas no sistema durante este processo; perturbações estas certamente controláveis e geralmente mantidas em níveis satisfatórios — sendo esta a razão da existência dos laboratórios —, contudo raramente elimináveis — e, em verdade, segundo proposto no princípio da incerteza de Heisenberg, algo intrínseco à natureza —.
Toda medida experimental deve ser acompanhada de sua incerteza, havendo áreas da matemática e da própria ciência especializadas no assunto de como se expressar e se tratar as medidas e as associadas incertezas de forma que, mesmo com as últimas presentes, informações seguras possam ser alcançadas a partir das medidas. A noções de algarismos significativos e notação científica - incluindo-se a faixa de incerteza, e de barras de incertezas em expressões gráficas de medidas - são geralmente ensinadas nos cursos de física do ensino médio logo nas primeiras séries. Em cursos superiores estudam-se também, ainda nos primeiros semestres, os principais tópicos ligados à teoria da medida. Nestes termos, quando diz-se que os modelos matemáticos atrelados às ciências exatas fornecem descrições e previsões "exatas" a respeito do sistema em consideração está-se em verdade a dizer que os resultados através deles obtidos estão dentro do limite — e geralmente, por idealização dos modelos, no centro — das faixas de incertezas experimentalmente obtidas.
É importante perceber que não é o nível de acuracidade — a exatidão ou ausência de incerteza — nas previsões feitas a partir da teoria que definem se uma teoria é científica ou não; mesmo porque não existe teoria absolutamente precisa em ciência visto que não há medida experimental absolutamente precisa. O que define se uma teoria é científica ou não é a obediência rigorosa ou não da metodologia empregada tanto na obtenção dos fatos quanto na formulação das ideias e na obtenção das conclusões e previsões derivadas à metodologia científica.
É comum confundirem-se as ideias de ciências naturais e exatas, e ciências sociais e inexatas. Esta associação, embora geralmente "aceitável" visto serem as ciências sociais geralmente ciências inexatas e as ciências empíricas geralmente ciências exatas, não se mostra contudo rigorosa, e dentro das ciências naturais há exemplos marcantes que o demonstram. A teoria da evolução biológica é um belo exemplo de teoria científica que, mesmo obedecendo rigorosamente todos os passos do método científico, mesmo contando com incontáveis fatos científicos que a corroborem — nenhum que a contradiga — e com ideias sólidas que os explicam e que permitem fazer considerações matemáticas e probabilísticas precisas acerca da distribuição de genes em uma população, da hereditariedade etc., não fornece um modelo matemático com o qual se possa prever quais espécies existirão ou serão extintas ao longo do tempo, ou seja, como se dará em detalhes a especiação ao longo do tempo, mesmo porque não lhe é factível conhecer todas as variáveis que mostrar-se-ão importantes ao modelo (como catástrofes naturais, ocorrência de mutações, etc.). Neste ponto ela não ultrapassa a posição de demostrar-nos claramente que a evolução acontece continuamente, e de descrever o que se conhece sobre as espécies no presente e no passado, permanecendo o futuro, entretanto, em aberto. Mesmo classificada como ciência exata, considerações similares e pertinentes cabem certamente também à mecânica quântica: mesmo esta contando com modelos matemáticos muito elaborados e sofisticados, em vista de um de seus postulados - o da redução da função de onda no ato da medida - o futuro dos sistemas descritos geralmente permanece, também, em aberto.
Em vista do exposto e de que geralmente exemplos de ambas as teorias podem ser encontradas dentro de uma dada ciência — ou, sendo mais específico, dentro de uma dada cadeira científica — talvez fosse mais pertinente usarem-se as expressões "teorias exatas" e "teorias inexatas" ao invés de "ciências exatas" e "ciências inexatas". Contudo as nomenclaturas-padrão atrelam-se às duas últimas expressões.
Uma teoria ou ciência exata é qualquer campo da ciência capaz de fornecer modelos matemáticos com expressões quantitativas e predições precisas a respeito dos sistemas tratados — este necessariamente compatíveis com tal descrição, sendo geralmente condizentes com a execução de experimentos reprodutíveis envolvendo medições e predições quantificáveis, e não obstante — à parte interferências ou perturbações externas — com o determinismo estrito. A coerência entre os resultados matemáticos e experimentais é — dentro da incerteza experimental — precisa. Nestes termos, Matemática, Física, Química e Computação, assim como partes da Biologia, da Psicologia e da Economia, podem ser consideradas como ciências exatas.
Ciências duras e moles
As áreas ou cadeiras de estudo científicos podem ser distinguidas em ciências duras e ciências moles, e esses termos às vezes são considerados sinônimos dos termos ciência natural e social, respectivamente.
Os proponentes dessa divisão argumentam que as "ciências moles" não usam o método científico, admitem evidências anedotais ou não são matemáticas, ainda somando-se a todas uma "falta de rigor" em seus métodos.
Os oponentes dessa divisão das ciências respondem que as "ciências sociais" geralmente fazem sistemáticos estudos estatísticos em ambientes estritamente controlados, ou que essas condições não são aderidas nem sequer pelas ciências naturais, a citar-se que a Biologia Comportamental depende do trabalho de campo em ambientes não controlados, e que a Astronomia não pode realizar experimentos, apenas observar condições limitadas. Os oponentes dessa divisão também enfatizam que cada uma das atuais "ciências duras" sofreram uma similar "falta de rigor" em seus primórdios.
O fato é que para uma teoria classificar-se como científica a mesma têm de obedecer a todos os rigores do método científico sem contudo transcendê-lo. Ao tomarem-se para comparação as "ciências sociais" e as "ciências empíricas", há certamente um número muito maior de teorias à beira do "abismo" que separa as teorias científicas das não científicas no primeiro caso. O leitor deve sempre verificar por si mesmo, ao lidar com as teorias encontradas nas ciências sociais, se estas realmente são teorias científicas, ou não.
Ciências nomotéticas e ideográficas
Uma outra classificação das ciências se apoia nos métodos empregados. O primeiro esboço desta distinção é atribuído ao filósofo alemão do século XIX Wilhelm Windelband. Uma primeira distinção desta ordem pode ser feita entre as ciências nomotéticas e as ciências ideográficas.
As ciências nomotéticas são baseadas no coletivismo metodológico, e se preocupam em estabelecer leis gerais para fenômenos suscetíveis de serem reproduzidos, com o objetivo final de se conhecer o universo. Fazem parte destas ciências a Física e a Biologia, e também algumas ciências sociais como a Economia, a Psicologia ou mesmo a Sociologia.
As ciências ideográficas são baseadas no individualismo metodológico, e se preocupam em estudar o singular, o único, as coisas que não são recorrentes. Quer seja um facto ou uma série de fatos, a vida ou a natureza de um ser humano, ou de um povo, a natureza e o desenvolvimento de uma língua, de uma religião, de uma ordem jurídica ou de uma qualquer produção literária, artística ou científica. O exemplo da História mostra que não é absurdo considerar que o singular possa constituir-se em um objeto para abordagem científica.
Campos interdisciplinares
O termo "ciência" é às vezes usado de forma não usual — ou seja, em sentido lato — junto a áreas de estudo que guardam interdisciplinaridade com áreas verdadeiramente científicas e que por tal também fazem uso dos métodos científicos — ao menos em parte — ou ainda junto a quaisquer estudos que aspirem ser explorações cuidadosas e sistemáticas dos objetos com os quais lidam. Incluem-se como exemplos a ciência da computação, a ciência da informação e a ciência ambiental. Tais áreas acabam até mesmo por serem inclusas nas classificações acima mencionadas.
É importante contudo ressaltar que a definição de ciência em acepção estrita permanece inviolada, e ao se lidar com tais ciências, devem-se tomar os devidos cuidados.
Comunidade científica
A comunidade científica consiste no corpo de cientistas, suas relações e interações, e nos meios necessários à manutenção destas. Ela é normalmente dividida em "sub-comunidades", cada uma trabalhando em um campo particular dentro da ciência. Contudo, assim como a ciência é única, também o é a comunidade científica.
Instituições
As sociedades científicas para a comunicação e para a promoção de ideias e experimentos científicos existem desde o período da Renascença. A mais antiga instituição que ainda existe atualmente é a Accademia dei Lincei na Itália. As academias de ciência nacionais são instituições especiais — geralmente atreladas e apoiadas pelos governos — que existem em vários países; as primeiras de que se tem notícia são a Royal Society, inglesa, fundada em 1660 e a Académie des Sciences, francesa, esta fundada em 1666.
Outras organizações nacionais incluem a National Scientific and Technical Research Council naArgentina, CSIRO na Austrália, Centre national de la recherche scientifique na França, Deutsche Forschungsgemeinschaft na Alemanha, CSIC na Espanha e Academia de Ciências da Rússia.
Organizações científicas internacionais, como International Council for Science, tem sido formadas para promover a cooperação entre as comunidades científicas de diferentes países. Recentemente, agências governamentais influentes tem sido criadas para dar suporte à pesquisa científica, incluindo a National Science Foundation nos Estados Unidos.
Literatura
São publicadas literaturas científicas de vários tipos. As revistas científicas comunicam e documentam os resultados de pesquisas feitas em universidades e nas várias instituições de pesquisa, servindo como um arquivo de registro da ciência. A primeira revista científica, Journal des Sçavans, a qual seguiu-se a Philosophical Transactions, teve sua primeira edição publicada em 1665. Desde essa época o número total de periódicos ativos tem aumentado constantemente. Em 1981, uma estimativa do número de revistas científicas e técnicas sendo publicadas resultou em periódicos distintos. Atualmente o Pubmed lista quase periódicos apenas sobre as ciências médicas.
A maioria das revistas científicas cobre um único campo científico e publica as pesquisas dentro desse campo, mostrando-se geralmente de interesse apenas ao pessoal pertinente à área dada a especificidade da linguagem e profundidade do conteúdo. Contudo a ciência tem se tornado tão penetrante na sociedade moderna que normalmente é considerado necessário comunicar os feitos, notícias e ambições dos cientistas para um número maior de pessoas e não apenas aos especialistas. As revistas como a NewScientist, Science & Vie e Scientific American são dirigidas ao público leigo; são feitas para um grupo maior de leitores e proveem um sumário não-técnico de áreas populares de pesquisa, incluindo descobertas e avanços notáveis em certos campos de pesquisa como física, biologia, química, geologia, astronomia, e diversos outros.
Os livros científicos figuram como um divisor de águas no que se refere ao público alvo, estando presentes de forma rotineira não apenas nas academias de ciências — ao serem usados como material de apoio nas etapas de formação de pessoal —, como também em bibliotecas ou acervos pessoais de um grande número de cidadãos interessados por ciências, sendo acessíveis em princípio ao público leigo bem como aos profissionais da área. Os livros educacionais destinados ao ensino médio relativos às disciplinas científicas são exemplos de livros científicos, assim o sendo também livros destinados aos cursos mais avançados em áreas afins. Contudo, qualquer que seja o público alvo, um livro científico mantém-se sempre fiel aos pressupostos da ciência buscando divulgar de forma correta as teorias que encerram bem como as relações entre estas.
Esforços recentes para intensificar ou desenvolver ligações entre disciplinas científicas e não-científicas como a Literatura ou, mais especificamente, a Poesia, incluem a pesquisa Ciência da Escrita Criativa desenvolvida pelo Royal Literary Fund.
Ciência e sociedade
Ciência e pseudociências
Na definição de ciência ressalta-se explicitamente que não se admite, frente à ausência de fatos empíricos em contrário e por princípio, entidades e causas sobrenaturais, onipotentes ou semipotentes, como elementos responsáveis pelos fenômenos naturais ou sociais. Caso tais causas fossem admitidas neste caso, haveria um lapso na causalidade inerente ao método científico — e ao mundo natural —, estando as relações de causa e efeito sujeitas às "vontades imprevisíveis" das entidades e forças sobrenaturais; as hipóteses não seriam por tal testáveis ou falseáveis, não seriam úteis à descrição da natureza visto que poderiam ser violadas bastando um "desejo" da entidade certa, e por tal também não obedeceriam aos meios ou às finalidades inerentes ao método científico - espinha dorsal do que se denomina por ciência.
Uma rápida inspeção na literatura ou conhecimento socialmente difundido é suficiente para encontrarem-se inúmeras "teorias" que clamam ser científicas, mas, se não invocam explicações sobrenaturais de maneira expressa, abrem todos os caminhos, delimitam as trilhas e pavimentam as rodovias para que esta conclusão se faça a única viável à assumida sua validade. Certamente a conclusão não é levada à cabo na própria "teoria" pois "distorceria" demais o método científico, ficando esta conclusão a cargo do "cientista". Como um bom exemplo de uma destas teorias tem-se o design inteligente, "teoria" que clama validade como científica contudo implica a existência de um projetista onipotente para o mundo natural. Tal teoria foi desenvolvida com o objetivo de "compatibilizar" os dogmas defendidos por uma corrente religiosa intransigente à laicidade de estados soberanos — em particular à separação entre estado e religião — a fim de que esta fosse ensinada nos estabelecimentos estatais de ensino ao lado, ou de preferência em substituição, às teorias — realmente científicas — não compatíveis com seus dogmas. Tais teorias, pelas razões já amplamente enfatizadas no corpo deste artigo, não integram a ciência, e são, para fins de referência, classificadas como pseudociências. A escolha da expressão é sugestiva visto que, seguindo-se a etimologia da palavra, esta explicita a tentativa destas em disfarçarem-se em ciência.
Ciência ou técnica?
A técnica (grego antigo τέχνη, technê, que significa arte, ofício "know-how") "refere-se às aplicações da ciência, do conhecimento científico ou teórico, nas realizações práticas e nas produções industriais e económicas". A técnica cobre assim o conjunto dos métodos de fabrico, de manutenção, de gestão, reciclagem, e de eliminação dos desperdícios, que utilizam métodos procedentes de conhecimentos científicos ou simplesmente métodos ditados pela prática de certos ofícios, geralmente oriundos de inovações empíricas. Pode-se então falar de arte, no seu sentido primeiro, ou das ciências aplicadas, e a tecnologia atual associa-se então ao "estado da arte". A ciência é, por outro lado, um estudo mais abstracto, onde a busca pela compreensão não raro supera a busca por uma aplicação. A epistemologia examina designadamente as relações entre a ciência e a técnica, como a articulação entre o abstração e o "know-how". No entanto, historicamente, a técnica veio primeiro.. "O Homem foi homo-faber, antes de ser homo sapiens", explica o filósofo Bergson. Contrariamente à ciência, a técnica não tem por vocação interpretar o mundo, está lá para transformá-lo, a sua vocação é prática e não teórica.
A técnica frequentemente é considerada como se fizesse parte integrante da história das ideias ou da história das ciências. No entanto, é necessário efetivamente admitir a possibilidade de uma técnica não-científica, isto é, evoluindo fora de qualquer corpo científico e que resume as palavras de Bertrand Gille:
A técnica, na acepção de conhecimento intuitivo e empírico da matéria e as leis naturais, é assim a única forma de conhecimento prático. Há contudo filósofos que enfocam o ponto de que o método científico nada mais é, ao fim das contas, do que uma forma elaborada do método da tentativa e erro tão presente junto aos avanços técnicos. Nestes termos, técnica e ciência teriam muito mais em comum do que se imagina no caso acima.
Artes e ciência
Hervé Fischer fala, no livro A sociedade sobre o divã (2007), de uma nova corrente artística que usa a ciência e as suas descobertas como inspiração, como as biotecnologias, as manipulações genéticas, a inteligência artificial, a robótica. Além disso, o tema da ciência foi frequentemente a origem de quadros ou de esculturas. O movimento futurista, por exemplo, considera que o campo social e cultural devem racionalizar-se.
Por último, as descobertas científicas ajudam os peritos em arte. O conhecimento da desintegração do carbono 14, por exemplo, permite datar as obras. O laser permite restaurar, sem danificar as superfícies, os monumentos. O princípio da síntese aditiva das cores restaura autocromos. As técnicas de análise físico-químicos permitem explicar a composição dos quadros, ou mesmo descobrir palimpsestos. A radiografia permite sondar o interior de objetos ou de peças sem poluir o mesmo. O espectrográfico é utilizado, por último, para datar e restaurar os vitrais.
Cientificismo
O cientificismo é uma ideologia que surgiu no século XVIII, considerando que o conhecimento científico permitiria à humanidade escapar da ignorância e por conseguinte, de acordo com a fórmula de Ernest Renan no livro Futuro da ciência, de "organizar cientificamente a humanidade".
Se baseia na aplicação dos princípios, métodos e ética da ciência na busca do consenso científico. Para seus detratores há uma verdadeira religião da ciência, particularmente no Ocidente. Sob acepções menos técnicas, o cientificismo pode ser associado à ideia que só os conhecimentos cientificamente estabelecidos são verdadeiros. Pode também causar um certo excesso de confiança na ciência que transformar-se-ia em dogma. A corrente do ceticismo científico, inspirada no ceticismo filosófico, tenta apreender eficazmente a realidade com base no método científico. Seu objetivo é contribuir para a formação em cada indivíduo de uma capacidade crítica de apropriação do saber humano para combater o misticismo e as pseudociências.
Para alguns epistemologistas, o cientificismo aparece de todas as formas. Robert Nadeau, apoiando-se sobre um estudo realizado em 1984, considera que a cultura escolar é constituída de clichés epistemológicos que formariam uma espécie de mitologia dos tempos modernos que seria uma espécie de cientificismo. Estes clichés incluiriam a história da ciência, resumida e reduzida a descobertas que balizam o desenvolvimento da sociedade, as ideias que consideram as leis científicas, e mais geralmente os conhecimentos científicos, como verdades absolutas e últimas, e que as provas científicas são não menos que absolutas e por tal definitivas. Tanto a própria ciência como uma grande quantidade de filósofos discordam desse aspecto. Thomas Kuhn mostrou que o conhecimento científico sempre sofre revoluções, alterações e evoluções. É importante contudo ressaltar que a ideologia de que "tudo é passageiro e incerto, logo tudo é duvidoso, de que a ciência não dá provas, logo deve-se ensinar tanto ciência como pseudociência, e deixar os alunos escolherem" é certamente totalmente incoerente com a definição de ciência, e não é e nem pode ser a ideia que permeia o sistema educacional. Contudo a falta de apresentação clara sobre o que é ciência e como se faz ciência, bem como o analfabetismo científico de cidadãos formados em sistemas educacionais limitados implica neste tipo de argumentação falha.
Foi a Sociologia do conhecimento, nos anos 1940 a 1970, que questionou a hegemonia do cientificismo. Os trabalhos de Ludwig Wittgenstein, Alexandre Koyré e Thomas Kuhn demonstraram incoerências no positivismo do século XIX. As experiências não se constituem provas absolutas das teorias e os paradigmas estão destinados a evoluir.
Vulgarização científica
A vulgarização é o fato de tornar acessíveis as descobertas, bem como o mundo científico, a todos e numa linguagem adaptada.
A compreensão da ciência pelo grande público é objeto de estudos; os autores falam de Public Understanding of Science (compreensão pública da ciências), expressão consagrada na Grã-Bretanha; ciência literacy (alfabetização científica) nos Estados Unidos; e cultura científica na França. Segundo os senadores franceses Marie-Christine Blandin e Ivan Renard este é um dos principais vetores da democratização e da generalização do saber. Em várias democracias, a vulgarização da ciência está entre projetos que misturam diferentes fatores econômicos, institucionais e políticos. Na França, a Educação Nacional tem por missão sensibilizar o aluno à curiosidade científica, através de conferências, de visitas regulares a de "ateliers" (oficinas) de experimentação, e outros. A Cité des sciences et de l'industrie é um estabelecimento público que coloca à disposição de todos exposições sobre as descobertas científicas, enquanto que o Centre de culture scientifique, technique et industrielle tem "por missão favorecer as trocas entre a comunidade científica e o público". Futuroscope, Vulcania e Palais de la découverte são outros exemplos de disponibilização de conhecimentos científicos. Os Estados Unidos também possuem instituições que possibilitam uma experiência mais acessível através dos sentidos e que as crianças podem experimentar, como o Exploratorium de São Francisco.
A vulgarização concretiza-se, por consequência, através das instituições e dos museus, mas também, de acordo com Bernard Schiele no livro Les territoires de la culture scientifique, através das animações públicas, como a Nuit des étoiles, de revistas como a Galileu, e de personalidades (Hubert Reeves e Carl Sagan para a astronomia).
Uma importante contribuição para a vulgarização da ciência é hoje fornecida pela mídia aberta ou a cabo, a citarem-se programas de televisão como o Globo Ciência, Globo Ecologia, CSI: investigação Criminal, e diversos outros programas frequentemente televisionados em canais como History channel, Animal Planet, Discovery Channel, e mesmo em canais devotados à divulgação de temas educativos, como a TV Educativa e a Rede Minas.
Ciências ao serviço da ideologia e da guerra
Durante a Primeira Guerra Mundial, as ciências foram utilizadas pelos estados a fim de desenvolver novas armas, a citarem-se as armas químicas, e novos meios de conduzi-las até o inimigo com a eficácia necessária, a exemplo via estudos balísticos. Houve o nascimento da economia de guerra, que se apoia sobre métodos científicos. O OST, ou Organização Científica do Trabalho, de Frederick Winslow Taylor, é um esforço de melhorar a produtividade industrial graças à emissão de tarefas executadas nomeadamente pela cronometragem. No entanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial que a ciência passou a ser utilizada para fins militares. As armas secretas da Alemanha nazista como o V2 ou o radar estão no centro das descobertas desta época.
Todas as disciplinas científicas são assim dignas de interesse para os governos. O rapto de cientistas alemães no fim da guerra, quer pelos soviéticos, quer pelos americanos, fez nascer a noção de guerra dos cérebros, que culminará com a corrida armamentista da Guerra Fria. Este período é com efeito o que tem contado com o maior número de descobertas científicas, nomeadamente as tecnologias associadas à corrida espacial (à ida do homem à Lua), e a bomba nuclear de fissão, logo seguida pela bomba de hidrogênio. Numerosas disciplinas nascem da abordagem no domínio militar, como a criptografia, ou a bacteriologia — destinada à guerra biológica —. Amy Dahan e Domínica Pestre explicam, a propósito deste período de investigações desenfreadas, que ele se trata de um regime epistemológico específico. Comentando o livro dos citados autores, Loïc Petitgirard torna clara a ideia: "Este novo regime de ciência é caracterizado pela multiplicação das novas práticas e as relações sempre mais estreitas entre ciência, estado e sociedade." A concepção decorrente de complexo militar-industrial busca exprimir a íntima relação entre poderes constituídos — representados geralmente pelas forças políticas —, ciência e sociedade, característica marcante da época em consideração.
A partir de 1945, com a constatação do aumento das tensões devido à oposição dos blocos capitalistas e comunistas, a guerra torna-se por si própria o objeto da ciência: nasce a polemologia.
Por último, propõem alguns que se a ciência está por definição neutra, ela permanece à mercê dos homens, e das ideologias dominantes. Assim, de acordo com os sociólogos relativistas Barry Barnes e David Bloor da Universidade de Edimburgo, as teorias são abordagens aceitas no poder político. Uma teoria é então relevante ou "correta" não porque é verdadeira mas sim porque é defendida pelo mais forte. Em outros termos, a ciência seria, se não uma expressão elitista, uma opinião majoritária reconhecida como uma verdade científica. A Sociologia das ciências nasce e passa assim a se interessar, a partir dos anos 1970, pela influência do contexto macro-social sobre o espaço científico. Robert King Merton mostrou, em Elementos da teoria e do método sociológico (1965) as relações estreitas entre o desenvolvimento da Royal Society, fundada em 1660, e a ética puritana dos seus atores. Para ele, a visão do mundo protestantes da época permitiu o crescimento do campo científico.
Ciência e a questão do autoritarismo
As considerações anteriores requerem certamente esclarecimentos em vista da definição moderna estrita de ciência. Frente ao método científico o papel da da autoridade científica é certamente muito diferente do papel da autoridade política. A última geralmente faz valer as suas ideias e desejos — suas leis — via poder que lhe foi ou auferido pela sociedade (democracias) ou imposto pela força à sociedade (ditaduras); em casos extremos de autoritarismo a visão de mundo e os desejos de uma única autoridade são sempre inquestionáveis, corretos e definitivos, qualquer que seja a área em questão ( a exemplo em reinados, teocracias, e similares). Tais autoridades geralmente possuem o poder de palavra final em contendas envolvendo quaisquer questões ligadas aos subordinados, quer sejam eles "civis", quer sejam "militares", quer sejam "cientistas". Em ciência as contendas envolvendo as hipóteses científicas, contudo, não são, por princípio constitutivo, resolvidas com o peso das autoridades que as defendem. Há em princípio uma fonte única para a solução de tais contendas: os fatos científicos. Exemplificando-se, não é a autoridade científica conquistadas por pessoas como Albert Einstein que faz com que o que ele diga seja aceito como verdade, e sim o confronto de suas ideias com os fatos. E neste caso mesmo têm-se bons exemplos. Einstein, embora tenha tornado-se famoso pela precisão das ideias que apresentou em suas teorias da relatividade restrita e geral frente aos fatos, ao contrário do que muitos pensam, também deu muitas "mancadas" em sua jornada científica, a citarem-se a constante cosmológica por ele adicionada em seus cálculos buscando obter soluções que atendessem seus "desejos" de um universo estático (e não em expansão), e seu embate com as ideias da mecânica quântica — as quais morreu sem aceitar —; a primeira contradita e as últimas fortemente corroboradas pelos fatos científicos.
É certo que muitas vezes o peso da autoridade político-militar e em menor peso a econômica é avassalador — mesmo para as objeções impostas pela metodologia e comunidade científicas —, verificando-se isto com muita exatidão entre a comunidade científica alemã quando subordinada ao poder decisivo do terceiro Reich durante a segunda guerra mundial. Embora muitos dos cientistas fossem realmente adeptos do nazismo, muitos certamente não eram. Contudo curiosamente nenhuma pesquisa fornecia resultados contraditórios aos ideais de limpeza étnica defendidos por Hitler, e projetos científicos associados à eugenia, e outras ideias racistas, recebiam grande apoio tanto econômico como "psicológico". A própria teoria científica da evolução biológica foi completamente distorcida por tal poder: os princípios da diversidade via adaptação ao meio - centrais em tal teoria - foram sumariamente convertido em "sobrevivência apenas do mais forte, e eliminação dos inferiores". E certamente a raça ariana - formada por descendentes diretos dos deuses da Atlântida - deveria ser a mais forte, e por tal a única a sobreviver. O interessante é que uma raça única jamais esteve em cogitação dentro da teoria da evolução, e se o objetivo era eliminarem-se "os inferiores", dever-se-ia começar com todas as outras "espécies inferiores", das bactérias aos cachorros, antes de se promover a matança das "raças" humanas consideradas por eles como inferiores. E, ao contrário, Hitler parecia gostar muito de seus cachorros.
Contudo, é preciso ter em mente que a decisão a respeito de contendas de ordem científica não é, por princípio — obedecida a definição de ciência —, subordina ao poder das autoridades, mas sim ao poder das evidências científicas. Assim, embora uma autoridade consiga mesmo que por longos períodos de tempo "distorcer" à base da força a visão da realidade de uma comunidade científica e mesmo de uma sociedade inteira, ela não tem poderes suficientes para distorcer a realidade natural em si. A natureza não se subordina às leis das autoridades mas sim às próprias leis apenas, e por tal, mais cedo ou mais tarde, a veracidade dos fatos vem à tona, e encontrando-se o critério de auto-correção fortemente entranhado no método científico, as consequências das "perturbações" externas são rapidamente corrigidas, tão logo cessem. Foi o que seguiu-se à queda da ideologia e do Terceiro Reich, fadado ao fracasso por contrariar uma — ou seriam várias — das leis naturais.
Suporte à afirmação apresentada é também encontrada em uma cronologia histórica retratando os embates entre as teorias científicas e as autoridades — com destaque para as religiosas — ao longo dos seis últimos séculos, a destacarem-se a título de exemplo os eventos ocorridos na Idade Média e Renascença, as guerras santas e a inquisição. Ver-se-á com facilidade que o embate entre ciência moderna e o poder autoritário a acompanha desde a sua gestação, e certamente, embora já se possa cogitar o vencedor, ainda está longe de acabar.
Ciência e religião
Para alguns sociólogos e etnólogo, como Emile Durkheim, a fronteira que separa a ciência do pensamento religioso não é impermeável. No livro Nas Formas elementares da vida religiosa (1912), Durkheim mostra que os quadros de pensamento científico como a lógica ou as noções de tempos e de espaço encontram a suas origens nos pensamentos religiosos e mitológicos.
Contudo, apesar deste parentesco, segundo alguns sociólogos, os discursos científico e teológico frequentemente chocaram-se na história. Casos como o de Hipátia de Alexandria, que testemunhou tal conflito em sua forma típica, ocorrem desde os primórdios dos tempos, e no cristianismo, o processo de Galileu Galilei, em 1633, marca o divórcio entre o pensamento científico e o pensamento religioso,este iniciado pela execução de Giordano Bruno em 1600. O Concílio de Niceia de 325 tinha instaurado na Igreja o argumento dogmático segundo o qual Deus tinha cria o céu e a terra em sete dias. Como explicações científicas foram possíveis a partir deste credo, que não se pronunciava sobre a produção do mundo, esta lacuna teológica permitiu certa atividade científica até a Idade Média, entre as quais a principal foi a Astronomia. O Concílio de Trento autorizou as comunidades religiosas a efetuar investigações científicas. Se o primeiro passo em prol do heliocentrismo — que coloca a Terra em rotação ao redor do Sol — é feito pelo Nicolau Copérnico, Galileu defronta-se com a posição da Igreja a favor de Aristóteles, e por conseguinte, do Geocentrismo, ao apresentar não apenas a proposta como também sólidas evidências experimentais a favor desta. Foi necessário esperar que Johannes Kepler prolongasse os trabalhos de Galileu e de Tycho Brahe para fazer-se aceitar o movimento da Terra. A separação definitiva entre ciência e religião é consumada no século XVIII, durante o Iluminismo.
Paulatinamente, com a evolução da teologia, a Igreja Católica passou a manter maior distanciamento e respeito ao conhecimento científico independente, buscando direcionar posicionamentos conflitantes mais a questões de caráter ético do que técnico. A Pontifícia Academia de Ciências, fundada pelo Vaticano em 1603 e hoje considerada a mais antiga e uma das mais renomadas associações científicas do mundo, passou a aceitar cientistas pertencentes a todos os credos; um de seus membros mais notáveis foi o físico ateu britânico Stephen Hawking. A encíclica Fides et ratio (1993), do Papa João Paulo II, reconhece que a religião e a ciência são dois modos complementares de explicar o mundo; e o Catecismo da Igreja Católica (1992) afirma, no nº 159:«O mesmo Deus, que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão». [...] «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral, jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a sua origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça, com perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não tenha consciência disso».Na maioria das outras religiões, a ciência também não é oposta à religião. No Islamismo, a ciência é favorecida porque ela não existe clero instituído; além disso, o mundo é visto como um código a decifrar para compreender as mensagens divinas. Assim, na Idade Média, a ciência árabe-muçulmana prosperou e desenvolveu a Medicina, a Matemática e principalmente a Astronomia.
As teorias da Física (principalmente a teoria quântica) e da Biologia (com a teoria da evolução de Charles Darwin), as descobertas da Psicologia (pela qual o sentimento religioso é um fenômeno interno ou mesmo neurológico), superam as explicações místicas e espirituais. Contudo, muitos religiosos, como Pierre Teilhard de Chardin e Georges Lemaître, tentam combinar as explicações científicas e a ontologia religiosa.
No século XX, a confrontação dos partidários da teoria da evolução e dos criacionistas, frequentemente procedentes das correntes religiosas mais radicais, cristalizam o difícil diálogo da fé e da razão. "O processo do macaco" (a propósito da ascendência do Homem) ilustra assim um debate permanente na sociedade. Por último, alguns filósofos e epistemólogos interrogam-se sobre a natureza da relação entre as duas instituições. O paleontólogo Stephen Jay Gould em "Que Darwin Seja!" fala de dois magistérios, cada um permanecendo mestre do seu território mas não se intrometendo nos assuntos do outro, enquanto que Bertrand Russell menciona na sua obra "Ciência e religião" os conflitos entre os oponentes.
Uso e influência na sociedade
A ciência é praticada em universidades e outros institutos científicos assim como em campo; por si só é uma vocação sólida e geralmente implica carreira profissional na academia, mas também é praticada por amadores, que tipicamente engajam-se na parte de observação da ciência. Trabalhadores de laboratórios de pesquisa corporativos também praticam ciência, apesar de seus resultados serem geralmente considerados segredo de mercado e não serem publicados em jornais públicos. Cientistas corporativos e universitários geralmente cooperam, com os últimos concentrando-se em pesquisas básicas e os primeiros aplicando seus achados em uma tecnologia específica de interesse de companhias. Indivíduos envolvidos no campo da educação da ciência argumentam que o processo da ciência, mesmo que não sob os rigores do método científico, é realizado por todos os indivíduos quando aprendem sobre seu mundo; embora o senso comum, o desta investigação, certamente não implique teorias científicas, ele também constrói-se com base em pesquisas do universo acessível aos sentidos.
Dado o caráter universal da ciência, sua influência se estende a todos os campos da sociedade, desde o desenvolvimento tecnológico aos modernos problemas jurídicos relacionados com campos da medicina ou genética. Algumas vezes a investigação científica permite abordar temas de grande impacto social como o Projeto Genoma Humano, e temas de implicações morais como o desenvolvimento de armas nucleares e a clonagem.
Os métodos da ciência são praticados em muitos lugares para atingir metas específicas. A título ilustrativo, a ciência e seus métodos encontra-se presente no(a):
Controle de qualidade em fábricas de manufatura; testes microbiológicos em uma fábrica de queijo asseguram que as culturas contenham espécies apropriadas de bactérias;
Obtenção e processamento de evidências da cena do crime; a ciência forense;
Planejamento e monitoramento da exploração e uso do meio ambiente; as leis ambientais;
Em uma ampla gama de exames médicos, em todas as etapas do exame e a avaliação da saúde dos pacientes;
Investigação de causas de um desastre; tais como em acidentes aéreos.
e outros.
Críticas e polêmicas
Pseudociência, ciência das fronteiras, e ciência lixo
Uma área de estudos, ou especulação, mascarada como ciência em uma tentativa de alegar legitimidade ou credibilidade, que de outro modo não seria possível conseguir, é por vezes chamada de Pseudociência, ciência das fronteiras, ou "ciência alternativa". Outro termo, ciência lixo, é às vezes usado para descrever hipóteses ou conclusões científicas que, embora possam ser legítimas por si só, se acredita que sejam usadas para dar suporte a uma posição que não é vista como legítima pela totalidade das evidências. Uma variedade de propagandas comerciais, indo da campanha publicitária à fraude, pode entrar nessa categoria. Pode também ter um elemento de tendência política ou ideológica nos dois lados desses debates. Às vezes uma pesquisa pode ser caracterizada como "ciência ruim", sendo esta geralmente marcada por uma pesquisa que é bem-intencionada mas é vista como incorreta, obsoleta, incompleta, ou com uma exposição muito simplificada de ideias científicas. O termo "fraude científica" se refere à situações em que os pesquisadores intencionalmente alteram ou representaram incorretamente as informações publicadas em vista de interesses escusos aos objetivos da ciência, ou ainda, publicando-as corretamente, dão o crédito pela descoberta à pessoa errada.
Mídia e debate científico
A mídia de massa enfrenta algumas pressões que a dificultam na hora de escolher qual das alegações científicas possui maior credibilidade dentro da comunidade científica como um todo. Determinar o quão forte é cada um dos lados de um debate científico requer um conhecimento considerável sobre o assunto. Poucos jornalistas possuem um conhecimento científico real, e mesmo repórteres especializados no assunto, que sabem muito sobre determinada questão científica, podem saber pouco sobre outras questões que eles subitamente precisem cobrir.
Política
Muitas questões bem como posturas inadequadas danificam o relacionamento da ciência com a mídia, e o uso da ciência e de argumentos científicos por políticos contribui em muito para acentuar-se o problema. Generalizando, muitos políticos procuram certezas e fatos enquanto os cientistas normalmente oferecem probabilidades e advertências. Entretanto, a habilidade dos políticos de serem ouvidos pela mídia de massa aliada à quase frequente má formação científica destes — e não raro a interesses escusos particulares — leva-os geralmente a distorcer os temas pertinentes ao transmiti-los, e não obstante à formação de opiniões incorretas também pelo público. Exemplos na Inglaterra incluem a controvérsia sobre a inoculação MMR, e a resignação e retratação forçada em 1988 do ministro Edwina Currie por afirmar a alta probabilidade que dos ovos batidos conterem Salmonella. Neste contexto, o "aquecimento global" é a bola da vez (ver: antiambientalismo e ceticismo climático).
Críticas filosóficas
O historiador Jacques Barzun designou a ciência como "uma fé tão fanática como qualquer outra na história", e alertou contra o uso do pensamento científico para suprimir considerações sobre o significado da existência humana. Muitos pensadores recentes, como Carolyn Merchant, Theodor Adorno e E. F. Schumacher, consideraram que a revolução científica no século XVII mudou o foco da ciência de estudar e entender a natureza ou sabedoria, passando a focar em questões sobre manipulação da natureza, e esta nova ênfase da ciência levou inevitavelmente à manipulação das pessoas. O focus da ciência em medições quantitativas levaram a críticas que ela é incapaz de reconhecer os importantes aspectos qualitativos do mundo.
O psicologista Carl Jung acreditava que apesar da ciência tentar entender toda a natureza, o método experimental usado iria impor questões artificiais e condicionais que evocariam apenas respostas parciais. David Parkin comparou a estância epistemológica da ciência com a divinação. Ele sugeriu que, assim como a divinação é um meio epistemológico específico para conseguir introspecção em uma dada questão, a própria ciência pode ser considerada uma forma de divinação moldada pelo ponto de vista oriental da natureza (e com isso as possíveis aplicações) do conhecimento.
Vários acadêmicos têm feito críticas em relação à ética na ciência. No livro Science and Ethics, por exemplo, o filósofo Bernard Rollin examinou a relevância da ética para a ciência, e argumenta a favor de que a educação em ética parte do treinamento científico.
A ciência contudo mantém sua postura firme frente às críticas filosóficas, e não obstante muitos cientistas — e, por incrível que pareça, até mesmo alguns filósofos — partem para críticas a respeito das posturas da filosofia e até mesmo a respeito da própria filosofia da filosofia. Certamente dominada pela autoridade pessoal mais do que pela autoridade factual, sobre a filosofia Richard Feynman afirmou: "A filosofia da ciência é tão útil para o cientista quanto a ornitologia para os pássaros". Bertrand Russel afirmou que "Ciência é o que você sabe. Filosofia é o que você não sabe!". Há contudo um filósofo em particular que consegue resumir todas as posturas e escolas filosóficas, e suas incontáveis divergências internas, em uma única frase.
Ver também
Ciência do Antigo Egito
Ciência patológica
Computação científica
Lista de prêmios de ciência
Materialismo científico
Tecnologia
Lista de tecnologias emergentes
Ciência cidadã
Definição
Ciência e religião
Método
Método científico
Pesquisa inédita
Comprovação científica
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Leitura adicional | 259,084 |
558 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cear%C3%A1 | Ceará | O Ceará é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado no norte da Região Nordeste e tem por limites o Oceano Atlântico a norte e nordeste, Rio Grande do Norte e Paraíba a leste, Pernambuco ao sul e Piauí a oeste. Sua área total é de , ou 9,37% da área do Nordeste e 1,74% da superfície do Brasil. A população estimada do estado para 1.° de julho de 2021 era de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo o oitavo estado mais populoso do país.
A capital e município mais populoso é Fortaleza, sede da Região Metropolitana de Fortaleza. Outras cidades importantes fora da Região Metropolitana de Fortaleza são: Juazeiro do Norte e Crato, na Região Metropolitana do Cariri; Sobral, sede da Região Metropolitana de Sobral; Itapipoca, na região norte; Iguatu, na região centro-sul; Aracati, na região do Vale do Jaguaribe; e Quixadá, Iguatu e Crateús na região dos Sertões Cearenses. Na Região Metropolitana de Fortaleza, cidades importantes como Caucaia, Horizonte, Maranguape e Maracanaú, sede do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, incrementam o Produto Interno Bruto cearense. O estado possui ao todo 184 municípios.
O estado é conhecido nacionalmente pela beleza de seu litoral, pela religiosidade popular e pela fama de ser grande berço de talentos do humor. A jangada, ainda comum ao longo da costa, é considerada um dos maiores símbolos do povo e da cultura cearenses. O Ceará concentra 55% de toda caatinga do Brasil e é o único estado do Nordeste-Sudeste a estar completamente inserido na sub-região do sertão. Décimo primeiro estado mais rico do país e o terceiro do Nordeste, o Ceará apresentava, em 2010, a melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste, segundo a FIRJAN, além do segundo melhor Índice de Desenvolvimento Humano da região. O Ceará abriga um dos maiores parques aquáticos da América Latina, o Beach Park, na praia do Porto das Dunas, que recebe cerca de 1,3 milhão de visitantes por ano, e o quarto maior estádio de futebol do Brasil, o Estádio Governador Plácido Castelo (Castelão), que tem capacidade para mais de torcedores.
Terra de escritores como José de Alencar, Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré, Juvenal Galeno, de Dom Hélder Câmara, Clóvis Beviláqua, Castelo Branco e de Padre Cícero, o "cearense do século". O Ceará também revelou Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante, considerados os maiores humoristas do país; atores e cineastas famosos como José Wilker, Gero Camilo, Luiza Tomé e Karim Aïnouz; além de nomes de destaque das ciências exatas, como Casimiro Montenegro Filho, Fernando de Mendonça, Maurício Peixoto, Cláudio Lenz Cesar, dentre muitos. O Ceará também é conhecido como "Terra da Luz", numa referência à grande quantidade de dias ensolarados, mas que, principalmente, remonta ao fato de o estado ter sido o primeiro da federação a abolir a escravidão, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Por esse fato, o jornalista José do Patrocínio cunhou o título de "a terra da luz" ao Ceará.
Etimologia
O documento mais antigo que traz o topônimo Ceará é datado de 1608. Antes dessa data, a área que hoje é o Ceará era conhecido com Baia de Macoripe.
Autores antigos atribuem historicamente ao topônimo ceará várias acepções, porém a mais conhecida e aceita diz significar "o cantar da jandaia". Segundo Manuel Ayres de Casal, ceará é nome composto de cemo — cantar forte, clamar — e ara — pequena arara — em língua tupi. Tal tese foi posteriormente confirmada e enriquecida pelo escritor José de Alencar.
Embora o pensamento de José de Alencar acerca da origem do nome seja o mais sólido, João Mendes de Almeida Júnior o acusava de ser por demais poético em sua definição, "(...) mais consoante com o sentir de quem tão belamente descreve a sua terra natal como um país de primores, onde canta a jandaia nos galhos da carnaúba", e a classificava como carente de confirmação filológica. Mendes de Almeida lembrava, ainda, de alternativas a essa interpretação, como a de Senador Pompeu, que faz referência à junção de cemo-ará a partir de uma variante da língua tupi, cujo significado seria "rio nascente da serra", indicando o rio que nasce na Serra de Baturité e que deságua junto à Vila Velha, local onde foram lançados os primeiros fundamentos da capital cearense.
Outra definição alternativa apontada por Mendes de Almeida é a de Antônio Bezerra, que afirma que o nome surgiu a partir das características da paisagem cearense, banhada pelo Oceano Atlântico e abundante de grandes tabuleiros costeiros e dunas, supostamente semelhante à paisagem dos "campos do continente negro", referindo-se à grande região desértica do Saara. Mendes de Almeida fez, também, um apanhado de registros de expedições pelo território e de livros históricos, como os de Vicente do Salvador e Caspar Barlaeus, na busca de variantes da escrita de ceará, sem, contudo, encontrar nelas alguma pista para uma definição mais exata que a do autor de Iracema. João Brígido afirmava, ainda, que o nome do estado derivaria da corruptela de Siri-ará, também de raiz tupi, em alusão aos caranguejos brancos do litoral.
História
Povos nativos e colonização europeia
O Ceará era habitado ancestralmente por povos indígenas dos troncos Tupi (Tabajara, Potyguara, Tapeba, entre outros) e Jê (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, Karatius, entre outros), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no estado.
De acordo com algumas teorias, o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón teria desembarcado na costa cearense — e não no Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco como diz a versão tradicional — antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Pinzón chegou a um cabo identificado como Porto Formoso, que se acredita ser o Mucuripe, e Diego de Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza. A chegada de Pinzón ao Ceará é debatida e defendida entre as possibilidades do controverso descobrimento pré-cabralino do Brasil. Essas descobertas, contudo, não puderam ser reivindicadas pela Espanha em decorrência do Tratado de Tordesilhas, de 1494.
As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas em 20 de novembro de 1535 ao provedor-mor da Fazenda Real, Antônio Cardoso de Barros, subalterno de Fernão Álvares de Andrade e de D. Antônio de Ataíde. Porém, Antônio Cardoso não se interessou em colonizá-las. Os franceses, que já negociavam âmbar-gris, as tatajubas, a pimenta e o algodão nativo com os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará. Em 1590, eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600.
Entre 1597 e 1598, um ramo da etnia potiguara, que habitava a região ao redor da Fortaleza dos Reis Magos, migrou e se fixou na região entre as margens dos rios Cocó e Ceará e nos sopés ao norte das serras de Pacatuba e Maranguape.
Graças ao contatos mantidos entre os índios Potyguara e portugueses, estes últimos planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para os Maranhão. Desta forma, a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu com Pero Coelho de Sousa em 1603, que fundou o Forte de São Tiago na Barra do Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense, fazendo com que Pero Coelho e sua família abandonassem o Ceará. Depois da partida, os padres jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar os silvícolas. Avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto. O padre Luís Figueira retornou a Pernambuco em 1608, sem grandes sucessos.
Em 1612, uma nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fez parte desta jornada Martim Soares Moreno, que fundou o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.
Ocupação holandesa
Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará em 1631, atendendo ao pedido das nações indígenas cearenses. A primeira tentativa de conquista holandesa, entretanto, fracassou. Em 1637, o território foi tomado pelos holandeses, graças um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses estabeleceram-se e também chegaram usar o Ceará com ponto de apoio à conquista holandesa do Maranhão, em 1641.
Nessa época de ocupação holandesa, entre 1637 e 1644, o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído outro em Camocim, as pesquisas para a exploração das salinas foram feitas e, em 1639, George Marcgraf veio ao Ceará para uma expedição que se deu partindo do Fortim de São Sebastião e percorreu o oeste cearense até a região dos Inhamuns.
De 1644 até 1649, o Ceará foi administrado pelas etnias então existentes. A presença europeia só recomeçou ao fim desse período, depois de contatos e negociações feitas entres os nativos e Antônio Paraupaba em 1648. Com a chegada de Matias Beck, em 1649, o Siará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas de prata foram iniciados e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região em parceria com os indígenas.
Após a capitulação holandesa em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, que o rebatizaram de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, restabelecendo-se, assim, o poderio português no território. Neste período, muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas pelo Tratado de Taborda, fugiram para o resto do Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas.
Da restauração do domínio português ao Império
Na continuação da colonização pelos portugueses, a influência dos jesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos, como os de Porangaba, Paupina, Viçosa e outros, muitos deles fortemente militarizados, nos quais os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilarem a cultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também se instalaram em vilas militarizadas na capitania. Dessas reduções, surgiram às primeiras cidades da capitania, como Aquiraz e Crato. O processo de aculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e costumes nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se a Guerra dos Bárbaros, que se deu ao longo de várias décadas do século XVIII e que resultou na fuga dos habitantes da então capital, Aquiraz, em 1726, para Fortaleza, para a qual foi transferido tal título.
As principais vilas da capitania da época eram Aracati, Crato, Icó e Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu. Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação da pecuária na capitania através dos sertões de dentro e sertões de fora, com levas oriundas respectivamente da Bahia e de Pernambuco.
Em 1812, foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX, o Ceará conheceu diversos movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências da Revolução Pernambucana de 1817, além de movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.
Em 1824, o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão Gonçalves, aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo. Era o comandante das armas do Ceará, José Pereira Filgueiras. A Confederação foi frustrada pela forças imperiais e Tristão morreu durante os combates contra as forças legalistas do Império. O comandante José Pereira Filgueiras foi preso, mas conseguiu se libertar, refugiando-se no povoado Saúde, hoje Perdigão, no centro-oeste mineiro. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira, ou Insurreição do Crato, em 1832, liderada pelo "coronel" de Jardim, Joaquim Pinto Madeira, que tinha como objetivo o retorno da monarquia absolutista e representava interesses regionais opostos aos da cidade do Crato, de inspiração marcantemente liberal.
Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infraestrutura da Província, como exemplo a criação da Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que seu próprio contingente populacional. Logo após, a produção da borracha explodiu na Amazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migraram para esta região.
A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de estudiosos, estimulando a produção de textos científicos e propostas de melhoria da situação da população cearense vindas de várias partes do Brasil, cuja maior parte não foi posta em prática ou se relevou ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do Açude do Cedro, em Quixadá, a primeira represa pública do Brasil, que foi concluído em 1906. A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento da indústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado. Entre 1869 e 1900, 300 mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia.
Anos antes da proclamação da República, notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, fazendo do estado o primeiro do Brasil a conseguir tal feito. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive a maçonaria, mas o maior destaque foi de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província.
República Velha
No início da Primeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará, Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, o que não aconteceu tanto no resto do estado. Ocorreu, nas primeiras décadas do século XX, um afluxo de imigrantes, consistindo principalmente de portugueses e sírio-libaneses. Os descendentes destes, em particular, ganharam grande destaque no comércio, como mascates, e, futuramente, na política cearense.
Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros, que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearense Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar, na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos.
Entre 1896 e 1912, a hegemonia política foi concentrada nas mãos do comendador Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia, cuja influência se estendia pela maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro contra Franco Rabelo, representante da política do salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma das mais conturbadas campanhas eleitorais do estado. Na Praça do Ferreira, a dura repressão policial a uma passeata de centenas de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de algumas delas e feriu outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar seu mandato, evento conhecido como Sedição de Fortaleza. Franco Rabelo passou a governar o Ceará.
No fim do século XIX, o carismático Padre Cícero passou a atrair milhares de sertanejos para um pequeno distrito do Crato, que se tornaria Juazeiro do Norte em 1911, persuadidos pela sua fama de milagreiro, atribuída à suposta transformação em sangue da hóstia recebida do padre pela beata Maria de Araújo. Mesmo após ter sua ordenação cassada pelo Vaticano, em virtude de controvérsias sobre o milagre, Padre Cícero tornou-se cada vez mais conhecido e, apesar de seu caráter messiânico, foi hábil em evitar grandes conflitos com a elite local, tornando-se ele próprio um poderoso chefe político.
Em 1914, irrompeu a Sedição de Juazeiro, opondo o governador interventor Franco Rabelo e o Padre Cícero, que havia conquistado os postos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador. Em 1915 o Ceará sofreu com uma gravíssima seca, levando a novo êxodo da população para a Amazônia, região que, devido à intermitente mas significativa emigração, recebeu grande influência de cearenses. A gravidade da seca inspirou a escritora Rachel de Queiroz em sua famosa obra O Quinze.
Diante disso, os campos de concentração no Ceará, que já foram usados na estiagem de 1915, foram recriados. Conhecidos como Currais do Governo, tinham como objetivo impedir que os retirantes que fugiam da seca e da fome chegassem às grandes cidades. A instabilidade política e social foi crescendo no Estado. Nos anos 1930, surgiu no Crato o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado pelo beato José Lourenço.
Da Revolução de 1930 ao período militar
Após a Revolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do Governo Federal. Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com alegada influência fascista, e a Liga Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular. Nos anos 1940, mais uma seca, em 1943, assolou o Ceará, e, com a Segunda Guerra Mundial e os Acordos de Washington, o governo de Getúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana em Fortaleza trouxe ideais democráticos e antifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração e influência do SEMTA, cerca de 30 mil cearenses tornaram-se Soldados da Borracha, produzindo esse produto na Amazônia para abastecer os exércitos aliados.
A República Nova no Ceará teve início com a nomeação sucessiva de seis interventores até as eleições de 1947, seguindo-se a eleição de Faustino de Albuquerque pela UDN. Durante seu governo, nas eleições presidenciais de 1950, o candidato udenista Eduardo Gomes obteve a maior votação, e Getúlio Vargas ficou na 3ª colocação no estado.
Durante a década de 1950 surgiram e se consolidaram vários dos maiores grupos econômicos do Ceará, como Deib Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco, Edson Queiroz e Jereissati. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda nessa década, tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Entre as décadas de 1950 e 1960, a população cearense passou de 5,1% para 4,5% do total da população brasileira. Em 1958, foi eleito governador Parsifal Barroso, que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas decorrentes da seca daquele ano. Sua principal obra, o Açude Orós, foi inaugurado em 1961. Em Fortaleza, o Grupo Severiano Ribeiro inaugurou o Cine São Luis. Em 1962, foi criado o Banco do Estado do Ceará - BEC.
Em 1963, Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até 1966, mesmo com o início da ditadura militar, em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que buscou a modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto do Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso para a capital.
Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo, houve perseguição política a deputados e várias manifestações, acarretando a prisão e tortura de estudantes e trabalhadores, assim como atentados a bomba em Fortaleza. Durante o governo de César Cals, de 1971 a 1975, sucedeu-se o auge da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia.
Virgílio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza.
Nova República
A Nova República coincide no Ceará com a eleição de Luíza Fontenele para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de uma capital eleita pelo Partido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime militar do país. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixou o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas públicas. Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com partidos de esquerda e o PMDB, apoia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresário Tasso Jereissati, que conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as finanças, combater o clientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou como Governo das Mudanças. Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição de Ciro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição da reeleição no país, Tasso ainda governou o Estado pela terceira vez, tornando-se o primeiro político brasileiro a conseguir tal feito em mais de 100 anos de história republicana. Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política no Estado, e rapidamente perderam a aliança com partidos mais à esquerda. Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de governador, apoiado por Tasso.
Os Governos das Mudanças priorizaram o aumento das receitas, visando a investimentos públicos e privados em infraestrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permaneceu à margem. Politicamente, houve uma relativa diminuição de poder dos coronéis, com ampliação do poder do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pelo propósito de diminuir as despesas através de reformas administrativas e financeiras, bem como de demissões e achatamento salarial no funcionalismo público - garantiu superávits entre 1988 e 1994, mas, com a consolidação do Plano Real, volta-se a uma predominância de déficits.
Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais em grandes obras, como o Porto do Pecém, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão, o Centro Cultural Dragão do Mar e o Canal da Integração. O terceiro Governo das Mudanças, de 1994 a 1997, caracterizou-se pela privatização de algumas empresas estatais e extinção de órgãos, enxugando a máquina, reformando a previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos públicos. Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com o PSDB, posteriormente mudando para o Partido da República. Cid Gomes, do PSB, ex-prefeito de Sobral e aliado histórico de Tasso, venceu a disputa, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, que, em Fortaleza, já havia vencido com Luizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem apoio real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidato Inácio Arruda, do PCdoB.
O Estado se beneficiou também da guerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada à mão de obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970.
O forró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o Ceará começou a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande polo do turismo brasileiro. Ao longo dessa década, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado também realizou grandes avanços na redução de índices como a mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza seguiu forte.
Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável, a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial a concentração de renda, que piorou entre 1991 e 2000, a má distribuição fundiária e a enorme disparidade regional, sobretudo entre a capital e o interior. Em 1999, segundo o Banco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza. No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001 a 2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do povo pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.
Geografia
O Ceará é cercado por formações de relevo relativamente altas, como chapadas e cuestas. Banhado a norte pelo Oceano Atlântico, a oeste é delimitado pela Serra da Ibiapaba (Serra Grande); a leste, parcialmente, pela Chapada do Apodi; ao sul, pela Chapada do Araripe. Vem dessa cercania de altos relevos delimitantes do território o nome de Depressão Sertaneja dado à área central.
Enquanto as chapadas e cuestas são de origem sedimentar, as serras e os inselbergs que abundam em meio à Depressão Sertaneja são de formação cristalina. Dentre os relevos sedimentares, a Chapada do Araripe, com altitudes que vão de 700 m até mais de 900 m, e a Serra da Ibiapaba, com altitude média de 750 m. Por outro lado, na Chapada do Apodi, as altitudes são menores, não superiores a 300 m. Já dentre as serras de origem cristalina, estão o Maciço de Baturité, a Serra da Meruoca e a Serra de Uruburetama, com altitude de 600 a 800 metros. Em Catunda, na Serra das Matas, encontra-se o ponto mais elevado do estado, o Pico da Serra Branca, a metros de altitude.
A planície litorânea possui geografia diversificada, o que faz com que o estado possua muitas praias com coqueirais, dunas, barreiras (também chamadas falésias) - paredões sedimentares que acompanham a faixa da costa e, em alguns trechos, possuem tons coloridos - e áreas alagadas de manguezal, nos quais há grande biodiversidade. As praias mais famosas do Ceará são Jericoacoara, Canoa Quebrada e Porto das Dunas, as quais se destacaram por terem alcançado fama internacional. Regionalmente, outras praias de destaque são das Fontes, Morro Branco, Icaraí, Presídio, da Baleia, Flecheiras, Cumbuco, Ponta Grossa, Lagoinha e Barra do Cauipe. O litoral cearense é atravessado por duas rodovias, chamadas de Costa do Sol Nascente e a Costa do Sol Poente, que, a partir de Fortaleza, direcionam-se para o litoral leste e oeste, respectivamente.
O território cearense é dividido em doze bacias hidrográficas, levando em consideração a divisão da grande bacia do rio Jaguaribe em Alto, Médio e Baixo Jaguaribe. Tal bacia compreende mais de 50% do estado com seus 633 km de extensão. Os dois maiores reservatórios de água do Ceará são barragens que represam o Jaguaribe, o Açude Orós e Açude Castanhão, com as respectivas capacidades de armazenamento de 2,1 e 6,7 bilhões de metros cúbicos de água. O Açude Castanhão é, ainda, o maior açude do país. Os afluentes mais importantes do rio Jaguaribe são os rios Salgado e Banabuiú. O Ceará possui uma das maiores e mais importantes faixas litorâneas do país do ponto de vista turístico, que se estende por 573 km, nos quais predominam os mangues e restingas, vegetação litorânea típica, além de áreas sem vegetação recobertas por dunas.
Clima
O clima do Ceará é predominantemente semiárido (BSh) e tropical (As), cujas regiões mais áridas se situam na Depressão Sertaneja, a oeste e sudeste, com pluviosidades que, em trechos da região dos Inhamuns, podem ser menores que , mas também podem se aproximar de em outras áreas caracterizadas pelo clima semiárido brando, a exemplo da área semiárida do Cariri, nas cidades relativamente próximas à faixa litorânea.
No litoral, devido à influência dos ventos alísios, o clima é tropical subúmido com pluviosidades normalmente entre e , a partir do qual surge uma vegetação mais densa, com forte presença de carnaubais, que caracterizam trechos de mata dos cocais. O clima também se torna subúmido, com caatinga mais densa e maior pluviosidade, nas adjacências das chapadas e serras, como nas serras de Baturité, Meruoca e Uruburetama onde, em função das altitudes, as pluviosidades superam os anuais devido à ocorrência de chuvas orográficas, em especial na sua vertente de barlavento, proporcionando o surgimento de cerradões e florestas tropicais. Essas áreas contêm mananciais que banham os sopés dessas regiões, tornando-os propícios à atividade agrícola. É nas serras e próximo a elas, assim como nas planícies aluviais, que se concentra a maior parte da população do interior cearense, com densidades superiores a 100 hab./km², por exemplo, em boa parte do Cariri cearense.
As temperaturas são bastante elevadas, com médias de a , mas a amplitude térmica anual é pequena ao longo do ano, em torno de , As médias giram entre meados de no topo das serras a até nos sertões mais quentes. Nas áreas serranas, as temperaturas são mais baixas, com média de a , com mínimas anuais muitas vezes alcançando entre e . É raro as temperaturas ultrapassarem os 35 °C na região litorânea, ao contrário do que ocorre no Sertão cearense, onde a amplitude térmica diária pode ser relativamente grande ao longo do dia devido à menor umidade. Em todo o estado, os dias mais frios ocorrem geralmente em junho e julho e os mais quentes, entre outubro e fevereiro.
Secas
O clima do Ceará é marcado pela aridez. As secas são periódicas, e, desde que a ocupação territorial foi consolidada, a população tenta resolver o problema da escassez de água. A seca de 1606 foi a primeira a marcar a história da ocupação do território. Outra seca de grande impacto foi registrada entre 1777 e 1779, a chamada seca dos três setes, responsável pelo enfraquecimento da indústria das charqueadas, que teve seu golpe final no período de grandes secas entre 1790 e 1794.
Durante as décadas seguintes, até 1877, o Ceará viveu relativa tranquilidade, sem grandes estiagens, até que naquele ano e nos dois seguintes uma grande seca prejudicou fortemente a agropecuária no estado. No começo do século XX, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas, que mais tarde passaria a ser o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, com sede em Fortaleza, para realizar estudos, planejamentos e obras contra as estiagens, em 1909. Com o trabalho do DNOCS, várias barragens foram construídas em todos os estados do Nordeste. Na década de 1930, foi instituído o polígono das secas, no qual a quase totalidade do território cearense (92,99%) está inserido.
Atualmente, existem muitos órgãos do governo cearense voltados para a problemática do clima. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos juntamente com a Superintendência de Obras Hidráulicas são os órgãos que fazem a gerência de várias barragens e o planejamento de adutoras e canais. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) é a responsável pelo monitoramento climático. Finalmente, o órgão central é a Secretaria dos Recursos Hídricos, que faz toda a estruturação de metas e planos para combater a seca no Ceará.
Biodiversidade e problemas ambientais
Inserido no bioma da caatinga, com período chuvoso restrito a cerca de quatro meses do ano e alta biodiversidade adaptada, o Ceará o único a estar completamente inserido na sub-região do sertão. A sazonalidade característica desse bioma se reflete em uma fauna e flora integradas às condições semiáridas. Consequentemente, há grande número de espécies endêmicas, sobretudo nos brejos e serras, isolados pela caatinga, e refúgios da flora e fauna de matas tropicais úmidas.
Destacam-se, na flora cearense, a carnaúba, considerada um dos símbolos do estado e também importante fonte econômica, e a Zephyranthes sylvestris, flor original do habitat cearense. Existe ainda o carrasco, vegetação xerófila peculiar, que surge no reverso da Serra da Ibiapaba e do Araripe, áreas mais secas, caracterizando-se por uma flora arbustiva e arbórea predominantemente lenhosa, ao contrário da caatinga. O carrasco distingue-se ainda da caatinga pela quase inexistência de cactos e bromeliáceas. Alguns estudiosos se referem a essa vegetação como uma espécie de transição entre o cerrado, a floresta tropical e a caatinga.
Os ecossistemas do estado estão profundamente danificados e muito pouco preservados. As regiões de floresta tropical e cerrado, nas serras e chapadas de elevada altitude, possuem grande concentração demográfica, intenso uso para fins agropecuários e, comparativamente, pouca preservação e fiscalização ambiental. Os crimes ambientais são praticados constantemente em áreas como a APA Araripe - sobretudo as queimadas e retirada de lenha - e não podem ser reprimidos devido ao parco efetivo de fiscais, dentre outros motivos. Atualmente a mata atlântica ocupa apenas 1,2% do território estadual, tendo sido bem mais extensa no passado, mas 44% do restante está em áreas de preservação, o que, porém, não tem garantido sua total conservação.
Em situação ainda mais grave está a extensa caatinga cearense, que conta com uma ínfimos 0,45% de preservação, embora represente, em suas variadas formas, 92% do território estadual. 80% da caatinga cearense estão devastados, e muitas das áreas restantes, apesar de aparentemente conservadas, não passam de formas vegetais secundárias menos ricas e alteradas pela substituição de espécies vegetais, o que acarreta graves prejuízos para o solo e os já escassos recursos hídricos. A desertificação avança no estado e atinge níveis preocupantes, sobretudo em Irauçuba.
Unidades de conservação
Existem dois parques nacionais no estado do Ceará. O Parque Nacional de Ubajara, criado em 30 de abril de 1959, com 6 299 ha, abriga em seu interior a Gruta de Ubajara e um bonde de acesso à gruta, sua maior atração. O segundo é o Parque Nacional de Jericoacoara, criado em 2002 para preservar as praias, lagoas, dunas e mangues da região, cujo principal atrativo é a Pedra Furada. Já a Reserva Natural Serra das Almas que é reconhecida pela UNESCO como Posto Avançado da Reserva da Biosfera, detentor de 6 300 hectares de área protegida (entre Crateús no Ceará e Buriti dos Montes no Piauí), que é abrigo de uma amostra significativa da flora e fauna da caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Também servindo de resguardo a três nascentes e espécies ameaçadas de extinção no Bioma.
Outras áreas de preservação ambiental importantes são as florestas nacionais do Araripe (a primeira Floresta Nacional do Brasil, estabelecida em 1946) e a de Sobral. Existe, ainda, a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe, com 10 000 km², que se estende por 38 municípios do Ceará, Pernambuco e Piauí e a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, que abrange 10 municípios no Maranhão, Piauí e Ceará. Há, também, o Geoparque Araripe, o primeiro do gênero no continente a integrar a Rede Internacional de Geoparques da UNESCO, de grande importância em geodiversidade.
O Governo do Ceará mantém 13 áreas de conservação. O Parque Ecológico do Cocó e o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio são os parques estaduais do Ceará. O Parque do Cocó, o primeiro a ser criado, em 1989, em Fortaleza, é um dos maiores parques urbanos da América Latina e abriga o bioma de mangue. Já Pedra da Risca do Meio, criado em 1997, está localizado a 18 quilômetros da orla do Mucuripe, abriga grande diversidade de peixes e corais e é considerado uma das melhores áreas de proteção para a prática de mergulho no país. Em todo o Ceará existem 58 áreas de proteção ambiental, das quais 20 são estaduais, 11 federais, 13 municipais e 14 particulares.
Demografia
O Ceará é, em termos regionais, o terceiro estado mais populoso do Nordeste, superado por Bahia e Pernambuco, e o oitavo do Brasil. No último censo do IBGE, em 2010, a população cearense era de habitantes (4,4% da população brasileira), dos quais 75,09% na zona urbana e 24,91% na zona rural. De acordo com o mesmo censo, 51,26% eram do sexo feminino e 48,74% do sexo masculino, resultando em uma razão de aproximadamente 95 homens para cada cem mulheres. Quanto à faixa etária, 66,52% tinham entre 15 e 64 anos, 25,89% menos de quinze anos e 7,59% acima dos 65 anos. A densidade demográfica é de 56,76 hab/km², acima do valor nacional (22,43 hab/km²). A capital, Fortaleza, abrigava sozinha 29% da população cearense. Entre os censos de 2000 e 2010, o crescimento populacional do Ceará foi de 13,93%, valor um pouco superior às taxas regional (11,29%) e nacional (12,48%).
A transição demográfica tem ocorrido rapidamente no estado: a taxa de natalidade, que nos anos 1970 era bastante alta, caiu 17,96‰ em 2008, e a taxa de mortalidade nesse ano estava em 6,41‰. A taxa de fecundidade em 2009 foi de 2,15 filhos por mulher, ligeiramente acima da taxa de reposição da população, o que representou um aumento em relação a 2008, fazendo o Ceará apresentar uma taxa superior à média nordestina. A taxa de crescimento demográfico caiu de uma média de 2,6% na década de 1950 para 1,73% durante os anos 1990. Com a transição demográfica em curso, a proporção de idosos no conjunto da população aumentou de 2,4% em 1950 para 6,72% em 2004, e já em 2009 10,5% dos cearenses possuíam 60 anos ou mais. Em sentido contrário, os jovens de 0-14 anos passaram de 45,7% em 1950 para 28,9% em 2006. Por último, a taxa de urbanização, que em 1940 era de 22,7%, foi estimada em 2006 em 76,4%, tendo se acelerado muitíssimo nas últimas décadas (só em 1980 a população urbana passou a ser majoritária, com 53,1%).
A religião é muito importante para a maior parte da população cearense. O estado é o terceiro mais católico do País, em termos proporcionais, com 86,7% da população seguindo o catolicismo. Em seguida, vêm os protestantes, somando 9,01%; os que não possuem nenhuma religião, com apenas 2,82%; e os fiéis de outras religiões, com 1,34%.
Regiões metropolitanas
A Região Metropolitana de Fortaleza, onde se localiza a capital, foi criada pela Lei Complementar Federal nº 14, de 8 de junho de 1973, que instituía, também, outras regiões metropolitanas no país. Inicialmente, a Região Metropolitana de Fortaleza era formada por apenas por Fortaleza, Caucaia, Maranguape, Pacatuba e Aquiraz, sendo, posteriormente, adicionados os municípios de Maracanaú (1983); Eusébio (1987); Itaitinga e Guaiúba (1992); Chorozinho, Pacajus, Horizonte e São Gonçalo do Amarante (1992); Pindoretama e Cascavel (2009) e Paracuru, Paraipaba, Trairi e São Luís do Curu (2014).
No interior, existem as regiões metropolitanas do Cariri (RMC) e de Sobral (RMS). A primeira foi criada pela Lei Complementar Estadual nº 78, de 29 de junho de 2009, e é formada por nove municípios do sul cearense: Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Várzea Alegre, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri. A RMS foi instituída mediante a aprovação da Lei Complementar Estadual nº 168, de 27 de dezembro de 2016, e é formada por dezoito municípios: Massapê, Senador Sá, Pires Ferreira, Santana do Acaraú, Forquilha, Coreaú, Moraújo, Groaíras, Reriutaba, Varjota, Cariré, Pacujá, Graça, Frecheirinha, Mucambo, Meruoca, Alcântaras, e Sobral.
Há forte concentração populacional na Região Metropolitana de Fortaleza, onde se verifica um maior contingente na capital e suas cidades do entorno que formam uma mancha urbana contínua. Entre 2010 e 2018, a Região aumentou de 42,68% para 44,69% sua participação em relação à população estadual e teve um incremento populacional de 12,69%, com uma taxa de crescimento de 1,5% do ano. Destaca-se também a RMC, a partir a conurbação entre as cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, o chamado Crajubar. Nessas duas regiões estão os municípios mais densamente povoados do estado: Fortaleza ( hab./km²), Maracanaú (), Juazeiro do Norte (), Eusébio (582,64) e Pacatuba (498,35).
Desenvolvimento humano
A expectativa de vida do cearense foi de 71,0 anos em 2009, com uma das maiores diferenças do país entre os homens (66,8 anos, 0,1 ano a menos que a média nordestina) e as mulheres (75,4 anos, 1,3 ano a mais que a média nordestina). O valor atual representa uma melhora de 5,3% em relação à de 1999 (67,4 anos). Assim, o estado acompanhou e até superou o aumento geral da esperança de vida do brasileiro, que foi de 4,4% (passando de 70,0 para 73,1 anos no mesmo período). Ainda assim, está muito inferior à maior expectativa de vida do País, que é a do Distrito Federal (75,8 anos).
O Ceará foi o estado que mais diminuiu a mortalidade infantil de 1980 a 2006, atingindo 30,8 por mil a partir da altíssima taxa de 111,5 por mil de 1980. Houve, portanto, uma redução de 72,4%. Ainda assim, o Ceará em 2008 estava acima da taxa de mortalidade nacional de 24,9 por mil. Por outro lado, dentre os estados nordestinos, só perde para o Piauí (29,3 mortes por mil nascimentos). Seu desenvolvimento humano, contudo, ainda é muito incipiente, embora tenha gradualmente avançado: de um IDH de 0,604 em 1991, passou a 0,723 em 2005. O componente do IDH que mais avançou foi o da Educação, que passou de 0,604 para 0,808 no mesmo período, sobretudo devido ao grande aumento da matrícula de jovens.
Em 2008, o Ceará atingira índices sociais mais altos que a média do Nordeste em diversos aspectos, como a expectativa de vida, escolaridade média e analfabetismo funcional, e apresentava tendência à diminuição de sua disparidade com relação à média do Brasil, superando já o índice nacional no tocante ao desemprego, ao índice de Gini e à razão entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres da população, denotando uma desigualdade de renda que, outrora maior que a brasileira, tornou-se ligeiramente menor a partir de 2006. Segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2011, o Ceará em 2009 havia se tornado o estado com mais alto desenvolvimento da Região Nordeste e o 12º do Brasil, com índice 0,7129.
Religiões
A religião é muito importante na cultura da maior parte dos cearenses, sendo um fator de extrema importância na construção da identidade do povo do estado. O Cristianismo é a religião de hegemonia no Ceará e a Igreja Católica é a confissão cristã que mais deixou marcas na cultura cearense. Foi a única reconhecida pelo governo até 1883, quando, na capital do Estado, foi fundada a Igreja Presbiteriana de Fortaleza.
Durante todo o século XX, várias igrejas se instalaram no Estado e no final desse século houve um aumento considerável de pessoas de outras religiões. Contudo, o Ceará é ainda o segundo estado brasileiro com maior proporção de católicos, 85% da população, segundo dados de 2000. Os evangélicos são 8,2%, os espíritas, 0,4%, os membros de outras religiões, 0,9%, e os sem religião, 3,7%.
O catolicismo tem uma extensa rede de igrejas e organizações religiosas em todo o Ceará. A Província Eclesiástica de Fortaleza, encabeçada pela Arquidiocese de Fortaleza, lidera oito dioceses: Crateús, Crato, Iguatu, Itapipoca, Limoeiro do Norte, Quixadá, Sobral e Tianguá. A Igreja Católica foi uma grande força política no passado, sobretudo até a primeira metade do , época em que organizações católicas influenciaram decisivamente os rumos da política estadual.
Cada um dos 184 municípios cearenses possui seu padroeiro. O padroeiro do Ceará é São José. O seu dia no calendário religioso, 19 de março, é feriado estadual. Segundo a tradição popular cearense e a tradição dos profetas da chuva, essa data tem grande significado, pois, se nesse dia houver chuva, o "inverno" (estação chuvosa) estará garantido. Do contrário, a seca estará inegavelmente caracterizada.
A fé sertaneja, muitas vezes associada ao messianismo e marcada por profunda relação com os santos, rituais e datas religiosas, foi e continua sendo bastante influente na história cearense e nos costumes e festejos cearenses. A cidade de Juazeiro do Norte surgiu de um assentamento que, sob orientação do Padre Cícero, considerado pela fé popular um santo, tornou-se um local de peregrinação religiosa e, nos últimos anos, atrai milhares de crentes de vários locais do Brasil. Outro local de grande peregrinação religiosa no Ceará é a cidade de Canindé que abriga um importante santuário em devoção a São Francisco, considerado o maior das Américas.
Composição étnica
A constituição étnica do povo cearense remonta a muitos séculos. O censo de 1813 mostrava uma configuração já tendente à atual, com predominância de pardos: 28% de brancos, 6% de indígenas, 16% de negros e 50% de pardos.
O povo cearense foi formado pela miscigenação de indígenas catequizados e aculturados após longa resistência, colonizadores europeus e negros que viviam como trabalhadores livres ou escravos. O povoamento do território foi bastante influenciado pelo fenômeno natural da seca. Em 2008, a distribuição da população cearense por cor era de 33,05% autodeclarados brancos, acima dos 30,02% verificados na contagem de 1998; 3,03% autodeclarados negros, acima dos 1,22% em 1998; e 63,39% de autodeclarados pardos, proporção essa que diminuiu, comparada à de 1998, de 68,69%. Em proporção, o Ceará tem mais brancos e menos negros que a média nordestina, mesmo que a proporção de pessoas que se autodeclaram negras tenha aumentado bastante.
Em decorrência das características econômicas que sempre predominaram no Ceará, como a pecuária e a cotonicultura, e aos aspectos naturais da terra, como o regime periódico de secas, que gerava graves situações de escassez de alimentos em várias áreas sertanejas, a escravidão africana não vicejou no estado da mesma forma que ocorreu no restante do país à época. Dessa forma, a população negra cearense sempre foi relativamente pequena. Vários negros, contudo, migraram para o Ceará como homens livres e fincaram raízes. Estudos indicam que a maior parte dos negros cearenses tinham origem em povos bantus e do Benim. Em 1864, havia apenas 36 mil cearenses escravos; número que, em 1887, reduzira-se para apenas 108 dentro de uma população que, já em 1872, era composta por habitantes. Em 1813, os escravos representavam 11,5% dos cearenses, dos quais 63% eram negros. Ao fazer comparação com estados escravistas próximos, constata-se quão pouco importante era a escravidão na sociedade do Ceará: em 1864, Pernambuco tinha 260 mil escravos, permanecendo ainda com em 1887; e a Bahia, 300 mil escravos em 1864 e escravos restantes em 1887.
Segundo dados do estudo Frequência de Antígenos HLA em uma Amostra da População Cearense, realizado pelo professor Dr. Henry Campos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, há um predomínio nítido de um antígeno no grupo de cearenses que não é o mesmo presente nas populações de negros e portugueses.
O Ceará tem, atualmente, quinze etnias indígenas nativas reconhecidas. A população estimada dessas etnias é de 22,5 mil, de acordo com dados do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (FUNASA). No Ceará, muitas pessoas desconheciam a existência dos índios, pois políticas oficiais, durante muito tempo, obrigaram os indígenas a esconderem sua identidade. Um decreto da Assembleia Provincial do Ceará, datado de 1863, declarou que não havia índios na província.
Política
O estado é governado por três poderes: o Poder Executivo, representado pelo governador do Ceará; o Poder Legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Ceará; e o Poder Judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. O Executivo é exercido pelo governador e todas as secretarias de estado, órgãos vinculados e a administração indireta. Exemplos de órgãos que integram essa administração são as secretarias da Ciência e Tecnologia, de Educação e da Fazenda, e ainda o Departamento de Edificações e Rodovias. A administração indireta é feita por autarquias, empresas públicas e fundações, tais como a Escola de Saúde Pública do Ceará, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
O Poder Legislativo é exercido pela Assembleia Legislativa do Ceará, que é composta por 46 deputados. O legislativo estadual fiscaliza as contas públicas do executivo, bem como aprova e regula todas as leis com jurisdição no território do Ceará. A TV Assembleia é um órgão de comunicação da assembleia do Ceará, que divulga as ações desta instituição. Na função de fiscal das atividades do poder executivo, a assembleia do Ceará é auxiliada por dois tribunais de contas, o Tribunal de Contas do Estado do Ceará, fiscal do governo estadual, e Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará, fiscal das prefeituras, que também auxilia as câmaras municipais nessa tarefa.
O Judiciário cearense tem como instância máxima o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, composto por 27 desembargadores.
Subdivisões
O Ceará é composto por 184 municípios, que estão distribuídos em 18 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em seis regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. O Governo do Ceará dividiu o estado em oito macrorregiões de desenvolvimento e em vinte regiões administrativas.
Litígio territorial
No governo colonial do Governador Sampaio, o engenheiro Silva Paulet apresentou mapa da província em 1818 que mostrou o limite oeste do litoral até a foz do Rio Igaraçu. Desta forma, a então localidade de Amarração, atual cidade de Luís Correia, faria parte do Ceará. Durante o , a localidade teve assistência da cidade cearense vizinha, Granja, até que em 1874 os parlamentares estaduais decidiram elevar a localidade à categoria de vila. Essa atitude chamou a atenção dos políticos do Piauí, que reivindicaram esse território. A solução ocorreu em 1880, quando foi decidindo que haveria uma troca, na qual Piauí restabeleceu a totalidade de seu litoral e o Ceará incorporou os municípios de Crateús e Independência.
Desde essa época, persistem na divisa do Ceará com o Piauí vários pontos com indefinições de seus limites. A área total em disputa seria de aproximadamente 3 000 km², o que equivale ao dobro da área do município de São Paulo. Depois da Constituição de 1988, foi proposto que, em 1991, seriam resolvidas as questões de limites entre os estados, mas somente em 2008 um acordo foi apresentado. O acordo, no entanto, não foi concretizado, pois o Piauí abandonou as negociações. Diversas propostas surgiram como tentativa de resolução do litígio, entre elas a de um plebiscito.
Economia
Em 2008, o PIB cearense, em preços de mercado, foi de R$ , dos quais 47,17% estão concentrados na capital Fortaleza, segundo estudo do Ipece.
Os cinco municípios com PIB per capita mais altos no Ceará são: Eusébio (R$ 23 205), Horizonte (R$ 15 947), Maracanaú (R$ 15 620), São Gonçalo do Amarante (R$ 14 440) e Fortaleza (R$ 11 461), todos muito acima da média estadual, que é de R$ 7 112. Os dez municípios de maior PIB abrangem 67,86% do PIB total.
A partir da década de 1960 houve uma progressiva industrialização e urbanização, que ganhou impulso a partir da década de 1980, em parte devido à política de concessão de benefícios fiscais a empresas que se instalassem no estado.
Desde 2004 a economia cearense vem crescendo, moderada, mas sustentadamente, entre 3,5% e 5% ao ano. Em 2007 o crescimento foi de 4,4%, e em 2008 de 6,5%, sendo o primeiro inferior à média brasileira para aquele ano e o segundo bastante superior, principalmente devido à forte recuperação da agropecuária cearense (24,59%) aliada à manutenção em níveis altos do crescimento da indústria (5,51%) e do setor de serviços (5,21%).
Em 2009, apesar da crise econômica internacional e de perdas no setor primário, o PIB cearense cresceu 3,1%, bastante acima do resultado do PIB brasileiro, de -0,2%, sobretudo devido ao bom desempenho do setor de serviços. Com isso, o PIB cearense atingiu pela primeira vez um patamar de mais de 2% da produção nacional. Uma estimativa feita pelo IPECE mostra que o PIB do Ceará teve um crescimento nominal recorde, quando cresceu 10 bilhões, quando comparado o ano de 2010 com o ano de 2009.
Em 2011, a economia cearense continuou a crescer acima da média nacional. O PIB cearense totalizou 84 bilhões, um aumento de 10 bilhões se comparado ao ano anterior, segundo dados preliminares do IPECE.
O instituto também citou expectativas para a economia em 2012, onde possivelmente, crescerá entre 5% e 5,5%, ainda acima da média nacional. O PIB cearense deve totalizar, ao final do ano, um valor em cerca de 96 bilhões. Para 2013 está previsto que o PIB ultrapassará os 100 bilhões de reais, com o PIB per capita chegando próximo dos 14 000 reais. Quanto a sua pauta de exportações, foi, em 2012, baseada em Calçados de Borracha (17,32%), Couro Preparado de Bovinos ou Equinos (14,60%), Coco, Castanha e Caju (11,73%), Melões (7,00%) e Calçados de Couro (6,86%).
Setor primário
Destacam-se na atividade agrícola: feijão, milho, arroz, algodão herbáceo, algodão arbóreo, castanha de caju, cana-de-açúcar, mandioca, mamona, tomate, banana, laranja, coco e, mais recentemente, a uva. Recentemente tem crescido um pólo de agricultura irrigada dirigida principalmente à exportação, em áreas próximas à Chapada do Apodi, dedicando-se especialmente ao cultivo de frutas como melão e abacaxi. Outro destaque muito recente é o do cultivo de flores, que tem ganhado importância especialmente na Cuesta da Ibiapaba. Na pecuária os rebanhos de maior representatividade são: bovinos, suínos, caprinos, eqüinos, aves, asininos, carcinicultura e ovinos.
Os principais recursos minerais extraídos do solo cearense são: ferro, água mineral, calcário, argila, magnésio, granito, petróleo, gás natural, sal marinho, grafita, gipsita, urânio bruto. O município de Santa Quitéria, na localidade de Itataia, possui uma das maiores reservas de urânio do Brasil.
Setor secundário
O Ceará tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 24,8 bilhões, equivalente a 1,9% da indústria nacional e empregando 306.553 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (26,7%), Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (20,3%), Couros e Calçados (9,7%), Alimentos (8,9%) e Metalurgia (7,4%). Estes 5 setores concentram 73,0% da indústria do estado.
Os principais setores da indústria cearense são vestuário, alimentícia, metalúrgica, têxtil, química e calçadista. A maioria das indústrias esta instalada na Região Metropolitana de Fortaleza, com destaque para Fortaleza, Caucaia e, por fim, Maracanaú, que abriga um importante complexo industrial, o Distrito Industrial de Maracanaú, dinamizando assim a economia do estado do Ceará.
A Federação das Indústrias do Estado do Ceará é a entidade sindical dos donos das empresas. A entidade congrega a maioria dos donos e dirigentes industriais. Algumas das grandes empresas do Ceará com alcance nacional vinculadas a FIEC são: Aço Cearense, Companhia de Alimentos do Nordeste, Grendene, Café Santa Clara, Grande Moinho Cearense, Grupo Edson Queiroz, Indústria Naval do Ceará, J. Macêdo, M. Dias Branco, Troller e Ypióca.
Setor terciário
O comércio é muito marcante na economia do Ceará, compondo o PIB do estado com mais de 70%. Em 2009 foi iniciada a construção da segunda central de abastecimento do estado que ficará na região do Cariri e complementará a distribuição de alimentos juntamente com a CEASA da Região Metropolitana de Fortaleza.
Em Fortaleza existem vários shopping centers: Iguatemi Fortaleza, North Shopping, Shopping Aldeota, Shopping Benfica, Shopping Center Um, Shopping Del Paseo e Shopping Via Sul. Além desses, somente outros quatro shoppings ficam fora da capital: o North Shopping Maracanaú, que fica em Maracanaú; o Iandê Shopping Caucaia, que fica em Caucaia; o North Shopping Sobral, que fica em Sobral e o Cariri Shopping, que fica em Juazeiro do Norte.
Turismo
O Ceará é um dos estados com maior faixa litorânea, e vem dessa grande extensão boa parte de sua fama turística. As praias de maior destaque são: Jericoacoara (incluindo Lagoa Azul e Lagoa do Paraíso), Praia do Futuro, Canoa Quebrada, Cumbuco, Praia de Flecheiras, Praia de Morro Branco, Praia de Ponta Grossa, Praia de Tatajuba, Lagoinha, Porto das Dunas, na qual está o Beach Park, um dos maiores parques temáticos da América Latina, dentre outras.
Alguns dos espaços culturais importantes do estado são: Casa de José de Alencar (que abriga o Museu da Renda, o Museu da Antropologia, a Pinacoteca Floriano Teixeira e a Biblioteca Braga Montenegro), Museu da Imagem e do Som do Ceará, Museu do Ceará, Theatro José de Alencar, um dos mais importantes exemplos da arquitetura art nouveau no Brasil, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que abriga, dentre outras instalações, o Museu de Arte Contemporânea do Ceará, o Museu da Cultura Cearense, Museu Sacro São José de Ribamar e o Museu Dom José.
Outras atrações destacáveis são: Arquivo Público do Estado do Ceará, Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, Casa de Juvenal Galeno, Centro Cultural Bom Jardim, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, Sobrado do Doutor José Lourenço, Academia Cearense de Letras, Instituto do Ceará, Instituto Cultural do Cariri, Museu dos Inhamuns, Academia Sobralense de Estudos e Letras.
Infraestrutura
Ciência e tecnologia
O Ceará mantém a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico como principal instituição de fomento científico e tecnológico do estado. O principal espaço de desenvolvimento científico do estado é o Campus do Pici, em Fortaleza, abrigando boa parte dos laboratórios da Universidade Federal do Ceará e outras instituições como o Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho no Nordeste e a sede da rede GigaFOR e vários cursos de pós-graduação. Em todo o estado são ofertados 154 cursos de pós-graduação sendo 103 de mestrado e 51 de doutorado.
O Ceará tem destaque na história e na pesquisa astronômica do Brasil. O Rádio-Observatório Espacial do Nordeste do INPE instalado em Eusébio é o maior radiotelescópio do Brasil. A Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia (SBAA), com sede em Fortaleza, é uma das principais instituições divulgadoras da astronomia no país.
Em 2009, Ano Internacional da Astronomia, o Ceará passou e integrar a Rede Internacional de Centros para Astrofísica Relativística (Icranet). Essa integração visa orientar os cursos de graduação em física das universidades UVA e UECE, respectivamente em Sobral e Fortaleza, para estudos nas áreas de astrofísica, astronomia e criar um programa de pós-graduação específico na UECE.
O primeiro registro de fósseis no Brasil se deu com o livro "Viagem pelo Brasil" (Reise in Brasilien), publicado entre 1823 e 1831, relatando a descoberta de um peixe Rhacolepis na atual cidade de Jardim. A bacia sedimentar da Chapada do Araripe conta com uma formação muito rica em fósseis da flora e fauna do Cretáceo, boa parte em excelente estado de preservação, sobretudo na cidade de Santana do Cariri. Os fósseis da região tem sido importantes para comprovar a deriva dos continentes africano e sul-americano.
Nessa área foi estabelecido o Geoparque Araripe, o primeiro do gênero no Hemisfério Sul, visando a proteger sua significativa importância geológica e paleontológica. O trecho mais importante do geoparque é a Formação Santana, que se destaca por conter os primeiros registros de tecidos moles (não ósseos) de pterossauros e tiranossauros do mundo, as primeiras fanerógamas fósseis da América do Sul e várias espécies de peixes fossilizados.
Educação
A primeira instituição de ensino do Ceará foi o Liceu do Ceará, fundado em 1845, em Fortaleza. Dentre as escolas de ensino fundamental e médio, as mais antigas e tradicionais do estado são, além do Liceu, o Colégio da Imaculada Conceição (1865), Colégio Justiniano de Serpa (1881), Colégio Santa Cecília (1912) e Colégio Clóvis Bevilaqua (1913). Além desses, também se destacam o Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e os colégios privados da capital, principais responsáveis pelos desempenhos de destaque nacionais. Por exemplo, os três principais colégios privados cearenses, Colégio Farias Brito, Colégio Ari de Sá e Colégio 7 de Setembro, foram responsáveis, em 2014, juntos, pela aprovação de 71 alunos, o que corresponde a 42% das vagas, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), cujo vestibular é o mais difícil do país. O Ceará possui, ainda, um dos maiores índices de aprovação do país no vestibular do Instituto Militar de Engenharia (IME). O ensino privado na capital possui, além disso, um forte espírito de concorrência e busca pelos melhores índices, já que sempre existe uma forte disputa, sobretudo entre essas três principais escolas, pelos primeiros lugares nos principais exames do país. O Colégio Ari de Sá, em 2013, obteve a quinta colocação nacional entre as escolas com a melhor nota geral no ENEM.
O Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará, transformado em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, que comanda mais de 20 unidades de ensino técnico em várias cidades do interior do estado e o Colégio Militar de Fortaleza, fundado em 1919, são importantes unidades de ensino federal no estado. A Universidade Federal do Ceará é uma mais mais importantes IES do país e a melhor universidade federal do Norte e Nordeste.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, (IPECE), a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais no estado, em 2012, foi de 16,3%, valor acima da média nacional. A taxa de analfabetismo no Ceará decresceu 34,4% entre 2001 e 2012. Esse desempenho é 4,4% superior à redução de analfabetismo no Brasil e 6,1% superior à redução da taxa dos que não sabem ler nem escrever no Nordeste.
A rede de ensino do estado no ano de 2015 era composta por 12 525 escolas, das quais 5 530 eram pré-escolares, 6.057 de ensino fundamental e 938 de ensino médio. Estas escolas receberam, ainda em 2015, 1 882 731 matriculas, das quais 237 105 foram no pré-escolar, no fundamental e 373 274 no ensino médio. Servindo a rede, havia 100 095 docentes, dos quais 15 388 lecionavam no pré-escolar, no fundamental e 21 424 no ensino médio.
Em 2015, o Ceará abrigava 58 instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Estadual do Ceará, a Universidade Regional do Cariri, a Universidade Estadual Vale do Acaraú, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, a Universidade Federal do Cariri. Juntas, essas instituições totalizam 11 926 docentes e 274 927 alunos matriculados. A Universidade Federal do Ceará foi a primeira do estado, fundada em 1954.
O Banco Mundial publicou um documento em 7 de julho de 2020 chamado Getting Education Right: State and Municipal Success in Reform for Universal Literacy in Brazil (), tratando dos altos índices da educação pública do estado do Ceará no IDEB, com ênfase na cidade de Sobral, também discutindo as reformas feitas pelo governo do município e do estado na educação pública.
Saúde
Durante o século XIX somente oitenta cearenses foram diplomados pelas duas faculdades de medicina existentes no Brasil. Desses, somente trinta voltaram para o Ceará. Em 1861 ficou pronto o primeiro hospital do estado, Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, que foi o foco de combate a várias pestes que assolaram o estado: varíola, febre amarela e cólera na década anterior.
Os principais hospitais públicos do estado estão concentrados na Capital. Atualmente o sistema de saúde pública cearense é composto por hospitais municipais e estaduais, totalizando 164 unidades hospitalares com internação e 2.198 sem internação. O Hospital Geral de Fortaleza é o maior hospital público. O Instituto Doutor José Frota é o maior hospital de emergência. Dois hospitais de grande porte serão construídos durante o atual governo do estado nas regiões do Cariri e Sobral para diminuir a superlotação do sistema de saúde cearense. O sistema também é composto por centenas de postos de saúde e centenas de equipes do Programa de Saúde da Família em quase todos os municípios. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência está sendo implantado em todas as regiões do Ceará. O atendimento médico privado é bastante desenvolvido com um total de 127 hospitais, destacando-se os hospitais São Mateus, Antônio Prudente, Hospital Regional da Unimed, Monte Klinikum.
Há grande disparidade no acesso a médicos e a leitos hospitalares. Os municípios com mais médicos por mil habitantes são Barbalha (3,6 por mil), Guaramiranga (2,6) e Aracoiaba (2,3) — Fortaleza é a 9ª com mais médicos em termos proporcionais (1,5 por mil) —, enquanto os que possuem menos são Varjota, Granja e Pires Ferreira, todos com apenas 0,2 médico por mil. Barbalha também se destaca como a cidade com mais leitos por mil habitantes (8,1), seguida por Brejo Santo (6,0), Jati (5,9) e Crato (5,4), enquanto as que apresentam menos leitos possuem índices muito menores: Forquilha (0,1), Pacatuba (0,3) e Beberibe (0,5).
Energia
O estado era, até o final do , totalmente desprovido de grandes unidades geradoras de energia. Na década de 2000 foram feitos investimentos pesados na geração de energia eólica com a possibilidade de o Ceará gerar toda sua demanda energética em seu próprio solo.
Atualmente, parte da demanda de energia elétrica pode ser suprida pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco por meio da geração nas usinas hidrelétricas de Paulo Afonso, Xingó, Sobradinho, Itaparica e Moxotó. O Ceará também é servido pela energia gerada na Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. As Usinas Termelétricas Porto do Pecém I (720 MW) e Porto do Pecém II (320 MW), movidas a carvão mineral, colocam o Ceará como um dos maiores produtores de energia termelétrica do Brasil. As duas usinas representam 16% da energia consumida no Nordeste, e podem produzir até 80 % da energia consumida no estado, conferindo maior segurança energética ao Ceará e tornando-o exportador de energia.
A Enel Distribuição Ceará é a empresa responsável pela distribuição da energia no estado. O consumo médio do estado gira em torno de 650 gigawatts por mês. Em 2007, 99,3% dos domicílios urbanos e 90,4% dos domicílios rurais eram servidos pela rede de distribuição elétrica, contabilizando 2 688 746 clientes.
O estado é o terceiro maior produtor de energia eólica do país, com 2 134 MW de capacidade instalada, além de possuir a melhor produção mundial. O Ceará também possui a Usina Solar Tauá, com novos projetos para expansão de usinas, aproveitando potencial de energia solar do estado.
Comunicações
Os jornais foram a primeira mídia de massa do estado. O primeiro jornal cearense, o Diário Oficial, começou a ser publicado em 1825. No final do , havia centenas de jornais e publicações periódicas em todo o território, com mensagens de cunho político e social. Em 1881, chegaram à costa cearense os cabos submarinos da The Western Telegraph Company, interligando o Brasil à Europa por meio telegráfico.
A primeira estação de rádio surgiu na década de 1930. Era uma entidade de rádio amador chamada Ceará Rádio Clube.
A telefonia iniciou-se no Ceará, primeiro em Fortaleza, em 1891 com a fundação da empresa telefônica do Ceará. Em 1938, o serviço passou a ser automático, com a instalação de equipamentos da Ericsson do Brasil. A Companhia Telefônica do Ceará surgiu em 1971 e foi privatizada em 1998. Atualmente, existem 2 490 224 linhas telefônicas no estado.
Transportes
O Aeroporto Internacional de Fortaleza é maior do Ceará e administrado pela empresa alemã Fraport, movimentando anualmente mais de cinco milhões de passageiros O Aeroporto Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, é administrado pela Infraero, sendo o maior do interior do estado e um dos mais movimentados do interior do Nordeste.
O sistema ferroviário do estado é operado em conjunto com a malha do Nordeste pela empresa Transnordestina Logística S.A, que está construindo a ferrovia Transnordestina. O estado é cortado por 1.431 km de caminhos de ferro interligando o estado de norte a sul e de leste a oeste entre a capital e o interior, e ao estado do Piauí, por meio da Ferrovia Teresina-Fortaleza.
Ao longo dos 570 km de litoral do Ceará estão instalados 13 faróis em pontos estratégicos para auxiliar a navegação de cabotagem, sendo controlados pela Capitania dos Portos do Ceará.
Em Fortaleza tem início a rodovia federal mais importante do Brasil, a BR-116, que liga a capital do Ceará às regiões Sudeste e Sul do país até o Rio Grande do Sul. Em Fortaleza também tem início a BR-222 que faz ligação com a região Norte indo até o Pará. A BR-020 faz a ligação de Brasília com Fortaleza. A rodovia BR-230 Transamazônica corta o estado na região sul e a BR-304 liga o Ceará ao Rio Grande do Norte. As rodovias estaduais somam um total de 10 657,9 km, sendo 5 767,6 km pavimentados e 4 890,3 não pavimentados. A extensão total da malha rodoviária, incluindo rodovias municipais, estaduais e federais, é de 53 325,4, segundo o Departamento de Edificações e Rodovias do Ceará. Todas as sedes dos municípios têm acesso por estradas pavimentadas. Atualmente o sistema encontra-se com algumas estradas danificadas em decorrência de fortes chuvas, mas a maioria das rodovias apresenta boa condição de trafegabilidade.
Segurança pública
O Governo do Ceará, desde o início da década de 1990, realiza ações para integração das forças policiais: militar, civil e bombeiro. A primeira ação foi a reformulação do sistema de chamadas 190 que passou a funcionar integrado com o nome de CIOPS - Centro Integrado de Operações de Segurança - e que na Capital do estado integra também o sistema municipal de controle de tráfego e Guarda Municipal. O mais recente passo na integração das forças policiais do estado foi a criação da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará que formará conjuntamente o pessoal de todas as forças de segurança.
A Polícia Militar do Ceará tem um contingente de aproximadamente 13 mil policiais divididos em sete batalhões, um batalhão de choque, um batalhão de segurança patrimonial, um esquadrão de polícia montada, uma companhia de polícia rodoviária, um centro integrado de operações aéreas, uma companhia de polícia do meio ambiente, um pelotão de motos e a unidade de polícia de turismo. O efetivo da Polícia Civil é de aproximadamente 2 200 policiais distribuídos em 34 distritos policiais, oito delegacias metropolitanas, 19 delegacias regionais, 23 delegacias municipais e 18 delegacias especializadas. O Corpo de Bombeiros Militares é composto pelo efetivos de aproximadamente bombeiros.
A criminalidade é um problema crescente no estado. A taxa de homicídio foi de 24,0 por 100 mil habitantes em 2008, um expressivo aumento de 79,1% comparado à taxa de 13,4 por 100 mil em 1998, apesar de ter conseguido reduzir bastante de 2018, ano em que a taxa era 49,8 por 100 mil habitantes, para 24,7 por 100 mil habitantes em 2019, no primeiro semestre de 2020 a taxa cresceu novamente, mas agora em 102%. Em função do aumento ainda maior do número de assassinatos em outras unidades da Federação, o Ceará possui a 18ª maior taxa de homicídios do Brasil, enquanto, em 1998, estava na 17ª posição. Por sua vez, Fortaleza, com 35,9 homicídios por cem mil habitantes, passou do 20ª para o 17ª lugar entre as capitais mais violentas do País, porém continua bastante abaixo da média das capitais do Nordeste. O Ceará possui 7 de seus 184 municípios entre os 500 com maiores taxas de homicídio do Brasil.
Em 2007, foi implantado em Fortaleza o Ronda do Quarteirão, programa de segurança pública do Governo do estado que tem por objetivo diminuir o tempo de resposta a ocorrências policiais. Em 2008, o programa foi expandido para Caucaia e Maracanaú e, em seguida, para vários municípios interioranos. Neste mesmo ano foi criada a polícia científica do estado, Perícia Forense do Estado do Ceará que atuará em sua área de forma autônoma e desvinculada de outras forças policiais. Apesar dos esforços, o combate à violência não tem surtido efeito somente com ações policiais, e a criminalidade ainda é crescente. Somente entre 2008 e 2009, houve um alarmante aumento da taxa total de roubos, que mais que triplicou de 219,8 para 772,0 por 100 mil habitantes, bem como um aumento do número de estupros (de 6,9 para 7,8 por 100 mil). A taxa de homicídios cresce, lenta mas preocupantemente, de 22,2 para 22,5 por 100 mil entre 2008 e 2009.
Em 2 de janeiro de 2019, facções criminosas começaram a promover ataques com explosivos em todo o estado.
Cultura
O governo do Ceará criou a primeira secretaria estadual de cultura do Brasil, em 1966.
Arte popular
A cultura cearense tem como base essencialmente as culturas europeia e ameríndia, de forte tradição sertaneja e também influência afro-brasileira. Quando da introdução da cultura portuguesa no Ceará, ao longo do , os índios já produziam diversificado artesanato a partir de vegetais como o cipó e a carnaúba, bem como dominavam técnicas primitivas de tecelagem do algodão, inclusive tingindo os tecidos de vermelho com a casca da aroeira.
Com origens portuguesas e relevante influência indígena, têm destaque a produção de redes com os mais diversos bordados e formas e intrincadas rendas feitas em bilros, talvez o maior destaque da produção artesanal cearense, sendo uma arte tradicional no Ceará desde meados do . As rendas e os labirintos possuem maior destaque nas imediações do litoral, enquanto o interior se destaca mais pelos bordados.
Ademais, o artesanato feito em madeira e barro é também de grande destaque, com produção de esculturas humanas, representando tipos da região; quadros talhados em madeira e vasos adornados. Outro importante item do artesanato cearense são as garrafas de areias coloridas, onde são reproduzidas, manualmente, paisagens e temáticas diversas. São ainda encontrados, em diversas cidades - em especial Massapê, Russas, Aracati, Sobral e Camocim, cestarias, chapéus e trançados com variadas formas e desenhos feitos da palha da carnaúba, do bambu e do cipó. Por fim, como consequência natural de uma economia que, durante séculos, foi essencialmente pecuarista, o couro é trabalhado artesanalmente, em especial para a produção de chapéus e outras peças da roupa de vaqueiros, assim como de móveis e esculturas. As principais cidades no artesanato coureiro são Morada Nova, Juazeiro do Norte, Crato, Jaguaribe e Assaré.
Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares da Idade Média lusitana. Outra forte influência portuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo o interior, particularmente as festas de padroeiros, que estão entre as principais festividades da cultura cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também de dança, musicais e outras formas de entretenimento, numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos. Destaca-se a Festa de Santo Antônio de Barbalha, famosa pelo pau da bandeira, que é comemorada nessa forma desde 1928 e, em 2015, foi declarada como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo também patrimônio cultural do Ceará desde o final de 2018.
Artes plásticas e humor
O movimento de maior destaque na história da pintura cearense foi o modernismo, com o surgimento da Sociedade Cearense de Artes Plásticas, em 1944, que reuniu vários pintores como Antônio Bandeira, Otacílio de Azevedo, Aldemir Martins, Inimá de Paula, Zenon Barreto e outros.
Na segunda metade do século XX, o suíço Jean-Pierre Chabloz, em passagem pelo Ceará, descobriu a arte do acreano de origem cearense Chico da Silva no Pirambu, retratando figuras primitivas de dragões e outros animais com carvão e tinta guache. Seu estilo foi classificado como arte naïf e teve grande destaque até a década de 1980. No final do , o pintor Leonilson foi o maior destaque cearense na pintura.
O Ceará se tornou conhecido nacionalmente como berço de talentos humorísticos como Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante e Tiririca, dentre vários outros. Embora a percepção de que há um Ceará moleque como verdadeira identidade do povo cearense seja controversa, a história do estado é repleta de casos verídicos e curiosos que parecem corroborar com essa ideia. Destacam-se, sobretudo, figuras populares como o Bode Ioiô, que era famoso em Fortaleza e inclusive foi eleito vereador da cidade, e o Seu Lunga, de Juazeiro do Norte, famoso pela sua intolerância com perguntas óbvias, assim como eventos como a vaia ao sol, também em Fortaleza, depois de quase um dia inteiro de céu nublado na cidade.
Literatura
O Ceará é terra de muitos escritores e poetas importantes. Pode-se citar, dentre muitos outros: Raimundo Girão, Leonardo Mota, Manuelito, Misael Gomes da Silva, Luís Cavalcanti Sucupira, Paulino Nogueira Borges Da Fonseca, Capistrano de Abreu, Waldemar Falcão, Visconde de Sabóia, Francisco Sadoc , Parsifal Barroso, Andrade Furtado, Barão de Studart, Severino Sombra, José Albano, Manuel Soares da Silva,Farias Brito, Gerardo Mello Mourão, José de Alencar, Domingos Olímpio, Rachel de Queiroz, Adolfo Caminha, Antônio Sales, Jáder Carvalho, Juvenal Galeno, Gustavo Barroso, Patativa do Assaré, Xico Sá e os contemporâneos Socorro Acioli, Tércia Montenegro, Ítalo Anderson e Raymundo Netto. Existem também escritores pós-modernistas renomados, embora, em sua maior parte, pouco conhecidos, podendo-se citar, dentre eles, Pedro Salgueiro, Natércia Campos, Dimas Carvalho, Airton Monte, Tércia Montenegro, Raymundo Netto, Vicente Freitas, Soares Feitosa, dentre outros.
A literatura cearense foi sempre caracterizada por florescer em torno de grupos literários. O primeiro desses grupos de desenvolvimento literário foi Os Oiteiros, que, embora mantendo os padrões típicos do Arcadismo, soube encontrar uma cor local para descrever o fugere urbem e o carpe diem típicos daquela escola. No final do século XIX, surgiu a Padaria Espiritual, uma agremiação cultural formada por jovens escritores, pintores e músicos. Vários autores criticavam as instituições e valores então vigentes com discurso irônico, irreverência, espírito crítico e sincretismo literário. Para alguns críticos literários e historiadores, essa agremiação pode ser considerada um movimento pré-modernista que já apresentava alguns aspectos do Modernismo, que só surgiria com força em São Paulo em 1922. Contemporânea à Padaria Espiritual, a Academia Cearense de Letras foi fundada em 1894 sendo uma das principais instituições literárias do estado, congregando alguns dos nomes mais ilustres da literatura estadual.
O Modernismo se consolidou no Ceará por meio do movimento Clã, fundado nos anos 1940, que congregou diversos escritores renomados cearenses: Moreira Campos, João Clímaco Bezerra, Antônio Girão Barroso, Aluísio Medeiros, Otacílio Collares, Artur Eduardo Benevides, Antônio Martins Filho, Braga Montenegro, Manuel Eduardo Pinheiro Campos, Fran Martins, José Camelo Ponte, José Stênio Lopes, Milton Dias, Lúcia Fernandes Martins e Mozart Soriano Aderaldo. Na década de 1970, surgiram outros dois importantes grupos literários no Ceará: O Saco, uma revista artística inusitada, pois era distribuída com folhas soltas guardadas dentro de um saco; e o Grupo Siriará, que reuniu diversos jovens escritores, propondo uma literatura cearense autêntica e desvinculada dos estereótipos que se estabeleceram na retratação literária do ambiente cearense.
A literatura de cordel tem destaque nas letras cearenses desenvolvendo-se expressivamente em Juazeiro do Norte, desde as primeiras décadas do . Em Fortaleza, a literatura de cordel surgiu no período da Oligarquia de Nogueira Accioly, período esse em que circularam alguns folhetos destratando a figura do governador cearense. Patativa do Assaré é um dos maiores destaques nesse tipo de literatura.
Música
O gênero musical mais identificado com o Ceará é o forró, em suas variadas formas, notadamente o tradicional forró pé-de-serra. Nos anos 1940, o cearense Humberto Teixeira formou uma famosa parceria com o pernambucano Luiz Gonzaga, criando o baião, que se tornou muito apreciado. Uma das principais tradições da música cearense - e, principalmente, do Cariri - são também as bandas cabaçais, que utilizam pífanos, zabumbas e pratos e frequentemente fazem acompanhar sua música com movimentos e acrobacias com facões, com destaque para a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Outros representantes tradicionais da música cearense são os seresteiros e repentistas. Dos anos 1980 em diante, cresceu bastante o chamado forró eletrônico, que adotou novos instrumentos e absorveu muitas influências de diversos estilos populares, afastando-se um pouco da tradição do "pé-de-serra" e ganhando grande popularidade no estado.
O importante momento musical dos anos 1960, no qual floresceram a MPB e o tropicalismo no Brasil, também teve grande influência no Ceará, onde se revelaram artistas como Ednardo, Belchior, Fagner, Amelinha, J. Camelo Ponte e outros, alguns dos quais conseguiram projeção nacional, recebendo da crítica musical o apelido de "pessoal do Ceará".
Inusitadamente, o Ceará tem também tido certo destaque na música clássica brasileira, embora aí não encontre grandes incentivos. Um dos mais destacados compositores clássicos brasileiros foi o cearense Alberto Nepomuceno, considerado o "pai" do nacionalismo na música erudita do Brasil, que em Fortaleza batiza o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. Outro representante da música clássica foi o renomado regente Eleazar de Carvalho, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Brasileira e professor de maestros célebres, como Claudio Abbado e Zubin Mehta. Em sua homenagem foi criada a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Nessa seara, há também iniciativas que unem a música à filantropia como a Orquestra Filarmônica da Chapada do Araripe, em Araripe e a Sociedade Lírica do Belmonte, no Crato.
Esportes
No Ceará, a vaquejada é muito popular e faz parte da raiz cultural cearense. São realizadas anualmente mais de cem vaquejadas, além do hipismo, que também é bastante popular, notadamente em Fortaleza e Sobral, cidades com grande tradição em corridas de cavalo. Sobral tem um dos clubes de hipismo mais antigos do Brasil, o Derby Clube Sobralense fundado em 1871. O Jockey Club Cearense, em Fortaleza, é outro centro tradicional de turfe no Ceará.
O futebol é o esporte mais popular no estado. O Estádio Castelão é um dos maiores do Brasil e abriga os principais jogos do Campeonato Cearense de Futebol. Na capital, os principais clubes são Ceará Sporting Club, Ferroviário Atlético Clube e Fortaleza Esporte Clube. No interior, Guarani Esporte Clube, Guarany Sporting Club e Associação Desportiva Recreativa Cultural Icasa são os mais bem sucedidos. Com a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo FIFA de 2014, a cidade de fortaleza sagrou-se como uma das sedes mais bem organizadas do torneio, além de ter sido uma das com maior movimentação turística estrangeira, a partir do esforço conjunto do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza. No futebol de salão, o Ceará foi destaque durante o início da Taça Brasil de Futsal com o time Sumov Atlético Clube. Em decorrência de sua importância para o esporte, o estado é sede da Confederação Brasileira de Futebol de Salão.
O Ceará foi o primeiro estado do Nordeste a ter um pista de automobilismo com a construção do Autódromo Internacional Virgílio Távora em 1969. Atualmente, abriga provas de várias categorias nacionais e locais tais, como Fórmula Truck, Pick-up Racing, Fórmula 3 e CTM2000. O motociclismo tem seu espaço em várias modalidades, mas as categorias de rali são as mais populares, inclusive no automobilismo, com o Rally dos Sertões, evento que desperta interesse e audiência significativos do povo cearense.
No estado se pratica quase todas as modalidades de esportes olímpicos. Recentemente, foram criadas federações de esportes até então pouco populares, como o pentatlo moderno, badminton e ginástica. Alguns dos esportes populares que rendem bons atletas são o vôlei de praia, com os atletas como Franco Neto, Shelda Bede e Márcio Araújo, e o tênis de mesa, com o atleta Thiago Monteiro, o atual campeão brasileiro e pan-americano.
Por ter um extenso litoral, o Ceará também tem destaque em esportes náuticos, como o beach soccer, kitesurf, windsurf, wakeboard, sandboard e surf. Tita Tavares, por exemplo, é uma das maiores surfistas do Brasil. O triatlon e mergulho também são atividades com boa organização e desenvolvimento no estado. Outros esportes de aventura praticados no Ceará são o pára-quedismo, rappel, escalada, trekking, orientação e voo livre. Em Quixadá, cuja geografia é marcada por colinas e inselbergs, a prática de esportes como o rappel e o voo de asa-delta ganharam destaque internacional.
Entre as lutas, vários esportes são notavelmente praticados, destacando-se o wushu, vale-tudo, capoeira e taekwondo. Outras modalidades existentes são o boxe, aikido, hapkido, jiu-Jitsu, judô, karatê, kung fu, luta de braço e wrestling.
Festas e eventos
O Miss Ceará é um dos eventos de maior tradição do estado. Sua primeira edição ocorreu em 1955, e logo com a eleição de Emília Barreto Correia Lima como Miss Brasil, segunda eleita na história do concurso. Outra Miss Brasil do Ceará foi Flávia Cavalcanti Rebelo, apesar de ser natural de Salvador, representava o Ceará na competição nacional. Vanessa Vidal, Miss Ceará de 2008, ficou em segundo lugar e foi a primeira concorrente a Miss Brasil com deficiência auditiva.
O Cine Ceará é um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil. Acontece em Fortaleza, anualmente, desde 1991, e, desde 2006, o festival recebe produções internacionais.
Expocrato, oficialmente Exposição Centro Nordestina de Animais e Produtos Derivados, é o maior evento agropecuário do norte-nordeste, com nove dias de duração, realizado anualmente, no mês de julho, no Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcanti, na cidade do Crato. Constitui-se basicamente de uma feira agropecuária, com desfile e leilão de animais. Durante o evento, são vendidas bebidas e comidas típicas e apresentados espetáculos musicais.
O Fortal é uma micareta que acontece anualmente desde 1991, sempre no final de julho. Várias outras micaretas menores ocorrem em cidades do interior. Um dos maiores festivais de música pop do Brasil, o Ceará Music, que acontece anualmente desde 2001 reunindo várias bandas nacionais e internacionais.
A maior festa religiosa no Ceará, assim como em grande parte do Nordeste, ocorre em junho, com as festas juninas. Durante esse mês, o forró é o ritmo mais ouvido e tocado em todo o estado e comidas e vestimentas típicas são comuns nas ruas e praças de quase todas as cidades, destacando-se Juazeiro do Norte, com o Juaforró. O carnaval também é outra grande festa, com destaque para as folias organizadas nas cidades litorâneas. Outra grande festa religiosa é o Halleluya que acontece anualmente desde 1995. No setor agropecuário, o evento de destaque no Ceará é a ExpoCrato, considerado o maior evento do gênero no Norte-Nordeste e o quinto maior do país, realizado anualmente na cidade do Crato.
Os dois principais espaços para realização de feiras, eventos e convenções do Ceará são o Centro de Eventos do Ceará, o segundo maior do Brasil, e o Centro de Convenções Edson Queiroz. O Siará Hall é outro importante espaço de eventos do Ceará.
Ver também
Lista de municípios do Ceará
Lista de municípios do Ceará por população
Unidades federativas do Brasil
Bibliografia
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Ligações externas
Fundações no Brasil em 1799 | 648,677 |
559 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conte%C3%BAdo%20aberto | Conteúdo aberto | Conteúdo aberto (open content no original) é um neologismo inventado por David Wiley em 1998, que descreve um trabalho criativo que outros podem copiar ou modificar livremente, sem pedir permissão. O termo evoca o conceito relacionado de software de código aberto.
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Ver também
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Jan Newmarch, "Licenças de Conteúdo Livre," (página em inglês)
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560 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Comprimento | Comprimento | Na física, o comprimento é a grandeza física que expressa a distância entre dois pontos. Na linguagem comum se costuma diferenciar a altura (quando se refere a um comprimento vertical) e a largura (quando se fala de um comprimento horizontal). Também na física, e na engenharia, a palavra comprimento é sinônimo de distância, e se costuma utilizar o símbolo ou para representá-la.
O comprimento é considerado habitualmente como uma das grandezas físicas fundamentais; por isso não pode ser definido em termos de outras magnitudes que se podem medir. Mas o comprimento não é uma propriedade intrínseca de nenhum objeto dado que, segundo a teoria especial da relatividade (Albert Einstein; 1905), dois observadores poderiam medir o mesmo objeto e obter resultados diferentes.
O comprimento é uma medida de uma só dimensão, enquanto a área é uma medida de duas dimensões (comprimento ao quadrado), e o volume é uma medida de três dimensões (comprimento ao cubo). Em muitos sistemas de medidas, o comprimento é uma unidade fundamental, do qual derivam outras unidades.
Unidades de comprimento
Há diferentes unidades de medida que são usadas para medir o comprimento, e outras que já foram usadas no passado. As unidades de medida podem se basear no comprimento de diferentes partes do corpo humano, na distância percorrida em número de passos, na distância entre pontos de referência ou pontos conhecidos da Terra, ou também no comprimento dum determinado objeto.
No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade básica do comprimento é o metro, e hoje em dia se define em termos da velocidade da luz. O centímetro e o quilômetro derivam do metro, e são unidades utilizadas habitualmente.
As unidades usadas para expressar distâncias dentro da imensidão do espaço (astronomia), são muito maiores do que as que se usam habitualmente na Terra, e são (entre outras): a unidade astronômica, o ano luz e o parsec.
Por outra parte, as unidades usadas para medir distâncias muito pequenas, como no campo da química ou do átomo, se incluem o micrometro, o angstrom, o raio de Bohr ou o comprimento de Planck.
Ver também
Dimensão (física)
Distância
Espaço métrico
Unidades de comprimento
Ligações externas
WikiUnits - Converter Comprimento entre diferentes unidades
Grandezas físicas | 106,259 |
567 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Combust%C3%ADvel%20f%C3%B3ssil | Combustível fóssil | Combustíveis fósseis são combustíveis formados por meio de processos naturais, como a decomposição de organismos mortos soterrados . Os combustíveis fósseis contêm alta quantidade de carbono, usados para alimentar a combustão. São usados como combustíveis, o carvão mineral, gás natural e o petróleo.
A Administração de Informação de Energia (do Vaz) estima que em 2007 as fontes primárias de energia se consistiam em petróleo (36,0%), carvão mineral (27,4%), gás natural (23,0%), acumulando um total de 86,4% como principais fontes de energia primária no mundo. Outras fontes de energia, em 2006, incluem a energia hidroelétrica (6,3%) e a energia nuclear (8,5%). O consumo de energia mundial foi e está crescendo 2,3% ao ano.
Os combustíveis fósseis são recursos não-renováveis, pois levam milhões de anos para se formarem, e as reservas desses combustíveis estão a esgotar-se, já que o consumo é maior que a produção. A queima de combustíveis fósseis produz cerca de 21,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente, e metade dessa produção atinge a atmosfera, já que os processos naturais só conseguem absorver metade dessa quantidade. A produção e uso dos combustíveis fósseis é a principal causa do aquecimento global e gera significativa poluição de vários tipos, com amplas repercussões negativas sobre o ambiente, a sociedade, a economia e a saúde humana.
Origens
O petróleo, o gás natural e o carvão mineral são formados pela decomposição de organismos. A teoria biogênica do petróleo sugere que o petróleo extraído da crosta terrestre teria origem comum ao carvão mineral, já que ele também é encontrado soterrado, tendo sido gerados em função do efeito de fossilização de animais e plantas, provocado pela ação de pressão e temperatura muito altas geradas há milhões de anos no processo de soterramento de material orgânico que por algum motivo não entrou na cadeia alimentar antes ou quando foi enterrado.
A teoria abiogênica (origem inorgânica do petróleo), por outro lado, defende que os hidrocarbonetos foram formados juntos com a Terra, no processo de acreção planetária.
Os combustíveis fósseis são recursos naturais não renováveis
Os combustíveis fósseis são possivelmente formados pela decomposição de matéria orgânica, através de um processo que leva milhares de anos. E por este motivo, não são renováveis ao longo da escala de tempo humana, ainda que ao longo de uma escala de tempo geológica esses combustíveis continuam a ser formados pela natureza. O carvão mineral, os derivados do petróleo (tais como a gasolina, óleo diesel, óleo combustível, o GLP - ou gás de cozinha -, entre outros) e ainda, o gás natural, são os combustíveis fósseis mais utilizados e mais conhecidos.
O carvão mineral pôs em movimento, durante décadas, veículos como as locomotivas, chamadas no Brasil de "Marias-fumaça" e navios a vapor. Atualmente, o carvão mineral garante o funcionamento de usinas termoelétricas.
Um grande problema desses combustíveis é o fato de serem finitos, o que faz com que a dependência energética a partir deles seja um problema quando esses recursos acabarem, embora de acordo com as teorias abiogênicas os combustíveis minerais são muito abundantes. Por isso o interesse em energias renováveis é crescente. Outro problema é que, com a queima de combustíveis minerais, são produzidos gases que produzem o efeito estufa, como o gás carbônico e libertados metais pesados, como por exemplo o mercúrio.
Importância
Os combustíveis fósseis são de grande importância, pois eles podem ser queimados (oxidação para dióxido de carbono e água), produzindo quantidades significativas de energia por unidade de peso. O uso do carvão como combustível é anterior à história registada. O carvão foi usado para alimentar fornos para a fusão de minério de metal. Hidrocarbonetos semi-sólidos encontrados em fendas também foram queimados nos tempos antigos, mas esses materiais foram usados principalmente para impermeabilização e embalsamamento.
A exploração comercial do petróleo, em grande parte como um substituto para os óleos de origem animal (particularmente óleo de baleia), para uso em lâmpadas de óleo, começou no século XIX.
O gás natural, outrora queimado como um subproduto desnecessário na produção de petróleo, agora é considerado um recurso muito valioso.
O petróleo bruto pesado, que é muito mais viscoso do que o petróleo bruto convencional, e a areia betuminosa, onde o betume é encontrado misturado com areia e argila, são cada vez mais importantes como fontes de combustível fóssil. O xisto betuminoso e materiais semelhantes são rochas sedimentares que contêm querogênio, uma mistura complexa de compostos orgânicos de alto peso molecular, que produzem combustível sintético quando aquecidos (pirolisados), como o petróleo de xisto. Estes materiais ainda deverão ser explorados comercialmente. Estes combustíveis podem ser empregados em motores de combustão interna, usinas de combustíveis fósseis e outros usos.
Antes da segunda metade do século XVIII, moinhos de vento e de água forneciam a energia necessária para indústrias tais como moer farinha, serrar madeira ou bombear água, e a queima de madeira ou turfa fornecia calor interno. O uso em larga escala de combustíveis fósseis, inicialmente o carvão e depois o petróleo, para fazer funcionar o motor a vapor permitiu a Revolução Industrial. Ao mesmo tempo, a iluminação a gás usando o gás natural ou gás de cidade começava a ter ampla utilização. A invenção do motor de combustão interna e seu uso em automóveis e caminhões aumentou muito a procura de gasolina e óleo diesel, ambos feitos a partir de combustíveis fósseis. Outras formas de transporte, por ferrovias e aeronaves, também necessitam de combustíveis fósseis. O outro uso importante para os combustíveis fósseis está na geração de eletricidade e como matéria-prima para a indústria petroquímica. O alcatrão, uma sobra de extração de petróleo, é usado na construção de estradas.
Economia dos combustíveis fósseis
Os preços dos combustíveis fósseis sobe em proporcionalidade inversa à sua quantidade disponível para venda, ou seja, quanto mais escasseiam, mais elevado é o seu preço. A economia mundial está tão dependente deles que o simples aumento do preço do barril de petróleo (que é o mais explorado para fins energéticos) influencia fortemente as bolsas de valores.
O aumento do controle e do uso, por parte do ser humano, da energia contida nesses combustíveis fósseis foi determinante para as transformações econômicas, sociais, tecnológicas - e, infelizmente, ambientais e políticos - que vêm ocorrendo desde a Revolução Industrial.
Pelo aumento do preço dos combustíveis fósseis e da poluição ambiental, o mundo está a procurar soluções energéticas alternativas (como os biocombustíveis, a eletricidade e o hidrogênio). Até 2020 a União Europeia prevê aumentar para 10% a percentagem de energias renováveis utilizadas nos transportes rodoviários.
Reservas
Os níveis de fontes primárias de energia são as reservas abaixo do solo. A parte mais importante de fontes de energia primária são os combustíveis fósseis à base de carbono. Carvão, petróleo e gás natural promoveram 79,6% de energia primária no mundo em 2002.
Dados de reservas entre 2005-2006 no Brasil:
Petróleo: 2 685,15 mil barris produzidos por dia entre 1980-2012. -36,47 mil barris de petróleo líquido exportados por dia entre 1980-2012.
Gás natural: 514,89 bilhões de pés cúbicos produzidos entre 1980-2012. 884,99 bilhões de pés cúbicos consumidos entre 1980-2012. -370,10 bilhões de pés cúbicos importados/exportados entre 1990-2012.
Carvão: 6 005 milhões de toneladas curtas produzidas entre 1980-2012. 27,570 milhões de toneladas curtas consumidas entre 1980-2012. -19,522 milhões de toneladas curtas exportadas/importadas entre 1980-2011.
Consequências e danos ambientais
Os Estados Unidos detêm apenas 5% da população mundial, mas devido a grandes casas e da frota de automóveis, queima mais de um quarto da oferta mundial de combustíveis fósseis. Nos EUA, mais de 90% de sua poluição atmosférica é derivado da queima de combustíveis fósseis, que libera gases poluentes, como óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e metais pesados.
Dentre as consequências ambientais do processo de industrialização e do inerente e progressivo consumo de combustíveis fósseis - leia-se energia -, destaca-se o aumento da contaminação do ar por gases e material particulado, provenientes da queima destes combustíveis, gerando uma série de impactos locais sobre a saúde humana. Outros gases causam impactos em regiões diferentes dos pontos a partir dos quais são emitidos, como é o caso da chuva ácida.
O aquecimento global é um outro problema ambiental, porém bastante mais complexo e que traz consequências nefastas de ampla escala e longa duração. Este problema vem sendo causado por vários fatores combinados, entre eles, principalmente a produção e uso de combustíveis fósseis, que desencadeiam a emissão de gases que produzem o efeito estufa. Estes gases permitem a entrada da luz solar, mas impedem que parte do calor gerado durante a irradiação volte para o espaço. Este processo de aprisionamento do calor é análogo ao que ocorre em uma estufa - daí o nome atribuído a esse fenômeno e também aos gases que possuem essa propriedade de aprisionamento parcial de calor, chamados de gases do efeito estufa (GEE), dentre os quais destaca-se o dióxido de carbono (CO2).
O aquecimento global é a principal ameaça ao meio ambiente da atualidade. É um consenso na comunidade científica que se não for combatido a tempo, inevitavelmente produzirá efeitos catastróficos em todos os níveis de atividade humana, deve causar uma extinção maciça de espécies selvagens, desestruturando todos os ecossistemas do planeta, e deve gerar alterações significativas em todos os sistemas e ciclos físico-químico-geológicos, como mudanças nas zonas climáticas, subida do nível do mar, acidificação dos oceanos, mudanças na dinâmica energética do planeta e no ciclo do carbono e outros componentes químicos, mudanças no padrão de chuvas e monções, declínio acentuado na produção de alimentos, graves perdas econômicas, aumento da fome, da pobreza, da incidência de doenças e dos riscos de conflitos entre as nações, entre muitos outros impactos.
Os combustíveis fósseis contribuíram para alavancar um exuberante desenvolvimento da sociedade nos dois últimos séculos, mas também são causa de múltiplos efeitos negativos que não haviam sido previstos, e que no futuro próximo devem suplantar largamente os benefícios. Por isso, já se considera um imperativo que eles sejam abandonados rapidamente em favor de fontes limpas e renováveis de energia, que promovam um desenvolvimento sustentável.
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568 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Combust%C3%A3o | Combustão | Combustão ou queima é uma reação química exotérmica (há exceções) entre uma substância (o combustível) e um gás (o comburente), geralmente o oxigênio, para liberar calor e luz. Durante a reação de combustão são formados diversos produtos resultantes da combinação dos átomos dos reagentes. No caso da queima em ar de compostos orgânicos (metano, propano, gasolina, etanol, diesel, etc) são formados centenas de compostos, por exemplo CO2, CO, H2O, H2,CH4, NOx, SOx, fuligem, etc, sendo que alguns desses compostos causam a chuva ácida, danos aos ciclos biogeoquímicos do planeta e agravam o efeito estufa.
Os processos de combustão são responsáveis pela produção de cerca de 85 % da energia do mundo, inclusive o Brasil, em transporte (carros, aviões, trens, navios, etc), usinas termoelétricas, processos industriais, aquecimento doméstico, geradores, cozimento de alimentos e outro. Em uma reação estequiométrica ideal de um hidrocarboneto em ar são formados apenas CO2 e H2O, sendo o N2 um gás inerte.
De uma forma geral: CxHyOzNt + (x+y/4-z/2)[O2 + 3,76N2] → xCO2 + (y/2)H2O + (y/2)H2O + [t/2+3,76(x+y/4-z/2)]N2.
Exemplos: C2H5OH + 3 [O2+3,76N2] → 2CO2 + 3H2O + 3.3,76N2 + calor
CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2O +calor
CH2S + 6 F2 → CF4 + 2HF + SF6 + calorias
Numa forma geral as combustões são reações que ocorrem entre um combustível e um comburente
Tipos de combustão
Combustível
Quando se produz a uma temperatura suficientemente baixa, isto é, inferior a 500 °C, não havendo, regra geral, emissão de luz. A oxidação de um metal (ferro, cobre, zinco, etc.) em contacto com o ar úmido é um exemplo deste tipo de combustão. A combustão lenta é uma forma de queima que acontece a baixas temperaturas. A respiração celular e formação de ferrugem são exemplos de combustões lentas.
Comburente
É aquela em que se produz chama e, vulgarmente, designa-se por fogo. Neste caso, devido à mistura dos gases inflamados com o ar forma-se a chama. No caso dos sólidos, cuja combustão decorre à
superfície, verifica-se a incandescência a partir da sua ignição e também através da formação de brasas. Estas surgem quando o combustível já não liberta gases suficientes para provocar chama. A combustão do carvão ilustra estes aspectos.
Energia
Combustão resultante da mistura de gases ou partículas finamente divididas com o ar numa percentagem bem determinada – mistura explosiva ou detonante – propagando-se a uma velocidade
superior a 340 m/s. Neste caso, a mistura tem de ocupar todo o espaço onde está contida e, no momento da explosão, provoca uma elevação de temperatura ou de pressão ou de ambas, simultaneamente, sobre todo o espaço confinante. Usamos como combustível a gasolina,o etanol ou o diesel. Combustão é o processo de obtenção de energia.
Combustão completa
Em uma combustão completa, o reagente irá queimar no oxigênio, produzindo um número limitado de produtos e uma chama oxidante, azul. Quando um hidrocarboneto queima no oxigênio, a reação gerará apenas dióxido de carbono e água. Quando elementos como carbono, nitrogênio, enxofre e ferro são queimados, o resultado será os óxidos mais comuns. Carbono irá gerar o dióxido de carbono. Nitrogênio irá gerar o dióxido de nitrogênio . Enxofre irá gerar dióxido de enxofre . Ferro irá gerar óxido de ferro (III) . A combustão completa é naturalmente improvável de ocorrer, a menos que a reação ocorra em situações cuidadosamente controladas, como, por exemplo, em um laboratório.
Combustão turbulenta
A combustão turbulenta é caracterizada por fluxos turbulentos. É a mais usada na indústria (ex: turbinas de gás, motores a diesel, etc.), pois a turbulência ajuda o combustível a se misturar com o comburente.
Combustão incompleta
Na combustão incompleta não há o suprimento de oxigênio adequado para que ela ocorra de forma completa. O reagente irá queimar em oxigênio, mas poderá produzir inúmeros produtos. Quando um hidrocarboneto queima em oxigênio, a reação gerará dióxido de carbono, monóxido de carbono, água, e vários outros compostos como óxidos de nitrogênio, dependendo da composição do combustível. Também há liberação de átomos de carbono, sob a forma de fuligem. A combustão incompleta é muito mais comum que a completa e produz um grande número de subprodutos. No caso de queima de combustível em automóveis, esses subprodutos podem ser muito prejudiciais à saúde, ao meio ambiente e ao próprio carro.
Equação química
Geralmente, a equação química para queimar um hidrocarboneto (como o octano) com oxigênio é a seguinte:
CxHy + (x + y/4)O2 → xCO2 + (y/2)H2O
Por exemplo, a queima de propano é:
C3H8 + 5O2 → 3CO2 + 4H2O
A equação, em síntese, de uma hidrocarboneto é sempre a seguinte:
Combustível + Oxigênio → Dióxido de carbono + Água + Calor
A combustão é uma reação de uma substância (combustível) com o oxigênio (comburente) presente na atmosfera, com liberação de energia.
A liberação ou consumo de energia durante uma reação é conhecida como variação da entalpia (ΔH), isto é, a quantidade de energia dos produtos da reação (Hp) menos a quantidade de energia dos reagentes da reação (Hr):
ΔH = Hp - Hr
Quando ΔH > 0 isto significa que a energia do(s) produto(s) é maior que a energia do(s) reagentes(s) e a reação é endotérmica, ou seja, absorve calor do meio ambiente. Quando ΔH < 0, isto significa que a energia do(s) reagente(s) é maior que a energia do(s) produto(s) e a reação é exotérmica, ou seja, libera calor para o meio ambiente, como no caso da combustão da gasolina, por exemplo.
A respiração é um processo de combustão (“queima de alimentos”) que libera energia necessária para as atividades realizadas pelos organismos. É interessante notar que a reação inversa da respiração é a fotossíntese, que ocorre no cloroplasto das células vegetais, onde são necessários gás carbônico, água e energia (vinda da luz solar) para liberar oxigênio e produzir material orgânico (celulose, glicose, amido, etc.) utilizado no crescimento do vegetal.
Combustão/respiração
{C6H12O6_(s)} + 6 {O2_(g)} \rightleftharpoons 6 {CO2_(g)} + 6 {H2O_(l)} + {energia}
Fotossíntese
A gasolina possui enxofre (S), e o diesel, ainda mais. Hoje no Brasil existe um grande investimento por parte da Petrobras para diminuir a concentração de enxofre no diesel e assim torná-lo menos poluente. Portanto, combustíveis que tem enxofre, ao serem queimados produzem grandes quantidades de um gás bastante tóxico e corrosivo, responsável por acidificar a atmosfera, o dióxido de enxofre (SO2). Já o álcool é um combustível que não apresenta enxofre e portanto não produz o dióxido de enxofre.
{S_(s)} + {O2_(g)} -> {SO2_(g)}
A falta de oxigênio durante a combustão leva à chamada ‘combustão incompleta’ que produz monóxido de carbono (CO). Note que o CO tem um oxigênio a menos que o CO2, o que caracteriza a deficiência de oxigênio, ou a ineficiência da reação. Este gás é muito tóxico para o ser humano, pois este dificulta a função da hemoglobina, que é responsável pela renovação do oxigênio no nosso sangue. Pequenas concentrações de monóxido de carbono já provocam tonturas e dores de cabeça. Outro produto indesejável da combustão incompleta é a fuligem (C), que não tem oxigênio na sua constituição. A porção mais fina da fuligem pode impregnar nos pulmões e causar problemas respiratórios.
As equações químicas abaixo ilustram a quantidade de calor (ΔH) liberada durante a combustão completa e incompleta do gás metano (CH4). Note como a quantidade de calor liberado é menor nos casos de combustão incompleta. Portanto, além da combustão incompleta gerar compostos nocivos à saúde humana, há também uma grande desvantagem econômica, pois com a mesma quantidade de combustível haverá menor quantidade de energia gerada! Veja as equações:
Combustão completa do metano:
{CH4_(g)} + 2{O2_(g)} -> {CO2_(g)} + 2{H2O_(l)}, (energia liberada)
Combustão incompleta do metano:
{CH4_(g)} + 3/2 {O2_(g)} -> {CO_(g)} + 2{H2O_(l)},
{CH4_(g)} + {O2_(g)} -> {C_(s)} + 2{H2O_(l)},
É muito importante saber a quantidade de calor liberada pelos combustíveis para que seja possível comparar o valor energético de cada um deles. Na Tabela 1 são mostradas as entalpias de combustão (ΔHo) para alguns combustíveis, isto é, a energia liberada na queima completa de um mol do combustível. O zero utilizado como índice superior indica que as condições iniciais dos reagentes e as finais dos produtos são 25o C e 1 atm, chamadas de condições padrão.
O combustível menos poluente que se conhece é o hidrogênio, pois sua combustão gera apenas água:
{H2_(g)} + 1/2{O2_(g)} -> {H2O_(l)},
Combustão de combustíveis líquidos
A combustão de um combustível líquido em uma atmosfera oxidante acontece na verdade em forma gasosa. Isto quer dizer, quem queima é o vapor, não o líquido. Portanto, um líquido inflamável normalmente só irá pegar fogo acima de uma certa temperatura, que é seu ponto de fulgor. Abaixo dessa temperatura, o líquido não irá evaporar rápido o suficiente para sustentar o fogo caso a fonte de ignição seja removida.
Combustão de combustíveis sólidos
O ato da combustão consiste em três fases relativamente distintas, mas que se sobrepõem:
Fase de pré-aquecimento, quando o combustível não queimado é esquentado até o seu ponto de fulgor e depois para seu ponto de combustão. Gases inflamáveis começam a ser envolvidos em um processo similar à destilação seca.
Fase de destilação ou fase gasosa, quando a mistura dos gases inflamáveis com oxigênio sofre ignição, energia é produzida em forma de calor e luz. Fogo normalmente é visível nesta fase.
Fase de carvão ou fase sólida, quando a saída de gases inflamáveis é muito pouca para a presença persistente de chama, e o combustível carbonizado queima lentamente. Ele só fica incandescente e depois continua a arder sem chama.
Temperaturas para a combustão
Assumindo condições de combustão perfeitas, como uma combustão adiabática(sem perda de calor) e completa, a temperatura da combustão pode ser determinada. A fórmula que leva a essa temperatura é baseada na primeira lei da termodinâmica e se aproveita do fato que o calor da combustão (calculado a partir do valor de aquecimento do combustível) é usado inteiramente para aquecer o combustível e o gás (ex: oxigênio ou ar)
No caso de combustíveis fósseis queimados no ar, a temperatura de combustão depende:
do valor de aquecimento
da proporção do ar em relação ao combustível ( )
da capacidade térmica do combustível e do ar
as temperaturas de entrada do ar e combustível
A temperatura de combustão adiabática aumenta para:
valores de aquecimento mais altos
temperaturas de entrada mais altas
proporções entre o ar e o combustível tendendo para 1.
Normalmente, a temperatura de combustão adiabática para o carvão mineral é por volta de 1500 °C (para temperaturas de entrada e temperaturas do ambiente e ), cerca de 2000 °C para o óleo e 2200 °C para o gás natural.
Análise por combustão
A análise da combustão é um processo usado para determinar a composição de um composto orgânico. Na combustão incompleta também não há chamas.
Ver também
Fogo
Combustão humana espontânea
Teoria do flogisto
Aquecimento global
Reações químicas
Fogo | 56,949 |
570 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Consumo | Consumo | O consumo é uma atividade económica (uma das principais, ao lado da produção, distribuição, repartição dos rendimentos e acumulação) que consiste na utilização, destruição ou aquisição de bens ou serviços. Este ato pode ser efetuado pelas famílias, empresas ou outros agentes económicos, tornando-se estes consumidores, permitindo também satisfazer as respectivas necessidades.
Tipos de consumo
Consumo essencial e supérfluo
Tendo em conta a natureza das necessidades satisfeitas, os consumos podem classificar-se em essenciais e supérfluos. Os consumos essenciais referem-se à satisfação das necessidades primárias, ou à compra e utilização de bens indispensáveis à nossa sobrevivência, como os alimentos, o vestuário e a educação. Pelo contrário, o consumo supérfluo ou de luxo assenta na satisfação de necessidades secundárias ou terciárias, ou à aquisição e utilização de bens dispensáveis à nossa vida, como os cosméticos.
Consumo individual e coletivo
Outra forma de distinguir os vários tipos de consumo prende-se com o beneficiário do consumo. Um consumo que é efetuado individualmente, como por exemplo a compra de uma camisola ou a ingestão de alimentos por parte de um indivíduo, é considerado consumo individual, pois o consumo irá apenas satisfazer a necessidade de um indivíduo. É, pelo contrário, considerado um consumo coletivo, um consumo que é efetuado simultaneamente por vários indivíduos, e que irão satisfazer necessidades coletivas. O consumo de serviços públicos, como os serviços de saúde, de educação ou de justiça, constituem exemplos deste tipo de consumo.
Consumo privado e público
Há ainda classificações do consumo que têm como base o autor do ato de consumir. Neste caso, são duas: o consumo privado e o consumo público. Enquanto que o consumo privado é efetuado por particulares—famílias e empresas—, o consumo público é efetuado pelas Administrações Públicas, como por exemplo o Estado.
Consumo final e intermédio
Quanto a esta classificação, que se refere à finalidade do próprio consumo, podemos distinguir entre consumo final e consumo intermédiario. No que toca ao consumo final, este prende-se com o facto de o consumo ter como intuito a satisfação direta das necessidades dos agentes em questão, e cujos bens não sofrerão qualquer transformação. Este ato é normalmente efetuado pelas famílias. O consumo intermédio é, contrariamente, feito normalmente pelas empresas, e refere-se à utilização de bens que sofrerão transformações, e que serão incorporados nos bens finais—bens de consumo final. A compra de alimentos por parte de famílias e a compra de matérias-primas para fazer bolos por parte de empresas, por exemplo, são respetivamente consumos finais e intermédios.
Consumo sustentável
O consumo sustentável ou responsável diz respeito ao consumo de bens respeitadores do ambiente. Incluem-se nesta classificação não só o consumo de produtos reciclados, mas também a rejeição de produtos baseados em recursos não renováveis e a rejeição de bens nocivos, se bem que estes dois últimos não se enquadram perfeitamente no conceito de "consumo", sendo atos assentes na responsabilidade do consumidor.
Ver também
Anticonsumismo
Consumismo
Consumismo conspícuo
Defesa do consumidor
Educação financeira
Macroeconomia
Agregados macroeconômicos
Teoria do consumidor | 51,096 |
572 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1lculo%20vetorial | Cálculo vetorial | configura uma área da matemática que trata da diferenciação e integração de campos vectoriais, geralmente no espaço euclidiano, . O termo "Cálculo vectorial" frequentemente é usado erroneamente como sinônimo de cálculo multivariável, área que o abrange, assim como diferenciação parcial e integrais múltiplas. O Cálculo vectorial possui um importante papel na geometria diferencial e no estudo de equações diferenciais parciais. Ele é extensivamente utilizado em Física e Engenharia, mais explicitamente na descrição de campos eletromagnéticos, campos gravitacionais e mecânica dos fluidos.
História
O Cálculo vectorial foi desenvolvido a partir da análise quaterniônica por Josiah W. Gibbs e Oliver Heaviside em torno do final do século 19. Grande parte de sua notação e terminologia foi estabelecida por Gibbs e Edwin B. Wilson, em seu livro Vector Analysis, publicado em 1901.
Definições e objetos
Campo escalar
Um campo escalar associa um escalar a todo ponto no espaço. O escalar pode ser tanto um número matemático ou uma quantidade física.Campos escalares têm de ser independentes de coordenadas, significando que quaisquer dois observadores usando o mesmo sistema de unidades concordarão no valor do campo em um mesmo ponto absoluto no espaço (ou espaço tempo) quaisquer que sejam seus respectivos pontos de origem. Campos escalares são comumente representados pelos campos de temperatura, pressão, potencial gravitacional, potencial elétrico e magnético.
Campo vectorial
Um campo vectorial ou campo de vectores é uma construção em cálculo vectorial que associa um vector a todo ponto de uma variedade diferenciável (como um subconjunto do espaço euclidiano, por exemplo). Isso é, um campo de vectores é uma função vectorial que associa um vector a cada ponto do espaço , generalizadamente dada por .
Campos vectoriais são geralmente utilizados na física para indicar, por exemplo, a velocidade e a direção de um fluido ou um corpo se movendo pelo espaço, ou o comprimento e direção de alguma força, tal como a força magnética ou gravitacional, bem como o campo elétrico e o campo magnético relacionando as componentes ponto a ponto.
Comumente são representados os campos vectoriais em apresentações mais simplórias, em planos, representações 3D, no entanto campos vetoriais são formados por um número infinito de vetores o que torna exemplos mais complexos com representação apenas por recursos gráficos computacionais.
Vectores e pseudo vectores
Em tratamentos mais rigorosos, pode-se distinguir campos pseudovectoriais e campos pseudoescalares, os quais são idênticos a campos vectoriais e campos escalares, com a exceção de que seus sinais são trocados sob uma circunstância de reversão de orientação.
O rotacional de um campo vectorial, por exemplo, é considerado um campo pseudovectorial e, se seu sinal é alterado, o rotacional apontará na direção oposta.
Essa distinção é esclarecida e elaborada na álgebra geométrica, como descrita abaixo.
Álgebra vectorial
As operações algébricas em Cálculo vectorial são referidas como álgebra vectorial, sendo definida para um espaço vectorial e globalmente aplicada a um campo vectorial. As operações algébricas elementares são:
Operadores e teoremas
Artigo principal: Identidades do cálculo vectorial
Operadores diferenciais
Artigo principal: Gradiente, Divergente, Rotacional e LaplacianoO cálculo vectorial estuda diferentes operadores diferenciais definidos em campos escalares ou vectoriais, que geralmente são expressados em termos do operador del (), também conhecido como "nabla". Os três operadores vectoriais elementares são:
Um campo vetorial F diz-se conservativo quando existe um campo escalar tal que . Diz-se, neste caso, que é o potencial associado a F .
Um campo vetorial F diz-se solenoidal quando . E se F é solenoidal, existe um campo vetorial A tal que .
Um campo vetorial F diz-se irrotacional quando . E assim sendo conservativo, ou seja, e
Naturalmente, os dois operadores de Laplace também são muito utilizados:
Teoremas de integrais
Os três operadores vectoriais elementares possuem teoremas correspondentes que generalizam o teorema fundamental do cálculo para dimensões superiores:
Em duas dimensões, os teoremas da Divergência e do rotacional reduzem-se ao Teorema de Green:
Aplicações do cálculo vectorial
Aproximação linear
A Aproximação linear consiste em um recurso utilizado que substitui uma função de maior complexidade por outra função, linear, que apresenta uma imagem semelhante na vizinhança do ponto analisado. Dada uma função diferenciável com valores reais, é possível aproximar para próximo de através da relação .
O lado direito representa a equação do plano tangente ao gráfico de em .
Otimização
Para uma função continuamente diferenciável de múltiplas variáveis reais, um ponto configura um ponto crítico se todas as derivadas parciais da função em P são iguais a zero ou, em outras palavras, se o seu gradiente é nulo. Os valores críticos são os valores da função nos pontos críticos.
Se a função é suave, ou pelo menos continuamente diferenciável duas vezes, o ponto crítico pode ser tanto um máximo local, um mínimo local ou um ponto de sela.
Gradiente de um Campo
O conceito de gradiente na Física está intrinsecamente associado ao conceito de campos conservativos e de função potencial, na matemática também se define campo vetorial conservativo. No que se refere à Física, temos campos conservativos relacionados a campos que conservam a energia do sistema, ou seja, não há perdas de energia, a exemplo de dissipação por atrito ou efeito joule. Dessa forma, dada uma função potencial , basta calcular o gradiente do mesmo para encontrar o campo conservativo associado à . .
Sendo uma função explícita de x,y,z
- Gradiente de Potenciais Centrais
Muitos modelos de potenciais físicos são considerados centrais, ou seja, possuem uma função potencial que corresponde a uma função implícita de algumas variáveis (=), tomando elas como x,y,z, podemos aplicar regra da cadeia para chegar as seguintes expressões:
A soma das derivadas em relação as componentes da função retoma o gradiente da função:
Modelo de Condução Térmica
O fluxo de calor q” (taxa de calor por unidade de área) depende da área onde ele cruza, portanto possui uma natureza vetorial.
A taxa de calor por unidade de área que cruza uma superfície cuja normal é n, é função do gradiente de temperatura, , e da constante de proporcionalidade, k .
Como temos fluxo de calor na direção x e na direção y podemos escrever:
E dessa forma chegamos a equação de Fourier para fluxo de calor. Com o fluxo dependendo do gradiente de temperatura e da constante k:
Utilizando o balanço de energia abaixo:
Se o sistema se encontra em regime permanente () e não possui geração interna de calor () temos as seguintes constatações:
Modelo de Transferência de massa
A equação diferencial governante é obtida fazendo um balanço diferencial sobre um elemento cartesiano.
{taxa molar de a que entra no volume de controle} - {taxa molar de a que sai do volume de controle} + {taxa molar de a gerada no volume de controle} = { taxa molar de a que acumula no volume de controle}.
Dessa forma, temos:
Onde:
é o termo de geração de massa (reação química);
é o termo de acúmulo;
é o fluxo molar de a.
Dividindo pelo volume e fazendo o limite pra zero, temos:
Da definição de derivada, podemos concluir:
Onde podemos simplificar:
Assim, temos a Equação governante da Transferência de Massa:
Condições iniciais
Em t=0, , ;
Em t=0, , ;
onde é a fração molar de a.
Ou seja, as condições iniciais são de concentração e fração molar constante.
Condições de contorno
a) Condição de contorno de primeira ordem (especifica a variável)
Em e t>0, , ou (conhecidos e constantes):
Se a solução é pura de a: , e ;
Se a solução é mistura de a e b: , e .
b) Condição de contorno de impermeabilidade (em superfícies isoladas ou simétricas)
Em e t>0,
c) Condição de contorno de superfície reativa
Para uma reação química qualquer a + c -> 2b:
Se a reação é instantânea, ou seja ocorre rapidamente em , dizemos que todo componente a é consumido para formam B, isto é e . A estequiometria da reação vai fornecer a relação entre e
, logo para a reação hipotética:
, e
Se a reação química é lenta, logo, todo componente a não é consumido na fronteira, precisamos conhecer a cinética da reação:
, onde é a ordem de reação e é a constante da reação.
d) Condição de contorno convectiva em uma superfícieEm e t>0,
Física e engenharia
Cálculo vectorial é especialmente útil no estudo de:
Centro de massa
Teoria clássica dos campos
Cinemática
Equações de Maxwell
Teoria Eletromagnética
Mecânica dos Flúidos
Condução térmica
Ver também
Álgebra linear
Teorema de Stokes
Teorema da Divergência
Identidades de Green
Integral de superfície
Tensor
Bibliografia
Chen-To Tai (1995). A historical study of vector analysis. Technical Report RL 915, Radiation Laboratory, University of Michigan.
Barry Spain (1965). Vector Analysis. 2nd edition.
Chen-To Tai (1995). A historical study of vector analysis. Technical Report RL 915, Radiation Laboratory, University of Michigan.
Irene Strauch, 2008, Porto Alegre. Análise Vetorial. Porto Alegre: Departamento de Matemática Ufrgs, 2008.
Incropera, Frank, 2014. Fundamentos de Transferência de Calor e Massa. Editora LTC.
Referências
§ Esta página foi traduzida e adaptada da página análoga norte-americana.
§ Projeto REAMAT. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONDUÇÃO. http://www.fem.unicamp.br/~franklin/EM524/aula_em524_pdf/aula-23.pdf<
Cálculo vetorial | 7,366 |
573 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerveja | Cerveja | A cerveja (do gaulês, através do latim servisia) é uma bebida produzida a partir da fermentação de cereais, principalmente a cevada maltada. Acredita-se que tenha sido uma das primeiras bebidas alcoólicas que foram criadas pelo ser humano. Atualmente, é a terceira bebida mais popular do mundo, logo depois da água e do café. É a bebida alcoólica mais consumida no mundo atualmente.
História
Historicamente, a cerveja já era conhecida pelos antigos sumérios, egípcios, mesopotâmios e iberos, remontando, pelo menos, a A agricultura surgiu na Mesopotâmia em um período entre a revolução do Neolítico e a Idade dos Metais. A mais antiga lei que regulamenta a produção e a venda de cerveja é a Estela de Hamurabi, que data de Nela, se condena à morte quem não respeita os critérios de produção de cerveja indicados. Incluía várias leis de comercialização, fabricação e consumo da cerveja, relacionando direitos e deveres dos clientes das tabernas. O Código de Hamurabi também estabelecia uma ração diária de cerveja para o povo da Babilônia: 2 litros para os trabalhadores, 3 para os funcionários públicos e 5 para os administradores e o sumo sacerdote. O código também impunha punições severas para os taberneiros que tentassem enganar os seus clientes.
A notícia mais antiga que se tem da cerveja vem de a Desta época, arqueólogos encontraram menção no Hino a Ninkasi, a deusa da cerveja, de que os sumérios já produziam a bebida. Já na Babilônia dá-se conta da existência de diferentes tipos de cerveja, originadas de diversas combinações de plantas e aromas, e o uso de diferentes quantidades de mel. Mesopotâmios estavam bebendo cerveja de vasos individuais há 3.500 anos.
Posteriormente, no antigo Egito, a cerveja, segundo o escritor grego Ateneu de Náucrates (), teria sido inventada para ajudar a quem não tinha como pagar o vinho. Inscrições em hieróglifos e obras artísticas testemunham o gosto deste povo pelo henket ou zythum, apreciado por todas as camadas sociais. Até um dos faraós, , passou a ser conhecido como "faraó-cervejeiro" após doar, aos sacerdotes do Templo de Amon, 466 308 ânforas ou aproximadamente um milhão de litros de cerveja provenientes de suas cervejarias.
Praticamente qualquer açúcar ou alimento que contenha amido pode, naturalmente, sofrer fermentação alcoólica. Assim, bebidas semelhantes à cerveja foram inventadas de forma independente em diversas sociedades em redor do mundo. Na Mesopotâmia, a mais antiga evidência referente à cerveja está numa tabua sumeriana com cerca de 6000 anos de idade na qual se veem pessoas tomando uma bebida através de juncos de uma tigela comunitária. A cerveja também é mencionada na Epopeia de Gilgamesh. Um poema sumeriano de 3900 anos homenageando a deusa dos cervejeiros, Ninkasi, contém a mais antiga receita que sobreviveu, descrevendo a produção de cerveja de cevada utilizando pão.
A cerveja teve alguma importância na vida dos primeiros romanos, mas, durante a República Romana, o vinho destronou a cerveja como a bebida alcoólica preferida, passando esta a ser considerada uma bebida própria de bárbaros. Tácito, em seus dias, escreveu depreciativamente acerca da cerveja preparada pelos povos germânicos.
Na Idade Média, vários mosteiros fabricavam cerveja, empregando diversas ervas para aromatizá-la, como mírica, rosmarino, louro, sálvia, gengibre e o lúpulo, este utilizado até hoje e introduzido no processo de fabricação da cerveja entre os anos 700 e 800. O uso de lúpulo para dar o gosto amargo da cerveja e para preservá-la é atribuída aos monges do Mosteiro de San Gallo, na Suíça. Houve um tempo em que o papel da levedura na fermentação era desconhecido. Na Era Viquingue, cada família tinha sua própria vara de cerveja que eles usavam para agitar a bebida durante a produção. Estas varas de cerveja eram consideradas herança de família, porque era o uso da vara que garantia que a cerveja daria certo. Hoje em dia, sabe-se que estas varas continham uma cultura bacteriana de levedura. A Reinheitsgebot ("Lei da Pureza da Cerveja" Alemã de 1516) — definia os únicos materiais permitidos para fabricação de cerveja como sendo malte, lúpulo e água. Com a descoberta do fermento e de sua função no final da década de 1860 por Louis Pasteur, a lei teve que ser alterada.
A maior parte das cervejas, até tempos relativamente recentes, eram do tipo que agora chamamos de Ales. As Lagers foram descobertas por acidente no , quando a cerveja era estocada em frias cavernas por longos períodos; desde então, elas ultrapassaram largamente as cervejas tipo ale em volume. O lúpulo é cultivado na França desde o . O mais antigo escrito remanescente a registrar o uso do lúpulo na cerveja data de 1067 pela abadessa Hildegarda de Bingen: "Se alguém pretender fazer cerveja da aveia, deve prepará-la com lúpulo." No , na Inglaterra, a fermentação sem lúpulo podia dar origem a uma bebida tipo ale — o uso do lúpulo torná-la-ia uma cerveja. A cerveja com lúpulo era importada para a Inglaterra (a partir dos Países Baixos) desde cerca de 1400, em Winchester. O lúpulo passou a ser cultivado na ilha a partir de 1428. A Companhia dos Fabricantes de Cerveja de Londres foi longe a ponto de especificar que "nenhum lúpulo, ervas, ou coisa semelhante será colocada dentro de nenhuma ale ou bebida alcoólica enquanto a ale estiver sendo feita — mas somente um licor (água), malte e uma levedura". Contudo, por volta do , "ale" veio a referir-se a qualquer cerveja forte, e todas as ales e cervejas continham lúpulo.
No idioma eslavo, a cerveja é chamada piwo (pronuncia-se "pivo"), do verbo pić (pronuncia-se "pítch"), "beber". Por isso, piwo pode ser traduzido como "bebida", o que demonstra a importância que lhe é concedida.
O Kalevala, poema épico finlandês coligido na forma escrita no mas baseado em tradições orais seculares, contém mais linhas sobre a origem da fabricação de cerveja do que sobre a origem do homem.
Em 2013, foi desenvolvido pela primeira vez sorvete e ovo de páscoa a partir de cerveja.
Etimologia
Existem vários pontos de vista:
Segundo Joan Corominas, cerveja vem do latim cervēsia, que, por sua vez, toma a palavra do gaulês, uma língua celta. A raiz celta parece ser um cognato do galês cwrw e do gaélico coirm.
Duboë-Laurence Philippe e Christian Berger sugerem que o francês cervoise viria de cerevisia, acrescentando, em seguida, que esta viria de Ceres, deusa romana da terra e dos cereais. Esta etimologia pertence a um gênero de etimologia de fantasia. Em todo caso, é amplamente aceito que "cereal" vem de cerealis, o que significa "pertencente à deusa Ceres", normalmente representada com espigas de trigo na mão.
Em todo caso, a raiz comum é facilmente perceptível em suas formas em português "cerveja", em espanhol cerveza, em catalão cervesa e em galego cervexa. Em outros idiomas europeus, são usados derivados da mesma raiz germânica, como a palavra alemã bier, o inglês beer, o francês bière e o italiano birra. Em inglês, também usa-se a palavra ale, equivalente a öl, a palavra escandinava para a bebida.
Ingredientes
Os ingredientes básicos da cerveja são: água; uma fonte de amido, tais como malte de cevada, capaz de ser sacarificado (convertidos em açúcares), então fermentados (convertido em álcool e dióxido de carbono); uma levedura de cerveja para produzir a fermentação, e o lúpulo. Uma mistura de fontes de amido pode ser usada, com uma fonte secundária de amido, como o milho ou arroz, sendo muitas vezes denominado um adjunto, especialmente quando utilizado quando o objetivo é obter uma cerveja mais leve e refrescante. Já a adjunção de outros cereais não malteados como a aveia e o centeio confere um caráter mais encorpado à cerveja.
Fontes de amido menos utilizadas incluem milheto, sorgo, raiz de mandioca na África, tubérculo de batata no Brasil e agave no México, entre outros.
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Água
As regiões têm água com componentes minerais diferentes. Como resultado, diferentes regiões foram inicialmente mais adequadas para se fazer certos tipos de cerveja, dando-lhes um caráter regional. Por exemplo, Dublin tem água dura adequada para se fazer stouts como a Guinness, enquanto que Plzeň tem água macia adequada para se fazer uma Bohemian Pilsner como a Pilsner Urquell.
As águas de Burton, na Inglaterra, contêm gipsita, que beneficia a fabricação de pale ales, a tal ponto que as cervejeiras que produzem Pale Ales acrescentam gesso na água em um processo conhecido como burtonização.
Malte de cevada
A fonte de amido em uma cerveja fornece o material fermentável e é um fator determinante no sabor da cerveja. A fonte de amido mais comum usada na cerveja é a cevada maltada. A cevada é maltada por imersão em água, permitindo que ele comece a germinação e em seguida seca-se o grão parcialmente germinado em um forno.
O grão maltado produz enzimas que convertem o amido nos grãos em açúcares fermentáveis,
diferentes tempos e temperaturas são utilizados para produzir cores diferentes de malte a partir do mesmo grão. Maltes escuros produzirão cervejas mais escuras.
Durante a preparação da cerveja, o malte é moído, remove-se o epicarpo (casca), e o grão é dividido em pedaços. Estas cascas permanecem com o grão durante a brassagem e atuam como um filtro natural durante a lavagem dos grãos, quando o mosto é separado do material insolúvel do grão.
Outros grãos maltados e não maltados (incluindo o milho, arroz, trigo, aveia, e centeio, e menos frequentemente, sorgo) podem ser utilizados. Nos últimos anos, alguns poucos fabricantes têm produzido cerveja sem glúten, feita com sorgo e sem malte de cevada, para aqueles que não podem consumir glúten provenientes de grãos como trigo, centeio, cevada e etc.
Cereais não maltados
Cereais não maltados são aqueles que não precisam passar pelo processo de maltação para estarem aptos ao uso para a produção de cerveja. Ou seja: eles são utilizados como são encontrados.
Historicamente, além da cevada outros cereais sempre foram utilizados na produção de cerveja. De acordo com a necessidade da receita, mestres cervejeiros experimentavam outros ingredientes para atingir diferentes sabores, aromas e texturas. Hoje, especula-se que cerca de 70% das cervejas produzidas no mundo levam cereais não maltados.
Entre os exemplos mais notáveis, estão o trigo, o milho, o arroz, o centeio e a aveia.
Trigo
Um dos cereais mais famosos do mundo cervejeiro, pode ser utilizado maltado ou não. Bastante utilizada na Alemanha — ironicamente, o país que criou a Lei da Pureza — e nas Witbier belgas. Sua presença na receita torna a bebida turva, cremosa e refrescante.
Milho
Amplamente usado nas Américas, o milho é um cereal que acrescenta açúcares fermentáveis sem aumentar o corpo da bebida. É empregado em receitas cervejeiras há muito tempo e por muitas culturas: os andinos já utilizavam o cereal para produzir a Chicha, os alemães para retirar opacidade da bebida e os belgas o empregavam para criar receitas mais leves. Seu uso confere, geralmente, propriedades mais leves para a cerveja, tornando-a mais apropriada para climas tropicais.
Arroz
É um cereal muito utilizado no Japão, China e Estados Unidos. Também confere leveza à cerveja, além de uma coloração dourada e brilhante. Atualmente, além das cervejarias orientais, o arroz vem ganhando espaço entre as cervejarias artesanais. Cervejarias também usam a variedade vermelha do cereal para atingir diferentes colorações.
Centeio
Garante coloração avermelhada para a cerveja, além de cremosidade e sabores levemente picantes. Pela sua intensidade, é utilizado em pequenas quantidades na cerveja. Atualmente vem ganhando bastante espaço na receita de cervejas intensas, como as IPAs (India pale ales) e as Pale Ales.
Aveia
Por ser um cereal rico em proteínas, óleos e gordura, geralmente não é muito utilizada na produção de cerveja. Mesmo assim, existem exemplares muito premiados ao redor do mundo, como as Oatmeal Stouts. Hoje, a Inglaterra é o país que mais a utiliza.
Lúpulo
O lúpulo que é utilizado na fabricação de cervejas na verdade é a flor da espécie vegetal Humulus lupulus. A planta é dioica, ou seja, possui os sexos separados, mas somente as flores da planta fêmea são utilizadas como ingredientes da bebida. Nessas flores, existem glândulas amareladas entre as pétalas, chamadas lupulinas, que produzem resinas e óleos que são responsáveis pelo aroma e amargor que é conferido à cerveja. Esse sabor amargo, que serve para equilibrar a doçura do malte, é medido por meio da Escala Internacional de Unidades de Amargor. O lúpulo atribui aromas e sabores cítricos e florais à cerveja. Além disso, essa flor tem um efeito antibiótico que favorece a atividade da Saccharomyces cerevisiae (levedura da cerveja) sobre microorganismos menos desejáveis e ajuda na retenção da espuma da bebida. A acidez do lúpulo também age como um conservante natural da bebida. Graças a todas essas características, a maior parte do lúpulo utilizado comercialmente é usado na fabricação de cerveja.
A primeira menção histórica do uso do lúpulo na cerveja foi de 822 em escrituras de um mosteiro feitas por Alhard the Elder, também conhecido como Adelardo de Corbie,. embora normalmente a data mencionada para o cultivo generalizado de lúpulo para uso em cerveja date do
Gruit
Antes desse século, a cerveja era aromatizada com outras plantas, como a glechoma hederacea por exemplo. As combinações de ervas aromáticas, frutos diversos e até mesmo ingredientes como o absinto eram combinados em uma mistura conhecida como Gruit. Atualmente algumas cervejas, como a Fraoch' da empresa Scottish Heather Ales e Cervoise Lancelot da empresa French Brasserie-Lancelot, utilizam outras plantas além de lúpulo para condimentação. No Brasil, estudos já foram conduzidos para investigar a viabilidade do uso de diversos saborizantes (quina, alcachofra, erva mate, cacau, café verde, etc.) como alternativas ao lúpulo.
Levedura ou fermento
A levedura é um fungo responsável pela fermentação em cerveja. A levedura metaboliza os açúcares extraídos a partir de grãos, o que produz o álcool e dióxido de carbono, e, assim, se transforma o mosto em cerveja. Além de fermentar a cerveja, a levedura influencia o caráter e sabor. Um dos tipos de levedura mais usados para fazer cerveja é a Saccharomyces cerevisiae. Também são usadas Brettanomyces, para fermentar Lambics, e Torulaspora delbrueckii, para fermentar a weissbier da Baviera. Antes que a ação da levedura na fermentação fosse entendida, a fermentação era feita com leveduras selvagens encontradas ao ar livre. Alguns tipos de cerveja como as Lambics seguem esse método até hoje, mas a fermentação mais moderna acrescenta culturas de levedura puras.
Agentes clarificantes
Alguns fabricantes adicionam um ou mais agentes clarificantes na cerveja, o que tipicamente precipita (coleta como um sólido) para fora da cerveja, juntamente com os sólidos de proteínas que seriam encontradas no produto final. Este processo dá à cerveja uma aparência brilhante e límpida, em vez do aspecto turvo de certos estilos, como a weissbier.
Alguns exemplos de agentes clarificantes são: isinglass (em português, ictiocola), obtido a partir da bexiga natatória de peixes; irish moss, uma alga marinha; carragenina, obtida da alga Kappaphycus cottonii; Polyclar, artificial; e gelatina
Preparação
O objetivo do processo é converter a fonte de amido em um líquido açucarado chamado mosto e depois converter o mosto em uma bebida alcoólica conhecida como a cerveja, em um processo de fermentação efetuada por leveduras. Há várias etapas no processo de fabricação de cerveja, que pode incluir maltagem, brassagem, lavagem, fervura, fermentação, maturação, filtragem e embalagem.
Maltagem
Maltagem é o processo onde os grãos são preparados para a fabricação de cerveja. A maltagem é dividida em três etapas, a fim de ajudar a liberar os amidos do grão. Em primeiro lugar, o grão é adicionado a um tanque com água e permanece de molho por aproximadamente 40 horas. Durante a germinação, o grão é espalhado no chão da sala de germinação por cerca de 5 dias. A parte final da maltagem é a secagem. Aqui, o malte passa por uma temperatura muito elevada de secagem em forno. A alteração da temperatura é gradual de modo a não perturbar ou danificar as enzimas no grão. Quando a secagem está completa, os grãos são agora denominados de malte, e serão moídos ou triturados para separar os grãos e expor o cotilédone, que contém a maior parte dos carboidratos e açúcares; isso faz com que seja mais fácil de extrair os açúcares durante brassagem. Dentre os maltes, o de cevada é o mais frequente e largamente usado devido ao seu alto conteúdo de enzimas, mas outros cereais maltados ou não maltados são também usados na fabricação de cerveja, inclusive: trigo, arroz, milho, aveia e centeio.
Brassagem
Brassagem converte os amidos liberados durante a fase de maltagem em açúcares que podem ser fermentados. O grão moído é misturado com água quente num recipiente grande. Neste recipiente, o grão e a água são misturados em conjunto para criar um mosto de cereais. Durante a brassagem, as enzimas que existem naturalmente no malte convertem os amidos (carboidratos de cadeia longa) no grão em moléculas menores ou açúcares simples (mono-, di-, e tri-sacarídeos). Esta "conversão" é chamada de sacarificação e cada receita possui sua própria curva de temperatura para extrair as quantidades desejáveis dos diferentes compostos, variando de 50 a 67 graus Celsius. O resultado do processo de brassagem é um líquido rico em açúcar ou "mosto", que é então filtrada através da parte inferior do recipiente num processo conhecido como drenagem do mosto. Antes da drenagem, a temperatura do mosto pode ser aumentada até cerca de 75 graus Celsius (conhecido como um mashout) para desativar as enzimas. Água adicional pode ser liberada sobre os grãos para extrair os açúcares adicionais.
Fervura
Ferver o extrato de açúcar do malte, chamado mosto, assegura a sua esterilização, e, portanto, impede uma série de infecções. Durante a fervura o lúpulo é adicionado, o qual contribui para amargor, sabor, aroma e compostos para a cerveja. O calor da fervura, faz com que as proteínas no mosto coagulem e o pH do mosto caia. Finalmente, os vapores produzidos durante a fervura volatilizam sabores indesejados, incluindo precursores do o dimetilsulfureto (DMS). A fervura deve ser realizada de modo que seja uniforme e intensa. A fervura dura entre 15 e 120 minutos, isso depende da intensidade da fervura, o tempo de adição de lúpulo, e volume de água a ser evaporada. Durante a fervura, ocorrem reações químicas com os componentes do lúpulo, entre eles os alfa ácidos. Alfa ácidos têm uma leve efeito antibiótico / bacteriostático contra bactéria Gram-positiva, e favorecem a atividade exclusiva da levedura durante a fermentação da cerveja. Os alfa ácidos são responsáveis pelo sabor amargo na cerveja, porém o mesmo é insolúvel em água até ser isomerizado pela ebulição do mosto. Quanto maior o tempo de ebulição, maior o percentual de isomerização e mais amarga a cerveja será. No entanto, os óleos que contribuem com sabores e aromas característicos são voláteis e se perdem em grande quantidade durante longas fervuras. Há muitas variedades de lúpulo, mas estes podem ser divididos em duas categorias gerais: amargor e aroma. Lúpulos de amargor são ricos em ácidos alfa, cerca de 10 por cento de seu peso. Lúpulos de aroma contém geralmente menos, cerca de 5 por cento e produzem um sabor e aroma mais desejável à cerveja. Muitas variedades estão no meio-termo e são utilizadas para ambos os fins. Lúpulos de amargor são acrescentados no início da ebulição e fervidos durante cerca de uma hora. Lúpulos de aroma são adicionados ao final da fervura e normalmente fervidos por 15 minutos ou menos. Adicionando-se diferentes variedades de lúpulo em diferentes momentos durante a fervura, um perfil mais complexo pode ser alcançado, fazendo com que a cerveja apresente um equilíbrio entre amargor, sabor e aroma.
Whirlpool
No final da fervura, o mosto é colocado em movimento espiral. O assim chamado paradoxo das folhas de chá obriga os sólidos densos (proteínas coaguladas, matéria vegetal a partir de lúpulo) a formar um cone no centro do tanque de whirpool. Na maior parte das grandes cervejarias, existe um tanque separado para whirlpool. Estes tanques têm um diâmetro grande para facilitar a sedimentação, fundo plano ou uma inclinação de 1 ou 2 graus na direção da saída, uma entrada tangencial perto do fundo, e uma saída na parte inferior perto da borda externa do turbilhão. O recipiente não deve ter protuberâncias internas que possa diminuir a rotação do líquido. Cervejarias menores costumam usar o recipiente de fervura para fazer o whirpool.
Hopback
A hopback é uma câmara selada que é inserida entre o recipiente de fervura e do resfriador de contra-fluxo do mosto. Lúpulo em flor é adicionado à câmara, o mosto quente passa através dele, e imediatamente depois arrefecido no resfriador de mosto antes de entrar no câmara de fermentação. Esse processo facilita a retenção máxima de compostos voláteis de aroma do lúpulo que normalmente seriam perdidos. No Reino Unido, é prática comum o uso de hopback para clarificar o mosto. Este processo tem o mesmo efeito que o whirpool, mas funciona de uma maneira completamente diferente. Os dois processos são muitas vezes confundidos, mas são funcionalmente, bem diferente. Enquanto o whirpool utiliza força centrífuga, o hopback utiliza uma camada de flores de lúpulo fresco em um espaço confinado para agir como um filtro para remover o trub.
Resfriamento do mosto
Depois do whirpool, o mosto deve ser resfriado para temperaturas de fermentação (20 °C a 26 °C) antes da levedura ser adicionada. Em fábricas de cerveja modernas, isto é conseguido através de um trocador de calor de placas. Um trocador de calor de placas tem várias placas estriadas que formam dois caminhos distintos. O mosto é bombeado para dentro do trocador de calor, e passa através de cada dois intervalos entre as placas. O meio de arrefecimento, geralmente água, passa através dos outros intervalos. Os sulcos nas placas asseguram um fluxo turbulento. Um bom trocador de calor pode diminuir a temperatura de 95 °C para 20 °C enquanto aquece o meio de arrefecimento de cerca de 10 °C até 8 °C. As últimas placas frequentemente utilizam um fluido de arrefecimento, que pode ser arrefecido abaixo do ponto de congelamento, o que permite um controle mais fino sobre a temperatura do mosto de saída, e também permite o arrefecimento para cerca de 10 graus Celsius. Após o resfriamento, oxigênio é muitas vezes dissolvido no mosto para revitalizar o fermento e ajudar em sua reprodução.
Enquanto ferve, é importante se recuperar parte da energia usada para ferver o mosto. Em seu caminho para fora da cervejaria, o vapor criado durante a fervura é passa por uma serpentina pela qual flui água não aquecida. Ao ajustar a velocidade de fluxo, a temperatura de saída da água pode ser controlada. Isto também é muitas vezes feito utilizando um trocador de calor de placas. Essa água é então armazenado para uso na próxima brassagem, na limpeza de equipamento, ou sempre que necessário.
Outro método comum de recuperação de energia ocorre durante o arrefecimento do mosto. Quando a água fria é usada para arrefecer o mosto num trocador de calor, a água é aquecida significativamente. Numa fábrica de cerveja eficiente, a água passa através do trocador de calor a uma taxa definida para maximizar a temperatura da água ao sair. Esta água quente é agora em seguida armazenada num tanque de água quente para uso posterior.
Fermentação
Fermentação, na fabricação de cerveja, é a conversão de carboidratos para dióxido de carbono e de álcoois ou ácidos orgânicos utilizando leveduras, bactérias, ou uma combinação das mesmas, sob condições anaeróbicas. Uma definição mais restrita de fermentação é a conversão química dos açúcares em etanol.
Depois que o mosto é arrefecido e oxigenado — geralmente com ar estéril — a levedura é adicionada a ele, e então começa a fermentar. É durante esta fase, que açúcares obtidos a partir do malte são metabolizados em álcool e dióxido de carbono, e o produto pode ser chamado pela primeira vez de cerveja. A fermentação acontece em tanques que vêm em todos os tipos de formas, desde enormes cilindro-cônicos até tonéis de madeira.
Condicionamento
Depois da fermentação inicial ou primária, a cerveja é agora condicionada, maturada ou envelhecida, em uma de várias formas, que pode levar entre 2 a 4 semanas, vários meses ou vários anos, dependendo do tipo de cerveja. A cerveja é geralmente transferida para um segundo recipiente, de modo que já não se encontre mais exposta à levedura morta e outros detritos (também conhecido como "trub") que tenham decantado no fundo do fermentador principal. Isto evita a formação de sabores indesejáveis e compostos prejudiciais, tais como os acetaldeídos.
Fermentação secundária
Durante a fermentação secundária, a maior parte da levedura remanescente irá depositar-se no fundo do fermentador, produzindo um produto menos turvo.
Fermentação em garrafa
Algumas cervejas sofrem uma fermentação na garrafa, dando carbonatação natural. Esta pode ser uma segunda ou terceira fermentação. Elas são engarrafadas com uma população de levedura viável em suspensão. Se não houver açúcar residual fermentável, açúcar pode ser adicionado, na proporção de 8 gramas por litro de bebida. A fermentação resultante gera dióxido de carbono que fica preso dentro da garrafa, permanecendo na solução e proporcionando carbonatação natural.
Lagering
Lagers são envelhecidas perto de temperaturas de congelamento durante 1–6 meses, dependendo do estilo. Este envelhecimento a frio serve para reduzir o teor de compostos sulfurosos produzidos pela levedura de baixa fermentação e para produzir um produto final com sabor mais limpo, com menos ésteres. Sabores desagradáveis, tais como compostos fenólicos, tornam-se insolúveis na cerveja fria e o sabor da cerveja torna-se mais suave. Durante esse tempo, a pressão é mantida nos tanques.
Kräusening
Kräusening é um método de condicionamento em que mosto fermentando é adicionada à cerveja acabada. A levedura ativa irá reiniciar fermentação na cerveja acabada, e assim introduzir novo dióxido de carbono, o tanque de condicionamento será então selado de modo que o dióxido de carbono seja dissolvido na cerveja produzindo certo nível de carbonatação. O método kräusening pode também ser usado para cervejas condicionadas em garrafa.
Embalagem
"Embalar" é colocar a cerveja dentro de recipientes para deixar a cervejaria. Normalmente, isso significa colocar a cerveja em garrafas, latas de alumínio ou barris. A maioria das cervejas são clarificadas pela filtragem, quando embalados em latas ou em garrafas. No entanto, cervejas condicionadas em garrafa retém um pouco de levedura, quer seja por não serem filtradas, ou por terem sido filtradas e, em seguida, adicionado-se levedura.
Estilos de cervejas
Old Ale
Tipo de cerveja escura inglesa de alta fermentação. Esses tipos de cervejas são envelhecidas por pelo menos dois anos antes de serem consumidas. A cerveja old ale geralmente tem um teor alcoólico de 6 por cento em volume, possuindo bom corpo e gosto estruturado.
Lager
Tipo de cerveja fermentada com uma levedura que trabalha melhor em temperaturas mais baixas. Tal levedura é chamada de levedura de baixa fermentação. Ao processo pelo qual a cerveja é maturada em temperaturas baixas (comumente em caves, cavernas ou adegas) por longos períodos de tempo, chamamos de lagering, do alemão lagern que significa armazemar.
Embora existam muitos estilos de lagers, a maioria delas é clara na cor, com alto teor de gás carbônico, de sabor moderadamente amargo e conteúdo alcoólico entre 3–6% por amostra. Os estilos de lager incluem: Bock, Doppelbock, Eisbock, Munchner Helles, Munchner Dunkel, Maibock, Dry Beer, Export, Märzen (feita somente para a Oktoberfest bávara), Pilsener e Schwarzbier (cerveja preta).
Ale
Tipo de cerveja produzida a partir de cevada maltada usando uma levedura que trabalha melhor em temperaturas mais elevadas. Tal levedura, conhecida como levedura de alta fermentação, fermenta a cerveja rapidamente, proporcionando um sabor frutado devido a maior produção de ésteres
Cervejas de fermentação alta, especialmente populares na Grã-Bretanha e Irlanda, incluindo as mild (meio amargas), bitter (amargas), pale ale (ale clara), porter (cerveja escura muito apreciada por estivadores) e stout (cerveja preta forte). Diferenças de estilo entre cervejas de fermentação alta são muito maiores do que aquelas encontradas entre as cervejas de baixa fermentação e muitos estilos são difíceis de categorizar. A cerveja comum da Califórnia, por exemplo, é produzida usando o fermento para lagers em temperaturas para ales. As cervejas à base de trigo são geralmente produzidas usando um fermento para ales e então armazenadas, às vezes com um fermento para lagers. A cerveja belga Lambic é produzida com fermentos selvagens e bactérias, nativos da região do vale do rio Zenne (Pajottenland), perto de Bruxelas.
Bebidas Relacionadas
Ao redor do mundo existem várias bebidas antigas e tradicionais feitas a partir da fermentação de grãos que são chamadas de cerveja. Na África existem várias cervejas étnicas feitas a partir do sorgo ou do milheto como o Oshikundu na Namibia e a Tella na Etiópia. Cerveja de banana é produzida em vários países africanos. A cerveja feita a partir da fermentação da banana recebe nomes diferentes em cada país: Mubisi (Uganda), Kasiksi (República Democrática do Congo), Urwaga (Quênia), Urwagwa (Burundi e Ruanda) e Mbege (Tanzânia).
O Quirguistão também possui uma cerveja feita a partir do milheto; possui baixo conteúdo alcóolico e se parece com mingau, chamando-se de "Bozo". Butão, Nepal e Tibete também usam o milheto na Chhaang, uma bebida popular semi-fermentada a partir do arroz e do milheto do leste dos Himalaias. Mais a leste na China encontra-se o Huangjiu e o Choujiu — bebidas tradicionais feitas de arroz.
Nos Estados Unidos a produção de cerveja de abóbora é uma tradição. Nos Andes existe a Chicha, feito de milho germinado; enquanto os povos indígenas do Brasil bebem o Cauim, uma bebida tradicional pré-cabralina feita a partir da mandioca (ver: História da cerveja no Brasil e Cerveja no Brasil) que é similar ao Masato no Peru.
Classificação das cervejas
O conceito moderno de estilo de cerveja é em grande parte baseado na obra do escritor Michael Jackson em seu livro de 1977 The World Guide To Beer em que ele categoriza cervejas de todo o mundo em grupos de estilo de acordo com os costumes locais e nomes. Em 1989, Fred Eckhardt publicou a obra The Essentials of Beer Style.. Embora o estudo sistemático dos estilos de cerveja seja um fenômeno moderno, a prática de distinguir entre diferentes variedades de cerveja é antiga, datando de pelo menos
O estudo do que constitui um estilo de cerveja pode envolver proveniência, a tradição local, ingredientes, e / ou impressão empírica, que é convencionalmente dividida em alguns elementos, normalmente — aroma, aparência, sabor e paladar. O sabor pode incluir o grau de amargor da cerveja devido a agentes de amargor, como lúpulo, cevada torrado, ou ervas, e da doçura do açúcar presente na cerveja.
Elementos dos estilos de cerveja
Cervejas podem ser categorizadas a partir de uma série de fatores.
Aparência
As características visuais que podem ser observados numa cerveja são cor, clareza e colarinho. A cor é geralmente transmitida pelos maltes utilizados, embora outros ingredientes podem contribuir para a cor de alguns estilos, tais como cervejas de fruta. Intensidade da cor pode ser medida por sistemas tais como EBC, SRM ou Lovibond.
Muitas cervejas são transparentes, mas algumas cervejas, tais como hefeweizen, podem ser turvas devido à presença de leveduras. Uma terceira variedade é a cor opaca ou quase opaca que existem em stouts, porters, schwarzbiers (cerveja preta) e outros estilos escuros. Tamanho e retenção do colarinho e o laço (marcas da espuma no copo) são também fatores na aparência da cerveja.
Aroma
O aroma de uma cerveja pode ser formado a partir dos maltes fermentáveis, a intensidade e o tipo de lúpulo, o álcool, os ésteres, e os vários componentes aromáticos outros que podem ser proporcionadas pela levedura, e outros elementos que podem derivar da água e ao processo de fabricação de cerveja.
Sabor
As características de sabor de uma cerveja podem vir do tipo e quantidade de malte utilizados, sabores transmitidos pela levedura, e intensidade do amargor. O amargor pode ser medido em uma escala internacional de unidades de amargor.
Sensação na boca
A sensação de uma cerveja na boca, tanto a partir da viscosidade do líquido e da carbonatação, também pode ser considerada como parte do estilo da cerveja. A cerveja com mais dextrinas parece mais viscosa na boca. O nível de carbonatação (ou nitrogênio) varia de um estilo de cerveja para o outro. Para algumas cervejas pode dar uma sensação cremosa, enquanto para outros, contribui para uma sensação de formigamento.
Força
A força da cerveja é um termo geral para a quantidade de álcool presente. Ela pode ser quantificada quer indiretamente através da medição do peso específico, ou, mais diretamente através da determinação da percentagem global de álcool na cerveja.
Densidade
A medição do peso específico da cerveja é utilizada para estimar a força de cerveja por medição da sua densidade. Várias escalas têm sido utilizadas para a medição da gravidade, incluindo o Plato, Baumé, Balling e escalas Brix, com a escala Plato sendo a medida moderna mais comum.
Esta abordagem baseia-se no fato de os açúcares dissolvidos e o álcool afetam a densidade de cerveja de modo diferente. Uma vez que os açúcares são convertidos em álcool durante o processo de fermentação, a densidade pode ser utilizada para estimar o álcool final. Na produção de cerveja, é feita uma distinção entre a gravidade original, a densidade do mosto antes da fermentação começar, e a densidade final do produto quando a fermentação foi concluída. Uma vez que a concentração de açúcares é diretamente proporcional à gravidade, a densidade original dá uma ideia do teor alcoólico do produto final. Após a fermentação, as diferenças entre as densidades finais e original indica a quantidade de açúcar convertidos em álcool, o que permite que a concentração do teor alcoólico seja calculado.
A densidade original de uma cerveja foi a base para determinar a tributação no Reino Unido e Irlanda a partir de 1880 até o final do . Na Europa Continental], a força de uma cerveja, em graus Plato é algumas vezes utilizada por uma fábrica de cerveja para distinguir uma determinada cerveja produzido em linha. Por exemplo, a cervejaria Rochefort produz três cervejas, todos diferentes na cor, sabor e aroma; e vende-as como Rochefort 6, Rochefort 8 e Rochefort 10, os números referentes às densidades originais das cervejas. Westvleteren Brewery, por sua vez, produz três cervejas, e as chama de Blonde, 8 e 12.
Há muitos tipos diferentes de cerveja. Uma descrição detalhada dos estilos de cerveja pode ser encontrada na página de Internet da Beer Judge Certification Program.
Copos de cerveja
Assim que a cerveja entra no copo, a sua cor, aroma e sabor são alterados, bem como a percepção do indivíduo que irá desfrutar a bebida, ou seja, a antecipação é afetada. Nuances escondidas, tornam-se mais pronunciadas, como o brilho das cores, afetando a experiência de beber cerveja. Estudos científicos mostram que a forma do copo afeta o desenvolvimento e a retenção da espuma. A espuma criada quando uma cerveja é servida funciona como uma barreira para alguns compostos da cerveja. Esses compostos que evaporam de cerveja para criar o seu aroma, tais como óleos do lúpulo, todos os tipos de subprodutos gerados na fermentação pela levedura, como o álcool, e esteres frutados, especiarias ou outras adições. Assim, um copo que promove uma retenção de espuma saudável pode melhorar a captura de certos compostos. E como diferentes níveis de retenção de espuma e apresentação são esperados em diferentes estilos de cervejas, diferentes estilos de copos podem ser usados em conformidade.
Flut ou Flauta
Em forma de flauta, são mais usados para beber espumantes e champanhes, mas são ideais para cervejas do tipo Faro, Lambic, Gueuze ou as champegnoises, como a belga Deus e a brasileira Lust. O fato de serem esguios possibilita que o creme demore mais para se dissipar, mantendo as qualidades da cerveja no copo.
Goblet ou cálice
Peças majestosas de trabalho. Os mais delicados também podem ter suas bordas decoradas com prata ou ouro ou ostentar esculturas. Alguns são concebidos para manter um colarinho de 2 centímetros. Isto é obtido, marcando o fundo na parte interior do copo, o que cria um ponto de nucleação de gás carbônico, e um fluxo de bolhas eterna, com uma perfeita retenção de espuma como resultado. Benefícios: Projetado para manter espuma. De boca larga para goles profundos. Ideais para as grandes trapistas belgas. Também podem ser usados com os estilos Dubbel, Tripel e Quadrupel. Variações de formato são encontradas com os nomes de Bolleke (copos da Leffe e Westmalle) e Trapist (copo da La Trappe), mas todos compartilham características como bocas largas e uma haste alongada.
Tulipa
Ideal para cervejas que possuem bastante creme, como a Duvel e outras Strong Ales belgas. O desenho é baixo e elegante, permitindo também observar a evolução da espuma. A Tulipa parece mais com uma taça de conhaque, porém com a boca do copo virada para fora. Benefícios: captura e aumenta compostos voláteis, enquanto induz e apoia grandes colarinhos. Ideal também para scottish ales, american double/imperial IPAs, barleywines, Belgian ales outras cervejas aromáticas.
Pint (Becker, Nonic, Tumbler)
Quase cilíndrico, com uma ligeira conicidade e boca larga. Há dois tamanhos padrão: a 16 onças (Tumbler EUA) ou o Imperial de 20 onças (Nonic), que tem uma ligeira crista em direção ao topo. A versão de 20 onças é o preferido para acomodar mais cerveja ou cervejas com grandes colarinho. Um Becker é o equivalente alemão, afinando no topo. Benefícios: barato de fazer. Fácil de guardar. Ideal para as cervejas do tipo Bitter e Stout. O anel dos pints Nonick foram encorporados por volta de 1960 para facilitar o empilhamento de copos, evitando que eles ficassem presos e quebrassem.
Pilsner
Captura a efervescência e as cores de uma Pilsen. Realça a cor, clarificação e carbonatação. Promove a retenção de espuma. Melhora a percepção de compostos voláteis. Adequado para Viena Lager, Light American Lager, Dortmunder, Doppelbock, Bohemian Pilsner, German Pilsner, entre outros.
Caneco (ou Seidel, Stein)
Pesado, robusto, grande e com alça, a caneca é uma peça divertida e séria de vidro que vem em vários tamanhos e formas. A melhor parte de usar uma caneca é que você pode brindar com mais confiança do que outros tipos de vidro. Seidel é uma caneca alemã, enquanto um Stein é o equivalente de pedra que tradicionalmente apresenta uma tampa, cuja utilização remonta à peste negra para evitar que moscas caíssem dentro. Benefício: fácil de beber. Comporta muito volume. Ideal para:
American Amber / Red Ale
American Amber / Red Lager
American Black Ale
American Blonde Ale
American Brown Ale
American Dark Wheat Ale
American IPA
American Malt Liquor
American Pale Ale (APA)
American Pale Wheat Ale
American Porter
American Stout
American Strong Ale
Baltic Porter
Black & Tan
Bock
California Common / Steam Beer
Chile Beer
Cream Ale
Czech Pilsener
Doppelbock
English Bitter
English Brown Ale
English Dark Mild Ale
English India Pale Ale (IPA)
English Porter
English Stout
English Strong Ale
Euro Dark Lager
Extra Special / Strong Bitter (ESB)
Fruit / Vegetable Beer
German Pilsener
Herbed / Spiced Beer
Irish Dry Stout
Irish Red Ale
Keller Bier / Zwickel Bier
Maibock / Helles Bock
Märzen / Oktoberfest
Milk / Sweet Stout
Oatmeal Stout
Rauchbier
Roggenbier
Sahti
Scottish Ale
Scottish Gruit / Ancient Herbed Ale
Smoked Beer
Vienna Lager
Witbier.
Weizen
Especificamente produzido para comportar volume e colarinho, enquanto retém os aromas de banana e fenóis associados com o estilo.
Este copo, comprido e com as suas paredes finas, mostra a cor da cerveja e permite muito espaço livre para conter o colarinho volumoso e cremoso associado com o estilo. A maioria tem 0,5 L de volume, com ligeiras variações de tamanhos.
Indicado para Weissbier, American Dark Wheat Ale, American Pale Wheat Ale, Dunkelweizen, Gose, Hefeweizen, Kristalweizen, Weizenbock.
Produção mundial e consumo
Produção
Dados disponíveis da produção mundial de cerveja feita a partir da cevada em 2018, em milhões de toneladas por ano:
Fonte: Beer of barley production by FAO.</small>
Consumo
Problemas e benefícios para a saúde e para a sociedade
A prática de crendices populares que estimulam o uso da cerveja como tratamento para certas enfermidades, como por exemplo cálculos renais, podem causar seríssimos danos ao organismo.
Apesar disso, é sabido também que o consumo de álcool (incluindo a cerveja) em doses moderadas é capaz de diminuir severamente o surgimento de doenças cardíacas. Em estudo de 1972, o epidemiologista Carl Seltzer, da Universidade de Harvard, constatou através dos dados do Framingham Heart Study que o uso moderado do álcool pode ser agente profilático contra as doenças cardíacas. Se ingerido com moderação, o álcool presente na cerveja é capaz de promover um incremento no HDL (também conhecido como "colesterol bom"), auxiliando assim na prevenção de derrames e infartos
.
Além deste, diversos outros estudos posteriores também chegaram a conclusões parecidas de que o consumo de até três doses diárias de bebida alcoólica é capaz de reduzir o risco de cardiopatias em até 40 por cento.
Em 1997, a revista Epidemiology publicou artigo sobre estudo feito por cientistas de Munique, na Alemanha, que procuraram avaliar a população do estado da Baviera (maior consumidor de cerveja) em relação às doenças cardíacas e chegou a resultados parecidos.
Também, no dia 20 de maio de 2000, o British Medical Journal publicou artigo sobre pesquisa realizada por centros de estudos ingleses e tchecos que chegaram a conclusão de que o consumo da cerveja, bebida que foi utilizada no estudo, é capaz de diminuir significativamente o aparecimento de doenças do coração.
Este efeito seria resultado da ingestão do etanol e não de nenhuma substância particular de bebida alcoólica específica.
A bebida alcoólica portanto, assim como qualquer outro tipo de alimento, pode ser benéfica ou maléfica ao consumo humano, dependendo da quantidade em que é consumida.
Mercado publicitário
Os aspectos nocivos do álcool incitam debates sobre a publicidade do setor, que hoje possui regras cada vez mais rígidas. Mas, apesar disso, inúmeras celebridades figuram em anúncios de bebidas alcoólicas num mercado extremamente competitivo. Em junho de 2007, o então ministro da saúde do Brasil José Gomes Temporão ressaltou que a classe artística deveria avaliar como ela coloca sua imagem, antes de endossar campanhas de bebidas, uma vez que, apenas entre os anos de 2005 e 2006, o consumo de álcool no Brasil cresceu 7,5 por cento.
Nos primeiros meses de 2007, no Brasil, uma liminar foi concedida pelo juiz Jorge Luís Barreto, da 2ª Vara Federal no Ceará, proibindo em todo o país propagandas de cerveja entre as 6 e as 21 horas. Dentro dos horários previstos, os anúncios deveriam ter a informação de que "o consumo de bebidas alcoólicas provoca dependência química e psicológica".
Após um estudo realizado pela Câmara dos Deputados, apurou-se que, dos 513 parlamentares brasileiros, 87 (16,96 por cento) estão ligados a empresas com interesses contrários à regulamentação da publicidade de cerveja.
Química da Cerveja
A cerveja contêm os seguintes ácidos fenólicos: Ácido 4-hidroxifenilacético, Ácido vanílico, Ácido cafeico, ácido p-cumárico, Ácido ferúlico e Ácido sinapínico. A maioria destes ácidos estão presentes em formas coligadas e só uma pequena parte pode ser detectada como componentes livres.
O lúpulo, e a cerveja feita com ele, contem 8-prenilnaringenina o qual é o mais potente fitoestrogeno conhecido. Contêm também: humuleno, Mirceno, xantohumol, Linalol, mircenol, Tanino e resinas.
2-Indolyl(3)-ethanol, Tirosol e Álcool fenetílico são compostos aromáticos encontrados na cerveja como produto secundário da fermentação por Saccharomyces cerevisiae.
Ver também
World Beer Cup — A Copa do Mundo das cervejas
Chope
Hidromel
sake
jiu
Vodka
Tequila
Reinheitsgebot
Sidra | 113,157 |
574 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo%20de%20Golgi | Complexo de Golgi | Na biologia celular, aparelho de Golgi, complexo de Golgi, dictiossoma, golgiossomo ou complexo golgiense é uma organela de células eucarióticas. O nome é uma homenagem ao italiano Camillo Golgi, que foi o seu descobridor. É constituído por dobras de membranas e vesículas, e sua função primordial é a secreção de proteínas ribossomáticas e a sua distribuição por entre essas vesículas. Funciona, portanto, como uma espécie de sistema central de distribuição na célula, atuando como centro de armazenamento, transformação, empacotamento e remessa de substâncias.
O complexo Golgiense é responsável também pela formação dos lisossomos, da lamela média dos vegetais e do acrossomo do espermatozoide, do glicocalix e está ligado à síntese de polissacarídeos. Acredita-se, ainda, que a organela seja responsável por alguns processos pós-traducionais, tais como adicionar sinalizadores às proteínas, que as direcionam para os locais da célula onde atuarão.
A maior parte das vesículas transportadoras que saem do retículo endoplasmático, são transportadas até o complexo de Golgi, onde são modificadas, ordenadas e enviadas na direção dos seus destinos finais. A organela está presente na maior parte das células eucarióticas, mas tende a ser mais proeminente nas células de órgãos responsáveis pela secreção de certas substâncias, tais como o pâncreas, a hipófise e a tireoide.
Descoberta
Devido ao seu tamanho relativamente grande, o Complexo de Golgi foi uma das primeiras organelas celulares a ser descrita e observada em detalhes. A estrutura foi descoberta em 1898 pelo médico italiano Camillo Golgi, durante uma investigação sobre o sistema nervoso1. Inicialmente, logo após observar a estrutura em seu microscópio, ele a chamou de aparelho reticular interno.
A organela foi então rebatizada em sua homenagem não muito tempo após o anúncio de sua descoberta, sendo que Camillo Golgi ganhou o prêmio Nobel junto com Santiago Ramón y Cajal devido ao reconhecimento do trabalho de ambos na pesquisa e descoberta da estrutura do sistema nervoso2. No entanto, algumas dúvidas sobre essa primeira descrição foram levantadas, argumentando-se que a aparência da estrutura era, na verdade, apenas uma ilusão de ótica criada pela técnica de observação utilizada por Golgi. Com o desenvolvimento de microscópios modernos, no caso o eletrônico, no século XX, especificamente no ano de 1954 , a descoberta foi confirmada3, 4.
Identificação
Por ser seletivamente visualizado com impregnação de prata, o aparelho de Golgi foi uma das primeiras organelas descritas pelos primeiros microscopistas ópticos, sendo Golgi e Cajal os primeiros responsáveis por descrever pela primeira vez essa organela. Ela consiste em uma coleção de compartimentos achatados definidos por membrana, chamados de cisternas, que juntas se assemelham à forma de uma pilha. Em células animais, conexões tubulares entre cisternas correspondentes ligam muitas pilhas, formando, assim, um único complexo que costuma estar localizado próximo ao núcleo celular e junto ao centrossomo. Essa localização depende dos microtúbulos. Se os microtúbulos forem experimentalmente despolimerizados, o aparelho de Golgi reorganiza-se em pilhas individuais que são encontradas espalhadas pelo citoplasma, adjacentes aos sítios de saída do Retículo Endoplasmático. Quanto maior for a necessidade de produção e secreção de compostos celulares e extracelulares, maior será o volume do aparato de Golgi presente na célula, estando localizado mais perto da região do núcleo celular como, por exemplo, nos hepatócitos, nos neurônios e nas células glandulares em geral.
Além do método de impregnação com prata, o complexo de Golgi pode ainda ser observado através de microscopia de fluorescência com a utilização de proteínas (em geral anticorpos) que possuem a propriedade de fluorescência para marcação de proteínas que residem nessa organela, sendo assim é possível identificar a localização do complexo de Golgi no momento da fixação da célula analisada.
A organela em questão pode ser também observada através de microscopia eletrônica de transmissão, onde será possível verificar a presença de cisternas empilhadas, de onde brotam ou se fundem vesículas. As micrografias eletrônicas podem apresentar o aparelho de Golgi não corado, corado com ósmio (que marca preferencialmente as cisternas do compartimento cis) ou corado para revelar a localização de enzimas específicas (como a nucleosídeo difosfatase, que é encontrada nas cisternas trans, ou a fosfatase ácida, que é encontrada na rede trans). Na maioria dos casos, mais do que uma cisterna é corada no método utilizado para eletromicrografias.
Funções do Complexo de Golgi
Síntese de polissacarídeos: Alguns polissacarídeos são sintetizados pelo complexo de Golgi. Nos vegetais, após a mitose, faz-se necessário a criação da lamela média para que haja separação das duas células. Essa lamela é criada a partir da secreção de pectina, que, junto à hemicelulose, são polissacarídeos sintetizados pelo Golgi. Esses polissacarídeos,em conjunto com outros componentes, formam a parede celular dos vegetais. Nos animais, a relação entre Golgi e polissacarídeos se dá pela síntese de glicosaminoglicanas, que atuam como anticoagulantes.
Glicosilação: aparelho de Golgi confere à glicosilação O-ligada mais forte de todas as mucinas, as glicoproteínas das secreções de muco, e das proteínas-núcleo de proteoglicanos, as quais são nele modificadas para produzir proteoglicanos. Esse processo envolve a polimerização de uma ou de mais cadeias de glicosaminoglicanos por intermédio de uma ligação de xilose sobre serinas da proteína-núcleo. Muitos proteoglicanos são secretados e se tornam componentes da matriz extracelular, enquanto outros permanecem ancorados à membrana plasmática. Outros, ainda, formam um componente principal de materiais viscosos, como o muco secretado para formar um revestimento protetor sobre muitos epitélios. Os açúcares incorporados em glicosaminoglicanos são fortemente sulfatados no aparelho de Golgi logo após a produção desses polímeros, somando-se, assim, uma porção significativa da sua característica carga amplamente negativa. Alguns resíduos de tirosina das proteínas também se tornam sulfatados logo após a sua saída do aparelho de Golgi.
Formação do acrossomo: O Complexo de Golgi possui uma função muito importante no processo de fecundação, pois é dele que surge o acrossomo. O acrossomo é uma vesícula que surge durante uma mudança morfofuncional na maturação dos espermatozóides. Essa mudança consiste no processo de acomodação do complexo de Golgi nos dois terços anteriores da cabeça do espermatozóide, envolvendo o núcleo. Sua função é permitir a entrada do material genético paterno no ovócito secundário e para isso faz uso de enzimas hidrolíticas que estão localizadas na cabeça do espermatozóide. Essas enzimas são liberadas na forma de exocitose quando ocorre a fusão da membrana do acrossomo com a membrana plasmática do espermatozoide, criando poros por onde as enzimas serão liberadas.
Estrutura
O complexo de Golgi consiste em um conjunto de compartimentos achatados definidos por membranas, chamados de cisternas, que são descontínuas, ou seja, se comunicam diretamente. Esse conjunto se assemelha a uma pilha de pratos, sendo que cada uma dessas pilhas de Golgi contém, geralmente, 4 a 6 cisternas, embora alguns flagelados unicelulares possam ter mais de 20. Em células animais, localiza-se próximo ao núcleo e ao centrossomo e adjacente ao retículo endoplasmático. Já na maioria das células vegetais, encontram-se centenas de pilhas independentes espalhadas nas adjacências do retículo endoplasmático. Essa organização depende dos microtúbulos, em caso de despolimerização o aparelho de Golgi é disperso em várias pilhas.
Cada pilha de Golgi possui uma face cis e uma face trans. A face cis corresponde à face de entrada das vesículas provenientes do retículo com proteínas e lipídeos a serem processados, enquanto a face trans corresponde à face de saída das vesículas, com destino à superfície celular ou a outros compartimentos. Ambas as faces estão associadas a compartimentos compostos de uma rede de estruturas tubulares e de cisternas: a rede cis de Golgi (CGN, Cis Golgi Network) e a rede trans de Golgi (TGN, Trans Golgi Network). Entre essas redes há uma série de cisternas que compõem a pilha, sendo que cada uma tem uma composição enzimática diferente e, portanto, funções diferentes. Portanto, o complexo de Golgi normalmente é constituído de uma configuração mínima formada por:
rede cis do Golgi, ou CGN,
cisternas cis,
cisternas mediais,
cisternas trans e
rede trans do Golgi, ou TGN.
Dentro de cada cisterna existem enzimas que modificam proteínas que chegam ao complexo de Golgi. Assim, chegando na CGN, as proteínas passam primeiramente pela rede cis de Golgi e continuam de acordo com a sequência: cisternas cis, cisternas mediais e, por fim, cisternas trans. Ao sair da TGN, as proteínas podem ir adiante e seguirem para os lisossomos, ou para as vesículas secretoras ou para a superfície celular, ou também podem ser devolvidas para o compartimento anterior. Entretanto, destaca-se que ambas as redes cis e trans atuam na distribuição de proteínas, já que as proteínas que entram na CGN podem ir adiante no aparelho de Golgi (fluxo anterógrado) ou serem devolvidas para o RE (fluxo retrógrado), caso não tenham sido produzidas de forma correta.
À medida que se movem de cisterna a cisterna através das pilhas, as proteínas são modificadas sucessivamente em cada estágio, até que a glicosilação se complete. As enzimas localizadas em cada cisterna são diferentes. Por exemplo, nas cisternas mediais estão localizadas enzimas que catalisam a remoção de resíduos de manose e a adição de N-acetilglicosamina; já nas cisternas trans e na rede trans de Golgi, existem enzimas que catalisam a adição de galactose e ácido siálico. Ainda, sabe-se que essas diferentes enzimas têm valores de pH ótimo diferentes, e que, desse modo, cada compartimento do complexo de Golgi possui um valor de pH próprio, motivo pelo qual não há comunicação direta entre as cisternas: caso isso ocorresse, o pH de todo o complexo seria homogeneizado e várias enzimas seriam desnaturadas. Essa diferença de pH é explicada pela presença de bombas de próton dependentes de ATP nas membranas do complexo de Golgi, que promovem a acidificação das cisternas, sendo que, conforme observado em estudos, o número de bombas de próton aumenta gradativamente no sentido de cis para trans.
Formação e Transporte de vesículas
As vesículas transportadoras se formam a partir de locais específicos das membranas constituintes da célula, brotando na forma vesículas revestidas por proteínas. Antes da vesícula se fusionar ao alvo, o revestimento é descartado, a fim de que as membranas entrem em contato e se fundam.
Existem 3 grupos principais de proteínas de revestimento que são mais estudadas: clatrina, COP I e COP II. As vesículas revestidas por clatrina estão mais ligadas ao transporte entre o aparato de golgi e a membrana plasmática e as proteínas COP I e COP II estão mais relacionadas ao transporte entre o Retículo endoplasmático e o Complexo de Golgi (as vesículas revestidas por COPI brotam do Golgi, e as vesículas revestidas por COPII brotam do Retículo), mas é importante ressaltar que a variedade de vesículas transportadoras não se restringem a esses exemplos principais .
A clatrina é formada por 3 cadeias polipeptídicas grandes e 3 pequenas, unidas formando uma estrutura de “3 pernas” que por meio de uma força mecânica e da ajuda de proteínas de curvatura da membrana (domínios BAR- promovem interações eletrostáticas com grupos da cabeça do lipídio de membrana e ajudam na formação do pescoço da vesícula que está brotando) promove-se o dobramento da membrana em direção ao citosol. A formação de vesículas mediada por clatrina depende da atuação de uma outra proteína chamada de adaptina, uma proteína adaptadora que medeia a ligação entre a clatrina e a vesícula ,sendo assim a clatrina não entra em contato direto com a vesícula . As proteínas adaptadoras , nesse contexto , ajudam a selecionar tanto moléculas de membrana quanto moléculas solúveis que vão para dentro da vesícula , além de serem específicas para receptores transmembrana que capturam as moléculas solúveis a serem transportadas nas vesículas ( receptores de carga ) .
O acoplamento das proteínas adaptadoras na membrana é altamente regulado pela interação delas com outras moléculas como o fosfatidilinositol um fosfolipídio constituinte da membrana plasmática .
A medida que as vesículas vão se formando proteínas como a dinamina, que regulam a frequência de saída da vesículas, vão se organizando no pescoço do broto. Elas promovem a soltura da vesícula por meio da interferência na estrutura da bicamada ou pelo uso de enzimas que quebram lipídeos, ou ambos. Quando liberada , a vesícula perde o revestimento de clatrina pela atuação de uma proteína chaperona hsp70 ,a qual promove a quebra de ATP para esse processo
Existem proteínas que auxiliam a montagem dos revestimentos de clatrina e de COPI e COPII, são as GTPases recrutadoras de revestimento como as proteínas ARF (montagem dos revestimentos de COPI e clatrina ) e a proteína Sar1 (montagem dos revestimentos COPII), exercendo papel também no desmonte dos revestimentos .As vesículas revestidas por clatrina e COP perdem o revestimento em seguida ao desligamento.
É importante ressaltar que os mecanismos de formação de vesículas por COP I ou II e clatrina são distintos. As COPs utilizam a desfosforilação de um GTP para se montarem na superfície na qual se formará a vesícula. Nesse contexto, a montagem de vesículas por clatrina pode ser mais vantajosa no sentido de que não necessita de energia para ocorrer. Outro ponto interessante é que o envoltório formado por clatrina é mais enriquecido no sentido de que promove um maior aproximação das moléculas alvos e além disso, é mais específico que a COP pois a formação da vesícula é mais rápida o que evita a entrada de materiais estranhos.
Durante o processo de brotamento a vesícula é ancorada a proteínas motoras. Essas proteínas se associam aos microtúbulos do citoesqueleto para carregarem a vesícula ao seu destino.
As proteínas que guiam o tráfego de vesículas são chamadas de RAB, que são marcadores moleculares expostos com a saída dos envoltórios protéicos, os quais ajudam a identificar cada tipo de membrana, funcionam como o “endereço" para o qual a vesícula precisa ser mandada atuando nas vesículas de transporte e ou nas membranas de destino.
Quando a vesícula chega ao seu compartimento de destino há nele uma proteína de aprisionamento específico para a RAB que a vesícula carrega e quando eles se encontram ocorre o processo de ancoramento.
A fusão da vesícula com a membrana destino é assegurada pela ação de uma proteína filamentosa chamada SNARE. Existem dois tipos principais de proteínas SNARE: uma que fica presa na vesícula (V snare) e uma que fica no compartimento receptor (T snare). Quando há o ancoramento as proteínas SNARE nas duas membranas se pareiam e enovelem, catalisando a fusão das duas bicamadas lipídicas. Durante a ancoragem e fusão, uma fosfatase ( RAB-GAP) induz a proteína Rab a hidrolisar um GTP da sua estrutura, levando-a a se dissociar da membrana e retornar ao citosol sendo mantida solúvel e inativa por uma outra proteína . Após as SNAREs terem mediado a fusão uma proteína se liga ao complexo SNARE e, com a ajuda de outras proteínas acessórias, há a hidrólise de ATP para se dissociar as SNAREs, tornando-as livres para atuarem novamente .
Todos esses mecanismos citados são de extrema importância para a transmissão de impulsos nervosos, pois está associada a liberação do neurotransmissor acetilcolina .
Um fato interessante é que existem alguns vírus que se utilizam do processo mediado por SNAREs para se fundir às células como o HIV: Ele possui os dois tipos principais de snare (T e V) mais proteínas que enganam os receptores das membranas celulares, como o GP120. Quando acoplado a esse receptor o vírus inocula na membrana plasmática uma de suas SNARES, que ao interagirem aproximam as duas superfícies e se promove a fusão com a consequente entrada do capsídeo na célula.
Voltando ao complexo de Golgi a face Cis é a que recebe os materiais do retículo endoplasmático e nela ocorrem alterações de algumas proteínas que foram glicosiladas nele (glicosilação do tipo N), no complexo ocorre a podagem (glicosilação do tipo O). Na face trans ocorre o envio de material para todos os endereços celulares movimento anterogrado. As diversas cisternas do Golgi se comunicam por brotamento de vesícula e cada uma delas possui o seu PH específico para cada tipo de evento.
Também há o movimento o retrógrado no qual há uma sinalização química (geralmente duas lisinas seguidas por outros dois aminoácidos ou então a sequência KDEL), que indica que a vesícula deverá retornar ao Retículo Endoplasmático. Nesse caso a Cop I auxiliará o processo .
Existem 3 tipos principais de vesículas que saem pela face trans : o primeiro tipo de vesícula imediatamente move-se e funde-se à membrana plasmática liberando seu conteúdo pelo processo de exocitose , o segundo tipo de vesícula conhecida como vesícula secretora , é armazenado dentro da célula até que um sinal para exocitose provoque a liberação do seu conteúdo pela membrana plasmática tem-se como exemplo liberação de neurotransmissores , o terceiro tipo de vesícula é direcionado ao lisossomo, e para organelas de armazenamento semelhantes aos lisossomos, em algumas células.
Todo esse processamento que ocorre no golgi é essencial pois aumenta a variedade proteica da glicosilação , auxiliam no processo de formação de lisossomos , além de estar relacionado a atuação de células que fazem secreção celular como fibroblastos .
Outro processo relacionado ao transporte de vesículas ligado ao golgi , diz respeito aos processos celulares que envolvem o endossoma . O endossoma se caracteriza como uma organela com uma bomba de hidrogênio que se forma no transporte de alguma moléculas entre o golgi e a membrana , estando ligado a entrada de macromoléculas solúveis e a aquisição de materiais diversos por células especializadas .
Quando um material é endocitado forma-se próximo a membrana uma estrutura denominada de endossoma primário, uma vesícula que contém partes da membrana celular e receptores que sinalizaram para proteínas específicas que auxiliam a formação de vesículas a necessidade da formação de uma naquela região .
Nesse caso ,a entrada pode ser mediada por clatrina( forma-se em regiões fluidas da membrana ) , como já foi exposto anteriormente , ou por uma outra proteína distribuída entre os fosfolipídios de membrana :a caveolina .A caveolina auxilia no processo de entrada em regiões da membrana que são mais rígidas denominadas de LIPID RAFT , uma região em que a presença de colesterol promoveu um agrupamento de moléculas e uma consequente “rigidez” .A caveolina por meio de uma força mecânica promove a invaginação dessas áreas para a formação de cavéolas , no lúmen da cavéola existem receptores para as substâncias concentradas nele , o que torna possível a ocorrência de induções celulares mais rápidas .
Após a formação do endossoma primário a bomba de hidrogênio é ativada , o que promove uma mudança brusca de PH que estimula a formação de vesículas as quais devolvem os receptores para a membrana celular . Esse endossoma se move transportado por proteínas motoras que o aproximam do complexo de golgi , formando o endossoma secundário , no qual há a fusão com um lisossomo , para a degradação das moléculas que podem ser reaproveitadas pela célula , dessa forma, as moléculas degradadas são direcionadas ao complexo de golgi para a sua redistribuição e uso .
Alterações no organismo causadas pelo mau funcionamento do Complexo de Golgi
O comprometimento de etapas específicas do transporte entre o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, o sistema endossomo-lisossomo e a membrana plasmática podem ter consequências dramáticas para a célula, e defeitos crescentes na maquinaria molecular que regula o tráfico de vesículas vêm sendo relacionados a doenças hereditárias.
Durante o trânsito através do complexo de Golgi, modificações são feitas na maioria das proteínas, incluindo mudanças no seu perfil de glicosilação, sulfatação e fosforilação.Deste modo, caso a homeostase do complexo de Golgi seja perturbada, é provável que sua função seja afetada, o que pode ter como resultado final doenças.
Falhas no processo de glicosilação podem resultar no enovelamento incorreto de
proteínas, na impossibilidade de reconhecimento de células, na instabilidade ou na falta de variabilidade proteica, em problemas na adesão celular e em problemas estruturais na membrana celular, além de tornar o organismo potencialmente mais suscetível a infecções bacterianas. Assim, diversos processos celulares que dependem da estabilidade das proteínas e da comunicação intra e intercelular podem ser afetados. As doenças decorrentes de falhas na glicosilação podem se desde musculares até multissistêmicas.
O complexo de Golgi também tem a função de transportar macromoléculas e vesículas de secreção. Portanto, organelas que necessitam do Golgi para reposição de materiais que são perdidos ao longo da vida, em casos de disfunção do complexo, podem ter suas atividades comprometidas, podendo levar ao colapso ou à morte celular.
Recentemente, foi descoberto que alterações na expressão de genes relacionados a certos membros da família Rab, como RAB1, RAB2 e RAB8, e à proteína STX5 estão relacionadas à doença de Parkinson, uma doença neurológica. A expressão alterada dessas proteínas leva à fragmentação do complexo de Golgi. Ao nível celular, a doença de Parkinson está associada a um acúmulo da proteína pré-sináptica alpha-synuclein e ao bloqueio do transporte RE-Golgi.
Algumas outras doenças decorrentes do mal funcionamento do complexo de Golgi são a doença de Wilson (ou degeneração hepatolenticular), na qual uma mutação genética leva à retenção de proteínas no aparato, a distrofia muscular de Duchenne e a síndrome de Aarskog, em que há uma redução do tráfego do Golgi.
A biogênese de lisossomos e a síntese do acrossomo do espermatozóide também são de responsabilidade do complexo de Golgi. Diante disso, defeitos nessa organela também podem estar relacionados a problemas na reprodução e à insuficiência de lisossomos.
Esta falta tem sérias consequências, como suscetibilidade a doenças, malformações, morte celular ou falência de órgãos. Vale lembrar que, no Sistema Nervoso Central, há secreção, processamento de moléculas e tráfego de vesículas acontecendo a todo momento. Assim, sinapses neuronais que dependem desses mecanismos são altamente prejudicadas.
Referências
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7. E. G. Berger, J. Roth (1997). The Golgi Apparatus. p. 295. ISBN 0-8176-5692-8
8. Pavelka, Margit. Functional Morphology of the Golgi Apparatus (Advances in anatomy, embryology and cell biology, v. 106). p. 19. ISBN 978-3-540-18062-3
9. https://ajudadoestudante.wordpress.com/2011/12/23/organelas-citoplasmaticas/ Acesso em 08/12/2016
10. http://sindromecdg.orgfree.com/folheto_apcdg.pdf Acesso em 08/12/2016
11."Gametogenesis". Competition Science Vision 5 (52): 136 p. 502. Pratiyogita Darpan
Ligações externas
Aparelho de Golgi - Pesquisa Escolar
Funcionamento do Complexo de Golgi
Biologia celular
Organelos | 38,775 |
575 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Criptografia | Criptografia | Criptografia () é uma área da criptologia que estuda e pratica princípios e técnicas para comunicação segura na presença de terceiros, chamados "adversários". Mas, geralmente, a criptografia refere-se à construção e análise de protocolos que impedem terceiros, ou o público, de lerem mensagens privadas. Muitos aspectos em segurança da informação, como confidencialidade, integridade de dados, autenticação e não-repúdio, são centrais à criptografia moderna. A criptografia moderna existe na interseção das disciplinas de matemática, ciência da computação, engenharia elétrica, ciência da comunicação e física. Aplicações de criptografia incluem comércio eletrônico, cartões de pagamento baseados em chip, moedas digitais, senhas de computadores e comunicações militares.
Uma informação não-cifrada que é enviada de uma pessoa (ou organização) para outra é chamada de "texto claro" (plaintext). Cifragem é o processo de conversão de um texto claro para um código cifrado e decifragem é o processo contrário, de recuperar o texto original a partir de um texto cifrado. De fato, o estudo da criptografia cobre bem mais do que apenas cifragem e decifragem. É um ramo especializado da teoria da informação com muitas contribuições de outros campos da matemática e do conhecimento, incluindo autores como Maquiavel, Sun Tzu e Karl von Clausewitz. A criptografia moderna é basicamente formada pelo estudo dos algoritmos criptográficos que podem ser implementados em computadores.
A criptografia tem sido de interesse para as agências de coleta de informações e de aplicação da lei, bem como para defensores de direitos civis. Há uma longa história de questões legais controversas, especialmente desde que o barateamento da computação possibilitou o acesso generalizado à criptografia de alta qualidade.
Terminologia
O primeiro uso do termo criptógrafo (em oposição a criptograma) remonta ao século XIX - originou-se em O escaravelho de ouro, um romance de Edgar Allan Poe.
Até os tempos modernos, a criptografia se referia quase que exclusivamente à encriptação, que é o processo de converter informações comuns (chamadas de texto puro) em texto ininteligível (chamado de texto cifrado). A decriptação é o inverso, em outras palavras, passar o texto cifrado ininteligível de volta para texto puro. Uma cifra é um par de algoritmos que cria a criptografia e a descriptografia reversa. A operação detalhada de uma cifra é controlada tanto pelo algoritmo quanto em cada instância por uma "chave". A chave é um segredo (idealmente conhecido apenas pelos comunicantes), geralmente uma pequena sequência de caracteres, necessária para descriptografar o texto cifrado. Formalmente, um "sistema de criptografia" é a lista ordenada de elementos de possíveis textos simples finitos, possíveis textos de cifra finitos, chaves finitas possíveis e os algoritmos de criptografia e decriptografia que correspondem a cada chave. As chaves são importantes formalmente e na prática real, já que cifras sem chaves variáveis podem ser trivialmente rompidas apenas com o conhecimento da cifra usada e, portanto, são inúteis (ou mesmo contraproducentes) para a maioria dos propósitos.
Historicamente, as cifras costumavam ser usadas diretamente para criptografia ou descriptografia sem procedimentos adicionais, como verificações de autenticação ou integridade. Existem dois tipos de cripto-sistemas: simétricos e assimétricos. Em sistemas simétricos, a mesma chave (a chave secreta) é usada para criptografar e descriptografar uma mensagem. A manipulação de dados em sistemas simétricos é mais rápida do que sistemas assimétricos, já que geralmente usam comprimentos de chaves mais curtos. Os sistemas assimétricos usam uma chave pública para criptografar uma mensagem e uma chave privada para descriptografá-la. O uso de sistemas assimétricos aumenta a segurança da comunicação. Exemplos de sistemas assimétricos incluem RSA (Rivest-Shamir-Adleman) e ECC (Criptografia de curva elíptica). Modelos simétricos incluem o comumente usado AES (Advanced Encryption Standard) que substituiu o antigo DES (Data Encryption Standard).
No uso coloquial, o termo "código" é freqüentemente usado para significar qualquer método de criptografia ou ocultação de significado. No entanto, na criptografia, código tem um significado mais específico. Significa a substituição de uma unidade de texto puro (ou seja, uma palavra ou frase significativa) por uma palavra-código (por exemplo, "canguru" substitui "ataque ao amanhecer").
Criptoanálise é o termo usado para o estudo de métodos para obter o significado de informação criptografada sem acesso à chave normalmente requerida para isso, ou seja, é o estudo de como quebrar algoritmos de criptografia ou suas implementações.
Alguns usam os termos criptografia e criptologia de maneira intercambiável em Português, enquanto outros (incluindo a prática militar dos EUA em geral) usam criptografia para se referir especificamente ao uso e prática de técnicas criptográficas e criptologia para se referir ao estudo combinado de criptografia e criptoanálise. O inglês é mais flexível do que vários outros idiomas nos quais a criptologia (feita por criptólogos) é sempre usada no segundo sentido acima.
A esteganografia é o estudo das técnicas de ocultação de mensagens dentro de outras, diferentemente da Criptografia, que a altera de forma a tornar seu significado original ininteligível. A Esteganografia não é considerada parte da Criptologia, apesar de a RFC 2828 informa que a esteganografia é às vezes incluída na criptologia. A Esteganonálise é o equivalente a criptoanálise com relação à Esteganografia.
O estudo das características das línguas que têm alguma aplicação em criptografia ou criptologia (por exemplo, dados de frequência, combinações de letras, padrões universais, etc.) é chamado de criptolinguística.
História
Antigamente, a cifragem era utilizada na troca de mensagens, sobretudo em assuntos ligados à guerra (no intuito de o inimigo não descobrir a estratégia do emissor da mensagem, caso se apoderasse dela), ao amor (para que os segredos amorosos não fossem descobertos pelos familiares) e à diplomacia (para que facções rivais não estragassem os planos de acordos diplomáticos entre nações). O primeiro uso documentado da criptografia foi em torno de 1900 A.c., no Egito, quando um escriba usou hieróglifos fora do padrão numa inscrição.
Entre 600 a.C. e 500 a.C., os hebreus utilizavam a cifra de substituição simples (de fácil reversão e fazendo uso de cifragem dupla para obter o texto original), sendo monoalfabético e monogrâmica (os caracteres são trocados um a um por outros), e com ela escreveram o Livro de Jeremias.
O chamado "Codificador de Júlio César" ou "Cifra de César" que apresentava uma das técnicas mais clássicas de criptografia, é um exemplo de substituição que, simplesmente, substitui as letras do alfabeto avançando três casas. O autor da cifragem trocava cada letra por outra situada a três posições à frente no alfabeto. Segundo o autor, esse algoritmo foi responsável por enganar muitos inimigos do Império Romano; no entanto, após ter sido descoberta a chave, como todas, perdeu sua funcionalidade.
Destacam-se os estudos de Blaise de Vigenère que constituíram um método muito interessante; é a cifra de Vigenère que utiliza a substituição de letras. Tal processo consiste na sequência de várias cifras (como as de César) com diferentes valores de deslocamento alfanumérico. A partir desse período, Renascença, a criptologia começou a ser seriamente estudada no Ocidente e, assim, diversas técnicas foram utilizadas e os antigos códigos monoalfabéticos foram, aos poucos, sendo substituídos por polialfabéticos.
Dos anos 700 a 1200, são relatados incríveis estudos estatísticos, em que se destacam expoentes como al-Khalil, Alquindi, Ibn Dunainir e Ibn Adlan, que marcaram sua época. Na Idade Média, a civilização árabe-islâmica contribuiu muito para os processos criptográficos, sobretudo quanto à criptoanálise (análise da codificação, a procura de padrões que identificassem mensagens camufladas por códigos).
Na Idade Moderna, merecem destaque o holandês Kerckhoff e o alemão Kasiski. Modernamente, em 1918, Arthur Scherbius desenvolveu uma máquina de criptografia chamada Enigma, utilizada amplamente pela marinha de guerra alemã em 1926, como a principal forma de comunicação.
Em 1928, o exército alemão construiu uma versão conhecida como "Enigma G", que tinha como garantidor de segurança a troca periódica mensal de suas chaves. Essa máquina tinha como diferencial ser elétrico-mecânica, funcionando com três (inicialmente) a oito rotores. Aparentava ser uma máquina de escrever, mas quando o usuário pressionava uma tecla, o rotor da esquerda avançava uma posição, provocando a rotação dos demais rotores à direita, sendo que esse movimento dos rotores gerava diferentes combinações de encriptação.
Assim, a codificação da mensagem pelas máquinas "Enigma" era de muito difícil decodificação, uma vez que, para isso, era necessário ter outra máquina dessas e saber qual a chave (esquema) utilizada para realizar a codificação.
A Colossus surgiu do esforço de engenharia reversa das forças aliadas em decriptar as mensagens da marinha e do exército alemão, só logrando efetivo êxito após se ter conseguido uma máquina Enigma alemã (furtada). Tais equipamentos foram, inicialmente, desenvolvidos como máquinas de decriptação, mas depois passaram a codificar mensagens das forças aliadas.
Depois, surgiram outras máquinas fisicamente semelhantes à Enigma (pareciam com antigas máquinas de escrever), porém foram aperfeiçoadas de forma a dificultar o mais possível a decriptação por quem não as possuísse.
Devido aos esforços de guerra, a criptografia passou a ser largamente utilizada. Em 1948, Claude Shannon desenvolveu a Teoria Matemática da Comunicação, que permitiu grandes desenvolvimentos nos padrões de criptografia e na criptoanálise.
Durante a chamada "Guerra Fria", entre Estados Unidos e União Soviética, foram criados e utilizados diversos métodos a fim de esconder mensagens a respeito de estratégias e operações, criptografadas com diferentes métodos e chaves.
Diffie e Hellman revolucionaram os sistemas de criptografia existentes até 1976, a partir do desenvolvimento de um sistema de criptografia de chave pública que foi aperfeiçoado por pesquisadores do MIT e deu origem ao algoritmo RSA.
Além dos avanços da criptografia, a criptoanálise se desenvolveu muito com os esforços de se descobrir padrões e chaves, além da diversidade dos canais de propagação das mensagens criptografadas. Desses esforços, surgiram diversos tipos de criptografia, tais como por chave simétrica, por chave assimétrica, por hash e até a chamada criptografia quântica, que se encontra, hoje, em desenvolvimento.
Durante muito tempo, o termo referiu-se exclusivamente à cifragem, o processo de converter uma informação comum (texto claro) em algo não-inteligível; o qual chama-se texto cifrado. A decifragem é a tarefa contrária, dado uma informação não-inteligível convertê-la em texto claro. No uso coloquial, o termo "código" é usado para referir-se a qualquer método de cifragem ou similar. Em criptografia, "código" tem um significado mais específico, refere-se a substituição de uma unidade significativa (i.e., o significado de uma palavra ou frase) pelo substituto equivalente. Códigos não são mais usados na criptografia moderna, visto que o uso de cifras se tornou mais prático e seguro, como também melhor adaptado aos computadores.
Nos dias atuais, onde grande parte dos dados é digital, sendo representados por bits, o processo de criptografia é basicamente feito por algoritmos que fazem o embaralhamento dos bits desses dados a partir de uma determinada chave ou par de chaves, dependendo do sistema criptográfico escolhido. Atualmente, a criptografia é amplamente utilizada na Web, em segurança a fim de autenticar os usuários para lhes fornecer acesso, na proteção de transações financeiras e em redes de comunicação.
Cifras e Códigos
A cifra é um ou mais algoritmos que cifram e decifram um texto. A operação do algoritmo costuma ter como parâmetro uma chave criptográfica. Tal parâmetro costuma ser secreto (conhecido somente pelos comunicantes). A cifra pode ser conhecida, mas não a chave; assim como se entende o mecanismo de uma fechadura comum, mas não se pode abrir a porta sem uma chave real.
Na linguagem não-técnica, um Código secreto é o mesmo que uma cifra. Porém, na linguagem especializada os dois conceitos são distintos. Um código funciona manipulando o significado - que é o conceito, normalmente pela substituição simples de palavras ou frases. Uma cifra, ao contrário, trabalha com o significante - que é a forma, da representação da mensagem (letras, grupos de letras ou, atualmente, bits).
Por exemplo, um código seria substituir a frase "Atacar imediatamente" por "Mickey Mouse". Uma cifra seria substituir essa frase por "sysvst ozrfosyszrmyr". No Dia D, por exemplo, as praias de desembarque não eram conhecidas pelo seu nome próprio, mas pelos seus códigos (Omaha, Juno, etc.).
Basicamente, códigos não envolvem chave criptográfica, apenas tabelas de substituição ou mecanismos semelhantes. Códigos podem ser então encarados como cifras cuja chave é o próprio conhecimento do mecanismo de funcionamento da cifra.
Chave Criptográfica
Uma chave criptográfica é um valor secreto que interage com o algoritmo de encriptação. A fechadura da porta da frente da sua casa tem uma série de pinos. Cada um desses pinos possui múltiplas posições possíveis. Quando alguém põe a chave na fechadura, cada um dos pinos é movido para uma posição específica. Se as posições ditadas pela chave são as que a fechadura precisa para ser aberta, ela abre, caso contrário, não.
Visão geral: objetivos
A criptografia tem quatro objetivos principais:
confidencialidade da mensagem: só o destinatário autorizado deve ser capaz de extrair o conteúdo da mensagem da sua forma cifrada. Além disso, a obtenção de informação sobre o conteúdo da mensagem (como uma distribuição estatística de certos caracteres) não deve ser possível, uma vez que, se o for, torna mais fácil a análise criptográfica;
integridade da mensagem: o destinatário deverá ser capaz de verificar se a mensagem foi alterada durante a transmissão;
autenticação do remetente: o destinatário deverá ser capaz de verificar que se o remetente é realmente quem diz ser;
não-repúdio ou irretratabilidade do remetente: não deverá ser possível ao remetente negar a autoria de sua mensagem.
Nem todos os sistemas ou algoritmos criptográficos são utilizados para atingir todos os objetivos listados acima. Normalmente, existem algoritmos específicos para cada uma destas funções. Mesmo em sistemas criptográficos bem concebidos, bem implementados e usados adequadamente, alguns dos objetivos acima não são práticos (ou mesmo desejáveis) em algumas circunstâncias. Por exemplo, o remetente de uma mensagem pode querer permanecer anônimo, ou o sistema pode destinar-se a um ambiente com recursos computacionais limitados.
Criptografia Clássica
Podemos dizer que o uso da criptografia é tão antigo quanto a necessidade do homem em esconder a informação. Muitos pesquisadores atribuem o uso mais antigo da criptografia conhecido aos hieróglifos usados em monumentos do Antigo Egito (cerca de 4500 anos atrás). Diversas técnicas de ocultar mensagens foram utilizadas pelos gregos e romanos.
A criptografia pré-computacional era formada por um conjunto de métodos de substituição e transposição dos caracteres de uma mensagem que pudessem ser executados manualmente (ou até mesmo mentalmente) pelo emissor e pelo destinatário da mensagem. O surgimento de máquinas especializadas e, posteriormente, dos computadores ocasionou uma significativa evolução das técnicas criptográficas.
Criptografia Moderna
A era da criptografia moderna começa realmente com Claude Shannon, possivelmente o pai da criptografia matemática. Em 1949 ele publicou um artigo Communication Theory of Secrecy Systems
com Warren Weaver. Este artigo, junto com outros de seus trabalhos que criaram a área de Teoria da Informação estabeleceu uma base teórica sólida para a criptografia e para a criptoanálise. Depois disso, quase todo o trabalho realizado em criptografia se tornou secreto, realizado em organizações governamentais especializadas (como o NSA nos Estados Unidos). Apenas em meados de 1970 as coisas começaram a mudar.
Em 1976 aconteceram dois grandes marcos da criptografia para o público. O primeiro foi a publicação, pelo governo americano, do DES (Data Encryption Standard), um algoritmo aberto de criptografia simétrica, selecionado pela NIST em um concurso onde foi escolhido uma variante do algoritmo Lucifer, proposto pela IBM. O DES foi o primeiro algoritmo de criptografia disponibilizado abertamente ao mercado.
O segundo foi a publicação do artigo New Directions in Cryptography por Whitfield Diffie e Martin Hellman, que iniciou a pesquisa em sistemas de criptografia de chave pública. Este algoritmo ficou conhecido como "algoritmo Diffie-Hellman para troca de chaves" e levou ao imediato surgimento de pesquisas neste campo, que culminou com a criação do algoritmo RSA, por Ronald Rivest, Adi Shamir e Leonard Adleman.
Criptografia Quântica
Desenvolvimento da técnica reunindo o conceito de criptografia e a teoria quântica é mais antigo do que se imagina, sendo anterior à descoberta da criptografia de Chave Pública. Stephen Wiesner escreveu um artigo por volta de 1970 com o título: "Conjugate Coding" que permaneceu sem ser publicado até o ano de 1983. Em seu artigo, Wiesner explica como a teoria quântica pode ser usada para unir duas mensagens em uma única transmissão quântica na qual o receptor poderia decodificar cada uma das mensagens porém nunca as duas simultaneamente, pela impossibilidade de violar uma lei da natureza (o princípio de incerteza de Heisenberg).
Utilizando-se pares de fótons, a criptografia quântica permite que duas pessoas escolham uma chave secreta sem jamais terem se visto, trocado alguma mensagem ou mesmo algo material. A criptografia quântica oferece a possibilidade de gerar uma chave segura se o sinal é um objeto quântico, assim, o termo mais correto seria Distribuição de Chave Quântica (Quantum Key Distribution - QKD) e não Criptografia Quântica. É interessante notar que a Criptologia atual está amparada na Matemática mas com a introdução desse conceito de mensagens criptografadas por chaves quânticas a física passou a ter importância primordial no tema. O maior problema para implementação da Criptografia quântica ainda é a taxa de erros na transmissão dos fótons seja por via aérea ou fibra ótica. Os melhores resultados obtidos atualmente se dão em cabos de fibra ótica de altíssima pureza, e conseqüentemente elevadíssimo custo também, alcançando algo em torno de 70 km.
Por via aérea a distância chega a algumas centenas de metros e qualquer tentativa de se aumentar essa distância tanto em um quanto em outro método a taxa de erros se torna muito grande e inviabiliza o processo. O desenvolvimento de tecnologias que permitam o perfeito alinhamento dos polarizadores, fibras óticas melhores e amplificadores quânticos de sinais permitirá que o sistema de Distribuição de Chaves Quânticas venha a ser o novo padrão de segurança de dados.
A Criptografia Quântica se destaca em relação aos outros métodos criptográficos pois não necessita do segredo nem do contato prévio entre as partes, permite a detecção de intrusos tentando interceptar o envio das chaves, e é incondicionalmente segura mesmo que o intruso tenha poder computacional ilimitado. A única forma possível de falha no processo seria se utilizar de um ardil onde a comunicação fosse interceptada e substituída, tanto para o emissor quanto para o receptor, criando assim um canal de comunicação controlado pelo intruso. O processo ainda apresenta um elevado custo de implantação, mas o desenvolvimento tecnológico poderá torná-la acessível a todas as aplicações militares, comerciais e de fins civis em geral.
Gestão de direitos digitais
A criptografia é central no tema de gestão de direitos digitais (DRM), um grupo de técnicas para controlar e restringir tecnologicamente o uso de direitos autorais e suas marcas registradas. Em 1998 a lei estadunidense Digital Millennium Copyright Act (DMCA) criminaliza toda a produção e disseminação de certas técnicas (não conhecidas ou mais tarde conhecidas) da criptografia, especialmente aquelas que poderiam ser utilizadas para ultrapassar o DRM. Leis e códigos similares ao DRM foram desde essa altura aparecendo em vários países e regiões, incluindo a implementação Directive on the harmonisation of certain aspects of copyright and related rights in the information society na Europa. Leis com restrições similares estão a ser propostos pelos Estados membros da Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
Alguns algoritmos e sistemas criptográficos
Funções de Hash criptográfico, message digest ou alfanumérico
MD5
SHA-256
SHA-1
RIPEMD-160
Tiger
HEX TO TEXT
Sistemas Free/Open Source
PGP
GPG
SSL/TLS
IPSec / Free S/WAN
Algoritmos assimétricos ou de chave pública
Curvas elípticas
Diffie-Hellman
DSA de curvas elípticas
El Gamal
RSA
Algoritmos simétricos
Máquina Enigma (Máquina alemã de rotores utilizada na 2a Guerra Mundial)
DES - Data Encryption Standard (FIPS 46-3, 1976)
RC4 (um dos algoritmos criados pelo Prof. Ron Rivest)
RC5 (também por Prof. Ron Rivest)
Blowfish (por Bruce Schneier)
IDEA - International Data Encryption Algorithm (J Massey e X Lai)
AES (também conhecido como RIJNDAEL) - Advanced Encryption Standard (FIPS 197, 2001)
RC6 (Ron Rivest)
Ver também
Criptoanálise
Assinatura Digital
Criptografia Assimétrica
Criptografia negável
Criptografia Simétrica
DNSSEC
Hash (Resumo Criptográfico)
ICP
Problemas em aberto da ciência da computação
Bibliografia
PELLEGRINI, Jerônimo C. Introdução à Criptografia e seus Fundamentos : notas de aula : versão 90.
QUARESMA, Pedro; LOPES, Elsa. Criptografia.
SINGH, Simon. O Livro dos Códigos. Lisboa : Temas e Debates, 2001. .
Ligações externas
Mais sobre Criptografia
Criptografia com números irracionais
The world's first electronic Enigma machine
BerkaEnigma - Criptografia Simétrica Aplicada | 53,410 |
576 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania | Cidadania | Cidadania (do latim civitas, que quer dizer cidade) corresponde, no direito ao vínculo jurídico que traduz a condição de um indivíduo enquanto membro de um Estado ou de uma comunidade política, a que designamos cidadão, constituindo-o como detentor de direitos e de deveres perante essa mesma entidade num determinado território que este administra, e ao exercício da sua prática. Estes direitos e deveres devem andar sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação com outro cidadão. São esses recursos e práticas que, segundo Dalmo de Abreu Dallari, "dão à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida social e do governo de seu povo".
Segundo o sociólogo britânico T. H. Marshall , a cidadania moderna é um conjunto de direitos e obrigações que compreendem três grupos de direitos. Os direitos civis característicos do ; os direitos políticos, consagrados no e os direitos sociais do . Essa teoria de Marshall é particularmente aplicável nos processos de democratização do estado liberal em que um desses grupos de direitos tiveram sua predominância.
Colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível para promovê-lo é dever de todo cidadão responsável. A cidadania deve ser entendida, nesse sentido, como processo contínuo, uma construção coletiva que almeja a realização gradativa dos Direitos Humanos e de uma sociedade mais justa e solidária.
História
O conceito de cidadania tem origem na Grécia Antiga, sendo usado então para designar os direitos relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo que vivia na cidade e ali participava ativamente dos negócios e das decisões políticas. Cidadania pressupunha, portanto, todas as implicações decorrentes de uma vida em sociedade. Ao longo da história, o conceito de cidadania foi ampliado, passando a englobar um conjunto de valores sociais que determinam o conjunto de deveres e direitos de um cidadão.
Nacionalidade
Designa-se cidadania adquirida à condição de cidadão e que decorre de um processo de naturalização. A nacionalidade é pressuposto da cidadania - ser nacional de um Estado é condição primordial para o exercício dos direitos políticos. Entretanto, se todo cidadão é nacional de um Estado, nem todo nacional é cidadão - os indivíduos que não estejam investidos de direitos políticos podem ser nacionais de um Estado sem serem cidadãos.
No Brasil
Os direitos políticos são regulados no Brasil pela Constituição Federal em seu artigo 14, que estabelece como princípio da participação na vida política nacional o sufrágio universal. Nos tempos da norma constitucional, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos, e facultativos para os analfabetos, os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos e os maiores de setenta anos.
A constituição proíbe a eleição de estrangeiros e brasileiros conscritos no serviço militar obrigatório, considera a nacionalidade brasileira como condição de elegibilidade e remete, à legislação infraconstitucional, a regulamentação de outros casos de inelegibilidade (lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990).
O exercício pleno dos direitos civis, políticos e sociais em uma sociedade que combine liberdade completa e participação numa sociedade ideal é, para José Murilo de Carvalho, a definição de cidadania.
Esta cidadania naturalizada é a liberdade dos modernos, como estabelece o artigo III da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948: "toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal". A origem desta carta remonta das revoluções burguesas no final do , sobretudo na França e nas colônias inglesas na América do Norte; o termo "cidadão" designa, nesta circunstância e contexto, o habitante da cidade "no cumprimento de seus simples deveres, em oposição a parasitas ou a pretensos parasitas sociais".
A etimologia da palavra cidadania vem do latim civitas, cidade, tal como cidadão (ciudadano ou vecino no espanhol, ciutadan em provençal, citoyen em francês). Neste sentido, a palavra-raiz, cidade, diz muito sobre o verbete. O habitante da cidade no cumprimento dos seus deveres é um sujeito da ação, em contraposição ao sujeito de contemplação, omisso e absorvido por si e para si mesmo, ou seja, não basta estar na cidade, mas agir na cidade. A cidadania, neste contexto, refere-se à qualidade de cidadão, indivíduo de ação estabelecido na cidade moderna.
No Brasil, nos léxicos da língua portuguesa que circularam no início do , observa-se bem a distinção entre os termos cidadão (em português arcaico, cidadam) e o fidalgo, prevalecendo o segundo para designar aquele indivíduo detentor dos s da cidade na sociedade de corte. Neste contexto, o fidalgo é o detentor dos deveres e obrigações na cidade portuguesa; o cidadão é uma maneira genérica de designar a origem e o trânsito dos vassalos do rei nos territórios do vasto Império Português. Com a reconfiguração do Estado a partir de 1822, vários conceitos políticos passaram por um processo de ressignificação; cidadão e cidadania entram no vocabulário dos discursos políticos, assim como os termos "Brasil", "brasileiros", em oposição a "brasílicos". Por exemplo: povo, povos, nação, história, opinião pública, América, americanos, entre outros.
A partir disso, o termo "cidadania" pode ser compreendido racionalmente pelas lutas, conquistas e derrotas do cidadão brasileiro ao longo da história nacional, a começar da história republicana, na medida em que esta ideia moderna, a relação indivíduo-cidade (ou indivíduo-Estado) "expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo (...)". Em outros termos, fundamenta-se na concessão pelo Estado das garantias individuais de vida, liberdade e segurança. O significado moderno da palavra é, portanto, incompatível com o regime monárquico, escravista e centralizador, anterior à independência política do Brasil. No entanto, este divisor monarquia-república não significa, no Brasil, uma nova ordem onde a cidadania tem um papel na construção de sociedade justa e igualitária. Este aspecto é bem pronunciado na cidadania brasileira: estas garantias individuais jamais foram concedidas, conquistadas e/ou exercidas plena e simultaneamente em circunstâncias democráticas, de estado de direito político ou de bem-estar social.
O longo caminho inferido por José Murilo de Carvalho refere-se a isto: uma cidadania no papel e outra cidadania cotidiana. É o caso da cidadania dos brasileiros negros: a recente Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989 é um prolongamento da luta pela cidadania dos "homens de cor", cujo marco histórico formal é a Lei Áurea de 1888; ou seja, foi necessário um século para garantir, através de uma lei, a cidadania civil de metade da população brasileira, se os números do último censo demográfico estão corretos; portanto, há uma cidadania no papel e outra cidadania cotidiana, conquistada no dia a dia, no exercício da vida prática; tanto é que, ainda hoje, discute-se, nas altas esferas da jurisprudência brasileira, se o cidadão negro é ou não é injustiçado pela história da nação.
O mesmo se pode dizer da cidadania da mulher brasileira: a Lei 11 340, de 7 de Agosto de 2006, a chamada "Lei Maria da Penha", criou mecanismos "para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher". Ou seja, garantir sua liberdade civil, seu direito de ir e vir sem ser agredida ou maltratada. No caso da mulher, em geral, a lei chega com atraso, como forma de compensação, como retificação de várias injustiças históricas com o gênero; o direito de votar, por exemplo, conquistado através de um "código eleitoral provisório" em 1932, ratificado em 1946. A lei do divórcio obtida em 1977, ratificada recentemente pela chamada Nova Lei do Divórcio, ampliando a conquista da liberdade civil de outra metade da população brasileira.
Neste contexto, a lei torna-se o último recurso da cidadania, aquela cidadania desejada e praticada no cotidiano por pessoas com deficiência, pessoas LGBT, crianças, adolescentes, pessoas idosas ou aposentadas, etc. Um caso prático para ilustrar esta realidade cotidiana é a superlotação dos presídios e casas de custódia; a rigor, os direitos humanos contemplam, também, os infratores, uma vez que "toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal".
Embora existam leis que visam a reparar injustiças, existe também uma longa história de lutas cotidianas para conquistar estes direitos: o direito à liberdade de expressão, o direito de organizar e participar de associações comunitárias, sindicatos trabalhistas e partidos políticos, o direito a um salário justo, a uma renda mínima e a condições para sobreviver, o direito a um pedaço de terra para plantar e colher, o direito de votar e ser votado talvez o mais elementar da democracia moderna, negado à sociedade na já longa história da cidadania brasileira.
Em Portugal
Os direitos políticos são regulados em Portugal pela Constituição da República Portuguesa de 1976, com Revisão Constitucional de 2005, nos seus artigos 15º, 31º, 50º e 269º.
Ver também
Cidadania moral e ética
Civismo
Responsabilidade social
Bibliografia
Pinsky, Jaime; Pinsky, Carla Bassanezi, História da Cidadania, Editora Contexto, ISBN 85-7244-217-0
Guimarães, Francisco Xavier da Silva, Nacionalidade: Aquisição, Perda e Reaquisição, 1ª edição, Forense, 1965.
Ligações externas
Rousseau e a questão da cidadania
Cidadania e Conflitualidade, por Nuno Lemos Pires
Evolução histórica do conceito de Cidadania
História da cidadania Resenha por João Paulo, Correio Braziliense (12 de abril de 2003)
O conceito de cidadania. In: Individualização, cidadania e inclusão na sociedade contemporânea: uma análise teórica, por Maria Izabel Sanches Costa e Aurea Maria Zöllner Iann, São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2018, pp. 43-73. ISBN: 978-85-68576-95-3
Ciência política
Sociedade | 88,095 |
577 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula%20electroqu%C3%ADmica | Célula electroquímica | Uma célula eletroquímica é um dispositivo capaz de gerar energia elétrica a partir de reação química ou facilitar reações químicas através da introdução de energia elétrica. Um exemplo comum de uma célula eletroquímica é o padrão AA de 1,5 volt.
A célula eletroquímica denominada pilha de Daniell foi criada em 1835 pelo químico inglês John Frederic Daniell.
Ver também
Célula eletrolítica
Eletroquímica | 5,169 |
581 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Compasso | Compasso | Compasso (geometria)
Compasso (maçonaria)
Compasso (música)
Compasso (constelação)
Compasso (Páscoa)
Desambiguação | 2,191 |
582 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmos | Cosmos | Cosmos foi uma série de TV realizada por Carl Sagan e sua esposa Ann Druyan, produzida pela KCET e Carl Sagan Productions, em associação com a BBC e a Polytel International, veiculada na PBS em 1980. A série Cosmos é um dos mais formidáveis exemplos da amplitude e eficácia que a divulgação científica pode atingir por meios audiovisuais, quando servida por uma personalidade carismática como Carl Sagan e por meios técnicos adequados.
Visão geral
Cosmos foi produzido em 1978 e 1979 pela afiliada da PBS em Los Angeles, a KCET, com um orçamento de aproximadamente US$ 6,3 milhões, com mais de US$ 2 milhões adicionais investidos em divulgação. O formato do programa é semelhante aos documentários anteriores da BBC, como Civilization, de Kenneth Clark, The Ascent of Man, de Jacob Bronowski, e Life on Earth, de David Attenborough. No entanto, ao contrário daquelas séries, que foram filmadas inteiramente em filme, Cosmos utilizou fitas de vídeo para cenas interiores e efeitos especiais, sendo o filme usado para exteriores. A BBC - co-produtora do Cosmos - posteriormente exibiu a série, mas os episódios foram cortados para caber na grade de 50 minutos.
A série se destaca por seu uso inovador de efeitos especiais, que permitem a Sagan percorrer ambientes que são, na verdade, maquetes, e não cenários completos. A trilha sonora inclui trechos de música fornecidos pelo compositor grego Vangelis, como Alpha, Pulstar e Heaven and Hell Part 1 (o último movimento serve como tema central da série, e é diretamente referenciado pelo título do quarto episódio). Ao longo das 13 horas da série, muitas faixas de vários álbuns dos anos 1970 são usadas, como Albedo 0,39, Meddle, Spiral, Ignacio, Beaubourg e China. O sucesso mundial da série colocou a música de Vangelis nas casas de muitos e chamou a atenção de um público global.
A Turner Home Entertainment comprou Cosmos da produtora de séries KCET em 1989. Ao fazer a transição para a televisão, os episódios de uma hora foram editados em episódios menores, e Sagan filmou novos epílogos para vários episódios, nos quais discutiu novas descobertas (e pontos de vista alternativos) que haviam surgido desde a transmissão original. Um 14º episódio, consistindo de uma entrevista entre Sagan e Ted Turner, também foi produzido. Esta nova versão da série acabou sendo lançada como um box VHS. Esta mesma versão reeditada também foi lançada em LaserDisc.
Cosmos esteve indisponível por muitos anos após seu lançamento inicial devido a problemas de direitos autorais com a trilha sonora, até ser lançado em 2000 em DVD com legendas em sete idiomas e som 5.1 remasterizado incluídos, assim como uma faixa alternativa de novas músicas e efeitos sonoros. Em 2005, o The Science Channel retransmitiu a série para seu 25º aniversário, com efeitos computadorizados e filmagens atualizadas, som digital e informações sobre descobertas científicas relevantes nos 25 anos passados. Apesar de ser exibido novamente no Science Channel, o tempo total para os 13 episódios originais (780 minutos) foi reduzido em 25% para 585 minutos (45 minutos por episódio), a fim de abrir espaço para comerciais.
Em um lançamento em 2009 no Reino Unido, a Fremantle Media Enterprises restaurou e remasterizou digitalmente a série original em um conjunto de DVDs de cinco discos que incluía atualizações científicas de bônus.
No Brasil, a série foi exibida pela primeira vez pela Globo entre 22 de agosto e 14 de novembro de 1982, aos domingos depois do Fantástico, apresentada então pelo ator e dublador Reynaldo Gonzaga, mas com Carl Sagan sendo dublado por Sílvio Navas. Posteriormente, em 2008, a série passou a ser exibida pelo canal TV Escola com nova dublagem de Sérgio Stern, feita através dos estúdios Synapse. O cientista brasileiro Marcelo Gleiser apresentou em 2006, no Fantástico, uma série denominada Poeira das Estrelas, um programa de divulgação científica feito nos moldes de Cosmos, segundo Gleiser, o nome de tal série foi dada graças a uma frase dita por Carl Sagan na série Cosmos dizendo que: "Todos nós somos poeira das estrelas", tal episódio da série de Sagan contava sobre estrelas, Gleiser remodelou tal frase dizendo no primeiro episódio de Poeira das Estrelas: "... uma vez o astrônomo americano Carl Sagan disse que somos todos 'Poeira das Estrelas'".
Ver também
The Music of Cosmos
Lista de episódios de Cosmos
Cosmos: A Spacetime Odyssey
Ligações externas
Página oficial
Programas da PBS
Séries de televisão documentário dos Estados Unidos
Séries de televisão documentário da década de 1980
Astronomia
Programas de televisão dos Estados Unidos que estrearam em 1980
Programas de televisão dos Estados Unidos encerrados em 1980
Programas de televisão em língua inglesa
Carl Sagan | 33,731 |
583 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia | Cronologia | A cronologia (do latim chronologia, do grego antigo χρόνος, chrónos, "tempo"; e -λογία, -logia) é a ciência de organizar eventos em sua ordem de ocorrência no tempo. Considere, por exemplo, o uso de uma linha do tempo ou sequência de eventos. É também "a determinação da sequência temporal real de eventos passados".
A cronologia faz parte da periodização. É também uma parte da disciplina de história, incluindo história da Terra, ciências da Terra e estudo da escala de tempo geológica.
Campos relacionados
A cronologia é a ciência de localizar eventos históricos no tempo. Baseia-se na cronometria, também conhecida como cronometria, e na historiografia, que examina a escrita da história e o uso de métodos históricos. A datação por radiocarbono estima a idade de seres antes vivos medindo a proporção do isótopo de carbono-14 em seu conteúdo de carbono. A dendrocronologia estima a idade das árvores por correlação dos vários anéis de crescimento em sua madeira com as sequências de referência ano a ano conhecidas na região para refletir a variação climática ano a ano. A dendrocronologia é usada por sua vez como uma calibração e referência para curvas de datação por radiocarbono.
Calendário e época
Os termos familiares calendário e era (na acepção de um sistema coerente de anos civis numerados) dizem respeito a dois conceitos fundamentais complementares de cronologia. Por exemplo, durante oito séculos o calendário pertencente à era cristã, época que foi usada no século VIII por Beda, foi o calendário juliano, mas depois do ano 1582 passou a ser o calendário gregoriano. Dionísio, o Exíguo (por volta do ano 500) foi o fundador dessa época, que é hoje o sistema de datação mais difundido do planeta. Uma época é a data (geralmente o ano) em que uma era começa.
Condição de Ab Urbe
Ab Urbe condita é Latin para "a partir da fundação da cidade (Roma)", tradicionalmente fixado em 753 a.C. Foi usado para identificar o ano romano por alguns historiadores romanos. Os historiadores modernos o usam com muito mais freqüência do que os próprios romanos; o método dominante de identificar os anos romanos era nomear os dois cônsules que ocuparam o cargo naquele ano. Antes do advento da edição crítica moderna de obras históricas romanas, AUC foi indiscriminadamente adicionado a eles por editores anteriores, fazendo com que parecesse mais amplamente usado do que realmente era.
Foi usado sistematicamente pela primeira vez apenas por volta do ano 400, pelo historiador ibérico Orosius. O papa Bonifácio IV, por volta do ano 600, parece ter sido o primeiro a fazer uma conexão entre estes e Anno Domini. (AD 1 = AUC 754)
Era astronômica
A era Anno Domini de Dionísio, o Exíguo (que contém apenas os anos civis DC) foi estendida por Beda à era cristã completa (que contém, além disso, todos os anos civis AC, mas nenhum ano zero). Dez séculos depois de Beda, os astrônomos franceses Philippe de la Hire (no ano de 1702) e Jacques Cassini (no ano de 1740), puramente para simplificar certos cálculos, colocaram a data juliana (proposto no ano de 1583 por Joseph Justus Scaliger) e com ele uma era astronômica em uso, que contém um ano bissexto zero, que precede o ano 1 (DC).
Pré-história
Embora de importância crítica para o historiador, os métodos de determinação da cronologia são usados na maioria das disciplinas da ciência, especialmente astronomia, geologia, paleontologia e arqueologia.
Na ausência de uma história escrita, com suas crônicas e listas de reis, os arqueólogos do final do século XIX descobriram que podiam desenvolver cronologias relativas baseadas em técnicas e estilos de cerâmica. No campo da egiptologia, William Flinders Petrie foi o pioneiro na datação de sequências para penetrar nos tempos neolíticos pré-dinásticos, usando grupos de artefatos contemporâneos depositados juntos em um único momento em túmulos e trabalhando metodicamente para trás desde as primeiras fases históricas do Egito. Este método de datação é conhecido como seriação.
As mercadorias conhecidas descobertas em estratos em locais às vezes bem distantes, o produto do comércio, ajudaram a estender a rede de cronologias. Algumas culturas mantiveram o nome aplicado a eles em referência a formas características, por falta de uma ideia do que eles chamavam a si mesmos: "O Povo do Copo" no norte da Europa durante o terceiro milênio AEC, por exemplo. O estudo dos meios de colocar cerâmica e outros artefatos culturais em algum tipo de ordem prossegue em duas fases, classificação e tipologia: a classificação cria categorias para fins de descrição e a tipologia busca identificar e analisar as mudanças que permitem que os artefatos sejam colocados em sequências.
As técnicas de laboratório desenvolvidas principalmente após meados do século XX ajudaram a constantemente revisar e refinar as cronologias desenvolvidas para áreas culturais específicas. Métodos de datação não relacionados ajudam a reforçar uma cronologia, um axioma de evidências corroborativas. Idealmente, os materiais arqueológicos usados para datar um sítio devem complementar-se e fornecer um meio de verificação cruzada. As conclusões tiradas de apenas uma técnica sem suporte são geralmente consideradas não confiáveis.
Sincronismo
O problema fundamental da cronologia é sincronizar eventos. Ao sincronizar um evento, torna-se possível relacioná-lo com a hora atual e comparar o evento com outros eventos. Entre os historiadores, uma necessidade típica é sincronizar os reinados de reis e líderes para relacionar a história de um país ou região com a de outro. Por exemplo, a Crônica de Eusébio (325 DC) é uma das principais obras do sincronismo histórico. Este trabalho tem duas seções. O primeiro contém crônicas narrativas de nove reinos diferentes: Caldeu, Assírio, Medo, Lídio, Persa, Hebraico, Grego, Peloponeso, Asiático e Romano. A segunda parte é uma longa mesa que sincroniza os eventos de cada um dos nove reinos em colunas paralelas.
Ao comparar as colunas paralelas, o leitor pode determinar quais eventos foram contemporâneos ou quantos anos separaram dois eventos diferentes. Para colocar todos os eventos na mesma escala de tempo, Eusébio usou uma era Anno Mundi (AM), o que significa que os eventos foram datados do suposto início do mundo como calculado a partir do Livro do Gênesis no Pentateuco hebraico. De acordo com o cálculo usado por Eusébio, isso ocorreu em 5199 a.C. A Crônica de Eusébio foi amplamente usada no mundo medieval para estabelecer as datas e horários de eventos históricos. Cronógrafos subsequentes, como Jorge Sincelo (falecido por volta de 811), analisaram e elaboraram o Chronicon comparando-o com outras cronologias. O último grande cronógrafo foi Joseph Justus Scaliger (1540-1609) que reconstruiu o Chronicon perdido e sincronizou toda a história antiga em suas duas principais obras, De emendatione temporum (1583) e Thesaurus temporum (1606). Muitas das datações históricas modernas e da cronologia do mundo antigo derivam, em última análise, dessas duas obras.
Além dos métodos literários de sincronismo usados por cronógrafos tradicionais como Eusébio, Sincelo e Scaliger, é possível sincronizar eventos por meios arqueológicos ou astronômicos. Por exemplo, o Eclipse de Tales, descrito no primeiro livro de Heródoto, pode potencialmente ser usado para datar a Guerra da Lídia porque o eclipse ocorreu durante uma importante batalha naquela guerra. Da mesma forma, vários eclipses e outros eventos astronômicos descritos em registros antigos podem ser usados para sincronizar astronomicamente eventos históricos. Outro método para sincronizar eventos é o uso de achados arqueológicos, como cerâmica, para fazer a datação em sequência.
Ver também
Cronologia da História do Mundo
Cronologia Bíblica
Cronologia do Universo
Crónica (historiografia)
Referências
Leitura adicional
Publicado nos séculos XVIII a XIX
Weeks, J. E. (1701). The gentleman's hour glass; or, An introduction to chronology; being a plain and compendious analysis of time. Dublin: James Hoey.
Hodgson, J., Hinton, J., & Wallis, J. (1747). An introduction to chronology:: containing an account of time; also of the most remarkable cycles, epoch's, era's, periods, and moveable feasts. To which is added, a brief account of the several methods proposed for the alteration of the style, the reforming the calendar, and fixing the true time of the celebration of Easter. London: Printed for J. Hinton, at the King's Arms in St Paul's Church-yard.
Smith, T. (1818). An introduction to chronology. New York: Samuel Wood.
Publicado no século XX
Keller, H. R. (1934). The dictionary of dates. New York: The Macmillan company.
Poole, R. L., & Poole, A. L. (1934). Studies in chronology and history. Oxford: Clarendon Press.
Langer, W. L., & Gatzke, H. W. (1963). An encyclopedia of world history, ancient, medieval and modern, chronologically arranged. Boston: Houghton Mifflin.
Momigliano, A. "Pagan and Christian Historiography in the Fourth Century A.D." in A. Momigliano, ed., The Conflict Between Paganism and Christianity in the Fourth Century,The Clarendon Press, Oxford, 1963, pp. 79–99
Williams, N., & Storey, R. L. (1966). Chronology of the modern world: 1763 to the present time. London: Barrie & Rockliffe.
Steinberg, S. H. (1967). Historical tables: 58 B.C.-A.D. 1965. London: Macmillan.
Freeman-Grenville, G. S. P. (1975). Chronology of world history: a calendar of principal events from 3000 BC to AD 1973. London: Collings.
Neugebauer, O. (1975). A History of Ancient Mathematical Astronomy Springer-Verlag.
Bickerman, E. J. (1980). The Chronology of the Ancient World. London: Thames and Hudson.
Whitrow, G. J. (1990). Time in history views of time from prehistory to the present day. Oxford [u.a.]: Oxford Univ. Press.
Aitken, M. (1990). Science-Based Dating in Archaeology. London: Thames and Hudson.
Richards, E. G. (1998). Mapping Time: The Calendar and History. Oxford University Press.
Publicado no século XIX
Koselleck, R. "Time and History." The Practice of Conceptual History. Timing History, Spacing Concepts. Palo Alto: Stanford University Press, 2002.
Ligações externas
Pioneiros - Cronologia - Lista cronológica dos eventos pioneiros no mundo, desde o início da humanidade até aos nossos dias.
Site Ponteiro - Página com todas as cronologias da História do mundo.
Cronologia dos acontecimentos ocorridos em Portugal entre 1640-1974
Cronologias
Teoria da história
Ciências auxiliares da História
!Mais Teoria da História na Wiki (Wikiconcurso de edição) | 35,658 |
584 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Craft%20%28Os%20Maias%29 | Craft (Os Maias) | Guilherme Craft é um personagem secundário do romance Os Maias, de Eça de Queirós. Homem dândi e burguês, representa na obra a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem. Craft é descrito como um "byroniano".
Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza. Inglês rico e boémio, colecionador de bricabraque. Apesar de pouca ou nenhuma importância ter na ação principal, Craft representa o homem correto, incorruptível e "de hábitos rijos, pensando com retidão". Recebe especial favor de Afonso da Maia, que o considera "deveras um homem".
A sua descrição, na obra:
É inicialmente introduzido por João da Ega a Carlos da Maia, afirmando que era indispensável conhecer o Craft. O inglês havia construído um recanto campestre, a Quinta dos Olivais, conhecida como "a Toca". Mais tarde, querendo desfazer-se dela, Carlos da Maia adquire-a para oferecer como residência Maria Eduarda e Rosa.
Personagens d'Os Maias | 2,724 |
587 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio%20isl%C3%A2mico | Calendário islâmico | O calendário islâmico, calendário muçulmano ou calendário hegírico é um calendário lunar composto por doze meses, de 29 ou 30 dias, ao longo de um ano com 354 ou 355 dias. A contagem do tempo deste calendário começa com a Hégira — a fuga de Maomé de Meca para Medina, em 16 de julho de 622. O mês começa quando primeiro crescente visível da Lua aparece pela primeira vez após o pôr-do-sol. Tem cerca de 11 dias a menos que o calendário solar.
Este calendário baseado no ano lunar não corresponde aos calendários do ano solar. Os meses islâmicos retrocedem a cada ano que passa em relação aos calendários baseados no ano solar, como o Calendário gregoriano, por exemplo. Uma vez que o calendário islâmico é cerca de 11 dias mais curto que o calendário solar, os feriados muçulmanos acabam por circular por todas as estações.
O atual ano islâmico é 1444 (correspondente, pelo calendário gregoriano, ao período de 30 de julho de 2022 a 18 de julho de 2023). Normalmente, a notação utilizada é 1444 AH, do latim Anno Hegirae ("Ano da Hégira"), copiando à notação cristã AD.
Anos
Os 12 meses do ano se alternam em durações de 29 e 30 dias. Dentro de um ciclo de 30 anos, 11 deles, os 1º, 5º, 7º, 10º, 13º, 16º, 18º, 21º, 24º, 26º e 29º, recebem um dia a mais (30 dias no último mês). (o sétimo dia da semana islâmica), 16 de julho de 622 d.C. do Calendário Juliano, o dia da fuga Hégira de Maomé de Meca para Medina.
Meses Islâmicos
1º - Muharram
2º - Safar
3º - Rabi al-Awwal
4º - Rabi al-Thani
5º - Jumada al-Awwal
6º - Jumada al-Thani
7º - Rajab
8º - Sha'aban
9º - Ramadan
10º - Shawwal
11º - Dhu al-Qidah
12º - Dhu al-Hija
Dias da Semana
1º - Yaum as-Sabt
2º - Yaum al-Ahad
3º - Yaum al-Ithnayn
4º - Yaum ath-Thalatha
5º - Yaum al-Arba'a
6º - Yaum al-Khamis
7º - Yaum al-Jum'a
Datas importantes
Datas importantes no ano islâmico (Hijri) são:
1 Muharram: o Ano Novo Islâmico.
10 Muharram: Dia de Ashura. Para xiitas e sunitas, o martírio de Husayn ibn Ali, neto de Muhammad, e seus seguidores. Para os sunitas, a travessia do Mar Vermelho por Moisés ocorreu neste dia, juntamente com muitos outros eventos significativos na vida dos profetas e que têm a ver com a Criação.
12 Rabi al-Awwal: Mawlid ou Nascimento do Profeta para os sunitas.
17 Rabi al-Awwal: Mawlid para xiitas.
27 Rajab: Isra e Mi'raj para a maioria dos muçulmanos.
15 Sha'ban: Mid-Sha'ban, ou Noite do Perdão. Para os xiitas, também o aniversário de Muhammad al-Mahdi, o décimo segundo imã.
1 Ramadã: O primeiro dia de jejum no Islã
27 Ramadan: Início da Revelação do Alcorão. O dia mais provável que o profeta Muhammad recebeu os primeiros versos do Alcorão (17 Ramadã na Indonésia e Malásia).
Último terço do Ramadã, que inclui Laylat al-Qadr.
1 Shawwal: Eid ul-Fitr.
8–13 Dhu al-Hijjah: A peregrinação do Hajj a Meca.
9 Dhu al-Hijjah: Dia de Arafa.
10 Dhu al-Hijjah: Eid al-Adha.
Ligações externas
Conversor de datas para vários calendários, incluindo este
Calendário islâmico para o ano de 1444 (período gregoriano correspondente: 30 de julho de 2022 - 18 de julho de 2023)
i
Islamico | 95,291 |
588 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Comportamento | Comportamento | O comportamento é definido como o conjunto de reações de um sistema dinâmico face às interações e renovação propiciadas pelo meio onde está envolvido. Exemplos de comportamentos são: comportamento social, comportamento humano, comportamento informacional (o que o indivíduo faz com relação à informação), comportamento animal, comportamento atmosférico etc..
Individualidades e teoria de sistemas
Quando tratamos de individualidades, podemos definir o comportamento como o conjunto de reações e atitudes de um indivíduo ou grupo de indivíduos em face do meio social.
Em teoria de sistemas, comportamento é a resposta observável de um estímulo. Nos animais, por exemplo, envolve essencialmente instintos e hábitos aprendidos. O ser humano está sempre recebendo estímulos do ambiente em que vive e interage: seu comportamento, ou seja, suas respostas a esses estímulos, variam muito de acordo com cada pessoa.
Instinto e cultura
Há o debate clássico da natureza versus criação (em inglês, nature vs. nurture), que discute a que grau uma característica comportamental é inata (por exemplo, herdada geneticamente) ou adquirida através da interação com o ambiente físico e sociocultural. Reconhece-se atualmente que natureza e ambiente contribuem conjuntamente em interação à formação do indivíduo e sua mente, sem exclusão um do outro. Há características que possuem uma porcentagem maior de um componente do que de outro, como visto em estudos de herdabilidade, e o conceito atual de instinto é utilizado para tendências comportamentais inatas, tal como as habilidades adaptativas da espécie em seus módulos cognitivos. As áreas contemporâneas que sintetizam esses níveis de análise são as ciências cognitivas e a sociobiologia, as quais utilizam conhecimentos da psicologia evolucionista, genética do comportamento e epigenética do comportamento.
Dois exemplos clássicos de comportamento instintivo e cultural, desenvolvidos ao extremo, são o dos insetos, por um lado, e o dos mamíferos, por outro. Enquanto que os primeiros praticamente não têm aprendizado e nascem com quase toda a informação que precisam para sobreviver, os segundos são seres com comportamento social e precisam da convivência em grupo (pelo menos na infância) para adquirir o acúmulo de sucessos das gerações anteriores, transmitidos também culturalmente além da genética.
Respondente e operante
Os comportamentos são divididos em duas classes: respondente e operante:
respondente ou reflexo: involuntário; ação de componentes físicos do corpo (exemplos: glândulas, sudorese, sistema nervoso autônomo);
operante: voluntário; ação de músculos que estão sob controle espontâneo (exemplos: comer, falar, etc.); é controlado pelas suas consequências.
Psicologia
Em psicologia, o comportamento é a conduta, procedimento, ou o conjunto das reações observáveis em indivíduos em determinadas circunstâncias inseridos em ambientes controlados. Podendo ser descrito como uma contingência tríplice composta de antecedentes-respostas-consequências, ou respostas de um membro da contingência.
Behaviorismo
O comportamento é objeto de estudo do behaviorismo, uma das mais importantes abordagens da psicologia, que se iniciou no começo do século XX, e que foi proposto por John Broadus Watson. Com a intenção de fazer uma psicologia científica, que se distanciasse o máximo possível das probabilidades de erro das inferências realizadas pelos métodos subjetivos, John B. Watson iniciou, em 1912, um movimento em psicologia denominado "behaviorismo", termo derivado da palavra inglesa para "comportamento": behavio(u)r. Muitos psicólogos têm definido a psicologia como "ciência do comportamento", tendo, como finalidade, compreendê-lo para modificá-lo e prevê-lo, quando necessário.
Nesta concepção, toda vida mental manifesta-se através de atos, gestos, palavras, expressões, realizações, atitudes ou qualquer reação do homem a estímulos do meio ambiente. Desta forma, o psicólogo deve observar apenas estas manifestações, deixando de lado o método introspectivo, onde as falhas eram frequentes, para se utilizar da extrospecção, que consiste na observação exterior. Depois da concepção comportamental de Watson, o behaviorismo evoluiu muito, e, atualmente, vai além das limitações da época, em que a psicologia não passava do estudo das relações entre o estímulo observável que o homem ou animal sofria e a resposta que estes emitiam a partir deles.
Os behavioristas atuais consideram o organismo e as diferenças comportamentais que acontecem a depender da situação, da privação e da história de vida de cada um. O estado do organismo interfere na resposta que ele emitirá frente a determinado estímulo. As reações podem ser psíquicas ou puramente fisiológicas. As reações fisiológicas de um organismo, para alguns teóricos, não são chamadas de comportamento. Atualmente, os psicólogos definem comportamento como as reações globais do organismo que possuem uma significação. Outra concepção de comportamento trabalha com definições de comportamento inato que todos os seres da mesma espécie apresentam na presença de um determinado estímulo, como é o caso da contração e dilatação das pupilas na presença de luz ou na ausência dela e outras reações que não precisam ser aprendidas.
Este tipo de comportamento também é definido como "respondente". Nesta concepção, o outro tipo de comportamento é o "adquirido", que é mutável e que se caracteriza por ser uma reação que pode ser diferente, mesmo se tratando da mesma estimulação a indivíduos da mesma espécie, ou até ao mesmo indivíduo em diferentes situações. Este tipo de comportamento vai se instalando no decorrer da vida de cada sujeito e, normalmente, adquire significados que dizem respeito à história de vida de cada um. Estes comportamentos, em geral, são denominados "operantes" porque operam sobre o ambiente. Muitas vezes, o comportamento verbal é de fundamental importância para o entendimento do significado da resposta emitida pelo sujeito. Em muitos casos, a expressão através da linguagem é extremamente reduzida e, nestes casos, a reação pode ser considerada superficial. A reação superficial, no conceito do doutor Spitz, diz respeito a respostas emitidas por crianças ainda muito pequenas e que não perceberam ainda, totalmente, as significações da pessoa humana.
Freud
Freud salientou a importante relação existente entre o comportamento de um ser humano adulto e certos episódios de sua infância, mas resolveu preencher o considerável hiato entre causa e efeito com atividades ou estados do aparelho mental. Desejos conscientes ou inconscientes ou emoções no adulto representam esses episódios passados e são considerados como os responsáveis diretos pelo comportamento. Em relação aos costumes e comportamentos sociais, esse autor trouxe uma série de contribuições para antropologia ao tomar essa ciência como referência para a psicanálise, o método clínico que desenvolveu.
Antropologia
Segundo a antropologia cultural, os componentes considerados inatos no comportamento humano (como o sexo, instintos de agressividade e de competição) poderiam ser modificados. A cultura seria capaz de reprimir ou alterar esses comportamentos.
Ver também
Geral
Teoria de sistemas
Teoria do Caos
Etologia
Neuroetologia
Sociobiologia
Antropologia comportamental
Psicologia
Comportamento humano
Comportamento emocional
Comportamento espécie-específico
Comportamento operante
Comportamento respondente
Comportamento divergente
Sociologia
Sociologia
Etiqueta à mesa | 53,501 |
590 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Design%20de%20cartaz | Design de cartaz | Design de cartaz é uma atividade voltada para o projeto de cartazes ou pôsteres.
Citações
"Cartazes são mensageiros. Cartazes é expressão de cultura. (...)Visíveis e inconfundíveis, como parte de um processo de comunicação(...) Bons cartazes falam uma linguagem internacional."
Manfred Triesch
"Os cartazes são algo grande. Não só seu tamanho proporciona ao designer amplitude para transmitir sua mensagem, mas também são grandes em outro sentido: são populares. Os cartazes anunciam acontecimentos locais, expressam ideias políticas, promovem programas educativos, dão endereços com uma visualidade contundente e criativa. E, se o designer fez bem o seu trabalho, se convertem em artigos colecionáveis. (...) Tanto se um cartaz promove um filme de orçamento multimilionário ou a oferta de carne no açougue da esquina, o design pode ter classe. O grafismo deve conquistar; o texto, na fração de segundo que retém a atenção do leitor, deve introduzir a mensagem em sua memória."
(Biblioteca de Diseño — Carteles, México, 1996)
Ver também
cartaz
Design Gráfico
Cartazista
Design gráfico
Comunicação
Publicidade | 755 |
592 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Caribe | Caribe | O Caribe (português brasileiro e português europeu), também chamado Caraíbas (apenas em português europeu) e América Caribenha, é uma região do continente americano formada pelo Mar do Caribe, suas ilhas e Estados insulares. Também é chamado de Antilhas ou Índias Ocidentais, nome originado pela crença inicial europeia de que o continente americano fosse a Índia (o termo "ocidentais" foi, posteriormente, adicionado para distingui-las da região da Índia "verdadeira"). Os nascidos nas ilhas do Caribe são denominados caribenhos.
O Caribe está localizado na placa tectónica do mesmo nome — a Placa do Caribe —, que engloba também a parte sul da América Central. Na fronteira desta placa com a Placa Sul-Americana, a leste, junto ao oceano Atlântico, existe uma zona de subducção vulcanicamente ativa, que originou as Pequenas Antilhas.
Etimologia
"Caribe" e "caraíbas" originaram-se do termo taino caribe (audaz, valente). São uma referência às tribos de línguas caribes que habitavam (e, em alguns casos, ainda habitam) as Pequenas Antilhas, as Guianas e parte do litoral da América Central.
História
Geografia
Oceanografia
O mar das Caraíbas possui em média uma salinidade de 35 a 36 partes por mil e uma temperatura que varia entre os 27 a 28 °C na superfície e os 4 °C no fundo.
O mar é principalmente alimentado pelas águas do Oceano Atlântico que atravessam os passos a oriente e são transportadas até ao golfo do México, através do Canal do Iucatão. As águas doces provenientes dos rios Orinoco e Amazonas contribuem com cerca de 15 a 20% da água superficial do mar.
Hidrografia
O maior rio que desemboca na bacia hidrográfica do mar das Caraíbas é o Magdalena, que atravessa a Colômbia desde o Maciço Colombiano por cerca de 1 540 km. Por sua vez, o Magdalena recebe o caudal de outros rios como o Cauca e o Cesar.
Outros rios que desembocam nas Caraíbas são: Unare, Tocuyo, Catatumbo e Chama na Venezuela; Ranchería, Sinú e Atrato, na Colômbia; San San, Chagres (Canal do Panamá) e Changuinola, no Panamá; Grande, Prinzapolca e Huahua na Nicarágua; San Juan na fronteira entre a Nicarágua e a Costa Rica, que liga o Lago Cocibolca às Caraíbas; Segovia, na fronteira entre as Honduras e a Nicarágua; Patuca, Sico, Aguán e Ulua nas Honduras; Motágua na Guatemala; rio Belize no Belize; o rio Hondo no México; Cauto em Cuba; Yaque del Sur, Ozama e Macoris na República Dominicana; Negro na Jamaica e Grande de Patillas em Porto Rico. Os estuários que se formam na foz dos rios criam ecossistemas e condições de vida especiais. As condições ecológicas básicas neste meio são: uma salinidade que flutua ao longo do ano, transporte de águas doces, carregadas com matéria orgânica e nutrientes, os quais contribuem para a produtividade biológica e também carregadas com sedimentos que turvam o meio, e influência permanente de águas marinhas costeiras que nas Caraíbas são mais claras e menos férteis que as de qualquer estuário.
Também se destaca o Lago de Maracaibo, que se liga às Caraíbas através do golfo da Venezuela, e que, com uma superfície de 13 210 km², é o maior lago da América do Sul e um dos mais antigos da Terra.
Flora e fauna
A flora do mar das Caraíbas apresenta uma grande biodiversidade. Estima-se que as Caraíbas tenham 13 000 espécies de plantas e que mais de 6 500 destas são endémicas. Algumas das plantas que se podem encontrar são a oliveira que se localiza principalmente na República Dominicana, o caimito que se espalha por toda a região das Caraíbas, o guaiaco (flor nacional da Jamaica), a ceiba (árvore nacional de Porto Rico e Guatemala) e a caoba (árvore nacional de República Dominicana).
A fauna das Caraíbas é característica do clima subtropical, principalmente influenciada pelas correntes marinhas quentes, sendo 42% das suas espécies endémica. Existem cerca de 450 espécies de peixes entre as quais se pode mencionar a barracuda, a garoupa, a moreia e diversas famílias de caraciformes. Também se contabilizam 600 espécies de aves, sendo 155 endémicas como os todies (espécie endémica e uma das mais antigas das Caraíbas); a maioria das espécies de aves são migratórias como a mariquita-amarela e a garça verde. De acordo com a Birdlife International, em 2006 havia 29 espécies de aves em perigo de extinção em Cuba e duas oficialmente extintas. Espécies de aves como o papagaio-de-porto-rico, a jacutinga e a pomba da espécie Columba inornata wetmorei encontram-se em perigo de extinção.
Existem 500 espécies de répteis nas Caraíbas, das quais 94% são endémicas como a iguana verde e a iguana azul, endémica da ilha Grande Caimão (ambas em perigo de extinção), a iguana de Mona, endémica da Ilha de Mona (Porto Rico), a iguana-rinoceronte própria da República Dominicana, e o crocodilo-americano espalhado pelas ilhas das Caraíbas, América Central e norte da América do Sul (em perigo de extinção), assim como diversas espécies de tartarugas marinhas como a Tartaruga-de-pente.
Existem 170 espécies de anfíbios endémicos nas Caraíbas e de acordo com a informação da avaliação anfíbia global, em 2004 mais de 80% dos anfíbios estavam ameaçados em República Dominicana, Cuba e Jamaica, e 92% no Haiti. Espécies como o coquí dourado encontram-se em grave ameaça de extinção.
Contabilizam-se 90 espécies de mamíferos nas Caraíbas, dentro dos mamíferos nativos podem-se mencionar o golfinho, o manati, o almiqui (endémico das Antilhas) e diversas espécies de morcegos, e a baleia-jubarte como espécie migratória. Outras espécies como a foca-monge-das-caraíbas extinguiram-se durante os últimos séculos devido à ação direta do homem. Nos últimos 1 500 anos extinguiu-se 90% dos mamíferos das Antilhas.
Ecologia
Nas Caraíbas, encontra-se cerca de 9% dos recifes de coral do planeta cobrindo cerca de 20 000 milhas quadradas, muitos deles localizados ao largo das ilhas das Caraíbas e da costa da América Central Entre eles destaca-se a Barreira de Coral do Belize, com uma superfície de 96 300 ha, que foi declarada patrimônio da humanidade em 1996, faz parte do Grande Recife Maia (também conhecido como Sistema Arrecifal Mesoamericano), que com mais de mil quilômetros de extensão é o segundo maior do mundo, cobrindo as costas caribenhas do México, Belize, Guatemala e Honduras. Atualmente as correntes de água quente colocam em perigo os recifes de coral das Caraíbas. Os recifes de coral contêm alguns dos mais diversos habitats do mundo, mas são ecossistemas muito frágeis. Quando as águas tropicais superam os 30 °C durante um período prolongado, as zooxantelas morrem. Estas plantas providenciam alimento aos corais e conferem-lhes a sua cor. O branqueamento resultante dos recifes de coral mata-os e danifica o ecossistema. Mais de cerca de 42% das colônias de corais sofreram branqueamento completo, enquanto que cerca de 95% estão a sofrer algum tipo de branqueamento.
O habitat mantido pelos recifes é crítico para algumas atividades turísticas como a pesca e o mergulho e providencia rendas econômicas para as nações das Caraíbas de $3,1-4,6 mil milhões de dólares. A contínua destruição dos recifes pode deteriorar a economia da região. Em 1986 entrou em vigor o protocolo da convenção para a proteção e desenvolvimento do ambiente marinho na região das Caraíbas, cujo propósito é proteger a vida marinha que está em perigo através da proibição de atividades humanas que possam incrementar a sua destruição em diversas áreas. Até hoje, este protocolo foi ratificado por 15 nações. Também se formaram algumas organizações para preservar a vida marinha das Caraíbas, como a Corporación para la conservación del Caribe, que procura estudar e proteger as tartarugas marinhas, e educar a população a cuidar delas.
A água descarregada pelo Orinoco durante os meses de chuva gera grandes concentrações de clorofila na zona oriental do mar.
Territórios atuais
Anguila (território ultramarino britânico)
Antígua e Barbuda
Antígua
Barbuda
Aruba (país constituinte do Reino dos Países Baixos)
Curaçau (país constituinte do Reino dos Países Baixos)
Bahamas
Andros
Ilha Cat
Eleuthera
Grande Bahama
Nova Providência, com a capital Nassau
Barbados
Bermudas (território ultramarino britânico)
Colômbia
Chocó (costa norte), Antioquia, Córdoba, Sucre, Bolívar, Atlántico, Magdalena, La Guajira
Departamento de Santo André, Providência e Santa Catarina
Ilhas Caimão (território ultramarino britânico)
Caimão Brac
Grande Caimão, com a capital George Town
Pequena Caimão
Cuba
Dominica
Ilhas Granadinas (divididas entre Granada e São Vicente e Granadinas)
Guiana
Guadalupe (departamento e região ultramarina da França)
Ilha de Basse-Terre
La Désirade
Grande-Terre
Maria Galante
Ilha de Petite Terre
Ilha dos Santos (duas ilhas)
Granada
Jamaica
Martinica (departamento e região ultramarina da França)
México (não é um país caribenho, mas tem algumas ilhas no Caribe)
Ilha de Cancún, parte da cidade de Cancún
Ilha das Mulheres, perto de Cancún.
Cozumel
Monserrate (território ultramarino britânico)
Países Baixos Caribenhos (parte integrante dos Países Baixos, um dos países constituintes do reino com o mesmo nome)
Bonaire
Saba
Santo Eustáquio
Porto Rico (estado livremente associado aos Estados Unidos)
Santa Lúcia
São Bartolomeu (coletividade de França)
São Cristóvão e Neves
São Cristóvão
Neves
Ilha de São Domingos (também "Espanhola" ou "Hispaniola")
República Dominicana
Haiti
Ilha de São Martinho
São Martinho Francês (coletividade de França)
São Martinho Neerlandês (país constituinte do Reino dos Países Baixos)
São Vicente e Granadinas (divide as ilhas Granadinas com Granada)
Bequia
Mustique
Palm Island
São Vicente
Young Island
Suriname
Trindade e Tobago
Tobago
Trindade
Ilhas Turcas e Caicos (território ultramarino britânico)
Grande Turca
Providenciales
Venezuela
Ilhas Virgens
Ilhas Virgens Americanas (território dos Estados Unidos)
Ilhas Virgens Britânicas (território ultramarino britânico)
Ilhas Virgens Espanholas (território de Porto Rico)
Economia
A região das Caraíbas sentiu um aumento significativo da actividade humana desde o seu período de colonização. O mar é uma das maiores áreas de produção de óleo do mundo, com aproximadamente 170 milhões de toneladas anuais. Nas Caraíbas venezuelanas encontram-se importantes jazidos de petróleo e gás natural, os quais debitam uma produção de 3 081 milhões de barris diários de petróleo (2005) e de 29,7 mil milhões de metros cúbicos de gás (2003). A área também gera uma extensa indústria pesqueira nos países que a rodeiam, contabilizando meio milhão de toneladas de pescado anual. É grande produtora de cana de açúcar com uma produção anual de cerca de 30 milhões de toneladas em 2005, o que representa aproximadamente cerca de 2% da produção mundial.
A actividade humana na área também provoca um significativo aumento da poluição: as estimativas da Organização Pan-Americana da Saúde de 1993 informam que apenas cerca de 10% dos resíduos da América Central e das ilhas das Caraíbas são adequadamente tratados.
Turismo
O mar das Caraíbas é uma das mecas do turismo internacional. A Organização do Turismo das Caraíbas estima que cerca de 12 milhões de turistas visitam a região durante todo o ano. As Caraíbas são um dos principais destinos dos cruzeiros no mundo. A Organização do Turismo das Caraíbas estimou também que entre 1991 e 1992 receberam-se 8 milhões de turistas que viajaram em cruzeiros. Entre os sítios preferidos pelos visitantes e turistas, encontram-se a ilha de Porto Rico, a República Dominicana, Cuba, Jamaica, Aruba, Barbados, as Ilhas Virgens, São Martinho, Costa Rica, Trindade ou Margarita na Venezuela; as cidades de Cancún, Playa del Carmen e Cozumel, na Riviera Maia; Majahual, Xcalak e rio Huach na rota da Costa Maia do México; Cartagena de Indias, Santo André, Providência e Santa Catarina e Santa Marta na Colômbia; Puerto La Cruz, Barcelona, Ilha de Aves, Los Roques, Punto Fijo, Choroni, Tucacas, Barlovento na Venezuela; Bocas del Toro, Colón, Kuna Yala e o Canal do Panamá no Panamá.
Cultura
As Caraíbas são o cenário de inspiração de diversas obras literárias e películas relacionadas com pirataria e fantasia, género onde se destacam autores como Daniel Defoe e Robert Louis Stevenson, entre outros. Entre as películas de ficção caracterizadas geograficamente nas Caraíbas podem-se mencionar a série de filmes Piratas do Caribe e algumas de James Bond. Uma adaptação da primeira série de filmes encontra-se representada num parque da Disneylândia. A vida e costumes dos habitantes das Caraíbas também têm sido representadas em obras literárias com autores como o novelista cubano Alejo Carpentier, o dominicano Juan Bosch, o santaluciano Derek Walcott e o colombiano Gabriel García Márquez, entre outros.
A região das Caraíbas é berço de diversos ritmos musicais como o reggae e o ska provenientes da Jamaica, o merengue e a bachata da República Dominicana; o calipso de Trindade e Tobago; o reggaeton partilha as suas origens entre Porto Rico e Panamá, o son cubano e o son montuno originários de Cuba; a cúmbia, o porro e o vallenato da costa das Caraíbas colombianas, entre outros.
Um dos desportos mais populares nas Caraíbas é o baseball, do qual se realiza uma competição regional anual denominada Série do Caribe. Também se destacam o críquete nas Antilhas de fala inglesa e, mais recentemente, o futebol com todas as suas associações filiadas na CONCACAF. Por outro lado, o evento multidesportivo regional que reúne os representantes das Caraíbas são os Jogos Centro-americanos e do Caribe, que são celebrados a cada quatro anos desde 1926, sendo a competência multi-desportiva regional mais antiga vigente na actualidade.
Na área do mar das Caraíbas fala-se uma grande variedade de idiomas devido à diversidade de origens da sua cultura, entre de maior destaque podem-se mencionar espanhol (México, Cuba, República Dominicana, Porto Rico e costas da América Central e do Sul — incluindo arquipélagos dos ditos países), inglês (Jamaica — patois), Ilhas Virgens, Baamas, Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia, Trindade e Tobago, Barbados, Ilhas Caimão, Anguila, Bermudas, Ilhas Turcas e Caicos, Monserrate), o crioulo sanandresano nas ilhas de Santo André, Providência e Santa Catarina na Colômbia, francês (Haiti (crioulo), Guadalupe, Martinica, São Martinho, São Bartolomeu), neerlandês (Bonaire (papiamento), Curaçau (papiamento), Saba, Santo Eustáquio, São Martinho e Aruba). A religião predominante é a católica (República Dominicana, Porto Rico, Jamaica, Antígua e Barbuda, Santa Lúcia, Ilhas Caimão, Dominica, Aruba, Curaçau, Países Baixos Caribenhos, costas da América Central e do Sul), apesar de, nalgumas ilhas, se praticar o protestantismo (Barbados), o hinduísmo (uma das mais representativas em Trindade e Tobago), o anglicanismo (Monserrate, São Vicente e Granadinas), e noutras pratica-se a santeria (Cuba), o vudu (Haiti) e o rastafarianismo (uma das mais representativas na Jamaica).
Filosofia
Ver também
Comunidade do Caribe
Mar do Caribe
Placa do Caribe
Índias Ocidentais
Leitura adicional
Develtere, Patrick R. 1994. "Co-operation and development: With special reference to the experience of the Commonwealth Caribbean" ACCO,
Gowricharn, Ruben. Caribbean Transnationalism: Migration, Pluralization, and Social Cohesion. Lanham: Lexington Books, 2006.
Henke, Holger, and Fred Reno, eds. Modern Political Culture in the Caribbean. Kingston: University of West Indies Press, 2003.
Heuman, Gad. The Caribbean: Brief Histories. London: A Hodder Arnold Publication, 2006.
de Kadt, Emanuel, (editor). Patterns of foreign influence in the Caribbean, Oxford University Press, 1972.
Knight, Franklin W. The Modern Caribbean (University of North Carolina Press, 1989).
Kurlansky, Mark. 1992. A Continent of Islands: Searching for the Caribbean Destiny. Addison-Wesley Publishing.
Langley, Lester D. The United States and the Caribbean in the Twentieth Century. London: University of Georgia Press, 1989.
Maingot, Anthony P. The United States and the Caribbean: Challenges of an Asymmetrical Relationship. Westview Press, 1994.
Palmie, Stephan, and Francisco A. Scarano, eds. The Caribbean: A History of the Region and Its Peoples (University of Chicago Press; 2011); 660 pp.; writings on the region since the pre-Columbia era.
Ramnarine, Tina K. Beautiful Cosmos: Performance and Belonging in the Caribbean Diaspora. London, Pluto Press, 2007.
Rowntree, Lester/Martin Lewis/Marie Price/William Wyckoff. Diversity Amid Globalization: World Regions, Environment, Development, 4th edition, 2008.
Ligações externas
(ACS-AEC)
(CARICOM)
(Caribe Books)
(dLOC)
(Manioc)
: Caribbean Islands (1987) | 199,258 |
594 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo | Capitalismo | Capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção e sua exploração com fins lucrativos. As características centrais deste sistema incluem, além da propriedade privada, a acumulação de capital, o trabalho assalariado, a troca voluntária, um sistema de preços e mercados competitivos. Em uma economia de mercado, a tomada de decisão e o investimento são determinados pelos proprietários dos fatores de produção nos mercados financeiros e de capitais, enquanto os preços e a distribuição de bens são principalmente determinados pela concorrência no mercado.
Economistas, economistas políticos, sociólogos e historiadores adotaram diferentes perspectivas em suas análises do capitalismo e reconheceram várias formas dele na prática. Estas incluem o capitalismo de livre-mercado ou laissez-faire, capitalismo de bem-estar social e capitalismo de Estado. Diferentes formas de capitalismo apresentam diferentes graus de mercados livres, propriedade pública, obstáculos à livre concorrência e políticas sociais sancionadas pelo Estado. O grau de concorrência nos mercados, o papel da intervenção e da regulamentação e o alcance da propriedade do Estado variam nos diferentes modelos de capitalismo. A maioria das economias capitalistas existentes são economias mistas, que combinam elementos de mercados livres com intervenção estatal e, em alguns casos, planejamento econômico.
As economias de mercado existiram sob muitas formas de governo, em diferentes momentos históricos, lugares e culturas. No entanto, o desenvolvimento das sociedades capitalistas marcado por uma universalização das relações sociais baseadas no dinheiro, uma classe de trabalhadores assalariados consistentemente abrangente e uma classe que domina o controle da riqueza e do poder político desenvolveu-se na Europa Ocidental em um processo que levou à Revolução Industrial. Os sistemas capitalistas com diferentes graus de intervenção direta do governo tornaram-se dominantes no mundo ocidental e continuam a se espalhar.
O capitalismo foi criticado por estabelecer o poder nas mãos de uma classe minoritária que existe através da exploração de uma classe trabalhadora majoritária; por priorizar o lucro sobre o bem social, os recursos naturais e o meio ambiente; e por ser um motor de desigualdades e instabilidades econômicas. Os defensores argumentam que o sistema proporciona melhores produtos através da concorrência, cria um forte crescimento econômico, produz produtividade e prosperidade que beneficia grandemente a sociedade, além de ser o sistema mais eficiente conhecido para alocação de recursos.
Etimologia
A palavra capital vem do latim capitale, derivado de capitalis (com o sentido de "principal, primeiro, chefe"), que vem do proto-indo-europeu kaput significando "cabeça". Capitale surgiu em Itália nos séculos XII e XIII (pelo menos desde 1211) com o sentido de fundos, existências de mercadorias, somas de dinheiro ou dinheiro com direito a juros. Em 1283 é encontrada referindo-se ao capital de bens de uma firma comercial.
O termo capitalista refere-se ao proprietário de capital, e não ao sistema econômico, e o seu uso é anterior ao do termo capitalismo, datando desde meados do século XVII. O Hollandische Mercurius usa o termo em 1633 e 1654 para se referir aos proprietários de capital. David Ricardo, na sua obra Principles of Political Economy and Taxation (1817), usa frequentemente a expressão "o capitalista".
Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês, usou o termo capitalista em seu trabalho Table Talk (1823). Pierre-Joseph Proudhon usou o termo capitalista em seu primeiro trabalho, O que é a propriedade? (1840) para se referir aos proprietários de capital. Benjamin Disraeli usou o termo capitalista em seu trabalho Sybil (1845). Karl Marx e Friedrich Engels usaram o termo capitalista (Kapitalist) em O Manifesto Comunista (1848) para se referir a um proprietário privado de capital.
O termo capitalismo surgiu em 1753 na Encyclopédia, com o sentido estrito do "estado de quem é rico". No entanto, de acordo com o Oxford English Dictionary (OED), o termo capitalismo foi usado pela primeira vez pelo escritor William Makepeace Thackeray em seu trabalho The Newcomes (1845), onde significa "ter a posse do capital". Ainda segundo o OED, Carl Adolph Douai, um socialista teuto-estadunidense e abolicionista, usou o termo capitalismo privado em 1863.
O uso inicial do termo capitalismo em seu sentido moderno foi atribuída a Louis Blanc, em 1850, e Pierre-Joseph Proudhon, em 1861. Marx e Engels foram os primeiros a referirem ao sistema capitalista (kapitalistisches System) e ao modo de produção capitalista (kapitalistische Produktionsform) em Das Kapital (1867). O uso da palavra "capitalismo" em referência a um sistema econômico aparece duas vezes no Volume I de O Capital, p. 124 (Edição alemã) e, em Theories of Surplus Value, tomo II, p. 493 (Edição alemã).
História
Mercantilismo
O período entre os séculos XVI e XVIII é comumente descrito como mercantilismo. Associa-se este período à exploração geográfica da Era dos Descobrimentos por parte de mercadores, especialmente da Inglaterra e dos Países Baixos; à colonização europeia das Américas; e ao rápido crescimento do comércio exterior. O mercantilismo foi um sistema de comércio com fins lucrativos, embora as commodities ainda fossem em grande parte produzidas por métodos de produção não-capitalista.
Enquanto alguns estudiosos veem o mercantilismo como o primeiro estágio do capitalismo, outros argumentam que o capitalismo não surgiu até mais tarde. Por exemplo, Karl Polanyi, observou que "o mercantilismo, com toda a sua tendência para a comercialização, nunca atacou as salvaguardas que protegeram [os] dois elementos básicos do trabalho de produção e da terra de se tornar os elementos do comércio"; assim atitudes mercantilistas para o regulamento da economia estão mais próximas das atitudes feudais, "eles discordavam apenas sobre os métodos de regulação."
Além disso, Polanyi argumentava que a marca do capitalismo é a criação de mercados generalizadas para o que ele referia como "mercadorias fictícias": terra, trabalho e dinheiro. Assim, "não foi até 1834 um mercado de trabalho competitivo, com sede na Inglaterra, portanto, não pode-se dizer que o capitalismo industrial, como um sistema social, não existiu antes desta data".
Evidências de comércio mercante de longa distância, orientado e motivado pelo lucro foram encontradas já no segundo milênio a.C., com os antigos mercadores assírios. As primeiras formas de mercantilismo da época formaram-se já no Império Romano e, quando este expandiu-se, a economia mercantilista também foi ampliada por toda a Europa. Após o colapso do Império Romano, a maior parte da economia europeia passou a ser controlada pelos poderes feudais locais e mercantilismo entrou em declínio. No entanto, o mercantilismo persistiu na Arábia. Devido à sua proximidade com países vizinhos, os árabes estabeleceram rotas de comércio para o Egito, Pérsia e Império Bizantino. Como o islã se espalhou no século VII, o mercantilismo espalhou-se rapidamente para a Espanha, Portugal, Norte da África e Ásia. O sistema mercantilista finalmente retornou à Europa no século XIV, com a propagação mercantilista de Espanha e Portugal.
Entre os princípios fundamentais da teoria mercantilista estava o bulionismo, uma doutrina que salientava a importância de acumular metais preciosos. Mercantilistas argumentavam que o Estado devia exportar mais bens do que importava, para que os estrangeiros tivessem que pagar a diferença de metais preciosos. Teóricos mercantilistas afirmavam que somente matérias-primas que não podem ser extraídas em casa devem ser importadas e promoveram os subsídios do governo, como a concessão de monopólios e tarifas protecionistas, que foram necessários para incentivar a produção nacional de bens manufaturados.
Comerciantes europeus, apoiados por controles, subsídios e monopólios estatais, realizaram a maioria dos seus lucros a partir da compra e venda de mercadorias. Nas palavras de Francis Bacon, o objetivo do mercantilismo era "a abertura e o bem-equilíbrio do comércio, o apreço dos fabricantes, o banimento da ociosidade, a repressão dos resíduos e excesso de leis suntuárias, a melhoria e administração do solo; a regulamentação dos preços...".
Práticas semelhantes de arregimentação econômica tinham começado mais cedo nas cidades medievais. No entanto, sob o mercantilismo, dada a ascensão contemporânea do absolutismo, o Estado substituiu a corporações locais como regulador da economia. Durante esse tempo, as guildas funcionavam essencialmente como um cartel que monopolizava a quantidade de artesãos que ganham salários acima do mercado.
No período compreendido entre o século XVIII, a fase comercial do capitalismo, originada a partir do início da Companhia Britânica das Índias Orientais e da Companhia das Índias Orientais Holandesas. Estas empresas foram caracterizadas por suas potências coloniais e expansionistas que lhes foram atribuídas por Estados-nação. Durante esta época, os comerciantes, que haviam negociado com o estágio anterior do mercantilismo, investiram capital nas Companhias das Índias Orientais e de outras colônias, buscando um retorno sobre o investimento. Em sua "História da Análise Econômica", o economista austríaco Joseph Schumpeter reduz as proposições mercantilistas a três preocupações principais: controle do câmbio, monopolismo de exportação e saldo da balança comercial.
Industrialismo
Um novo grupo de teóricos da economia, liderado por David Hume e Adam Smith, em meados do século XVIII, desafiou as doutrinas mercantilistas fundamentais, como a crença de que o montante da riqueza mundial permaneceu constante e que um Estado só pode aumentar a sua riqueza em detrimento de outro Estado.
Durante a Revolução Industrial, o industrial substituiu o comerciante como um ator dominante no sistema capitalista e efetuou o declínio das habilidades de artesanato tradicional de artesãos, associações e artífices. Também durante este período, o excedente gerado pelo aumento da agricultura comercial encorajou o aumento da mecanização da agricultura. O capitalismo industrial marcou o desenvolvimento do sistema fabril de produção, caracterizado por uma complexa divisão do trabalho entre e dentro do processo de trabalho e a rotina das tarefas de trabalho; e, finalmente, estabeleceu a dominação global do modo de produção capitalista.
O Reino Unido também abandonou a sua política protecionista, como abraçada pelo mercantilismo. No século XIX, Richard Cobden e John Bright, que baseavam as suas crenças sobre a escola de Manchester, iniciou um movimento para tarifas mais baixas. Em 1840, o Reino Unido adotou uma política menos protecionista, com a revogação das Leis dos Grãos e do Ato de Navegação. Os britânicos reduziram as tarifas e quotas, de acordo com Adam Smith e David Ricardo, para o livre comércio.
Karl Polanyi argumenta que o capitalismo não surgiu até a mercantilização progressiva da terra, dinheiro e trabalho, culminando no estabelecimento de um mercado de trabalho generalizado no Reino Unido na década de 1830. Para Polanyi, "o alargamento do mercado para os elementos da indústria - terra, trabalho e dinheiro - foi a conseqüência inevitável da introdução do sistema fabril numa sociedade comercial." Outras fontes alegaram que o mercantilismo caiu após a revogação dos Atos de Navegação, em 1849.
Keynesianismo e neoliberalismo
No período seguinte à depressão global dos anos 1930, o Estado desempenhou um papel de destaque no sistema capitalista em grande parte do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, um vasto conjunto de novos instrumentos de análise nas ciências sociais foram desenvolvidos para explicar as tendências sociais e econômicas do período, incluindo os conceitos de sociedade pós-industrial e do Estado de bem-estar social. Esta época foi muito influenciada por políticas de estabilização econômica keynesianas. O boom do pós-guerra terminou no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, e a situação foi agravada pelo aumento da estagflação.
A inflação excepcionalmente elevada combinada com um lento crescimento da produção, aumento do desemprego, recessão e, eventualmente, causaram uma perda de credibilidade no modo de regulação keynesiano de bem-estar estatal. Sob a influência de Friedrich Hayek e Milton Friedman, os países ocidentais adotaram as normas da política inspiradas pelo capitalismo laissez-faire e do liberalismo clássico. O monetarismo em particular, uma alternativa teórica ao keynesianismo, que é mais compatível com o laissez-faire, ganha cada vez mais destaque no mundo capitalista, especialmente sob a liderança de Ronald Reagan nos os Estados Unidos e Margaret Thatcher no Reino Unido em 1980. O interesse público e político começaram a se afastar das preocupações coletivistas de Keynes de que capitalismo fosse gerenciado a um foco sobre a escolha individual, chamado de "capitalismo remarquetizado".
Globalização
Embora o comércio internacional tenha sido associado com o desenvolvimento do capitalismo por mais de 500 anos, alguns pensadores afirmam que uma série de tendências associadas à globalização têm agido para aumentar a mobilidade de pessoas e de capitais desde o último quarto do século XX, combinando a circunscrever a margem de manobra dos Estados na escolha de modelos não-capitalistas de desenvolvimento. Hoje, essas tendências têm reforçado o argumento de que o capitalismo deve agora ser visto como um sistema verdadeiramente mundial. No entanto, outros pensadores argumentam que a globalização, mesmo no seu grau quantitativo, não é maior agora do que em períodos anteriores do comércio capitalista.
Características
Propriedade privada
A relação entre o Estado, seus mecanismos formais e as sociedades capitalistas tem sido debatida em vários campos da teoria política e social, com uma discussão ativa desde o século XIX. Hernando de Soto é um economista contemporâneo que argumenta que uma característica importante do capitalismo é a proteção do Estado e do funcionamento dos direitos de propriedade em um sistema de propriedade formal, onde a propriedade e as operações são registrados claramente.
Segundo Soto, este é o processo pelo qual os bens físicos são transformados em capital, que por sua vez podem ser utilizados de muitas formas mais e muito mais eficiente na economia de mercado. Um número de economistas marxistas argumentaram que as leis do cerco, na Inglaterra, e legislações semelhante em outros lugares, eram parte integrante da acumulação primitiva capitalista e que um quadro jurídico específico da propriedade privada da terra têm sido parte integrante do desenvolvimento do capitalismo.
Instituições e democracia
A nova economia institucional, um campo aberto por Douglass North, salienta a necessidade de um quadro jurídico para que o capitalismo funcione em condições ótimas e enfoca a relação entre o desenvolvimento histórico do capitalismo e a criação e manutenção de instituições políticas e econômicas. Na nova economia institucional e em outros campos com foco nas políticas públicas, os economistas buscam avaliar quando e se a intervenção governamental (tais como impostos, segurança social e a regulamentação do governo) pode resultar em ganhos potenciais de eficiência. De acordo com Gregory Mankiw, um economista neo-keynesiano, a intervenção governamental pode melhorar os resultados do mercado em condições de "falha de mercado", ou situações em que o mercado por si só não aloca recursos de forma eficiente.
A falha de mercado ocorre quando uma externalidade está presente e um mercado sub-produz um produto com uma superprodução de externalização positiva ou um produto que gera uma externalização negativa. A poluição do ar, por exemplo, é uma externalização negativa que não pode ser incorporada em mercados, visto que o ar do mundo não é propriedade e, consequentemente, não é vendido para uso dos poluidores. Então, muita poluição poderia ser emitida e as pessoas não envolvidas na produção pagam o custo da poluição, em vez da empresa que, inicialmente, emitiu a poluição do ar. Os críticos da teoria da falha de mercado, como Ronald Coase, Demsetz Harold e James M. Buchanan, alegam que os programas e políticas governamentais também ficam aquém da perfeição absoluta. Falhas de mercado são muitas vezes pequenas, e falhas de governo são, por vezes de grandes dimensões. É, portanto, o caso que os mercados são imperfeitos, muitas vezes melhor do que as alternativas imperfeitas governamentais. Enquanto todas as nações têm atualmente algum tipo de regulamentação do mercado, o grau de regulamentação desejável é contestado.
A relação entre democracia e capitalismo é uma área controversa na teoria e movimentos políticos populares. A extensão do sufrágio universal masculino no Reino Unido no século XIX ocorreu juntamente com o desenvolvimento do capitalismo industrial. A democracia tornou-se comum ao mesmo tempo que o capitalismo, levando muitos teóricos a postular uma relação causal entre eles, ou que cada um afeta o outro. No entanto, no século XX, segundo alguns autores, o capitalismo também foi acompanhado de uma variedade de formações políticas bastante distintas das democracias liberais, incluindo regimes fascistas, monarquias e Estados de partido único.
Enquanto alguns pensadores defendem que o desenvolvimento capitalista, mais ou menos inevitável, eventualmente, leva ao surgimento da democracia, outros discordam dessa afirmação, entendendo que o discurso democrático dos pensadores capitalistas é sempre suprimido quando é do interesse destes. A investigação sobre a teoria da paz democrática indica que as democracias capitalistas raramente fazem guerra umas com as outros («Paz capitalista») e têm pouco de violência interna. Alguns comentaristas argumentam que, embora o crescimento econômico sob o capitalismo levou a uma democratização no passado, não poderá fazê-lo no futuro, como os regimes autoritários têm sido capazes de gerir o crescimento econômico sem fazer concessões a uma maior liberdade política.
Crescimento econômico
Entre os anos 1000-1820 economia mundial cresceu seis vezes ou 50% por pessoa. Após o capitalismo começar a se espalhar mais amplamente, entre os anos 1820-1998, a economia mundial cresceu 50 vezes, ou seja, nove vezes por pessoa. Na maioria das regiões econômicas capitalistas, como Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, a economia cresceu 19 vezes por pessoa, mesmo que estes países já tinham um nível mais elevado de partida, e no Japão, que era pobre em 1820, 31 vezes, enquanto no resto do mundo o crescimento foi de apenas 5 vezes por pessoa.
Muitos teóricos e políticos nos países predominantemente capitalistas têm enfatizado a capacidade do capitalismo em promover o crescimento econômico, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), a utilização da capacidade instalada, ou padrão de vida. Este argumento foi central, por exemplo, na defesa de Adam Smith de deixar um controle livre da produção e do preço do mercado, e alocar recursos. Muitos teóricos observaram que este aumento do PIB mundial ao longo do tempo coincide com o surgimento do sistema mundial capitalista moderno.
Os defensores argumentam que o aumento do PIB (per capita) é empiricamente demonstrado sobre um padrão de vida melhor, como uma melhor disponibilidade de alimentos, habitação, vestuário e cuidados de saúde. A diminuição do número de horas trabalhadas por semana e a diminuição da participação das crianças e dos idosos no mercado de trabalho também têm sido atribuídas ao capitalismo.
Os defensores também acreditam que uma economia capitalista oferece muito mais oportunidades para os indivíduos aumentar a sua renda através de novas profissões ou empreendimentos que as outras formas econômicas. Para o seu pensamento, esse potencial é muito maior do que em qualquer das sociedades tradicionais tribais ou feudais ou em sociedades socialistas.
Liberdade política
Milton Friedman argumentava que a liberdade econômica do capitalismo competitivo é um requisito da liberdade política. Friedman argumentou que o controle centralizado da atividade econômica é sempre acompanhado de repressão política. Na sua opinião, as transações em uma economia de mercado são voluntárias e a grande diversidade que permite o voluntariado é uma ameaça fundamental à repressão de líderes políticos e diminui consideravelmente o poder de coagir do Estado. A visão de Friedman foi também partilhada por Friedrich Hayek e John Maynard Keynes, tanto de quem acreditava que o capitalismo é vital para a liberdade de sobreviver e prosperar.
Auto-organização
Os economistas da Escola Austríaca têm argumentado que o capitalismo pode se organizar em um sistema complexo, sem uma orientação externa ou mecanismo de planejamento. Friedrich Hayek considerou o fenômeno da auto-organização é subjacente ao capitalismo. Preços servem como um sinal sobre a urgência das vontades das pessoas e a promessa de lucros incentiva os empresários a utilizar os seus conhecimentos e recursos para satisfazer esses desejos. Assim, as atividades de milhões de pessoas, cada um buscando seu próprio interesse, são coordenadas.
Críticas
A crítica ao capitalismo vem de várias abordagens políticas e filosóficas, incluindo pontos de vista anarquistas, socialistas, religiosos e nacionalistas. Dos que se opõem ou querem modificá-lo, alguns acreditam que o capitalismo deve ser removido por meio da revolução, enquanto outros acreditam que deve ser mudado lentamente por meio de reformas políticas. Alguns críticos acreditam que há méritos no capitalismo e desejam equilibrá-lo com alguma forma de controle social, normalmente por meio de regulamentação governamental (por exemplo, o movimento da economia social de mercado).
Críticas proeminentes do capitalismo são que ele é inerentemente explorador, alienante, instável, insustentável e ineficiente— e que cria uma enorme desigualdade econômica, mercantiliza as pessoas, degrada o meio ambiente, é antidemocrático e leva a uma erosão dos direitos humanos por causa de seu incentivo à expansão imperialista e à guerra.
Muitas religiões têm criticado ou sido contra elementos específicos do capitalismo. O judaísmo tradicional, o cristianismo e o islamismo proíbem emprestar dinheiro a juros, embora os métodos bancários tenham sido desenvolvidos em todos os três casos e adeptos de todas as três religiões são autorizados a emprestar para aqueles que estão fora de sua religião. O cristianismo tem sido uma fonte de louvor para o capitalismo, bem como uma fonte de críticas ao sistema, particularmente em relação aos seus aspectos materialistas. O filósofo indiano P.R. Sarkar, o fundador do movimento Ananda Marga, desenvolveu a Lei do Ciclo Social para identificar os problemas do capitalismo.
Críticos dos impactos ambientais do capitalismo, como o ecossocialista estadunidense Joel Kovel, argumentam que esse sistema requer crescimento econômico contínuo, o que pode intensificar as extinções em massa de animais e plantas (vide antropoceno) e as mudanças climáticas causadas pelo agravamento do aquecimento global. Esses críticos argumentam que, embora o neoliberalismo, a espinha dorsal ideológica do capitalismo globalizado contemporâneo, tenha de fato aumentado o comércio global, também destruiu modos de vida tradicionais, exacerbou a desigualdade e aumentou a degradação ambiental desde o final dos anos 1970. Outros críticos argumentam que é possível tornar o capitalismo menos degradante ao meio ambiente (vide ecocapitalismo).
Historiadores e estudiosos, como Immanuel Wallerstein, argumentam que o trabalho não-livre, por escravos, servos, prisioneiros e outras pessoas coagidas, é compatível com as relações capitalistas.
Ver também
Anarcocapitalismo
Antiglobalização
Comunismo
Globalização
Liberalismo
Libertarianismo
Mário Murteira
Socialismo
Propriedade Privada
Sistema bancário livre
Socialização fascista.
Bibliografia
Krahn, Harvey J., and Graham S. Lowe (1993). Work, Industry, and Canadian Society. Second ed. Scarborough, Ont.: Nelson Canada. xii, 430 p.
Ligações externas
Center on Capitalism and Society directed by Edmund Phelps
Capitalismo | 245,557 |
596 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula | Célula | A célula (do latim cella, que significa "pequeno aposento") é a unidade básica e fundamental de todos os organismos conhecidos. Uma célula é a menor unidade funcional da matéria viva. As células são frequentemente chamadas de "blocos de construção da vida". O estudo das células é denominado biologia celular ou citologia.
Todas as as células são compostas por citoplasma, constituído por água e biomoléculas, como ácidos nucleicos e e proteínas, envolto por uma membrana plasmática. A maioria das células vegetais e animais são visíveis apenas ao microscópio, apresentando dimensões entre 1 e 100 micrômetros. Os organismos podem ser classificados como unicelulares (consistindo em uma única célula, como as bactérias) ou multicelulares (incluindo plantas e animais). A maioria dos organismos unicelulares são classificados como microorganismos.
O número de células em plantas e animais varia de espécie para espécie; estima-se que os humanos contêm algo em torno de (4×1013) de células. O cérebro humano contém cerca de 80 bilhões dessas células.
História
As células foram descobertas pelo inglês Robert Hooke entre 1663 e 1665. Ao examinar em um microscópio rudimentar uma fina fatia de cortiça, verificou que era constituída por cavidades poliédricas, às quais chamou de células (do latim cella, pequeno aposento) por sua semelhança com as celas habitadas por monges cristãos em um mosteiro. Na realidade, Hooke observou blocos hexagonais que eram as paredes de células vegetais mortas.
Alguns anos depois, em 1674, Antonie van Leeuwenhoek, utilizando microscópios de invenção própria, foi o primeiro a analisar células vivas, sobretudo de algas. Ele desenhou protozoários, tais como o Vorticella da água da chuva, e bactérias de sua própria boca.
A teoria celular foi estabelecida em 1839 por Matthias Schleiden e Theodor Schwann. A teoria afirma que todos os organismos são compostos por uma ou mais células, que as células são a unidade fundamental da estructura e função de todos os seres vivos, e que todas as células vem de células pré-existentes.
Estrutura
Células procarióticas
Procariontes incluem as bactérias e archaeas, dois dos três domínios da vida. Células procarióticas foram as primeiras formas de vida na Terra. Elas são mais simples e menores do que células eucarióticas, e não possuem um núcleo celular e nem outras organelas delimitadas por membrana. O DNA de uma célula procariótica consiste em um único cromossomo circular que está em direto contato com o citoplasma. A região semelhante ao núcleo no citoplasma é denominada nucleoide. Os procariotos variam em tamanho, desde células muito pequenas, com diâmetro de aproximadamente 0,2 μm, até aquelas com mais de 700 μm de diâmetro.
Uma célula procariótica possui três regiões:
Envolvendo a célula está o envelope celular - geralmente consistindo de uma membrana plasmática coberta por uma parede celular que, para algumas bactérias, pode ser coberta por uma terceira camada chamada cápsula. Embora a maioria dos procariontes tenham uma membrana celular e uma parede celular, há exceções como Mycoplasma (bactérias) e Thermoplasma (arqueias), que possuem apenas a camada de membrana celular. O envelope dá rigidez à célula e separa o interior da célula de seu ambiente, servindo como filtro protetor. A parede celular consiste em peptidoglicano em bactérias e atua como uma barreira adicional contra forças externas. Também evita que a célula se expanda e rompa (citólise) pela pressão osmótica devido a um ambiente hipotônico. Algumas células eucarióticas (células vegetais e células fúngicas) também possuem parede celular.
Dentro da célula está a região citoplasmática que contém o genoma (DNA), ribossomos e vários tipos de inclusões. A genética o material é encontrado livremente no citoplasma. Os procariotos podem carregar elementos de DNA extracromossômico chamados plasmídeos, que geralmente são circulares. Plasmídeos bacterianos lineares foram identificados em várias espécies de bactérias espiroquetas, incluindo membros do gênero Borrelia, em especial Borrelia burgdorferi , causadora da doença de Lyme.
Embora não forme um núcleo, o DNA está condensado em um nucleoide. Plasmídeos codificam genes adicionais, como genes de resistência a antibióticos.
Do lado de fora, flagelos e pili se projetam da superfície da célula. São estruturas (não presentes em todos os procariontes) feitas de proteínas que facilitam o movimento e a comunicação entre as células.
Células incompletas
As bactérias dos grupos das Rickettsias e das clamídias são muito pequenas, sendo denominadas células incompletas por não apresentarem capacidade de auto-duplicação independente da colaboração de outras células, isto é, só proliferarem no interior de outras células completas, sendo, portanto, parasitas intracelulares obrigatórios.
Estas bactérias são diferente dos vírus por apresentarem:
conjuntamente DNA e RNA (já foram encontrados vírus com DNA, adenovirus, e RNA, retrovírus, no entanto são raros os vírus que possuem DNA e RNA simultaneamente);
parte incompleta da "máquina" de síntese proteica celular necessária para reproduzirem-se;
uma membrana celular semipermeável, através da qual realizam as trocas com o meio envolvente.
Células eucarióticas
Plantas, animais, fungos, protozoários, e algas são todos eucariontes. Estas células são cerca de quinze vezes maiores que uma célula procariótica típica, e podem ser até mil vezes mais volumosas. A principal característica distinta de eucariotas em comparação a procariotas é a compartimentalização: a presença de organelas delimitadas por membrana (compartimentos) em que atividades específicas ocorrem. O mais importante entre eles é um núcleo celular, que contém o DNA da célula. Outras diferenças incluem:
A membrana plasmática se assemelha à dos procariotos em função, com pequenas diferenças na configuração. As paredes celulares podem ou não estar presentes;
O DNA eucariótico é organizado em uma ou mais moléculas lineares, chamadas cromossomos, que estão associadas às proteínas histonas. Todo o DNA cromossômico é armazenado no núcleo da célula, separado do citoplasma por uma membrana. Algumas organelas eucarióticas, como mitocôndrias, também contêm algum DNA;
Muitas células eucarióticas são ciliadas com cílios primários;
Os eucariotos móveis podem se mover usando cílios móveis ou flagelos. As células móveis estão ausentes em coníferas e plantas com flores. Os flagelos eucarióticos são mais complexos do que os procariontes.
Componentes subcelulares
Todas as células, sejam procarióticas ou eucarióticas, têm uma membrana que envolve a célula, regula o que se move para dentro e para fora (seletivamente permeável) e mantém o potencial elétrico da célula. Dentro da membrana, o citoplasma ocupa a maior parte do volume da célula. Todas as células (exceto glóbulos vermelhos que carecem de um núcleo celular e da maioria das organelas para acomodar o espaço máximo para hemoglobina) possuem DNA e RNA.
Membrana plasmática
A membrana plasmática é uma membrana biológica que envolve o citoplasma de uma célula. Em animais, a membrana plasmática é o limite externo da célula, enquanto em plantas e procariotos ela é geralmente coberta por uma parede celular. Esta membrana serve para separar e proteger uma célula de seu ambiente circundante e é composta principalmente de uma dupla camada de fosfolipídios, que são anfifílicos (parcialmente hidrofóbicos e parcialmente hidrofílicos). Portanto, a membrana é chamada de bicamada fosfolipídica. Incorporadas à membrana há uma variedade de moléculas de proteínas que actuam como canais e bombas que movem diferentes moléculas para dentro e para fora da célula. A membrana é dita ser 'semi-permeável', na medida em que pode deixar uma substância (molécula ou íon) passar livremente, passar através de uma forma limitada ou não passar de jeito nenhum. As membranas da superfície celular também contém proteínas receptoras que permitem que as células detectem moléculas externas de sinalização, tais como hormonas.
Citoesqueleto
O citoesqueleto é uma rede de fibras que organizam e dão à célula força mecânica e manutenção da forma, além de controlar seus movimentos, fixar organelas. Também atua durante a endocitose, a absorção de materiais externos por uma célula, e na citocinese, a separação de células filhas após a divisão celular. Normalmente, 20-35% das proteínas de uma célula estão ligadas ao citoesqueleto, embora esta quantidade possa variar, sendo consideravelmente maior nas células musculares.
O citoesqueleto eucariótico é composto por microfilamentos, filamentos intermediários e microtúbulos. Há um grande número de proteínas associadas a eles, cada uma controlando a estrutura de uma célula ao direcionar, agrupar e alinhar os filamentos. O citoesqueleto procariótico é menos estudado, mas está envolvido na manutenção da forma celular, polaridade e citocinese.
Material genético
Existem dois tipos diferentes de material genético: ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). As células usam o DNA para o armazenamento de informações de longo prazo; a informação biológica contida em um organismo é codificada em sua sequência de DNA.
O RNA é usado para o transporte de informações (por exemplo, RNAm) e funções enzimática (por exemplo, o RNAr). Moléculas de tRNA são usadas para adicionar aminoácidos durante a tradução de proteínas.
O material genético procariótico é organizado em uma molécula de DNA circular simples na região nucleoide do citoplasma. O material genético eucariótico é dividido em diferentes moléculas lineares chamadas cromossomas dentro de um núcleo discreto, geralmente com material genético adicional em algumas organelas como mitocôndrias e cloroplastos. (ver teoria da endossimbiose).
Uma célula humana possui material genético contido no núcleo (genoma nuclear) e na mitocôndria (genoma mitocondrial). Em humanos, o genoma nuclear é dividido em 46 moléculas de DNA linear chamadas cromossomos, incluindo 22 cromossomos homólogos pares e um par de cromossomos sexuais. O genoma mitocondrial é uma molécula de DNA circular distinta do DNA nuclear e, embora o DNA mitocondrial seja muito pequeno em comparação com os cromossomos nucleares, ele codifica 13 proteínas envolvidas na produção de energia mitocondrial e RNAts específicos.
Organelas
Organelas são partes da célula que são adaptadas e/ou especializadas para realizar uma ou mais funções vitais, análogas aos órgãos do corpo humano, tais como o coração, pulmão e rim, com cada órgão exercendo uma função diferente. As células eucarióticas e procarióticas têm organelas, mas as organelas procarióticas são geralmente mais simples e não são ligadas à membrana.
Existem vários tipos de organelas em uma célula. Algumas (como o núcleo e o aparelho de Golgi) são tipicamente solitárias, enquanto outras (como mitocôndrias, cloroplastos, peroxissomos e lisossomos) podem ser numerosas (centenas a milhares). O citosol é o fluido gelatinoso que preenche a célula e envolve as organelas.
Célula eucariótica
Núcleo celular: abriga os cromossomos da célula e é o local onde quase toda a replicação de DNA e síntese de RNA (transcrição) ocorrem. O núcleo é esférico e separado do citoplasma por uma membrana dupla chamada envelope nuclear, que isola e protege o DNA de várias moléculas do citoplasma que podem danificar acidentalmente sua estrutura ou interferir em seu processamento.
Mitocôndrias e cloroplastos: geram energia para a célula. Mitocôndrias são organelas autorreplicantes que ocorrem em vários números, formas e tamanhos no citoplasma de todas as células eucarióticas. A respiração ocorre nas mitocôndrias celulares, que geram a energia da célula por fosforilação oxidativa, usando oxigênio para liberar energia armazenada em nutrientes celulares (tipicamente pertencente a glicose) para gerar ATP. As mitocôndrias se multiplicam por fissão binária, como os procariontes. Os cloroplastos só podem ser encontrados em plantas e algas, e eles capturam a energia do sol para produzir carboidratos por meio da fotossíntese.
Retículo endoplasmático: o retículo endoplasmático (ER) é uma rede de transporte para moléculas direcionadas para certas modificações e destinos específicos, em comparação com moléculas que flutuam livremente no citoplasma. O ER possui duas formas: o ER rugoso, que possui ribossomos em sua superfície que secretam proteínas no ER, e o ER liso, que não possui ribossomos. O RE suave desempenha um papel no sequestro e na liberação de cálcio.
Complexo de Golgi: a função primária do aparelho de Golgi é processar e empacotar as macromoléculas, tais como proteínas e lipídios que são sintetizados pela célula.
Lisossomos e peroxissomos: lisossomos contêm enzimas digestivas. Eles digerem organelas em excesso ou desgastadas, partículas de alimentos e vírus ou bactérias engolfadas. Peroxissomos têm enzimas que livram a célula de peróxidos tóxicos. A célula não poderia abrigar essas enzimas destrutivas se elas não estivessem contidas em um sistema ligado à membrana.
Centrossoma: o centrossoma produz os microtúbulos de uma célula - um componente chave do citoesqueleto. Dirige o transporte através do ER e do aparelho de Golgi. Os centrossomos são compostos de dois centríolos, que se separam durante a divisão celular e ajudam na formação do fuso mitótico.
Vacúolos: os vacúolos armazenam produtos residuais e água nas células das plantas. Algumas células, mais notavelmente amebas, têm vacúolos contráteis, que podem bombear água para fora da célula se houver muita água. Os vacúolos das células vegetais e das células fúngicas são geralmente maiores do que os das células animais.
Eucariótica e procariótica
Ribossomos: o ribossomo é um grande complexo de moléculas de RNA e proteína. Cada um deles consiste em duas subunidades e atuam como uma linha de montagem onde o RNA do núcleo é usado para sintetizar proteínas a partir de aminoácidos. Os ribossomos podem ser encontrados flutuando livremente ou ligados a uma membrana (o retículo endoplasmático rugoso nos eucariotos ou a membrana celular nos procariotos).
Estruturas externas à membrana celular
Muitas células também possuem estruturas que existem total ou parcialmente externas à membrana celular. Essas estruturas são notáveis porque não são protegidas do ambiente externo pela membrana celular semipermeável. Para montar essas estruturas, seus componentes devem ser transportados através da membrana celular por processos de exportação.
Parede celular
Muitos tipos de células procarióticas e eucarióticas têm uma parede celular. A parede celular atua protegendo a célula mecânica e quimicamente de seu ambiente, e é uma camada adicional de proteção à membrana celular. Diferentes tipos de células têm paredes celulares feitas de diferentes materiais; as paredes das células vegetais são feitas principalmente de celulose, as paredes das células dos fungos são feitas de quitina e as paredes das células das bactérias são feitas de peptidoglicano.
Cílios
Em citologia, cílios são apêndices das células eucarióticas com movimento constante numa única direção. Este nome provém do latim, com o significado de pestana, pela sua similaridade aparente.
Célula procariótica
Cápsula
Uma cápsula gelatinosa está presente em algumas bactérias externamente à membrana e parede celular. A cápsula pode ser composta por polissacarídeos como em pneumococos e meningococos, por polipeptídeos como emBacillus anthracis, ou por ácido hialurônico como em estreptococos. As cápsulas não são marcadas por coloração comum e podem ser detectadas por coloração especial.
Flagelos
Flagelos são os organelos de mobilidade celular. Eles surgem a partir do citoplasma por extrusão através da parede celular. Eles são longos e grossos apêndices filamentados, proteínas em sua natureza. São mais comumente encontrados em células de bactérias, mas também são encontrados em algumas células animais. Alguns flagelos atuam como uma hélice rotativa em contraste aos cílios que agem mais como um remo.
Fímbria
Fímbrias são apêndices em forma de filamentos presentes em bactérias. Este apêndices são menores, mais curtos e mais numerosos que os flagelos. Eles são filamentos curtos e finos como cabelos, formados de proteína chamada pilina (antigénico). Fímbrias são responsáveis pela fixação das bactérias aos receptores específicos de células humanas (aderência).
Processos celulares
Replicação
A divisão celular envolve uma única célula (chamada de célula mãe) que se divide em duas células filhas. Isso leva ao crescimento em organismos multicelulares (o crescimento de tecidos) e à reprodução assexual em organismos unicelulares. As células procarióticas se dividem por fissão binária, enquanto as células eucarióticas geralmente passam por um processo de divisão nuclear, denominado mitose, seguido pela divisão da célula, chamada citocinese. Uma célula diploide também pode passar por meiose para produzir células haploides, geralmente quatro. As células haploides atuam como gametas em organismos multicelulares, fundindo-se para formar novas células diploides.
Replicação do DNA, ou o processo de duplicação do genoma de uma célula, sempre acontece quando uma célula se divide por mitose ou fissão binária. Isso ocorre durante a fase S do ciclo celular.
Na meiose, o DNA é replicado apenas uma vez, enquanto a célula se divide duas vezes. A replicação do DNA ocorre apenas antes da meiose I. A replicação do DNA não ocorre quando as células se dividem pela segunda vez, em meiose II. A replicação, como todas as atividades celulares, requer proteínas especializadas para realizar o trabalho.
Reparo de DNA
Em geral, as células de todos os organismos contêm sistemas enzimáticos que examinam seu DNA em busca de danos e realizam processos de reparo quando são detectados.
Diversos processos de reparo evoluíram em organismos que variam de bactérias a humanos. A prevalência generalizada desses processos de reparo indica a importância de manter o DNA celular em um estado não danificado, a fim de evitar a morte celular ou erros de replicação devido a danos que poderiam levar a mutação.
As bactérias E. coli são um exemplo bem estudado de um organismo celular com diversos processos bem definidos reparo de DNA. Estes incluem: (1) reparo de excisão de nucleotídeo, (2) reparo de incompatibilidade de DNA, (3) junção de extremidade não homóloga de quebras de fita dupla, (4) reparo recombinacional e (5) reparo dependente de luz (fotoreativação).
Crescimento e metabolismo
Entre sucessivas divisões celulares, as células crescem por meio do funcionamento do metabolismo celular. O metabolismo celular é o processo pelo qual as células individuais processam as moléculas de nutrientes. O metabolismo tem duas divisões distintas: o catabolismo, em que a célula quebra moléculas complexas para produzir energia e poder redutor, e o anabolismo, em que a célula usa energia e poder redutor para construir moléculas complexas e realizar outras funções biológicas.
Açúcares complexos consumidos pelo organismo podem ser quebrados em moléculas de açúcar mais simples chamadas monossacarídeos, como glicose. Uma vez dentro da célula, a glicose é quebrada para formar trifosfato de adenosina (ATP), uma molécula que possui energia prontamente disponível, por meio de duas vias diferentes.
Síntese de proteínas
As células são capazes de sintetizar novas proteínas, essenciais para a modulação e manutenção das atividades celulares. Este processo envolve a formação de novas moléculas de proteína a partir de aminoácidos, com base na informação codificada em DNA/RNA.
A síntese de proteínas geralmente consiste em duas etapas principais: transcrição e tradução. A transcrição é o processo em que a informação genética no DNA é usada para produzir uma fita complementar de RNA. Esta fita de RNA é então processada para formar RNA mensageiro (RNAm), que é livre para migrar através da célula. As moléculas de RNAm ligam-se a complexos de proteína-RNA chamados ribossomos localizados no citosol, onde são traduzidos em sequências polipeptídicas. O ribossomo medeia a formação de uma sequência polipeptídica com base na sequência de mRNA. A sequência de RNAm se relaciona diretamente com a sequência de polipeptídeo por ligação a moléculas adaptadoras de RNA transportador (RNAt) dentro do ribossomo. O novo polipeptídeo então se dobra em uma molécula de proteína tridimensional funcional.
Motilidade
Organismos unicelulares podem se mover para encontrar comida ou escapar de predadores, com o auxílio dos cílios e dos flagelos. Em organismos multicelulares, as células podem se mover durante processos como a desenvolvimento embrionário, assim como na cicatrização de feridas, na manutenção tecidual, no funcionamento do sistema imune e na metástase do câncer. A motilidade celular envolve a atividade coordenada dos filamentos do citoesqueleto em conjunto a uma série de proteínas acessórias, como as proteínas motoras, de adesão, receptoras, etc.
Navegação, controle e comunicação
Em agosto de 2020, os cientistas descreveram uma forma como as células — em particular as células de um fungo viscoso e células derivadas do câncer de pâncreas de camundongo — são capazes de navegar com eficiência e identificar as melhores rotas em labirintos complexos, gerando gradientes depois de quebrar atrativos químicos difusos que lhes permitem detectar as próximas junções do labirinto antes de alcançá-las, até mesmo em torno dos cantos. | 164,658 |
597 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica%C3%A7%C3%A3o%20visual | Comunicação visual | Comunicação Visual é todo meio de comunicação expresso com a utilização de elementos visuais, como: ícones, fotografias, desenhos, gráficos, vídeos entre outros.
Antes de se usar os termos: design visual ou programação visual, adotava-se comunicação visual para a determinação da área de enquadramento do designer visual.
É toda transmissão e recepção de uma mensagem por meio exclusivo da visão Para tanto, a comunicação visual faz uso da Linguagem Visual.
Esse campo também explora a ideia de que uma mensagem visual que acompanha o texto tem um maior poder de informar, educar ou persuadir uma pessoa ou público.
Estudo da Comunicação Visual
Nos estudos de comunicação visual são ensinados variados temas das mais diversas áreas, tais como a física da luz, anatomia e fisiologia do olho, teorias cognitivas e de percepção, teorias de cor, psicologia Gestalt, estética, padrões de leitura natural, princípios de design, semiótica, etc..
Análise de imagem
A interpretação das imagens é subjetiva e compreender a profundidade do significado, ou ainda dos significados, comunicados por uma imagem requer uma análise multilateral. As imagens podem ser analisadas através de muitas perspectivas, um exemplo são estas seis grandes categorias apresentadas por Paul Martin Lester:
Perspectiva pessoal
É quando um espectador tem uma opinião sobre uma imagem baseada em seus pensamentos próprios. A resposta pessoal depende dos conhecimentos e valores do espectador individualmente. Isso pode estar por vezes em conflito com os valores culturais. Além disso, quando uma pessoa visualiza uma imagem com sua perspectiva pessoal, é difícil faze-la ver a mesma imagem de outras formas/perspectivas.
Perspectiva histórica
Uma imagem pode ser influenciada a partir do uso histórico de uma mídia. Por exemplo: O resultado de usar o computador para editar imagens (por exemplo, Photoshop) é bastante diferente ao comparar imagens que são feitas e editadas a mão.
Perspectiva técnica
É quando a visão de uma imagem é influenciada pela forma como é apresentada. O uso correto da luz, posição e apresentação da imagem pode melhorar a visão da imagem. Faz com que a imagem pareça melhor do que a realidade.
Perspectiva ética
Nessa perspectiva, o criador da imagem, o espectador e a própria imagem devem ser responsáveis moralmente e eticamente com a imagem.
Perspectiva cultural
A simbolização é uma definição importante para esta perspectiva. A perspectiva cultural envolve identidade de símbolos. Os usos de palavras que estão relacionadas com a imagem, o uso de heróis na imagem, etc. são a simbolização da imagem. A perspectiva cultural também pode ser vista como a perspectiva semiótica.
Perspectiva crítica
A visão das imagens na perspectiva crítica é quando os espectadores criticam as imagens. Se difere da perspectiva pessoal pela critica ser feita em conjunto com os interesses da sociedade.
Ver também
Cinema
Tipografia
Design gráfico
Design de informação
Fotografia
Animação
Quadrinhos
Comunicação Audiovisual
Web Design
Design visual
Comunicação | 16,297 |
599 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Clima | Clima | O clima (do grego para "inclinação", referindo ao ângulo formado pelo eixo de Rotação da Terra e seu plano de translação) compreende um padrão da atmosfera da Terra. Fenômenos como frentes frias, tempestades, furacões e outros estão associados tanto às variações meteorológicas preditas pelas leis físicas determinísticas, assim como a um conjunto de variações aleatórias dos elementos meteorológicos (temperatura, precipitação, vento, umidade, pressão do ar) cuja principal ferramenta de investigação é a estatística. As semelhanças em várias regiões da Terra de tipos específicos caracterizam os diversos tipos de clima, para o que são consideradas as variações médias do tempo meteorológico ao longo das estações do ano num período de não menos de 30 anos. Em suma, o clima corresponde ao comportamento médio dos elementos atmosféricos num determinado lugar, durante, pelo menos, trinta anos.
Definição
A definição pelo glossário do IPCC é:
"Clima, num sentido restrito é geralmente definido como 'tempo meteorológico médio', ou mais precisamente, como a descrição estatística de quantidades relevantes de mudanças do tempo meteorológico num período de tempo, que vai de meses a milhões de anos. O período clássico é de 30 anos, definido pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM). Essas quantidades são geralmente variações de superfície como temperatura, precipitação e vento. O clima num sentido mais amplo é o estado, incluindo as descrições estatísticas do sistema global."
A climatologia e o objeto clima
A climatologia é uma especialização da pesquisa meteorológica e geográfica dedicada ao estudo e investigação do clima em seus múltiplos aspectos. Nas ciências atmosféricas, a climatologia investiga as causas e as relações físicas entre os diferentes fenômenos climáticos (por exemplo, os fatores de ocorrência de secas, inundações, ondas de calor, fenômenos El Niño/ENSO, e outros). Na geografia, a climatologia é uma ferramenta de entendimento da relação do homem com seu espaço ambiental, particularmente com os fenômenos atmosféricos, do qual ele é paciente (atingido por vendavais, furacões, tornados, tempestades, enchentes e cheias, por exemplo) e causador (poluição, degradação ambiental, mudança climática devido efeito-estufa e outros). Esses dois pontos de vista, meteorológico e geográfico, complementam-se e não podem ser entendidos de forma separada.
O clima é o conjunto de estados do tempo meteorológico que caracterizam o meio ambiente atmosférico de uma determinada região ao longo do ano. O clima, para ser definido, considera um subconjunto dos possíveis estados atmosféricos e, para tal, requer a análise de uma longa série de dados meteorológicos e ambientais. Por longa série se entende um período de dezenas de anos. A Organização Mundial de Meteorologia (WMO) recomenda 30 anos para a análise climática.
A concepção original do que é clima foi introduzida através da análise estatística, de longo prazo, considerada, talvez, no fim do século XIX.
A noção de clima tem mudado ao longo do século XX. Até meados do século XX, o clima era considerado "fixo" na escala de tempo de 30 anos e funcionava como a base da previsão de tempo para as regiões tropicais, então bastante desconhecida. Os trópicos eram considerados regiões onde o tempo meteorológico seria regido pelo clima tropical, isto é, por variações sazonais, por exemplo, as "monções" sazonais, e não pelas variações e flutuações diurnas associadas às passagens de frentes e ou presença de sistemas complexos de tempestades. Assim, o tempo nos trópicos seria apenas perturbado por eventos aleatoriamente distribuídos. A existência de fenômenos como "ondas de leste", sistemas convectivos de tempestades da Zona de Convergência Intertropical (ITCZ) não eram conhecidos.
Hoje,ainda é mais difícil dar uma definição do clima baseada em períodos de 30 anos, embora séries de dados de 30 anos sejam comuns. Nota-se, que ao longo de amostras da série temporal, podem ocorrer variações do valor médio, indicando variabilidade climática. Parte dessas variações encontradas ao longo das dezenas de anos pode ser atribuída a causas antropogênicas. Por exemplo, os primeiros anos do século XXI têm sido mais quentes que os encontrados anteriormente na segunda metade do século XX.
Um dos primeiros estudos sobre o clima, proposto por Wladimir Köppen em 1900, fundamentava-se no sentido de clima como fator da dimensão geográfica. Nessa classificação considerava-se a vegetação predominante como uma manifestação das características do solo e do clima da região, permitindo reunir várias regiões do mundo através de semelhanças de sua vegetação, sendo conhecida como "classificação climática de Köppen-Geiger". Em 1931 Charles Warren Thornthwaite introduziu uma nova classificação e em 1948 amplia os estudos através do balanço de água como um fator do clima, que futuramente daria origem à "classificação do clima de Thornthwaite". Emmanuel de Martonne destacou-se no estudo da geomorfologia climática. Seu estudo sobre problemas morfológicos do Brasil tropical-atlântico foi um dos primeiros trabalhos de geomorfologia climática, sendo conhecida a "classificação do clima de Martonne".
Fatores climáticos
Os fatores climáticos são os elementos naturais e humanos capazes de influenciar as características ou a dinâmica de um ou mais tipos de climas. Para que sejam compreendidos, precisam ser estudados de forma interdisciplinar, pois um interfere no outro. São eles:
Pressão atmosférica - variações históricas das amplitudes de pressões endógenas (magma) e exógenas (crosta) do planeta Terra;
Órbita - mudanças cronológicas (geológicas e astrofísicas) nas posições das órbitas terrestres (em graus, minutos, segundos, décimos, centésimos e milésimos de segundos) ocasionam maiores ou menores graus de insolação que modificam as variadas ações calorimétricas (ora incidentes ou deferentes) no planeta Terra (dificilmente perceptíveis aos humanos);
Latitude - distância em graus entre um local até a linha do equador;
Altitude - a distância em metros entre uma cidade localizada em um determinado ponto do relevo até o nível do mar (universalmente considerado como o ponto ou nível médio em comum para medidas de altitudes);
Maritimidade - corresponde à proximidade de um local com o mar;
Continentalidade - corresponde à distância de um local em relação ao mar, permitindo ser mais influenciado pelas condições climáticas provenientes do próprio continente;
Massas de ar - parte da atmosfera que apresenta as mesmas características físicas (temperatura, pressão, umidade e direção), derivadas do tempo em que ficou sobre uma determinada área da superfície terrestre (líquida ou sólida);
Correntes marítimas - grande massa de água que apresenta as mesmas características físicas (temperatura, salinidade, cor, direção, densidade) e pode acumular uma grande quantidade de calor e, assim, influenciar as massas de ar que se sobrepõem;
Relevo - presença e interferências de montanhas e depressões nos movimentos das massas de ar;
Vegetação - emite determinadas quantias de vapor de água, influenciando o ciclo hidrológico de uma região.
A presença de megalópoles ou de extensas áreas rurais, as quais modificaram muito a paisagem natural, como por exemplo a Grande São Paulo, a Grande Rio de Janeiro, Tokkaido, a megalópole renana e Bos-wash, influenciando o clima local.
Tipos de clima
Tropical
Tropical alternadamente úmido e seco;
Subtropical
Equatorial
Equatorial úmido;
Mediterrâneo
Temperado
Oceânico
Continental
Continental úmido;
Continental subártico;
Alpino
Polar
Árido
Semiárido
Desértico
Desértico tropical e de estepe;
desértico de latitudes médias;
Desértico das costas ocidentais;
Litorâneo com ventos alísios;
Marítimo da costa ocidental;
Tundra;
Polar;
Diversidades de Climas ao Redor do Mundo
Tropical - Manaus -
Subtropical - Buenos Aires -
Equatorial - Belém -
Mediterrâneo - Lisboa -
Temperado - Nova Iorque -
Oceânico - Londres -
Continental - Pequim -
Polar - Yakutsk -
Árido - Lima -
Semiárido - Ancara -
Alpino - Bogotá -
Desértico - Dubai -
Ver também
Mudança do clima
Clima espacial
Clima urbano
Variação solar
Classificação do clima de Thornthwaite
Classificação climática de Köppen-Geiger
Seca
Ligações externas
Meteorologia | 715,409 |
601 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Calif%C3%B3rnia | Califórnia | Califórnia () é um dos 50 estados dos Estados Unidos, localizado na região dos estados do Pacífico. É o estado mais populoso do país, com e o terceiro em extensão territorial, superado apenas pelo Alasca e pelo Texas. A Califórnia é o maior centro industrial dos Estados Unidos e líder nacional na produção de produtos agropecuários.
Das 20 maiores cidades dos Estados Unidos, quatro estão localizadas na Califórnia: Los Angeles, São José, San Diego e São Francisco. Sua capital, Sacramento, também é uma grande cidade. A região sul da Califórnia é densamente povoada, sendo que as duas maiores cidades do estado (Los Angeles e San Diego) estão localizadas ali. Já na região norte estão localizadas as cidades de São Francisco e São José, além da capital do estado, Sacramento.
Após o contato com os europeus, os espanhóis foram o primeiro povo a explorar e colonizar a área onde atualmente fica o estado de Califórnia, e após a independência mexicana, tornaram-se parte do México. Os norte-americanos anexaram a Califórnia na década de 1850, em uma guerra com o México.
O cognome do estado é Golden State, que significa em português "estado dourado". Sua origem ainda é tema de discussão. O cognome pode ter vindo da corrida do ouro de 1849, quando minas de ouro atraíram dezenas de milhares de pessoas de todo o país para a região. Outra possibilidade é uma referência à relva nativa do estado, que adquire uma cor dourada na estação seca. Coloquialmente, o cognome também é uma referência ao seu clima, quente e ensolarado durante a maior parte do ano.
O nome do estado vem da novela Las sergas de Esplandián (As aventuras de Esplandián), do século XVI, que foi escrita pelo espanhol Garci Rodríguez de Montalvo. Nesta novela, Montalvo descreveu um paraíso chamado de California, um paraíso que estaria localizado em uma ilha na costa oeste da América do Norte.
Etimologia
A palavra Califórnia originalmente se referia à península da Baixa Califórnia do México; mais tarde, foi estendido a toda a região composta pelos atuais estados da Califórnia, Nevada e Utah, e partes do Arizona, Novo México, Texas e Wyoming.
As pesquisas iniciais do explorador espanhol Francisco de Ulloa sobre a península da Baixa Califórnia, explorando a costa ocidental da América do Norte, levaram-no a acreditar que era uma ilha, e não parte de um continente maior. O nome provavelmente derivou da mítica ilha Califórnia na história fictícia da Rainha Calafia, conforme registrado em uma obra de 1510, As Aventuras de Esplandián, de Garci Rodríguez de Montalvo. Este trabalho foi o quinto de uma popular série de romance de cavalaria espanhola que começou com Amadis de Gaula. Dizia-se que o reino da rainha Calafia era uma terra remota, rica em ouro e pérolas, habitada por belas mulheres negras que usavam armaduras de ouro e viviam como amazonas, assim como grifos e outras feras estranhas. No paraíso fictício, a governante Rainha Calafia lutou ao lado de muçulmanos e seu nome pode ter sido escolhido para ecoar o título de um líder muçulmano, o Califa. É possível que o nome Califórnia significasse que a ilha era um califado.
A sabedoria convencional de que a Califórnia era uma ilha, com mapas desenhados para refletir essa crença, durou até o século XVIII.
Formas encurtadas do nome do estado incluem CA, Cal., Calif., e US-CA.
História
Primeiros povos e colonização
A região que atualmente constitui o estado de Califórnia era habitada por diversas tribos nativo norte-americanas por milhares de anos antes da chegada dos primeiros exploradores europeus à região. Estas tribos incluíam os Chumash, Hupa, Maidu, Yokuts, Mohave, Ohlone e os Tongva. A grande extensão territorial da Califórnia e seus diversos aspectos e acidentes geográficos separavam frequentemente estas diferentes tribos nativas entre si. A população estimada de nativos à época da chegada dos primeiros europeus é de aproximadamente 450 mil nativos americanos.
O primeiro explorador europeu a avistar e pisar o litoral da Califórnia foi o português João Rodrigues Cabrilho, a serviço da coroa espanhola. Ele desembarcou na região onde atualmente está localizada a baía de San Diego, em 1542. Cabrilho reivindicou a região para coroa espanhola. A Califórnia continuaria inexplorada por mais de três décadas, até 1579, quando o inglês Francis Drake explorou o litoral da atual Califórnia, nomeando a região de New Albion, e desencadeando uma série de explorações, partindo do México, por parte dos espanhóis, que temiam perder o controle da região para os ingleses. A mais marcante destas explorações foi realizada em 1602, por Sebastián Vizcaíno, que recomendou ao rei espanhol a imediata colonização da região. Porém, o primeiro assentamento seria somente fundado em 1769. Era um forte e uma comunidade missionária, onde atualmente está localizada a cidade de San Diego.
Colonização europeia
Os russos interessaram-se em colonizar regiões da atual Califórnia a partir da década de 1810. Em 1812, os russos fundaram um assentamento onde atualmente está localizado o Fort Ross. A crescente interferência dos russos no continente americano causou a criação e a formação da Doutrina Monroe, em 1823. Apesar de concordar em 1824 em colonizar apenas o atual Alasca, os russos continuariam no norte da Califórnia até 1840.
A Califórnia passaria ao controle mexicano em 1821, após a independência mexicana da Espanha. Inicialmente, a Califórnia era uma província mexicana, com sua população elegendo seus governadores e seus membros do legislativo. Porém, em 1825, o governo mexicano iniciou a escolha dos governadores da província. Os governadores escolhidos pelo governo mexicano governavam de forma ditatorial, e eram impopulares entre a população da província. Uma grande manifestação popular em 1831 forçou o último destes governadores, Manuel Victoria, a renunciar, tendo a população da Califórnia ganho novamente o direito de escolher seus governadores.
O primeiro norte-americano a se instalar na Califórnia foi Jedediah Strong Smith, em 1826. Grandes números de norte-americanos passaram a instalar-se na Califórnia anualmente a partir da década de 1830. Os norte-americanos passaram a exigir que a Califórnia fosse anexada pelos Estados Unidos. O governo propôs a compra da província mexicana, mas a proposta foi recusada pelo governo do México. Em 13 de maio de 1846, o governo norte-americano declarou guerra contra o México, iniciando a guerra mexicano-americana. A capital mexicana da Califórnia, Sonoma, seria capturada por colonos norte-americanos em junho de 1846. Estes colonos — que então não sabiam da guerra entre os norte-americanos e os mexicanos — tomaram a sede de governo da província, içando uma bandeira vermelha e branca, com um urso pardo e as palavras California Republic. Esta bandeira eventualmente se tornaria a bandeira oficial do futuro estado da Califórnia. Os norte-americanos venceriam a guerra em 1848, e a Califórnia passou a fazer parte dos Estados Unidos, sob os termos do Tratado de Guadalupe Hidalgo.
Grandes reservas de ouro foram encontradas no Vale do Rio Sacramento, alguns meses antes do fim da guerra mexicano-americana. Após o fim desta, dezenas de milhares de pessoas, vindas de outras partes do país, do Canadá e de países europeus, instalaram-se na Califórnia. A população da Califórnia saltaria de 15 mil habitantes no início de 1848 para mais de 100 mil no final de 1849. A Califórnia tornar-se-ia o 31º estado norte-americano em 9 de setembro de 1850.
Século XIX
A Califórnia participou ativamente na guerra civil. A população estava dividida, ou em continuar nos Estados Unidos, ou declarar secessão e juntar-se ao recém-fundado Estados Confederados da América, antes do início da guerra, em 1861. Cerca de 70% da população do estado apoiava os confederados, enquanto apenas 30% da população californiana era a favor de continuar na União. Apesar da maioria da população ter apoiado a secessão, a Califórnia permaneceu nos Estados Unidos, lutando contra os estados confederados.
O crescimento populacional da Califórnia havia caído durante a década de 1850, por causa do fim da corrida do ouro no Vale do Rio Sacramento. Eventos tais como certos programas federais – como o Ato Homestead – e a construção e inauguração de diversas ferrovias interestaduais – que passaram a ligar o estado com o resto do país – fizeram com que a população da Califórnia passasse a crescer drasticamente a partir da década de 1860. A Califórnia, desde então, registra uma das taxas de crescimento anual mais altas do país, crescimento que perdura até os dias de hoje. Este grande crescimento populacional foi mantido, entre 1850 e 1900, primariamente através de imigrantes alemães e irlandeses, que superaram então a população hispânica como grupos étnicos maioritários do Estado.
A Califórnia seria atingida por uma grande recessão econômica durante a década de 1870. Grande parte da população californiana culpou os chineses pelos problemas de cunho econômico então enfrentados pelo estado. Grandes manifestações antichinesas ocorreram em 1871 e 1877, em Los Angeles e San Francisco, respectivamente. Estas revoltas foram uma das principais razões da aprovação do Ato de Exclusão Chinesa, aprovado em 1882, que proibia a imigração de chineses no país pelo Congresso dos Estados Unidos, e que perduraria até 1943.
Início do século XX
Um grande número de imigrantes mexicanos passaram a se instalar na Califórnia durante a década de 1910. A década também seria marcada pela abertura do Canal do Panamá, que diminuiu drasticamente as distâncias entre portos da costa oeste norte-americana do restante do país, tornando cidades como Los Angeles e Oakland grandes centros portuários. O processo de rápida industrialização da Califórnia iniciou-se próximo ao final da guerra, primariamente por causa da crescente expansão da malha ferroviária do estado e de seus centros portuários, bem como a entrada dos Estados Unidos na primeira guerra, em 1917. A construção de diversas rodovias transcontinentais desde o início do século XX aumentou a migração de habitantes de outras partes do país em direção à Califórnia.
A Califórnia foi um dos estados mais atingidos pela Grande Depressão da década de 1930. Não somente a Califórnia enfrentou os problemas das falências de inúmeras empresas, o fechamento de diversas facilidades comerciais e industriais, desemprego, endividamento dos fazendeiros, e miséria e pobreza da população, como também teve que enfrentar um grande número de migrantes vindos de outras partes do país: aproximadamente 1,3 milhão de pessoas instalaram-se no estado ao longo da década de 1930, vindas primariamente de estados agrários da Região Centro-Oeste dos Estados Unidos, em busca de emprego na Califórnia, que então era o único estado industrializado da região oeste norte-americana. O governo da Califórnia chegou a implementar leis que proibiam que pessoas desempregadas vindas de outros estados se instalassem na Califórnia – tais leis, porém, foram consideradas inconstitucionais pela Suprema Corte dos Estados Unidos.
Muitos californianos culparam os mexicanos como os causadores dos efeitos adversos da Grande Depressão no estado. Em consequência, dezenas de milhares de mexicanos – entre imigrantes mexicanos naturalizados norte-americanos e mexicanos nascidos nos Estados Unidos – foram deportados. Programas federais e estaduais de assistência socioeconômica, construções públicas e grandes exposições foram realizados no estado, buscando minimizar os efeitos adversos da Grande Depressão. Em 1937, por exemplo, a Ponte Golden Gate foi inaugurada, conectando San Francisco e o Condado de Marin. Enquanto isto, Hollywood tornou-se a capital do Cinema dos Estados Unidos.
A Grande Depressão teria fim definitivo somente com a entrada dos Estados Unidos na segunda guerra mundial, no final de 1941, causado pelo ataque japonês a Pearl Harbor, no estado do Havaí. A Califórnia, dado sua relativa proximidade com as frentes de batalha no Pacífico, tornou-se rapidamente o líder nacional na produção de aviões militares, e um dos líderes na produção de navios militares e armamentos em geral. Porém, o ataque japonês contra Pearl Harbor fez com que muito da população californiana passasse a exigir o confinamento dos norte-americanos de ascendência japonesa em campos militares localizados nas regiões isoladas do interior do centro-oeste norte-americano, confinamento que entrou em curso em março de 1942 e perdurou até 1945. Logo após o final da guerra, a criação da Organização das Nações Unidas foi oficializada, em San Francisco.
Final do século XX
Durante a década de 1950 e o início da década de 1960, um crescente número de afro-americanos e hispânicos californianos passou a exigir o fim de leis discriminatórias contra grupos raciais minoritários. Apesar disto, em 1963, o estado aprovou uma lei que acabava com o acesso igualitário a residenciamento a baixos preços. Em 1964, um grande motim popular ocorreu em Los Angeles, após a prisão não justificada de um afro-americano por parte de um policial branco, motim que durou dias e causou a morte de 34 pessoas e milhões de dólares em prejuízos.
O fim das leis de imigração discriminatórias contra grupos raciais minoritários, por parte do Congresso norte-americano, em 1965, e das leis estaduais discriminatórias contra grupos raciais minoritários no estado, causou o início de um grande fluxo de imigrantes asiáticos e mexicanos, que mudaram radicalmente a demografia da Califórnia. Crescente número de asiáticos e mexicanos instalam-se no estado todo ano, fato que tornou a Califórnia uma das regiões mais multiculturais do mundo. Ainda no mesmo ano, a Califórnia tornou-se o estado mais populoso dos Estados Unidos, superando Nova Iorque.
Grandes cortes em gastos militares por parte do governo norte-americano na Califórnia causaram um drástico aumento das taxas de desemprego entre a população californiana na década de 1970. Para incentivar o crescimento da economia, a população da Califórnia aprovou em um referendo um ato que cortava sete bilhões de dólares de impostos estaduais, o que passou a gerar grandes problemas para o orçamento californiano. Atualmente, a dívida governamental da Califórnia é a maior do país. Porém, os cortes em impostos causaram a recuperação da economia do estado durante a década de 1980. Em 1984, o inglês foi declarado o idioma oficial da Califórnia.
O crescente número de imigrantes em situação ilegal tentando instalar-se no estado fez com que o governo da Califórnia aprovasse em 1994 uma lei que proibia os imigrantes em situação ilegal de receberem serviços de livre assistência médica e educacionais públicos. Esta medida, porém, foi rejeitada após uma série de processos judiciais na Suprema Corte do Estado. Até os dias atuais, dezenas de milhares de imigrantes em situação ilegal instalam-se anualmente na Califórnia.
Problemas na geração e distribuição de eletricidade têm sido um dos maiores problemas da Califórnia, desde a década de 1990 até os dias atuais. Grandes apagões tornaram-se comuns nas cidades do estado.
Geografia
A Califórnia limita-se com o oceano Pacífico a oeste, o estado de Oregon ao norte, com Arizona e Nevada a leste e com o estado mexicano da Baixa Califórnia no México ao sul.
Topografia
A topografia do estado é diversa, e inclui um grande vale central, altas montanhas, desertos quentes e secos e diversas florestas. Com uma área de cerca de 424 mil km2, a Califórnia é o terceiro maior estado norte-americano. A maioria das grandes cidades californianas estão localizadas ao longo do oceano Pacífico, onde o clima é ameno e confortável. Sacramento é uma exceção, ela está localizada no vale central. Cerca de oito mil lagos localizam-se no estado. O Parque Nacional de Yosemite possui muitas das cataratas mais altas da América do Norte.
Localizado numa região geologicamente ativa, a Califórnia possui muitos vulcões, muitos deles ativos; o estado é famoso pelos terremotos, que ocorrem na região graças à presença da Falha de San Andreas. Embora ocorrências de poderosos terremotos tenham sido registradas no Alasca e no rio Mississippi, os terremotos da Califórnia são famosos porque acontecem frequentemente, atingindo áreas densamente habitadas. Uma lenda popular é de que, eventualmente, um gigantesco terremoto irá causar a fissão da área costeira da Califórnia com continente, e que esta área irá afundar no oceano ou formar uma nova massa de terra. O fato de que este cenário seja implausível, de um ponto de vista geológico parece não afetar a aceitação da lenda por parte da população californiana, ou de seu uso pela indústria cinematográfica.
O litoral da Califórnia possui km de comprimento. Contando-se todas as regiões banhadas pelo mar — baías, estuários e ilhas oceânicas — este número salta para 5 515 km. Florestas cobrem cerca de 40% do estado.
A Califórnia pode ser dividida em oito distintas regiões geográficas:
As Montanhas Klamath, localizadas no noroeste do estado, incluem muitas paisagens florestais, situadas em altas altitudes. As Montanhas Klamath caracterizam-se pelo seu terreno muito acidentado e montanhoso – mais do que a região que a cerca – e pela presença de altos picos, que chegar aos 2,4 mil metros de altitude;
As Montanhas Costeiras localizam-se logo ao sul das Montanhas Klamath, estendendo-se ao longo da maior parte das regiões costeiras da Califórnia. O principal aspecto das Montanhas Costeiras é a presença de cadeias paralelas de montanhas e pelo seu terreno acidentado – embora menos montanhoso e acidentado que o das Montanhas Klamath. Outro aspecto das Montanhas Costeiras é a presença da Falha de San Andreas na região;
As Montanhas Cascade localizam-se na região centro-norte do estado, e a leste das Montanhas Klamath. As Montanhas Cascade foram formadas primariamente através de erupções vulcânicas, ao contrário das outras regiões montanhosas do estado, formadas primariamente através do choque das placas tectônicas do Pacífico e norte-americana;
A Basin and Range Region localiza-se a leste das Montanhas Cascade e no nordeste do estado. A região é montanhosa, criada pelo choque das duas placas tectônicas localizadas na região;
O Vale Central, também chamado de Grande Vale, localiza-se no centro do estado. É uma longa faixa de terra que se estende na maior parte do percurso dos rios Sacramento e San Joaquin, possuindo cerca de 720 km de comprimento. Esta região caracteriza-se pelo seu solo muito fértil, sendo que cerca de 60% da produção agrária da Califórnia é produzida aqui;
A Serra Nevada, localizada a leste do Vale Central e no centro-leste do estado, é uma grande cadeia montanhosa com aproximadamente 650 km de comprimento e entre 60 a 110 km de largura. A Serra Nevada possui diversas montanhas de altas altitudes. Muitos picos superam facilmente os quatro mil metros de altitude. Está localizado na Serra Nevada o ponto mais alto dos 48 estados contíguos dos Estados Unidos, o Monte Whitney, que possui 4 418 metros de altitude. A Serra Nevada possui um terreno altamente acidentado. Grandes rios que correm a região escavaram grandes e profundos vales, escavados por fortes correntezas e por antigas geleiras. O maior e mais marcante destes vales é o Vale de Yosemite;
A Cadeia Transversa é uma região montanhosa localizada na região meridional do litoral sul da Califórnia. As cadeias montanhosas das Cadeias Transversas estendem-se num sentido leste-oeste – no restante do estado, as cadeias montanhosas estendem-se num sentido norte-sul. A cidade de Los Angeles localiza-se na região da Cadeia Transversa;
A Cadeia Peninsular é uma região montanhosa localizada no extremo sudoeste do estado, onde está localizada o Condado de San Diego;
A região de Basin and Range, localizada no leste e sudeste do estado, caracteriza-se pelo seu terreno relativamente plano e pouco acidentado e pelo seu clima árido. O deserto de Mojave e o famoso Vale da Morte estão localizados na região de Basin and Range. O Vale da Morte está localizado em uma depressão geográfica, cujo ponto mais profundo está localizado a 86 metros abaixo do nível do mar é o ponto mais baixo de todos os Estados Unidos.
Clima
Dada a sua grande extensão e sua diversidade geográfica, a Califórnia possui uma grande variedade de climas. Diferentes regiões possuem diferentes condições climáticas, e isto varia de acordo com a latitude, distância em relação ao oceano, altitude e presença de obstáculos geográficos (como serras e cadeias de montanhas). A maior parte do estado possui um clima temperado mediterrâneo, com apenas duas estações bem definidas, com invernos chuvosos e verões secos — especialmente no sul e ao longo do litoral. A proximidade do oceano Pacífico torna os verões mais frios e invernos mais quentes. Neblina é muito comum nas áreas costeiras do estado. O interior do estado possui verões muito quentes e invernos frios.
A temperatura mínima média do norte e nas regiões de maior altitude do estado é inferior a 0 ºC. Ao longo do sul e do litoral, porém, é de mais de 11 °C. A temperatura mais baixa já registrada é de -43 °C, registrada em 20 de janeiro de 1937. Mínimas variam entre -45 °C e 10 °C, e máximas variam entre -40 °C e 18 °C.
A temperatura média da Califórnia no verão é de 25 °C. As menores temperaturas médias são registradas nas regiões de maior altitude, no nordeste e ao longo do litoral. Nestas regiões, a temperatura média é inferior a 20 °C. Estas regiões possuem mínimas variando entre 6 °C e 18 °C, e máximas variando entre 20 °C e 34 °C. Já o leste e particularmente o sudeste possuem altas temperaturas médias no verão. A temperatura média nestas regiões é superior a 33 °C. Mínimas podem chegar até 2 °C, e máximas podem superar facilmente os 50 °C nestas regiões semidesérticas. A temperatura mais alta já registrada é de 57 °C, registrada no Vale da Morte, em 10 de julho de 1913.
Precipitação cai quase sempre na forma de chuva, e é maior ao longo da região costeira do estado, principalmente no norte. Porém, Tamarack, em Serra Nevada, registra anualmente mais de um metro de precipitação de neve. As Cadeias Transversas, Peninsulares e a Serra Nevada impedem o fluxo de ar úmido ao interior do sudeste da Califórnia, criando uma grande área de clima desértico, o deserto de Mojave, onde o Vale da Morte está localizado.
Demografia
Segundo o censo nacional de 2010, a Califórnia possui habitantes, um crescimento de 10,0% em relação à população do estado em 2000, que era de habitantes. A Califórnia é o estado mais populoso dos Estados Unidos, e concentra sozinha 12% da população norte-americana. Desde 1900 é o quarto estado americano com maior taxa de crescimento médio a cada dez anos (35,31%), ficando atrás de Nevada, Arizona e Flórida. É o décimo primeiro estado mais densamente povoado do país, com uma densidade populacional de 92,33 hab/km².
Existem unidades habitacionais, das quais (91,9%) estão ocupadas e estão vagas (8,1%). Do total das unidades vagas, 34% são para alugar e 14% para vender. As residências próprias são habitadas por 1 ou 2 pessoas em 51,4% do total, onde 47% dos moradores têm entre 45 e 64 anos de idade e 26,3% têm menos de 45 anos. Já as residências alugadas são habitadas por 1 ou 2 pessoas em 53,7% do total, onde 48,3% dos moradores têm entre 25 e 44 anos de idade e 43,4% têm mais de 45 anos.
Do total da população da Califórnia, 49,7% são do sexo masculino e 50,3% são do sexo feminino. Existem 98,8 homens para cada 100 mulheres. Os habitantes do estado têm em média 35 anos de idade sendo que os homens têm em média 34 anos e as mulheres 36 anos. Habitantes com até 18 anos de idade representam apenas 3,8% da população e maiores de 65 anos representam 15,4%. O maior grupo concentra-se entre 18 e 64 anos, com 80,8% dos habitantes.
A partir de 2010, pela primeira vez desde a Corrida do ouro na Califórnia, residentes nascidos no estado compõem a maioria da população.
O crescimento populacional natural da Califórnia entre 2000 e 2009 foi de habitantes ( nascimentos menos óbitos). Durante esse período, o crescimento populacional causado pela imigração foi de habitantes, enquanto a migração interestadual resultou na perda de habitantes, resultando em um acréscimo do processo migratório de pessoas.
Em 2008, os imigrantes em situação ilegal constituiu uma estimativa de 7,3% da população, tornando a Califórnia o terceiro estado americano com o maior percentual do país, atrás do Arizona e Texas, totalizando quase 2,6 milhões de habitantes. Mais da metade são originários do México, com quem o estado faz fronteira ao sul.
Segundo o censo nacional de 2000, 60,5% dos habitantes da Califórnia com cinco anos de idade ou mais possuem o inglês como único idioma e 25,8% também falam espanhol. Em seguida, vem o chinês (2,6%), tagalog (2,0%) e vietnamita (1,3%).
Composição étnica
Os brancos não hispânicos ainda são o segmento demográfico mais importante na Califórnia. Devido às altas taxas de imigração em anos recentes, a população hispânica vem crescendo enormemente, e em março de 2014 é esperado que o seu número supere o dos brancos não hispânicos.
Além disso, o estado possui a segunda maior percentagem de asiáticos dos Estados Unidos (apenas o Havaí possui uma percentagem maior).
Os cinco maiores grupos étnicos do estado são mexicanos (que compõem cerca de 30% da população do estado), alemães (9%), irlandeses (7,7%), britânicos (7,4%) e filipinos (6%). Los Angeles e São Francisco possuem grandes populações com ascendência francesa, italiana, espanhola, portuguesa, russa e escandinava.
A região sul da Califórnia possui uma percentagem menor de brancos do que a região norte, e a região central possui uma população de maioria hispânica desde a década de 1980. Habitantes com ascendência espanhola, alemã e escocesa são dominantes na região leste da Sierra Nevada, no extremo norte da Califórnia e no litoral setentrional do estado. A Califórnia possui uma considerável população nativa, composta por cerca de 350 mil pessoas, a maior população nativo norte-americana dos Estados Unidos.
Religião
A Califórnia tem o maior número de católicos romanos nos Estados Unidos, à frente do estado de Nova Iorque, bem como grandes populações Protestantes, não religiosas, judias e muçulmanas. Ela também tem a maior população de Mórmons fora de Utah.
As maiores denominações religiosas por número de adeptos como porcentagem da população da Califórnia em 2014 foram a Igreja Católica com 28 por cento, os protestantes evangélicos com 20 por cento e os protestantes da linha principal com 10 por cento. Juntos, todos os tipos de protestantes representavam 32%. Os não afiliados a nenhuma religião representavam 27% da população. A divisão de outras religiões é 1% muçulmana, 2% hindu e 2% budista. O American Jewish Year Book situou a população judaica total da Califórnia em cerca de 1 194 190 em 2006. De acordo com a Association of Religion Data Archives (ARDA), as maiores denominações de adeptos em 2010 foram a Igreja Católica Romana com 10 233 334; A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias com 763 818; e a Convenção Batista do Sul com 489 953.
Os primeiros padres a vir para a Califórnia foram missionários católicos romanos da Espanha. Os católicos romanos fundaram 21 missões ao longo da costa da Califórnia, bem como nas cidades de Los Angeles e San Francisco. A Califórnia continua a ter uma grande população católica romana devido ao grande número de mexicanos e centro-americanos que vivem dentro de suas fronteiras. A Califórnia tem doze dioceses e duas arquidioceses, a Arquidiocese de Los Angeles e a Arquidiocese de San Francisco, sendo a primeira a maior arquidiocese dos Estados Unidos.
Principais cidades
A Califórnia é um estado altamente urbanizado. Suas quatro maiores regiões urbanas são Los Angeles, San Diego, São José e São Francisco, todas entre as 20 maiores cidades dos Estados Unidos. Cerca de 97% da população da Califórnia vive em regiões metropolitanas, e 93% da população do estado vive em áreas urbanas.
O estado possui várias grandes cidades. Muitas delas fazem parte de uma das regiões metropolitanas mencionadas abaixo:
Cidades com mais de 10 milhões de habitantes em sua região metropolitana
Los Angeles
Cidades com mais de 1 milhão de habitantes em sua região metropolitana
San Francisco
San Diego
São Jose
Sacramento
Santa Ana-Anaheim-Irvine (Condado de Orange)
Riverside-San Bernardino-Ontario
Fresno
Cidades com mais de 500 mil habitantes em sua região metropolitana
Bakersfield
Modesto
Oxnard
Palmdale-Lancaster
Stockton
Cultura
Símbolos do estado
Esportes
A Califórnia possui dezenove equipes profissionais das grandes ligas nacionais esportivas, muito mais do que qualquer outro estado.
A Grande Los Angeles abriga dez franquias da liga principal. Nessa região estão o Los Angeles Rams e o Los Angeles Chargers da NFL, o Los Angeles Dodgers e o Los Angeles Angels da MLB, o Los Angeles Clippers e o Los Angeles Lakers da NBA, o Los Angeles Kings e o Anaheim Ducks da NHL e o Los Angeles Galaxy e Los Angeles Football Club da MLS.
A área da baía de São Francisco tem seis times da liga principal espalhados em suas três principais cidades: San Francisco, San Jose e Oakland. Nessa região estão o San Francisco 49ers da NFL, o San Francisco Giants e o Oakland Athletics da MLB, o Golden State Warriors da NBA, o San Jose Sharks da NHL e o San Jose Earthquakes da MLS.
San Diego e Sacramento cada um tem uma equipe da liga principal, o San Diego Padres da MLB e o Sacramento Kings da NBA.
É o único estado dos EUA a sediar tanto os Jogos Olímpicos de Verão quanto os de Inverno. Os jogos de verão de 1932 e 1984 foram realizados em Los Angeles. Squaw Valley, na região do Lago Tahoe, sediou os Jogos Olímpicos de Inverno de 1960. Los Angeles sediará os Jogos Olímpicos de Verão de 2028, marcando a quarta vez que a Califórnia sediará os Jogos Olímpicos.
Vários jogos da Copa do Mundo FIFA de 1994 ocorreram na Califórnia, com o Rose Bowl recebendo oito partidas (incluindo a final), enquanto o Stanford Stadium sediou seis partidas.
No automobilismo o principal circuito oval é o Auto Club Speedway, outros autódromos com circuitos mistos também existem no estado com destaque ao Sonoma Raceway e ao Laguna Seca Raceway.
Subdivisões
A Califórnia está dividida em um total de 58 condados. O maior deles é o Condado de Los Angeles, o mais populoso de todo o Estados Unidos, e que possui aproximadamente 10,5 milhões de habitantes, ou um terço da população do estado. A maior parte dos condados da Califórnia é administrada por um conselho de cinco membros e um supervisor, eleitos pela população do condado entre outros oficiais. A Califórnia possui cerca de 470 cidades primárias (cities).
Impostos estaduais geram cerca de 60% da receita do orçamento do estado, o restante vindo de verbas fornecidas pelo governo federal e de empréstimos. Em 2002, o governo estadual gastou 184,928 bilhões de dólares, tendo gerado 151,245 bilhões de dólares. A dívida governamental da Califórnia é de 71,263 bilhões de dólares – a segunda maior do país, atrás apenas da dívida governamental do estado de Nova Iorque. A dívida per capita é de 2 036 dólares, o valor dos impostos estaduais per capita é de 2 221 dólares, e o valor dos gastos governamentais per capita é de 5 283 dólares.
Atualmente, são 48 democratas e 32 republicanos na Assembleia. O atual governador do estado é Jerry Brown do Partido Democrata, cujo termo irá perdurar até janeiro de 2015. Brown substitui Arnold Schwarzenegger, que ficou no poder na Califórnia por 8 anos pelo Partido Republicano.
Em nível nacional, o estado de Califórnia é representado por 52 representantes, tendo direito a 52 votos no Colégio eleitoral dos Estados Unidos. Os senadores da Califórnia no Congresso dos Estados Unidos atualmente são Alex Padilla e Laphonza Butler.
Apesar da Califórnia ser um dos estados mais liberais dos Estados Unidos, e de a população californiana ter tradicionalmente apoiado mais o Partido Democrata, algumas áreas no estado são politicamente muito conservadoras, e apoiam mais o Partido Republicano, especialmente os condados de San Diego e Orange. O republicano George W. Bush perdeu em Califórnia nas eleições nacionais de 2004 por 9% para o democrata John Kerry.
Economia
Como o estado mais rico dos Estados Unidos, a Califórnia é responsável por aproximadamente 16% do produto interno bruto do país, mais do que qualquer outro estado norte-americano. O Produto Interno Bruto (PIB) da Califórnia foi de US$ 1,9 trilhão em 2010, o maior entre todos os estados norte-americanos. Se a Califórnia fosse um país independente, estaria posicionada naquele ano na nona posição entre as economias mundiais, atrás apenas dos outros 49 estados norte-americanos em conjunto, e da China, do Japão, da Alemanha, da França, do Reino Unido, do Brasil e da Itália.
A renda per capita da Califórnia é de 40 956 dólares (dado de 2010), 12º do país. O índice de desemprego é de 6,7% (dado de 2002), o nono mais alto do país.
O setor primário responde por 2% do PIB da Califórnia. A agricultura e a pecuária respondem juntas por 1,95% do PIB, e empregam cerca de 750 mil pessoas. O valor total dos produtos produzidos pela agropecuária da Califórnia é o maior de todo os Estados Unidos. O estado possui cerca de 89 mil fazendas, cobrindo cerca de 30% do seu território. Muitas destas fazendas dependem da irrigação artificial para o cultivo de plantações. A Califórnia é a líder nacional na produção de leite, carne bovina, tomate, morangos, melões, pêssegos e melancias, produzindo a maior parte dos kiwis norte-americanos. Além disso, a Califórnia é o segundo maior produtor de laranjas dos Estados Unidos; apenas a Flórida produz mais laranjas do que a Califórnia. A maior parte das vinícolas americanas se encontra na Califórnia, graças ao clima temperado mediterrâneo encontrado no estado. A pesca e a indústria madeireira respondem juntas por 0,05% do PIB, e empregam cerca de cinco mil pessoas.
O setor secundário responde por 18% do PIB da Califórnia. A indústria de manufatura responde por 14% do PIB, e emprega cerca de 2,1 milhões de pessoas. O valor total dos produtos industrializados produzidos na Califórnia é o maior de todo os Estados Unidos. Este valor foi de 211 bilhões de dólares em 2000. Os principais produtos industrializados fabricados no estado são computadores e eletrônicos, alimentos industrialmente processados, equipamentos de transporte, maquinário e produtos químicos.
A indústria de computação e eletrônicos da Califórnia, uma indústria de alta tecnologia, é a maior de todo o país. O valor total dos produtos produzidos por este setor industrial é de cerca de 52 bilhões de dólares, maior do que o valor total de todos os produtos industrializados de 40 estados norte-americanos. A indústria de construção responde por 3,6% do PIB, e emprega cerca de 915 mil pessoas. A mineração responde por cerca de 0,4% do PIB estadual, e emprega cerca de 42 mil pessoas. Os principais recursos naturais extraídos são petróleo, gás natural, ouro e tungstênio.
O setor terciário responde por 80% do PIB da Califórnia. Serviços pessoais e comunitários são responsáveis por 23% do PIB, e cerca de 6,3 milhões de pessoas trabalham neste setor. Serviços financeiros e imobiliários são responsáveis por 22% do PIB californiano, e 1,48 milhão de pessoas trabalham neste setor. O comércio por atacado e varejo emprega 3,8 milhões de pessoas e produz 16% do PIB do estado. Serviços governamentais empregam cerca de 2,4 milhões de pessoas e produzem cerca de 11% do PIB californiano. Transportes, telecomunicações e utilidades públicas respondem por 8% do PIB, empregando cerca de 818 mil pessoas.
Cerca de 40% da eletricidade gerada no estado é produzida em usinas hidrelétricas, 30% em reatores nucleares e 25% em usinas a gás natural. A Califórnia é o líder nacional na geração de eletricidade usando fontes renováveis de energia. Nenhum estado produz mais eletricidade através do uso da energia eólica e solar, bem como hidroelétricas. Porém, nos últimos anos, o crescimento da quantidade de eletricidade produzida no estado não tem acompanhado o imenso crescimento populacional e econômico da Califórnia, gerando vários apagões. Como consequência da alta demanda por eletricidade no estado, que é maior do que a quantidade de eletricidade gerada, a Califórnia precisa comprar eletricidade de estados vizinhos para poder atender à própria demanda.
Infraestrutura
Educação
As primeiras escolas públicas da Califórnia foram inauguradas em San Francisco, em 1850. Dois anos depois, a Califórnia ordenou que todos os condados e as cidades com mais de cinco mil habitantes fizessem o mesmo, e passou a fornecer verbas a estes condados e cidades.
Atualmente, todas as instituições educacionais na Califórnia precisam seguir regras e padrões ditadas pelo Conselho Estadual de Educação da Califórnia. Este conselho controla diretamente o sistema de escolas públicas do estado, que está dividido em diferentes distritos escolares. O conselho é composto por onze membros indicados pelo governador e aprovados pelo Senado, para termos de ofício de até quatro anos de duração. O sistema educacional da Califórnia é suportado por uma emenda constitucional que faz com que 40% da renda anual do governo seja gasta em educação.
Toda cidade com mais de dez mil habitantes e todos os condados são servidos cada um por um distrito escolar diferente. Nas cidades com mais de dez mil habitantes, a responsabilidade de administrar as escolas é do distrito escolar municipal, enquanto que em regiões menos densamente habitadas esta responsabilidade é dos distritos escolares operando em todo o condado em geral. A Califórnia permite a operação de escolas charter – escolas públicas independentes, que não são administradas por distritos escolares, mas que dependem de verbas públicas para operar. O atendimento escolar é compulsório para todas as crianças e adolescentes com mais de seis anos de idade, até a conclusão do segundo grau ou até os dezoito anos de idade.
As escolas do ensino básico (elementary school, seis — doze anos) possuem qualidades diferentes. O nível de qualidade de uma escola depende basicamente dos impostos arrecadados na região onde a escola está instalada e do tamanho da administração local. Em algumas regiões, os custos administrativos drenam boa parte das verbas destinadas às escolas locais. Em regiões pobres, a taxa de analfabetismo chega a 30% ou mais. Uma coisa que todas as escolas do estado possuem em comum é que o ensino sobre a história da Califórnia é obrigatório a todos os estudantes da quarta-série.
Em 1999, as escolas públicas do estado atenderam cerca de 6,038 milhões de estudantes, empregando aproximadamente 287,3 mil professores. Escolas privadas atenderam cerca de 619,1 mil estudantes, empregando aproximadamente 43,3 mil professores. O sistema de escolas públicas consumiu cerca de 34,380 bilhões de dólares, e o gasto das escolas públicas foi de aproximadamente seis mil dólares por estudante. Cerca de 81,1% dos habitantes com mais de 25 anos de idade possuem um diploma de segundo grau.
A primeira biblioteca pública da Califórnia foi fundada em 1909. Atualmente, o estado possui 179 sistemas de bibliotecas públicas, que movimentam anualmente uma média de cinco livros por habitante.
Uma das principais universidades do Estado é a Universidade da Califórnia, que possui um total de dez campi e emprega mais vencedores do Prêmio Nobel do que qualquer outra instituição de ensino superior do mundo. Além disso, é considerada uma das melhores instituições de ensino superior público do país. O Sistema de Universidades da Califórnia foi a primeira instituição de educação superior da Califórnia, tendo sido fundada em 1855, como uma faculdade privada, a Faculdade da Califórnia, em Oakland. Foi adquirida pelo estado em 1868, que moveu a instituição para Berkeley, e transformou a instituição em uma universidade. Oito campi primários do Sistema de Universidades da Califórnia estão localizados em Berkeley (sede da instituição, e onde estão localizados os principais campi da universidade), Los Angeles, Davis, Santa Cruz, Santa Bárbara, Irvine, Riverside e San Diego. Um nono campus, localizado em San Francisco, ensina apenas ciências. Um décimo campus, em Merced, ensina apenas lei e direito.
A Universidade do Estado da Califórnia providencia educação superior adequada a professores, comerciantes e agricultores. Com mais de 400 mil estudantes, a Universidade do Estado da Califórnia é a maior universidade dos Estados Unidos. O Sistema de Faculdades Comunitárias da Califórnia, constituído de 109 faculdades espalhadas em 72 cidades diferentes, atende a cerca de 2,9 milhões de estudantes por ano, fornecendo educação vocacional, remedial, bem como programas de educação contínua (educação para adultos).
Algumas instituições privadas de educação superior internacionalmente conhecidas estão também localizadas no estado. Entre elas, estão a Universidade de Stanford, Universidade do Sul da Califórnia e o Instituto de Tecnologia da Califórnia (ou simplesmente Caltech). Atualmente, o estado possui 400 instituições de educação superior, das quais 144 são públicas e 256 privadas.
Transportes
O imenso território californiano é integrado por um sistema extensivo de estradas, vias expressas e rodovias. Todo este sistema é administrado pelo Departamento de Transportes da Califórnia, e patrulhadas pela Patrulha Rodoviária de Califórnia. Los Angeles e San Francisco são os principais centros de transporte do estado.
A maioria dos californianos usa as vias públicas para locomover-se a trabalho, compras, lazer e turismo. Muitas das grandes cidades californianas são famosas pelos seus grandes congestionamentos, especialmente Los Angeles e San Francisco-Oakland (conhecida como Bay Area, ou Área da Baía). Apenas a cidade de Nova Iorque possui reputação similar. A Califórnia, em 2003, possuía 272 873 km de vias públicas, das quais 3 956 km eram rodovias interestaduais, consideradas parte do sistema federal rodoviário dos Estados Unidos.
Na Califórnia estão localizadas dois dos aeroportos mais movimentados do mundo: o Aeroporto Internacional de Los Angeles e o Aeroporto Internacional de San Francisco. Eles são os principais centros aeroportuários do oeste da América do Norte. Outra dúzia de importantes aeroportos comerciais e muitos aeroportos da aviação geral estão espalhados ao longo dos 58 condados da Califórnia.
A Califórnia possui também muitos grandes centros portuários importantes. O gigantesco complexo portuário formado pelo porto de Long Beach-Los Angeles, no sul do estado, é o mais movimentado do país, responsável pelo manejamento de aproximadamente um quarto de todo o tráfego de containers dos Estados Unidos. Este complexo portuário é também um dos mais movimentados do mundo. San Francisco é outro centro portuário importante.
O sistema de transporte ferroviário californiano é administrada pela Amtrak. San Francisco e Los Angeles possuem sistemas de metrô e de light rail, e San Diego e Sacramento possuem um sistema de light rail. O Metrolink é um método ferroviário de transporte interurbano, e que conecta muitas das grandes cidades do sul da Califórnia, conectando San Jose a San Francisco. A Califórnia, em 2003, possuía 9 508 km de ferrovias.
Quase todos os condados da Califórnia administram um sistema de transporte público composto por uma malha de rotas de ônibus, e muitas cidades operam seus próprios sistemas de transporte público, embora nenhuma cidade ou condado da Califórnia possua um sistema de transporte público considerado eficiente. O rápido crescimento populacional da Califórnia está congestionando cada vez mais todos os sistemas de transporte do estado. Uma crescente questão na política californiana é se o estado deveria expandir seu sistema de rodovias e estradas, ou incentivar seus condados e cidades a melhorarem seus sistemas de transporte público.
Telecomunicações
O primeiro jornal publicado na Califórnia foi o The Californian, publicado pela primeira vez em Monterey, em 1846. Atualmente são publicados na Califórnia cerca de 760 jornais. Deles, aproximadamente 125 são diários. Muitos destes jornais são publicados em espanhol, graças à grande população hispânica da Califórnia. São impressos no estado cerca de 1 300 periódicos diferentes.
A primeira estação de rádio da Califórnia foi fundada em 1909, em San Jose. Esta estação possuía cunho educacional, tendo sido fundada em uma escola. A primeira estação comercial de rádio da Califórnia foi fundada em 1922, em Los Angeles. A primeira estação de televisão do estado foi fundada em 1947, em Los Angeles. Atualmente, a Califórnia possui 487 estações de rádio – dos quais 183 são FM e 304 são AM – e 84 estações de televisão. Muitas destas estações possuem sua programação em espanhol.
Governo e política
A Califórnia é governada como uma república, e possui três principais ramos governamentais: o ramo executivo, constituído do governador da Califórnia e de outros oficiais eleitos; o braço legislativo, constituído do Senado e da Assembleia, e o ramo judiciário, constituído da Suprema Corte da Califórnia. O estado também permite direta participação do eleitorado através de referendos e votações, em decisões governamentais.
A primeira constituição da Califórnia foi adotada em 1849. A atual constituição, por sua vez, foi adotada em 1879. Emendas à constituição geralmente são propostas por uma das câmaras do poder legislativo da Califórnia. Neste caso, esta emenda precisa ser aprovada por dois terços dos membros do poder legislativo. Emendas também podem ser propostas por abaixo-assinados, diretamente, pela população. Neste caso, o abaixo-assinado precisa conter ao menos 8% dos votos dos eleitores que haviam elegido o governador na última eleição estadual. Por fim, novas emendas podem ser propostas através de convenções constitucionais, que precisam ser aprovadas por dois terços do legislativo e, então, por 51% dos eleitores, em um referendo. Nos três casos, caso a emenda em questão seja aprovada, precisa receber a aprovação de dois terços da população californiana, em um referendo, para entrar em efeito.
O poder executivo da Califórnia está centralizado no governador, que é eleito pela população para mandatos de até quatro anos de duração, e que podem ser reeleitos novamente apenas uma vez.
O poder legislativo da Califórnia é constituído pelo Senado e pela Assembleia. O Senado possui um total de 40 membros, enquanto a Assembleia possui um total de 80 membros. A Califórnia é dividida em 40 distritos senatoriais e 80 distritos de assembleia. Os eleitores de cada distrito elegem um senador ou membro da Assembleia, que irão representar tal distrito no Senado ou na Assembleia. O termo dos senadores é de quatro anos, e o dos membros da Assembleia de dois anos. Como o governador, uma pessoa pode exercer o cargo de senador apenas duas vezes. Para os membros da Assembleia, o limite é de três termos. Leis aprovadas pelo legislativo podem ser rejeitadas pela população através de um referendo, e a população do estado pode aprovar leis sem o consentimento do legislativo, através do processo de iniciativa – que precisa ser inicialmente apoiada por 5% dos eleitores que haviam votado na última eleição estadual para governador, e então aprovada por ao menos 51% do eleitorado, em um referendo.
A maior corte do poder judiciário da Califórnia é a Suprema Corte da Califórnia, composta por sete juízes. Além disso, cada condado da Califórnia possui sua própria suprema corte. Os juízes das supremas cortes são indicados pelo governador do estado e aprovados pelo legislativo para mandatos de doze anos de duração, mas eles precisam ser regularmente reconfirmados pelo eleitorado californiano. O sistema legal da Califórnia é explicitamente baseado no código legal britânico, mas possui também algumas características das leis civis da Espanha.
A capital da Califórnia é a cidade de Sacramento. Ao longo da história do estado, outras cidades que serviram por algum tempo como capital californiana incluem Monterey, entre 1775 e 1849; San José, entre 1849 e 1851; Vallejo; entre 1852 e 1853; Benicia, entre 1853 e 1854, e San Francisco, em 1862. A capital californiana mudou para Sacramento em 1852, em caráter temporário, quando a construção de um Centro de Governo não pôde ser completada a tempo em Vallejo. Sacramento tornou-se de vez a capital da Califórnia em 25 de fevereiro de 1854, e desde então é a capital do estado, exceto por um curto período em 1862, quando severas inundações em Sacramento obrigaram uma mudança temporária para San Francisco.
Ver também
Registro Nacional de Lugares Históricos na Califórnia
Marco Histórico Nacional na Califórnia
Bibliografia
Ligações externas | 648,281 |
602 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinem%C3%A1tica | Cinemática | A cinemática (do grego κινημα, movimento) é o ramo da física que se ocupa da descrição dos movimentos de pontos, corpos ou sistemas de corpos (grupos de objetos), sem se preocupar com a análise de suas causas.
Considerada uma "geometria do movimento", é ocasionalmente vista como um ramo da matemática. Neste campo, uma situação problema é iniciada ao descrever a geometria do sistema e declarando as condições iniciais de quaisquer valores de posição, velocidade e/ou aceleração dos pontos do sistema. E então, usando argumentos geométricos, pode-se determinar valores desconhecidos de posição, velocidade e/ou aceleração de partes do sistema. O estudo de como as forças agem nos corpos não é tratado na cinemática, mas na dinâmica.
A cinemática é utilizada na astrofísica para descrever o movimento de corpos celestes e de conjuntos destes. Na engenharia mecânica, robótica e biomecânica a cinemática é útil para descrever o movimento de sistemas compostos por partes interdependentes, como motores, braços robóticos ou o esqueleto humano.
A análise cinemática é o processo de medida das quantidades cinemáticas usadas para a descrição do movimento. Na engenharia, por exemplo, a análise cinemática pode ser utilizada para identificar a amplitude de movimento de um dado mecanismo, e a síntese cinemática, serve para o processo inverso, desenha um mecanismo que terá certa amplitude de movimento. Ainda, a cinemática aplica a geometria algébrica para obter vantagem mecânica em um certo sistema ou mecanismo.
Conceitos
Movimento e graus de liberdade
Um objeto encontra-se em movimento se a sua posição for diferente em diferentes instantes; se a posição permanecer constante, o objeto estará em repouso. Para podermos determinar a posição do objeto, será necessário usarmos outros objetos como referência. Se a posição do corpo em estudo variar em relação ao referencial (objetos em repouso usados como referência), o corpo estará em movimento em relação a esse referencial.
Assim, o movimento é um conceito relativo, já que um objeto pode estar em repouso em relação a um primeiro referencial, mas em movimento em relação a um segundo referencial.
Os graus de liberdade de um sistema são as variáveis necessárias para medirmos a sua posição exata. Por exemplo, para determinar a posição de uma mosca numa sala, podíamos medir a sua distância até o chão e até duas paredes perpendiculares na sala. Teríamos assim um sistema de três coordenadas perpendiculares (coordenadas cartesianas), que se costumam designar pelas letras x, y e z.
Mas para além de se deslocar variando o valor das 3 coordenadas x, y e z, a mosca também pode mudar a sua orientação. Para definir a orientação da reta paralela ao corpo da mosca podemos usar 2 ângulos e seria preciso outro ângulo para indicar a sua rotação em relação a essa reta; assim, temos já 6 graus de liberdade. Continuando, a mosca pode também esticar ou dobrar o seu corpo, abrir ou fechar as asas, etc., e, portanto, do ponto de vista físico tem muitos graus de liberdade.
Podemos simular o movimento da mosca como o movimento de 3 corpos rígidos: as duas asas e o bloco constituído por cabeça, tórax e abdômen. Um corpo rígido é um objeto em que todas as partes mantêm sempre as mesmas distâncias relativas às outras partes. Os movimentos desses 3 corpos rígidos são diferentes, as asas têm movimentos oscilatórios, mas não são completamente independentes, já que existe um ponto comum entre cada asa e o tórax.
Movimento dos corpos rígidos
A posição de um corpo rígido em qualquer instante pode ser determinada indicando a posição de um ponto do corpo, a orientação de um eixo fixo em relação ao corpo e um ângulo de rotação à volta desse eixo.
A posição do ponto de referência é dada por 3 variáveis e para especificar a orientação do eixo são precisos dois ângulos; assim, um corpo rígido é um sistema com seis graus de liberdade: 3 coordenadas de posição para a posição do ponto de referência, dois ângulos para a orientação do eixo e um ângulo à volta desse eixo.
Se o eixo do corpo rígido mantiver a mesma direção enquanto se desloca, o movimento será de translação. Se existir um ponto dentro do corpo que não se desloca, enquanto outros pontos do corpo estão em movimento, o movimento será de rotação pura. O movimento mais geral será uma sobreposição de translação e rotação (figura abaixo).
Na segunda e terceira parte na figura acima, o martelo rodou em relação a um eixo que permaneceu sempre perpendicular à página e perpendicular ao plano da translação na terceira parte. O eixo de rotação poderá não ser o mesmo em diferentes instantes e não ser perpendicular ao plano de translação.
Se todos os pontos do corpo sofrerem o mesmo deslocamento durante o mesmo intervalo de tempo, de modo que todos têm, em qualquer instante, a mesma velocidade e mesma aceleração, esse movimento será apenas de translação. E chamamos as velocidades e acelerações de, respectivamente, velocidade e aceleração de translação de um corpo rígido. Assim, para estudar um movimento de translação, bastará estudar o movimento de um único ponto qualquer no corpo rígido (por exemplo, o centro de massa). Para definir a posição desse ponto serão precisas, em geral, 3 variáveis e, portanto, o sistema terá 3 graus de liberdade.
Quando existe translação combinada com rotação, a trajetória de cada ponto no corpo rígido será diferente. Por exemplo, numa roda de um automóvel em movimento, os pontos na superfície dos pneus seguem uma trajetória de cicloide mas existe um ponto que tem
uma trajetória mais simples: o centro da roda. Será mais fácil estudar o movimento de translação do centro da roda e a esse movimento sobrepor a rotação. E para estudar a translação do centro teremos novamente 3 graus de liberdade associados com a posição de um ponto.
Movimento em uma, duas ou três dimensões
O caso mais geral do movimento de um ponto no espaço é um movimento em 3 dimensões, porque existem 3 graus de liberdade, x, y e z que variam em função do tempo. Mas esses três graus de liberdade associados ao movimento de translação do corpo rígido podem ser reduzidos a dois ou um em alguns casos.
O movimento de um automóvel numa autoestrada pode ser considerado um movimento em uma dimensão (figura ao lado). Se o automóvel sofrer uma avaria e o condutor tiver que telefonar para pedir um reboque, bastará dizer em que quilômetro da autoestrada se encontra para que o condutor do caminhão de reboque saiba para onde tem que se dirigir.
Assim, o movimento dos automóveis na autoestrada é o aumento da distância percorrida ao longo da estrada e essa distância é o único grau de liberdade.
De referir que a distância percorrida não é medida em linha reta, mas ao longo de uma curva no espaço com 3 dimensões; no entanto, como o percurso dessa curva já está estabelecido, basta apenas uma variável para descrever a posição em cada instante.
Se estivéssemos a construir um sistema de condução automático, teríamos que introduzir outra variável, por exemplo, a distância até a berma da estrada, e o movimento em estudo seria em duas dimensões.
Movimentos dependentes
Em alguns sistemas em que aparentemente são necessárias várias variáveis para descrever o movimento dos diferentes componentes do sistema, o número de graus de liberdade pode ser menor devido à existência de restrições no movimento. A figura abaixo mostra um exemplo que descreve o movimento de um cilindro que desce, enquanto o carrinho se desloca sobre a mesa.
O movimento do carrinho pode ser descrito pela variação da distância horizontal até o eixo da roldana fixa. O movimento do cilindro será igual ao movimento da roldana móvel e, portanto, pode ser descrito pela expressão para a distância vertical entre os centros das roldanas, em função do tempo.
Mas, enquanto o fio permanecer esticado e sem se quebrar, existirá uma relação entre as velocidades e as acelerações do carrinho e do cilindro. Para encontrar essa relação, escreve-se a o comprimento do fio, , em função das distâncias e :
Em que e são os raios das duas roldanas.
O fio toca um quarto do perímetro da roldana fixa e metade do perímetro da roldana móvel .
Tendo em conta que , , e são constantes, e derivando a equação anterior em ordem ao tempo, obtém-se,
Ou seja, o valor da velocidade do carrinho será sempre o dobro do valor da velocidade do cilindro. O sinal negativo na equação acima indica que se o cilindro desce o carrinho desloca-se para a direita e vice-versa.
Derivando novamente essa última equação em ordem ao tempo, conclui-se que a aceleração do carrinho segundo a trajetória também é o dobro do que a aceleração do cilindro segundo a sua trajetória:
Estas relações entre as posições, velocidades e acelerações implicam que o sistema tem apenas um grau de liberdade. Uma vez conhecidas as expressões para a posição, velocidade e aceleração de um dos objetos, as expressões da posição, velocidade e aceleração do outro objeto serão obtidas multiplicando (ou dividindo) por 2.
Um segundo exemplo, com dois graus de liberdade, é o sistema de três roldanas e três cilindros na figura abaixo. As alturas dos três cilindros são determinadas pelos valores das 3 distâncias , e ; como existe um único fio em movimento, existe apenas uma restrição (comprimento do fio constante), que permitirá expressar uma das três distâncias em função das outras duas.
O comprimento do fio é,
Em que a constante é a soma de metade dos perímetros das roldanas, que não é importante conhecer, já que vai desaparecer quando a equação for derivada e só altera as posições num valor constante.
A derivada da equação anterior em ordem ao tempo é,
Neste caso existem vários possíveis movimentos; por exemplo, se o cilindro A estiver a subir e o cilindro C estiver a descer com a mesma velocidade, o cilindro B permanecerá estático; ou um dos cilindros poderá estar a descer e os outros dois a subir. O que sim não é possível é que os 3 cilindros estejam simultaneamente a descer ou a subir.
A derivada da equação anterior conduz à relação entre as acelerações,
Referencial
É um sistema de referência em relação ao qual é definido o vetor posição do corpo em função do tempo. Este vetor fornece a posição do corpo em um dado instante . Assume-se geralmente como origem do sistema de coordenadas a posição do corpo no instante inicial . Este instante é escolhido arbitrariamente; para fins práticos pode-se dizer que é o instante em que se dispara o cronômetro para a análise do fenômeno.
Trajetória
Um corpo, em relação a um dado referencial , ocupa um determinado ponto em um dado instante . Chama-se de trajetória ao conjunto dos pontos ocupados por um corpo ao longo de um intervalo de tempo qualquer.
Deslocamento
É o vetor resultante da subtração do vetor posição final pelo vetor posição inicial :É importante notar que o deslocamento é de natureza vetorial, ou seja, são consideradas sua posição, direção e sentido. Em certos casos, porém, como em uma corrida de fórmula 1, é mais interessante trabalhar apenas com a distância percorrida , que é o comprimento da trajetória realizada. Para calcular essa trajetória, precisamos particionar a curva e considerá-la como a união de vários segmentos orientados de reta. Se a quantidade desses segmentos tender ao infinito, temos, portanto:
Velocidade média
Velocidade média é a razão do deslocamento pelo intervalo de tempo . A velocidade média pode ser considerada escalar se for considerado apenas o módulo do deslocamento. Em uma corrida de fórmula 1, por exemplo, se levarmos em conta somente o vetor posição, ao final de cada volta o piloto não terá desenvolvido velocidade, pois não houve deslocamento, uma vez que o vetor final é o mesmo que . Entretanto, considerando o módulo do espaço percorrido pelo piloto, teremos uma velocidade escalar média diferente de 0, portanto, muito mais útil para as análises necessárias. No movimento unidimensional, trabalhar tanto com um quanto com outro nos leva aos mesmos resultados. Pode-se definir a velocidade média como
Velocidade instantânea
É a taxa de variação da posição de um corpo dentro de um intervalo de tempo infinitesimal (na prática, instantâneo). Define-se velocidade instantânea ou simplesmente velocidade como sendo:
Podemos falar também de uma rapidez instantânea, que seria o módulo do vetor velocidade em um dado instante de tempo .
Aceleração média e instantânea
Aceleração é a taxa de variação da velocidade de um corpo em um dado intervalo de tempo. Assim como a velocidade, ela apresenta suas interpretações em situações mais globais (aceleração média) e em situações mais locais (aceleração instantânea). Elas são definidas como:
(aceleração média)
(aceleração instantânea)
Aceleração Tangencial
Define-se a aceleração tangencial no instante igual à aceleração média num intervalo de tempo que inclui o tempo , no limite em que o intervalo de tempo, , se aproximar de zero.
Usando a notação abreviada com um ponto por cima, temos a seguinte equação:
onde os dois pontos por cima da função indicam a sua segunda derivada em função do
tempo.
Repare que a distância percorrida s(t) é uma função do tempo, sempre positiva e crescente, ou constante. Assim, a sua primeira derivada, , será sempre positiva, mas a sua segunda derivada,
, poderá ter qualquer sinal. Uma aceleração tangencial negativa implica uma diminuição da velocidade e aceleração tangencial nula implica velocidade constante.
Breve introdução à cinemática
A forma mais didática de se iniciar a cinemática é a partir do "movimento unidimensional", embora este seja apenas um caso particular do movimento geral num espaço euclidiano tridimensional (como esse em que vivemos). O movimento unidimensional consiste no movimento de uma "partícula" restrita a uma reta.
Partículas e o movimento sobre uma reta
O conceito de partícula que será usado aqui difere do conceito de partícula encontrado na física quântica (ex: quarks, elétrons). Definiremos uma partícula como algo que possui apenas duas propriedades: localização e massa. Assim, note que a partícula não tem extensão nem forma. Para descrever a posição de um corpo extenso, precisamos dizer a localização de cada pedaço que o compõe, mas isso não é necessário para uma partícula. Graficamente, podemos pensar na partícula como um ponto que possui massa e se move pelo espaço com a passagem do tempo. As partículas não existem na realidade, são objetos matemáticos sobre os quais construímos a primeira descrição realmente poderosa do mundo.
Num espaço tridimensional, precisamos definir três números, ou "coordenadas", para dar a posição de uma partícula. Isso quer dizer que duas partículas que estejam à mesma altura podem não estar na mesma posição: uma pode simplesmente estar mais "para a frente" ou "para o lado" do que a outra. No entanto, existem casos onde podemos restringir o movimento das partículas a uma reta. Por exemplo, podemos pensar em partículas que só podem se mover "para os lados", não podendo nem subir ou descer e nem ir para a frente ou para trás. Assim, tudo o que precisamos para definir a posição da partícula nesse caso é de uma coordenada, que diz o quanto a partícula está "para o lado".
Vamos colocar isso de forma mais precisa. Definimos uma reta, à qual estão restritos os movimentos das partículas que estamos considerando. Sobre a reta, definimos um ponto qualquer, chamado de "origem". Definimos então uma coordenada "x" para a partícula. O módulo de x é a distância entre a partícula e a origem; enquanto o sinal é dado como positivo caso a partícula esteja à direita da origem, e negativo caso ela esteja à esquerda. A escolha da direita como positivo e esquerda como negativo é questão de definição: nada impede que se faça o contrário, tomando os devidos cuidados. Também nada impede que se faça uma reta vertical, definindo x como positivo quando estiver acima da origem e negativo abaixo dela, por exemplo. A escolha das "inclinações" da reta são irrelevantes aqui, e espera-se do leitor uma certa abstração quanto a isso.
O problema da descrição
Com os procedimentos acima, está totalmente caracterizada a posição da partícula nisso que chamamos de movimento unidimensional. Agora, lembremos de que estamos caminhando para descrever um "movimento". O pensamento coloquial diria que isso significa que a partícula se move quando o tempo passa. Mas isso é vago, além de redundante: o tratamento adequado é:
1- Criar um conjunto, correspondente a um intervalo de números reais. Ou seja, define-se um número real t1 e um número real t2, e então todos os infinitos números entre t1 e t2 são elementos desse conjunto. Cada um desses números é um valor do tempo, dentro do intervalo de tempo t1-t2.
2- Criar um outro conjunto, cujos elementos serão valores da coordenada "x". Esse conjunto deve ser compatível com o "3":
3- Criar uma função do primeiro ao segundo conjunto. Ou seja, para cada valor do tempo haverá uma posição bem definida da partícula sobre a reta.
É interessante notar que a "passagem do tempo" inexiste em tal tratamento matemático, de modo que pode-se questionar a sua existência no mundo físico.
A função definida em "3" caracteriza totalmente o movimento unidimensional. Entretanto, a princípio seria impossível defini-la na prática: teríamos que pegar um por um os infinitos valores do tempo de um certo intervalo e relacionar a cada um deles uma posição diferente para a partícula! Obviamente isso não é necessário no mundo real. Em primeiro lugar, todos os movimentos que pudemos observar até hoje obedecem certas regras. Uma dessas regras é a "continuidade". Não vamos dar aqui uma definição matemática precisa do que é uma função contínua, mas um olhar qualitativo nos mostra que, em funções contínuas, se pegarmos valores do tempo cada vez mais próximos, veremos que as posições das partículas associadas a eles também se aproximarão arbitrariamente. Isso implica que a partícula não pode ir de um lugar ao outro sem antes percorrer todo o caminho entre esses dois pontos! Outras regras serão vistas mais tarde, mas a existência dessas regras implica que podemos escrever o movimento através de equações, o que nos permite fazer o trabalho descrito acima (relacionar infinitos elementos de dois conjuntos) com breves rabiscos no papel.
A existência de uma função que relaciona a cada valor do tempo uma posição no espaço é denotada por:
Onde t são os valores do tempo.
Velocidade média
Agora que a descrição do movimento unidimensional está completamente caracterizada, vamos pensar em conceitos importantes relacionados a ele. A importância desses conceitos é que eles estão relacionados às regras que regem o movimento, como veremos mais tarde. O primeiro conceito que colocaremos aqui é a velocidade média, definida por:
Ou seja, a velocidade média entre os tempos t1 e t2 é igual à diferença entre as posições da partícula no tempo t2 e no tempo t1, dividido pela diferença entre esses tempos. Não deve-se pensar que a velocidade média equivale a todo o espaço percorrido em um certo tempo dividido por esse tempo, porque a partícula pode ter retrocedido em seu caminho: pode ter percorrido no total muito mais espaço do que parece a quem vê apenas sua posição inicial e final (como alguém que viaja à Europa e depois de um mês está de volta ao mesmo local). Embora a descrição que leve em consideração o espaço total percorrido pareça muito mais "real", isso NÃO é considerado na velocidade média! Só importa a posição inicial e a final, e o tempo decorrido.
Velocidade instantânea
Fica claro que, quanto menor é o intervalo de tempo t2 - t1, mais precisa é a descrição dada pela velocidade média. Se o tempo for de dez anos, alguém poderia ter conhecido o mundo todo antes de voltar para casa nesse período (e pareceria à velocidade média que ele quase não se deslocou). Mas se o tempo foi de um segundo, a pessoa não pode ter feito tanta coisa assim. Isso nos leva a desejar a formulação do conceito de "velocidade instantânea", ou seja, algo análogo à velocidade média, mas com uma precisão infinita. Para aumentar a precisão da velocidade, é preciso considerar tempos cada vez menores, ou seja, valores de t2 arbitrariamente próximos de t1. Assim, usamos a operação matemática conhecida como "limite": a velocidade instantânea é o limite da velocidade média quando t2 tende a t1. Ou seja:
A operação acima descrita é chamada uma "derivada". Se temos uma função qualquer f(t), então a derivada de f(t) no ponto t1 é:
Ou, se definirmos t2 = t1+h,
Assim, fica claro que a velocidade instantânea v(t1) é a derivada da função x(t) no ponto t1. Ou seja, A velocidade instantânea é a derivada temporal da posição.
Em outras palavras, a velocidade é a taxa de variação da posição: quanto maior a velocidade, mais rápido a posição varia. Se a velocidade for positiva, a posição muda no sentido que foi definido como positivo para a posição (veja a seção "Partículas e o movimento sobre uma reta") . Se for negativa, a posição muda no sentido inverso: o que foi definido negativo para a posição.
Relação entre velocidade média e velocidade instantânea
Este trecho supõe que o leitor entenda o conceito de integral. A partir da equação
Podemos integrar os dois lados em relação a t, de modo a obter
Com a condição v(0) = v0, fica claro que C = v0, ou seja
E sabemos que
Então, integrando os dois últimos membros, temos
Agora, substituindo isso na definição da velocidade média
temos
Também podemos exprimir este resultado em relação à velocidade instantânea.
Que é uma relação interessante, e expande o significado físico da velocidade média.
O referencial
Ver "O referencial no movimento unidimensional", no artigo "Referencial" indicado no fim desta página.
A aceleração - média e instantânea
Da mesma forma que definimos a velocidade média, podemos definir a "aceleração média" como
E, analogamente à velocidade, a aceleração instantânea:
Então, A aceleração instantânea é a derivada temporal da velocidade.
A aceleração é a taxa de variação da velocidade: quanto maior a aceleração, mais rápido a velocidade varia. Se a aceleração for positiva, e a velocidade for positiva, então o módulo da velocidade aumenta. Se ela for negativa, e a velocidade, positiva, então o módulo da velocidade diminui. Assim, a aceleração "puxa" a velocidade na direção dela, fazendo-a crescer caso ambas estejam no mesmo sentido, e diminuir caso estejam em sentidos opostos.
A relação entre aceleração média e instantânea é a mesma que há entre a velocidade média e a instantânea.
Movimento unidimensional uniforme
Este movimento é caracterizado pelo simples fato de que não há aceleração agindo sobre a partícula.
Aqui (e na seção "Movimento unidimensional uniformemente variado") iremos demonstrar todos os resultados de forma que não requeira o conhecimento do Cálculo. No entanto, o leitor que esteja familiarizado à integração pode notar que todos esses resultados vêm facilmente das relações:
Agora, procuraremos formas de demonstrar as equações do movimento uniforme para quem não conheça os métodos da integração.
Para isso, lembremos que a aceleração é a taxa de variação da velocidade com o tempo. Sendo assim, em um movimento onde não haja aceleração, a velocidade obviamente não varia com o tempo. Isto é, ela permanece constante. Então, no movimento unidimensional uniforme:
Então, lembrando que a velocidade é a taxa de variação da posição, e sabendo que ela é constante, vemos que a posição varia uniformemente com o tempo, o que justifica o nome desse movimento. Ou seja, variação da posição é diretamente proporcional ao tempo, sendo a constante de proporcionalidade a velocidade!
Escrevendo delta x = x - x0, temos
Essa equação dá uma descrição completa do movimento uniforme.
Movimento unidimensional uniformemente variado
Esse movimento é caracterizado pelo fato de que a aceleração é constante. Lembrando que a aceleração é a taxa de variação da velocidade (assim como a velocidade é a taxa de variação da posição), podemos escrever a relação entre a velocidade e a aceleração da mesma forma que escrevemos a relação entre a posição e a velocidade:
Para encontrar x, podemos usar a velocidade média:
Que leva a
Como a velocidade cresce uniformemente, a velocidade média deve ser a média aritmética entre a velocidade final (ou simplesmente v(t)) e a velocidade inicial
Assim,
E, usando o valor de v(t) encontrado lá em cima, temos:
De onde vem:
Em certos casos, convém encontrar x em função da velocidade instantânea, e não do tempo. Para isso, basta encontrar o valor do tempo em função da velocidade através da equação da velocidade:
E substituir o tempo por esse valor, na equação de x(t):
O que arrumamos para obter uma equação mais singela:
Que é uma equação bastante útil. O conceito de trabalho emerge dela, como pode ser visto no artigo "Trabalho", que está indicado no fim desta página.
Note que o movimento uniforme é um caso especial do movimento uniformemente variado. Basta colocarmos na equação inicial (a=C), C = 0. Assim, a aceleração é 0, e todas as equações se reduzem às do movimento uniforme:
A equação
com a=0, nos dá a identidade, já que v = v_0:
Isso reflete o fato de que saber a velocidade em um dado instante não é o bastante para saber a posição nesse instante. De fato, todas as posições correspondem à mesma velocidade.
Equações cinemáticas
Se tivermos uma expressão matemática para uma das variáveis cinemáticas em função do tempo, as expressões para as outras duas variáveis podem ser calculadas resolvendo as equações cinemáticas.
Nos casos em que é conhecida uma expressão para a velocidade em função da distância percorrida , a derivada da velocidade em ordem ao tempo deve ser calculada usando a regra da cadeia para funções implícitas:
Esta é outra equação cinemática. Resumindo, há quatro equações cinemáticas:
e quatro variáveis: , , e .
Em cada uma das equações cinemáticas aparecem 3 dessas variáveis. Para poder resolver alguma dessas equações diferenciais de primeira ordem usando os métodos analíticos tradicionais, é necessário conhecer uma expressão que relacione as 3 variáveis na equação, para poder eliminar uma das variáveis; uma equação diferencial ordinária tem sempre duas variáveis, uma delas considerada variável independente.
Por exemplo, a equação relaciona as três variáveis , e (o ponto é derivação em ordem a ); para resolver essa equação é necessário conhecer uma expressão para , em função de e , ou para em função de e ou ainda para em função de e .
Movimento ao longo de um eixo
Em alguns casos é mais conveniente trabalhar com a posição em vez da distância percorrida. Para medir a posição ao longo do percurso, escolhem-se uma origem e um sentido positivo no percurso. A posição será indicada por meio de uma coordenada que pode ser positiva, negativa ou nula.
Essa coordenada poderá ser medida ao longo de um eixo retilíneo (eixo dos ) que não coincide com a trajetória do objeto e, nesse caso, indicará a posição da projeção do ponto no eixo dos .
Mas também é possível usar para representar a posição medida ao longo do percurso do objeto e, nesse caso, o eixo poderá ser uma curva em vez de uma reta.
A derivada da coordenada em ordem ao tempo é a componente a componente da velocidade que também poderá qualquer sinal e a derivada de em ordem ao tempo será a componente da aceleração segundo a trajetória, .
O sinal de já não indicará diretamente se o objeto está a andar mais depressa ou a abrandar, pois será necessário ter em conta também o sinal de .
Em função das componentes ao longo do eixo as equações cinemáticas apresentam a mesma forma que as equações cinemáticas:
pode ser também substituído por , ou qualquer outra letra que seja usada para chamar o eixo ao longo do percurso.
A relação das componentes da velocidade e da aceleração com a velocidade e a aceleração segundo a trajetória é:
Equações lineares de movimento
O corpo é considerado em dois instantes no tempo: um ponto "inicial" e o "atual". Freqüentemente, problemas na cinemática lidam com mais de dois instantes, e diversas aplicações das equações são necessárias.
onde
é a velocidade inicial do corpo
Seu estado atual é definido por:
, a distância percorrida desde o instante inicial
, a velocidade atual
, a variação de tempo entre o instante atual e o instante inicial
a é a aceleração constante, ou no caso de corpos se movendo sob a ação da gravidade, g.
Note que cada uma das equações contém quatro das cinco variáveis.
Aceleração da gravidade
Perto da superfície da Terra, todos os objetos que sejam deixados deslocar-se livremente, têm uma aceleração com valor constante, chamada aceleração da gravidade e representada pela letra .
Em diferentes locais o valor de sofre alterações, mas é sempre aproximadamente .
A resistência do ar produz outra aceleração que contraria o movimento, mas quando essa resistência for desprezável, admite-se que o valor da aceleração é constante e igual a .
A aceleração segundo a trajetória produzida pela gravidade poderá ser positiva, negativa ou nula, já que pode fazer aumentar ou diminuir a velocidade do objeto, e poderá ter um valor diferente de se a trajetória não for vertical.
Mas se o eixo dos for definido na vertical e apontando para cima, a componente da aceleração no eixo dos (projeção na vertical do movimento do objeto) terá sempre o valor constante (ou +9.8 se o sentido positivo do eixo for definido para baixo).
Lançamento de projéteis
Escolhendo o eixo dos na direção vertical, com sentido positivo para cima, a forma vetorial da aceleração da gravidade é:
onde é, aproximadamente, .
Se um projétil for lançado com velocidade inicial , a aceleração da gravidade alterará essa velocidade, na direção de , produzindo uma nova velocidade que estará no mesmo plano formado pelos vetores e .
Conclui-se assim que a trajetória do projétil estará sempre no plano vertical formado por e .
A única exceção a essa regra é quando for vertical; nesse caso, e não formam um plano e a trajetória é uma reta vertical.
Ver também
Derivada
Função (matemática)
Movimento parabólico
Movimento retilíneo
Movimento retilíneo uniforme
Paradoxos de Zeno
Ponto material
Referencial
Hewitt, Paul G. (2002). Física Conceitual. Porto Alegre. Editora Bookman. ISBN 85-363-0040-X.
Leighton, Robert B.; Sands, Matthew; Feynman, Richard P. (2005). Feynman Lectures on Physics. Addison Weasley. ISBN 0-8053-9045-6.
Nussenzveig, H. Moysés (2002). Curso de Física Básica, Vol.1 - Mecânica. São Paulo. Edgard Blücher. ISBN 85-212-0298-9.
Mecânica clássica | 30,723 |
606 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Crici%C3%BAma | Criciúma | Criciúma é um município brasileiro situado no estado de Santa Catarina, Região Sul do país, na mesorregião do Sul Catarinense, microrregião de Criciúma. Segundo as estatísticas do IBGE de 2021, conta com habitantes, sendo a principal cidade da Região Metropolitana Carbonífera, que possui cerca de 600 mil habitantes, além de ser a cidade mais populosa do Sul Catarinense, a sétima maior população do estado de Santa Catarina e a 22ª da Região Sul do Brasil. Pelo Sistema Único de Saúde, o SUS, Criciúma abriga mais de 252 mil cadastrados. Está entre os 100 municípios do Brasil com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado como de 0.788 em 2010, sendo o 76º município mais bem avaliado do país e o 14° mais bem avaliado de Santa Catarina naquele ano.
A cidade é polo industrial em diversos setores, entre eles: confecção, embalagens, cerâmico, plástico e descartáveis, metalmecânico, extração do carvão mineral, construção civil e material gráfico.
Com a sede em Criciúma, a Rede Angeloni é a maior rede de supermercados de Santa Catarina e a 14ª maior do país, segundo ranking da ABRAS possui 30 lojas espalhadas por Santa Catarina e Paraná, o maior hipermercado da rede está localizado em Florianópolis. Além de possuir três shopping centers, no setor de serviços - saúde e educação - destaca-se com três hospitais, duas unidades de atendimento 24 horas, a Universidade do Extremo Sul Catarinense, Instituto Federal de Santa Catarina e outras sete faculdades.
Conhecida por ser a capital brasileira do carvão e do revestimento cerâmico, no seu subsolo abriga uma das maiores reservas minerais do país. A Mina de Visitação Octávio Fontana permite uma visão da evolução histórica da riqueza extrativa da cidade. Colonizada por italianos, a cidade recebeu também poloneses, alemães, portugueses e árabes em diversas fases do seu desenvolvimento.
Entre tantas festas populares que acontecem no Sul, uma delas é em Criciúma. Realizada há mais de 23 anos, a Festa das Etnias, que nas primeiras edições recebeu o nome de Quermesse por ser realizada na Praça Nereu Ramos, ao lado da Catedral São José, reúne todas as tradições étnicas da região e tem como principais objetivos promover as manifestações culturais e integrar os colonizadores de Criciúma, repassando assim sua história cultural.
Etimologia
O município recebeu esta denominação por existir muito capim Cresciuma na região onde a cidade está assentada. Criciuma é o nome dado a um grande número de gramíneas dos gêneros Arundinaria e Chusquea, que pode ser encontrado na praça Nereu Ramos (centro da cidade). A Criciuma asymmetrica é aparentada com a Chusquea ramosissima, um bambu de pequeno porte.
História
Origens e povoamento
Domingos de Brito Peixoto, bandeirante paulista, era o fundador da povoação de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, em 1676. A cidade atualmente denominada Laguna era a "guarda de avanço" portuguesa na parte mais meridional do imenso Brasil Colônia. Dentre os demais objetivos, o mais importante era a vigilância dos movimentos hispânicos na Colônia de Sacramento e como que um suporte para povoar o Rio Grande do Sul, também sob disputa da Espanha.
Como o movimento de Laguna em direção ao Sul se intensificava, há provas de que, já nos primeiros tempos do século XVIII, o território criciumense tenha sido atravessado, seguidas vezes, pela civilização humana. Mas, por muito tempo, o homem não indígena não se estabeleceu em suas terras.
Criciúma somente foi colonizada em 6 de janeiro de 1880 por imigrantes que vieram do norte da Itália, majoritariamente da Lombardia, mas também de Trentino e Vêneto. A despeito das dificuldades iniciais, a colônia progrediu rapidamente.
Em 1890, chegam na região imigrantes alemães e polacos (poloneses), que junto aos italianos, e também aos descendentes de portugueses oriundos da região de Laguna, contribuem de forma decisiva no desenvolvimento do município.
Expansão econômica, formação administrativa e história recente
Em 1892, eleva-se à categoria de distrito de Araranguá. Em 1914, em coincidência com a Primeira Guerra Mundial, e, em parte por causa desta, mais um fator contribuiu para o seu desenvolvimento: a exploração do carvão de pedra, de tamanha importância na atualidade, fato que deu ao município o apelido de Capital Brasileira do Carvão.
Também as obras de implantação da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina, nos últimos anos do século XIX, contribuíram grandemente para o seu progresso. Criou-se o município por meio da Lei nº 1516, de 4 de novembro de 1925, com território que se desmembrou de Araranguá, sendo instalado em 1 de janeiro do ano seguinte.
A partir de 1947, a indústria cerâmica passa a desenvolver-se no município, assumindo papel de fundamental importância no contexto econômico da região, elevando Criciúma a um dos grandes polos produtores mundiais, sendo a cerâmica criciumense reconhecida pela sua qualidade.
Suas principais atividades econômicas, além da exploração de carvão, são a indústria, a agricultura e a pecuária. Por esse motivo, Criciúma é um dos municípios com maior produto interno bruto, PIB per capita e índice de desenvolvimento humano de Santa Catarina.
Sua área é de 235,6 km², pertencente à Mesorregião do Sul Catarinense. Tem um dos clubes de maior modernização de Santa Catarina: o Criciúma Clube, fundado em 5 de agosto de 1960, e visitado obrigatoriamente por pessoas de outros lugares.
Em 7 de dezembro de 2000, resgatando suas origens, Criciúma tornou-se cidade-irmã de Vittorio Veneto, cidade italiana berço de muitos imigrantes que contribuíram para a fundação do município.
Geografia
Localiza-se a uma latitude 28º40'39" Sul e a uma longitude 49º22'11" Oeste, estando a uma altitude média de 46 metros.
Está circunscrito em uma área de 190,97 km².
Relevo
Tendo seu território inserido na Depressão Carbonífera, cerca de 67% do município tem altitudes entre 25 e 100 m. As áreas mais baixas, pouco abaixo de 10m, estão no sudeste do município, ao longo do córrego Quarta Linha. Já as mais altas, encontram-se no norte e noroeste do município, culminando em um ponto pouco acima de 300m, próximo ao bairro Mina do Toco. Alguns de seus morros conhecidos são: o Morro Cechinel (popularmente conhecido por Morro da TV), o Morro Casagrande (popularmente conhecido por Morro do Céu), Morro da Cruz, Morro Mãe Luzia, Morro Albino e Morro Estevão.
Clima
O clima de Criciúma é classificado como subtropical Cfa, com chuvas regulares o ano todo. Geadas ocorrem em quase todos os invernos, principalmente nas regiões mais afastadas do centro, a frequência varia de ano para ano. A ocorrência de neve é praticamente nula, tendo sido registrada uma única vez no dia 31 de julho de 1955. A temperatura média anual da cidade é de 19,5 °C. No verão, as temperaturas facilmente ultrapassam os 30 °C, e ocasionalmente, chegam aos 40 °C. No inverno, as temperaturas mínimas facilmente caem abaixo dos 5 °C e, na maioria dos anos, abaixo de 0 °C. Em 12 de junho de 2016, segundo a estação meteorológica da Epagri, Criciúma registrou -1 °C. Esse mesmo valor foi alcançado em 30 de Julho de 2021.
Bairros
Criciúma possui cerca de 180 bairros, que estão divididos em cinco regiões:
Região Central: forte na área comercial pois as principais sedes de grandes supermercados se concentram aqui. Assim como lojas, faculdades e as maiores escolas estaduais.
Grande Rio Maina: mais populosa região comercial com algumas fábricas e indústrias.
Grande Próspera: a "região dos shoppings", também forte na área comercial e de services.
Grande Quarta Linha: era há pouco tempo forte na agricultura; porém, a indústria vem crescendo nessa região e atualmente é praticamente um distrito industrial.
Grande Santa Luzia e Pinheirinho: possui diversos supermercados, lojas e habitacionais. Seria onde boa parte da população trabalhadora vive. Nesta região também estão localizadas universidades e grandes escolas profissionalizantes.
Economia
A cidade de Criciúma foi classificada em dezembro de 2002 pela revista Exame/Agência Simonsen Associados como a 42ª melhor cidade do Brasil para se fazer negócios (era a 37ª em 2001 e a 27ª em 1999/2000).
Tal decorre do município ser polo internacional nos setores da indústria de plásticos e descartáveis, indústria química, metal-mecânica, confecção, cerâmica, colorifícios e extração mineral, além de importantes construtoras, transportadoras e as maiores redes supermercadistas de Santa Catarina.
A cerâmica, extrativismo mineral, vestuário, a metal-mecânica e o plástico são os principais segmentos. A cerâmica tem dimensão internacional, competindo com a Itália e a Espanha no mercado mundial, com fabricantes de renome como Cecrisa e Eliane. A indústria de descartáveis plásticos é a mais importante do país, respondendo por cerca de 90% da produção nacional de copos, pratos e bandejas plásticas. O vestuário representa o terceiro polo de jeans do Brasil. A indústria metal-mecânica é a única de envergadura regional, porém pela preocupação que tem demonstrado com os programas de qualidade, tende a obter reconhecimento mais amplo.
O comércio da região é fortemente concentrado em Criciúma, que detém 2.759 estabelecimentos comerciais, ocupando 18% da mão de obra empregada diretamente. Criciúma é um referencial de compras de produtos da região, especialmente do setor vestuarista. Possui 3 Shoppings Centers responsáveis pela diversificação do comércio, onde concentram-se marcas renomadas nacionais e internacionais. O Shopping Della localizado na praça Nereu Ramos é o mais antigo da cidade, e o 2º de Santa Catarina, possui mais de 50 lojas e 2 salas de cinema 3D. O Criciúma Shopping com 14 mil m² de ABL conta com mais de 100 lojas e 2 salas de cinema. O Nações Shopping com 38 mil m² de ABL e aproximadamente 100 mil m² de área construída, é o maior centro de compras da região e o 3º do estado, possui mais de 210 operações, 15 lojas âncoras e megalojas, 6 salas de cinema 3D e Vip.
Transporte
Criciúma não é suprida por uma rodovia federal, senão tangencialmente pela rodovia BR-101 na região sul do município.
Concernente a rodovias estaduais, todavia, é cortado ao centro pelas rodovias SC-443, SC-444, SC-445, SC-446, e quase ao centro pela SC-447. O seu mapa rodoviário, por causa disto, bem lembra um asterisco. Nenhuma das rodovias é duplicada, causando problemas de comunicação em virtude do forte tráfego.
Com a duplicação da BR-101 Sul, atualmente Criciúma ganhou mais um novo acesso, do Centro x BR-101, por uma via expressa dando mais velocidade e agilidade para quem vem de fora da cidade.
Transporte Coletivo Municipal
Tem um sistema integrado de transporte municipal:
- 63 linhas normais, e mais de 40 atendimentos;
- 3 Terminais Integrados de Transporte Coletivo: TPRO (Terminal da Próspera - Zona Norte da Cidade), TPI (Terminal do Pinheirinho- Zona Sul da Cidade, TCE (Terminal Central - No centro do município). Está em projeto um terminal no distrito do Rio Maina (Zona Noroeste da Cidade);
- 5 empresas operadoras: Auto Viação Critur, Expresso Coletivo Forquilhinha e Zelindo Trento & Cia Ltda. - ZTL.
Transporte Coletivo Estadual/Interestadual
O Terminal Rodoviário de Criciúma, funciona desde 1977, na Avenida Centenário.
As empresas que operam atualmente são: Auto Viação Catarinense Ltda., Empresa Santo Anjo da Guarda Ltda., Reunidas S.A. Transportes Coletivos, Real Transporte e Turismo S.A., Empresa União de Transportes Ltda., Pluma Conforto e Turismo S.A., Empresa União Cascavel de Transporte e Turismo Ltda. – Eucatur, Viação Itapemirim, Unesul de Transportes Ltda., Empresa de Ônibus Nossa Senhora da Penha S.A., Expresso Coletivo Forquilhinha, Nevatur Transportes e Turismo, Empresa Auto Viação São José e Expresso Coletivo Içarense.
Transporte Coletivo Intermunicipal Regional
Nas cidades da região de Criciúma não há um sistema de transporte coletivo integrado, mas há mais de 30 Linhas da rodoviária de Criciúma para Bairros dos municípios da região.
Malha ferroviária
O município é cruzado pela Ferrovia Tereza Cristina, que serve para o transporte do carvão das minas para a Termelétrica Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo. A obra foi concluída no sul do estado em 1884, com a extensão de 112 km, por meio de uma concessão obtida pelo Visconde de Barbacena. A ferrovia é uma importante opção logística para a região. Além do carvão mineral, principal produto transportado, são transportados pelos trilhos da FTC contêineres para o Porto de Imbituba. Os investimentos programados para o Porto, nos próximos anos, possibilitará maior diversidade nas cargas transportadas e beneficiará diretamente empresários, que ganharão maior competitividade de seus produtos no mercado, a população e o turismo, com a redução do tráfego de caminhões na BR-101.
Atualmente em fase de captação de recursos há o projeto para a construção de um porto-seco, que aumentaria o poder logístico da ferrovia e a eficiência no transporte de cargas para o Porto de Imbituba. Há também o projeto para a interligação da Ferrovia Tereza Cristina com a malha ferroviária nacional, a tão sonhada Ferrovia Litorânea que ligará Imbituba a Araquari.
Porto seco
Ainda em projeto, será implantado em Criciúma um porto seco, com o objetivo de centralizar o tráfego de veículos pesados para fora do centro da cidade. Denominado "Porto Seco - Cidade dos Transportes" será localizado na divisa com o município de Içara, na Rodovia Primeira Linha, com acesso à Ferrovia Tereza Cristina. Objetiva-se, ainda, a construção de um Terminal Intermodal de Cargas, que fará a documentação de exportação dos produtos com destino ao Porto de Imbituba, utilizando esta estrutura e escoando as mercadorias pela via férrea.
Aeroporto
O aeroporto que supre o município de Criciúma é o Aeroporto Diomício Freitas, localizado no município de Forquilhinha. O aeroporto passou a ser administrado pela Infraero em março de 2006. A empresa firmou convênio com o Governo do Estado de Santa Catarina para prestação de serviços de administração, operação, exploração, manutenção e desenvolvimento da infraestrutura daquele terminal. Até então, o aeroporto estava sob administração do Governo Estadual.
Localizado em área do município de Forquilhinha, nas proximidades das rodovias SC-443 e SC-446 que interligam a cidade de Criciúma com as cidades de Forquilhinha, Meleiro e outras cidades da região sul de Santa Catarina, e com a BR-101, o aeroporto funciona como agente facilitador do escoamento de cargas e de produtos perecíveis e do deslocamento de turistas de negócios, além de atender diversas aeronaves executivas dos empresários da região.
O aeroporto Diomício Freitas operou voos regulares através da AZUL - Linhas Aéreas Brasileiras.
O aeroporto Diomício Freitas também é um polo de voos executivos. Diversos empresários da região Sul de Santa Catarina possuem aeronaves de pequeno porte para facilitar seus deslocamentos para outras cidades.
Evolução populacional
1940 - 27.753
1950 - 50.854
1960 - 61.975
1970 - 81.451
1980 - 110.597
1981 - 104.854
1982 - 109.086
1983 - 113.333
1984 - 117.569
1985 - 121.790
1986 - 125.973
1987 - 130.095
1988 - 134.132
1989 - 138.065
1990 - 141.903
1991 - 146.320
1992 - 148.637
1993 - 153.950
1994 - 156.271
1995 - 158.524
1996 - 159.101
1997 - 162.286
1998 - 164.974
1999 - 167.658
2000 - 170.420
2001 - 173.269
2002 - 175.491
2003 - 177.844
2004 - 182.785
2005 - 185.519
2006 - 188.233
2007 - 185.506
2008 - 187.018
2009 - 188.557
2010 - 192.236
2011 - 193.988
2012 - 195.718
2014 - 204.667
2015 - 207.131
2017 - 211.369
Incêndios ao paço municipal
No dia 27 de maio de 2015, por volta das 3h da madrugada, um incêndio atingiu o paço municipal, destruindo os setores de Divisão de Planejamento Físico e Territorial (DPFT), o setor de Tributos e parte da Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana. Onze dias depois, por volta das 12h30, a prefeitura municipal foi atingida por um novo incêndio de maiores proporções que o anterior, em uma análise preliminar o segundo incêndio atingiu todo o Gabinete do Prefeito, Diretoria Executiva de Comunicação, Ouvidoria do Município, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Diretoria de Informática e a Procuradoria do Município.
Principais eventos
Fundação de Criciúma, em 6 de janeiro
Carnaval Cidadão, em fevereiro
Feira do Livro, em agosto no Rio Maina e outubro no Centro
Festa das Etnias, em setembro
Festival de Ballet Infantil de Criciúma, no final de setembro
Festival Internacional de Corais, em novembro
Festival Unesc em Dança, no final de outubro
Festa de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros, em 4 de dezembro
Turismo
Conhecida nacionalmente pelo setor cerâmico, pela indústria da moda e vestuário, pelo setor de plásticos descartáveis e de tintas e vernizes, a cidade de Criciúma, no Sul de Santa Catarina, agora também se evidencia em um novo segmento: o do turismo, principalmente o de negócios. O município também se destaca no turismo de eventos. Recentemente, duas feiras consideradas as maiores de seus segmentos no Sul de Santa Catarina, a CasaPronta e Agroponte, ocorreram na cidade.
Criciúma é conhecida também por ser a cidade dos parques, com o Parque das Nações Cincinato Naspolini, na região da Próspera que tem ainda a praça da Chaminé, Parque dos Imigrantes, no Rio Maina, e Parque Municipal Prefeito Altair Guidi,
no bairro São Luiz. Inaugurado 06 (seis) de janeiro de 2023, na celebração do aniversário de 143 anos de Criciúma, o Parque Astronômico conta com um planetário, quatro telescópios, centro de informações e estruturas como um relógio de sol e uma espera armilar, além de um monumento para o bicentenário de criciúma, em 2080. O parque leva o nome de Albert Einstein junto com sua equação mais famosa, E=mc², muito relevante para a física e astronomia.
O município conta ainda com o Museu Augusto Casagrande, o Memorial Casa do Agente Ferroviário, a Gruta Nossa Senhora de Lourdes, o Parque Ecológico Municipal José Milanese, e a Mina de Visitação Octávio Fontana, que possibilita uma viagem pela história da
extração do carvão mineral. Além de praças, como a Praça do Congresso no centro da cidade, possui muitas galerias e exposições, e outros equipamentos.
Criciúma também cresce ainda mais no turismo cultural com a construção do Mirante Realdo Santos Guglielmi, localizado no Morro Cechinel, de mais de 30 metros e que vai permitir uma visão 360° da cidade, além do Parque Municipal da Santa Luzia.
Cultura
Academia Criciumense de Letras
A Academia Criciumense de Letras foi criada no dia 14 de novembro de 1997, em solenidade realizada no Teatro Elias Angeloni, com a presença de vinte e cinco acadêmicos. Localiza-se no Centro Cultural Jorge Zanatta. Hoje, consolidada na cultura regional, é responsável pela organização do maior concurso literário de Santa Catarina: o Concurso Literário da Academia Criciumense de Letras.
Desde 1998 a academia publica anualmente sua revista acadêmica, contendo as obras vencedoras de seu concurso literário, além de trabalhos escritos pelos próprios acadêmicos.
Teatro Municipal Elias Angeloni
O Teatro Municipal Elias Angeloni é a maior sala de espetáculos do sul do Estado de Santa Catarina, com capacidade para 728 pessoas. Localiza-se no Parque Centenário, Bairro: São Luiz, no município de Criciúma.
É palco de grandes eventos, como: peças teatrais; espetáculos musicais e de Dança, palestras e congressos nacionais, regionais e locais; formaturas; festivais de danças, stand up comedy nacionais e regionais, festivais de corais nacionais e internacionais, entre eles: o Festival Internacional de Corais de Criciúma, com a presença de coros das diversas regiões do Brasil e do mundo. O Teatro Municipal Elias Angeloni recebe também concertos, lançamentos de CD, DVD e livros e eventos corporativos.
Ao longo de sua história, já se apresentaram diversos artistas no palco do Teatro Municipal Elias Angeloni, em Criciúma. Ocorreram apresentações com os humoristas: Maurício Meirelles, Marco Luque, Paulinho Gogó, Paulinho Mixaria e Marcelo Marrom. Também tiveram peças teatrais, como Os Melhores do Mundo, Baixa Terapia com o ator Antônio Fagundes, além de peças infantis como A Bela e A Fera e Frozen. Ocorreram também diversas palestras com palestrantes renomados como Caco Barcellos, Drauzio Varella e Sônia Bridi. No Teatro Municipal Elias Angeloni acontecem uma diversidade de shows musicais, entre os que já aconteceram citam-se: Tiago Iorc, Ivan Lins, Oswaldo Montenegro, Luiza Possi e o lançamento do DVD de Leandro Borges.
Localizado no Parque Centenário, no Centro Cultural Santos Guglielmi, o Teatro Municipal Elias Angeloni apresenta dois andares de platéia e um hall de entrada. Com um grande palco e é utilizado para finalidades culturais, artísticas e educacionais.
A programação do Teatro Municipal Elias Angeloni está disponível para o público na página do Facebook (Teatro Elias Angeloni), no Instagram (teatroeliasangelonie) e no site da Fundação Cultural de Criciúma.
Centro Cultural Jorge Zanatta
Foi construído em 1945, a fim de abrigar o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Durante a ditadura militar serviu como um pequeno presídio para as pessoas que eram acusadas de comunistas no município. Anos depois tornou-se sede do Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Hoje, sob a administração da Fundação Cultural de Criciúma, o prédio abriga a Academia Criciumense de Letras, pinacoteca, galeria de arte, além de oficinas culturais que são oferecidas à população, como aulas de teatro, piano, violão, entre outros.
Apesar de não ter grandes belezas naturais, Criciúma possui um acervo de atrações turísticas que exploram os valores histórico-culturais do município.
Um exemplo é o Museu de Colonização Augusto Casagrande, inaugurado em 1980, em comemoração ao centenário de Criciúma. Funciona num antigo sobrado tipicamente italiano, no centro da cidade. Seu acervo compõe-se de fotografias, documentos, móveis, utensílios domésticos e ferramentas de trabalho utilizadas pelos imigrantes italianos no século XIX e início do século XX.
Catedral São José
A Catedral São José é outro ponto turístico, localizada na Praça Nereu Ramos, coração do município. Sua construção foi iniciada em 1907 e sua inauguraçãocorreu dez anos depois, em 1917. Sua arquitetura seque o estilo romano gótico, com traços simples e
funcionais. A nave da igreja é dividida por um conjunto uniforme de colunas. Atualmente, em comemoração ao seu centenário, a catedral está sendo ampliada e revitalizada.
As igrejas de Nossa Senhora da Salete e de São Paulo Apóstolo, com suas arquiteturas arrojadas e imponentes, também são importantes atrações do município.
Criciúma é a único município do país a ter uma mina aberta à visitação pública. A Mina Modelo Caetano Sônego é uma antiga mina de carvão situada a poucos minutos do centro do município.
Já para quem procura estar mais próximo à natureza, uma boa opção é o Centro de Educação Ambiental, localizado no Morro do Céu. Lá o visitante pode aprender sobre educação ambiental e aventurar-se por longas trilhas, em meio a um trecho de Mata Atlântica preservada.
Feira do Livro
Coordenado pela Fundação Cultural de Criciúma (FCC) e com apoio da Academia Criciumense de Letras e do Centro de Atendimento à Literatura e Língua Portuguesa (CALP), a Feira do Livro de Criciúma acontece no mês de agosto na Praça Nereu Ramos, centro da cidade, onde são expostas, divulgadas e comercializadas as mais diversas obras literárias, tendo a duração de uma semana.
Durante o evento temos diversos palestrantes, sessão de autógrafos dos escritores locais, shows de corais, exposição de pinturas e apresentações teatrais.
A criação da logomarca da Feira do Livro se deu no seu segundo evento, em 6 de agosto de 2007, através de um concurso público promovido pela FCC, em que teve como vencedor o projeto apresentado pelo designer gráfico Drayton Ignacio da Silva Junior. Trata-se da representação figurativa em que duas mãos seguram um livro aberto, com a inscrição do símbolo da cidade em sua parte frontal.
Museu de Zoologia "Profª Morgana Cirimbelli Gaidzinski" da Unesc
O Museu de Zoologia “Profª Morgana Cirimbelli Gaidzinski” da Universidade do Extremo Sul Catarinense- Unesc, foi fundado no dia 26 de setembro de 2002, em parceria com o 10º Pelotão da Guarnição Especial de Polícia Militar Ambiental e com o apoio da Fundação
de Ciência e Tecnologia- Funcitec. O acervo do museu foi se constituindo a partir do ano de 1993, no curso de Ciências, por meio da disciplina de Zoologia que era ministrada pela professora Morgana Cirimbelli Gaidzinski, idealizadora e fundadora do Museu de Zoologia. Foi criado com o objetivo de ser um centro de referência na pesquisa científica, na educação ambiental e no turismo cultural, e constitui-se em um espaço interdisciplinar que tem o compromisso de desenvolver ações de extensão junto à comunidade.
Festa das Etnias
A Festa das Etnias é um evento da cidade de Criciúma, no estado de Santa Catarina.
Esse evento mantém as tradições étnicas e tem como principais objetivos promover as manifestações culturais e integrar os colonizadores de Criciúma e região, repassando assim sua história e tradições. A festa ajuda a movimentar o turismo no sul catarinense e tem expectativa de 100 mil visitantes.
Futebol
O futebol criciumense é representando pelo Criciúma Esporte Clube. O Criciúma, apelidado de Tigre, seu mascote, é o clube que mais contabiliza títulos nacionais no futebol catarinense, com a Copa do Brasil em 1991 de forma invicta (o que lhe garantiu participação na Copa Libertadores da América de 1992, ficando em 5º lugar na mesma), o Campeonato Brasileiro de Futebol - Série B em 2002, o Campeonato Brasileiro de Futebol - Série C em 2006 e agora em 2012 com o vice campeonato da Série B volta a elite do futebol brasileiro. Sendo classificado como 30º melhor clube do Brasil no Ranking da CBF (melhor de Santa Catarina).
Outros clubes da cidade são o Esporte Clube Próspera e o Esporte Clube Metropol.
Educação
Universidades
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
Faculdades
Escola Superior de Criciúma (ESUCRI)
Faculdade SATC
Faculdade de Tecnologia SENAC Criciúma
Polo de Ensino Superior à Distância da Universidade Federal de Santa Catarina (EAD-UFSC)
Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)
Pólo da Uniasselvi - Faculdade Leonardo da Vinci - Prédio da ESUCRI
Ver também
Lista de municípios de Santa Catarina por data de criação
Lista de municípios de Santa Catarina por população
Universidade do Extremo Sul Catarinense
Lista de municípios do Brasil acima de cem mil habitantes
Casa da Cultura Neusa Nunes Vieira
Ligações externas
Turismo
Topônimos de origem tupi | 176,966 |
608 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Curitiba | Curitiba | Curitiba é um município brasileiro, capital do estado do Paraná, localizado a 934 metros de altitude no Primeiro Planalto Paranaense, a mais de 110 quilômetros do Oceano Atlântico, distante a sul de Brasília, capital federal. Com habitantes, é o município mais populoso do Paraná e da região Sul, além de ser o 8.º do país, segundo Censo Demográfico realizado pelo IBGE para 2022. Fundado em 1693, a partir de um pequeno povoado bandeirante, Curitiba tornou-se uma importante parada comercial com a abertura da estrada tropeira entre Sorocaba e Viamão, vindo, em 1853, a ser a capital da recém-emancipada Província do Paraná. Desde então, a cidade, conhecida pelas suas ruas largas, manteve um ritmo de crescimento urbano fortalecido pela chegada de diversos imigrantes europeus ao longo do século XIX, na maioria, alemães, poloneses, ucranianos e italianos, que contribuíram para a atual diversidade cultural.
Curitiba experimentou diversos planos urbanísticos e legislações que visavam controlar seu crescimento, que a levaram a ficar famosa internacionalmente pelas suas inovações urbanísticas e cuidado com o meio ambiente. A maior delas foi no transporte público, cujo sistema inspirou o TransMilenio, implantado em Bogotá, na Colômbia.
Também conta com elevada posição nos indicadores de educação, a menor taxa de analfabetismo e a melhor qualidade no ensino básico entre as capitais. O Índice Mastercard de Mercados Emergentes 2008, criado com a intenção de avaliar e comparar o desempenho das cidades em diferentes funções que interligam os negócios e o comércio no mundo inteiro, posicionou-a como a 49.ª com maior influência global. Curitiba foi classificada pelo Índice Verde de Cidades de 2015, realizado pela Siemens com a Economist Intelligence Unit, como a mais ambientalmente sustentável da América Latina. Também foi considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma das “cidades criativas” do Brasil em 2014, ao lado de Florianópolis.
Em 2009, em pesquisa publicada pela revista Forbes, Curitiba foi citada como a terceira cidade mais sagaz do mundo, que considera esperta a urbe que se preocupa, de forma conjunta, em ser ecologicamente sustentável, com qualidade de vida, boa infraestrutura e dinamismo econômico. Curitiba recebeu a classificação de cidade global gama- por parte do Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC). Entretanto, alguns problemas socioeconômicos persistem, em 2016 a capital paranaense foi classificada no 44.º lugar entre as 50 cidades com as maiores taxas de homicídio do mundo.
Topônimo
A etimologia do topônimo "Curitiba" é complicada e sofre mudanças segundo vários autores. Conforme Antenor Nascentes, é vocábulo de procedência língua tupi “Ku’ri”, que significa “pinheiro” + “tuba”, um sufixo coletivo que tem como significado “pinho, pinhal”. Ex-“Curituba”, na grafia oficial com “o” na primeira sílaba, permanecendo a ortografia “Corituba”, que ocorre como “curé”, significando “pinhão” + “tyba”, que significa “muito” ou “coré” + “tyba”, cujo significado ao todo é “pinheirame”. Os dicionários de Antônio Gonçalves Dias, Orlando Bordoni, Luís Caldas Tibiriçá, Silveira Bueno e Teodoro Sampaio mostram uma versão praticamente igual, com algumas modificações: “curi-tyba” que significa “muitos pinheiros, pinheiral”.
O pesquisador Mário Arnaud Sampaio ensina que a palavra procede da língua guarani pura, “Kuri’yty”, corruptela de “Kuri’yndy” significando “pinheiral”. O presidente do estado do Paraná, Afonso Alves de Camargo estabeleceu oficialmente a atual ortografia, Curitiba, por intermédio de Decreto-Lei, promulgado em 1919, pois, até então o topônimo da cidade era grafado de ambas as formas: “Curityba” e “Corityba”, étimos diferenciados. A denominação dos habitantes naturais do município é curitibanos, topônimo de uma cidade homônima localizada no estado vizinho de Santa Catarina, fundada por moradores de Curitiba.
Curitiba reúne determinados apelidos no decorrer de seu passado, sendo um dos mais famosos o de Cidade Sorriso. Conforme o que se diz, essa alcunha surgiu num documento ufanista como tentativa de reversão da famosa antipatia sofrida pelo povo da cidade. Outro título dado ao município foi o de Capital Ecológica, em função das políticas dirigidas para a sustentabilidade.
História
Período colonial
Os primórdios do atual município de Curitiba remontam ao século XVII, quando o caminho de Queretiba foi percorrido pelos bandeirantes, que chegavam à procura de ouro fora da Serra do Mar, por intermédio de Paranaguá. Eleodoro Ébanos Pereira liderou a primeira expedição oficial que coordenou os serviços de extração de minas de ouro nos Distritos do Sul (inclusive Curitiba). Os primeiros nomes que surgem na história de Curitiba, após Ébano Pereira, são os de Baltasar Carrasco dos Reis e Mateus Martins Leme. Entretanto, conforme o historiador Romário Martins:
Após superar as peripécias de cruzar a serra, os portugueses se estabeleciam na povoação chamada Vilinha, em conformidade com registros deixados por historiadores. Em 1668, um pelourinho foi erguido por Gabriel de Lara, chamado o povoador, no povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Um grupo integrado por dezessete povoadores assistiu ao erguimento do pelourinho. Este foi o marco inicial da história de Curitiba. No entanto, Gabriel de Lara não é descrito como o criador da vila da Curitiba, sendo que o episódio é atribuído a Eleodoro Ébano Pereira por determinados historiógrafos.
Posteriormente, sem achar o ouro que queriam, andaram para frente e se fixaram onde atualmente se encontram a praça Tiradentes e o Centro Histórico de Curitiba. A Vilinha, povoação à beira dos rios Atuba e Bacacheri, e nas comunidades indígenas se localizavam as origens dos atuais bairros do Bairro Alto e do Atuba. Existe uma lenda sobre a fundação de Curitiba, narrada por vários historiadores, com a qual estão relacionados os grupos de primeiros colonizadores, constituídos pelas famílias Seixas, Soares e Andrade.
Esses bandeirantes, em tempo desconhecido, teriam chamado o cacique dos Campos de Tindiquera, às barrancas do rio Iguaçu, para indicar o lugar mais adequado para a implantação decisiva do povoado. O cacique, na frente de um grupo de habitantes, levou na mão uma enorme vara. Depois de suas longas andanças, palmilhando enorme superfície de campos, fixou essa vara no solo e falou: “Aqui”, e neste local construiu-se uma pequena capela, erguida de pau-a-pique, no mesmo lugar onde hoje se situa a igreja matriz de Curitiba, sendo sucedida por outra, de pedra e barro, a qual atendeu a comunidade entre 1714 e 1866, quando foi construída a Catedral Metropolitana.
Em 29 de março de 1693, o povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba foi promovida à condição de Vila. Naquela época, em harmonia com Romário Martins, além de Mateus Martins Leme e Carrasco dos Reis, moradores do Barigui, na época povoavam a vila:
Não há exatamente uma data precisa da criação do núcleo Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, depois Curitiba. No entanto, se considerarmos os relatos do Dr. Rafael Pires Pardinho, ouvidor-geral da vila, em 1721, é aceito o ano de 1661 como oficial.
Além do extrativismo mineral, apareceram a pecuária nos campos e a agricultura de subsistência (para a subsistência dos próprios agricultores) nas áreas florestais. Curitiba se encontrava no ponto de contato de mineradores com pecuaristas. Apesar de tudo isso, a mineração não se expandiu por largo tempo e os mineradores se dirigiram para Minas Gerais durante o final do século XVII. No século XVIII, a pecuária e o comércio bovino favoreceram o estabelecimento dos povoadores e o progresso da região. A vila se encontrava no caminho do gado, construído em 1730, do Rio Grande do Sul até Minas Gerais, para comercializar bovinos e muares. Com a abertura de uma nova estrada, a qual não atravessava mais seus campos, a vila, durante certa época, permaneceu isolada.
Período imperial
Curitiba foi elevada à categoria de sede de comarca por intermédio de alvará Imperial, de 19 de dezembro de 1812, e promovida à condição de cidade pela lei da província de São Paulo n.º 5 de 5 de fevereiro de 1842. Pela Lei Imperial n.º 704, de 29 de agosto de 1853, Curitiba foi designada capital da recém-estabelecida província do Paraná, desmembrada da de São Paulo. Pelo empenho e esforço na emancipação política do Paraná, várias pessoas haviam deixado seu nome nos anais da história. Em 1853, a Câmara Municipal, que operava perto do pátio da matriz, possuindo a seguinte formação: Benedito Enéas de Paula, Fidélis da Silva Carrão, Manuel José da Silva Bittencourt, Floriano Berlintes de Castro, Francisco de Paula Guimarães, Inácio José de Morais, Francisco Borges de Macedo, Antônio Ricardo Lustosa de Andrade, tendo na presidência o coronel Manuel Antonio Ferreira.
Em 1820, já denominada na época de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, dispunha de 220 casas. No entanto, o começo da extração e da comercialização da erva-mate e a madeira impulsionou novamente seu crescimento. Vinte e dois anos depois já contava com 5 819 habitantes. Em 1854 já era a capital da recém-criada província do Paraná. Em 1820, Curitiba também foi visitada pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que ficou encantado com a cidade, e certas partes de seus apontamentos afirmam o seguinte:
Esta descrição reflete o caráter do povo curitibano de 1820, que originou a Curitiba do fim do século XX. Da Curitiba do Ligeirinho, da Ópera de Arame, da Rua das Flores e da Rua 24 Horas.
Na época, a colonização, por intermédio da imigração europeia, especialmente italiana e polonesa, foi estimulada pelo governo da província. Foram criados, desde 1867, 35 núcleos coloniais nas terras de floresta ombrófila mista na periferia dos campos de Curitiba. A cidade experimentou um novo surto progressista. Expandiu-se a agricultura e começou a industrialização.
Por meio do movimento imigratório, iniciado no Paraná, que então pertencia à Província de São Paulo, em 1829, Curitiba acolheu, por vários lados, multidões de famílias, em muitas épocas e das mais diversas origens como alemães, italianos, poloneses e ucranianos, sendo também objeto de migração voluntária de povos como paulistas, gaúchos, catarinenses, mineiros e fluminenses. Tudo isso exerceu influência na composição social, infraestrutural, artística e econômica, ao longo do tempo.
Em 2 de fevereiro de 1885 inaugurou-se a Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá, impulsionando o desenvolvimento de Curitiba, que passava, a partir desta data, a ter uma ligação rápida e moderna com o Porto de Paranaguá. Assim a ferrovia podia escoar mais eficientemente seu principal produto de exportação, a erva-mate.
Período republicano
Em 1894, devido à Revolução Federalista, as tropas revolucionárias, lideradas por Gumercindo Saraiva, invadiram e dominaram Curitiba. Naquela época, toda a cúpula governamental, chefiada pelo governador em exercício, Dr. Vicente Machado, deixou a capital paranaense, encontrando refúgio em Castro durante três meses, de 18 de janeiro a 18 de abril, somente voltando para Curitiba, depois do término do cerco.
Um dos acontecimentos mais importantes da história de Curitiba ocorreu em 19 de dezembro de 1912, com a criação da Universidade Federal do Paraná, planejada e concretizada por Victor Ferreira do Amaral, Nilo Cairo e Pamphilo de Assumpção. Depois de implantada a república no Brasil, o primeiro prefeito de Curitiba foi Cândido Ferreira de Abreu (maio de 1893 a dezembro de 1894). Em 1911, o município era constituído somente pelo distrito sede; já em 1929 o território municipal se subdividia em seis distritos de paz. Eram eles: Campo Magro, Nova Polônia, Portão, São Casimiro do Taboão, Santa Felicidade e o distrito da Sede. Segundo a Divisão Territorial de 1936, a comarca de Curitiba abrangia três termos: o da sede (Piraquara, Rio Branco e Tamandaré), também o de Araucária e ainda o de Colombo, (Bocaiuva e Campina Grande). A Lei Estadual n.º 1452, de 14 de dezembro de 1953, determinou a nova divisão judiciária do município, com a criação de dez Distritos Judiciários, que eram: Sede, Portão, Taboão, Barreirinha, Boqueirão, Cajuru, Campo Comprido, Santa Felicidade, Umbará e Tatuquara.
No século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, a cidade progrediu, maiormente, em função do crescimento da cafeicultura, no norte do Paraná, e do estímulo da agricultura, mormente no oeste do estado.
Curitiba foi capital da república entre os dias 24 e 27 de março de 1969, na época em que vigorava a ditadura militar, por questão propagandística, visto que a cidade era uma das capitais brasileiras que não fizeram oposição ao regime. Desde 1972, Curitiba está elaborando um plano de humanização, começado pelo então prefeito Jaime Lerner. Dessa forma, não somente estão mudando as características de seu centro, como também o comportamento da população em aperfeiçoar sua qualidade de vida. Em 1989, Lerner, que se elegeu em 1988, foi novamente empossado na prefeitura de Curitiba.
Geografia
Curitiba está localizada na região Sul do Brasil, no leste do estado do Paraná, sobre a unidade geomorfológica denominada Primeiro Planalto Paranaense, especificamente na sua parte menos ondulada. É a capital da sexta unidade federativa mais populosa do Brasil. A área do município, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, é de , sendo que constituem a zona urbana. Situa-se a 25° 25′ 40″ de latitude sul e 49° 16′ 23″ de longitude oeste e está a uma distância de a sul da capital federal. Tem uma extensão norte-sul de 35 km e leste-oeste de 20 km e seus municípios limítrofes são: Almirante Tamandaré e Colombo (N); Pinhais e São José dos Pinhais (L); Fazenda Rio Grande (S); e Campo Magro, Campo Largo e Araucária (O).
De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária e Imediata de Curitiba. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Curitiba, que por sua vez estava incluída na mesorregião Metropolitana de Curitiba.
Relevo
O município tem uma altitude média do município é de acima do nível do mar, sendo que a altitude máxima se encontra ao norte, equivalendo à cota de , no bairro Lamenha Pequena, concedendo-lhe uma aparência topográfica razoavelmente montanhosa constituída por declividades mais destacadas, por estarem próximas à Serra de Açungui. O ponto mais baixo se localiza no bairro do Caximba, às margens do rio Iguaçu, com altitude de . Uma abundância de terrenos em forma de escada são organizados em compartimentos altimétricos, classificando Curitiba com uma topografia ondulada, de morros levemente redondos, concedendo-lhe uma aparência relativamente média.
Em torno da cidade estão os sedimentos da formação Guabirotuba, os quais surgiram no Quaternário Antigo ou Pleistoceno, os quais ocuparam uma desativada e enorme depressão, constituindo a bacia de Curitiba. O município está situado no Primeiro Planalto Paranaense, que Reinhard Maack descreveu (1981) como “uma zona de eversão da Serra do Mar até a Escarpa Devoniana”, apresentando um plano de erosão recente sobre um desativado tronco de dobras. Separando Curitiba do litoral paranaense está presente a Serra do Mar, que pode ser vista da cidade em dias claros.
Hidrografia
Curitiba está na bacia hidrográfica do Iguaçu, localizado à margem direita e a leste da maior do rio Paraná. Os mais importantes rios que formam seis bacias hidrográficas do território municipal são, além do Iguaçu, Atuba, Belém, Barigui, Passaúna, e o ribeirão dos Padilhas, todas com aspectos similares de drenagem.
A mais extensa bacia hidrográfica de Curitiba é a do rio Barigui, que atravessa o município de norte a sul e cobre da área da municipalidade. Ao sul, tem-se a menos extensa bacia hidrográfica de Curitiba, a do ribeirão dos Padilhas, com . Como o relevo de Curitiba é predominantemente mais alto ao norte do município, seis bacias hidrográficas, em sua totalidade, descem em direção ao sul da municipalidade, indo desaguar no rio Iguaçu, o mais importante de Curitiba, que, por seu turno, deságua no Paraná, no extremo oeste do estado.
Devido a algumas peculiaridades, as chuvas habitualmente causam enchentes significativas nos rios de Curitiba, provocando a regularidade das cheias, o que preocupa constantemente a população e a administração pública. Hoje em dia, depois de muitos estudos a respeito dos cursos de água locais, os rios, em sua quase totalidade, estão sendo canalizados.
Clima
Curitiba tem um clima subtropical de altitude com precipitação uniforme (Cfb de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger), com temperaturas médias abaixo de nos meses de inverno, caindo por vezes para perto de , em dias mais frios. Muitas vezes, frentes frias vindas da Antártida e da Argentina trazem tempestades tropicais no verão e ventos frios no inverno durante todo o ano. embora, em algumas ocasiões, o clima local seja influenciado pelas massas de ar seco que dominam o centro-sul do Brasil, trazendo tempo frio e sem chuva em especial no inverno, quando a ocorrência de geadas é comum.
A ocorrência de neve e outras modalidades de precipitações hibernais, como a chuva congelada, é registrada em média uma vez a cada dez anos, podendo ocorrer mais de uma década sem registro e mais de um em uma mesma década, sendo, portanto, fenômenos de frequência irregular. A nevada de 17 de julho de 1975, que durou mais de três horas, foi uma das mais intensas e deixou a cidade coberta de neve. Outros relatos de ocorrência do fenômeno em maior ou menor intensidade ocorreram nos anos de 1889, 1892, 1912, 1928 (dois dias), 1943, 1955, 1957, 1963, 1975, 1979, 1981 (neve granular em pontos isolados, relatados na mídia impressa local), 2013 e 2020. Há também registros não oficiais de ocorrência do fenômeno, em fraca intensidade, nos anos de 1905, 1933, 1955, 1965, 1983 e em 1988.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), desde 1931 a menor temperatura registrada em Curitiba foi de em 2 de setembro de 1972 e a maior atingiu em 2 de outubro de 2020, superando o recorde de 17 de novembro de 1985, quando a máxima foi de . O maior acumulado de precipitação registrado em 24 horas foi de milímetros (mm) em 22 de fevereiro de 1999, seguido pelos em 21 de junho de 2013. Desde janeiro de 2003, a maior rajada de vento alcançou () em 30 de junho de 2020 e o menor índice de umidade relativa do ar foi de 12% em cinco ocasiões, a mais recente em 14 de agosto de 2018.
Ecologia e meio ambiente
Curitiba tem como vegetação a floresta ombrófila mista, um ecossistema da Mata Atlântica formado por campos e árvores que se entremeiam de capões de florestas com araucária, além de demais formações, como várzeas e matas ciliares. Na vegetação original ainda existem remanescentes da Araucaria angustifolia, as quais sobreviveram à civilização atual. As araucárias estão em bosques particulares e públicos, agora protegidas pela legislação ambiental que impede a sua derrubada. A vegetação da cidade também é caracterizada pela existência de uma enorme quantidade de ipês-roxos e amarelos.
Embora boa parte da vegetação original do município tenha sido dizimada, Curitiba possui um índice de de área verde por habitante (dentre as capitais, é menor somente que a de Goiânia, que possui ), mais de cinco vezes maior que o mínimo de recomendado pela Organização das Nações Unidas. Tais áreas são compostas, fundamentalmente, por parques e bosques municipais, a proteger parte das matas ciliares de rios locais, como o rio Barigui e o Iguaçu. Há também na cidade diversas praças e logradouros públicos, associados a vias públicas habitualmente bem arborizadas. No ano de 2007 a cidade ocupou o terceiro lugar numa lista das “15 Cidades Verdes” do mundo, de acordo com o sítio estadunidense Grist.
Dentre bosques e parques, Curitiba conta com cerca de 30 áreas verdes, cabendo ser ressaltado o Parque Barigui, que foi criado em 1972 como uma grande área verde na região oeste da cidade para proteger a bacia do rio Barigui. Outros locais famosos são o Bosque do Papa, que abriga casas tipicamente polonesas e foi construído para a visita de João Paulo II em 1980; o Jardim Botânico, que é considerado um dos cartões postais da cidade e possui uma estufa com plantas raras no seu interior. Além disso, pode ser citado o Passeio Público, primeiro parque municipal, que foi criado em 1886 e até hoje vem abrigando um pequeno zoológico.
O pinheiro-do-paraná é a árvore típica e símbolo de Curitiba. O nome Kurí'ýtýba vem do tupi e quer dizer “pinheiral”, ou seja, local onde há muitos pinheiros. Embora com o crescimento da cidade muitas árvores tenham sido derrubadas, hoje há determinadas espécies que estão protegidas por lei ambiental que proíbe o corte em qualquer lugar da urbe. Outra espécie de árvore que faz parte do cenário curitibano é o ipê — amarelo e roxo — que está presente em praças e ruas da cidade. No parque linear que está sendo construído ao longo da Linha Verde estão sendo plantadas árvores nativas de Curitiba como o pinheiro-bravo e o dedaleiro.
Demografia
Em 2010, a população do município foi contada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em habitantes, sendo o mais populoso do Paraná e da Região Sul do Brasil e o oitavo do país, apresentando uma densidade populacional de pessoas por quilômetro quadrado. Segundo o censo daquele ano, moradores eram homens e habitantes mulheres e todos viviam na zona urbana, não havendo população rural pois o plano diretor da cidade extinguiu a Zona Rural de Curitiba em 2000. Já segundo estatísticas divulgadas em 2014, a população municipal era de habitantes. Da população total em 2010, habitantes (20,01%) tinham menos de 15 anos, pessoas (72,44%) tinham de 15 a 64 e moradores (7,54%) possuíam mais de 65, sendo que a esperança de vida ao nascer era de 76,30. A taxa de fecundidade total por mulher era de 1,6.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Curitiba é considerado muito alto pelo PNUD, sendo que seu valor é de 0,856 (o décimo maior do Brasil). Considerando-se apenas o índice de educação o valor é de 0,768, o do de longevidade é de 0,855 e o de renda é de 0,850. De 2000 a 2010, a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo reduziu em 65,3% e em 2010, 97,7% da população vivia acima da linha de pobreza, 1,3% encontrava-se nessa situação e 1,0% estava abaixo. O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade social, era de 0,565, sendo que 1,00 é o pior número e 0,00 é o melhor. A participação dos 20% da população mais rica da cidade no rendimento total municipal era de 60,6%, ou seja, 17,1 vezes superior à dos 20% mais pobres, que era de 3,5%.
Região metropolitana
O processo de conurbação atualmente em curso na chamada Grande Curitiba vem criando uma metrópole cujo centro está em Curitiba. A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) foi criada no ano de 1973 e atualmente é constituída por 29 municípios, sendo a nona aglomeração urbana mais populosa do Brasil, com habitantes, ou 1,68% da população brasileira, e a quinta maior em quantidade de cidades englobadas.
Povoamento
O povoamento de Curitiba teve início no século XVII, no momento que aí foram encontradas jazidas de ouro na região. No século XVIII, com o desaparecimento das minas, esta extração foi para a Capitania de Minas Gerais, conduzindo muitos moradores. No entanto, a pecuária e o comércio de bovinos estabeleceram um boa parte de seus habitantes. Até o século XVIII, a população de Curitiba era composta de indígenas, negros, pardos, portugueses e espanhóis. A cidade recebeu imigrantes principalmente, alemães, italianos, poloneses, ucranianos, japoneses e sírio-libaneses, durante os séculos XIX e XX.
No século XIX, começou a imigração europeia na região. Desde 1833, vieram os alemães; em 1872, os italianos; os poloneses em 1871 e os ucranianos em 1895. Em 1872, estimava-se uma população de 12 651 habitantes; em 1876, havia vinte colônias agrícolas constituídas por várias etnias. Já no século XX, chegaram os japoneses e os árabes, que se dedicavam especialmente à agricultura e ao comércio.
Desde então, se expandiu o crescimento demográfico: em 1890, Curitiba dispunha de 24 553 pessoas; em 1900, 49 755; em 1920, 78 986; em 1940, 140 656; em 1950, 180 575. Hoje em dia, a crescente população de Curitiba aumenta por intervenção de migrantes paulistas, catarinenses, gaúchos, mineiros e fluminenses que chegaram à cidade.
Em 1960, moravam em Curitiba 344 560 pessoas, crescendo o número para 483 038 em 1970. Em 1980, Curitiba já abrigava 843 733 pessoas na cidade e 1 025 979 no município. No ano de 1985, viviam 1 285 027 pessoas no município.
Composição étnica
Em 2010, segundo dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística daquele ano, a população curitibana era composta por brancos (78,77%); pardos (16,90%); pretos (2,82%); amarelos (1,36%); indígenas (0,14%); além dos 126 sem declaração (0,01%). No mesmo ano, habitantes eram brasileiros (99,88%), sendo natos (99,82%) e naturalizados nacionais (0,24%), e eram estrangeiros (0,51%). Em relação aos indígenas brasileiros, Curitiba possui uma aldeia urbana indígena Kakané Porã localizada no Campo de Santana. A aldeia é formada por 35 famílias com 139 pessoas de três diferentes etnias: guaranis, xetás e caingangues.
Considerando-se a região de nascimento, eram nascidos no Sul (88,33%), no Sudeste (7,42%), no Nordeste (1,65%), no Centro-Oeste (0,78%) e no Norte (0,39%). habitantes eram naturais do estado do Paraná (81,49%) e, desse total, eram nascidos em Curitiba (56,92%). Entre os naturais de outras unidades da federação, São Paulo era o estado com maior presença, com pessoas (5,07%), seguido por Santa Catarina, com residentes (4,51%), e pelo Rio Grande do Sul, com moradores no município (2,33%).
Imigração
No século XIX, o afluxo de imigrantes da Europa aumentou. Em 1828, os primeiros imigrantes alemães situaram-se no Paraná. No entanto, um grande número de imigrantes provenientes da Alemanha, apenas para Curitiba, chegou durante a década de 1870, vindo a maioria deles de Santa Catarina ou alemães do Volga da Rússia.
Os imigrantes chegaram da Polônia em 1871, fixando-se em colônias rurais próximas a Curitiba. Eles influenciaram largamente a agricultura da região. Curitiba tem a segunda maior diáspora polonesa no mundo, perdendo apenas para Chicago. O Memorial da Imigração Polonesa foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980, após a visita do Papa João Paulo II na cidade em junho do mesmo ano. Sua área é de 46 mil metros quadrados, onde havia uma fábrica de velas.
Italianos imigrantes começaram a chegar no Brasil em 1875 e em Curitiba em 1878. Eles vieram na maior parte das regiões de Vêneto e Trento, no norte da Itália, e se estabeleceram principalmente no bairro de Santa Felicidade, ainda hoje o centro da grande comunidade italiana de Curitiba.
Vários imigrantes ucranianos fixaram-se em Curitiba, principalmente entre 1895 e 1897, quando cerca de 20 mil pessoas chegaram. Eles eram camponeses da Galícia, que emigraram para o Brasil para se tornarem agricultores. Existem hoje cerca de 300 mil brasileiros de origem ucraniana que vivem no Paraná. O Estado do Paraná tem a maior comunidade ucraniana e eslava do país.
Curitiba tem uma comunidade judaica bem estabelecida, originalmente desde 1870. Grande parte da congregação judaica inicial foi assimilada. Em 1937, com a conquista do poder pelos nazistas na Alemanha, vários acadêmicos judeus alemães notáveis foram admitidos no Brasil, alguns deles situando-se em Curitiba.
O físico César Lattes e os ex-prefeitos Jaime Lerner e Saul Raiz possuem origem judaica. Um monumento em memória do Holocausto foi construído na cidade. Existe também um centro comunitário, uma casa Habad (Beit Chabad), em Curitiba, bem como pelo menos duas sinagogas e dois cemitérios judaicos. Imigrantes japoneses, por seu turno, começaram a chegar na região em 1915. Atualmente, cerca de 40 mil japoneses-brasileiros vivem na cidade.
Religião
Tal qual a variedade cultural verificável em Curitiba, são diversas as manifestações religiosas presentes na cidade. Embora tenha se desenvolvido sobre uma matriz social eminentemente católica, tanto devido à colonização quanto à imigração — e ainda hoje a maioria dos curitibanos se declara adepto do catolicismo romano —, é possível encontrar atualmente na cidade dezenas de denominações protestantes diferentes. Além disso, podemos citar a prática do budismo, do islamismo, espiritismo, entre outras. Também são consideráveis as comunidades de judeus, mórmons e das religiões afro-brasileiras. De acordo com dados do censo de 2010 realizado pelo IBGE, a população curitibana está composta por: católicos (62,12%), protestantes (24,24%), pessoas sem religião (6,76%), espíritas (2,77%), muçulmanos (0,07), budistas (0,30%) e judeus (0,18%) e 2,34% estão divididas entre outras religiões.
Igreja Católica Apostólica Romana
Segundo divisão feita pela Igreja Católica, o município está situado na Província Eclesiástica de Curitiba, sendo sede desta. Também representa a Arquidiocese de Curitiba, criada como diocese em 27 de abril de 1892 e elevada à condição atual em 10 de maio de 1926, possuindo cinco dioceses sufragâneas (Guarapuava, Paranaguá, Ponta Grossa, São José dos Pinhais e União da Vitória). A Região Pastoral Curitiba, a qual compreende todo o território curitibano, é composta por outros onze municípios e 136 paróquias.
A Catedral Metropolitana de Curitiba (também chamada de Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Luz em homenagem à padroeira de Curitiba), localizada na Praça Tiradentes, centro da cidade, representa a sé arquiepiscopal da Arquidiocese de Curitiba e é considerado um dos principais templos religiosos da urbe. Começou a ser construída em 1876 e só foi fundada em 1893, mas não foi reconhecida como patrimônio histórico pelo Iphan porque em 1947 teve sua estrutura arquitetônica original modificada.
Na Igreja oriental, destaca-se a presença da Arquieparquia de São João Batista dos Ucranianos, com a liturgia em rito bizantino, cuja catedral é a Arquicatedral de São João Batista, no bairro da Água Verde.
Outras denominações cristãs
A cidade possui vários credos protestantes ou reformados, como a Igreja Luterana, a Presbiteriana, a Metodista, a Episcopal Anglicana e as batistas. Além dos mais diversos credos evangélicos, como a Cristã de Nova Vida, a Maranata, as Assembleias de Deus, a Adventista do Sétimo Dia, a Pentecostal Deus é Amor, a Universal do Reino de Deus, a Congregação Cristã no Brasil, entre outras. Conforme citado acima, de acordo com o IBGE, 24,24% da população eram protestantes em 2010. Desse total, 14,31% eram das de origem pentecostal; 4,54% eram das de missão; 5,39% eram das sem vínculo institucional; e 2,87% pertenciam a outras religiões do mesmo grupo.
Existem também cristãos de várias outras denominações, tais como as Testemunhas de Jeová (que representam 0,44% dos habitantes) e os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (0,72%), também conhecida como Igreja Mórmon. O Templo de Curitiba, aberto em junho de 2008, é um dos principais templos mórmons do país, atendendo a mais de 42 mil membros que vivem nos estados brasileiros do Paraná, Santa Catarina e certas regiões do estado de São Paulo.
Governo e política
O Centro Cívico de Curitiba, o primeiro deste tipo no Brasil, além de abrigar a sede da Prefeitura Municipal de Curitiba, no Palácio 29 de Março, abriga também os principais prédios governamentais do Estado do Paraná, como o Palácio Iguaçu, sede do Poder Executivo Estadual, a Assembleia Legislativa do Paraná, sede do Poder Legislativo Estadual, o Tribunal de Justiça do Paraná, sede do Poder Judiciário Estadual, o Palácio das Araucárias, sede das Secretarias Estaduais de Administração, Planejamento, Justiça e Casa Civil, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná e o Ministério Público do Estado do Paraná.
A administração municipal dá-se pelo poder executivo e pelo legislativo. Antes de 1930, os municípios eram dirigidos pelos presidentes das câmaras municipais, também chamados de agentes executivos ou intendentes. Somente após a Revolução de 1930 é que foram separados os poderes municipais em executivo e legislativo. O primeiro intendente que Curitiba teve foi José Borges de Macedo, que, eleito treze anos após a Independência do Brasil e sete anos anteriores à elevação à categoria de cidade, ficou no cargo entre 1835 e 1838, e o primeiro prefeito foi Cândido Ferreira de Abreu.
O poder legislativo é constituído pela câmara municipal, composta por 38 vereadores eleitos para mandatos de quatro anos. Curitiba é sede do Tribunal de Justiça do Paraná, sede do poder judiciário estadual. A comarca se localiza no Centro Cívico, num prédio moderno, o Edifício Montepar, mais conhecido como “Fórum Cível da Comarca de Curitiba e Região Metropolitana”, na Avenida Cândido de Abreu.
O município de Curitiba é regido por lei orgânica. Em 2014, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, Curitiba se dividia em dez zonas eleitorais (1.ª a 4.ª, 145.ª, 174.ª a 178.ª), sendo que contava com eleitores. Desde 1976, Curitiba é sede do Tribunal Regional do Trabalho da 9.ª Região (TRT-15), criado como desmembramento do TRT da 2.ª, sediado na capital paulista, com jurisdição sobre os estados do Paraná e Santa Catarina.
Cidades-irmãs
Cidades-irmãs, uma iniciativa da Assessoria de Relações Internacionais, busca a integração entre a cidade e demais municípios nacionais e estrangeiros. A integração, entre os municípios, é firmada por meio de convênios de cooperação que visam assegurar a manutenção da paz entre os povos, baseada na fraternidade, felicidade, amizade e respeito recíproco entre as nações. Oficialmente, possui as seguintes cidades-irmãs:
Akureyri, Islândia (lei nº 14.260/2013)
Assunção, Paraguai (lei nº 9.794/1999)
Bahía Blanca, Argentina
Coimbra, Coimbra, Portugal (lei nº 5.048/1975)
Columbus, Ohio, EUA,
Córdoba, Argentina
Cracóvia, Pequena Polônia, Polônia (lei nº 8.094/1992)
Durban, KwaZulu-Natal, África do Sul
Guadalajara, Jalisco, México (lei nº 9.795/1999)
Hangzhou, Zhejiang, China (lei nº 9.754/1999)
Himeji, Hyogo, Japão (lei nº 6.484/1984)
Jacksonville, Flórida, EUA (lei nº 13.113/2009)
Lyon, Ródano-Alpes, França
Montevidéu, Montevidéu, Uruguai (lei nº 7.438/1990)
Murmansk, Rússia
Orlando, Flórida, EUA (lei nº 9.793/1999)
Port Elizabeth, Cabo Oriental, África do Sul
Santa Cruz de la Sierra, Santa Cruz, Bolívia (lei nº 7.350/1989)
Suwon, Gyeonggi-do, Coreia do Sul (lei nº 13.155/2009)
Treviso, Treviso, Itália (lei nº 8.366/1993)
Miami-Dade, Flórida, EUA
Símbolos
Os símbolos da cidade de Curitiba constituem a bandeira, o brasão e o hino, adotados pela Lei Municipal nº 2993, de 11 de maio de 1967. O brasão é composto de um escudo português, tendo como timbre uma coroa mural que a identifica com a 1.º grandeza (Capital), das quais somente cinco, aparecem em perspectiva, simbolizada pela cor do metal jalde. Em fundo de goles, uma araucária de argento, colocado no centro desse campo. Como suporte à direita, colmos de trigo ao natural e a esquerda um colmo de pâmpanos, igualmente ao natural, atravessados em ponta sobre os quais se coloca por cima um listel de goles, compreendendo em letra de argento a data de “29 de março de 1693, fundação da Vila de Curitiba”.
A bandeira é oitavada, em sinopla, compondo as oitavas formas geométricas dispostas em trapézio, formada por oito faixas de argento orladas de oito de goles, inclinadas duas a duas na direção horizontal, vertical em banda e em barra, que saem de um retângulo branco no centro, onde se encontra posicionado o brasão. O hino de Curitiba teve sua letra escrita pelo escritor e poeta campo-larguense, Ciro Silva e sua música composta pelo maestro e compositor castrense, Bento Mossurunga.
Subdivisões
O município de Curitiba é dividido em um total de 75 bairros, agrupados em dez regiões administrativas. As regionais são espécies de subprefeituras, cujas sedes são representadas pelas unidades da chamada Rua da Cidadania, e têm o objetivo de descentralizar órgãos públicos e a prestação de serviços sociais, estruturais e de lazer pelo interior da cidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o bairro mais populoso da capital paranaense é a Cidade Industrial (CIC), localizado na região homônima, que reunia habitantes; sendo seguido pelo Sítio Cercado, na Regional do Bairro Novo, com pessoas; e pelo Cajuru, situado na de mesmo nome. Esta última possui residentes. A CIC ainda correspondia à maior extensão territorial, com um total de . Também há uma divisão oficial em nove distritos, cuja última alteração foi feita em 1988.
Economia
O Produto Interno Bruto (PIB) de Curitiba é o quinto de todos os municípios do país. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística relativos a 2013, o PIB municipal era de reais, sendo que mil eram de impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes. O produto interno bruto per capita era de reais.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a cidade possuía, no ano de 2012, 108 474 unidades locais, 103 211 empresas e estabelecimentos comerciais atuantes e trabalhadores, sendo de pessoas ocupadas no total e assalariadas. Salários com outras remunerações somavam reais e a remuneração média mensal de todo município era de 3,9 mínimos. A principal fonte econômica está centrada no setor terciário, com seus diversos segmentos de comércio e prestação de serviços de várias áreas, como na educação e saúde. Em seguida, destaca-se o setor secundário, com complexos industriais de grande porte.
Parcialmente, a grande riqueza econômica de Curitiba se deve à população de mais de três milhões de habitantes, se for considerada a sua região metropolitana; a urbe se destaca por ter a economia mais forte do sul do país. Isso conta o trabalho de exportação das novecentas fábricas instaladas no bairro da Cidade Industrial e das duas importantes indústrias automobilísticas que estão localizadas na Grande Curitiba, Renault e Volkswagen. Ademais, foi eleita várias vezes como “A Melhor Cidade Brasileira Para Negócios”, segundo classificação elaborada pela revista “Exame”, em parceria com a consultoria Simonsen & Associados.
Além disso, a capital paranaense concentra a maior porção da estrutura governamental e de atendimentos públicos do estado e sedia importantes empresas nas atividades de comércio, serviços e financeiro. Com um parque industrial de 43 milhões de metros quadrados, a região metropolitana de Curitiba atraiu grandes empresas como ExxonMobil, Elma Chips, Sadia, Mondelez, Siemens, Johnson Controls e HSBC, bem como famosas companhias locais — O Boticário, Positivo Informática e Vivo, por exemplo. Além de centro comercial e cultural, a cidade possui um importante e diversificado parque industrial, incluindo um dos maiores polos automotivos do país e o principal terminal aeroviário internacional da região Sul, o Aeroporto Afonso Pena.
A agricultura é o setor menos relevante da economia de Curitiba. De todo o produto interno bruto da cidade, mil reais é o valor adicionado da agropecuária. Desde 2000, a população de Curitiba é considerada totalmente urbana, sendo notada, portanto, uma redução na agricultura. Segundo estudo realizado pela Secretaria Municipal de Abastecimento (SMAB) em 2009, havia alguns bairros com atividades agrícolas e pecuárias, e famílias que sobreviviam dessas ocupações. Naquele ano, a área de cultivo da agricultura urbana em Curitiba, levantada pela SMAB, era de ha.
A indústria, atualmente, é o segundo setor mais relevante para a economia do município. reais do produto interno bruto municipal são do valor adicionado da indústria (setor secundário). Curitiba, com seu parque industrial bem variado, é um dos centros manufatureiros mais extensos do Brasil. Os imigrantes europeus, dedicados, especialmente, para fabricar artefatos de couro e de madeira, iniciaram a industrialização no começo do século XIX. Entre os principais produtos merecem destaque os gêneros alimentícios, mobiliário, minerais não-metálicos, madeira, químicos e farmacêuticos, bebidas e artefatos de couros e peles. O maior complexo de indústrias do município é a Cidade Industrial de Curitiba, sendo também o bairro mais territorialmente extenso e mais populoso.
Infraestrutura
No ano de 2010, segundo o IBGE, a cidade tinha 575 899 domicílios entre apartamentos, casas, e cômodos. Desse total, 415 237 eram imóveis próprios, sendo 348 051 já quitados, 67 186 em aquisição e 122 046 alugados; 31 146 foram cedidos, sendo 3 814 por empregador e 27 332 de outra maneira. 7 470 foram ocupados de outra forma. Grande parte do município conta com água tratada, energia elétrica, esgoto, limpeza urbana, telefonia fixa e celular. Naquele ano, 570 866 domicílios eram atendidos pela rede geral de abastecimento de água; 575 384 moradias possuíam coleta de lixo e 575 630 das residências tinham escoadouro sanitário. Até novembro de 2010, o lixo de Curitiba era jogado a poucos metros do leito do Iguaçu, no Aterro do Caximba, dando lugar a dois aterros particulares, um, na Cidade Industrial de Curitiba e outro no município vizinho de Fazenda Rio Grande.
Saúde
O município é a sede de instituições de todos os três níveis de governo: federal, estadual e municipal. Em 2009, possuía 815 estabelecimentos de saúde entre hospitais, pronto-socorros, postos e serviços odontológicos, sendo 152 deles públicos e 663 privados. Neles a cidade possuía leitos para internação, sendo que estão nos centros de saúde públicos e os restantes estão nos privados. Há um total de 35 hospitais gerais, sendo sete públicos, 21 privados e sete filantrópicos, com médicos; cerca de 7,9 para cada mil habitantes.
Em 2013, 95,4% das crianças menores de 1 ano estavam com a carteira de vacinação em dia. Em 2012, foram registrados nascidos vivos, sendo que o índice de mortalidade infantil neste ano foi de 10,9 óbitos de crianças menores de cinco anos a cada mil. No ano de 2010, 1,78% das mulheres de 10 a 17 anos tiveram filhos, sendo a taxa de atividade em meninas entre 10 e 14 anos de 5,83%. Do total de crianças menores de dois anos que foram pesadas pelo Programa Saúde da Família em 2013, 0,5% apresentavam desnutrição. O hospital mais antigo de Curitiba, situado na cidade, é a Santa Casa de Curitiba, que o Imperador do Brasil Dom Pedro II inaugurou em 22 de maio de 1880.
Dentre os principais hospitais de Curitiba destacam-se o Cardiológico Costantini, o de Clínicas da UFPR, o Evangélico de Curitiba, a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, a Maternidade Victor Ferreira do Amaral e o do Idoso Zilda Arns. Além disso, há estabelecimentos de saúde mental como o Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro e o Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Siate são os serviços de assistência médica pelos quais são recebidas juntamente, quase 500 ligações que vêm todos os dias da totalidade das famílias de pacientes atendidos da Região Metropolitana de Curitiba. No entanto, ocasionalmente, as pessoas, perante o pânico, acabam por fazer a ligação para um serviço que não seja o SAMU para buscar socorro imediato.
Educação
De acordo com dados do Portal QEdu, o município obteve uma nota média de 5.3 no IDEB 2021 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para os anos finais do ensino fundamental. A nota é menor do que a média estipulada, que era de 5.7. Já nos anos iniciais, a cidade apresentou a nota média de 6, também abaixo da meta, que é de 6.7. A nota média da cidade para anos finais ficou acima da meta nacional (5.1), assim como a média para os anos iniciais (5.8). Em 2010, 2,43% dos jovens com faixa etária entre seis e quatorze anos não estavam cursando o ensino fundamental. A taxa de conclusão, entre moços de 15 a 17 anos, era de 68,7% e o percentual de alfabetização de jovens e adolescentes entre 15 e 24 anos era de 99,5%. Em 2013, a distorção idade-série entre alunos do ensino fundamental, ou seja, com mais que a recomendada, era de 3,1% para os anos iniciais e 15,1% nos anos finais e, no médio, a defasagem chegava a 19,0%. Em 2010, dentre os habitantes de 18 anos ou mais, 71,58% tinham completado o ensino fundamental, 55,95% o médio e 25,95% o superior, sendo que a população tinha em média 10,95 anos esperados de estudo.
A taxa de analfabetismo indicada pelo censo demográfico do IBGE de 2010 foi de 2,1%, sendo que os maiores índices se encontram nas faixas etárias que vão de 45 a 59 anos (1,5%) e de 60 anos ou mais (5,7%). Entre a população de 15 aos 24 anos, a taxa de analfabetismo é de 0,4%, situando Curitiba entre cinco capitais brasileiras com menor número de analfabetos também nesta faixa etária. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2013, dos 20 melhores resultados por escolas do Paraná, 12 foram de Curitiba, tendo uma das instituições curitibanas (o Colégio Dom Bosco) figurado entre as 100 mais bem sucedidas do país. Contudo — e em consonância aos grandes contrastes verificados na metrópole —, em algumas regiões periféricas e empobrecidas, o aparato educacional público de nível médio e fundamental é ainda deficitário, dada a escassez relativa de escolas ou recursos. Nesses locais, a violência costuma impor certas barreiras ao aproveitamento escolar, constituindo-se em uma das causas preponderantes à evasão ou ao aprendizado carencial.
A educação básica é na maior parte assegurada pela Secretaria Municipal de Educação. O município contava, em 2012, com matrículas nas instituições de educação infantil e ensinos fundamental e médio da cidade, sendo que dentre as 477 escolas que ofereciam ensino fundamental, uma pertencia à rede pública federal, 151 à rede pública estadual, 178 à rede municipal e 147 às redes particulares. Dentre as 208 instituições de ensino médio, quatro pertenciam à rede pública federal, 125 pertenciam à rede estadual e 79 eram escolas privadas. Da população total em 2010, de acordo com dados da amostra do censo demográfico, habitantes frequentavam creches e/ou escolas. Desse total, frequentavam creches, estavam no ensino pré-escolar, na classe de alfabetização, na alfabetização de jovens e adultos, no ensino fundamental, no ensino médio, na educação de jovens e adultos do ensino fundamental, na educação de jovens e adultos do ensino médio, na especialização de nível superior, em cursos superiores de graduação, em mestrado e em doutorado. pessoas não frequentavam unidades escolares, sendo que nunca haviam frequentado e haviam frequentado alguma vez. Curitiba conta também com 30 instituições de ensino superior que oferecem 122 cursos/habilitações.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), primeira universidade federal do Brasil, criada em 1912 tem os seus três campi principais localizados em Curitiba, e tem tradição nos 47 cursos de ciências humanas, biológicas e exatas. Na última avaliação do MEC, a UFPR atingiu 317 pontos, e foi classificada a 4.ª melhor universidade do estado e a 11.ª do sul do Brasil. Segundo o ENADE, 27% dos cursos tiveram a nota máxima de 5 na avaliação, e foi a melhor do estado e 3.ª melhor do sul. A UFPR também opera o Hospital de Clinicas do Paraná, especialista em transplante de órgãos. A Universidade tem o seu maior “campus” no Jardim das Américas, o Centro Politécnico, outro na área central de Curitiba e outro no bairro do Juvevê.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) detém grande tradição em cursos de graduação e pós-graduação na área de tecnologia desde os tempos do CEFET. Com 25 mil estudantes, a instituição foi criada em 1909 e, depois de ser um centro de aprendizagem industrial, tornou-se uma universidade apenas em 2005. No âmbito das faculdades particulares, existem 38 instituições e as maiores são a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a Positivo e o Centro Universitário Curitiba. Além das grandes universidades, tem tradição na cidade as estaduais FAP e a EMBAP. Geralmente, Curitiba tinha, em 2006, 125 mil estudantes universitários.
Segurança pública e criminalidade
Como na maioria dos municípios médios e grandes brasileiros, a criminalidade ainda é um problema em Curitiba. Em 2008, a taxa de homicídios no município foi de 15,9 para cada 100 mil habitantes, ficando em 82° lugar no estado e em 1147.º no país. O índice de suicídios naquele ano para cada 100 mil habitantes foi de 4,6, sendo o 113.° do Paraná e o 1 333.° do Brasil. Já em relação à taxa de óbitos por acidentes de trânsito, o índice foi de 25,6 para cada 100 mil habitantes, ficando no 89.° do estado e no 663° do país.
Para tentar reduzir esses índices, são realizados diversos projetos no combate à criminalidade, como a criação da Coordenadoria de Políticas sobre Drogas, que visa a combater o uso de entorpecentes, prática que, cada vez mais, vem se disseminando principalmente entre os jovens, sendo que é uma das principais causas. Por força da Constituição Federal do Brasil, Curitiba possui também uma Guarda Municipal, responsável pela proteção dos bens, serviços e instalações públicas do município. Em Curitiba é sediado o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Paraná, no bairro Rebouças.
Abastecimento de água
O abastecimento de água é feito pela Companhia de Saneamento do Paraná. Atualmente a demanda média equivale a 10 452 litros de água por segundo. A população de Curitiba e região metropolitana consome cerca de 7,5 mil litros de água tratada por segundo, fornecidos pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Além disso, estima-se que existam na cidade mais de mil poços artesianos (utilizados principalmente por condomínios, empresas e hospitais), que, somados, têm potencial para fornecer uma vazão adicional de mais 1,5 mil litros por segundo.
A produção de água tratada é efetuada nas unidades de tratamento do Iguaçu, Iraí, Passaúna, rio Pequeno e Karst, com capacidade total de produção de 9,1 mil litros por segundo. O sistema integrado atende Curitiba e os municípios de São José dos Pinhais, Piraquara, Pinhais, Araucária e parte dos de Almirante Tamandaré, Campo Largo, Colombo, Campina Grande do Sul, Quatro Barras e Fazenda Rio Grande. A reserva de água tratada do sistema integrado totaliza 325 mil m³, que corresponde a quase 50% da demanda diária, distribuída em 39 unidades, de diversas capacidades, que são utilizadas para compensar a procura nos horários de maior consumo.
Eletricidade e comunicações
O fornecimento de energia elétrica é pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL). As principais centrais elétricas de Curitiba são a Eletrosul, com sede no bairro do Campo de Santana, que abastece toda a região da cidade, e a Copel, que tem suas próprias subestações nos mais importantes bairros da urbe. Há linhões de energia de alta tensão que atravessam a cidade de sul a norte e de oeste a leste, unindo essas subestações para fornecer eletricidade ao setor residencial, ao industrial e ao comercial.
Em dados da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), em agosto de 2011 Curitiba possuía telefones fixos (referentes apenas às concessionárias da Brasil Telecom). O índice por área de discagem direta a distância (DDD) é de 041 e o Código de Endereçamento Postal (CEP) da cidade vai de 80 000–001 a 82 999–999. Há fácil acesso à “internet” em boa parte da cidade. Em Curitiba todas as administrações regionais, além da Praça Espanha, do Largo da Ordem, do Mercado Municipal e do Parque Barigui, são cobertas pela rede wireless (“internet” sem fio), representando cada 11 pontos de Hotspot.
Também há diversos jornais em circulação em Curitiba, como a Gazeta do Povo, impressa apenas uma vez por semana e o restante com acesso pela “internet”. Há ainda a Tribuna do Paraná e outros jornais “online”. Dentre as rádios, destacam-se a CBN Curitiba e a E-Paraná FM. Curitiba possui também diversas emissoras de televisão sediadas da própria cidade, como a Band Paraná, a TV Iguaçu, a CNT Curitiba, a RIC TV Curitiba, a TV Paraná Turismo e a RPC Curitiba. Segundo o Portal BSD, em abril de 2011 havia 34 canais, sendo seis em Very High Frequency (VHF) e 28 em Ultra High Frequency (UHF). Nove deles estão disponíveis em televisão de alta definição (tecnologia HDTV). Em se tratando de transmissão ISDB-Tb, Curitiba foi a primeira cidade capital da Região Sul do Brasil a ter TV digital, com a RPC, afiliada da Rede Globo, em 22 de outubro de 2008.
Transportes
Fundamentalmente, o trânsito de Curitiba está estruturado de forma integrada com o transporte de massas via ônibus, por meio dos chamados trinários, sistemas de canaletas exclusivas de expressos, ladeados por pistas simples para veículos particulares, em sentido contrário e, imediatamente paralelas a estas, vias rápidas com velocidade permitida superior. Com uma frota de veículos (abril de 2014), estima-se que Curitiba tenha alcançado uma taxa de motorização de 1,8 habitante para cada carro, índice maior que o registrado em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Os táxis são padronizados, de cor laranja com xadrez preto nas laterais e alguns detalhes negros nos para-choques. A cidade possui uma frota de 2 300 veículos, categorizados como comum, especial ou para deficientes. O órgão fiscalizador é a URBS, sendo a Gerência de Táxi e Transporte Comercial o responsável pela operacionalidade do sistema.
A principal rodovia que liga Curitiba a outros pontos do país é a BR-116 (conhecida no trecho entre a capital paranaense e São Paulo como “Rodovia Régis Bittencourt”) que, por muitos anos, dividiu a cidade em duas porções (norte e sul). Ela corta os bairros do Pinheirinho, Uberaba, Cristo Rei e Atuba, entre outros, no sentido Porto Alegre-São Paulo. O trajeto urbano desta rodovia foi desviado por uma série de contornos rodoviários, notadamente o Contorno Sul, que atravessa o bairro Umbará. A cidade liga-se ao litoral do Paraná pela BR-277, que atravessa a Serra do Mar até Paranaguá (embora haja, em caráter secundário, a ligação da cidade à costa pela histórica Estrada da Graciosa (PR-410), cujo trajeto se inicia no vizinho município de Quatro Barras). Curitiba é ligada ao interior do estado pela Rodovia do Café, no trecho paranaense da BR-376. Há diversas rodovias secundárias e estaduais que ligam a cidade a outras localidades. São elas: a Rodovia da Uva — PR-417 (Colombo), dos Minérios (Almirante Tamandaré e Vale do Ribeira), do Xisto (São Mateus do Sul e sudeste do estado) e Estrada do Cerne — PR-090 (Campo Magro e norte do Paraná).
O acesso aéreo a Curitiba se dá pelo Aeroporto Internacional Afonso Pena, localizado no contíguo município de São José dos Pinhais. Este é o principal terminal aeroviário internacional da região Sul do Brasil. Entretanto, Curitiba possui ainda o Aeroporto de Bacacheri, localizado no bairro homônimo, que não recebe voos comerciais, apenas aeronaves particulares e de transporte executivo. Nele se encontra o centro de comando do tráfego aéreo brasileiro e o Cindacta II, responsável pelo trânsito de aviões da região Centro-Sul do país.
Rede Integrada de Transporte
O sistema de ônibus é baseado no conceito criado na capital paranaense, na década de 1970, de veículo leve sobre pneus (VLP). O “Sistema Integrado de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana” permite a integração físico-tarifária de 14 municípios da Grande Curitiba. Sua estrutura define a Rede Integrada de Transporte (RIT), que conta com 81 quilômetros de corredores de ônibus, geralmente operados por carros biarticulados, que conectam os terminais integrados nas várias regiões da cidade e transportam cerca de 2 milhões de passageiros diariamente.
Além da interligação por ônibus expressos, os terminais são providos de alimentadores, que compõem a ramificação secundária deste sistema e atendem aos passageiros dos bairros próximos a eles. Adicionalmente, outra categoria de ônibus expressos (os chamados ligeirinhos) provê rápido intercâmbio de passageiros entre um terminal e outro, com trajetos diferentes e poucas paradas intermediárias.
A primeira linha de VLP começou a operar em 1974 e o sistema foi projetado para que não apenas transportasse pessoas, mas conduzisse o crescimento urbano. No entanto, o sucesso da rede e o crescimento populacional aumentaram a demanda, o que fez com que a RIT começasse a apresentar sinais de saturação nos últimos anos.
O sistema de transporte público curitibano inspirou diversas cidades no Brasil e em outros países a adotarem estratégias semelhantes. Nacionalmente, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília começaram a implantar canaletas exclusivas para ônibus. Em 1998, Enrique Peñalosa, o então prefeito de Bogotá, capital da Colômbia, decidiu criar um sistema VLP em sua cidade depois que visitou Curitiba. O TransMilenio, o sistema de ônibus rápidos de Bogotá, conta com veículos que circulam por vias totalmente exclusivas e transporta 1,7 milhão de pessoas todos os dias. Além disso, a RIT curitibana também serviu como inspiração para mais de 80 países ao redor do mundo.
Cultura
A responsável pelo setor cultural de Curitiba é a FCC, que tem como objetivo planejar e executar a política do município por meio da elaboração de programas, projetos e atividades que visem ao desenvolvimento da cultura. Está vinculada ao Gabinete do Prefeito, integra a administração pública indireta do município e possui autonomia administrativa e financeira, assegurada, especialmente, por dotações orçamentárias, patrimônio próprio, aplicação de suas receitas e assinatura de contratos e convênios com outras instituições.
A Fundação Cultural foi criada em 5 de janeiro de 1973 e atua em parceria com diversas outras instituições e entidades culturais, diretamente subordinadas ou não ao órgão público. Exemplos: a Casa Romário Martins, a Cinemateca de Curitiba, o Teatro Universitário de Curitiba, o Circo Chic-Chic, o do Piá, o Solar do Barão, a da Memória, a Gibiteca, o Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, Novelas Curitibanas, o Conservatório de Música Popular Brasileira, o Memorial de Curitiba, Erbo Stezel, o Cleon Jacques, a rede de bibliotecas da FCC (hoje em dia Casas da Leitura) a Hoffmann e o Espaço Cultural Capela Santa Maria.
Curitiba foi escolhida em 2003 para ser a quarta Capital Americana da Cultura junto com a Cidade do Panamá, no Panamá. Foi a segunda cidade brasileira a conseguir o título, sendo a primeira Maceió em 2002, urbe a qual sucedeu.
Literatura e teatro
Curitiba é local de nascença, residência e principal inspiração do contista Dalton Trevisan (1925) e do controverso escritor, poeta e compositor Paulo Leminski (1944–1989), autor da obra experimental em prosa que se chama Catatau. Também curitibanos eram o boêmio, poeta satírico e Imortal da Cadeira n.º 20 da Academia Brasileira de Letras Emílio de Meneses (1866–1918) e o simbolista Tasso da Silveira (1895–1968), filho do também do escritor da mesma corrente literária — e morretense — Silveira Neto.
O Festival de Teatro de Curitiba, um dos mais importantes festivais do gênero no país, ocorre desde 1992, habitualmente composto de atrações internacionais, grandes exibições nacionais, montagens locais e uma mostra alternativa, que atraem um número crescente de espectadores. Esse contingente de ouvintes até 2008 chegou a 1,3 milhão de pessoas em 1890 apresentações. Além disso, recebe circuitos de espetáculos durante o ano todo nas 36 salas de entretenimento curitibanas como o tradicional Teatro Guaíra, uma das em número de espectadores da América do Sul e que possui o corpo de Balé Guaíra, um dos mais importantes do país. Outros teatros importantes da cidade incluem o Teatro Paiol e a Ópera de Arame. Lala Schneider, um dos grandes nomes do Teatro brasileiro surgiu na cidade e hoje tem um em sua homenagem, que se chama por esse nome.
Festivais
Em Curitiba há alguns festivais anuais. Alguns deles são diretamente dedicados às artes, como o Festival de Teatro de Curitiba e a Oficina de Música de Curitiba. A cidade de Curitiba conta também com a Bienal Internacional de Curitiba, que, em 2013, completou 20 anos e recebeu mais de 1 milhão de visitantes. Além disso, a Bienal apoia o circuito do Festival de Cinema da Internacional de Curitiba (Ficbic), que contam com exibições de filmes nacionais, internacionais e uma mostra universitária competitiva. Há também festivais relacionados à imigração, como a Festa da Uva, relacionada à italiana; e quatro Matsuri, que se relacionam à japonesa. Os quatro Matsuri que acontecem em Curitiba são: Imin Matsuri (移民祭り, “Festival de Imigração”), que celebra a chegada dos imigrantes japoneses ao Brasil; Haru Matsuri (春祭り, “Festa de primavera”), que comemora o final do inverno e o início da estação primaveril; Hana Matsuri (花祭り, “Festividade das Flores”), que homenageia o nascimento de Xaquiamuni; e Seto Matsuri (“Espetáculo de Seto”), em memória de Cláudio Seto, idealizador do primeiro Matsuri de Curitiba.
O primeiro Matsuri de Curitiba, um Imin Matsuri, foi realizado em junho de 1991, por sugestão de Cláudio Seto ao então presidente do Nikkei Clube, Rui Hara. O primeiro festival foi uma renovação da festa junina tradicional do clube; devido ao seu sucesso, foi realizado, no mesmo ano, o primeiro Haru Matsuri. Em 1993, como os festivais atingiram proporções que o clube não poderia suportar, o Imin Matsuri foi realizado na Praça do Japão, e o Haru Matsuri no Parque Barigui. Em 2005, foi realizado o primeiro Hana Matsuri, também conhecido como “Natal Budista”, por comemorar o nascimento de Xaquiamuni, o primeiro Buda.
No mês de outubro 2015 ocorreu o evento que se chama Curitiba Celtic Fest, o maior festival dedicado à música celta já realizado no Brasil, contando com bandas locais, apresentação de gaitas de fole, um grupo de danças irlandesas e uma banda de São Paulo. O evento promove a integração de ambas as cenas regionais deste movimento musical. O festival foi o primeiro a se dedicar integralmente à cena e celebrar a cultura da música celta fora das datas dos festejos de São Patrício da Irlanda, comuns na cidade.
Cinema
A história do cinema curitibano é caracterizada pela sua inconstância e por alternar períodos de cadência intensa com outros de completa inatividade. O primeiro filme projetado em Curitiba foi em 1897, pouco após a invenção do cinematógrafo pelos Irmãos Lumière. No entanto, até 1930, a história do cinema da cidade se limitou às iniciativas isoladas de apenas três curitibanos: Annibal Requião (que filmou em Curitiba entre 1907 e 1912), João Baptista Groff e Arthur Rogge.
Na década de 1960, surgiram os primeiros filmes do cineasta Sylvio Back, ligado ao cineclubismo e à crítica cinematográfica e que adquiriria notoriedade em todo o país nas décadas subsequentes (com películas como Lance maior e Aleluia, Gretchen), produzindo até os dias atuais. Já na década de 1970, surgiu a Cinemateca do Museu Guido Viaro, responsável por relativa movimentação do cenário cinematográfico curitibano e pela descoberta de novos talentos locais, notadamente o cineasta Fernando Severo, também na ativa até os dias atuais. Posteriormente, surgiu uma tendência, na cena local, a produção de documentários, normalmente denuncistas ou atrelados a certos posicionamentos ideológicos. Nesse contexto, destacam-se os trabalhos de Frederico Fullgraf (com atividades habitualmente relacionadas com a ecologia) e Sérgio Bianchi.
Música
Na esfera da gestão pública da produção musical de Curitiba, o Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC), criado em 2004, realiza a administração da área de música da Fundação Cultural de Curitiba, sendo responsável pela promoção dos seguintes corpos estáveis: Camerata Antiqua de Curitiba (coro e orquestração), Conservatório de MPB, Orquestra à Base de Sopro, à de Corda, Vocal Brasileirão e Coral Brasileirinho; a Escola de Música e Belas Artes do Paraná e a Sinfônica do Paraná são mantidas pelo governo do estado, e a Filarmônica da UFPR, pela universidade.
A cidade possui também a Orquestra Sinfônica do Paraná que tem um repertório de mais de 900 obras e já interpretou a maioria dos grandes compositores da música erudita, inclusive o Ciclo Beethoven, fato que a coloca em destaque no cenário internacional. A Fundação Cultural de Curitiba também mantém o coral Camerata Antiqua de Curitiba, o Conservatório de MPB de Curitiba e a Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Grandes apresentações musicais internacionais ocorrem na cidade, principalmente através de festivais como o extinto Curitiba Rock Festival e o TIM Festival, que trouxeram Paul McCartney, Iron Maiden e The Killers. Apesar disso, eles têm diminuído depois do fechamento da Pedreira Paulo Leminski em 2008, mais importante local para famosos concertos da cidade. Por isso ela corre o risco de ficar fora da rota das grandes apresentações. Nos últimos anos, Curitiba vem apresentando, embora modestamente, algumas bandas de “rock”, sendo algumas das mais famosas, como a Relespública e o CW7.
Existe também uma cena musical em Curitiba que gira em torno da música celta, com diversas bandas como Thunder Kelt, Gaiteiros de Lume e Mandala Folk. Frequentemente bandas deste estilo se apresentam em locais públicos, eventos e festivais, demonstrando um apreço popular para com este movimento. Curitiba abriga uma série de músicos que tocam instrumentos incomuns e até raros no país como as gaitas de fole, vielas de roda e harpas célticas. Outros grupos curitibanos fazem também música antiga e medieval como Alla Rustica e Trovadores.
Museus, bibliotecas e centros culturais
Curitiba dispõe de uma vasta quantidade de museus, valendo destacar o Museu Paranaense (dedicado às artes plásticas e história), o MON e o Museu Alfredo Andersen (dedicados à pintura), o MIS-PR (cinema e fotografia), o Museu do Expedicionário (dedicado ao passado do Brasil na 2.ª GM), o MuMA (arte moderna), o MAC/PR (arte contemporânea), o MHNCI (biologia e botânica) e o MASAC (arte sacra).
O Centro Cultural Paço da Liberdade fica localizado em um edifício com detalhes neoclássicos e desenhos art nouveau inaugurado em 24 de fevereiro de 1916 para ser a sede da prefeitura da cidade. Em 2007, o SESC fez um projeto de restauração e ocupação do local, coordenado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPuc), com respeito às características originais do prédio. Foi reinaugurado em 29 de março de 2009.
No centro de Curitiba está localizada a Biblioteca Pública do Paraná, maior biblioteca pública do estado e da Região Sul do país. A instituição foi criada em 1857 e reformada em 1953 para as comemorações do centenário do Paraná. A biblioteca serve a população com quase 600 mil livros. Além disso, pela cidade inteira estão espalhados os Faróis do Saber, que servem como pequenas bibliotecas, principalmente nos bairros mais distantes do centro e oferecem cursos e entretenimento para crianças e adolescentes.
Gastronomia
Conhecida por ser uma referência em diversos quesitos, como uma cidade sustentável e com excelente nível de IDH, a capital do Paraná é também um importante centro gastronômico. O cardápio traz surpresas aos visitantes por ser muito variado. Os pratos da culinária local são um reflexo da história do município e as comidas típicas, propriamente ditas, são muito saborosas. Em Curitiba, há três pratos principais: o barreado, o pinhão e a carne de onça.
O barreado é um dos pratos mais conhecidos do estado, presente no cardápio da maioria dos restaurantes curitibanos. Seus ingredientes são carne bovina, toucinho e temperos típicos da culinária do Paraná. É originário da época da colonização portuguesa no litoral do Paraná; o prato era preparado pelos carijós em panelas feitas de barro, fabricadas por eles mesmos. A cidade de Morretes, localizada no litoral do Paraná tem o barreado como especialidade, servido nos restaurantes da região.
Muito utilizada como tempero, a semente da Araucaria angustifolia, encontrada especialmente na Região Sul do Brasil, é usada no preparo das receitas de frango com polenta e do bolinho de pinhão. Além disso, pode ser conservada e também é possível apreciar depois do cozimento na panela de pressão ou do assamento na chapa.
Embora tenha esse nome, a carne de onça não tem nenhuma aproximação com a que provém do músculo do felino. O prato compõe-se de pão preto com cobertura de patinho cru, moído por três vezes (e na hora), com cebola, cebolinha, cheiro verde e azeite de oliva.
Esportes
No futebol, Curitiba abriga três clubes relevantes, sendo eles o Atlético Paranaense (cujo estádio é a Arena da Baixada), o Coritiba (Couto Pereira) e o Paraná (Vila Capanema). A cidade foi uma das sedes nas duas Copas do Mundo realizadas no Brasil, em 1950 e em 2014, quando a Arena da Baixada foi reformada e serviu de palco para o mundial.
No tênis, a cidade é referência nacional por ser etapa dos dois maiores torneios de duplas do Brasil, o Circuito Chef Vergé de Duplas de Tênis e o Circuito Centauro de Duplas de Tênis. Também há torneios de esportes como basquetebol, futebol de salão, handebol e voleibol, dedicados em especial à população jovem.
Curitiba também é referência mundial na área de lutas, especialmente nas Artes Marciais Mistas. Muitos lutadores de alto nível e campeões nasceram ou foram treinados na cidade, como Anderson Silva, Wanderlei Silva, Maurício "Shogun" Rua, Murilo Rua, Evangelista Santos, Cris Cyborg, José Landi-Jons e Rafael Cordeiro (fundador e treinador da Kings MMA, uma das maiores academias nos Estados Unidos), dentre muitos outros. A tradição na luta tem seu início na academia Chute Boxe, uma das primeiras academias de Muay Thai do Brasil; fundada em 1978, tornou-se pioneira no MMA no início na década de 90 após criar um dos primeiros programas na modalidade no país, e formou grandes lutadores que se tornariam campeões do UFC e o extinto PRIDE Fighting Championships. O UFC já realizou eventos na cidade, como o UFC 198, que teve um dos maiores públicos em um evento de MMA no mundo.
No tiro ao alvo, Curitiba teve e tem atletas de destaque nacional e internacional, como Leonel Davi Santos Amaral (1928 - 2015), que iniciou suas atividades em tiro em 1959, tornando-se campeão paranaense em silhuetas olímpicas no mesmo ano.
Feriados
Em Curitiba, há três feriados municipais e oito feriados nacionais, além dos pontos facultativos. Segundo a prefeitura, os feriados municipais são: a Sexta-Feira Santa, que em ocorre no dia ; o Corpus Christi, que neste ano é comemorado em ; e o dia de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 8 de setembro. O aniversário da cidade, em 29 de março, inclui-se como um ponto facultativo, bem como o Carnaval e o dia do servidor público, em 28 de outubro. Há ainda o dia da Emancipação Política do Paraná, feriado estadual celebrado em 19 de dezembro.
Ver também
Naturais de Curitiba
Lista de atrações turísticas de Curitiba
República de Curitiba
Bibliografia
Ligações externas
Prefeitura
Câmara
Outros
Fundações no Brasil em 1693
Capitais do Brasil
Topônimos de origem tupi | 711,786 |
611 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula%20de%20combust%C3%ADvel | Célula de combustível | Célula de combustível é uma célula eletroquímica que converte energia potencial de um combustível em eletricidade através de uma reação eletroquímica de eletrólise reversa. Como qualquer célula eletroquímica, uma célula de combustível consiste em dois elétrodos polarizados, o ânodo () e o cátodo (), e um eletrólito. Dois componentes são essenciais: o hidrogénio, como combustível, e o oxigénio como oxidante.
Em princípio, as células de combustível não são poluentes, visto que tem água com o produto da reação.
Funcionamento
Em termos gerais, a célula de combustível funciona como uma gerador de corrente elétrica. A corrente gerada faz funcionar os mais diversos dispositivos (lâmpadas, motores, eletrodomésticos, como exemplos) e depois retorna ao gerador, completando o que se chama de circuito elétrico. O seu princípio de funcionamento (eletrólise reversa) consiste em utilizar a energia gerada pela reação de hidrogénio com oxigénio, tendo água como produto. O hidrogénio é alimentado no ânodo onde é decomposto quimicamente por um catalisador em protões, com carga positiva, e eletrões com carga negativa. Os eletrões são injetados na corrente elétrica (a parte útil do sistema), e os protões migram através do eletrólito até ao cátodo. Aí, os protões combinam-se cataliticamente com o oxigénio vindo do ar e os eletrões retornados pela corrente elétrica.
Tipos
Existem vários tipos de células de combustíveis, geralmente classificados pela temperatura de operação.
Temperaturas abaixo de 250 ºC:
Alcalinas (A)
Ácido fosfórico (PA)
Membrana de troca de protões (PEM)
Temperaturas acima de 600 ºC:
Carbonatos Fundidos (MC)
Óxidos Sólidos (SO)
História
A primeira célula de combustível foi desenvolvida no século XIX em 1838 por William Robert Grove.
Um esboço foi publicado em 1842 pelo mesmo cientista.
As células de combustível só tiveram aplicações práticas a partir da década de 1960, quando Thomas Grubb e Leonard Niedrach, da companhia General Electric, tiveram sucesso no desenvolvimento de uma célula PEM . Apesar da sua portabilidade, não era viável economicamente, dado uso de platina como catalisador. A partir de 1965 a NASA passou a empregar células de combustível, que foram usadas nas espaçonaves do Programa Apollo e no Ônibus espacial.
A primeira célula de combustível a hidrogênio para o ramo automóvel foi desenvolvida em 1991 por Roger Billings. Estudos na década de 2020, indicam que as células de combustível podem ser abastecidas com etanol (álcool combustível) utilizando o hidrogênio contido neste.
Veículos elétricos alimentados por baterias apresentam os inconvenientes da demora para recarga e baixa autonomia. Nestes veículos, a substituição das baterias por células de combustível proporciona a redução do tempo de recarga/reabastecimento e aumenta a autonomia.
Imagens
Ver também
Bateria de diamante
Economia do hidrogênio
Hidrogênio verde
Li-ion
NiCd
NiMH
Veículo com motor de combustão interna a hidrogênio
Veículo movido a hidrogênio
Ligações externas
Célula de combustível: (PEMFC) (Animação)
Best Cars Web Site. Tecnologia: Combustível do futuro
Engenharia elétrica
Eletroquímica
Tecnologias automotivas | 13,427 |
612 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Circuito%20integrado | Circuito integrado | Em eletrônica, um circuito integrado (CI), chipe, microchipe ou nanochipe (do inglês chip, microchip e nanochip, respectivamente), é um circuito eletrônico miniaturizado (composto principalmente por dispositivos semicondutores) sobre um substrato fino de material semicondutor.
Os circuitos integrados são usados em quase todos os equipamentos eletrônicos usados hoje e revolucionaram o mundo da eletrônica.
Um circuito integrado híbrido é um circuito eletrônico miniaturizado constituído de dispositivos semicondutores individuais, bem como componentes passivos, ligados a um substrato ou placa de circuito.
Os circuitos integrados foram possíveis por descobertas experimentais que mostraram que os dispositivos semicondutores poderiam desempenhar as funções de tubos de vácuo, e desde meados do século XX, pelos avanços da tecnologia na fabricação de dispositivos semicondutores. A integração de um grande número de pequenos transístores em um chip pequeno foi uma enorme melhoria sobre o manual de montagem de circuitos com componentes eletrônicos discretos. A capacidade do circuito integrado de produção em massa, a confiabilidade e a construção de bloco de abordagem para projeto de circuito assegurou a rápida adaptação de circuitos integrados padronizados no lugar de desenhos utilizando transístores pequenos.
Há duas principais vantagens de circuitos integrados sobre circuitos discretos: custo e desempenho. O custo é baixo porque os chips, com todos os seus componentes, são impressos como uma unidade por fotolitografia: um puro cristal de silício, chamada de substrato, que são colocados em uma câmara. Uma fina camada de dióxido de silício é depositada sobre o substrato, seguida por outra camada química, chamada de fotorresiste. Além disso, muito menos material é usado para construir um circuito como um circuitos integrados do que como um circuito discreto. O desempenho é alto, visto que os componentes alternam rapidamente e consomem pouca energia (em comparação com os seus homólogos discretos) porque os componentes são pequenos e estão próximos. A partir de 2006, as áreas de chips variam de poucos milímetros quadrados para cerca de 350 mm², com até 1 milhão de transístores por mm². Chips feitos de nanotubos de carbono, em vez de silício, podem dar origem a uma nova geração de dispositivos eletrônicos mais rápidos e com maior eficiência energética.
História
A ideia de um circuito integrado foi levantada por Geoffrey Dummer (1909-2002), um cientista que trabalhava para o Royal Radar Establishment (do Ministério da Defesa britânico). Dummer publicou a ideia em 7 de maio de 1952 no Symposium on Progress in Quality Electronic Components em Washington, D.C.. Ele deu muitas palestras públicas para propagar suas ideias.
O circuito integrado pode ser considerado como sendo inventado por Jack Kilby de Texas Instruments e Robert Noyce, da Fairchild Semiconductor, trabalhando independentemente um do outro. Kilby registrou suas ideias iniciais sobre o circuito integrado em julho de 1958 e demonstrou com sucesso o primeiro circuito integrado em função em 12 de setembro de 1958 Em seu pedido de patente de 6 de fevereiro de 1959, Kilby descreveu o seu novo dispositivo como "a body of semiconductor material ... wherein all the components of the electronic circuit are completely integrated."
Kilby ganhou em 2000 o Prêmio Nobel de Física por sua parte na invenção do circuito integrado. Robert Noyce também veio com sua própria ideia de circuito integrado, meio ano depois de Kilby. O chip de Noyce tinha resolvido muitos problemas práticos que o microchip, desenvolvido por Kilby, não tinha. O chip de Noyce, feito em Fairchild, era feito de silício, enquanto o chip de Kilby era feito de germânio.
Marcante evolução do circuito integrado remontam a 1949, quando o engenheiro alemão Werner Jacobi (Siemens AG) entregou uma patente que mostrou o arranjo de cinco transístores em um semicondutor. A utilização comercial de sua patente não foi relatado.
A ideia de precursor da IC foi a criação de pequenos quadrados de cerâmica (pastilhas), cada um contendo um único componente miniaturizado. Esta ideia, que parecia muito promissora em 1957, foi proposta para o Exército dos Estados Unidos por Jack Kilby. No entanto, quando o projeto foi ganhando força, Kilby veio em 1958 com um design novo e revolucionário: o circuito integrado.
Escala de integração e nanotecnologia
Com os componentes de larga escala de integração, (do inglês: Large Scale Integration, LSI), nos anos oitenta, e a integração em muito larga escala, (Very-large-scale integration, VLSI), nos anos noventa, vieram os microprocessadores de alta velocidade de tecnologia MOS, que nada mais são que muitos circuitos integrados numa só mesa epitaxial.
Atualmente a eletrônica está entrando na era da nanotecnologia. Os componentes eletrônicos se comportam de maneiras diferentes do que na eletrônica convencional e microeletrônica, nestes a passagem de corrente elétrica praticamente não altera o seu estado de funcionamento. Nos nanocomponentes, a alteração de seu estado em função da passagem de corrente deve ser controlada, pois existe uma sensibilidade maior às variações de temperatura, e principalmente à variações dimensionais. Estas causam alterações nas medidas físicas do componente de tal forma, que podem vir a danificá-la. Por isso a nanotecnologia é tão sensível sob o ponto de vista de estabilidade de temperatura e pressão.
Nanochipe
Uma tecnologia Nanochipe é um circuito integrado eletrônico tão pequeno que pode ser medido com precisão apenas na escala nanométrica. É um dispositivo semicondutor que aumenta a gama de chips de armazenamento removíveis. Nanochipes também são usados em produtos eletrônicos de consumo, como câmeras digitais, telefones celulares, PDAs, computadores e laptops, entre outros. Nanochipe é um pequeno sistema eletrônico que possui alto poder de processamento e também pode caber em um volume físico assumido com menos necessidade de energia. A tecnologia de nanochipe é benéfica, pois seus chips de armazenamento não dependem dos limites da litografia.
Fabricação
A importância da integração está no baixo custo e alto desempenho, além do tamanho reduzido dos circuitos aliado à alta confiabilidade e estabilidade de funcionamento. Uma vez que os componentes são formados ao invés de montados, a resistência mecânica destes permitiu montagens cada vez mais robustas a choques e impactos mecânicos, permitindo a concepção de portabilidade dos dispositivos eletrônicos.
No circuito integrado completo ficam presentes os transístores, condutores de interligação, componentes de polarização, e as camadas e regiões isolantes ou condutoras obedecendo ao seu projeto de arquitetura.
No processo de formação do chip, é fundamental que todos os componentes sejam implantados nas regiões apropriadas da pastilha. É necessário que a isolação seja perfeita, quando for o caso. Isto é obtido por um processo chamado difusão, que se dá entre os componentes formados e as camadas com o material dopado com fósforo, e separadas por um material dopado com boro, e assim por diante.
Após sucessivas interconexões, por boro e fósforo, os componentes formados ainda são interconectados externamente por uma camada extremamente fina de alumínio, depositada sobre a superfície e isolada por uma camada de dióxido de silício.
Rotulagem
Dependendo do tamanho os circuitos integrados apresentam informações de identificação incluindo 4 seções comuns: o nome ou logotipo do fabricante, seu número, número do lote e/ou número serial e um código de 4 dígitos identificando a data da fabricação. A data de fabricação é comumente representada por 2 dígitos do ano, seguido por dois dígitos informando a semana. Exemplo do código 8341: O circuito integrado foi fabricado na semana 41 do ano de 1983, ou aproximadamente em outubro de 83.
Desde que os circuitos integrados foram criados, alguns designers de chips tem usado a superfície de silício para códigos, imagens e palavras não funcionais. Eles são algumas vezes referenciados como chip art, silicon art, silicon graffiti ou silicon doodling.
Outros desenvolvimentos
Na década de 80, foi criado o dispositivo lógico programável. Esses dispositivos contêm um circuito com função lógica e conectividade que podem ser programados pelo usuário, ao contrário de ser fixada diretamente pelo fabricante do CI. Isso permite que um único chip possa ser programado para implementar diferentes funções como portas lógicas, somadores e registradores. Os dispositivos atualmente nomeados Field Programmable Gate Arrays (Arranjo de Portas Programável em Campo) podem agora implementar dezenas ou milhares de circuitos LSI em paralelo e operar acima de 550 MHz.
As técnicas aperfeiçoadas pela indústria de circuitos integrados nas últimas três décadas têm sido usadas para criar máquinas microscópicas, conhecidos como sistemas microeletromecânicos (do inglês: microelectromechanical systems, MEMS, ver também: microtecnologia). Esses dispositivos são usados em uma variedade de aplicações comerciais e militares. Exemplo de aplicações comerciais incluem a tecnologia processamento digital de luz em videoprojetores, impressoras de jato de tinta e acelerômetros usados em airbags de automóveis.
Desde 1998, um grande número de chips de rádios tem sido criado usando CMOS possibilitando avanços tecnológicos como o telefone portátil DECT da Intel ou o chipset 802.11 da empresa Atheros.
As futuras criações tendem a seguir o paradigma dos processadores multinúcleo, já utilizados pelos processadores dual-core da Intel e AMD. A Intel recentemente apresentou um protótipo não comercial, que tem 80 microprocessadores. Cada núcleo é capaz de executar uma tarefa independentemente dos outros. Isso foi em resposta do limite calor vs velocidade no uso de transístores existentes. Esse design traz um novo desafio a programação de chips. X10 é uma nova linguagem open-source criada para ajudar nesta tarefa.
Ver também
Encapsulamento de circuitos integrados
CMOS
Circuito impresso
Bibliografia
MONTEIRO, Mário A.2002, ed. LTC, 4ª ed., Introdução à organização de computadores.
Ligações externas
Hardware
Microeletrônica
Semicondutores | 49,093 |
613 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio%20Manuel%20da%20Costa | Cláudio Manuel da Costa | Cláudio Manuel da Costa (Vila Real de Nossa Senhora, 5 de junho de 1729 — Vila Rica, 4 de julho de 1789) foi um advogado, minerador e poeta no Estado do Brasil.
Destacou-se pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e amigo do Aleijadinho, a quem teria possibilitado o acesso às bibliotecas clandestinas que seriam mais tarde apreendidas aos Inconfidentes.
Como poeta, transitou entre o Barroco - marca dos seus escritos de juventude, enquanto era estudante de Cânones na Universidade de Coimbra (1749) - e o arcadismo - a partir do seu contato com o iluminismo, que concebia práticas mais racionais nas belas-letras.
Especula-se que tenha traduzido A Riqueza das Nações e a Teoria dos Sentimentos Morais, de Adam Smith, para o português. Há quem afirme ter tido ligações com os Illuminati, sociedade secreta de cunho iluminista criada na Baviera e que teria influenciado inúmeras revoluções.
Biografia
Filho de João Gonçalves da Costa, português ligado a mineração, e Teresa Ribeira de Alvarenga, mineira, nasceu no sítio da Vargem do Itacolomi, na Vila Real de Nossa Senhora, em Minas Gerais.
Em 1749, aos vinte anos de idade, embarcou para a sede do reino, matriculando-se na Universidade de Coimbra, onde obteve o Bacharelato em Cânones.
Entre 1753 e 1754, retornou ao Brasil, dedicando-se à advocacia em Vila Rica. Jurista culto e renomado à época, ali exerceu o cargo de procurador da Coroa, desembargador, e, por duas vezes, o de secretário de Estado. Por incumbência da Câmara de Ouro Preto elaborou a "Carta Topográfica de Vila Rica e seu termo" (1758).
Por sua idade, boa lição clássica, fama de doutor e crédito de autor publicado, exerceu uma espécie de magistério entre os seus confrades em musa, maiores e menores, uma vez que todos lhe liam as suas obras e lhe escutavam os conselhos. Glauceste Saturnino (ou Glauceste Satúrnio), pseudônimo do autor, faz parte da transição do Barroco para o arcadismo. Seus sonetos herdaram a tradição de Camões.
Foi, assim, uma das principais figuras da capitania. Aos sessenta anos de idade, teve uma participação colateral na conjuração mineira. Detido e, segundo alguns, apavorado com as consequências da acusação de réu de inconfidência, interrogado uma vez só, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 1789. Oficialmente, teria cometido suicídio por enforcamento na prisão. Em outra versão, estudiosos levantam a hipótese de ter sido assassinado no cárcere.
Os registros da trajetória da vida de Cláudio revelam uma bem sucedida carreira no campo político, literário e profissional. Foi secretário de governo, poeta admirado até em Portugal e advogado dos principais negociantes da capitania no seu tempo, como João Rodrigues de Macedo, igualmente envolvido na conspiração mineira. Acumulou ampla fortuna e sua casa em Vila Rica, era uma das melhores vivendas da capital. Sólida e construção que ainda lá está a desafiar o tempo.
A memória de Cláudio Manuel da Costa, porém, não teve a mesma sorte. Até hoje paira sobre ele a suspeita de ter sido um miserável covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a própria relevância da sua participação na Inconfidência Mineira, pintando-o como um simples espectador privilegiado, amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, freqüentadores assíduos dos saraus que ele promovia.
Cláudio tentou, ele próprio, diminuir a relevância da sua participação na conspiração, mas estava apenas tentando reduzir o peso da sua culpa diante dos juízes da devassa. Os clássicos da historiografia da inconfidência mineira são unânimes em valorizar sua participação no movimento. Parece que ele era meio descrente com as chances militares da conspiração. Mas não deixou de influenciar no lado mais intelectualizado do movimento, especialmente no que diz respeito à construção do edifício jurídico projetado para a república que pretendiam implantar em Minas Gerais, no final do século XVIII.
De qualquer modo José Pedro Machado Coelho Torres, juiz nomeado para a Devassa de 1789 em Minas Gerais, dele diz o seguinte: "O dr. Cláudio Manoel da Costa era o sujeito em casa de quem se tratou de algumas coisas respeitantes à sublevação, uma das quais foi a respeito da bandeira e algumas determinações do modo de se reger a República: o sócio vigário da vila de S. José é quem declara nas perguntas formalmente"... (Anais da Biblioteca Nacional, 1º vol. pg. 384).
Assim como outros conspiradores com altos títulos sociais, Cláudio foi levado após ter sido preso para a Casa dos Contos pertencente a seu cliente João Rodrigues de Macedo, mas na época alugada por este ao governo de Minas Gerais. Foi em sua cela debaixo da escadaria que leva ao primeiro andar que ele se enforcou na noite do 3 ao 4 de julho de 1789.
É patrono, sob número 8, da Academia Brasileira de Letras.
Morte: assassinato ou suicídio?
Um dos pontos mais críticos da biografia do poeta inconfidente é a sua morte. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese do suicídio.
Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte. Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Cláudio tenha sido assassinado contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado aos autos da Devassa, quanto a honestidade do registro do frade.
Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias.
O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios." Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.
Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação e argumentos a tese do assassinato.
Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.
Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-1891), pesquisador e colaborador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, assim escreve em sua obra "História da Conjuração Mineira" (1860), no capítulo XVII - "Ainda os interrogatórios":Na manhã de 4 de julho de 1789, o desembargador Pedro José Araújo de Saldanha e o doutor José Caetano César Manitti, acompanhados do tabelião Antônio Joaquim de Macedo e do escrivão da ouvidoria José Veríssimo da Fonseca se dirigiram à casa do Real Contrato das Entradas e aí deferiram juramento aos cirurgiões aprovados Caetano José Cardoso e Manuel Fernandes Santiago, e parando ante um dos segredos ordenaram a sua abertura a Joaquim José Ferreira, alferes do esquadrão de cavalaria da guarda do vice-rei, que ali estava aquartelado com a sua companhia, e fazia a guarda dos presos. Aberta a porta, uma cena lúgubre se apresentou aos olhos dos ministros e de sua comitiva. Um cadáver pendia de uma espécie de armário que não pudera ser removido daquele segredo. Era o dr. Cláudio Manuel da Costa! Lavrou a justiça com as formalidades do estilo o auto do corpo de delito e exame, e mandou sepultar o cadáver, sem as formalidades religiosas e em chão profano. Motivou a notícia deste acontecimento mil boatos, e ninguém acreditou que a morte do ilustre poeta fosse voluntária. Até aqui também a história sem os documentos oficiais, parando ante o cadáver do dr. Cláudio Manuel da Costa, encontrado em seu cárcere pendente de um baraço, hesitava entre a ideia de um suicídio ou de uma premeditação criminosa dos ministros do governo colonial. Sabe-se hoje, segundo as peças do longo processo, que espontânea fora sua morte. Ah! e que longa agonia não sofreu ele, como indicava a posição de seu cadáver tendo uma liga por baraço, pendente de um armário, com um dos joelhos firmado sobre uma das prateleiras e o braço direito forcejando debaixo para cima contra a tábua na qual prendera o baraço, como procurando estreitar o fatal laço que zombara da gravidade de seu corpo, já tão debilitado pelos anos e trabalhos!...Ainda no ensaio "Inconfidência Mineira - As Várias faces", Júlio José Chiavenato lança um dado que reforça a tese da farsa montada do "suicídio" de Cláudio Manuel da Costa. Na tarde do mesmo dia em que o advogado foi preso, foram assassinados no sítio da Vargem a sua filha, o genro e outros familiares, bem como alguns escravos e foram roubados todos os seus bens. O Visconde de Barbacena só informou Lisboa da morte de Cláudio Manuel da Costa a 15 de julho, onze dias depois de ter ocorrido e quando dera conhecimento a Lisboa do seu interrogatório a 11 de julho, sem nunca referir ao facto. Se a morte do alferes Tiradentes não causaria embaraços em Lisboa a de Cláudio e da sua família poderia causar, daí a necessidade da farsa ser montada.
Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do regime republicano no Brasil.
Obras
Culto Métrico, 1749. Obra em Domínio público
Munúsculo Métrico,1751. Obra em Domínio público
Epicédio, 1753. Obra em Domínio público
Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio (sonetos, epicédios, romances, éclogas, epístolas, liras), 1768. Obra em Domínio público
O Parnaso Obsequioso e Obras Poéticas, 1768. Obra em Domínio público
Vila Rica, 1773. Obra em Domínio público
Poesias Manuscritas, 1779. Obra em Domínio público.
Representações na cultura
Cláudio Manuel da Costa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por:
Emiliano Queiroz, no filme Tiradentes (1999)
Fernando Torres, no filme Os Inconfidentes (1972) e na telenovela Dez Vidas (1969)
Carlos Vereza, no filme Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício (2003)
Ver também
Literatura do Brasil
Neoclassicismo
Bibliografia
VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira.
Cláudio Manoel da Costa - notícia biográfica. in: Revista do Arquivo Público Mineiro, ano I, fasc. 2º. Ouro Preto: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1896.
MENEZES, Ivo Porto. Potencialidades da pesquisa em Minas. in: jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 5 de maio de 2007.
CARVALHO, Jarbas Sertório. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, nº LI.
SOUTHEY, Robert. História do Brasil. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1981.
MAXWELL, Kenneth. Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808
SOUZA E SILVA, Joaquim Norberto de . História da conjuração mineira. Rio de Janeiro: Ed. B.L. Garnier, 1860. Disponível em meio eletrônico: História da conjuração mineira
Ligações externas
Perfil no sítio da Academia Brasileira de Letras
Patronos da Academia Brasileira de Letras
Escritores árcades do Brasil
Escritores de Minas Gerais
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Inconfidência Mineira
Brasileiros de ascendência portuguesa
Poetas de Minas Gerais
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Escritores suicidas
Sonetistas
Naturais de Mariana
Brasileiros do século XVIII
Poetas suicidas | 25,535 |
614 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Castro%20Alves | Castro Alves | Antônio Frederico de Castro Alves (Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, 14 de março de 1847 — Salvador, 6 de julho de 1871) foi um poeta brasileiro. Escreveu clássicos como Espumas Flutuantes e Hinos do Equador, que o alçaram à posição de maior entre seus contemporâneos, bem como versos de poemas como "Os Escravos" e "A Cachoeira de Paulo Afonso", além da peça Gonzaga, que lhe valeram epítetos como "poeta dos escravos" e "poeta republicano" por Machado de Assis, ou descrições de ser "poeta nacional, se não mais, nacionalista, poeta social, humano e humanitário", no dizer de Joaquim Nabuco, de ser "o maior poeta brasileiro, lírico e épico", no dizer de Afrânio Peixoto, ou ainda de ser o "apóstolo andante do condoreirismo" e "um talento vulcânico, o mais arrebatado de todos os poetas brasileiros", no dizer de José Marques da Cruz. Integrou o movimento romântico, fazendo parte no país daquilo que os estudiosos chamam de "terceira geração romântica".
Começou sua produção maior aos dezesseis anos de idade, e seus versos de "Os Escravos" foram iniciados aos dezessete (1865), com ampla divulgação no país, onde eram publicados nos jornais e declamados, ajudando a formar a geração que viria a conquistar a abolição. Ao lado de Luís Gama, Nabuco, Ruy Barbosa e José do Patrocínio, destacou-se na campanha abolicionista, "em especial, a figura do grande poeta baiano Castro Alves".
José de Alencar disse dele, quando ainda em vida, que "palpita em sua obra o poderoso sentimento de nacionalidade, essa alma que faz os grandes poetas, como os grandes cidadãos". Teve por maiores influências os escritores românticos Victor Hugo, Lord Byron, Lamartine, Alfred de Musset e Heinrich Heine.
O historiador Armando Souto Maior disse que o poeta, "como assinala Soares Amora 'por um lado marca o ponto de chegada da poesia romântica, por outro já anuncia, nalguns processos poéticos, em certas imagens, nas ideias políticas e sociais, o Realismo.' Não obstante, deve ser considerado o maior poeta romântico brasileiro; sua poesia social contra a escravidão galvanizou a sensibilidade da época". Diz Manuel Bandeira que "o único e autêntico condor nesses Andes bombásticos da poesia brasileira foi Castro Alves, criança verdadeiramente sublime, cuja glória se revigora nos dias de hoje pela intenção social que pôs na sua obra".
No dizer de Archimimo Ornelas, "Temos Castro Alves, o revolucionário; Castro Alves, o abolicionista; Castro Alves, o republicano; Castro Alves, o artista; Castro Alves, o paisagista da natureza americana; Castro Alves, o poeta da mocidade; Castro Alves, poeta universal; Castro Alves, o vidente; Castro Alves, o poeta nacional por excelência; enfim, em todas as manifestações humanas poderemos encontrar essa força revolucionária que foi Castro Alves" e, sobretudo, "Castro Alves como o homem que amou e foi amado".
Primeiros anos
Nasceu Antônio Frederico na Fazenda Cabaceiras, às dez horas da manhã, do domingo 14 de março de 1847. Era a família do poeta abastada e culta, formando um ambiente familiar de grande inclinação cultural. Seu avô materno era o Major Silva Castro, herói das lutas pela Independência da Bahia e figura importante na história do sertão baiano.
Tinha o poeta o apelido familiar de "Cecéu". Passou nas terras sertanejas sua primeira infância, que lhe fez "guardar indelével impressão" para o resto da vida, no dizer de Afrânio Peixoto. Era cuidado pela "mucama" Leopoldina, que lhe contava as histórias e lendas do sertão, e um filho desta, Gregório, viria a ser pajem do poeta. Cursou o primário em São Félix. Junto ao irmão mais velho teve suas aulas iniciais com um professor e curandeiro chamado José Peixoto da Silva, e Aristides Mílton lembra que foi de ambos colega na cidade de Cachoeira na classe do mestre-escola Antônio Frederico Loup.
Da época sertaneja guardou o primeiro amor infantil, Leonídia Fraga, no dizer de Archimimo Ornelas: "ele a conhecera em criança, no Curralinho, quando ambos brincavam nas campinas". Ornelas atribui a esta memória os versos do poeta: "Quando a infância corria alegre, à toa (…) Em minha infância refletia-se a tua / Beijei-te as mãos suaves, pequeninas. / Tinhas um palpitar de asas divinas… / Eras — o Anjo da Fé!…"; voltaria a reencontrá-la ainda duas vezes.
Quando a família se mudou para a capital do estado (1854), foram inicialmente residir num sobrado onde morou Júlia Fetal, vítima de crime passional, assassinada pelo noivo em 1848, aos vinte anos de idade. O menino Antônio Frederico ouvira, ali, histórias dos fantasmas que povoariam a residência. Ali nasceu Adelaide, que viria a ser a irmã predileta do poeta. Ficava a residência à então rua do Rosário, número 1, mas já no ano seguinte (1855), mudaram-se novamente para a rua do Paço, número 47; estudou nesta época no Colégio Sebrão. Permaneceu nesta escola por dois anos.
Foi em 1858, junto aos irmãos, frequentar o Ginásio Baiano, do célebre educador Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas. Ali, encontrou um ambiente cultural fértil, no registro de Peixoto: "…uma atmosfera literária, produzida pelos 'oiteiros', ou saraus, então em moda, festas de arte, música, poesia, declamação de versos e discursos, que o havia de todo seduzir" e que isto lhe fizera bem precocemente revelar-se o talento: "o nosso poeta se revelou, talvez antes dos treze anos, nessa idade com certeza, de que datam as primeiras composições conservadas". De fato, os anos de 1859 a 1861 são as datas de seus versos iniciais.
O desembargador Souza Pitanga, em palestra proferida no Rio de Janeiro no ano de 1918 lembrando seu colega Plínio de Lima, registrou o ambiente do Colégio Baiano: "…esse suave e hospitaleiro solar das belas letras, onde uma legião alegre e vivaz de aspirantes ao futuro ia receber o pão eucarístico do saber dos lábios de uma plêiade de sacerdotes do ensino". Ali havia, segundo ele "um bosque umbroso de frondosas mangueiras, onde cigarras cantavam em coro" e "o saudoso Diretor Dr. Abílio César Borges, dominando com seu porte ereto e seu trato fidalgo, uma legião de menores que se compunham de rapazes de 18 anos até crianças de 7". Pitanga lembrou que entre os professores se destacavam Ernesto Carneiro Ribeiro, Eduardo Frederico Alexander e Antônio Damásio; entre os alunos contemporâneos estavam Aristides Milton, Antônio Alves de Carvalhal, Odorico Mendes, Ruy Barbosa e os três irmãos Castro Alves.
A morte da mãe, em 1859, foi o início das perdas familiares. Clélia Brasília fora "vitimada por uma fraqueza pulmonar" e não resistiu. Tomado por violenta comoção e revelando o começo de problemas emocionais, seu irmão José Antônio então ameaçou suicidar-se, tentando atirar-se de uma janela.
Em 1861, ainda aluno do Colégio Baiano, publicou em vários jornais versos em homenagem ao "mestre do coração", Dom Antônio de Macedo Costa, que falecera. A "homenagem poética" foi composta de oito sextilhas com sete sílabas.
Vida em Recife
Em 25 de janeiro de 1862, pouco depois do casamento do pai com Maria Ramos Guimarães, e contando apenas catorze anos, Castro Alves se mudou para a cidade de Recife com o irmão mais velho, a fim de se matricularem num curso preparatório anexo à Faculdade de Direito daquela capital, com intuito de nela ingressarem. Logo se entrosou com as atividades sociais da mocidade acadêmica, como disse Afrânio Peixoto: "Aí a vida agitada e solta da academia, onde os moços de talento porfiavam por aparecer, a índole generosa de Castro Alves, que desde cedo aspirou à glória que dão as grandes causas sociais, fizeram dele um tribuno e um poeta que se não esquivou às sessões públicas na Faculdade, nas sociedades dos estudantes, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações que começara a receber, e iam num crescendo de apoteose".
Assim que chegou ao Recife morou com o irmão no Convento de São Francisco e dali se mudaram para uma república na rua do Hospício, onde depois viria a morar também seu futuro cunhado Augusto Álvares Guimarães, seu grande amigo. Xavier Marques relembra dos dois irmãos, então: José Antônio a ler Álvares de Azevedo para os loucos do hospício e ele, Castro Alves, "jogando bilhar, desenhando e fazendo versos". Luís Cornélio dos Santos, outro grande amigo que o acompanharia até a morte, relata que foram então morar num bairro afastado de Recife, às margens do Capibaribe, onde muitas vezes o seguia em caminhadas em que lia poemas de um caderninho que, mais tarde, se perdeu. O amigo registrou sobre esse período: "A alma desse menino era de uma pureza inexcedível; a inteligência tinha lampejos que ofuscavam como relâmpago — Hugo em pequeno devia ser assim" e sobre o caderno perdido: "Esse livrinho perdeu-se; nem uma dessas estrofes figura hoje no rico tesouro de poemas que nos legou".
Sobre este período registrou Antônio Loureiro de Souza: "Vive, e bem vivida, a sua época, agitando-se entre o amor e a poesia – razão de ser que foi da sua existência". No Recife ligou-se bastante ao conterrâneo Plínio de Lima: "Redigiram juntos os mesmos jornais e tiveram a mesma orientação literária contra a corrente chefiada por Tobias Barreto". Afrânio Peixoto descreveu sua figura: "Era então um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante e harmoniosa, irrepreensivelmente vestido de preto, dons e maneiras que impressionavam à multidão, impondo-se à admiração dos homens e às mulheres inspirando os mais ternos sentimentos".
Em maio de 1863 deu exemplo de sua precocidade ao publicar no Recife, para onde se mudara a fim de realizar os estudos preparatórios para ingresso na faculdade junto ao irmão mais velho, "A Canção do Africano" (no primeiro número do jornal Primavera). Sobre isso Afrânio Peixoto falou que ali, ou talvez antes, tenha encontrado sua "vocação de abolicionista" e concluiu: "Se 'não teve precursores', ninguém tampouco seria mais precoce": contava somente dezesseis anos. Mas em março ele havia prestado o exame para ingresso na faculdade, sendo reprovado em geometria: "tivera sempre quizília à matemática", no dizer de Afrânio Peixoto que, entretanto, justificou essa reprovação com o fato de ter ocorrido na época o fechamento das Câmaras, impossibilitando assim que ele recebesse o aviso para realizar uma matrícula condicional, como ouvinte. Desse período nem tudo se perdeu: conservaram-se os poemas "Pesadelo", "Meu segredo" e "Cansaço", além do já citado.
A atriz portuguesa Eugênia Infante da Câmara viera ao Brasil em 1858, iniciando na Companhia Dramática Furtado Coelho uma turnê pelo país, percorrendo-o de sul a norte. Não era uma mulher bonita, mas era dotada de "uma graça extraordinária, inteligente, instruída, nervosa e vibrante, cheia de seduções e de singulares caprichos". Tinha o poeta pouco mais de quinze anos de idade quando a viu pela primeira vez, a apresentar em Salvador a peça "Dalila" no Teatro São João e então dela se enamorou. Anos depois voltaria a revê-la no Recife, como a atriz principal da Companhia. Aventa Afrânio Peixoto que possivelmente date desta época o início da paixão que tanta influência teria em sua vida.
No dia 9 de fevereiro de 1864 seu irmão José Antônio, que enlouquecera meses antes, cometeu o suicídio. Diante de tantas adversidades, e em razão dos problemas pulmonares, voltou para a Bahia. Teve assim várias faltas na faculdade, cuja matrícula finalmente conseguira, e foi reprovado no seu primeiro ano; o sofrimento com a tuberculose render-lhe-ia os versos intitulados "Mocidade e Morte" (cujo título original seria "O Tísico"), onde clama o poeta: "Eu sinto em mim o borbulhar do gênio /Vejo além um futuro radiante" mas "Resta-me agora por futuro — a terra /Por glória — nada, por amor — a campa..."
Só retornou ao Recife em 18 de março de 1865, acompanhado por Fagundes Varella; a 10 de agosto recitou O Sábio na Faculdade de Direito e alistou-se no dia 19 desse mês no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai, mas foi reprovado no exame de saúde. Neste mesmo ano principiou a composição de "Os Escravos", e conheceu a moça um ano mais velha, Idalina. Foi "a primeira mulher que se entregou completamente à força sedutora de Castro Alves", no dizer de Ornelas, que relata ter o jovem conhecido a amante no bairro de Santo Amaro, e com ela ido morar "numa casinha branca da rua do Lima, sob os olhares curiosos da vizinhança", informação em parte contraditada por Regueira Costa, que relatou uma visita então feita ao amigo: "o fui encontrar (…no retraimento em que vivia, obedecendo à influência natural do seu temperamento) no convívio da sua encantadora Idalina, a preparar o poema d'Os Escravos", e que lhe dissera, então: "Estou muito satisfeito com os meus vizinhos, dizia-me ele, ali — os doidos… (referia-se à Casa de Saúde do Dr. Ramos) — à direita os mortos… (aludia ao Cemitério Público)". Idalina não era de todo ignorante como "a grande maioria dessas infelizes mulheres: sem instrução e sem sensibilidade"; sabia tocar piano e cantava, o que denotava uma origem abastada, e o entretém com sua "garganta de um palor alabastrino".
Ele se permitiu tais "distrações" amorosas, bem como a dedicação à poesia, ao fato de estar a repetir as matérias do ano anterior, já estudadas; entretanto foi aprovado com reservas, talvez pela perseguição de um professor português que lhe seria desafeto. Novamente em companhia de Fagundes Varella voltou à Bahia, em 16 de dezembro; com isso houve um completo rompimento com a amante, e talvez nunca mais tenha visto Idalina, e sobre esse romance vivido ele compôs, anos mais tarde, o poema "Aves de Arribação". Neste mesmo ano voltou a ver Leonídia Fraga, o amor da infância e que lhe fora "prometida"; se na poesia que relembra a meninice a chamara de "Anjo da Fé", em novos versos rememora o segundo encontro daquela que, no sertão, o esperava sempre:"Depois eu te revi… na fronte branca, / Radiava entre pérolas mais franca / A altiva c'roa que a beleza trança!… (…) Por ti sonhei — triunfador — a palma. / Ó — Anjo da Caridade!…"Seu pai, bastante abalado moral e fisicamente pela morte do filho mais velho José Antônio, que segundo parentes e conhecidos teria mais talento que o irmão famoso e no qual o pai depositava grandes esperanças, teve a saúde ainda mais fragilizada, não resistiu à epidemia de beribéri que grassava em Salvador e faleceu em 24 de janeiro de 1866, ficando o poeta e seus irmãos sobreviventes órfãos de pai e mãe; ele, numa "idade perigosa, em que se delineiam rumos, se norteiam existências". No Recife, dois dias após sua perda, o seu senhorio fez publicar no Diario de Pernambuco um anúncio cobrando-lhe os alugueres em atraso: "Enquanto o Sr. acadêmico Antônio de Castro Alves não pagar 63 mil réis de aluguel da casa em que morou na rua dos Coelhos, verá seu nome neste jornal". Ainda em 1866 se enamorou de Ester e Simmy, duas irmãs judias filhas do comerciante Isaac Amzalack, que morava próximo à casa da família, no Sodré; escreveu o belo poema "A Hebreia", que mandou às duas com a dedicatória "à mais bonita", provocando a disputa entre elas.
Mestre do improviso e da declamação
Havia uma percepção entre os românticos condoreiros, e não apenas em Castro Alves, de que a poesia poderia mudar o mundo e, para isto, precisava ocupar os espaços públicos na divulgação dos ideais que defendiam (abolição, república, democracia, etc.); nenhum deles, entretanto, atingiu a sua popularidade e capacidade em dar visibilidade à arte poética.
No Recife ele se destacou pelos improvisos e pelas manifestações nos momentos históricos pelos quais convulsionava a opinião pública; assim é que em começos de 1866, na mesma rua do Hospício onde morou, juntou-se a Augusto Guimarães, Rui Barbosa, Plínio de Lima, Regueira Costa e outros na fundação de uma sociedade abolicionista. Apesar de ter manifestado interesse em se alistar, não foi simpático à Guerra do Paraguai — sentimento que não o impediu de prestar homenagem patriótica ao amigo Maciel Pinheiro, que partira para o teatro das lutas; numa manifestação popular em defesa da república, que a polícia reprimiu, ele proferiu um improviso onde diz: "A praça, a praça é do povo / Como o céu é do condor…"; ou, ainda, o improviso "À Mocidade Acadêmica" durante a questão Ambrósio Portugal, onde conclamou aos jovens, de uma janela da rua do Imperador: "Vós os luzeiros do país, erguei-vos! / Perante a infâmia ninguém fica exangue (…) A lei sustenta o popular direito, / Nós sustentamos o direito em pé!"; ou, ainda, na defesa de Eugênia durante os embates com Tobias Barreto que se verá a seguir: "Gravitar para ti é levantar-se / Cair-te às plantas é ficar de pé". Vicente Azevedo, contemporâneo, registrou: "E ele sabia preparar a cena, como emérito que era. Para essas ocasiões, punha pó de arroz no rosto, a fim de acentuar mais a palidez; um pouco de carmim nos lábios (oh! Adoráveis ilusões da mocidade) e muito óleo nos cabelos que ele arremessa da formosa cabeça".
Anos depois, em São Paulo, Martin Francisco Terceiro registrou a primeira vez que o viu declamar no Teatro São José num espetáculo em benefício do ator Joaquim Augusto Ribeiro de Souza, dando a real dimensão não somente do carisma do poeta, como do efeito que provocava nas pessoas: "Muita gente, nenhum camarote vazio. Sobe o pano. Enfileiram-se em cena os artistas, com o beneficiário à frente. Voltam-se todos os olhares para o último camarote da 2.ª ordem, à esquerda do palco, onde aparece o vulto bonito, proporcionado, popular, do moço baiano. Cabelos negros e ondeantes; voz larga e sonora; enunciação segura, como que virgulada; gesto e palavra em indefectível harmonia, dominando a atenção e o coração, a impaciência e a consciência do auditório extasiado; assombroso sucesso! Impossível imaginar recitação mais perfeita. Aplausos, muitos aplausos. Um triunfo completo da genialidade sobre a multidão, da poesia sobre a prosa, do indivíduo sobre o sentimento coletivo", e conclui: "Vê-se, percebe-se que a alma da juventude acadêmica se orgulha de seu fator máximo, do ídolo predileto".
Eugênia Câmara e Tobias Barreto
Desde 1864 a família do poeta encontrara na bagagem do jovem estudante uma fotografia de Eugênia Câmara, e passou a se preocupar com ela; divergem Afrânio Peixoto e Xavier Marques, entretanto, qual a data precisa de quando fora a origem do amor, embora aos dezenove anos e quando ele já era "o mais belo homem que se possa imaginar. Alto, forte, esbelto, de tez levemente morena, ampla testa, olhos negros, rasgados e pestanudos, nariz direito, lábios sensuais e, na cabeça poderosa, a coma negra, retinta, luzidia, de uma basta e longa cabeleira, cuja sedução ele conhecia" e apresentava já formação intelectual solidificada que lhe dera grande popularidade após "abalar" a Faculdade de Direito ao declamar "O Século", protagonizou por ela um dos mais vibrantes duelos da história literária brasileira contra o colega Tobias Barreto.
Antônio e Tobias eram até então amigos e considerados as duas maiores expressões da academia recifense; mas o escritor sergipano, dez anos mais velho, era dotado de temperamento nervoso, por vezes insociável — antítese do baiano, de índole meiga e que atraía os que lhe conheciam. A disputa entre ambos se deu quando Barreto se enamorou da atriz Adelaide Amaral, da mesma companhia de Eugênia, e passou a defendê-la em detrimento da outra: formaram-se, assim, dois partidos na cidade em que cada grupo defendia suas musas, sobre o que mais tarde registraria Jorge Amado: "Como que daí por diante as peças, dramas e tragédias não findam ao cair do pano. Continua a representação na plateia, através dos dois partidos e dos dois chefes. Insultos, aplausos e vaias, versos e descomposturas, são o complemento dos espetáculos teatrais de então".
Após uma noite em que Tobias e seus aliados vaiaram Eugênia, Castro Alves improvisou de forma avassaladora na réplica e, dias depois, em novo confronto, nova vitória sobre o rival com "versos que ficaram memoráveis", onde o baiano aludia ao fato de ser Adelaide casada e, portanto, infiel: "Sou hebreu, não beijo as plantas / Da mulher de Putifar…", levando a disputa para as páginas da imprensa e a uma derrota fragorosa de Barreto. Castro Alves assim conquistara a amante e o público e, já tendo perdido o pai, perdeu também "o recato aos seus caprichos amorosos".
Tamanha foi sua paixão e insistência que não restou a Eugênia Câmara senão ceder-lhe ao assédio; ela então vivia com o abastado guarda-livros Veríssimo Chaves, que mantinha seus luxos. Abandonado um amante por outro, ela não seguiu com a Companhia quando esta partiu em sua turnê para a Bahia, e junto ao jovem poeta foi morar numa pequena casa à rua do Barro, no caminho do Jaboatão. ele assim perdeu as férias e compôs ali a peça Gonzaga, fez traduções e até iniciou a escrita de uma novela (que se perdeu). Ficaram até maio de 1867, quando ambos partiram para Salvador.
Passagem pela Bahia
Em Salvador o casal de amantes se hospedou no Hotel Figueiredo, no centro, atendendo ao desejo de Castro Alves de que os notem, uma afronta à sociedade baiana; mas logo a atriz, tendo o amor a esmaecer, manifestou o desejo de voltar aos palcos e os dois se transferiram para a quinta da Boa Vista, onde fora o hospital do Dr. Alves e morou a família alguns anos (então a casa estava abandonada, após a morte do pai). Ela passou a se apresentar numa companhia que atuava no Teatro S. João: ali estreou a 20 de junho de 1867, e tanto ela quanto o poeta foram aplaudidos pelos versos que ele e também Eugênia declamaram, repetindo ali o sucesso do Recife.
Em 7 de setembro estreou Gonzaga, tendo Eugênia no papel principal, e foi tão grande o triunfo alcançado que a atriz recebeu uma coroa de prata por seus méritos. Descreveu Afrânio Peixoto, em 1917, esse momento: "Enfim, a 7 de setembro, sobe o Gonzaga à cena, representando Eugênia o papel de Maria, festa literária memorável que consagrou definitivamente Castro Alves, coroado em cena aberta, no delírio da turba que o conduziu nos braços ao festim de um banquete e, depois, até à casa, sempre sob ovações". Aumentava a popularidade mas diminuía o arroubo que os unira em Pernambuco, especialmente por parte da atriz: em Castro Alves cresceu o ciúme, que foi motivo de brigas e cenas violentas; ela queria viajar para o Rio de Janeiro e ele decidiu transferir-se para São Paulo, em cuja faculdade já militavam alguns amigos e onde Eugênia ser-lhe-ia infiel.
No Rio de Janeiro e em São Paulo
No 10 de fevereiro de 1868 embarcou com Eugênia para o Rio de Janeiro, a bordo do navio Picardie, para uma breve parada antes de seguir o casal para São Paulo. No Rio, portando uma recomendação de Fernandes da Cunha apresentou-se ao consagrado escritor José de Alencar, a quem leu os esboços de "A Cascata de Paulo Afonso" (título provisório do poema). Desse encontro resultou o artigo "Um Poeta" pelo autor de Iracema, publicado no dia 22 de fevereiro no jornal Correio Mercantil. Alencar fez mais, apresentou-o a Machado de Assis com uma missiva de recomendação em que indicava-lhe o "Poeta dos Escravos" com as seguintes palavras: "Seja o Virgílio do jovem Dante, conduza-o pelos ínvios caminhos por onde se vai à decepção, à indiferença e finalmente à glória, que são os três círculos máximos da divina comédia do talento".
Durante sua estadia ali ocorreu a vitória brasileira na Guerra do Paraguai da Passagem de Humaitá. Acorreu grande multidão às ruas, festejando a conquista, e saiu Castro Alves à sacada do jornal Diário do Rio de Janeiro (à Rua do Ouvidor, n.º 97), onde declamou de improviso "uma de suas raras poesias guerreiras, versos de circunstância, aplaudidos pela multidão, louvados pela imprensa" no dizer de Peixoto, mas que ele mesmo depois escreveria no manuscrito em que registrou o poema: "não se publica" (recomendação não seguida pelos editores de sua obra). Foi ainda num dos salões deste jornal que ele fez apresentar à diminuta plateia de intelectuais as cenas do Gonzaga, sua peça, que o jornal depois noticiaria ter saído "laureado o Sr. Castro Alves". Tais sucessos encheram-no de orgulho, apesar de simular condição humilde; em março seguiu com Eugênia para a capital paulista, onde granjeou admiração da juventude, e o ciúme em figuras como Joaquim Nabuco.
Participou em São Paulo da Loja América da maçonaria, da qual era ativo membro Rui Barbosa que, nela, baixara um decreto obrigando aos seus afiliados a imediata libertação dos cativos que lhes pertenciam. A loja paulista era já uma instituição de relevo no cenário político, e a participação dos jovens alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco se seguiu à participação deles no "Ateneu", órgão estudantil desta, no qual Alves fora integrante da "comissão de literatura", da qual também era membro Joaquim Nabuco. Nos tempos acadêmicos Rui e Castro Alves também fizeram parte da Bucha Paulista, uma sociedade secreta do direito originalmente criada com base nas Burschenschaften alemãs, destinadas a apoiar estudantes em situação precária mas que, em São Paulo, ganhou o cunho social que transcendeu o ambiente acadêmico e veio a conquistar o poder no país através do apoio mútuo, a ponto de três dos cinco participantes da comissão que elaborou o anteprojeto da Constituição de 1891 serem integrantes da Bucha.
Em São Paulo cursou o terceiro ano da faculdade onde, embora sem grande dedicação ao estudo, logrou aprovação. A situação com Eugênia continuou em meio a crises marcadas por brigas, separações e reconciliações; ela continuou a se apresentar com sua peça Gonzaga. O sucesso que a cidade lhe oferecera, segundo Archimimo Ornelas, o fez "descuidar-se de Eugênia" e ela, "para vingar-se, procuraria outros amores", ao que ele fingiu ignorar pois ainda lhe era constante. Em outubro ela ainda atuou na peça e houve uma "trégua" que, contudo, cedeu a novas e fortes brigas ante o falatório sobre a conduta infiel dela, culminando na separação definitiva: "o episódio final foi de uma violência imprevista. A atriz indicou-lhe a porta…"
Acidente de caça e amputação do pé
Diante do desgaste emocional do constante chamamento às apresentações públicas e do drama passional com Eugênia, tornou-se o poeta vítima de "profundo abatimento" e procurou momentos de solidão. "Não lia, não escrevia; passeava, fumava, saía à caça, sem disparar sequer um tiro", disse Afrânio Peixoto.
No dia primeiro de novembro de 1868, segundo relata Peixoto, lembrando ainda a piora de sua tuberculose: "fora passar um dia no arrabalde do Brás, e à tarde desse dia tomara a espingarda e saíra para o campo. Ao transpor uma vala, com o salto, a arma voltada para baixo dispara e a carga de chumbo emprega-se no pé esquerdo. Pôde arrastar-se até a casa de seu amigo e correspondente, o médico baiano, Dr. Lopes dos Anjos, [que] o conduziu então para a casa da cidade, na rua do Imperador, junto ao atual número 33. Além deste médico e amigo, prestou-lhe serviços o cirurgião Dr. Cândido Borges Monteiro, Barão de Itaúna, presidente da província. Mas o mal se agravava, sem esperança de cura, e os antigos padecimentos pulmonares acordavam, impressionantes".
Durante esse período o amigo Luís Cornélio, que morava na Corte, chamava-o para lá onde os recursos médicos eram melhores. A 19 de março de 1869 ele finalmente embarcou em Santos, acompanhado de um amigo; àqueles que não pudera se despedir pessoalmente o fez por meio de nota publicada no jornal "Ypiranga" que noticiara antes sua partida e, no dia 30, publicou no Correio Paulistano uma comovente carta de agradecimento aos amigos da capital paulista.
Chegou ao Rio em 21 de março; ali passou pelo martírio de uma amputação, na qual atuaram os cirurgiões e professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Andrade Pertence e Mateus de Andrade: deceparam-lhe o membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia. A situação pulmonar, agravada com várias hemoptises, impossibilitou o uso do clorofórmio (então o único meio anestésico): ele teve apenas um lenço para morder a fim de mitigar a dor. Narra Peixoto que ele dissera, disfarçando a dor com humor: "Corte-o, corte-o, doutor… Ficarei com menos matéria que o resto da humanidade".
A operação, realizada nos primeiros dias de junho, foi noticiada pelo jornal paulista Ypiranga no dia 21 de julho; teve início a longa convalescença onde o poeta, agora portando uma prótese de madeira, imaginou alcançar uma "nova primavera". No período em que se hospedou com Luís Cornélio e a esposa. Sua casa se tornou o "Petit Salon", frequentado por jovens artistas e intelectuais, e ele teve breves paixões como as de Cândida e Laura, que relembraria no poema "Os Anjos da Meia-Noite".
Mas ainda era movido pelo amor terminado com Eugênia e, em 17 de novembro, escreveu à atriz os versos de "Adeus": "Adeus! P'ra sempre adeus! A voz dos ventos / Chama por mim batendo contra as fragas, / Eu vou partir... em breve o oceano / Vai lançar entre nós milhões de vagas..."; a este poema escreveu ela uma réplica, publicada em 1910 por Xavier Marques: "Adeus, irmão desta alma, digo-te Adeus! / Mas deixa que eu evite esse jamais! / Que o céu se compadeça aos rogos meus / E um dia cessarão teus e meus ais!" e "Sim que Deus iluminou a tua fronte / Com um raio divinal de Gênio! e Glória!.. / Vive, sonha, canta, este horizonte!... / O Brasil quer teu nome em sua história" e conclui "Adeus! Se um dia o Destino / Nos fizer ainda encontrar / Como irmã ou como amante / Sempre! Sempre! me hás de achar". Depois de instâncias da família, junto a amigos embarcou para a Bahia a 25 de novembro de 1869; ao singrar a Baía de Guanabara teve ali a ideia do título do livro que planejava publicar: "Espumas Flutuantes".
O retorno à Bahia
Sua chegada em Salvador, em relato transcrito por Archimimo Ornelas, traduziu a decadência física e moral de Castro Alves: "Foi uma cena comovente a sua entrada na casa paterna, recebido pela madrasta e pelas jovens irmãs que o adoravam. Partira forte, ereto, cheio de confiança e audácia, voltava exangue, aleijado, doente do peito, com a alma saturada de amargura". Cercado do amor familiar e dos amigos, reencontrou as judias que um dia lhe inspiraram, sendo que Ester estava noiva agora. Ele fingiu estar desolado com isto e, pela janela do lar ao vê-las passar fingiu com um punhal de papel ferir-se no peito ao que elas, achando graça, fizeram-lhe sinal para que não perdesse as esperanças.
A 29 de janeiro partiu para o sertão uma última vez, em viagem de barco que ia "cindindo as ondas do Paraguaçu em demanda da solidão profunda dos desertos, para apascentar, como Saul, os desesperos do meu espírito, e aviventar este sangue exausto e empobrecido pela tristeza e sofrimento", como registrou o condoreiro numa carta a Luiz Cornélio; partiu, então, junto ao cunhado Augusto, para Curralinho, onde, segundo Archimimo Ornelas, achou-se influenciado pela morte de Allan Kardec ocorrida no final do ano anterior e que tivera grande repercussão naqueles dias, e produziu versos em que questionava a vida pós-morte.
Registrou Fernando Correia da Silva que, "na fazenda de Sta. Isabel do Orobó, o reencontro com Leonídia Fraga, sua prometida de menino e hoje donzela airosa que por ele esperara sempre. Reacender a paixão primeira? Para quê, se a morte ronda?". Castro Alves registrou em versos: "Hoje é o terceiro marco desta história. / Calcinado aos relâmpagos da glória, / Descri do amor, zombei da eternidade… (…) Por ti em rosas mudam-se os martírios! / Há no teu seio a maciez dos lírios… / Anjo da Caridade…" Sobre esses dias escreveu ele: "Talvez tenhas além servos e amantes, / Um palácio em lugar de uma choupana. / E aqui só tens uma guitarra e um beijo, / E o fogo ardente de ideal desejo / Nos seios virgens da infeliz serrana!" — e Correia da Silva conclui: "Leonídia, a “infeliz serrana”, ficará para sempre à sua espera. Acabará por enlouquecer". Ornelas diz que "Leonídia não foi correspondida como merecia" e ela "sem dúvida alguma amou o poeta" e, apesar de haver se casado mais tarde, quando enlouqueceu em suas crises voltava-lhe a lembrança, como registrou Afrânio Peixoto: "Amor divino, que sobreviveu a duas mortes, do coração amado e da razão amante".
Do sertão enviou ao futuro cunhado Álvaro Guimarães os manuscritos dos poemas que deveriam integrar a publicação de "Os Escravos"; este pediu-lhe que limitasse o número de poesias, e disse que iria dali retirar a tradução que fizera de Victor Hugo, por extensa, bem como havia enviado cópias para análise dos amigos Amâncio e Plínio de Lima, em Recife. Em 14 outubro de 1870, combalido pela tuberculose, pediu ao amigo José Joaquim da Palma que lhe "empreste a voz" para declamar os versos de "Deusa Incruenta - A Imprensa" como "Antítese a 'Terribilis Dea'" versos de Pedro Luiz, um libelo contra a guerra; este a declama no dia imediato no Teatro São João, sendo ovacionado pela plateia. Em novembro de 1870 ocorreu, finalmente, o lançamento de Espumas Flutuantes. Em sua abertura a dedicatória aos familiares mortos: "À memória de meu pai, minha mãe e de meu irmão".
Em Salvador a irmã Adelaide apresentou-o à italiana Agnese Trinci Murri, que se estabelecera na capital, ali vindo ter como cantora lírica e vivia com a mãe, a dar aulas de piano e de canto; a sua beleza encantou o poeta doente, e ela não cedeu aos seus arroubos e versos; escreveu-lhe uma carta de doze laudas; na casa do Sodré tentou roubar-lhe um beijo, que ela evitou dizendo: "mulher beijada, mulher desonrada" — seriam estes arroubos fruto da doença que avançava. Em 9 de fevereiro de 1871 dedicou os versos de "No Meeting du Comité du Pain" à campanha que se fazia na capital baiana de arrecadação de fundos aos franceses mutilados, órfãos e viúvas durante a Guerra Franco-Prussiana. Ele fez, num sarau a 21 de março de 1871, declaração pública de seu amor a Agnese, ao que ela respondeu-lhe cantando trecho de "O Guarani" de Carlos Gomes dizendo "Tutti dobbiamo amar": o sentimento, mesmo platônico, era recíproco. Este amor não correspondido marcou a produção final do poeta; num exemplo de como ela lhe inspirava realizaram juntos um passeio equestre ao Farol da Barra sob o luar, em maio de 1871, que retratou nos versos de "Noite de Maio" onde, por haver Agnese comparado a lua a um espelho, na sexta parte ele assim descreveu o cenário: "O espelho etéreo / Das nuvens nasce / Reflete em júbilo / A tua face". Nos festejos do 2 de Julho (data máxima do estado da Bahia) ela fora convidada a cantar mas o fez somente após consultar o poeta, já gravemente enfermo; com a morte dele Agnese ficou confusa ante a opinião da sociedade a quem servia, e deixou de velar o amado.
Morte
O escritor gaúcho Múcio Teixeira em sua biografia do poeta de 1896 contou seu último laivo de vaidade: "Na véspera do dia fatal, depois de reiteradas súplicas, deram-lhe um espelho. Ele contemplou-se alguns instantes, visivelmente compungido, e balbuciou: «Já não sou mais o mesmo… Como a morte desfigura as suas vítimas!» Entregou-o, dolorosamente desiludido, e disse: «Ninguém mais pode entrar aqui. Quero que se lembrem do que fui, não do que sou!… Assim que eu morrer, cubram-me de flores e fechem logo o meu caixão»". Relato publicado em 1921 pela revista Bahia Illustrada trouxe o registro familiar da morte do poeta (com atualização ortográfica, aqui):
"Recolhera-se na véspera (29 de julho), escreve a irmã do poeta, mais cedo que de costume; uma nuvem de tristeza e desânimo ensombrava-lhe os grandes olhos expressivos e embalde procuravam irmãos e amigos chamar a esperança àquela alma desolada: embalde! Na sua ideia começava a projetar-se a figura da morte… Desejou então que levassem seu leito para o salão onde costumava passar os dias, e foi assim carregado por irmão e amigos, colocado perto de uma janela, porque, dizia ele, «queria morrer olhando para o infinito azul, esse infinito que irá em breve recolher suas últimas aspirações». Dias de sofrimentos atrozes seguiram-se intercalados apenas por ligeiros momentos de alívio e tão cruéis foram eles que na véspera de morrer, à noite, perguntava as horas e se lhe respondia — 12. [replicava] «Será possível, meu Deus, ainda um dia de dor?…» E tanta aflição havia nesta exclamação, tanta, que, tendo fria mão entre as mãos de suas irmãs, sentiu que nela caíra uma lágrima e então apertando-lhas, disse: — «As contas quentes senti…» — reminiscência que lhe acudia no momento, de uma de suas últimas poesias — "A Virgem dos Últimos Amores". No dia imediato — 6 de julho de 1871 — pelas 10 horas da manhã administrava-lhe os últimos sacramentos o ilustrado e virtuoso padre Turíbio Tertuliano Fiúza. Aproximavam-se os últimos momentos e ainda em toda a lucidez de espírito, numa das ocasiões em que uma das irmãs (D. Adelaide), angustiada lhe passa o lenço pela fronte úmida, ele com voz extinta quase, murmurou-lhe: — «Guarda este lenço… com ele enxugaste o suor de minha agonia…» Esta foi sem grandes ânsias nem estertores. Imóvel já, o olhar fixo nessa nesga do céu que se descortinava da janela aberta em frente ao leito em que jazia — pouco a pouco a luz desse olhar foi-se amortecendo, até de todo difundir-se nas sombras da Eternidade… Eram 3 e meia horas da tarde…"
Múcio Teixeira, lembrando a reverência que em Florença se tem diante da casa onde morou Dante, ou em Caracas junto ao panteão onde jazem os restos de Simão Bolívar, pregava que "A população baiana, sem distinção de sexo nem de classes, devia ir no dia 6 de julho de cada ano, numa espontânea procissão de imponente majestade, parar por alguns instantes diante do sobrado n. 24 da rua Sodré, onde no dia 6 de julho de 1871, às 3 ½ horas da tarde, expirou Castro Alves, contando apenas 24 anos de idade".
Foi sepultado no Cemitério do Campo Santo, num jazigo em que foi inserida uma "caveira de pirata" que, no dizer de uma especialista, "representa uma alusão à morte e ao caráter de transitoriedade da vida”. Seus restos mortais foram, no século XX, trasladados para o monumento em sua homenagem na praça que leva seu nome. O enterro se deu no dia seguinte ao óbito (7 de julho) e foi inumado na carneira 527. Em 1874 os restos foram transferidos para o mausoléu da quadra 1, pertencente à sua madrasta, Maria Ramos Guimarães, que o adquirira para sepulcro do marido e pai do poeta. Sua irmã Adelaide, falecida no Rio de Janeiro a 22 de setembro de 1940, foi a "zeladora fiel da memória do Poeta, conservando seus originais, informando de sua vida", registrou Afrânio Peixoto, concluindo que "muito lhe deve a fama de Castro Alves".
Em 1971 ocorreu o centenário de morte do escritor. Apesar da oposição de um sobrinho-neto do poeta que defendia fosse-lhe erguido um panteão, o então prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães deliberou pelo simples traslado de seus restos mortais para o monumento à Praça Castro Alves. Isto efetivamente ocorreu, sem qualquer cerimônia especial, no dia 6 de julho daquele ano. Após a consagração recebida na então capital imperial com somente vinte e um anos de idade, e as que se seguiram nos "menos de oito anos, anos tontos, que os dentre a adolescência e a mocidade, 'Castro Alves deixara uma obra sem igual em nossas literaturas'", segundo Afrânio Peixoto, que o comparou aos seus contemporâneos que mais tarde se destacariam como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Rodrigues Alves ou Afonso Pena: tivessem estes morrido, como ele, aos vinte e quatro anos de idade, "nem a memória dos nomes lhes teria ficado e durante esse tempo o outro granjeou a fama duradoura".
Obra
Contexto
Contexto político
Para o pesquisador estadunidense da obra de Castro Alves, Jon M. Tolman, sua "biografia serve, não para definir a poesia, nem como chave para sua compreensão, mas apenas como uma espécie de encaixe histórico, onde podemos vislumbrar com mais autenticidade a tática criativa do poeta". Neste sentido um panorama histórico e cultural serve "para tornar mais compreensíveis certos temas, atitudes e até técnica de sua poesia".
Vigorava no Brasil do Segundo Reinado o sistema da escravidão, concentrando o Nordeste, em 1867, 47% da população cativa no país (774 mil pessoas), enquanto o desbravamento da região cafeeira paulista levou o número de escravos a dobrar no decênio de 1864 a 1874 e fez com que a questão abolicionista ganhasse ali também a mesma relevância de cidades onde a presença de negros era grande, como Salvador e a capital do Império, Rio de Janeiro. Desde 1850 o tráfico de escravos da África fora proibido pela Lei Eusébio de Queiroz, ocorrendo na Bahia a 29 de outubro de 1851 o episódio do "Desembarque da Pontinha" na Ilha de Itaparica — último momento documentado de tentativa de burlar a proibição do tráfico, numa demonstração da resistência no estado dos comerciantes e proprietários de escravos.
Havia então apenas duas faculdades de Direito no país, ambas fundadas em 1828: uma no Recife e outra em São Paulo; em ambas a visão liberal e cívica era incutida na elite pensante do país, além da concepção de unidade nacional — o que não ocorria, de fato, nas províncias. Nessas academias professores e alunos recebiam influência de autores europeus como Ernest Renan, que pregava o fim da influência católica na vida pública, Hippolyte Taine e Auguste Comte, com o positivismo, que traziam, no dizer de Sílvio Romero, um "bando de ideias novas" às quais se somavam o evolucionismo, a mudança do direito e da política, o realismo e naturalismo, ampliando neles a vontade de reformar o país.
Na Europa várias revoluções ocorriam. Na França aconteceu a Revolução de 1830, que em 1847 (ano de nascimento do poeta) levou à deposição do rei e à realização das primeiras eleições no continente com voto direto, secreto e universal para os homens. Itália e Alemanha viveram as lutas por sua unificação, refletindo as ideias nacionalistas; naquele primeiro país tivera importante papel o guerrilheiro Giuseppe Garibaldi que, além de já haver atuado no Brasil, era casado com a brasileira Anita.
Dentre os principais fatos brasileiros de sua época tem-se a chamada Questão Religiosa, que envolveu a Maçonaria; contemporâneos e amigos de Castro Alves eram maçons, como Luís Gama e Rui Barbosa, entre outros. Também ele era maçom, e junto a estes dois últimos colaborou no jornal Radical Paulistano e nas campanhas abolicionistas. Após a emancipação das colônias espanholas nas Américas várias nações viveram conflitos internos até se firmarem, e externos entre os jovens países. A Guerra do Paraguai foi o maior conflito havido na América do Sul, unindo Brasil, Argentina e Uruguai contra o ditador paraguaio Solano López, que invadira o território do atual estado do Mato Grosso do Sul em 1864, propiciando nos anos seguintes batalhas que se tornaram épicas como as navais de Riachuelo e Humaitá (esta última merecedora de um improviso do poeta, no Rio de Janeiro); outros conflitos marcaram o período na América do Sul, como a Guerra contra Rosas, na Argentina em 1852, com envolvimento brasileiro; a Guerra do Chaco, entre Paraguai e a Bolívia (concluída com a intervenção diplomática dos países vizinhos, dentre os quais o próprio Brasil), e ainda o conflito entre a Espanha e o Peru, cuja independência não reconheceu a nação europeia até 1864, em lutas que envolveram ainda o Chile, a Bolívia e o Equador e somente concluído com a intervenção dos Estados Unidos. A despeito dos vários conflitos, havia latente desde o começo do século XIX ideais de pan-americanismo, do qual fora no Brasil um defensor José Bonifácio, no sentido da união das novas nações para sustentarem sua independência.
A Guerra do Paraguai, que duraria até janeiro de 1869, teve resultado ambíguo segundo Joaquim Nabuco: a vitória por um lado marcou o auge da monarquia, mas também deu início à sua decadência. No dizer dos autores Carlos Emílio Faraco e Francisco Marto de Moura na análise de "O Navio Negreiro", a poesia de Castro Alves "reflete o momento histórico da época: decadência da monarquia, luta abolicionista e campanha republicana".
Romantismo literário
O Romantismo foi um movimento estético que se contrapunha ao Classicismo que lhe antecedeu. Enquanto este privilegiava a nobreza, naquele primava o retrato da burguesia: seus autores eram jovens de origem na classe média ou popular, bem como os personagens que retratavam. Os autores românticos, assim, tinham por características o subjetivismo e liberdade de criação (marcados por primazia dos sentimentos, historicismo, pessimismo e ainda um distanciamento da realidade e culto à natureza). Esse movimento estético derivava da ascensão da burguesia pós-Revolução Francesa na Europa: na Inglaterra ocorreu um enaltecimento dos tempos medievais e dos escritos de Shakespeare. Na Alemanha os conflitos sociais se refletiram nas obras de Goethe e Schiller onde pessimismo, emotividade, melancolia e valorização da morte surgiram como contraponto às transformações sociais.
Vários autores europeus influenciaram Castro Alves: Lord Byron, Lamartine, Musset, Heinrich Heine e até Shakespeare que, traduzido para o francês, "se tornou uma verdadeira obsessão romântica" no dizer de Lêdo Ivo. Mas sua maior influência foi mesmo Victor Hugo: segundo este autor, Hugo foi "seu grande mestre", "a quem o unia indisfarçável afinidade eletiva, quer de natureza lírica, quer de cunho político e tribunício", dele assimilando muitas coisas, "pescando no imenso oceano hugoano um número considerável de visões, temas e imagens", de tal forma que "imitou-o e o parafraseou com a mais clangorosa desenvoltura".
Em Portugal foram expoentes desse movimento, na literatura, os autores Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Júlio Dinis e, ao final, Camilo Castelo Branco. Iniciado em 1825, o romantismo teve ali duração de quatro décadas que os estudiosos dividem em três momentos: a primeira geração (de 1825 a 1840); a segunda (de 1840 a 1860) e, enfim, a terceira a partir de 1860, que é formada por autores já numa transição para o realismo. No Brasil o movimento coincidiu com a necessidade de afirmação da nacionalidade, com a emancipação política de 1822. Assim como em Portugal, foram divididos em três gerações pelos literatos: a primeira, marcada pelo nacionalismo e patriotismo (da qual fizeram parte Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães); a segunda marcada pela influência de Lord Byron e com temática centrada no amor, na morte, dúvida, ironia e sarcasmo e, em alguns, o satanismo (cujos expoentes foram Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e Fagundes Varella); e finalmente a terceira, que foi composta pelos chamados condoreiros e abolicionistas, da qual o maior expoente foi Castro Alves.
Análise
Análise didática
O trabalho poético de Castro Alves é dividido, nas obras didáticas, em dois grupos: a poesia social e a poesia lírico-amorosa. Para Faraco e Moura, ao contrário dos demais poetas românticos que explicavam sua inadaptação ao mundo exterior como fruto de seus conflitos internos, Castro Alves justifica esse problema com o desajuste do homem ao meio e na "eterna luta entre opressores e oprimidos"; a produção do poeta tem, além da produção lírica e amorosa, a "poesia de caráter social"; mesmo no caso dos versos líricos Castro Alves se distingue por ter "uma visão mais realista e sensual do amor e da mulher", sendo que estas, embora ainda idealmente belas e perfeitas, são pessoas concretas, materializadas.
No mesmo sentido Samira Campedelli analisa sua obra: "ao lado de certa 'morbidez byroniana' e contrastando com ela, a poesia de Castro Alves apresenta dois outros aspectos: o lirismo amoroso sensual e o condoreirismo épico"; no primeiro caso o lirismo inflamado deriva da figura feminina real, próxima e conquistada, ao passo que no segundo ele inova ao trazer um tom "alto, aberto, franco" ao se fazer defensor dos escravos e retratar sua miséria de forma "hiperbólica e eloquente", com "violentas pinceladas" e assim rompendo com a visão centrada no "eu" de seus antecessores.
Crítica
O professor de literatura brasileira da Universidade do Novo México Jon M. Tolman, em análise sobre a obra do poeta ponderou: "Dentre muitos outros autores brasileiros convenientemente encaixotados pela crítica podemos destacar Castro Alves". Marques da Cruz em sua História da Literatura, registra: "Padecem (diz Carlos de Laet) muitos dos seus versos da ênfase peculiar à chamada escola condoreira, que, partindo da imitação hugoana, decaiu em puro gongorismo".
Fausto Cunha apontou o que seriam, para ele, grandes defeitos na produção de Castro Alves: um poeta limitado e sem uma evolução nítida, quer na técnica, quer na sua temática; foi toda sua produção feita consoante os padrões vigentes do romantismo, um "poeta que tem só uma corda na lira" e mesmo essa corda era emprestada. Em sua análise, "é a partir de 1868 que sua personalidade poética se afirma com autonomia e entra, por seu turno, a influenciar os contemporâneos. Ele continuaria agrilhoado, no entanto, a matizes temáticas o que se observa de maneira paradoxal, principalmente quando o motivo lhe tocava mais de perto. O rompimento com Eugênia Câmara e o derradeiro amor de Agnese Trinci Murri mergulharam-no de novo no oceano de lugares-comuns ultrarromânticos, quase todos já estão superados pelo seu próprio acervo". Cunha prossegue, para concluir de forma negativa: "A muitos respeitos, a trajetória poética de Castro Alves é desconcertante e parece ajudar a tese por certo extremista de que o poeta era um 'realizado'. Dentro de estreito limite, é possível aludir a certo progressivo esgotamento de sua lírica depois de 1869 (...) Se a obra de adolescência de Castro Alves está salpicada de pastichos, a de maioridade vai ressentir-se de interferências completamente desnecessárias (...) A impressão que nos deixa, na fase derradeira, não é bem a de um 'satisfeito', de um 'realizado': é de um aniquilado com as peculiares explosões de otimismo e energia".
Contraditando a posição de Fausto Cunha, Jon M. Tolman diz que a análise da obra do poeta se ressente da inserção de produções antigas em meio às recentes, como ocorre nas antologias, constatando que sua produção final conta com poucos admiradores no Brasil; Tolman considera que "a poesia escrita depois da volta à Bahia apresenta marcadas características integrais" e que a análise feita de seus versos da maturidade se misturam a outros de períodos anteriores; sobre a crítica negativa como a de Cunha o autor estadunidense conclui: "Uma das desvantagens da consagração literária é o peso do julgamento da crítica que interfere muitas vezes com a justa apreciação".
Lêdo Ivo, quando diz da influência de Victor Hugo na obra castriana, o compara a Rimbaud, que também imitava o escritor francês e que escrevera sobre o mar sem jamais tê-lo visto, assim também "Castro Alves celebrou a Cachoeira de Paulo Afonso sem precisar ir lá; e a sua visão é mais convincente e realista do que a dos visitantes". O mesmo autor, falando da influência dos autores românticos que inspiraram o poeta (já citados Hugo, Byron, Lamartine, Musset, Heine e ainda Espronceda), "a muitos deles traduziu, parodiou, imitou e saqueou, transfundidos nessas paródias, imitações e saques o vigor de uma língua nova e abrasada de fervor" de tal forma que "um dos poetas mais originais de nossa língua, e um dos mais ciosos dos arroubos do seu eu inflamado, será, também, um dos mais afeiçoados à imitação e à paráfrase", mas o faz "com tanta perícia e felicidade" que nada o desqualifica e faz com que seus versos permaneçam com "legibilidade" apesar dos arroubos, graças ao rigor com que trabalhou a língua portuguesa. Uma mestranda da Universidade Federal de Uberlândia, fazendo um comparativo entre a visão do negro em Castro Alves e em Luís Gama, nota que Alves fala do negro na terceira pessoa, ao passo em que Gama fala na primeira pessoa, concluindo que "Luiz Gama ajudou a criar a identidade afro-brasileira visando a promover mudanças nas estruturas discursivas da época, Castro Alves representou o sujeito negro como um ser humano passivo e resignado".
Homenagens
A 6 de julho de 1881, dez anos após a morte do poeta, o então chamado "Largo do Teatro", uma das principais praças da capital baiana, foi renomeado em sua homenagem; em 1919 foi encomendada ao escultor italiano Pasquale de Chirico uma estátua representando-o; o monumento foi instalado no lugar em que havia o "Chafariz de Colombo" e inaugurado a 6 de julho de 1923; a estátua, medindo 2,9 metros, está posicionada sobre um pedestal (que lhe dá a altura total de 11 metros) em cuja parte frontal se acha a escultura de um casal de escravos, simbolizando sua luta abolicionista: a Praça Castro Alves é um dos símbolos de Salvador. Em referência à praça, Caetano Veloso parafraseou o verso de Castro Alves "A praça é do povo, como o céu é do condor" de "O Povo ao Poder", rendendo-lhe a seguinte homenagem:
Em 1895 Curralinho se emancipou de Cachoeira; anos mais tarde teve a cidade seu nome alterado para Castro Alves, em homenagem ao filho ilustre da terra (as fontes divergem se foi pela lei estadual n.º 360 de 25 de julho de 1900, ou a lei n.º 790 de 25 de junho de 1910). Em 1947 o Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação e Cultura, comemorou o centenário do nascimento do poeta com uma grande exposição, da qual resultou um livro comemorativo, trazendo importantes documentos que fizeram parte do evento.
Em 1948, por sugestão de artistas e intelectuais da Bahia, o então deputado Antônio Balbino apresentou um projeto de lei para a construção de um teatro na praça 2 de Julho (mais conhecida como Campo Grande), acatando a sugestão de Adroaldo Ribeiro Costa de homenagear o edifício com o nome do poeta, e previsão de estar concluído em 1951. O projeto original ficaria a cargo dos arquitetos Alcides da Rocha Miranda e José de Souza Reis mas, assumindo o governo Otávio Mangabeira, este passou o encargo ao engenheiro Diógenes Rebouças, que iniciou os trabalhos com uma arquitetura arrojada; findo o mandato de Mangabeira, o mesmo Balbino foi eleito governador e, com projeto premiado, encarregou a obra a José Bina Fonyat Filho e Humberto Lemos; a inauguração estava marcada para ocorrer no dia 14 de julho de 1958 mas, cinco dias antes, misterioso incêndio o destruiu quase totalmente. A "Concha Acústica" anexa, não afetada, foi inaugurada em 1959, e o Teatro Castro Alves passou por nove anos de reformas até ser finalmente inaugurado em 4 de março de 1967, sendo governador Lomanto Júnior. O "TCA", como é conhecido, integra desde 2013 o patrimônio nacional, tombado pelo IPHAN.
A 8 de março de 1971 o então governador do estado da Bahia Luís Viana Filho, como parte das homenagens ao poeta no centenário de seu falecimento, inaugurou na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu, na antiga sede da Fazenda Cabaceiras, o Parque Histórico Castro Alves, um museu com área total de 52 mil metros quadrados situado no centro da cidade. Segundo o escritor Edivaldo Boaventura, o espaço visava relembrar "os cenários da natalidade e da infância" do poeta. Desde 1977 o dia do nascimento do poeta era considerado, extraoficialmente, como Dia Nacional da Poesia e assim foi celebrado até que, em 2015, o senador Alvaro Dias propôs outra data, desta feita homenageando a Carlos Drummond de Andrade; aprovada essa lei, seu natalício deixou de ser oficialmente a data da poesia, no Brasil. Em 2019 a terceira edição do Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) teve o poeta como seu homenageado.
Monumentos e esculturas
Além da estátua de De Chirico na praça soteropolitana, outros monumentos homenageiam o poeta, no Brasil. No Passeio Público do Rio de Janeiro há um busto em bronze do poeta, obra do escultor Eduardo de Sá, inaugurado em 1917 e com principal diferenciador o pedestal em mármores de cores diversas. Em seu primeiro número, sem identificar o autor, um artigo da revista carioca Bahia Illustrada teceu críticas sobre este trabalho: "o busto de Castro Alves, que se acha no Passeio Público, parece-se tanto com ele como com qualquer de seus ignorados companheiros de boemia e de estudantada do seu tempo", e que a estátua não traz "nenhuma identidade com o seu rosto", concluindo que somente se sabe tratar do poeta porque traz seu nome escrito no bronze.
Em 1947, no Recife, foi inaugurado um busto em homenagem ao centenário do poeta, obra realizada pelo escultor Celso Antônio de Menezes, localizada na praça Adolfo Cirne, diante da mesma Faculdade de Direito onde um dia Castro Alves estudou. Em 1948 o escultor brasileiro Humberto Cozzo foi à Itália onde, em Florença, realizou a estátua do “Poeta da Liberdade”, financiada pela “Ação Cultural Castro Alves”. O escultor, já consagrado no país, vencera um concurso para a escolha da estátua, tendo por prêmio a viagem à Europa com duração de um ano, partindo em agosto daquele ano. O concurso tivera fim em 1947, ano do centenário do poeta e a reunião de escolha do vencedor (ao qual competiram ainda Mateus Fernandes, Celita Vacani, Francisco Andrade, Almir Pinto, Honório Peçanha e Modestino Kanto) foi documentada em filme. Cozzo viria a ser um dos mestres do também escultor Mário Cravo que, por parte da mãe, era primo do poeta. Outras esculturas homenageiam o poeta em várias partes do país. Na cidade de Jacobina a praça da matriz traz um monumento ao poeta, restaurado em 2016.
Academia Brasileira de Letras
A Academia Brasileira de Letras nomeou em sua homenagem, por sugestão do membro fundador Valentim Magalhães, a sua cadeira número sete que assim tem por patrono o poeta Castro Alves. Sua cadeira foi alvo da primeira grande disputa interna dentro da Academia, em 1905; naquele ano fora eleito Euclides da Cunha para ocupar a vaga deixada pelo fundador da Cadeira 7, Valentim Magalhães, e coube ao crítico literário Sílvio Romero fazer o discurso de saudação do novo membro do silogeu brasileiro. Romero, sergipano como Tobias Barreto, era crítico do trabalho de Castro Alves em razão daquelas disputas estudantis no Recife (por bairrismo e parcialidade, no dizer de Afrânio Peixoto). Em seu discurso, que o protocolo preconizava ser elogioso, derivou para o cunho polemista de seus escritos, ofendendo até o presidente da República, Afonso Pena, ali presente — além de duras críticas a Castro Alves (patrono), Valentim (fundador) e Cunha (a tomar posse). Construída a sede própria da Academia, foi nela instalado o "Salão dos Românticos", onde há bustos dos principais autores do romantismo brasileiro, dentre eles o de Castro Alves; é neste local que são velados os acadêmicos falecidos.
Centenário de nascimento em 1947
1947 foi o ano do centenário de nascimento do poeta, e vários eventos em sua memória ocorreram, sobretudo na Bahia e no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. No ano anterior o governo federal realizou um concurso para o projeto de estampa dos correios comemorativa ao centenário, do qual foi vencedor o desenhista Alberto Lima.
O Ministério da Educação e Saúde conferiu medalhas trazendo a efígie do poeta na frente, e atrás os versos de sua autoria: "«Auriverde pendão da minha terra, / Que a brisa do Brasil beija e balança, / Estandarte que à luz do sol encerra / As promessas divinas da esperança»…", obra do gravador L. Campos. O Ministério realizou, ainda, no Rio de Janeiro, uma Exposição Comemorativa do Centenário de Castro Alves, tendo direção de Augusto Meyer e iniciada no dia 14 de março. A prefeitura do Rio instituiu, no mesmo ano, concurso de redações em várias categorias, como a melhor biografia do poeta ou romance que fosse ambientado em algum momento de sua vida.
Em Salvador houve uma grande programação de eventos, que transcorreram de cinco e quinze de março de 1947, que foram de palestras, concurso literário pela Academia de Letras da Bahia e encontro de Academias de Letras, exposição biobibliográfica pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e finalmente encerrada com um baile de gala no Clube Bahiano de Tênis. Foi representante da ABL no evento o baiano Pedro Calmon. A Academia Brasileira por sua vez efetuou conferências sobre o escritor, dentre outros por seus imortais Clementino Fraga e Pedro Calmon, campanha para a construção de monumento ao poeta, exposição biobibliográfica nos salões do Petit Trianon, sua sede.
Impacto cultural
A influência de Castro Alves deu-se ainda em vida, como assinala o historiador literário José Marques da Cruz: "A sua poesia 'O Navio Negreiro' foi decorada por muitos, tendo concorrido para a abolição da escravidão, intensamente, pois foi recitada em todos os teatros e salões (...) Foi abolicionista (antes de haver o partido abolicionista) e republicano". Em 1882 foi publicada no Rio de Janeiro uma paródia a "O Navio Negreiro", com o título de "A Canoa do Martinho", parte de "Sátiras Políticas" e de autoria anônima (guardava a assinatura de "Musset", um dos escritores de predileção de Castro Alves).
Na sua obra épica de 1950, Canto Geral, o chileno Pablo Neruda inseriu o poeta entre os libertadores da América, no poema "Castro Alves do Brasil" (IV Canto, poema 29.º), onde afirma que ele fora o "poeta da nossa América" por haver dado aos escravos uma voz onde "…em portas até então fechadas (…) combatendo, a liberdade entrasse" e, finalmente, encerra com os versos: "deixa-me a mim, poeta da nossa América, /coroar a tua cabeça com os louros do povo. /Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens. /Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar".
Jorge Amado refletiu o poeta não apenas na sua obra A.B.C. de Castro Alves, mas também em sua única peça teatral O Amor do Soldado. Nesta obra de 1947, o poeta é o protagonista em seu amor por Eugênia Câmara, começando em 1866 a narrativa que, nas suas dezenove cenas, apresenta vários dos personagens históricos como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Tobias Barreto, Antônio Borges da Fonseca e Fagundes Varela, além do próprio Amado, que aparece em intervenções para explicar o contexto histórico; nesta obra Amado procura mostrar a relevância da produção de Castro Alves nas lutas sociais de seu tempo: abolição e república.
Sua aceitação popular o fez dos poetas mais conhecidos do país, nomeando logradouros públicos, estabelecimentos de ensino e culturais, associações e até empresas comerciais; também apareceu em marca de cigarro e de fósforos; artistas como o paulista Benedito Irivaldo de Souza, conhecido como Vado, em São Paulo realizou mais de cinco mil apresentações teatralizadas de "O Navio Negreiro", que levava a escolas e teatros daquele estado.
Não apenas leitores e artistas da elite o prezam, pois é uma constante na obra de autores populares como Rogaciano Leite, Bule-Bule ou Rodolfo Coelho Cavalcante, que dizia dele ser "o maior poeta do mundo em todos os tempos", além uma vasta gama de literatura de cordel versando sobre o poeta; o historiador e cordelista Franklin Maxado demonstrou que Alves fizera uso do Repente em suas disputas com Tobias Barreto – e que a influência do poeta na arte popular também foi recíproca.
No cinema
Castro Alves foi retratado como personagem no cinema, interpretado por Paulo Maurício no filme de ficção luso-brasileiro de 1949 Vendaval Maravilhoso (aka "Castro Alves — Um Vendaval Maravilhoso"), tendo a cantora Amália Rodrigues a interpretar a atriz Eugênia Câmara; a obra foi restaurada em 2003 pela Cinemateca Portuguesa; segundo informado no próprio filme a obra foi inspirada "na vida de Castro Alves — O Poeta dos Escravos. Este filme não é uma biografia, apenas os autores estudaram nos grandes biógrafos do poeta: Afrânio Peixoto, Pedro Calmon, Jorge Amado e Lopes Rodrigues". O diretor Leitão de Barros também escreveu um livro que conta a história do filme, intitulado "Como eu vi Castro Alves e Eugênia Câmara no vendaval maravilhoso de suas vidas" sobre aquele "rapaz eloquente de Muritiba” e sua amante portuguesa. Em 1999 o poeta foi interpretado pelo ator Bruno Garcia no filme Castro Alves - Retrato Falado do Poeta, onde ele é retratado nas suas lutas pela República e pela Abolição, "além de mostrar seu lado apaixonado e até mulherengo".
Ligações externas
Obras completas do biografado
Ligações externas
, por Ruy Barbosa, por ocasião do décimo ano de sua morte.
Espumas fluctuantes: poeias, Bahia, 1870, na Biblioteca Nacional de Portugal
Naturais de Cachoeira (Bahia)
Naturais de Castro Alves (Bahia)
Naturais de Muritiba
Naturais de São Félix (Bahia)
Cabaceiras do Paraguaçu
Patronos da Academia Brasileira de Letras
Escritores da Bahia
Escritores românticos do Brasil
Abolicionistas do Brasil
Poetas da Bahia
Maçons do Brasil
Alunos do Ginásio Baiano
Alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco
Alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Brasileiros amputados
Mortes por tuberculose na Bahia
Mortes por tuberculose no século XIX
Sepultados no Cemitério do Campo Santo | 129,864 |
615 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Casimiro%20de%20Abreu | Casimiro de Abreu | Casimiro José Marques de Abreu (Barra de São João, — Nova Friburgo, ) foi um poeta brasileiro da segunda geração do romantismo.
Vida e obra
Filho do fazendeiro português José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira de Barra de São João, viúva do primeiro casamento. Com José Joaquim ela teve três filhos, embora nunca tenham sido oficialmente casados. Casimiro nasceu na Fazenda da Prata, localizada na Serra do Macaé anteriormente localizada no território de Nova Friburgo hoje em Casimiro de Abreu, propriedade herdada por sua mãe em decorrência da morte do seu primeiro marido, de quem não teve filhos.
A localidade onde viveu parte de sua vida, Barra de São João, era ao tempo território de Macaé e hoje distrito do município que leva seu nome, e também chamado "Casimiro de Abreu", foi batizado na igreja da localidade por isso a homenagem. Recebeu apenas a instrução primária no Instituto Freese, dos onze aos treze anos, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do Rio de Janeiro, e para onde convergiam, à época, os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos.
Aos treze anos transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal em 1853, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. O seu sentimento nativista e as saudades da família escreve: "estando a minha casa à hora da refeição, pareceu-me escutar risadas infantis da minha mana pequena. As lágrimas brotavam e fiz os primeiros versos de minha vida, que teve o título de Ave Maria".
Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jau em 1856, que foi publicado logo depois.
Seus versos mais famosos do poema Meus oito anos:
Em 1857 retornou ao Brasil para trabalhar no armazém de seu pai. Isso, no entanto, não o afastou da vida boêmia. Escreveu para alguns jornais e fez amizade com Machado de Assis. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título de Primaveras.
Tuberculoso, retirou-se para a fazenda de seu pai, Indaiaçu, hoje sede do município que recebeu o nome do poeta, onde inutilmente buscou uma recuperação do estado de saúde, vindo ali a falecer. Foi sepultado conforme seu desejo em Barra de São João, estando sua lápide no cemitério da secular Capela de São João Batista, junto ao túmulo de seu pai.
Espontâneo e ingênuo, de linguagem simples, tornou-se um dos poetas mais populares do Romantismo no Brasil. Seu sucesso literário, no entanto, deu-se somente depois de sua morte, com numerosas edições de seus poemas, tanto no Brasil, quanto em Portugal. Deixou uma obra cujos temas abordavam a casa paterna, a saudade da terra natal, e o amor (mas este tratado sem a complexidade e a profundidade tão caras a outros poetas românticos). A despeito da popularidade alcançada pelos livros do poeta, sua mãe, e herdeira necessária, morreu em 1859 na mais absoluta pobreza, não tendo recebido nada em termos de direitos autorais, fossem do Brasil, fossem de Portugal.
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas O Panorama (1837-1868) e A illustração luso-brasileira (1856-1859).
É o patrono da cadeira número seis da Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis.
Obras de Casimiro de Abreu
Fora da Pátria, prosa, (1855)
Minha Mãe, poesia, (1855)
Rosa Murcha, poesia, (1855)
Saudades, poesia, (1856)
Suspiros, poesia, (1856)
Camões e o Jau, teatro, (1856)
Meus Oito Anos, poesia, (1857)
Longe do Lar, prosa, (1858)
Treze Cantos, poesia, (1858)
Folha Negra, poesia, (1858)
Primaveras, poesias, (1859)
Poesias e prosas
As Primaveras, poesias, prosas e textos de outros sobre o autor então recentemente falecido (1860)
Prosa
Carolina, romance, (1856)
A Cabana (1858)
A Virgem Loura, prosa poética
Teatro
Camões e o Jau (1857)
Ver também
Casimiro de Abreu (município do Rio de Janeiro)
Casimiro de Abreu
Patronos da Academia Brasileira de Letras
Poetas do estado do Rio de Janeiro
Brasileiros de ascendência portuguesa
Escritores românticos do Brasil
Mortes por tuberculose no estado do Rio de Janeiro
Naturais de Silva Jardim
Brasileiros do século XIX
Mortes por tuberculose no século XIX | 33,013 |
616 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Canoniza%C3%A7%C3%A3o | Canonização | Canonização pode-se dizer que é o termo utilizado pela Igreja Católica e que diz respeito ao ato de atribuir o estatuto de Santo a alguém que já era Beato e sujeito à beatificação. É um assunto sério e um processo complexo dentro da Igreja, a ponto de só poder ser tratada pela Santa Sé em si, por uma comissão de altos membros e com a aprovação final do Papa. Canonização é a confirmação final da Santa Sé para que um Beato seja declarado Santo. Só o Papa tem a autoridade de conceder o estatuto de Santo.
O Código de Direito Canônico da Igreja, no seu cânon 1186 estabelece: "Para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração peculiar e filial dos fiéis a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, que Jesus Cristo constituiu Mãe de todos os homens, e promove o verdadeiro e autêntico culto dos outros Santos, com cujo exemplo os fiéis se edificam e de cuja intercessão se valem."; e, ainda no artigo 1187: "Só é lícito venerar com culto público os servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos Santos ou Beatos."
Documentos importantes
Em 1234, o Papa Gregório IX, declarou que a canonização seria atribuição exclusiva do Papa.
Em 22 de Janeiro de 1588, foi publicada a Constituição Apostólica "Immensa Aeterni Dei", pelo Papa Sixto V, que criou a Sagrada Congregação dos Ritos e lhe confiou a tarefa de regular o exercício do culto divino e de estudar as causas dos Santos. Depois disso, os processos de reconhecimento tornaram-se mais demorados e as exigências mais rigorosas.
Em 1634, o Papa Urbano VIII, proibiu qualquer manifestação popular de culto e veneração de candidatos a santo sem a sua beatificação.
No dia de 26 de Agosto de 1913, o Papa Pio X, pediu a reunião e o estudo de todos os documentos históricos relativos às causas dos santos.
No dia 6 de Fevereiro de 1930, o Papa Pio XI publicou o Motu Proprio denominado: "Já há algum tempo", que instituiu na Congregação dos Ritos a "Secção histórica", que daria origem ao Departamento histórico-hagiográfico.
No dia 8 de Maio de 1969, o Papa Paulo VI, publicou a Constituição Apostólica "Sacra Rituum Congregatio", que dividiu a Congregação dos Ritos em duas:
a Congregação para o Culto Divino; e
a Congregação para as Causas dos Santos.
A Congregação para as Causas dos Santos passou a ter a sua própria estrutura, organizada em três departamentos: o Judicial, o do Promotor Geral da Fé e o histórico-jurídico.
No dia 25 de Janeiro de 1983, foi publicada a Constituição Apostólica "Divinus perfectionis magister", pelo Papa João Paulo II, que, no dia 7 de Fevereiro de 1983, publicou as "Normae servandae in inquisitionibus ab episcopis faciendis in causis sanctorum", que trouxeram uma profunda reforma no procedimento das causas de canonização e a reestruturação da Congregação, dotando-a de um Colégio de Relatores, encarregado de cuidar da preparação das "Positiones super vita et virtutibus (ou super martyrio)" dos Servos de Deus.
Essa reforma simplificou os processos de canonização, como resultado, João Paulo II foi o papa que mais beatificou e canonizou na história da igreja. Entre 1588, data de criação da Congregação dos Ritos, e 1978, foram realizadas 808 beatificações e 296 canonizações. No período de João Paulo II, foram 147 cerimônias de beatificação, que resultaram proclamação de 1.338 beatos, e 51 cerimônias de canonização, com a proclamação de 482 santos.
Em 28 de junho de 1988, foi publicada a Constituição Apostólica "Pastor Bonus", também pelo Papa João Paulo II.
A Constituição Apostólica Divinus perfectionis Magister (1983), de João Paulo II, estabeleceu de uma vez as normas para a instrução das causas de canonização e para o trabalho da Congregação para as Causas dos Santos. Nela é afirmado: "A Sé Apostólica, (…) propõe homens e mulheres que sobressaem pelo fulgor da caridade e de outras virtudes evangélicas para que sejam venerados e invocados, declarando-os Santos e Santas em ato solene de canonização, depois de ter realizado as oportunas investigações."
Em 18 de fevereiro de 2008 a Santa Sé torna público a instrução "Sanctorum Mater" (1983) da Congregação para a Causa dos Santos sobre as normas que regulam o início das causas de beatificação juntamente com o "Index ac status causarum".
A Instrução se divide em seis partes:
Primeira: diz da necessidade de uma autêntica fama de santidade para se dar início ao processo e se explicam as figuras e tarefas do autor do postulador e do bispo competente para a causa;
Segunda: nela é descrita a fase preliminar da causa que chega até à concessão do "nulla osta" da Congregação para as Causas dos Santos;
Terceira: diz da celebração da causa;
Quarta: trata das modalidades para se recolher as provas documentais;
Quinta: cuida das provas testemunhais;
Sexta: são indicados os procedimentos para os atos conclusivos da instrução diocesana.
Procedimento resumido
Segundo a Constituição Divinus perfectionis Magister e a instrução Sanctorum Mater, ao bispo diocesano ou autoridade da hierarquia a ele equiparada, de iniciativa própria ou a pedido de fiéis, é a quem compete investigar sobre a vida, virtudes ou martírio e fama de santidade e milagres atribuídos e, se considerar necessário, a antiguidade do culto da pessoa cuja canonização é pedida. Nesta fase a pessoa investigada recebe o tratamento de "Servo de Deus" se é admitido o início do processo.
Haverá um postulador que deverá recolher informações pormenorizadas sobre a vida do Servo de Deus e informar-se sobre as razões que pareceriam favorecer a promoção da causa da canonização. Os escritos que tenham sido publicados devem ser examinados por teólogos censores, nada havendo neles contra a fé e aos bons costumes, passa-se ao exame dos escritos inéditos e de todos os documentos que de alguma forma se refiram à causa. Se ainda assim o bispo considerar que se pode ir em frente, providenciará o interrogatório das testemunhas apresentadas pelo postulador e de outras que achar necessário.
Em separado se faz o exame do eventual martírio e o das virtudes, que o servo de Deus deverá ter praticado em grau heroico (fé, esperança e caridade; prudência, temperança, justiça, fortaleza e outras) e o exame dos milagres a ele atribuídos. Concluídos estes trabalhos tudo é enviado a Roma para a Congregação da Causa dos Santos.
Para tratar das causas dos santos existem, na Congregação para a Causa dos Santos, consultores procedentes de diversas nações, uns peritos em história e outros em teologia, sobretudo espiritual, há também um Conselho de médicos. Reconhecida a prática das virtudes em grau heroico o decreto que o faz declara o Servo de Deus "Venerável".
Havendo apresentação de milagre este é examinado numa reunião de peritos e se se trata de curas pelo Conselho de médicos, depois é submetido a um Congresso especial de teólogos e por fim à Congregação dos cardeais e bispos. O parecer final destes é comunicado ao Papa, a quem compete o direito de decretar o culto público eclesiástico que se há de tributar aos Servos de Deus. A Beatificação portanto, só pode ocorrer após o decreto das virtudes heroicas e da verificação de um milagre atribuído à intercessão daquele Venerável.
O milagre deve ser uma cura inexplicável à luz da ciência e da medicina, consultando inclusive médicos ou cientistas de outras religiões e ateus. Deve ser uma cura perfeita, duradoura e que ocorra rapidamente, em geral de um a dois dias. Comprovado o milagre é expedido um decreto, a partir do qual pode ser marcada a cerimônia de beatificação, que pode ser presidida pelo Papa ou por algum bispo ou cardeal delegado por ele.
Caso a pessoa em causa já tenha o estatuto de beato e seja comprovado mais um milagre pela Igreja Católica, em missa solene o Santo Padre ou um Cardeal por ele delegado declarará aquela pessoa como Santa e digna de ser levada aos altares e receber a mesma veneração em todo o mundo, concluindo assim o processo de Canonização.
Ver também
Lista de santos
Santidade
Beatificação
Ligações externas
Instrução Sanctorum Mater
Canonização
Festividades de santos
Hagiografia
Termos cristãos | 42,001 |
617 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Chefe%20de%20Estado | Chefe de Estado | Um chefe de Estado é a pessoa pública que oficialmente representa a unidade nacional e a legitimidade de um Estado soberano. Numa monarquia, o monarca é geralmente entendido como sendo o chefe de Estado. Numa república, o chefe de Estado hoje em dia geralmente tem o título de presidente, mas alguns têm ou tiveram outros títulos.
Em um sistema parlamentar, como a Índia e o Paquistão, o chefe de estado geralmente tem poderes cerimoniais, com um chefe de governo separado. No entanto, em alguns sistemas parlamentares, como a África do Sul, há um presidente executivo que é chefe de estado e de governo. Da mesma forma, em alguns sistemas parlamentares, o chefe de estado não é o chefe de governo, mas ainda tem poderes significativos, por exemplo, Marrocos. Em contraste, um sistema semi-presidencialista, como o da França, tem chefes de estado e de governo como líderes de fato da nação (na prática, eles dividem a liderança da nação entre si). Enquanto isso, em sistemas presidencialistas como os dos Estados Unidos, o chefe de estado também é o chefe de governo.
O ex-presidente francês Charles de Gaulle, ao elaborar a atual Constituição da França (1958), disse que o chefe de Estado deveria incorporar l'esprit de la nation, ou, o "espírito da nação".
Ver também
Lista de chefes de Estado
Lista de chefes de Estado e de governo que estão no poder
Lista de chefes de Estado e de governo por data da tomada de posse
Chefe de governo
Bibliografia
Direito constitucional
Monarquia
Posições de autoridade | 35,605 |
618 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio%20judaico | Calendário judaico | Calendário judaico ou hebraico (do hebraico: הלוח העברי) é o calendário utilizado dentro do judaísmo.
O calendário judaico é um calendário do tipo lunissolar cujos meses são baseados nos ciclos da lua enquanto o ano é adaptado regularmente de acordo com o ciclo solar, por isso, ele é composto alternadamente por anos de 12 ou 13 meses e pode ter de 353 a 385 dias.
O povo de Israel utiliza o calendário lunissolar há mais de 3 milênios para determinação das datas de aniversário, falecimento, casamento, festividades, serviços religiosos e outros eventos da comunidade.
Origem
De acordo com evidências arqueológicas, os hebreus adotaram o calendário lunar cananeu, provavelmente na Idade do Bronze ou no início da Idade do Ferro, com um ano composto de doze meses de trinta dias, com cinco ou seis dias intercalares, para sincronizar o ano com as estações. De acordo com A Bíblia Hebraica, ou Tanach, a contagem dos meses se dava a partir das fases da lua desde o Êxodo. O calendário de Gezer e inferências bíblicas indicam que os hebreus usavam meses lunares antes do cativeiro na Babilônia. O calendário religioso se iniciava no equinócio vernal, e o calendário civil, como no calendário egípcio, no equinócio de outono. O primeiro mês do calendário religioso e o sétimo do calendário civil era Abibe (Nissan).
Provavelmente o calendário lunissolar foi adotado pelos judeus a partir do calendário grego, antes dos judeus serem dominados pelos gregos. Neste calendário lunissolar, torna-se necessário o uso do mês intercalar, adicionado durante a estação da primavera.
Os meses no calendário judaico
Mês em hebraico - חודש, deriva do radical da palavra 'novo' חדש. Isto se dá porque o primeiro dia de cada mês é sempre o primeiro dia de lua nova. Isso é uma determinação encontrada na Torá (no livro de Shemot). Esta é uma regra lógica já que é a única fase da lua que pode ser determinada com precisão sem a necessidade de nenhum instrumento ou conhecimento maior de astronomia. No auge da lua nova, ela desaparece completamente e, no dia seguinte, vemos uma pequena listra branca ao olharmos para o ocidente poucos minutos após o pôr do sol - o que determina precisamente o primeiro dia do mês judaico.
Nos tempos bíblicos a determinação do começo do mês era realizada pela observação direta de testemunhas designadas para este fim, método seguido pelos caraítas até os dias de hoje, os quais determinam o primeiro mês do ano como Abibe. Hoje em dia segue-se um cálculo o qual já leva em conta outros parâmetros religiosos adicionados por rabinos da época do Talmud.
O ciclo lunar é de aproximadamente 29 dias e meio, o que gera uma alternação de meses com 29 ou 30 dias. A duração média de um mês hebreu é de 29.5305941358 dias, muito próximo ao mês sinódico (entre duas luas novas).
Os nomes dos meses judaicos
Início dos meses judaicos
Durante o século XXI da Era Cristã (calendário gregoriano), os meses judaicos começam no seguinte período:
Meses de Cheshvan e Kislev
No calendário judaico atual, os meses são fixados por um cálculo complexo que leva em conta mais uma série de fatores, como por exemplo, a determinação talmúdica de que o primeiro dia do ano não pode cair nem num domingo, nem numa quarta-feira nem numa sexta-feira - ou outras regras ligadas ao horário exato da lua nova. Para uma maior flexibilidade no calendário, foi determinado que os meses de Cheshvan e de Kislev, de acordo com o ajuste necessário para o começo do ano seguinte, podem ter ou 29 ou 30 dias.
Com base nesta determinação:
ambos meses terem somente 29 dias ocorre exclusivamente nos anos comuns deficientes (com 353 dias) e anos embolísticos deficientes (com 383 dias)
30 de Cheshvan ocorre exclusivamente nos anos comuns completos (com 355 dias) e anos embolísticos completos (com 385 dias)
30 de Kislev ocorre nos anos comuns regulares (com 354 dias), anos comuns completos (com 355 dias), anos embolísticos regulares (com 384 dias) e anos embolísticos completos (com 385 dias)
Anos
O ano judaico deve ser periodicamente ajustado ao ciclo solar devido à determinação da Torá de que o mês de Nissan deve cair sempre na primavera (de Israel-hemisfério norte), ou mais precisamente, de acordo com a determinação dos rabinos da época do Talmud - o equinócio da primavera tem que estar dentro do mês de Nissan. O ciclo de ajustes é de dezenove anos.
Para este ajuste, precisamos determinar a diferença de dias entre um ano solar (aproximadamente 365 dias e 6 horas) e o período de 12 meses lunares (aproximadamente 354 dias e 9 horas): ele equivale aproximadamente a 10 dias e 21 horas. Ou seja, a cada 2 ou 3 anos é necessário acrescentar um mês de 30 dias (Adar I). Isso gera dois tipos de anos:
Anos comuns
Os anos são classificados como comuns ou normais quando eles são formados por 12 meses.
Os anos comuns, devido a variação de dias dos meses de Cheshvan e Kislev, podem contar com 353, 354 ou 355 dias.
Anos embolísticos
Anos embolísticos ou longos têm uma duração de 383, 384 ou 385 dias Esses anos ocorrem sete vezes dentro de um ciclo de 19 anos, nos anos 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º e têm um mês a mais (a maioria dos estudiosos designam erroneamente Adar II como o mês complementar, na realidade, o mês complementar exato é Adar I).
Classificação dos anos judaicos conforme a quantidade de dias
As variações dos anos comuns ou normais (com 353, 354 ou 355 dias) e embolísticos ou longos (com 383, 384 ou 385 dias) são chamadas chaserah, kesidrah e shelemah, traduzindo respectivamente, deficiente, regular e completo.
353 dias: 5761, 5773, 5777, 5781, 5797, 5804, 5808, 5824, 5835, 5851, 5859
354 dias: 5762, 5766, 5769, 5772, 5775, 5778, 5786, 5789, 5792, 5796, 5799, 5802, 5813, 5816, 5819, 5823, 5826, 5829, 5840, 5843, 5846, 5849, 5853, 5856
355 dias: 5764, 5767, 5770, 5780, 5783, 5785, 5788, 5791, 5794, 5800, 5805, 5807, 5810, 5811, 5815, 5818, 5821, 5827, 5830, 5832, 5834, 5837, 5838, 5842, 5845, 5848, 5854, 5857
383 dias: 5765, 5768, 5784, 5790, 5793, 5801, 5812, 5817, 5820, 5828, 5831, 5839, 5844, 5847
384 dias: 5782, 5806, 5809, 5833, 5836, 5860
385 dias: 5763, 5771, 5774, 5776, 5779, 5787, 5795, 5798, 5803, 5814, 5822, 5825, 5841, 5850, 5852, 5858
A datação do ano atual e de anos anteriores/posteriores
Para o cálculo do ano judaico, basta acrescentar 3760 ao ano do calendário gregoriano. A partir do início do ano civil judaico, que ocorre entre setembro/outubro, acrescenta-se 3761 até 31 de dezembro deste mesmo ano.
Fórmula e exemplo:
ano (calendário gregoriano) + 3760 (a partir de 1º de janeiro até o término do ano civil judaico) ⇔ 2023 + 3760 = 5783
ano (calendário gregoriano) + 3761 (a partir do início do ano civil judaico até 31 de dezembro) ⇔ 2023 + 3761 = 5784
Cálculo do calendário
Para desenvolvermos um cálculo exato do calendário judaico devemos definir 3 características do ano requerido:
se este ano tem 12 ou 13 meses (chamaremos Shaná Meuberet o ano com 13 meses).
em que dia da semana cai o primeiro dia do ano, o Rosh Hashaná.
se os meses de Cheshvan e Kislev têm 29 ou 30 dias.
Shaná Meuberet
Para determinar se este ano é uma Shaná Meuberet (tem 13 meses), recorremos à tabela de 19 anos. Existe um ciclo de 19 anos onde 7 deles serão Shaná Meuberet: Neste ciclo os anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 terão 13 meses, enquanto os demais serão anos comuns com 12 meses.
O cálculo deste ciclo começa no início da contagem de anos judaica, que segundo a tradição judaica é o dia da criação do primeiro homem, Adão. Portanto no ano de 2012, por exemplo, o ano judaico é 5772 (3760 anos a mais que a contagem cristã), se dividirmos 5772 por 19 (o ciclo de anos mencionado anteriormente), receberemos 303 ciclos completos, e um resto de 15, o que indica que estamos no 15º ano do ciclo de Shaná Meuberet, ou seja, é um ano comum com 12 meses. Devemos prestar atenção no detalhe de que quando o número for divisível por 19, como por exemplo o ano de 5776 (2016 no calendário gregoriano), o resto será zero o que significa que estamos no 19º ano do ciclo e ele será de 13 meses segundo a tabela pré-estabelecida.
A necessidade destes 7 anos com 13 meses no ciclo de 19 anos provém do fato que o calendário judaico é um calendário lunissolar, ou seja, seus meses são fixados a partir do ciclo da lua (aproximadamente 29,53 dias), porém o ano deve ser ajustado regularmente a translação da Terra em torno do sol (aproximadamente 365,242 dias). A diferença entre um ano solar e 12 meses lunares é de aproximadamente 10.88 dias, em 19 anos está diferença será de aproximadamente 206 dias que equivale a 7 ciclos da lua.
A quantidade de anos de 13 meses que se passaram desde o início da contagem de anos judaica
Segundo nosso cálculo anterior, no ano de 2012, por exemplo, se passaram 303 ciclos de 19 anos, que somam um total de 2121 meses acrescentados, mais 5 meses deste atual ciclo. Ou seja, desde o princípio da contagem do calendário judaico se passaram 2126 meses acrescentados.
Este dado nos ajudará se quisermos reconstituir todo o calendário ou calcular o calendário de anos anteriores.
O total de ciclos da Lua passados desde o início da contagem judaica
Sabendo a quantidade de anos que se passaram desde o início da contagem do calendário judaico, por exemplo no dia 16 de setembro de 2012, se passaram exatos 5772 anos. Multiplicamos este número por 12 recebemos um resultado de 69264 meses. Somando os 2126 meses acrescentados obtemos 71390, que é a quantidade de meses desde o início da contagem judaica de anos até o final do ano de 5772.
Os anos novos
Ao longo do calendário judaico, são celebrados quatro vezes o começo de um ano novo, cada um com seu propósito. Eles podiam ser de ordem triburária, quando ainda existia o Templo de Jerusalém, religiosa, ou, somente histórico. São eles:
1º de Tishrei, o ano novo civil: ocorre no mesmo dia que Deus teria criado Adão.
15 de Shvat, ano novo das árvores: era o dia da contagem do dízimo das frutas. Apesar do dízimo não ser mais contado, esta festividade ainda é celebrada em Israel.
1º de Nissan, o ano novo religioso (ou eclesiástico): considera-se esta data como o marco zero do calendário judaico, pois foi nesse dia, no ano de 2448, que Deus ensinou Moisés como realizar a contagem dos dias e meses.
1º Elul, o ano novo do gado: não é celebrado desde a destruição do Templo e era relacionado a coleta de impostos.
O dia da semana que cai Rosh Hashaná
Lua nova (Molad)
princípio de cada mês judaico deveria ser no dia da lua nova, e assim era fixado o mês na antiguidade enquanto existia o tribunal central judaico (san'hedrin) no Templo de Jerusalém. Porém depois de começar a fixar o calendário somente pelo cálculo alguns fatores foram incluídos, como citaremos na continuação e, consequentemente, alguns meses podem começar no dia posterior à lua nova ou molad.
Antes da análise do cálculo do molad, vale a pena definir alguns conceitos: na tradição judaica, com origem no Talmud, a hora se divide em 1080 partes em lugar de dividi-las em minutos e segundos. Para facilitar o cálculo que necessitamos, usaremos esta divisão, pois o número 1080 é divisível por 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 e 10. O ciclo da Lua, como citamos anteriormente, é de 29,53 dias. Se fizermos o cálculo usando horas e 1080 partes de hora chegamos a conclusão que o ciclo da Lua é formado de 29 dias, 12 horas e 793 partes.
Com base nisso, o molad de cada mês será 1 dia da semana, 12 horas e 793 depois do molad do mês anterior. Por exemplo: Se o molad do mês de Tishrei do ano de 5768 caiu numa quarta-feira às 10 horas e 468 partes, o mês seguinte (Cheshvan) cairá numa quinta-feira às 23 horas e 181partes. Portanto se multiplicarmos este número por 12 receberemos: 12 dias da semana, 144 horas e 9516 partes, que ao simplificarmos reduzindo cada 1080 a 1 hora, cada 24 horas a 1 dia e desprezando cada 7 dias pois formam uma semana receberemos: 4 dias 8 horas 876 partes, para um ano de 12 meses e acrescentando o número de 1 dia, 12 horas e 793 partes, receberemos: 5 dias, 21 horas e 589 partes para um ano de 13 meses. Por exemplo: sabendo o molad do ano de 5768, como citamos anteriormente, e somando 5 dias, 21 horas e 589 partes (pois este ano tinha 13 meses), receberemos um resultado de: terça-feira, 7 horas e 1057 partes. Este é o dia da semana e o horário exato da lua nova, molad, do ano de 5769.
Portanto com base nos cálculos que fizemos podemos determinar o molad de qualquer ano - podemos calcular a partir do início da contagem, ou a partir do molad de um ano conhecido.
Motivos para adiar por um dia Rosh Hashaná em relação ao molad
Existem basicamente dois motivos pelos quais se adia Rosh Hashaná:
Os sábios da época da Mishná determinaram por diferentes motivos que Rosh Hashaná não deveria cair no domingo, nem na quarta-feira e nem na sexta-feira.
Quando o molad cai depois de 3 quartos do dia, ou seja depois de 18 horas, Rosh Hashaná é adiado.
Por exemplo, vimos que o molad do ano de 5768 era na quarta-feira às 10 horas e 468 partes, ele não entra na segunda regra, mas entra na primeira - portanto Rosh Hashaná neste ano caiu na quinta-feira. Para isso teve-se que acrescentar 1 dia no ano anterior, o que é feito no mês de Cheshvan, ou seja no ano de 5767 tanto o mês de Cheshvan quanto o de Kislev tiveram 30 dias. E este dia foi descontado do ano de 5768 no mês de Kislev, ou seja, neste ano tanto o mês de Cheshvan quanto o de Kislev tiveram 29 dias.
Resumo
Com os cálculos que fizemos podemos definir se:
o ano que buscamos tem ou não um mês complementar
Cheshvan e Kislev têm ambos 29 ou 30 dias
Cheshvan e Kislev são distintos com 29 e 30 dias respectivamente
Assim sendo, podemos determinar se este ano é comum (com 353, 354 ou 355 dias) ou embolístico (com 383, 384 ou 385 dias) e construir um calendário completo.
Os dias no calendário judaico
Os dias, em conformidade com os relatos da Criação em Gênesis, começam após o pôr do sol e terminam ao pôr do sol.
Exemplo:
10 de Adar de 5767
O calendário judaico apresenta esta data em sua totalidade, 10 de Adar de 5767, e os judeus têm em mente que sua duração é após o pôr do sol até ao pôr do sol.
Um calendário comparativo judaico/gregoriano simples apresenta esta data da seguinte forma: 10 de Adar de 5767 ⇔ 28 de fevereiro de 2007.
Por questão de praticidade, um calendário comparativo simples leva em conta somente o dia de sua maior duração (período da meia-noite ao pôr do sol). Há diversos calendários e sites especializados que indicam a hora do pôr do sol e outras informações mais detalhadas.
Com base nas informações apresentadas, vemos que 10 de Adar de 5767, quando comparado com o calendário gregoriano, começou exatamente após o pôr do sol de 27 de fevereiro de 2007 e terminou no pôr do sol do dia 28 de fevereiro de 2007.
Os dias da semana
Ver também
Festividades judaicas
Ligações externas
Calendário hebraico perpétuo
Calendário judaico detalhes dos pontos de vista de diversas ramificações sobre a história do Calendário hebraico.
Calendário judaico - uma explanação científica no site da NASA.
Site Caraíta em Espanhol- com informações sobre Calendário baseado em Abib.
Conversor de datas para vários calendários, incluindo este | 246,876 |
620 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Sport%20Club%20Corinthians%20Paulista | Sport Club Corinthians Paulista | O Sport Club Corinthians Paulista, comumente referido como Corinthians, é um clube poliesportivo brasileiro da cidade de São Paulo, capital do estado de São Paulo. Foi fundado como uma equipe de futebol no dia 1 de setembro de 1910 por um grupo de operários do bairro Bom Retiro. Seu nome foi inspirado no Corinthian Football Club de Londres, que excursionava pelo Brasil.
Embora tenha atuado em outras modalidades esportivas ao longo dos anos, seu reconhecimento e suas principais conquistas foram alcançados no futebol. O clube é um dos mais bem sucedidos do Brasil e das Américas nos últimos anos. É o terceiro maior campeão nacional, com onze conquistas, ficando atrás somente do (17 conquistas) e (14 conquistas). Conquistou dois Mundiais de Clubes da FIFA, uma Copa Libertadores da América de forma invicta, uma Recopa Sul-Americana, sete Campeonatos Brasileiros, três Copas do Brasil, uma Supercopa do Brasil, cinco Torneios Rio-São Paulo (recordista, ao lado de Palmeiras e Santos), 30 Campeonatos Paulistas (atual recordista) e uma Copa Bandeirantes (único vencedor).
Suas cores tradicionais são o branco e o preto. Desde 2014, manda suas partidas de futebol na Neo Química Arena. Seus rivais históricos são o Palmeiras, com quem disputa o Derby Paulista; o São Paulo, com quem disputa o Majestoso; e o Santos, com quem disputa o Clássico Alvinegro. Sua torcida é conhecida como "Fiel" e seus torcedores são estimados em aproximadamente 30 milhões espalhados por todo o Brasil e pelo mundo, atrás nacionalmente somente do carioca Flamengo. a sua torcida é considerada também uma das maiores torcidas do mundo.
De modalidades esportivas importantes ao longo da história corintiana, destacam-se o basquete, onde o clube desfrutou de relativo sucesso, especialmente durante as décadas de 1950 e 1960, com a conquista de títulos paulistas, brasileiros e até sul-americanos, a natação que rendeu quatro conquistas do Troféu Brasil de Natação, atual Troféu Maria Lenk, e o futsal, a partir da década de 1970, que rendeu conquistas em torneios estaduais e nacionais. A influência do remo na história do clube modificou o escudo original, que aludia meramente ao futebol, com o acréscimo do par de remos e da âncora como aparecem até os dias de hoje.
História
Fundação (1910-1912)
Em 1 de setembro de 1910, um grupo de cinco operários (Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira, Rafael Perrone, Anselmo Correa e Carlos Silva) do bairro paulistano Bom Retiro, sob a luz de um lampião, às oito e meia da noite, decidiram criar um novo time de futebol, além de mais oito pessoas que contribuíram com 20 mil réis e também foram considerados sócios-fundadores. A ideia surgiu depois de assistirem à atuação do Corinthian FC, equipe inglesa de futebol fundada em 1882, que excursionava pelo Brasil. Os ingleses eram chamados pela imprensa da época de "Corinthian's Team", mas o time brasileiro só seria batizado "Sport Club Corinthians Paulista" depois de muita discussão e algumas reuniões. O presidente escolhido por eles foi o alfaiate Miguel Battaglia, que já no primeiro momento afirmou, "O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time". Da primeira arrecadação de recursos à compra da primeira bola de futebol do clube pouco tempo se passou, na verdade, apenas uma semana. Um terreno alugado na Rua José Paulino foi aplainado e virou campo, e foi lá que, já no dia 14 de setembro, o primeiro treino foi realizado diante de uma plateia entusiasmada que garantiu: "Este veio para ficar". De partida em partida o time foi se tornando famoso, mas era ainda um time de várzea.
Primeiros títulos (1913-1919)
Em 1913, uma dissidência entre três clubes que disputavam o Campeonato Paulista abriu a oportunidade para que clubes de origem popular, conhecidos à época como "varzeanos", disputassem a competição organizada pela LPF, e o Corinthians ganhou o direito de disputar pela primeira vez essa competição após vencer uma seletiva contra o Minas Gerais, representante do bairro do Brás, e o FC São Paulo, do bairro do Bixiga.
A estreia corintiana no Campeonato Paulista foi contra o Germânia, no dia 20 de abril de 1913, em duelo que terminou com vitória adversária, pelo placar de 3–1. Nos quatro jogos seguintes, foram três derrotas (para Internacional, Americano e Santos) e um empate (Ypiranga). A primeira vitória ocorreu no dia 7 de setembro, um 2–0 contra o Germânia. Nas três partidas seguintes, mais três empates (com Internacional, Ypiranga e Americano). Ao final do Paulista de 1913, o Corinthians terminou na quarta colocação, com seis pontos ganhos (uma vitória, quatro empates e três derrotas, oito gols a favor e 16 contra). De positivo, o time revelaria dois futuros ídolos: Neco e Amílcar.
A temporada seguinte seria marcante para a história corintiana. Com apenas quatro anos de existência, o time conquistou seu primeiro título, o Campeonato Paulista de 1914 (organizado pela LPF). O Corinthians sagrou-se campeão de forma invicta, com 10 vitórias em 10 partidas, 37 gols marcados e 9 gols sofridos. Com 12 gols, Neco foi o artilheiro da competição. A equipe que conquistou o primeiro título da história corintiana era formada por: Aristides, Fúlvio e Casemiro González; Police, Bianco e César Nunes; Américo, Peres, Amílcar, Apparício e Neco. Ainda naquele ano, o Corinthians realizou sua primeira partida contra uma equipe estrangeira, o Torino. Os italianos venceram por 3–0.
Duas décadas vitoriosas (1920-1940)
Nas décadas de 1920 e 1930, o Corinthians firmou-se como uma das equipes mais importantes de São Paulo, rivalizando com o Clube Atlético Paulistano e a Societá Sportiva Palestra Itália (futuro SE Palmeiras). No período, o clube arrematou nove títulos paulistas (sendo três tricampeonatos, feito jamais alcançado por outro clube paulista). Além de Neco, que jogou no clube até 1930, Rato, Del Debbio, Tuffy, Grané, Teleco, Brandão, e Servílio de Jesus despontaram como grandes ídolos do clube no período.
Tempos de jejum (1941-1950)
Em 1941, o Corinthians novamente conquistou o Campeonato Paulista. O título só não foi de maneira invicta por conta de uma derrota, na última rodada, contra o Palestra Itália. O time era ótimo, e a linha média — Jango, Brandão e Dino — impecável. A festa do título corintiano foi realizada no recém-inaugurado estádio do Pacaembu.
Contudo, nos nove anos seguintes, o Corinthians viveu um jejum de títulos paulistas. Sem conquistas estaduais, o clube do Parque São Jorge consolou-se em levar por quatro vezes a Taça São Paulo (em 1942, 1943, 1947 e 1948) - torneio que reunia os três primeiros colocados do ano anterior. Sem ter a disposição seu poderio técnico dos últimos cinco anos, o Corinthians foi vice-campeão paulista cinco vezes, sendo três delas seguidas, entre 1942 e 1950, numa época de ascensão do São Paulo, liderado pelo atacante Leônidas da Silva, como nova força no futebol paulista.
Mesmo com a contratação de nomes de peso no futebol nacional, como a do zagueiro Domingos da Guia, aos 32 anos, em 1944, ou dos atacantes Milani e Hércules em anos seguintes, o Corinthians amargaria quase uma década sem conquistas importantes. A situação só começaria a mudar a partir de 1949, quando uma nova geração de pratas-da-casa foi conduzida pelo técnico Rato (o mesmo Rato campeão como jogador na década de 1920) ao time principal. Os frutos seriam colhidos na primeira metade da década seguinte.
Era de Ouro (1951-1960)
Após um período sem grandes êxitos futebolísticos, o clube renovou sua equipe para a década de 1950. Jovens formados nas "categorias de base" do Corinthians, como Luizinho, Cabeção, Roberto Belangero e Idário, juntaram-se a jogadores como Baltazar, Carbone, Cláudio e Gilmar, formando um dos melhores times da história corintiana e do Brasil. Essa equipe foi campeã do Campeonato Paulista (1951 e 1952), do Torneio Rio-São Paulo (1950, 1952 e 1953) e da Pequena Taça do Mundo de 1953.
Foi também com essa geração que o clube saiu do Brasil pela primeira vez em sua história, tendo vencido um amistoso no Uruguai contra um combinado local, por 4–1, em junho de 1951. No ano seguinte, o time excursionou pela primeira vez à Europa, com partidas amistosas na Turquia, Suécia, Dinamarca e Finlândia (o saldo foi de nove vitórias, um empate e uma derrota). Sendo vice Campeão Mundial ao perder na final para o Fluminense na Copa Rio Internacional.1953, o time deixou a disputa do Campeonato Paulista daquele ano, preparando-se para o torneio do ano seguinte, que celebraria o "IV Centenário da Fundação" da cidade de São Paulo. Naquele ano, o clube disputou a Pequena Taça do Mundo, que acabou sendo campeão.
Em 1954, o Campeonato Paulista daquela temporada despertou grande interesse em todos os clubes e torcedores, porque comemorava o "IV Centenário da Fundação" da cidade de São Paulo. Para a época, era considerado o título paulista mais importante da história. Um empate contra o Palmeiras garantiu a conquista de um dos títulos mais importantes da história alvinegra, que coroou a geração vitoriosa dos anos cinquenta. A década de 1950 ainda marcou internacionalmente o clube. Entre 1951 e 1959, o Corinthians disputou 64 partidas contra equipes estrangeiras, com 47 vitórias, dez empates e apenas sete derrotas. Ficou invicto por 32 jogos, de 1952 e 1954.
No final da década de 1950, assumiu a presidência do clube por voto direto dos associados Vicente Matheus, que comandou o Corinthians durante oito mandatos.
Um incômodo jejum e a era Rivellino (1961-1975)
No Campeonato Paulista de 1961, o time fez uma campanha tão pífia que foi apelidado por torcedores rivais de "Faz-Me-Rir". O clube apostou na contratação de craques que chegavam ao Parque São Jorge como "salvadores da pátria", mas que acabaram não vingando no time (como Almir Pernambuquinho em 1960 e Mané Garrincha em 1966). Mas aquela década também marcava o surgimento de Roberto Rivellino, "O Reizinho do Parque". Embora tenha vencido apenas um grande título pelo Timão (o Torneio Rio-São Paulo de 1966), é considerado o maior jogador da história corintiana.
Em 1966, na tentativa de acabar com o "jejum" de títulos no Campeonato Paulista, a diretoria corintiana contratou o zagueiro Ditão e o volante Nair, que vieram da Associação Portuguesa de Desportos, além do atacante Garrincha, que chegou ao Parque São Jorge com 32 anos de idade. Na época, a verba destinada ao departamento de futebol foi recorde e o jornal "A Gazeta Esportiva" passou a tratar o time como o "Timão do Corinthians", e assim nasceu o apelido que acompanha o clube até hoje. Ainda no final da década, o Corinthians venceria o Santos, após quase 11 anos sem vitórias sobre a equipe de Pelé em edições do Campeonato Paulista. Paulo Borges e Flavio fizeram os gols dessa vitória corintiana.
Em 1970, depois de uma conturbada negociação com a Portuguesa, o Corinthians contratou o lateral Zé Maria. O jogador havia sido campeão mundial com o Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1970, no México, na reserva de Carlos Alberto Torres. Para sair da fila, a diretoria corintiana trouxe nos anos seguintes nomes como Vaguinho (em 1971) e Geraldão, além de promover jogadores da base como Wladimir. Além da interminável fila de grandes conquistas, o Corinthians também não conseguia chegar, com frequência, a finais de grandes torneios. Ficou de 1957 a 1974 sem decidir o Campeonato Paulista. Em 1974, havia grande esperança de se quebrar o jejum na final estadual contra o Palmeiras. Mas o rival acabou vencendo os corintianos, o que precipitou a saída de Rivellino para o Fluminense.
A "Invasão corintiana" e o fim da angústia (1976-1980)
Corinthians e Rivellino acabariam encontrando-se na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, contra o Fluminense, em 5 de dezembro, naquela que é uma das partidas mais marcantes da história corintiana. Dezenas de milhares de torcedores alvinegros viajaram para o Rio de Janeiro para assistir o duelo no Estádio do Maracanã, que acabou dividido entre os corintianos e fluminenses. Aquele momento acabou conhecido como "A invasão corintiana ao Maracanã". A consagração daquele dia célebre para os corintianos veio como a vitória sobre o clube carioca nos pênaltis, após empate de 1–1 no tempo regulamentar. Na decisão do Brasileiro, o Internacional derrotou o Corinthians em Porto Alegre.
No começo de 1977, o presidente corintiano Vicente Matheus trouxe Palhinha, do Cruzeiro, por uma quantia recorde para a época: 7 milhões de cruzeiros. O jogador tornaria-se um dos ídolos da "Fiel" naquele período. Menos de um ano depois de "invadir" o Maracanã, o Corinthians viveria uma de suas noites mais inesquecíveis em 13 de outubro, com a conquista do Campeonato Paulista, que se tornou um dos títulos mais importantes da história corintiana, pois representava o fim de quase 23 anos sem ganhar competições oficiais. Na última das três partidas, contra a Associação Atlética Ponte Preta, o título veio com o gol de Basílio, no segundo tempo.
Para 1978, a diretoria do clube contratou Sócrates, que pertencia ao Botafogo de Ribeirão Preto e acabaria por ser considerado um dos maiores craques da história do alvinegro. Outro que chegava naquele ano ao clube e seria ídolo no Timão era Biro-Biro. Em 1979, o Corinthians voltaria a vencer o Campeonato Paulista contra a mesma Ponte Preta.
A Era da Democracia Corintiana (1981-1984)
No início de 1981, o presidente Vicente Matheus foi buscar pessoalmente na Arábia Saudita o meio-campo Zenon, que havia se destacado no Guarani Futebol Clube em temporadas anteriores e assumiria a camisa 10 do Corinthians, no lugar de Palhinha. Mas após não conseguir um bom desempenho no Campeonato Paulista daquele ano (que era classificatório para o Campeonato Brasileiro do ano seguinte), o clube teve de jogar a Taça de Prata, espécie de "segunda divisão" do Campeonato Brasileiro, em 1982.
Os resultados ruins em campo levaram a mudanças na diretoria com a saída de Vicente Matheus, e os jogadores passaram a ter papel ativo nas decisões do clube. Tudo era resolvido pelo voto, das contratações ao local de concentração. O período ficou marcado como a "Democracia corintiana". As mudanças surtiram efeito. Em 1982, quando liderados pelos ídolos Sócrates, Wladimir, Casagrande, Biro-Biro e Zenon, o clube conquistou o Campeonato Paulista em cima do São Paulo, que tentava o tricampeonato na competição. No ano seguinte, o Corinthians repetiria a final contra o rival e uma vez mais conquistaria o torneio. Ainda naquele ano, o Corinthians havia aplicado a maior goleada da história do Campeonato Brasileiro, um acachapante 10–1 sobre o Tiradentes, do Piauí, com quatro gols de Sócrates.
No ano seguinte, a equipe corintiana não conseguiu o seu quarto tricampeonato paulista, tendo perdido o título para o Santos. Já pelo Campeonato Brasileiro, o time do Parque São Jorge fez sua melhor campanha desde o vice-campeonato da edição de 1976 e chegou à semifinal. O plantel alvinegro foi eliminado pelo Fluminense, mas a campanha é também lembrada pela goleada por 4–1 sobre o Flamengo de Zico e companhia.
Aposta na base e primeiro título brasileiro (1985-1992)
Em 1985, já sem Sócrates em seu plantel e com o fim da Democracia Corintiana, a nova diretoria corintiana apostou na consolidação de uma grande equipe, com as contratações de De León, que deixou o Grêmio como o jogador mais caro do futebol brasileiro até então, Serginho Chulapa e Dunga, que se somavam a reforços do ano anterior, como Carlos, Édson e Juninho, contratados da Ponte Preta, e aos bem estabelecidos Wladimir, Biro-Biro, Zenon e Casagrande. O grande time, porém, só ficou no "papel": no Campeonato Brasileiro, o Timão foi eliminado antes das semifinais, e no Campeonato Paulista, a equipe ficou apenas em quinto lugar.
Nos anos seguintes, o clube renovou-se com um elenco de jogadores como o volante Wilson Mano, e o zagueiro Marcelo, além de apostar em jogadores formados nas categorias de base corintiana, como o goleiro Ronaldo, o volante Márcio Bittencourt e o atacante Viola. Assim, o Corinthians voltaria à conquista do Campeonato Paulista.
Em 1990, o Corinthians conquistaria um dos títulos mais importantes de sua história. Com uma equipe dirigida pelo técnico Nelsinho e liderada em campo por Neto (que se consagraria como grande ídolo corintiano), o clube faturou seu primeiro Campeonato Brasileiro, vencendo na decisão o São Paulo.
Em janeiro de 1991, o Corinthians ganhou a Supercopa do Brasil, tendo enfrentado o Flamengo, vencedor da Copa do Brasil de 1990, ganhando por 1 a 0, gol de Neto. No final do mesmo ano, Vicente Matheus deixava a presidência corintiana. Sua esposa, Marlene Matheus, assumiu o clube e ficaria no cargo até 1993.
Era Dualib, o período das parcerias (1993-2006)
Em 1993, em nova eleição, o presidente escolhido seria Alberto Dualib, e o clube conquistaria nos anos seguintes o Campeonato Paulista de 1995 e o seu primeiro título da Copa do Brasil, de forma invicta, cuja vaga conquistou após vencer a Copa Bandeirantes, no ano anterior. O meia-atacante Marcelinho Carioca foi um dos grandes destaques dessas conquistas e despontaria a partir dali como grande ídolo do clube.
A Era Dualib foi marcada por parcerias com grupos privados: Banco Excel (1997), Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated (de 1999 a 2001) e MSI (de 2005 a 2007), que levaram muitos recursos financeiros ao clube, conquistas e polêmicas. Entre grandes nomes que defenderam o clube, destacam-se Gamarra, Rincón, Vampeta, Edílson, Ricardinho, Kléber e Dida no elenco entre 1998 e 2000 e Carlitos Tevez, Mascherano e Nilmar no time de 2005 e 2006, entre outros nomes.
Já em relação a títulos, o clube conquistou mais três edições do Campeonato Brasileiro de Futebol (1998, 1999 e 2005), quatro do Campeonatos Paulistas (1997, 1999, 2001 e 2003), a Copa Bandeirantes (na sua única edição, em 1994), uma Copa do Brasil (em 2002), além do primeiro Campeonato Mundial de Clubes (em 2000), a maior conquista desse período. Primeiro torneio do gênero organizado pela FIFA, o Corinthians superou os rivais de chave Raja Casablanca, Real Madrid e Al Nassr, e venceu a final contra o Vasco da Gama, na disputa por penais, sagrando-se o primeiro campeão mundial pela FIFA.
Fim das parcerias, o rebaixamento e a volta por cima (2007-2010)
Em 2007, a MSI deixou o clube, juntamente com seus principais jogadores: Tevez, Mascherano, Roger e Gustavo Nery. Pressionado, Alberto Dualib, que ocupava a presidência corintiana havia mais de uma década, também deixou o cargo. Após eleição ainda naquele ano, Andrés Sanchez foi eleito o novo presidente. A saída do MSI criou-se um período de instabilidade, que culminou do clube para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Com investimentos em projetos de marketing, reformulação da equipe de futebol e comissão técnica (comandada por Mano Menezes), o Corinthians deu a volta por cima com o vice-campeonato da Copa do Brasil e o título da Série B, que garantiu a volta para a divisão principal do futebol do país.
No final daquele ano, a diretoria corintiana acertou a contratação de Ronaldo Fenômeno, que se tornou o principal atleta do elenco nas duas temporadas seguintes, marcado pelos títulos Paulista (invicto) e da Copa do Brasil de 2009, além do centenário do clube, em setembro de 2010, quando foi anunciada a construção de seu novo estádio, no bairro de Itaquera.
A conquista da América, o segundo Mundial e um novo estádio (2011-presente)
A temporada 2011 começou com uma eliminação precoce na Copa Libertadores da América, mas o clube se recuperou com um vice-campeonato no Campeonato Paulista e sua quinta conquista no Campeonato Brasileiro de 2011.
Com a manutenção do elenco base do título nacional, o Corinthians fez uma das mais importantes temporadas de sua história, ao se sagrar pela primeira vez campeão da Copa Libertadores - e de maneira invicta, vencendo o na final - e do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA pela segunda vez, com uma vitória contra o campeão europeu , com um gol de Paolo Guerrero.
Apesar da conquista do Campeonato Paulista e da Recopa Sul-Americana (ao bater o ), ganhando também o título honorífico da Tríplice Coroa Internacional de Futebol. O alvinegro não foi bem nos principais torneios da temporada 2013, sendo eliminado nas oitavas-de-final da Libertadores, nas quartas de final da Copa do Brasil e terminado apenas uma décima colocação no Campeonato Brasileiro. Ao final daquele ano, com a saída de Tite, Mano Menezes foi contratado como novo treinador e com a missão de reformular o elenco corintiano consagrado de 2012.
O grande acontecimento do ano de 2014 foi a inauguração do novo estádio de futebol alvinegro, construído no bairro de Itaquera, com uma partida entre Corinthians e pelo Campeonato Brasileiro. Logo depois, o estádio foi entregue a FIFA, onde foi palco da abertura da Copa do Mundo daquele ano e outros cinco duelos. O time encerrou a temporada sem títulos, tendo sido eliminado ainda na primeira fase do Paulista, nas quartas-de-final da Copa do Brasil e terminado em quarto lugar no Brasileiro.
Para a temporada de 2015, o técnico Tite retorna ao clube pela terceira vez. Inicia a preparação para a temporada disputando a primeira edição do torneio amistoso internacional Florida Cup, nos Estados Unidos. Destaque para a vitória por 2 a 1 sobre o clube alemão . No Campeonato Paulista foi eliminado nas semifinais, pela Copa Libertadores e Copa do Brasil ficou nas oitavas-de-finais. Já no Campeonato Brasileiro, sagrou-se campeão pela sexta vez.
No ano de 2016 o alvinegro iniciou a preparação da temporada disputado a segunda edição da Florida Cup, destaque para a vitória de 3 a 2 sobre a equipe ucraniana . Com o desmanche do elenco campeão brasileiro do ano anterior e a saída do técnico Tite para a Seleção Brasileira, foi eliminado nas semifinais do Campeonato Paulista, eliminado nas oitavas-de-finais da Copa Libertadores e nas quartas-de-finais da Copa do Brasil. No Campeonato Brasileiro ficou na sétima posição, cuja classificação assegurou vaga na Copa Sul-Americana do ano seguinte após dez anos de ausência na competição.
O ano de 2017 iniciou com um vice-campeonato no torneio amistoso internacional da Florida Cup. Ainda no primeiro semestre ficou na quarta fase da Copa do Brasil, além da 28° conquista do Campeonato Paulista. No segundo semestre ficou nas oitavas-de-finais na Copa Sul-Americana e encerrando o ano com a sétima conquista do Campeonato Brasileiro.
O ano de 2018 teve um feito histórico, com a 29° conquista do Campeonato Paulista, sobre o arquirrival Palmeiras, ainda mais na arena deles, depois de perder o primeiro na Neo Química Arena, o Coringão conseguiu reverter o placar por 1 a 0 e vencer a decisão nos pênaltis. Já o ano de 2019, reservou outra marca histórica, a 30° conquista do Campeonato Paulista, sobre o São Paulo, jogando em casa, depois de muito tempo o Corinthians conquistava novamente um tricampeoanto estadual.
Cores e símbolos
Uniforme
Oficialmente, a primeira camisa do Corinthians teria a cor bege, em homenagem ao time inglês homônimo. A camisa de 1910 tinha detalhes em preto nas mangas, barra e gola. Os calções eram brancos e feitos com sacos de farinha. Entretanto, para o jornalista Celso Unzelte, pesquisador da história do time, seria muito improvável que o clube, na época pobre e humilde, tivesse recursos financeiros para comprar uniformes que não fossem brancos, e mesmo a fotografia mais antiga do time, do Campeonato Paulista de 1913, mostra os jogadores vestindo camisas e calções brancos.
Incontroverso é o fato de que, a partir de 1920, o Corinthians passou a jogar com camisa branca e calção preto, quando a diretoria conseguiu dinheiro para comprá-los. Desde então, tornaram-se o uniforme oficial. A partir deste modelo, encontra-se registro das primeiras versões alternativas do uniforme, utilizadas em partidas específicas. Somente em 22 de dezembro de 1946 os atletas do clube entrariam em campo com camisas numeradas, em um amistoso contra o Club Atlético River Plate, no Estádio do Pacaembu. Em 1949, o clube usou uma camisa grená em um amistoso contra a Portuguesa de Desportos, como uma forma de prestar homenagem ao elenco do Torino Football Club da Itália, que foi vitimado em um acidente de avião contra a Basílica de Superga, em Turim.
No final de agosto de 2010, o Corinthians lançou no Parque São Jorge a camisa em comemoração ao centenário do clube, que foi utilizada como uniforme titular nas partidas em casa até o final do Campeonato Brasileiro daquele ano. A camisa remete ao suposto primeiro uniforme utilizado pelo Corinthians em 1910, com as camisetas na cor bege e no escudo as letras "CP", fazendo referência ao primeiro símbolo utilizado pelo clube.
Evolução dos uniformes
Escudo
Ao contrário da camisa, o escudo do Corinthians passou por várias alterações ao longo dos anos. Enquanto o time disputava apenas amistosos e torneios de futebol de várzea, a camisa não tinha distintivo. O primeiro foi criado às pressas para o jogo contra o Minas Gerais, válido pela eliminatória para a Liga Paulista de Foot-Ball de 1913, e levava apenas as letras "C" e "P" (de Corinthians e Paulista) enlaçadas. Esse escudo seria usado até o ano seguinte, quando Hermógenes Barbuy, litógrafo e irmão do jogador Amílcar, criou o primeiro escudo oficial, elaborando uma moldura para as letras e acrescentando o "S" (de Sport), que estreou no amistoso contra o Torino (Itália), em São Paulo.
Pouco tempo depois a moldura fica maior, e a partir de 1919 o distintivo começa a ganhar o formato atual, com a bandeira do Estado de São Paulo ao centro. Em 1937, o presidente Getúlio Vargas baixou o Estado Novo e fez uma cerimônia pública com a queima das bandeiras de todos os Estados da federação, pois queria um governo forte e centralizado. A bandeira paulista só sobreviveu dentro do escudo do Corinthians. Após a queda do regime, o uso de símbolos regionais foi liberado. Em 1939, o escudo ganhou uma boia rodeando o círculo, além de um par de remos e a âncora, em alusão ao sucesso do clube nos esportes náuticos. O desenho foi criado pelo pintor modernista Francisco Rebolo, que foi jogador do segundo quadro do Corinthians na década de 1920. Depois disso, o símbolo corintiano passou por pequenas alterações ao longo do tempo, como na bandeira e na moldura.
Pensando na modernização do distintivo, em 1980, o artista Orfeu Maia criou uma nova versão de nosso brasão que perdura até os dias atuais, substituindo a boia por uma corda e criando um designer gráfico fantástico.
Em 1990, foi adicionada a primeira estrela em referência ao primeiro título brasileiro. O mesmo foi feito com as conquistas de 1998, 1999 e 2005, além de uma estrela maior com contorno prateado posta acima das demais, em homenagem à conquista do Mundial da FIFA de 2000. Em 2011 a diretoria do Corinthians resolveu deixar de lado todas as estrelas do distintivo do clube, relevando a importância do seu próprio símbolo. Abaixo, a evolução dos escudos, desde a fundação até os dias atuais:
O mosqueteiro e São Jorge
O Corinthians adotou o "mosqueteiro" como seu mascote. Há duas versões sobre a origem do mascote corintiano. A primeira seria por conta do clube ter pleiteado uma vaga na Liga Paulista de Futebol em 1913, da qual apenas participavam Americano, Germânia e Internacional (como os personagens Athos, Porthos e Aramis, do romance "Os Três Mosqueteiros", escrito pelo francês Alexandre Dumas, em 1844). Como havia outros pretendentes à vaga, o Corinthians teve de disputar uma seletiva contra o Minas Gerais (do Brás) e o FC São Paulo (do Bixiga), outros dois grandes da várzea paulistana. Após ter vencido as duas equipes, o Corinthians garantiu o direito de disputar a Divisão Especial da Liga, ganhando da imprensa o apelido de D'Artagnan, o quarto mosqueteiro.
Uma segunda versão para a utilização do "mosqueteiro" como mascote corintiano surgiu em 1929, quando o Corinthians venceu o Barracas (Argentina), por 3–1. Foi a primeira vitória do clube paulista em partidas internacionais e que ganhou destaque nas páginas do jornal "A Gazeta", com o título dado pelo jornalista Tomás Mazzoni: "O Corinthians venceu com 'fibra de mosqueteiro'". Esta versão é adotada oficialmente pelo clube e pelos historiadores, como Celso Unzelte.
Além do mascote, o Corinthians tem bastante apego a São Jorge. Depois de comprar o campo do Parque São Jorge, em 1926, o Corinthians adotou o santo como seu padroeiro. O clube construiu uma capela em homenagem a São Jorge dentro de sua sede social.
Oração de São Jorge
Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge.
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem,
tendo mãos não me peguem,
tendo olhos não me enxerguem,
nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem ao meu corpo chegar,
cordas e correntes se quebrem sem ao meu corpo amarrar.
Recentemente, devido a torcida organizada e escola de samba ligada ao clube Gaviões da Fiel, o gavião também tornou-se um dos mascotes do time.
Patrocinadores
A partir da década de 1980, a publicidade estava liberada nas camisas de futebol, mas o Corinthians não conseguia encontrar patrocinadores. Era o período da Democracia Corintiana, e a camisa estampou nas costas a frase "Dia 15, vote!", embalado pelas eleições diretas para governador em 1982. Naquele mesmo ano, a empresa de material esportivo Topper exibia o seu logo no lado direito da camisa e, na final do Campeonato Paulista, contra o São Paulo, exibiu nas costas (como exigia a legislação da época) o patrocínio da Bombril. Em 1983, a Cofap foi a primeira marca a ocupar também a frente da camisa, a partir do Campeonato Paulista. Em 1984, para renovar o contrato do ídolo Sócrates, o clube contou com ajuda da empresa Corona, conseguindo assim mantê-lo e tendo que pintar, em troca, um chuveiro na parte frontal da camisa.
A partir de 1985, passou a ser patrocinado pela Kalunga, em acordo que perdurou até 1994. Desde então, o clube mudou de patrocínio constantemente. Na era Ronaldo, o clube manteve um contrato com o "Grupo Hypermarcas", além de ter vendido outros espaços da camisa para outras empresas. Atualmente, o banco estatal brasileiro Caixa é o principal patrocinador do clube, após ter fechado um acordo em novembro de 2012 para estampar sua logomarca até dezembro de 2014 além de ter a Nike como fornecedora de material esportivo até 2022.
Estrutura e patrimônio
Estádios
Neo Química Arena
Desde que o Parque São Jorge havia se tornado uma casa modesta demais para comportar o grande número de torcedores do Corinthians, sempre houve muitos projetos, mas nunca foram levados à frente.
Em 27 de agosto de 2010 foi anunciada a construção de um novo estádio com capacidade prevista para pessoas e um valor estimado em 350 milhões de reais. Seu projeto foi de autoria de Aníbal Coutinho. Localizado em uma propriedade de metros quadrados, a área construída é de 189 mil metros quadrados.
Construído pela Odebrecht entre 2011 e 2014, tinha previsão de custo inicial em 820 milhões de reais. Porém, seu preço final atingiu R$ 985 milhões, ressaltasse que nesta conta não estão incluídos os gastos com as arquibancadas móveis (custeadas pelo governo de São Paulo em parceria com a AmBev), as estruturas complementares da FIFA, que fizeram parte do projeto Copa do Mundo FIFA de 2014, e os gastos com pagamento de juros dos empréstimos bancários, ampliaram os custos para R$ 1,15 bilhão.
O estádio está localizado a 19 quilômetros a leste do centro da cidade e a 21 km de distância do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos. A estação de metrô mais próxima é a Corinthians-Itaquera, a 500 metros do estádio. Ela se conecta a uma estação de trem com o mesmo nome. A estação de metrô Artur Alvim está a 800 metros de distância. Se todos os usuários embarcaram em trens para deixar o estádio, ele estaria vazio em 30 minutos. Durante os jogos do Mundial de 2014, um trem expresso ligou a Luz e a Estação Corinthians-Itaquera da CPTM, fazendo a viagem em 17 minutos.
A Arena Corinthians foi inaugurada oficialmente em 19 de maio de 2014 com uma partida oficial entre Corinthians e , válida pelo Campeonato Brasileiro, que terminou com vitória por 1 a 0 da equipe catarinense.
Dias depois, sediou a abertura da Copa do Mundo FIFA de 2014 entre Brasil e Croácia e outras cinco partidas da principal competição entre seleções nacionais do mundo, incluindo uma semifinal. Durante o Mundial, a Arena Corinthians teve excepcionalmente 19 800 assentos temporários a mais para atender exigência da FIFA. As arquibancadas móveis foram retiradas após o fim da Copa.
A Arena Corinthians foi uma das sedes do futebol olímpico no RIO 2016. O estádio recebeu 10 jogos, incluindo uma semifinal do masculino e a decisão da medalha de bronze no feminino. É atualmente o 12º maior estádio do Brasil e o segundo maior do Estado de São Paulo.
Estatísticas de jogos, público, renda e competições do Corinthians em sua Arena
* Atualizado até 6 de agosto de 2022:
*Atualizado até 6 de agosto de 2022.
Parque São Jorge
O Estádio Alfredo Schürig, mais conhecido como Fazendinha e Parque São Jorge, é um estádio de propriedade do Corinthians. Construído entre 1926 e 1928 através da ajuda financeira dos sócios do clube, foi inaugurado em um amistoso entre Corinthians e América-RJ. Em 1961, ganhou um novo sistema de iluminação, que estreou em uma partida contra o , que resultou em uma vitória alvinegra por 7 a 2. A última partida da equipe profissional corintiana no Parque São Jorge ocorreu no dia 3 de agosto de 2002, em um amistoso contra o . Com capacidade atualmente para receber cerca de 18 000 espectadores, o Parque São Jorge tem sido utilizado para receber jogos do time de Futebol Americano do clube, o Corinthians Steamrollers, e também é usado para treinamentos e partidas das categorias de base corintianas.
Com o grande crescimento da torcida do Corinthians, o Parque São Jorge ficou pequeno demais para receber partidas do clube, que passou a mandar suas partidas mais importantes para estádios maiores. O principal deles foi o Estádio Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido como Estádio do Pacaembu, que pertence ao município de São Paulo e desde sua inauguração, em 1940, era considerado como a "casa" do Corinthians. Entre as décadas de 1940 e 1960, o clube mandou quase todas suas principais partidas no Pacaembu, que viu o clube alvinegro ser campeão do Campeonato Paulista por três vezes na década de 1950. A partir da década de 1970, o Corinthians também passou a usar como mandante o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, mais conhecido como Estádio do Morumbi e de propriedade do São Paulo Futebol Clube. Embora o clube alvinegro mantivesse o Pacaembu como estádio principal, o Morumbi, por ter uma capacidade maior, foi quase sempre o palco dos grandes clássicos e decisões corintianas (como finais do Campeonato Paulista e do Campeonato Brasileiro) entre meados dos anos setenta e fim da década de 2000. Por conta de um desentendimento com Juvenal Juvêncio, então presidente do São Paulo, sobre o número de ingressos para uma partida do clássico Majestoso em 2009, a diretoria corintiana decidiu que nunca mais mandaria jogos no Morumbi, e o Pacaembu voltou a receber as principais decisões corintianas, como a do Campeonato Brasileiro de 2011 e da Copa Libertadores de 2012, até a inauguração da Arena Corinthians.
Estádio da Ponte Grande
O Estádio da Ponte Grande foi o primeiro estádio do Corinthians Paulista. Anteriormente o clube mandava seus jogos no "Campo do Lenheiro", em um terreno situado na antiga Rua dos Imigrantes, atual Rua José Paulino, no bairro do Bom Retiro onde o clube foi fundado. O Estádio da Ponte Grande foi inaugurado em 1918, e ficava próximo da Ponte das Bandeiras, onde hoje está localizado o Centro Esportivo e de Lazer Tietê, na região norte da cidade de São Paulo.
No Estádio da Ponte Grande o Corinthians conquistou os títulos estaduais de 1922, 1923 e 1924, além de ter sido palco de algumas taças conquistadas em amistosos. Outro fato marcante foi o jogo entre a Seleção Brasileira x Corinthians. A partida amistosa aconteceu em 1925, e terminou empatada em 1-1. Apesar da importância histórica do local para o Alvinegro Paulista, há poucos registros fotográficos do que foi o primeiro Estádio do Corinthians.
Em 1926, o então presidente do Corinthians Ernesto Cassano compra o terreno do Parque São Jorge para o clube. O terreno pertencia ao Esporte Clube Sírio, e foi comprado por Ernesto Cassano por 750 contos de réis, pagos em dez anos. A partir dai o clube iniciou o processo de mudança da Ponte Grande na zona norte de São Paulo, para o bairro do Tatuapé, na zona Leste da cidade.
CT Joaquim Grava
O centro de treinamento da equipe profissional foi inaugurado em setembro de 2010. Seu nome de batismo é uma homenagem ao médico Joaquim Grava, principal idealizador do projeto. O CT corintiano é considerado um dos mais modernos do mundo. Ele foi utilizado pela Seleção Iraniana durante a Copa do Mundo em 2014.
Ao lado do CT Joaquim Grava, o Corinthians pretende construir um centro de treinamento para os atletas formados na base. O projeto prevê três campos oficiais (105x68m) com grama natural e um campo menor de grama sintética, um alojamento para 152 atletas e ainda refeitório e cozinha, além de uma mini escola com duas salas de aula e um auditório.
Memorial
Inaugurado em janeiro de 2006, pouco tempo depois da conquista do quarto campeonato brasileiro pelo clube, o Memorial do Corinthians está localizado na sua sede social, no Parque São Jorge. O espaço apresenta a história do time através de vídeos, fotos e espaços que mostram ambientes reais do mundo do futebol. Além das diversas taças expostas, o local possui espaços temáticos para as conquistas do Paulista de 1977, da Libertadores invicta de 2012 e das duas taças do Mundial da FIFA.
Situação financeira
Em 2012, com os títulos da Libertadores e do Mundial, a receita anual corintiana atingiu a expressiva marca de 358 milhões de reais. Em abril de 2015, um relatório oficial revelou que a receita total do Corinthians foi de 258,2 milhões de reais em 2014, uma queda de 18% em relação aos R$ 316 milhões de 2013, e as dívidas do clube atingiram 313 milhões de reais. Se incluídos os débitos para quitar a Arena Corinthians, o endividamento passava de 1 bilhão de reais, valor dez vezes maior de quando Andrés Sanchez assumiu o clube no fim de 2007.
A dívida do Corinthians aumentou drasticamente a partir de 2008, principalmente pelas despesas com futebol profissional (que fez do time do Parque São Jorge aquele que mais gastou com pagamentos de salário e contratações entre 2009 e 2014, com 1,2 bilhão de reais, uma média de 200 milhões por ano), por impostos atrasados entre 2007 a 2010 (o que gerou um débito de 94 milhões de reais para a atual seguinte, de Mário Gobbi, que pôde quitar pouco mais que metade relativa aos impostos sonegados pela gestão Sanchez) e ainda pelo pagamento da construção da Arena Corinthians, que, entre juros e obra, custou 1,15 bilhão de reais.
Apesar do alto endividamento, de 2010 e 2014, o Corinthians foi um dos clubes mais valiosos do futebol brasileiro, liderando o ranking da consultoria BDO por cinco anos consecutivos e sendo o primeiro a ultrapassar a marca de 1 bilhão de reais, chegando em 2014 a 1,2 bilhão. Em 2013, o ranking dos 20 clubes mais valiosos do mundo da revista Forbes colocava o Corinthians na 16ª posição, com renda avaliada no valor de 358 milhões de reais, sendo o único não europeu a constar na lista. O Corinthians também liderou o ranking de 2014 dessa mesma revista sobre os 30 clubes mais valiosos da América, sendo avaliado em 579,9 milhões de dólares.
A administração do presidente Duilio Monteiro Alves, vem procurando mitigar a grave situação financeira do clube, no 1º trimestre de 2021, o Corinthians teve superávit de R$ 3,5 mi. Concomitante a ajustes em curso, o Corinthians assinou contrato com auditoria KPMG por auxílio na renegociação de suas dívidas, visando uma reestruturação pautada em auxílio na renegociação de dívidas e na captação de novos recursos.
Torcida
A torcida do Corinthians é chamada carinhosamente de "Fiel". De acordo com uma série de institutos de pesquisas, como Ibope e Datafolha, além da Revista Placar, o Timão possui entre 27 e 33 milhões de torcedores(as) espalhados(as) pelo país, levando-se em conta, nas dadas pesquisas, brasileiros a partir de 10 ou 16 anos de idade, tendo a segunda maior torcida no Brasil, atrás nacionalmente somente do Flamengo. Todavia, pesquisas de abrangência nacional mais recentes apontam um forte crescimento da torcida corintiana nos últimos anos, reduzindo a distância em relação aos rubro-negros cariocas. Pelos dados do Datafolha, em 2014, que considera torcedores(as) a partir de 16 anos de idade (em um universo de 202,9 milhões de brasileiros), são 28,4 milhões de corintianos em todo o Brasil, sendo que na faixa de renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos, o Corinthians lidera com 17,6% dos brasileiros(as), bem acima do Flamengo que possui 10,9% nesta faixa e o São Paulo que possui 9,2% da população mais rica. O crescimento alvinegro é percebido ao comparar a última pesquisa do Ibope, em 2010, que levava em conta torcedores com 10 anos ou mais e estimava 21,7 milhões de alvinegros espalhados pelo país.
Analisando-se desde a primeira pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em 1993, até os dias atuais, chega-se à conclusão de que neste período a torcida corintiana foi a única que cresceu consideravelmente entre as equipes do Brasil. Em 1993, o instituto indicou que o Corinthians tinha 10% dos torcedores do país, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. Ou seja, a equipe do Parque São Jorge teria entre 8% e 12% dos fãs. Já na última pesquisa, em 2014, o clube paulista aparece com 14% dos torcedores. Pela margem de erro, 12% ou 16%. Com esses números, o Corinthians foi o único time que conseguiu crescer acima da margem de erro em relação à primeira pesquisa. Em termos de comparação, o Flamengo tinha 17% em 1993 e 18% em 2014. Portanto, ficou dentro do margem de erro e não apresentou crescimento. Somente no Estado de São Paulo estão concentrados cerca de 15,6 milhões de corintianos, com isso, o time do Parque São Jorge supera o número de torcedores somados de São Paulo e Palmeiras (os seus dois maiores rivais). Outros 13 milhões de "fiéis" estão espalhados pelo resto do Brasil. Os corintianos lideram na região Sudeste. Em Minas Gerais, o "Timão" tem 900 mil torcedores e é a terceira maior torcida nesse Estado - atrás somente de Atlético-MG e Cruzeiro. No Sul do país, os corintianos só ficam atrás das torcidas de Grêmio e Internacional, inclusive no Rio Grande do Sul, onde conta com mais de 60 mil torcedores. No Paraná a presença é grande, estado no qual o Corinthians possui mais de 1,5 milhões de alvinegros.
Fora das regiões Sul/Sudeste, o Corinthians consolida-se como segundo time mais popular do país.
Na soma das regiões Centro-Oeste e Norte, os corintianos também ficam com o segundo posto de torcida mais popular. O mesmo acontece no Nordeste brasileiro. Os corintianos têm forte presença de torcedores em Estados como Pernambuco (segundo pesquisa o Ibope, são quase 700 mil torcedores, que só perdem para os dois times locais: Sport Recife e Santa Cruz; já o Datafolha coloca como a segunda maior torcida do Estado). Já no Ceará, o Timão tem mais de 700 mil torcedores e fica atrás de Fortaleza, Ceará e Flamengo. Na Bahia, o Corinthians conta com mais de 1,1 milhão de torcedores, sendo superado somente por Bahia, Vitória e Flamengo. No Distrito Federal o Timão possui 122 mil torcedores(as), sendo a terceira maior torcida. Já em Goiás, fica atrás apenas de Goiás e Flamengo.
Um dos momentos mais marcantes protagonizados por seus torcedores ocorreu em 1976, na semifinal do Campeonato Brasileiro daquele ano, quando dezenas de milhares de corintianos foram ao Rio de Janeiro para assistir ao jogo válido pelas semifinais do Brasileirão, contra o Fluminense, até então conhecido como "A Máquina Tricolor" devido a imensa qualidade de seu escrete, no Estádio do Maracanã. O acontecimento ficou registrado na história como a "Invasão Corintiana". Este também foi o maior público registrado em uma partida envolvendo o alvinegro no maior estádio do Brasil. Outro evento marcante que contou com forte apoio de torcedores corintianos foi o Mundial de Clubes da FIFA de 2012, quando mais de 40 mil "fiéis" foram acompanhar o clube em Yokohama, no Japão.
O recorde de público nos dois principais estádios do Estado de São Paulo, o Morumbi e o Pacaembu, foram registrados em partidas com a presença do Corinthians. No dia 9 de outubro de 1977, mais de 146 mil pessoas assistiram ao duelo entre Corinthians e Ponte Preta, o segundo das finais do Campeonato Paulista daquele ano, que encerraria o tabu do "Timão" de 23 anos sem títulos oficiais. Pelo Campeonato Brasileiro, o maior público no estádio também é corintiano e a marca foi estabelecida em 6 de maio de 1984, no duelo entre Corinthians e Flamengo, válido pelas quartas-de-final da competição. No Pacaembu, o Corinthians reina soberano com nove dos dez maiores públicos da história do estádio. O recorde de público do Pacaembu foi no clássico entre Corinthians e São Paulo, em 1942, que teve mais de 70 mil espectadores e contava com a estreia do astro Leônidas da Silva pelo time tricolor.
Torcidas organizadas
O Corinthians tem como principais Torcidas Organizadas a Gaviões da Fiel, a Camisa 12, a Fiel Macabra, a Pavilhão 9 e a Estopim da Fiel. Fundada em 1969, a Gaviões da Fiel é a maior delas e possui mais de 100 mil sócios. Gaviões e Camisa 12 têm rivalidade histórica, pois a segunda nasceu de uma divisão entre diretores da primeira, dois anos depois da fundação dos Gaviões. Hoje, existe uma divisão por razões políticas dentro da própria Gaviões da Fiel. Em jogos do clube como mandante, as quatro maiores torcidas corintianas cantam geralmente suas próprias músicas. As letras cantadas pelos integrantes da Gaviões da Fiel sobressaem-se sobre as demais torcidas uniformizadas, devido ao maior número de integrantes, e costumam ser acompanhadas pelos outros torcedores, normalmente desvinculados a qualquer facção, espalhados pelo estádio.
Fora do estádio, as organizadas têm participado efetivamente da vida político-administrativa do Corinthians, mesmo que por vezes de maneira um tanto radical. Um dos casos mais notórios desta participação ocorreu na queda de Alberto Dualib, na década de 2000, que estava há mais de 15 anos no poder corintiano. Outros episódios já incluíram pressão e até ameaças sobre jogadores, entre os quais hostilidades contra atletas e invasão do Parque São Jorge durante a reapresentação do time após a queda na Copa Libertadores da América de 2000, além de um protesto que culminou em agressões contra funcionários e ameaças a atletas em uma invasão ao CT Joaquim Grava em 2014.
Clássicos e rivalidades
O Corinthians possui uma rica história diante de seus rivais históricos: contra o , e , sendo que os dois primeiros e o Corinthians fazem parte do chamado Trio de Ferro do futebol de São Paulo. O alvinegro paulistano é o único clube brasileiro a decidir títulos do Campeonato Brasileiro e confrontos em Copa Libertadores contra seus principais rivais.
No Campeonato Brasileiro, conquistou seu primeiro título na competição ao derrotar o em 1990. Em 1994 e 2002 perdeu o título para e respectivamente.
Pela Copa Libertadores, enfrentou o em seis oportunidades, com três vitórias cada, onde foi eliminado em 1999 e 2000 nas quartas-de-finais e semifinais respectivamente. Diante do , ocorreram dois confrontos em 2012 nas semifinais, com uma vitória Corintiana e um empate. Contra o foram dois confrontos em 2015 pela fase de grupos, com uma vitória cada.
Durante o ano de 2014, primeiro ano da nova casa Corintiana, a Arena Corinthians, o Corinthians obteve três êxitos diante dos rivais nos primeiros clássicos em sua arena. Vitória sobre o por 2 a 0, vitória sobre o por 3 a 2 e vitória por 1 a 0 sobre o . Todos os confrontos válidos pelo Campeonato Brasileiro do respectivo ano.
Derby paulista
O Derby Paulista é o nome do clássico disputado entre Corinthians e , considerado o mais tradicional da capital paulista e uma das maiores rivalidades mundiais. O nome do clássico foi dado pelo jornalista Tommaso Mazzoni, numa referência à mais importante corrida de cavalo do mundo, o Derby de Epsom, no qual sempre foi difícil de apontar o vencedor. Em virtude da clássica corrida de cavalos, o nome Derby acabou sendo identificado mundialmente para os confrontos relevantes em todos os esportes.
Em 6 de maio de 1917, ocorreu o primeiro confronto entre os clubes, onde foi vencido pelo Palmeiras (na época, tinha o nome de Palestra Itália) pelo placar de 3 a 0, partida disputada no estádio Palestra Itália.
Uma das particularidades desta rivalidade, se deve ao fato de ambos os clubes evitarem as cores do rival. O lado do Corinthians evita a cor verde assim como o Palmeiras evita a cor preta em suas dependências, em alusão ao arquirrival.
Os anos de ouro da rivalidade foi na década de 1990, onde decidiram Campeonatos Paulista e o Campeonato Brasileiro de 1994, além dos confrontos épicos pela Copa Libertadores, nos anos de 1999 e 2000, pelas quartas-de-finais e semifinais respectivamente, figurando como uma das rivalidades que mais decidiram no Brasil.
Majestoso
O clássico Majestoso é a rivalidade entre Corinthians e . O nome do clássico foi idealizado pelo jornalista Tommaso Mazzoni.
O primeiro encontro entre os clubes ocorreu em 25 de maio de 1930, no estádio Parque São Jorge, com vitória do Corinthians por 2 a 1.
O auge da rivalidade, deu início nos anos 90, onde os dois clubes mediram forças pelas semifinais da extinta Copa Conmebol em 1994, semifinais de Campeonatos Brasileiros e decisões de Campeonatos Paulistas. Os grandes duelos se estenderam nos anos 2000, com decisão de Torneio Rio-São Paulo em 2002 e semifinal de Copa do Brasil.
Em decisões, Corinthians e São Paulo decidiram inúmeros Campeonatos Paulistas, a nível nacional decidiram o Campeonato Brasileiro de 1990, já a nível internacional decidiram a Recopa Sul-Americana de 2013. Figurando como a rivalidade brasileira que mais decidiu em números de torneios.
Clássico alvinegro
O Clássico Alvinegro é disputado entre Corinthians e , o clássico possui este nome em alusão as cores dos dois clubes.
O primeiro duelo entre as equipes ocorreu em 6 de março de 1913, partida realizada no antigo estádio Parque Antarctica, onde a equipe do litoral venceu a equipe da capital por 6 a 3.
Um dos fatos mais marcantes da história desta rivalidade, foram os tabus sem vitórias dos rivais. O Corinthians ficou sem vencer o rival por 11 anos em campeonatos paulistas, enquanto o Santos ficou sem vencer o Corinthians por 7 anos considerando todos os campeonatos.
Em decisões de campeonatos, os alvinegros já decidiram alguns Campeonatos Paulista e decidiram o Campeonato Brasileiro de 2002. Em torneios internacionais se enfrentaram em uma oportunidade, pelas semifinais da Copa Libertadores de 2012 onde o Corinthians avançou para a decisão do torneio.
Outros confrontos
Atlético Mineiro
Atlético Paranaense
Bahia
Boca Juniors
Botafogo
Cruzeiro
Flamengo
Fluminense
Grêmio
Goiás
Internacional
Ponte Preta
Portuguesa
River Plate
Vasco
Títulos e honrarias
Campeão invicto
Principais títulos
Estatísticas
Participações
Campanhas de destaque
{| border="2" cellpadding="3" cellspacing="0" style="margin: 1em 1em 1em 1em 0; background: #FFFFFF; border: 1px #aaa solid; border-collapse: collapse; font-size: 90%;"
|- bgcolor="gray" align="center"
! colspan="5" style="background: Black;"| <span style="color: white;"> Sport Club Corinthians Paulista</span>
|- bgcolor="white" align="center"
! width="230"|Torneio
! width="180"|Campeão
! width="180"|Vice-campeão
! width="180"|Terceiro colocado
! width="180"|Quarto colocado
|-
|bgcolor=#FFF68F| Mundial de Clubes da FIFA|2 (2000 e 2012)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Copa Libertadores da América|1 (2012)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|1 (2000)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Copa Sul-Americana|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|2 (2019 e 2023)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Recopa Sul-Americana|1 (2013)
|0 (não possui)
|
|
|-
|bgcolor=#FFF68F| Copa Conmebol|0 (não possui)
|0 (não possui)
|1 (1994)
|0 (não possui)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Copa Mercosul|0 (não possui)
|0 (não possui)
|1 (2001)
|0 (não possui)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Campeonato Brasileiro|7 (1990, 1998, 1999, 2005, 2011, 2015 e 2017)
|3 (1976, 1994 e 2002)
|4 (1967, 1969, 1993 e 2010)
|6 (1971, 1972, 1982, 1984, 2014 e 2022)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Copa do Brasil|3 (1995, 2002 e 2009)
|4 (2001, 2008, 2018 e 2022)
|2 (1997 e 2023)
|0 (não possui)
|-
|bgcolor=#FFF68F| Supercopa do Brasil|1 (1991)
|0 (não possui)
|
|
|-
|bgcolor=#FFF68F| Campeonato Brasileiro - Série B|1 (2008)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|0 (não possui)
|-
| bgcolor="#fff68f" |X Torneio Rio-São Paulo|5 (1950, 1953, 1954, 1966 e 2002)
|3 (1951, 1963 e 1993)
|3 (1952, 1958 1960)
|2 (1964 e 1965)
|-
| bgcolor="#fff68f" | Campeonato Paulista|30 vezes (Última em 2019)
|21 vezes (Última em 2020)
|25 vezes (Última em 2022)
|11 vezes (Última em 1996)
|}
Retrospecto em competições oficiais
Maiores artilheiros da história do clube
Jogadores que mais marcaram com a camisa do Corinthians.
<div align="left">
Jogadores que mais vestiram a camisa do clube
Jogadores que mais vezes atuaram com a camisa do Corinthians.Legenda:Em negrito, jogadores em atividade.
<div align="left">
Treinadores
Os dez técnicos corintianos que mais comandaram jogos da equipe principal.
(Última atualização em 25 de outubro de 2023)
<div align="left">
Maiores ídolos
Lista com os maiores ídolos da história do Sport Club Corinthians Paulista.Legenda:Em negrito, jogadores já falecidos.
Jogadores revelados pelo Sport Club Corinthians Paulista
Jogadores que, no mundo, só jogaram pelo Sport Club Corinthians Paulista
Jogadores que, no Brasil, só jogaram pelo Sport Club Corinthians Paulista
Jogadores que, no estado de São Paulo, só jogaram pelo Sport Club Corinthians Paulista
Diretoria
Atualizado em 21 de março de 2023
Elenco atual
Ranqueamento
No ano de 2012, o Corinthians terminou como o 2º melhor time do Brasil no ranking da CBF, o 3º da América do Sul no ranking da Conmebol e o 5º melhor time do mundo no ranking da IFFHS. No início do ano de 2013, o Timão ultrapassou o badalado Barcelona no ranking da IFFHS, chegando à 4ª posição (sua melhor colocação na história), além de ter assumido a 2ª posição na América do Sul no ranking da Conmebol. No ranking da Folha de S.Paulo, o Corinthians chegou à terceira colocação nacional em 2013. Com o título do Campeonato Brasileiro de 2015, o Corinthians assumiu a liderança no ranking da CBF, alcançando 14664 pontos.
Valor de mercado
A Revista Forbes (edição mexicana) elege o Corinthians, pela sexta vez, como o mais valioso da América, conforme a publicação, o Timão foi avaliado em 462 milhões de dólares (o equivalente a cerca de R$ 1,7 bilhão, na cotação atual).
Clubes de futebol homônimos
O Sport Club Corinthians Paulista foi fundado e originado no Corinthian Football Club (atualmente Corinthian-Casuals Football Club), um clube amador de futebol de Londres, Reino Unido. - Lance.net, 31 de agosto de 2010 A popularidade e a relevância do alvinegro do Parque São Jorge no futebol brasileiro inspiraram o batismo de diversas agremiações esportivas no país e até mesmo fora dele em sua homenagem.
África
Sport Club Corinthians São Vicente - São Vicente, Cabo Verde
América do Norte e Central
Corinthians FC of San Antonio - San Antonio, Estados Unidos
Sport Club Corinthians USA - Glendora, Estados Unidos
Europa
Zejtun Corinthians FC - Żejtun, Malta
Nacionais
Sport Club Corinthians Alagoano - Maceió, AL
Esporte Clube Corinthians de Bataguassu - Bataguassu, MS
Sport Club Corinthians Paranaense - Curitiba, PR
Atlético Clube Corintians - Caicó, RN
Corinthians Futebol Clube - Santo André, SP
Corinthians Jundiaiense Foot-Ball Club - Jundiaí, SP
Esporte Clube Corintians - Casa Branca, SP
Esporte Clube Corinthians - Presidente Prudente, SP
Esporte Clube Corinthians de Votorantim - Votorantim, SP
Sport Club Corinthians de Marília - Marília, SP
Outras modalidades esportivas
Além do futebol, o Corinthians possuiu, ao longo de sua história, equipes em várias modalidades esportivas. O primeiro título da história do clube não veio do futebol, mas sim do pedestrianismo. Batista Boni, João Collina e André Lepre venceram o troféu Unione Vigiatore Italiani (União dos Viajantes Italianos), oferecido pela colônia italiana no Brasil, em uma corrida de revezamento de dez quilômetros no Palestra Itália. A competição foi vencida pela equipe formada pelos corintianos.
Natação
A natação do Corinthians teve início por volta de 1926, sendo praticada no rio Tietê. Na 1960, época em que o futebol da equipe amargava um jejum de títulos importantes, a natação alcançava a maior quantidade de conquistas, vencendo quatro Troféus Brasil de Natação (atual Troféu Maria Lenk), além de competições estaduais.
Títulos
Troféu Brasil de Natação (atual Troféu Maria Lenk): 1964, 1965, 1966 e 2014
Principais Atletas
Arthur Mendes
Brandonn Almeida
Felipe França
Leonardo de Deus
Natalia de Luccas
Pamela Alencar
Thiago Pereira
Thiago Simon
Basquete
Masculino
A primeira equipe de basquetebol corintiana foi montada em 1928, desde então, o clube angariou tradição no esporte dentro do país, tendo conquistado diversos títulos estaduais, metropolitanos, além de quatro nacionais. No auge do basquete do clube, na década de 1960, a equipe do Parque São Jorge faturou o bicampeonato sul-americano e um vice-campeonato mundial. O Corinthians contou ainda com grandes nomes da história da Seleção Brasileira Masculina, como Wlamir Marques, Rosa Branca, Ubiratan, Amaury e Oscar Schmidt. Durante 16 anos, o departamento de basquete profissional ficou desativado, com o clube competindo somente nas categorias de base. No fim de 2017, o Corinthians reativou a equipe adulta, objetivando chegar ao NBB. Atingiu seu objetivo ao conquistar a Liga Ouro de 2018, batendo na decisão o São José por 3 a 1.
Títulos (masculino)
Feminino
Em 2015, o Corinthians fez uma parceria com o então bicampeão da Liga de Basquete Feminino, Americana, que passou a se chamar Corinthians/Americana. A parceria Corinthians-Americana chegou ao fim em 2017. Desde então, o basquete feminino está desativado.
Títulos (feminino)
Basquete 3 x 3
Em 20 de agosto de 2018, no intervalo de uma partida da equipe masculina, o Corinthians apresentou à torcida a sua equipe feminina de Basquetebol 3x3. As atletas apresentadas foram Milena Santos, Luana Ariescha, Evelyn Larissa, Sassá, Fabiete Castor e Julia Carvalho, sendo esta última a jogadora número 1 do ranking brasileiro na ocasião. Em seu primeiro ano, foi campeão invicto dos Jogos Abertos do Interior e da Copa do Brasil de Basquetebol 3x3 Feminino.
Títulos
Campeão Invicto
Jogadoras históricas
Julia Carvalho
Remo
O remo é um dos esportes mais tradicionais do Corinthians, tendo sido implantado oficialmente no ano de 1933, sob presidência de Alfredo Schurig. Na ocasião, o escudo do clube sofreu alterações, com o acréscimo de um par de remos e da âncora, que aparecem no distintivo até hoje, foi acrescentada também uma bóia ao redor do escudo, posteriormente substituída por uma corda. O clube adquiriu 10 barcos de classe usados, do Clube Esperia, e deu início a uma brilhante campanha com inúmeras vitórias e conquistas. Em 1972, foi inaugurada a Raia Olímpica da Cidade Universitária, e o clube criou seu segundo pólo para desenvolver essa modalidade esportiva, aproveitando a nova estrutura, com sua extensa área para treinamento aeróbico e barco escolar. As compras de remergômetros (equipamento que simula o movimento dos remadores, auxilia na preparação física e tomada de tempo para competições nacionais e internacionais), 11 barcos e 56 remos de fibra de carbono vindos da Argentina e dos Estados Unidos, aumentaram a chance competitiva do esporte alvinegro. Atualmente a frota de barcos é de 60 unidades, além da lancha para treinamentos.
Títulos
Campeonato Paulista : 1965, 1966, 1968, 1972, 1989, 1993
Campeonato de Remo do Estado de São Paulo (Yole de Frances a 4 Remos) : 1943
Troféu Bandeirantes: 1967, 1976, 1977, 1980, 1981, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001.
Futsal
O Corinthians possui grande tradição no futsal paulista, tendo sido a equipe masculina campeã estadual 9 vezes e campeã metropolitana em 8 oportunidades. O time masculino também se sagrou campeão por duas vezes da Taça Brasil de Futsal.Em 2016 se sagrou campeão da Liga Futsal.
Títulos
Handebol
O Corinthians montou sua primeira equipe de handebol na década de 1970. Em 1972, o clube tornou-se o primeiro campeão paulista na modalidade feminina, três anos depois, foi a vez da equipe masculina erguer a taça do Campeonato Paulista. No entanto, com o passar dos anos, o clube deixou de investir no esporte e se desligou da Federação Paulista de Handebol. O Corinthians voltou a valorizar o handebol na década de 2000, com a restituição do departamento de handebol feminino e a refiliação à Federação Paulista de Handebol. E embora não tenha atuado na categoria principal do Campeonato Paulista,o clube realiza trabalho nas categorias de base.
Títulos
Campeonato Paulista de Handebol Masculino: 1975, 1976, 1983 e 1984
Campeonato Paulista de Handebol Feminino: 1972, 1976, 1977 e 1981
Futebol Americano
O Corinthians Steamrollers' é o time de futebol americano do clube, teve início com uma parceria com a Associação Esportiva Steamrollers em 2008. Desde então, a equipe se firmou como uma das principais do país. Entre seus jogadores, o Corinthians Steamrollers contou com o ex-ator Alexandre Frota.
Títulos
Campeão Invicto
Futebol de praia
O Corinthians criou a sua equipe de futebol de praia em 2010, ano do centenário do clube. Na primeira edição do Campeonato Brasileiro da modalidade, o time sagrou-se campeão.
Títulos
MMA
O projeto de MMA do Corinthians foi iniciado em 2011, em parceria com Anderson Silva (campeão dos pesos-médios do Ultimate Fighting Championship.) Além de um centro de treinamento para a prática da modalidade, localizado no Parque São Jorge, o clube conta com um time de lutadores, entre os quais Júnior Cigano. - iG, 01 de novembro de 2012
Contratado do Corinthians desde agosto de 2011, Anderson Silva rompeu seu contrato com o clube dois anos depois.
Principais Atletas
Anderson Silva
Junior Cigano
Rugby
Em 2012, o clube criou a sua primeira equipe adulta masculina de Rugby sevens (modalidade com sete jogadores).
Vôlei
O projeto de Voleibol do Corinthians foi iniciado em 2017, em parceria com a Prefeitura de Guarulhos.
Títulos
Principais atletas
Serginho
Sidão
Marcelinho
O Corinthians na cultura popular
A importância do Corinthians faz-se presente também em registros culturais no cinema, na música e na literatura.
Filmes
No cinema, Amácio Mazzaropi homenageou o fiel torcedor com o filme "O Corintiano", de 1966. No século XXI, houve lançamento de documentários importantes sobre o clube. Em 2009 foram lançados "Fiel - O Filme", documentário que retrata a queda e a ascensão do clube, da Série B para a Série A do Campeonato Brasileiro, sob a ótica de seus torcedores, - Folha.com, 11 de abril de 2009 e "23 anos em 7 segundos – O fim do jejum corinthiano", documentário que reconstrói o fim dos 23 anos de jejum de títulos importantes do alvinegro. - G1, 28 de junho de 2009 Em 2010, ano do centenário do clube, foi lançado "Todo Poderoso: o Filme — 100 Anos de Timão", um documentário com farto material sobre a história do Corinthians. - Veja São Paulo, 4 de agosto de 2010 Em 2011, foi lançado o documentário de curta metragem "Ser Campeão é Detalhe - Democracia Corinthiana", sobre a Democracia Corintiana. Em 2014, foi lançado Libertados, documentário que conta a conquista inédita e invicta da Copa Libertadores da América de 2012.
Canções
Há dezenas de canções que homenageiam o Corinthians como: "Corintiá" de Gilberto Gil, "Amor Branco e Preto" de Rita Lee e Arnaldo Baptista, "Bandeira do Timão" de Elzo Augusto, conhecida pela voz de Germano Mathias, "Gol de Baltazar" pela voz de Elza Laranjeira, "Corinthians do Meu Coração" de Toquinho, "Moda do Corintiano" de Rolando Boldrin, "Corintía, Meu Amor é o Timão" de Adoniran Barbosa e Juvenal Fernandes, "Homenagem Rubro-Negra" de Jorge Ben, conhecida também como "Joga Corinthians" e popularizada na voz de Wilson Simonal, "Quebra de Tabu" de Tião Carreiro e Pardinho, "Melô do Corinthians" de Ndee Naldinho, "Corinthians, Campeão do Centenário" na voz de Jamelão, "Samba do Corinthians" e "Transplante Corintiano" ambas de Sílvio Santos, "Meus 20 anos Ai, Corinthians!" de Paulinho Nogueira, "O Corinthians dando olé" de Caju & Castanha, "Corintiano" de Oswaldinho do Acordeon, "Corinthians e Palmeiras" nas vozes de Lourenço e Lourival, "O Grito da Fiel" na voz de Márcio José, "Nação Corinthiana" de Carlinhos Vergueiro, "Festa Corintiana" de Simone Guimarães e Sócrates, "Garra Corintiana" de Branca di Neve, "IV Centenário" de Alfredo Borba, conhecida na voz de Orlando Ribeiro, "Sou Corinthians" de Rappin Hood e Negra Li. Negra Li também gravou a canção "Sou Fiel", tema do documentário Fiel - O Filme, composta por Rita Lee e Carlos Rennó.
Livros
Há ainda uma série de livros sobre o clube, entre os quais, "Corinthians: É Preto no Branco", de Washington Olivetto e Nirlando Beirão, "Corinthians: Paixão e Glória", de Juca Kfouri, "Corinthians - 100 Anos de Paixão" de Marco Piovan e Newton Cesar, "Corinthians : o Time da Fiel" de Orlando Duarte e João Bosco Tureta, "Timão 100 Anos" e "Os Dez Mais do Corinthians" ambos de Celso Unzelte. Na literatura de ficção, destaca-se o conto "Corinthians (2) vs. (1) Palestra", presente no livro Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antônio de Alcântara Machado.
Livros sobre o Corinthians
Citadini, Roque. (2001) Neco, o primeiro ídolo. São Paulo. Editora Geração.
Edmar, J. (2003) Corinthians, uma paixão em prosa e verso. São Paulo. Edição de Autor.
Goldim, Nailson. Corinthians, paixão do povo. São Paulo. Editora Global.
Kfouri, Juca. (2002) Corinthians, paixão e glória. São Paulo. Editora DBA.
Kfouri, Juca. (1983) A emoção Corinthians. São Paulo. Editora Brasiliense.
Duarte, Marcelo. (2007) O dia em que me Tornei... Corintiano. São Paulo. Editora Panda Books.
Nalesso, Renato e Bosto, Fabricio. (2002) Eterno Xodó - A verdadeira história de Neto, um dos mais irreverentes e polêmicos ídolos do futebol brasileiro. Rio de Janeiro. Editora Grypus.
Pugliese, Osvaldo Pascoal. (1999) Sai da Rua, Roberto! A verdadeira história de um dos maiores jogadores de futebol do mundo. Rivellino. São Paulo. Editora Master Books.
Olivetto, Washington. (2009) Corinthians X Outros: Os melhores nossos Contra os Menos Ruins Deles. São Paulo/Lisboa. Editora Leya.
Arns, Paulo Evaristo. (2004) Corintiano Graças a Deus. São Paulo. Editora Planeta do Brasil.
Lalau. (2010) Fiel - 100 anos. São Paulo. Editora Panda Books.
Ziraldo. (2009) Todo-Poderoso Timão em quadrinhos. São Paulo. Editora Globo.
Groisman, Serginho. (2008) Meu Pequeno Corintiano. Caxias do Sul. Editora Belas-Letras.
Ramos, Luís Carlos. (2001) Vicente Matheus: quem sai na chuva é para se queimar. São Paulo. Editora Brasil.
Unzelte, Celso Dario. (2000) Almanaque do Timão. São Paulo. Editora Abril.
Unzelte, Celso Dario. (2005) Almanaque do Corinthians''. 2ª Edição. São Paulo. Editora Abril.
Ver também
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Outros
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621 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Caldo%20verde | Caldo verde | O caldo verde é uma sopa de couve-galega, típica da Região do Norte de Portugal continental, mas muito divulgada e com impacto em todo o país. Tem também impacto nos países povoados pelos portugueses, como o Brasil. É uma sopa medianamente espessa e de cor predominantemente verde, uma vez que a couve é cortada às tiras bastante finas.
Em setembro de 2011 foi eleita uma das 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal.
Degustação
Devido à sua simplicidade e leveza, come-se no início de uma refeição principal ou numa ceia tardia. Para uma degustação genuína, o caldo verde serve-se sempre em tigelas ou malgas de barro, acompanhadas de broa de milho, de centeio ou broa de Avintes e junta-se, no caldo, várias rodelas de salpicão ou de chouriço de colorau, mas, de preferência, salpicão, que o tornam ainda mais delicioso. Segundo a receita original, deve ser sempre acompanhado por bom vinho verde tinto, também servido em malgas, que é um tipo de vinho altamente compatível com esta especialidade gastronómica.
Festejo
O Caldo Verde é atualmente celebrado em Irivo, freguesia do concelho de Penafiel. Este certame ocorre no terceiro fim de semana de julho. O Festival do Caldo Verde de Irivo, tem ganho uma tremenda percussão nos últimos anos. Promovido pela Junta de Freguesia de Irivo em parceria com a Associação Jovem para o Desenvolvimento de Irivo AJDI.
Reconhecimento
Em Março de 2021, a CNN Travel elegeu o Caldo Verde como uma das 20 melhores sopas do mundo, destacando ainda o vinho verde como o acompanhante ideal para o repasto.
Ligações externas
Sopas de Portugal
Pratos com batata | 13,358 |
622 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cometa | Cometa | Um cometa é um pequeno corpo gelado do Sistema Solar que, ao passar perto do Sol, aquece e começa a liberar gases, processo que é chamado de desgaseificação. Isso produz uma atmosfera visível ou coma e, às vezes, também uma cauda. Esses fenômenos são devidos aos efeitos da radiação solar e da ação do vento solar sobre o núcleo do cometa. Os núcleos dos cometas variam de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros de diâmetro e são compostos de coleções soltas de gelo, poeira e pequenas partículas rochosas. O coma pode ter até 15 vezes o diâmetro da Terra, enquanto a cauda pode esticar além de uma unidade astronômica. Se suficientemente brilhante, um cometa pode ser visto da Terra sem o auxílio de um telescópio e pode subtender um arco de 30° (60 Luas) no céu. Os cometas foram observados e registrados desde os tempos antigos por muitas culturas e religiões.
Os cometas geralmente têm órbitas elípticas altamente excêntricas e uma ampla gama de períodos orbitais, variando de vários anos a potencialmente vários milhões de anos. Os cometas de curto período se originam no cinturão de Kuiper ou em seu disco espalhado associado, que fica além da órbita de Netuno. Acredita-se que os cometas de longo período se originem na nuvem de Oort, uma nuvem esférica de corpos gelados que se estende de fora do cinturão de Kuiper até a metade do caminho para a estrela mais próxima. Cometas de longo período são colocados em movimento em direção ao Sol a partir da nuvem de Oort por perturbações gravitacionais causadas pela passagem de estrelas e pela maré galáctica. Os cometas hiperbólicos podem passar uma vez pelo Sistema Solar interno antes de serem lançados no espaço interestelar. O aparecimento de um cometa é denominado aparição.
Os cometas se distinguem dos asteroides pela presença de uma atmosfera estendida, gravitacionalmente não-ligada, em torno de seu núcleo central. Essa atmosfera tem partes denominadas coma (a parte central imediatamente ao redor do núcleo) e cauda (uma seção tipicamente linear que consiste em poeira ou gás expelido do coma pela leve pressão do Sol ou pelo plasma do vento solar excedente). No entanto, cometas extintos que passaram perto do Sol muitas vezes perderam quase todo o seu gelo volátil e poeira e podem vir a se parecer com pequenos asteroides. Pensa-se que os asteroides têm uma origem diferente dos cometas, tendo-se formado dentro da órbita de Júpiter, e não no Sistema Solar exterior. A descoberta de cometas do cinturão principal e de planetas menores centauros ativos turvou a distinção entre asteroides e cometas. No início do século XXI, a descoberta de alguns corpos menores com órbitas de cometas de longo período, mas com características de asteroides do Sistema Solar interno, foram chamados de cometas Manx. Eles ainda são classificados como cometas, como C/2014 S3 (PANSTARRS). 27 cometas Manx foram encontrados de 2013 a 2017.
Em abril de 2021, havia 4 595 cometas conhecidos, um número que aumenta constantemente à medida que mais são descobertos. No entanto, isso representa apenas uma pequena fração da população potencial total de cometas, já que o reservatório de corpos semelhantes a cometas no Sistema Solar externo (na nuvem de Oort) é estimado em 1 trilhão. Aproximadamente um cometa por ano é visível a olho nu, embora muitos deles sejam tênues e nada espetaculares. Exemplos particularmente brilhantes são chamados de "grandes cometas". Os cometas foram visitados por sondas não tripuladas como a Rosetta da Agência Espacial Europeia, que se tornou a primeira a pousar uma espaçonave robótica em um cometa, e a Deep Impact da NASA, que explodiu uma cratera no cometa Tempel 1 para estudar seu interior.
Etimologia
A palavra cometa deriva do inglês antigo cometa do latim comēta ou comētēs. Isso, por sua vez, é uma romanização do grego antigo κομήτης 'usar cabelo comprido', e o Oxford English Dictionary observa que o termo (ἀστὴρ) κομήτης já significava 'cometa, estrela de cabelo comprido' em grego. Κομήτης era derivado de κομᾶν (koman) 'usar o cabelo comprido', que por sua vez era derivado de κόμη (komē) 'o cabelo da cabeça' e era usado para significar 'a cauda de um cometa'.
O símbolo astronômico para cometas (representado em Unicode) é , que consiste em um pequeno disco com três extensões semelhantes a fios de cabelo.
Características físicas
Núcleo
A estrutura sólida central de um cometa é conhecida como núcleo. Os núcleos cometários são compostos de uma amálgama de rocha, poeira, gelo de água e dióxido de carbono congelado, monóxido de carbono, metano e amônia. Como tal, são popularmente descritos como "bolas de neve sujas", em homenagem ao modelo de Fred Whipple. Os cometas com alto teor de poeira são chamados de "bolas de sujeira geladas". O termo "bolas de sujeira geladas" surgiu após a observação da colisão do Cometa 9P/Tempel 1 com uma sonda "impactadora" enviada pela missão Deep Impact da NASA em julho de 2005. Pesquisa realizada em 2014 sugere que os cometas são como "sorvete frito", em que suas superfícies são formadas por gelo cristalino denso misturado com compostos orgânicos, enquanto o gelo interior é mais frio e menos denso.
A superfície do núcleo é geralmente seca, empoeirada ou rochosa, sugerindo que os gelos estão escondidos sob uma crosta superficial com vários metros de espessura. Além dos gases já mencionados, os núcleos contêm uma variedade de compostos orgânicos, que podem incluir metanol, cianeto de hidrogênio, formaldeído, etanol, etano e talvez moléculas mais complexas, como hidrocarbonetos de cadeia longa e aminoácidos. Em 2009, foi confirmado que o aminoácido glicina foi encontrado na poeira do cometa recuperada pela missão Stardust da NASA. Em agosto de 2011, um relatório, baseado em estudos da NASA de meteoritos encontrados na Terra, foi publicado sugerindo que componentes de DNA e RNA (adenina, guanina e moléculas orgânicas relacionadas) podem ter sido formados em asteroides e cometas.
As superfícies externas dos núcleos cometários têm um albedo muito baixo, tornando-os um dos objetos menos refletivos encontrados no Sistema Solar. A sonda espacial Giotto descobriu que o núcleo do cometa Halley (1P/Halley) reflete cerca de 4% da luz que incide sobre ele, e Deep Space 1 descobriu que a superfície do cometa Borrelly reflete menos de 3%; em comparação, o asfalto reflete 7%. O material escuro da superfície do núcleo pode consistir em compostos orgânicos complexos. O aquecimento solar expulsa os compostos voláteis mais leves, deixando para trás compostos orgânicos maiores que tendem a ser muito escuros, como o alcatrão ou o petróleo. A baixa refletividade das superfícies cometárias faz com que absorvam o calor que impulsiona seus processos de desgaseificação.
Núcleos de cometas com raios de até 30 km foram observados, mas determinar seu tamanho exato é difícil. O núcleo do 322P/SOHO provavelmente tem apenas 100 a 200 metros de diâmetro.. A falta de cometas menores sendo detectados, apesar do aumento da sensibilidade dos instrumentos, levou alguns a sugerir que há uma falta real de cometas menores que 100 metros de diâmetro. Estima-se que cometas conhecidos tenham uma densidade média de 0,6 g/cm3 Devido à sua baixa massa, os núcleos dos cometas não se tornam esféricos sob sua própria gravidade e, portanto, têm formas irregulares.
Acredita-se que cerca de 6% dos asteroides próximos à Terra sejam núcleos extintos de cometas que não sofrem mais liberação de gases, incluindo 14827 Hypnos e 3552 Don Quixote.
Os resultados das sondas Rosetta e Philae mostram que o núcleo do 67P/Churyumov-Gerasimenko não tem campo magnético, o que sugere que o magnetismo pode não ter desempenhado um papel na formação inicial dos planetesimais. Além disso, o espectrógrafo ALICE na Rosetta determinou que os elétrons, dentro de 1 km acima do núcleo cometário) produzidos a partir da fotoionização de moléculas de água por radiação solar, e não fótons do Sol como se pensava anteriormente, são responsáveis pela degradação da água e moléculas de dióxido de carbono liberadas do núcleo cometário em seu coma. Instrumentos na sonda Philae encontraram pelo menos 16 compostos orgânicos na superfície do cometa, 4 dos quais (acetamida, acetona, isocianato de metila e propanal) foram detectados pela primeira vez em um cometa.
Coma
As correntes de poeira e gás assim liberadas formam uma atmosfera enorme e extremamente fina ao redor do cometa, chamada de "coma". A força exercida no coma pela pressão de radiação do Sol e pelo vento solar faz com que uma enorme "cauda" se forme apontando para longe do Sol.
O coma geralmente é feito de água e poeira, com a água constituindo até 90% dos voláteis que saem do núcleo quando o cometa está dentro de 3 a 4 unidades astronômicas (450 milhões a 600 milhões de km) do Sol. A molécula-mãe é destruída principalmente por meio da fotodissociação e, em uma extensão muito menor, da fotoionização, com o vento solar desempenhando um papel menor na destruição da água em comparação com a fotoquímica. Partículas de poeira maiores são deixadas ao longo do caminho orbital do cometa, enquanto partículas menores são empurradas do Sol para a cauda do cometa pela pressão da luz.
Embora o núcleo sólido dos cometas tenha geralmente menos de 60 km de diâmetro, a coma pode ter milhares ou milhões de km de diâmetro, às vezes tornando-se maior do que o Sol. Por exemplo, cerca de um mês após uma explosão em outubro de 2007, o cometa 17P/Holmes teve brevemente uma tênue atmosfera de poeira maior do que o Sol. O Grande Cometa de 1811 também teve um coma com aproximadamente o diâmetro do Sol. Embora o coma possa se tornar muito grande, seu tamanho pode diminuir no momento em que cruza a órbita de Marte, a cerca de 1,5 unidade astronômica (220 milhões de km) do Sol. A essa distância, o vento solar se torna forte o suficiente para soprar o gás e a poeira para longe do coma e, com isso, aumentar a cauda. Observou-se que caudas de íons se estendem por uma unidade astronômica (150 milhões de km) ou mais.
Tanto o coma quanto a cauda são iluminadas pelo Sol e podem se tornar visíveis quando um cometa passa pelo Sistema Solar interno, a poeira reflete a luz solar diretamente enquanto os gases brilham por ionização. A maioria dos cometas é tênue demais para ser visível sem o auxílio de um telescópio, mas alguns poucos a cada década tornam-se brilhantes o suficiente para serem visíveis a olho nu. Ocasionalmente, um cometa pode experimentar uma explosão enorme e repentina de gás e poeira, durante a qual o tamanho do coma aumenta muito por um período de tempo. Isso aconteceu em 2007 com o cometa 17P/Holmes.
Em 1996, descobriu-se que os cometas emitiam raios-X. Isso surpreendeu muito os astrônomos, porque a emissão de raios-X geralmente está associada a corpos com temperaturas muito altas. Os raios-X são gerados pela interação entre cometas e o vento solar: quando íons do vento solar altamente carregados voam através de uma atmosfera cometária, eles colidem com átomos e moléculas cometárias, "roubando" um ou mais elétrons do átomo em um processo chamado "troca de carga". Essa troca ou transferência de um elétron para o íon do vento solar é seguida por sua desexcitação para o estado fundamental do íon pela emissão de raios-X e fótons ultravioleta distantes.
Choque em arco
Os choques em arco se formam como resultado da interação entre o vento solar e a ionosfera cometária, que é criada pela ionização de gases do coma. À medida que o cometa se aproxima do Sol, as taxas crescentes de liberação de gases causam a expansão do coma e a luz do Sol ioniza os gases no coma. Quando o vento solar passa por esse coma de íons, surge o choque em arco.
As primeiras observações foram feitas nas décadas de 1980 e 1990, quando várias sondas sobrevoavam pelos cometas 21P/Giacobini-Zinner, 1P/Halley, e 26P/Grigg-Skjellerup. Descobriu-se então que os choques em arco em cometas são mais largos e mais graduais do que os choques em arco planetários agudos vistos, por exemplo, na Terra. Todas essas observações foram feitas perto do periélio, quando os choques em arco já estavam totalmente desenvolvidos.
A sonda espacial Rosetta observou o choque em arco no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em um estágio inicial do desenvolvimento do choque em arco, quando a liberação de gás aumentou durante a jornada do cometa em direção ao Sol. Este choque em arco jovem foi chamado de "choque em arco infantil". O choque em arco infantil é assimétrico e, em relação à distância ao núcleo, mais largo do que os choques em arco totalmente desenvolvidos.
Cauda
No Sistema Solar exterior, os cometas permanecem congelados e inativos e são extremamente difíceis ou impossíveis de detectar da Terra devido ao seu pequeno tamanho. Detecções estatísticas de núcleos de cometas inativos no cinturão de Kuiper foram relatadas a partir de observações do Telescópio Espacial Hubble, mas essas detecções foram questionadas. Conforme um cometa se aproxima do Sistema Solar interno, a radiação solar faz com que os materiais voláteis dentro do cometa vaporizem e fluam para fora do núcleo, levando a poeira com eles.
Cada um dos fluxos de poeira e gás formam sua própria cauda distinta, apontando em direções ligeiramente diferentes. A cauda de poeira é deixada para trás na órbita do cometa de tal maneira que frequentemente forma uma cauda curva chamada de tipo II ou cauda de poeira. Ao mesmo tempo, o íon ou cauda do tipo I, feito de gases, sempre aponta diretamente para longe do Sol porque esse gás é mais fortemente afetado pelo vento solar do que a poeira, seguindo as linhas do campo magnético ao invés de uma trajetória orbital. Em ocasiões, como quando a Terra passa pelo plano orbital de um cometa, a anticauda, apontando na direção oposta às caudas de íons e poeira, pode ser visto.
A observação de anticaudas contribuiu significativamente para a descoberta do vento solar. A cauda de íons é formada como resultado da ionização por radiação ultravioleta solar de partículas do coma. Uma vez que as partículas tenham sido ionizadas, elas atingem uma carga elétrica positiva líquida, que por sua vez dá origem a uma "magnetosfera induzida" ao redor do cometa. O cometa e seu campo magnético induzido formam um obstáculo para o fluxo de partículas do vento solar. Como a velocidade orbital relativa do cometa e do vento solar é supersônica, um choque em arco é formado a montante do cometa na direção do fluxo do vento solar. Neste choque em arco, grandes concentrações de íons cometários (chamados de "íons de coleta") se reúnem e agem para "carregar" o campo magnético solar com plasma, de forma que as linhas de campo "caiam" ao redor do cometa formando a cauda do íon.
Se o carregamento da cauda do íon for suficiente, as linhas do campo magnético são comprimidas até o ponto onde, a alguma distância ao longo da cauda do íon, ocorre a reconexão magnética. Isso leva a um "evento de desconexão da cauda". Isso foi observado em várias ocasiões, um evento notável foi registrado em 20 de abril de 2007, quando a cauda de íons do cometa Encke foi completamente cortada enquanto o cometa passava por uma ejeção de massa coronal. Este evento foi observado pela sonda espacial STEREO.
Em 2013, os cientistas da Agência Espacial Europeia relataram que a ionosfera do planeta Vênus flui para fora de uma maneira semelhante à cauda de íons vista fluindo de um cometa em condições semelhantes".
Jatos
O aquecimento desigual pode fazer com que gases recém-gerados saiam de um ponto fraco na superfície do núcleo do cometa, como um gêiser. Esses fluxos de gás e poeira podem fazer com que o núcleo gire e até mesmo se divida. Em 2010, foi revelado que o gelo seco (dióxido de carbono congelado) pode alimentar jatos de material que fluem para fora do núcleo de um cometa. Imagens infravermelhas do 103P/Hartley mostram esses jatos saindo e carregando grãos de poeira para o coma.
Características orbitais
A maioria dos cometas são pequenos corpos do Sistema Solar com órbitas elípticas alongadas que os levam para perto do Sol em uma parte de sua órbita e depois para os confins do Sistema Solar no restante. Os cometas são frequentemente classificados de acordo com a duração de seus períodos orbitais: Quanto mais longo for o período, mais alongada será a elipse.
Curto período
Cometas periódicos ou cometas de curto período são geralmente definidos como aqueles que têm períodos orbitais de menos de 200 anos. Eles geralmente orbitam mais ou menos no plano da eclíptica na mesma direção que os planetas. Suas órbitas normalmente os levam para a região dos planetas externos (Júpiter e além) no afélio; por exemplo, o afélio do cometa Halley está um pouco além da órbita de Netuno. Os cometas cujos afélios estão próximos à órbita de um planeta importante são chamados de "família". Acredita-se que tais famílias surjam do planeta capturando cometas de período longo em órbitas mais curtas.
No extremo do período orbital mais curto, o cometa Encke tem uma órbita que não atinge a órbita de Júpiter e é conhecido como um cometa do tipo Encke. Cometas de curto período com períodos orbitais menores que 20 anos e baixas inclinações (até 30 graus) para a eclíptica são chamados tradicionalmente de cometas da família de Júpiter (JFC). Aqueles como o cometa Halley, com períodos orbitais entre 20 e 200 anos e inclinações que vão de zero a mais de 90 graus, são chamados de cometas do tipo Halley (HTC). Em 2020, 91 HTC foram observados, em comparação com 691 JFC identificados.
Os cometas do cinturão principal recentemente descobertos formam uma classe distinta, orbitando em órbitas mais circulares dentro do cinturão de asteroides.
Como suas órbitas elípticas frequentemente os levam para perto dos planetas gigantes, os cometas estão sujeitos a outras perturbações gravitacionais. Cometas de curto período têm uma tendência de seus afélios coincidirem com o semieixo maior de um planeta gigante, com os JFC sendo o maior grupo. É claro que os cometas vindos da nuvem de Oort frequentemente têm suas órbitas fortemente influenciadas pela gravidade de planetas gigantes como resultado de um encontro próximo. Júpiter é a fonte das maiores perturbações, tendo mais de duas vezes a massa de todos os outros planetas combinados. Essas perturbações podem desviar cometas de longo período para períodos orbitais mais curtos.
Com base em suas características orbitais, acredita-se que os cometas de curto período se originem dos centauros e do cinturão de Kuiper/disco disperso, um disco de objetos na região transnetuniana, ao passo que acredita-se que a fonte dos cometas de longo período ser a nuvem de Oort, muito mais distante (em homenagem ao astrônomo holandês Jan Hendrik Oort, que hipotetizou sua existência). Acredita-se que grandes enxames de corpos semelhantes a cometas orbitam o Sol nessas regiões distantes em órbitas aproximadamente circulares. Ocasionalmente, a influência gravitacional dos planetas externos (no caso dos objetos do cinturão de Kuiper) ou estrelas próximas (no caso dos objetos da nuvem de Oort) pode lançar um desses corpos em uma órbita elíptica que o leva para dentro em direção ao Sol para formar um visível cometa. Ao contrário do retorno de cometas periódicos, cujas órbitas foram estabelecidas por observações anteriores, o aparecimento de novos cometas por esse mecanismo é imprevisível. Quando lançados na órbita do Sol, e sendo continuamente arrastados em sua direção, toneladas de matéria são retiradas dos cometas que influenciam grandemente sua vida útil; quanto mais despojado, menos eles vivem e vice-versa.
Longo período
Os cometas de longo período têm órbitas altamente excêntricas e períodos que variam de 200 anos a milhares ou mesmo milhões de anos. Uma excentricidade maior que 1 quando perto do periélio não significa necessariamente que um cometa deixará o Sistema Solar. Por exemplo, o cometa McNaught tinha uma excentricidade osculante heliocêntrica de 1,000019 perto de sua época de passagem no periélio em janeiro de 2007, mas está ligado ao Sol com uma órbita de aproximadamente 92 600 anos porque a excentricidade cai abaixo de 1 conforme ele se afasta do Sol. A futura órbita de um cometa de longo período é obtida apropriadamente quando a órbita osculante é computada em uma época após deixar a região planetária e é calculada em relação ao centro de massa do Sistema Solar. Por definição, os cometas de longo período permanecem gravitacionalmente ligados ao Sol; aqueles cometas que são ejetados do Sistema Solar devido a passagens fechadas por planetas principais não são mais considerados apropriadamente como tendo "períodos". As órbitas dos cometas de longo período os levam muito além dos planetas externos em afélio, e o plano de suas órbitas não precisa ficar perto da eclíptica. Cometas de longo período como C/1999 F1 e C/2017 T2 podem ter distâncias de afélio de quase 70 000 UA (1,1 anos-luz) com períodos orbitais estimados em torno de 6 milhões de anos.
Cometas de aparição única ou não-periódicos são semelhantes aos cometas de longo período porque eles também têm trajetórias parabólicas ou ligeiramente hiperbólicas quando próximos ao periélio no Sistema Solar interno. No entanto, as perturbações gravitacionais de planetas gigantes fazem com que suas órbitas mudem. Os cometas de aparição única têm uma órbita osculante hiperbólica ou parabólica que lhes permite sair permanentemente do Sistema Solar após uma única passagem do Sol. A Esfera de Hill do Sol tem um limite máximo instável de 230 000 UA (3,6 anos-luz). Apenas algumas centenas de cometas foram vistos atingindo uma órbita hiperbólica (e > 1) quando perto do periélio que o uso de um melhor ajuste heliocêntrico não perturbado de dois-corpos sugere que eles podem escapar do Sistema Solar.
Em 2019, apenas dois objetos foram descobertos com uma excentricidade significativamente maior do que um: 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov, indicando uma origem fora do Sistema Solar. Enquanto 1I/ʻOumuamua, com uma excentricidade de cerca de 1,2, não mostrou sinais ópticos de atividade cometária durante sua passagem pelo Sistema Solar interno em outubro de 2017, mudanças em sua trajetória, que sugere desgaseificação, indicam que é provavelmente um cometa. Por outro lado, 2I/Borisov, com uma excentricidade estimada de cerca de 3,36, foi observado para ter a característica de coma cometária, e é considerado o primeiro cometa interestelar detectado. O cometa C/1980 E1 teve um período orbital de aproximadamente 7,1 milhões de anos antes da passagem do periélio de 1982, mas um encontro de 1980 com Júpiter acelerou o cometa dando-lhe a maior excentricidade (1,057) de qualquer cometa solar conhecido com um arco de observação razoável. Os cometas que não devem retornar ao Sistema Solar interno incluem C/1980 E1, C/2000 U5, C/2001 Q4, C/2009 R1, C/1956 R1 e C/2007 F1.
Algumas autoridades usam o termo "cometa periódico" para se referir a qualquer cometa com uma órbita periódica (isto é, todos os cometas de curto período mais todos os cometas de longo período), enquanto outros o usam para designar exclusivamente cometas de curto período. Da mesma forma, embora o significado literal de "cometa não-periódico" seja o mesmo que "cometa de aparição única", alguns o usam para significar todos os cometas que não são "periódicos" no segundo sentido (ou seja, para incluir também todos os cometas com um período superior a 200 anos).
As primeiras observações revelaram algumas trajetórias genuinamente hiperbólicas (ou seja, não-periódicas), mas não mais do que poderia ser explicado pelas perturbações de Júpiter. Os cometas do espaço interestelar estão se movendo com velocidades da mesma ordem que as velocidades relativas das estrelas próximas ao Sol (algumas dezenas de km por segundo). Quando tais objetos entram no Sistema Solar, eles têm uma energia orbital específica positiva, resultando em uma velocidade positiva no infinito () E são notavelmente trajetórias hiperbólicas. Um cálculo aproximado mostra que pode haver 4 cometas hiperbólicos por século na órbita de Júpiter, com uma ou duas ordens de magnitude.
Nuvem de Oort e nuvem de Hills
Acredita-se que a nuvem de Oort ocupe um vasto espaço entre 2 000 a 5 000 UA (0,03 a 0,08 anos-luz) até 50 000 UA (0,79 anos-luz) do Sol. Essa nuvem envolve os corpos celestes que começa no meio de nosso Sistema Solar, o Sol, até os limites externos do Cinturão de Kuiper. A nuvem de Oort consiste em materiais viáveis necessários para a criação de corpos celestes. Os planetas que temos hoje existem apenas por causa dos planetesimais (pedaços de espaço restante que ajudaram na criação dos planetas) que foram condensados e formados pela gravidade do Sol. O excêntrico feito a partir desses planetesimais presos é a razão pela qual a Nuvem de Oort ainda existe. Algumas estimativas colocam a borda externa entre 100 000 a 200 000 UA (1,58 a 3,16 anos-luz). A região pode ser subdividida em uma nuvem externa esférica de Oort de 20 000 a 50 000 UA (0,32 a 0,79 anos-luz) e uma nuvem interna em forma de rosca, a nuvem de Hills, de 2 000 a 20 000 UA (0,03 a 0,32 anos-luz). A nuvem externa está apenas fracamente ligada ao Sol e fornece os cometas de longo período (e possivelmente do tipo Halley) que caem dentro da órbita de Netuno. A nuvem interna de Oort também é conhecida como nuvem de Hills, em homenagem a Jack G. Hills, que propôs sua existência em 1981. Os modelos preveem que a nuvem interna deve ter dezenas ou centenas de vezes mais núcleo cometário do que o halo externo; é visto como uma possível fonte de novos cometas que reabastecem a nuvem externa relativamente tênue, à medida que o número desta última se esgota gradualmente. A nuvem de Hills explica a existência continuada da nuvem Oort depois de bilhões de anos.
Exocometas
Exocometas além do Sistema Solar também foram detectados e podem ser comuns na Via Láctea. O primeiro sistema com exocometa detectado foi em torno de Beta Pictoris, uma estrela muito jovem de classe A da sequência principal, em 1987. Um total de 11 desses sistemas com exocometas foram identificados em 2013, usando o espectro de absorção causado pelas grandes nuvens de gás emitidas pelos cometas ao passar perto de sua estrela. Por 10 anos, o telescópio espacial Kepler foi responsável pela busca de planetas e outras formas fora do Sistema Solar. Os primeiros exocometas em trânsito foram encontrados em fevereiro de 2018 por um grupo formado por astrônomos profissionais e cientistas cidadãos em curvas de luz registradas pelo Telescópio Espacial Kepler. Após a aposentadoria do Telescópio Espacial Kepler em outubro de 2018, um novo telescópio chamado Telescópio TESS assumiu a missão do Kepler. Desde o lançamento do TESS, os astrônomos descobriram os trânsitos de cometas ao redor da estrela Beta Pictoris usando uma curva de luz do TESS. Desde que o TESS assumiu, os astrônomos têm sido capazes de distinguir melhor os exocometas com o método espectroscópico. Novos planetas são detectados pelo método da curva de luz branca, que é visto como uma queda simétrica nas leituras do gráfico quando um planeta ofusca sua estrela-mãe. No entanto, após uma avaliação mais aprofundada dessas curvas de luz, foi descoberto que os padrões assimétricos das depressões apresentadas são causados pela cauda de um cometa ou de centenas de cometas.
Efeitos de cometas
Conexão com chuvas de meteoros
Conforme um cometa é aquecido durante passagens próximas ao Sol, a desgaseificação de gases de seus componentes gelados também libera detritos sólidos grandes demais para serem varridos pela pressão de radiação e pelo vento solar. Se a órbita da Terra o enviar por essa trilha de destroços, que é composta principalmente de grãos finos de material rochoso, é provável que haja uma chuva de meteoros quando a Terra passar. Trilhas mais densas de detritos produzem chuvas de meteoros rápidas, mas intensas, e trilhas menos densas criam chuvas mais longas, porém menos intensas. Normalmente, a densidade da trilha de destroços está relacionada a quanto tempo atrás o cometa original liberou o material. A chuva de meteoros Perseidas, por exemplo, ocorre todos os anos entre 9 e 13 de agosto, quando a Terra passa pela órbita do cometa Swift-Tuttle. O cometa Halley é a fonte da chuva Oriónida em outubro.
Cometas e impacto na vida
Muitos cometas e asteroides colidiram com a Terra em seus estágios iniciais. Muitos cientistas pensam que os cometas que bombardearam a jovem Terra cerca de 4 bilhões de anos atrás trouxeram grandes quantidades de água que agora enchem os oceanos da Terra, ou pelo menos uma parte significativa dela. Outros lançaram dúvidas sobre esta ideia. A detecção de moléculas orgânicas, incluindo hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, em quantidades significativas em cometas levou à especulação de que cometas ou meteoritos podem ter trazido os precursores da vida — ou mesmo a própria vida — para a Terra. Em 2013, foi sugerido que impactos entre superfícies rochosas e geladas, como cometas, tinham o potencial de criar os aminoácidos que compõem as proteínas por meio da síntese de choque. A velocidade com que os cometas entraram na atmosfera, combinada com a magnitude da energia criada após o contato inicial, permitiu que moléculas menores se condensassem em macromoléculas maiores que serviam como base para a vida. Em 2015, os cientistas encontraram quantidades significativas de oxigênio molecular nos gases do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, sugerindo que a molécula pode ocorrer com mais frequência do que se pensava e, portanto, menos um indicador de vida como se supunha.
Suspeita-se que os impactos de cometas, ao longo de longas escalas de tempo, também entregaram quantidades significativas de água à Lua da Terra, algumas das quais podem ter sobrevivido como gelo lunar. Impactos de cometas e meteoroides também são considerados responsáveis pela existência de tectitos e australitos.
Medo de cometas
O medo dos cometas como atos de Deus e sinais de destruição iminente foi maior na Europa de 1200 a 1650. No ano seguinte ao Grande Cometa de 1618, por exemplo, Gotthard Arthusius publicou um panfleto afirmando que era um sinal de que o Dia do Juízo estava próximo. Ele listou dez páginas de desastres relacionados com cometas, incluindo "terremotos, inundações, mudanças nos cursos dos rios, tempestades de granizo, clima quente e seco, colheitas ruins, epidemias, guerra e traição e preços altos".
Por volta de 1700, a maioria dos estudiosos concluiu que tais eventos ocorreram quer um cometa tenha sido visto ou não. Usando os registros de avistamentos de cometas de Edmond Halley, no entanto, William Whiston em 1711 escreveu que o Grande Cometa de 1680 tinha uma periodicidade de 574 anos e foi responsável pelo dilúvio mundial no Livro do Gênesis, derramando água na Terra. Seu anúncio reviveu por mais um século de medo dos cometas, agora como ameaças diretas ao mundo em vez de sinais de desastres. A análise espectroscópica em 1910 encontrou o gás tóxico cianogênio na cauda do cometa Halley, causando a compra em pânico de máscaras de gás e "pílulas anti-cometa" e "guarda-chuva anti-cometa" pelo público.
Destino dos cometas
Partida (ejeção) do Sistema Solar
Se um cometa estiver viajando rápido o suficiente, ele pode deixar o Sistema Solar. Esses cometas seguem o caminho aberto de uma hipérbole e, como tal, são chamados de cometas hiperbólicos. Os cometas solares são ejetados apenas pela interação com outro objeto no Sistema Solar, como Júpiter. Um exemplo disso é o cometa C/1980 E1, que foi deslocado de uma órbita de 7,1 milhões de anos ao redor do Sol para uma trajetória hiperbólica, após uma passagem próxima pelo planeta Júpiter em 1980. Cometas interestelares como 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov nunca orbitaram o Sol e, portanto, não requerem uma interação de terceiro corpo para serem ejetados do Sistema Solar.
Voláteis exauridos
Os cometas da família de Júpiter (JFC) e os cometas de longo período parecem seguir leis de desvanecimento muito diferentes. Os JFC estão ativos durante uma vida de cerca de 10 000 anos ou cerca de ~1 000 órbitas, enquanto os cometas de longo período desaparecem muito mais rápido. Apenas 10% dos cometas de longo período sobrevivem a mais de 50 passagens até o pequeno periélio e apenas 1% deles sobrevive a mais de 2 000 passagens. Eventualmente, a maior parte do material volátil contido no núcleo do cometa evapora, e o cometa se torna um pequeno pedaço escuro e inerte de rocha ou entulho que pode se assemelhar a um asteroide. Alguns asteroides em órbitas elípticas são agora identificados como cometas extintos. Acredita-se que cerca de 6% dos asteroides próximos à Terra sejam núcleos de cometas extintos.
Separação e colisões
O núcleo de alguns cometas pode ser frágil, uma conclusão apoiada pela observação de cometas se separando. Uma perturbação cometária significativa foi a do Cometa Shoemaker-Levy 9, que foi descoberto em 1993. Um encontro próximo em julho de 1992 o quebrou em pedaços, e durante um período de 6 dias em julho de 1994, esses pedaços caíram na atmosfera de Júpiter, a primeira vez que astrônomos observaram uma colisão entre dois objetos no Sistema Solar. Outros cometas que se dividem incluem 3D/Biela em 1846 e 73P/Schwassmann-Wachmann de 1995 a 2006. O historiador grego Éforo de Cime relatou que um cometa se dividiu já no inverno de 372-373 a.C. Suspeita-se que os cometas se dividam devido ao estresse térmico, pressão interna do gás ou impacto.
Os cometas 42P/Neujmin e 53P/Van Biesbroeck parecem ser fragmentos de um mesmo cometa. As integrações numéricas mostraram que ambos os cometas se aproximaram bastante de Júpiter em janeiro de 1850 e que, antes de 1850, as duas órbitas eram quase idênticas.
Foi observado que alguns cometas se separaram durante a passagem do periélio, incluindo os grandes cometas West e Ikeya-Seki. O cometa 3D/Biela foi um exemplo significativo quando se partiu em dois pedaços durante a passagem pelo periélio em 1846. Esses dois cometas foram vistos separadamente em 1852, mas nunca mais depois. Em vez disso, chuva de meteoros espetaculares foram vistas em 1872 e 1885, quando o cometa deveria estar visível. Uma pequena chuva de meteoros, os Andromedídeos, ocorre anualmente em novembro, e é causada quando a Terra cruza a órbita do cometa 3D/Biela.
Alguns cometas encontram um fim mais espetacular, caindo no Sol ou colidindo com um planeta ou outro corpo. Colisões entre cometas e planetas ou luas eram comuns no início do Sistema Solar: algumas das muitas crateras da Lua, por exemplo, podem ter sido causadas por cometas. Uma recente colisão de um cometa com um planeta ocorreu em julho de 1994, quando o Cometa Shoemaker-Levy 9 se partiu em pedaços e colidiu com Júpiter.
Nomenclatura
Os nomes dados aos cometas seguiram várias convenções diferentes nos últimos dois séculos. Antes do início do século XX, a maioria dos cometas era simplesmente referida pelo ano em que apareceram, às vezes com adjetivos adicionais para cometas particularmente brilhantes; assim, o "Grande Cometa de 1680", o "Grande Cometa de 1882" e o "Grande Cometa de Janeiro de 1910". Depois que Edmond Halley demonstrou que os cometas de 1531, 1607 e 1682 eram o mesmo corpo e previu com sucesso seu retorno em 1759 calculando sua órbita, esse cometa ficou conhecido como o cometa Halley. Da mesma forma, o segundo e o terceiro cometas periódicos conhecidos, o cometa Encke e o cometa Biela, foram nomeados em homenagem aos astrônomos que calcularam suas órbitas ao invés de seus descobridores originais. Mais tarde, os cometas periódicos geralmente recebiam o nome de seus descobridores, mas os cometas que apareceram apenas uma vez continuaram a ser referidos pelo ano em que surgiram.
No início do século XX, a convenção de nomear cometas após seus descobridores tornou-se comum, e isso permanece até hoje. Um cometa pode receber o nome de seus descobridores ou de um instrumento ou programa que ajudou a encontrá-lo. Por exemplo, em 2019, o astrônomo Gennadiy V. Borisov observou um cometa que parecia ter se originado fora do Sistema Solar; o cometa foi nomeado C/2019 Q4 (Borisov) em sua homenagem.
História de estudo
Primeiras observações e pensamentos
De fontes antigas, como ossos de oráculos chineses, sabe-se que os cometas são notados pelos humanos há milênios. Até o século XVI, os cometas eram geralmente considerados maus presságios de morte de reis ou homens nobres, ou de catástrofes vindouras, ou mesmo interpretados como ataques de seres celestiais contra habitantes terrestres.
Aristóteles (384-322 a.C.) foi o primeiro cientista conhecido a utilizar várias teorias e fatos observacionais para empregar uma teoria cosmológica de cometas consistente e estruturada. Ele acreditava que os cometas eram fenômenos atmosféricos, devido ao fato de que eles podiam aparecer fora do zodíaco e variar em brilho ao longo de alguns dias. A teoria cometária de Aristóteles surgiu de suas observações e da teoria cosmológica de que tudo no cosmos está organizado em uma configuração distinta. Parte dessa configuração era uma separação clara entre o celeste e o terrestre, acreditando-se que os cometas estivessem estritamente associados a terrestre. De acordo com Aristóteles, os cometas devem estar dentro da esfera da lua e claramente separados do céu. Também no século IV a.C., Apolônio de Mindo apoiou a ideia de que os cometas se moviam como os planetas. A teoria aristotélica sobre cometas continuou a ser amplamente aceita ao longo da Idade Média, apesar de várias descobertas de vários indivíduos desafiando seus aspectos.
No século I d.C., Séneca, questionou a lógica de Aristóteles a respeito dos cometas. Por causa de seu movimento regular e impermeabilidade ao vento, eles não podem ser atmosféricos, e são mais permanentes do que o sugerido por seus breves flashes no céu. Ele ressaltou que apenas as caudas são transparentes e, portanto, semelhantes a nuvens, e argumentou que não há razão para confinar suas órbitas ao zodíaco. Ao criticar Apolônio, Sêneca argumenta: "Um cometa corta as regiões superiores do universo e finalmente se torna visível quando atinge o ponto mais baixo de sua órbita". Embora Sêneca não tenha sido o autor de uma teoria substancial própria, seus argumentos geraram muitos debates entre os críticos de Aristóteles nos séculos XVI e XVII.
Também no século I d.C., Plínio, o Velho, acreditava que os cometas estavam relacionados com agitação política e morte. Plínio observou os cometas como "semelhantes aos humanos", muitas vezes descrevendo suas caudas com "cabelo comprido" ou "barba comprida". Seu sistema de classificação de cometas de acordo com sua cor e forma foi usado durante séculos.
Na Índia, no século VI, os astrônomos acreditavam que os cometas eram corpos celestes que reapareciam periodicamente. Esta foi a opinião expressa no século VI pelos astrônomos Varahamihira e Bhadrabahu III, e o astrônomo do século X, Bhaṭṭotpala listou os nomes e períodos estimados de certos cometas, mas não se sabe como esses números foram calculados ou quão precisos eram.
Na Tapeçaria de Bayeux do século XI, o Cometa Halley é retratado prenunciando a morte de Harold II e o triunfo dos normandos na Batalha de Hastings.
De acordo com a mitologia nórdica, os cometas eram na verdade uma parte do crânio do gigante Ímer. De acordo com a história, Odin e seus irmãos mataram Ímer e começaram a construir o mundo (Terra) de seu cadáver. Eles moldaram os oceanos de seu sangue, o solo de sua pele e músculos, a vegetação de seu cabelo, as nuvens de seu cérebro e o céu de seu crânio. Quatro anões, correspondendo aos quatro pontos cardeais, seguraram o crânio de Ímer no alto, acima da terra. Seguindo essa história, cometas no céu, como acreditavam os nórdicos, eram lascas do crânio de Ímer caindo do céu e depois se desintegrando.
Em 1301, o pintor italiano Giotto di Bondone foi a primeira pessoa a retratar com precisão e anatomicamente um cometa. Em sua obra Adoration of the Magi, a representação de Giotto do cometa Halley no lugar da Estrela de Belém teria uma precisão incomparável até o século XIX e seria superada apenas com a invenção da fotografia.
As interpretações astrológicas dos cometas começaram a ter precedência clara no século XV, apesar da presença da astronomia científica moderna começando a criar raízes. Os cometas continuaram a advertir sobre desastres, como visto nas crônicas de Luzerner Schilling e nas advertências do Papa Calisto III. Em 1578, o bispo luterano alemão Andreas Celichius definiu os cometas como "a fumaça densa dos pecados humanos... acesa pela raiva ardente do Supremo Juiz Celestial". No ano seguinte, Andreas Dudith afirmou que "Se os cometas fossem causados pelos pecados dos mortais, eles nunca estariam ausentes do céu".
Método cientifico
Tentativas grosseiras de uma medição paralaxe do cometa Halley foram feitas em 1456, mas foram erradas. Regiomontanus foi o primeiro a tentar calcular a paralaxe diurna observando o Grande Cometa de 1472. Suas previsões não eram muito precisas, mas foram conduzidas na esperança de estimar a distância de um cometa da Terra.
No século XVI, Tycho Brahe e Michael Maestlin demonstraram que os cometas devem existir fora da atmosfera da Terra medindo a paralaxe do Grande Cometa de 1577. Dentro da precisão das medições, isso implicava que o cometa deve estar pelo menos quatro vezes mais distante do que da Terra à Lua. Com base em observações em 1664, Giovanni Alfonso Borelli registrou as longitudes e latitudes dos cometas que observou e sugeriu que as órbitas cometárias podem ser parabólicas. Galileo Galilei, um dos astrônomos mais renomados até hoje, até tentou escrever sobre cometas no Il Saggiatore. Ele rejeitou as teorias de Brahe sobre a paralaxe dos cometas e afirmou que eles podem ser uma mera ilusão de ótica. Intrigado como os primeiros cientistas estavam sobre a natureza dos cometas, Galileu não pôde deixar de lançar suas próprias teorias, apesar de pouca observação pessoal. O aluno de Maestlin, Johannes Kepler, respondeu a essas críticas injustas em sua obra Hyperaspistes. Jakob Bernoulli publicou outra tentativa de explicar os cometas (Conamen Novi Systematis Cometarum) em 1682.
Também ocorrendo no início do período moderno foi o estudo dos cometas e seu significado astrológico nas disciplinas médicas. Muitos curandeiros dessa época consideravam a medicina e a astronomia interdisciplinares e empregavam seus conhecimentos sobre cometas e outros signos astrológicos para diagnosticar e tratar pacientes.
Isaac Newton, na obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural de 1687, provou que um objeto que se move sob a influência da gravidade por uma lei do inverso do quadrado deve traçar uma órbita em forma de uma das seções cônicas e demonstrou como ajustar a trajetória de um cometa no céu a uma órbita parabólica, usando o Grande Cometa de 1680 como exemplo. Ele descreve os cometas como corpos sólidos compactos e duráveis que se movem em órbita oblíqua e suas caudas como finos fluxos de vapor emitidos por seus núcleos, inflamados ou aquecidos pelo Sol. Ele suspeitava que os cometas eram a origem do componente de sustentação da vida do ar. Ele também apontou que os cometas geralmente aparecem perto do Sol e, portanto, muito provavelmente o orbitam. Sobre sua luminosidade, ele afirmou, "Os cometas brilham pela luz do Sol, que eles refletem", com suas caudas iluminadas pela "luz do Sol refletida por uma fumaça que surge [do coma]".
Em 1705, Edmond Halley aplicou o método de Newton a 23 aparições cometárias que ocorreram entre 1337 e 1698. Ele notou que três deles, os cometas de 1531, 1607 e 1682, tinham elementos orbitais muito semelhantes, e ele foi ainda capaz de explicar as pequenas diferenças em suas órbitas em termos de perturbação gravitacional causada por Júpiter e Saturno. Confiante de que essas três aparições foram três aparições do mesmo cometa, ele previu que ele apareceria novamente em 1758-1759. A data prevista de retorno do Halley foi posteriormente refinado por uma equipe de três matemáticos franceses: Alexis Claude de Clairaut, Jérôme Lalande e Nicole-Reine Lepaute, que previu a data do periélio do cometa em 1759 com a precisão de um mês. Quando o cometa retornou conforme previsto, ele se tornou conhecido como Cometa Halley.
Já no século XVIII, alguns cientistas haviam feito hipóteses corretas sobre a composição física dos cometas. Em 1755, Immanuel Kant formulou a hipótese em sua Universal Natural History and Theory of the Heavens que os cometas foram condensados da "matéria primitiva" além dos planetas conhecidos, que é "fracamente movida" pela gravidade, então orbita em inclinações arbitrárias e são parcialmente vaporizados pelo calor do Sol enquanto eles próximo ao periélio. Em 1836, o matemático alemão Friedrich Wilhelm Bessel, após observar fluxos de vapor durante o aparecimento do Cometa Halley em 1835, propôs que as forças do jato do material em evaporação poderiam ser grandes o suficiente para alterar significativamente a órbita de um cometa, e ele argumentou que o não os movimentos gravitacionais do Cometa Encke resultaram desse fenômeno.
No século XIX, o Observatório Astronômico de Pádua foi um epicentro no estudo observacional de cometas. Liderado por Giovanni Sante Gaspero Santini e seguido por Giuseppe Lorenzoni, este observatório foi dedicado à astronomia clássica, principalmente para o cálculo da órbita de novos cometas e planetas, com o objetivo de compilar um catálogo de quase 10 000 estrelas. Situado na parte norte da Itália, as observações deste observatório foram fundamentais no estabelecimento de cálculos geodésicos, geográficos e astronômicos importantes, como a diferença de longitude entre Milão e Pádua, bem como entre Pádua e Fiume. Além dessas observações geográficas, correspondência dentro do observatório, particularmente entre Santini e outro astrônomo Giuseppe Toaldo, sobre a importância das observações cometas e orbitais planetários.
Em 1950, Fred Whipple propôs que, em vez de serem objetos rochosos contendo algum gelo, os cometas eram objetos congelados contendo um pouco de poeira e rocha. Este modelo de "bola de neve suja" logo foi aceito e parecia ser apoiado pelas observações de uma armada de sondas espaciais (incluindo a sonda Giotto da Agência Espacial Europeia (ESA) e as Vega 1 e Vega 2 da União Soviética) que voaram pelo coma do Cometa Halley em 1986, fotografou o núcleo e observou jatos de material em evaporação.
Em 22 de janeiro de 2014, os cientistas da ESA relataram a detecção, pela primeira vez definitiva, de vapor de água no planeta anão Ceres, o maior objeto do cinturão de asteroides. A detecção foi feita usando as habilidades de infravermelho distante do Observatório Espacial Herschel. A descoberta é inesperada porque os cometas, e não asteroides, são normalmente considerados "jatos e plumas". De acordo com um dos cientistas, "as linhas estão ficando cada vez mais difusas entre cometas e asteroides". Em 11 de agosto de 2014, astrônomos divulgaram estudos, usando o Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA) pela primeira vez, que detalhavam a distribuição de HCN, HNC, e poeira dentro do coma dos cometas C/2012 F6 (Lemmon) e C/2012 S1 (ISON).
Missões espaciais
A Armada Halley descreve a coleção de missões de sondas espaciais que visitaram e/ou fizeram observações do periélio do Cometa Halley na década de 1980. O ônibus espacial Challenger pretendia fazer um estudo do Cometa Halley em 1986, mas explodiu logo após ser lançado.
Deep Impact. O debate continua sobre a quantidade de gelo existente em um cometa. Em 2001, a sonda espacial Deep Space 1 obteve imagens de alta resolução da superfície do Cometa Borrelly. Verificou-se que a superfície do Cometa Borrelly é quente e seca, com uma temperatura entre 26 a 71 °C, e extremamente escura, sugerindo que o gelo foi removido por aquecimento solar e maturação, ou está oculto pelo material semelhante a fuligem que cobre o Borrelly. Em julho de 2005, a sonda Deep Impact explodiu uma cratera no Cometa Tempel 1 para estudar seu interior. A missão produziu resultados que sugerem que a maior parte do gelo de água de um cometa está abaixo da superfície e que esses reservatórios alimentam os jatos de água vaporizada que formam a coma do Tempel 1. Renomeado como EPOXI, ele sobrevoou o Cometa Hartley 2 em 4 de novembro de 2010.
Ulysses. Em 2007, a sonda Ulysses passou inesperadamente pela cauda do cometa C/2006 P1 (McNaught) que foi descoberto em 2006. O Ulysses foi lançado em 1990 e a missão pretendida era que o Ulysses orbitasse ao redor do Sol para um estudo mais aprofundado em todas as latitudes.
Stardust. Dados da missão Stardust mostram que os materiais recuperados da cauda do cometa Wild 2 eram cristalinos e só poderiam ter "nascido no fogo", em temperaturas extremamente altas de mais de 1 000 °C. Embora os cometas tenham se formado na parte externa do Sistema Solar, acredita-se que a mistura radial de material durante a formação inicial do Sistema Solar tenha redistribuído o material por todo o disco protoplanetário. Como resultado, os cometas também contêm grãos cristalinos que se formaram no início do Sistema Solar interior quente. Isso é visto em espectros de cometas, bem como em missões de retorno de amostra. Mais recente ainda, os materiais recuperados demonstram que a "poeira do cometa se assemelha a materiais de asteroides". Esses novos resultados forçaram os cientistas a repensar a natureza dos cometas e sua distinção dos asteroides.
Rosetta. A sonda Rosetta orbitou o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Em 12 de novembro de 2014, seu módulo de pouso Philae pousou com sucesso na superfície do cometa, a primeira vez que uma sonda espacial pousou em tal objeto na história.
Classificação
Grandes cometas
Aproximadamente uma vez por década, um cometa torna-se brilhante o suficiente para ser notado por um observador casual, levando esses cometas a serem designados como grandes cometas. Prever se um cometa se tornará um grande cometa é notoriamente difícil, pois muitos fatores podem fazer com que o brilho de um cometa se afaste drasticamente das previsões. Em termos gerais, se um cometa tiver um núcleo grande e ativo, passará perto do Sol e não será obscurecido pelo Sol como visto da Terra quando em seu mais brilhante, ele tem a chance de se tornar um grande cometa. No entanto, o Cometa Kohoutek em 1973 atendeu a todos os critérios e esperava-se que se tornasse espetacular, mas não conseguiu. O Cometa West, que apareceu três anos depois, tinha expectativas muito menores, mas se tornou um cometa extremamente impressionante.
O Grande Cometa de 1577 é um exemplo bem conhecido de um grande cometa. Ele passou perto da Terra como um cometa não periódico e foi visto por muitos, incluindo os astrônomos conhecidos Tycho Brahe e Taqi ad-Din. As observações deste cometa levaram a várias descobertas significativas sobre a ciência cometária, especialmente para Brahe.
O final do século XX viu um longo intervalo sem o aparecimento de quaisquer grandes cometas, seguido pela chegada de dois em rápida sucessão, Cometa Hyakutake em 1996, seguido por Hale-Bopp, que atingiu brilho máximo em 1997 tendo sido descoberto dois anos antes. O primeiro grande cometa do século XXI foi C/2006 P1 (McNaught), que se tornou visível para observadores a olho nu em janeiro de 2007. Foi o mais brilhante em mais de 40 anos.
Cometas rasantes
Um cometa rasante é aquele que passa extremamente próximo ao Sol no periélio, geralmente dentro de alguns milhões de quilômetros. Embora os pequenos cometas rasantes possam ser completamente evaporados durante uma aproximação tão próxima do Sol, os maiores cometas rasantes podem sobreviver a muitas passagens do periélio. No entanto, as fortes forças das marés que experimentam geralmente levam à sua fragmentação.
Cerca de 90% dos cometas rasantes do Sol observados com Solar and Heliospheric Observatory (SOHO) são membros do grupo Kreutz, todos originados de um cometa gigante que se dividiu em muitos cometas menores durante sua primeira passagem pelo Sistema Solar interno. O restante contém alguns cometas rasantes esporádicos, mas 4 outros grupos relacionados de cometas foram identificados entre eles: os grupos Kracht, Kracht 2a, Marsden e Meyer. Os grupos Marsden e Kracht parecem estar relacionados ao Cometa 96P/Machholz, que também é o pai de duas chuvas de meteoros, os Quadrântidas e os Ariétidas.
Cometas incomuns
Dos milhares de cometas conhecidos, alguns exibem propriedades incomuns. O Cometa Encke (2P/Encke) orbita de fora do cinturão de asteroides para dentro da órbita do planeta Mercúrio, enquanto o cometa 29P/Schwassmann-Wachmann atualmente viaja em uma órbita quase circular inteiramente entre as órbitas de Júpiter e Saturno. 2060 Quíron, cuja órbita instável é entre Saturno e Urano, foi originalmente classificado como um asteroide até que um leve coma foi notado. Da mesma forma, o Cometa Shoemaker-Levy 2 foi originalmente designado como asteroide .
O maior cometa conhecido é o Cometa Bernardinelli-Bernstein. O objeto foi inicialmente observado em 2014, após o qual cresceu uma cauda. Ele tem um período orbital superior a 3 milhões de anos e fará sua maior aproximação do Sol, cerca da distância solar de Saturno, em 2031.
Centauros
Centauros normalmente se comportam com características de asteroides e cometas. Centauros podem ser classificados como cometas, como 60558 Equeclo e 166P/NEAT. 166P/NEAT foi descoberto enquanto exibia um coma e, portanto, é classificado como um cometa apesar de sua órbita, e 60558 Equeclo foi descoberto sem coma, mas mais tarde tornou-se ativo, e foi classificado como um cometa e um asteroide (174P/Equeclo). Um plano para a Cassini envolvia enviá-lo a um centauro, mas a NASA decidiu destruí-lo.
Observação
Um cometa pode ser descoberto fotograficamente usando um telescópio de amplo campo ou visualmente com binóculos. No entanto, mesmo sem acesso a equipamentos ópticos, ainda é possível ao astrônomo amador descobrir online um cometa rasante ao Sol, baixando imagens acumuladas por alguns observatórios de satélites, como o Solar and Heliospheric Observatory (SOHO). O 2 000.º cometa SOHO foi descoberto pelo astrônomo amador polonês Michał Kusiak em 26 de dezembro de 2010 e ambos os descobridores de Hale-Bopp usaram equipamento amador (embora Alan Hale não fosse um amador).
Perdido
Vários cometas periódicos descobertos em décadas anteriores ou em séculos anteriores são agora cometas perdidos. Suas órbitas nunca foram conhecidas o suficiente para prever aparições futuras ou os cometas se desintegraram. No entanto, ocasionalmente, um "novo" cometa é descoberto e o cálculo de sua órbita mostra que ele é um antigo cometa "perdido". Um exemplo é o Cometa 11P/Tempel-Swift-LINEAR, descoberto em 1869, mas não observável depois de 1908 por causa das perturbações de Júpiter. Não foi encontrado novamente até ser acidentalmente redescoberto pelo Lincoln Near-Earth Asteroid Research (LINEAR) em 2001. Existem pelo menos 18 cometas que se enquadram nesta categoria.
Na cultura popular
A representação de cometas na cultura popular está firmemente enraizada na longa tradição ocidental de ver os cometas como arautos da desgraça e como presságios de mudanças que alteram o mundo. O Cometa Halley sozinho causou uma série de publicações sensacionalistas de todos os tipos em cada uma de suas reaparições. Foi especialmente observado que o nascimento e a morte de algumas pessoas notáveis coincidiram com aparições separadas do cometa, como os escritores Mark Twain (que corretamente especularam que ele "sairia com o cometa" em 1910) e Eudora Welty, a cuja vida Mary Chapin Carpenter dedicou a canção "Halley Came to Jackson".
No passado, cometas brilhantes costumavam inspirar pânico e histeria na população em geral, sendo considerados maus presságios. Mais recentemente, durante a passagem do Cometa Halley em 1910, a Terra passou pela cauda do cometa, e reportagens de jornais errôneas inspiraram o medo de que o cianogênio na cauda pudesse envenenar milhões, enquanto o aparecimento do cometa Hale-Bopp em 1997 desencadeou o suicídio coletivo do culto Heaven's Gate.
Na ficção científica, o impacto dos cometas foi descrito como uma ameaça superada pela tecnologia e heroísmo (como nos filmes Impacto Profundo e Armageddon de 1998), ou como um gatilho do apocalipse global (Lucifer's Hammer, 1979) ou zumbis (Night of the Comet, 1984). Em Hector Servadac, de Júlio Verne, um grupo de pessoas está preso em um cometa orbitando o Sol, enquanto uma grande expedição espacial tripulada visita o Cometa Halley no romance 2061: Odyssey Three de Arthur C. Clarke.
Galeria
Vídeos
Ver também
The Big Splash
Safras de cometas
Lista de crateras de impacto na Terra
Lista de possíveis estruturas de impacto na Terra
Listas de cometas
Referências
Notas de rodapé
Citações
Bibliografia
Leitura adicional
Ligações externas
Comets na Exploração do Sistema Solar da NASA
International Comet Quarterly — Harvard University
Catalogue of the Solar System Small Bodies Orbital Evolution
Science Demos: Make a Comet — National High Magnetic Field Laboratory
Comets: from myths to reality, exposição na biblioteca digital do Observatório de Paris
Sistema Solar
Objetos astronómicos
Gelo
Água extraterrestre
Conceitos de astronomia | 185,481 |
623 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1vado%20%28sub-regi%C3%A3o%29 | Cávado (sub-região) | O Cávado é uma sub-região portuguesa situada no noroeste do país, pertencendo à região do Norte. Tem uma extensão total de 1.246 km2, 416.652 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 351 habitantes por km2.
Está compostada por seis municípios e 181 freguesias, sendo a cidade de Braga a cidade administrativa e o principal núcleo urbano da sub-região. Com 144.362 habitantes na sua área urbana e 193.349 habitantes em todo o município, é a maior cidade e o maior município do Cávado, sendo limitada a noroeste com o Alto Minho, a norte com a região espanhola da Galiza, a leste com o Alto Tâmega, a sul com o Ave e com a Área Metropolitana do Porto e a oeste com o Oceano Atlântico.
Municípios
Amares
Barcelos
Braga
Esposende
Terras de Bouro
Vila Verde
População
Habitantes
Dado aos dados dos Censos 2021, o Cávado registou 416.679 habitantes, mais 6.379 habitantes comparado com os Censos de 2011, aonde foram registados 432.087 habitantes. Só Braga e Esposende dos sete municípios registaram um aumento de habitantes. O aumento de habitantes do Cávado aumento em 1,5%.
Jovens
A percentagem residentes de jovens no Cávado situa-se nos 13,3%, acima da média da região Norte com 12,5% e abaixo da média nacional de 13,5%. Esposende e Braga são os municípios com a percentagem de jovens acima da média do Cávado, com 13,9% e 14,1%.
Idosos
Os Censos de 2021 mostram, que 18,2% dos residentes do Cávado são idosos, abaixo da média regional do Norte com 21,2% e acima da média nacional com 22,3%. Braga e Esposende registaram uma percentagem de idosos abaixo da média do Cávado, com 17,4% e 17,9%.
Estrangeiros
3,7% da população residente no Cávado são estrangeiros, acima da média regional do Norte com 2,5% e abaixo da média nacional com 6,4%. O município de Braga registou uma percentagem de 6,4%, acima da média do Cávado, regional e igual a percentagem nacional.
Economia
Principais sectores empregadores
Os sectores com mais trabalhadores é a indústria transformadora, com 29,7% de todos os trabalhadores empregados no Cávado, seguido pelo comércio com 17,1%, da construção com 15% e atividades administrativos com 6,1%.
Desemprego
Dado aos dados dos Censos 2021, a taxa de desemprego situava-se no ano de 2020 nos 4,7%, 1,5% abaixo da média regional do Norte, que situava se nos 6,2% e 1,1% abaixo da média nacional, que se situava nos 5,8%. Os municípios de Amares (4,9%), Braga (5,8%) e Terras de Bouro (7,6%) foram os municípios a registarem uma taxa de desemprego acima da média do Cávado.
Poder de Compra
O poder de compra do Cávado situou-se nos 91,7, ligeiramente abaixo da média regional do Norte com 93, com Portugal a 100. Só o município de Braga ultrapassou a média do poder de compra do Cávado, regional e nacional com 108,8.
Salários
O ganho médio mensal no Cávado em 2019 foi de 1.044,50€, abaixo da média de 1.100,40€ registado na região Norte e abaixo da média nacional de 1.206,30€. Só o município de Braga ultrapassou a média do ganho mensal do Cávado e regional com 1.145,80€.
Infraestruturas
Auto-estradas
O Cávado está servida por x auto-estradas
A A3 liga Porto a Espanha
A A11 liga Esposende a Penafiel
A A28 liga Porto a Viana do Castelo
A CSB é a auto-estrada circular de Braga
Estradas Nacionais
N13 liga Porto a Valença
N101 liga Felgueiras a Valença
N103 liga Viana do Castelo a Bragança
N103-1 liga Esposende a Barcelos
N103-2
N204
N205 liga Póvoa de Varzim a Cabeceiras de Basto
N205-3
N205-4
N301
N305
N305-1
N306
N307
N309
N310
N544-1
N562
Aeródromo
O Cávado está servido por um aeródromo, situado no norte da cidade de Braga.
Ferrovia
A linha de Braga, ou Ramal de Braga, liga o centro do Porto com o centro de Braga, servida pelos CP Urbanos do Porto, comboios urbanos da área metropolitana do Porto, que tem uma frequência hora em hora, em horas de ponto cada meia hora, ligações vice-versa. Pela linha encontram-se muitas estações e apeadeiros, aonde os habitantes locais são servidos pelos comboios suburbanos. Braga também está servida por ligações de Intercidades e Alfa Pendular, que tem uma frequência de duas em duas horas e ligam Braga com o Porto, com um tempo de trajeto reduzido ao tempo de trajeto com o comboio suburbano, a Aveiro, Coimbra, Lisboa e a Faro.
A linha do Minho liga o centro do Porto com Viana do Castelo e Valença, ambos municípios da sub-região do Alto Minho. A linha é servida por duas ligações regionais; Valença-Viana do Castelo e Viana do Castelo-Nine. Todas as ligações são exploradas pela CP Regional e tem uma frequência de várias ligações diárias. Existem também ligações Interregionais, também explorados pela CP, que fazem a ligação desde Figueira da Foz, atravessando o Porto e Viana do Castelo, até Valença.
Hospitais
No Cávado existem nove hospitais, dos quais três são públicos. Os restantes seis hospitais são privados ou público-privados. Um público e três privados dos nove hospitais encontram-se em Braga, um público e dois privados em Barcelos, um público em Esposende e um público em Vila Verde.
Educação
Existem 250 escolas pré-escolares, 189 escolas do primeiro ciclo, 45 escolas do segundo ciclo, 61 escolas do terceiro ciclo e 32 escolas secundárias. Ainda existem dez escolas superiores, como a Universidade do Minho e várias escolas politécnicas.
Ver também
Comunidade Intermunicipal do Cávado
Lista de concelhos por NUTS
NUTS 3 de Portugal
Minho | 13,183 |
624 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cova%20da%20Beira | Cova da Beira | Localização da Cova da Beira no mapa
das NUT-III vigente até 2013
A Cova da Beira é uma sub-região histórica portuguesa, parte da Beira Interior, mais concretamente do distrito de Castelo Branco e da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela. É constituída pelos concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte.
Geografia física
O nome Cova da Beira deriva da situação geográfica desta zona, cuja parte central é formada por um anfiteatro de terrenos relativamente planos e de meia altitude, bem delimitados por um conjunto de montanhas.
Nesta região, o Sistema Central, que divide as Mesetas Norte e Sul da Península Ibérica, divide-se em dois, com uma cordilheira a norte constituída pela Serra da Estrela e outra a sul formada pela Serra da Gardunha, que em conjunto com a Serra do Açor, delimitam um território planáltico com altitudes entre os 400 e os 600 metros, que constitui a parte central da Cova da Beira.
Historicamente, sempre serviu de elo de ligação entre as duas metades da Beira Interior- a Beira Trasmontana, a norte, e a Beira Baixa, a sul, estando intensamente ligada aos dois principais centros administrativos destes territórios- as cidades da Guarda e Castelo Branco.
Com efeito, na divisão eclesiástica, mais antiga, a Cova da Beira pertence à Diocese da Guarda. Nas divisões administrativas do século XIX e do início do século XX, foi aglutinada aos territórios a sul, sendo incluída no Distrito de Castelo Branco e na província tradicional da Beira Baixa. No século XXI, com a reforma das NUT III efectuada em 2013, voltou a estar unida aos territórios a norte, estando actualmente incluída na Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, conjuntamente com mais 12 concelhos do Distrito da Guarda.
Geografia Humana
O principal centro urbano da Cova da Beira é a cidade da Covilhã, que durante séculos foi um dos principais centros industriais do país, associada à indústria dos lanifícios. Hoje em dia, alberga as principais instituições da região- a Universidade da Beira Interior e o Hospital Pêro da Covilhã (sede do Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, que engloba também o Hospital do Fundão).
Para além da Covilhã, também o Fundão tem estatuto de cidade.
As principais vias de acesso à região são a Linha da Beira Baixa, a Auto-Estrada da Beira Interior (A 23) e a Estrada Nacional 18.
Sub-região estatística (1989-2013)
Teve carácter oficial, tendo sido considerada como sub-região estatística (NUT III) pelo decreto-lei 46/89, de 1989. Era constituída por três concelhos:
Belmonte
Covilhã
Fundão
Limitava a norte com as sub-regiões da Serra da Estrela e da Beira Interior Norte, a leste com a Beira Interior Sul, a sul com a Beira Interior Sul e com o Pinhal Interior Sul e a oeste com o Pinhal Interior Norte. Tinha uma área de 1 373 km² e compreendia uma população de habitantes (censos de 2011).
Foi extinta pela reforma efectuada em 2013, tendo sido integrada na sub-região (NUT III) das Beiras e Serra da Estrela, em conjunto com as antigas sub-regiões da Beira Interior Norte e da Serra da Estrela, retomando assim a ligação histórica da Cova da Beira à região da Guarda.
Ver também
Lista de concelhos por NUTS
Vinho da Beira Interior
NUTS 3 de Portugal | 3,808 |
625 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Agronomia | Agronomia | Agronomia é um campo da Gestão Ambiental e abarcado pelas ciências agrárias, sendo uma área multidisciplinar que inclui subáreas aplicadas das ciências naturais, exatas, sociais e econômicas que trabalham em conjunto visando aumentar a compreensão da agropecuária e aperfeiçoar as práticas agrícolas e zootécnicas, por meio de técnicas e tecnologias em favor de uma otimização da produção dos pontos de vista econômico, técnico, social e ambiental,minimizar o gasto de energia em conformidade com as condições ambientais mutáveis.
O surgimento da agronomia foi mediante a necessidade de sobrevivência humana na terra e era caracterizada pelo cultivo primitivo de extração mas que atendeu a demanda por certo tempo, o que permitiu a permanência dos indivíduos em um local, passou por inúmeras mudanças e foi base da economia de muitas sociedades. Atualmente essa atividade se tornou algo muito mais abrangente e de extrema importância para a economia mundial.
Área de Atuação
No geral, a agronomia possui principalmente três áreas de atuação: ensino, pesquisa e extensão rural. Produz pesquisas e desenvolve as técnicas que melhoram os resultados da agropecuária como, por exemploː manejo de irrigação, engenharia rural, quantidade ótima de fertilizantes, maximização da produção em termos de quantidade e qualidade do produto, fitotecnia, zootecnia, seleção de variedades resistentes à seca e de raças (melhoramento genético animal e vegetal), doenças e pragas (entomologia, fitopatologia, fitiatria, matologia, microbiologia, nematologia), desenvolvimento de novos agroquímicos, modelos de simulação de crescimento de colheita, secagem e armazenagem de produtos agropecuários, agroindústria, economia rural, meio ambiente, mecanização agrícola e técnicas de cultura de células in vitro. Elas estudam também a transformação de produtos primários em produtos finais de consumo como, por exemplo, a produção, preservação e embalagem de produtos lácteos e a prevenção e correção de efeitos adversos ao ambiente (isto é, a degradação do solo e da água). Ou seja, a agronomia estuda a interação do complexo homem, planta, animais, solo, clima e ambiente segundo relações de causa e efeito. As pesquisas agronômicas, mais que as de outros campos, estão fortemente relacionadas ao local em que são realizadas. Fato semelhante ocorre com as técnicas derivadas dessas pesquisas.Assim, esse campo pode ser considerado uma ciência de ecorregiões porque está ligado a características locais de solo e clima que nunca são exatamente iguais nos diferentes lugares geográficos. Os sistemas agrícolas de produção devem levar em conta características como clima, local, solo e variedades de plantas e animais de produção, que precisam ser estudados a nível local. Outros sentem que é necessário entender os sistemas de produção de uma forma generalizada de maneira que o conhecimento obtido possa ser aplicado ao maior número de locais possíveis.
Os Engenheiros Agrônomos atuam de forma eclética e integrada nas atividades rurais através da horticultura, zootecnia, engenharia rural, economia, sociologia e antropologia rurais, ecologia agrícola etc.
Os conhecimentos indispensáveis à otimização da atividade rural, adquiridos pela pesquisa científica,demandam a comunicação aos agricultores. Portanto, a extensão rural é o processo de exposição dessas informações servindo-se de método educacional não formal que visa o crescimento da renda e bem-estar das famílias rurais, o que distingue da assistência técnica que é limitada à solução de questões sem instruir o agricultor.
No Brasil,a extensão rural segue a vertente pública e gratuita que é sistematizada em órgãos estaduais, os quais têm o papel de oferecer suporte técnico aos agricultores familiares, filiados a ASBRAER (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural) a qual objetiva o progresso com a mínima agressão ao meio ambiente, menor custo e de forma honesta. Um outro importante ato a favor da valorização do meio rural foi a criação do Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF) que é uma politica pública direcionada a pequenos agricultores a qual pressupõe a competência da geração de renda no espaço rural e nos municípios que estão diretamente ligados a esse ambiente.
Tecnologia
Atualmente, as ciências agrícolas são muito diferentes das de antes de 1950. A intensificação da agricultura que desde a década de 1960 vem sendo realizada por muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento é frequentemente denominada revolução verde, que com a ajuda da tecnologia proporcionou ter plantas com maior resistência a fatores climáticos, pragas ou doenças que poderiam nelas estarem presentes. Esta intensificação tem-se baseado na seleção genética de variedades de plantas e de animais capazes de alta produtividade e no uso de insumos artificiais como fertilizantes e produtos que visam a aumentar a produção através do aumento da sanidade dos vegetais e animais utilizados. Por outro lado, o dano ambiental que esta intensificação da agricultura vem causando (associado ao dano que o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional que essa intensificação permite) estão levando muitos cientistas a criar novas técnicas a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável, como o manejo integrado de doenças e de pestes, técnicas de tratamento de dejetos, técnicas de minimização de desperdício, adubação verde e arquitetura da paisagem que são vertentes da Agroecologia.
Além disso, campos como os da biotecnologia e da ciência da computação (processamento e armazenagem de dados) estão tornando possível o progresso e o desenvolvimento de novos campos de pesquisa, como a engenharia genética e a agricultura de precisão.
Desta maneira, atualmente os pesquisadores que trabalham em ciências agrícolas e nas ciências a ela associadas equacionam o problema de alimentar a população do mundo ao mesmo tempo em que previnem a ocorrência de problemas de biossegurança que possam afetar a saúde humana e o ambiente. Este é o motivo pelo qual eles buscam promover um melhor manejo de recursos naturais e do respeito ao ambiente.
A agronomia especialmente, deverá se adaptar às mudanças tecnológicas em um grau superior ao que se apresenta hoje, utiliza-se já muitas máquinas para realizar serviços que antes eram realizados por humanos, então no futuro esses serviços realizados por máquinas só irão aumentar, juntamente de diversas técnicas aprimoradas.
Os aspectos sociais, econômicos e ambientais são temas que estão em debate atualmente. Crises recentes, como a doença da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina) e o debate sobre o uso de organismos geneticamente modificados, ilustram a complexidade e importância deste debate.
Cientistas agrícolas famosos
Os pesquisadores têm papel fundamental na construção da agronomia, pois o conhecimento adquirido por um cientista na maioria das vezes favorece que outro cientista amplie o conhecimento e/ou faça novas descobertas.
Gregor Mendel
Louis Pasteur
Norman Borlaug
Augusto Ruschi
George Washington Carver
Eurípedes Malavolta
Warwick Estevam Kerr
Johanna Döbereiner
Joaquim Vieira Natividade
Ver também
Agrofloresta
Agrometeorologia
Agronegócio
Apicultura
Biotecnologia e Engenharia genética
Cartografia
Climatologia
Ciência ambiental
Construções rurais
Ecologia
Economia agrícola
Engenharia agrícola
Engenharia ambiental
Entomologia
Extensão rural
Fisiologia vegetal
Fitopatologia
Geografia
Geoprocessamento
Medicina veterinária
Máquinas e Mecanização agrícola
Nutrição animal
Nutrição vegetal
Paisagismo e Jardinagem
Pedologia
Produção de hortaliças
Tecnologia de alimentos
Turismo no espaço rural
Topografia
Zoologia
Zootecnia
Bibliografia
CONFEDERAZIONI internazionale dei tecnici agricoli, Congresso mondiale della sperimentazione agraria, Sede della Fao, 7-9 maggio 1959, Società Grafica Romana, Roma, 1959
ESALQ/USP. Enciclopédia Agrícola Brasileira. São Paulo: EDUSP. 6 vol. 1995-2006. [Coords.: SOUZA, J.S.I (vol. I, 1995; II, 1998; III, 2000;); PEIXOTO, A.M. (vol. IV, 2002; V, 2004; VI, 2006.)]
PENNAZIO, Sergio. Mineral Nutrition af Plants: A Short History of Plant Phisiology. Rivista di biologia, vol. 98, n. 2, maggio-agosto, 2005.
PIMENTEL, David; PIMENTEL, Marcia. Computer les kilocalories. Cérès, n. 59, sept-oct., 1977
RUSSELL, E.W. Soil conditions and plant growth, Longman group ltd., London, New York, 1973
SALTINI, Antonio. Storia delle scienze agrarie, 4 vol. Edagricole, Bologna, 1984-89
FINLEY, Moses I. Economia na Grécia Antiga. In: FINLEY, Moses I. ECONOMIA E SOCIEDADE NA GRÉCIA ANTIGA. Bela Vista, São Paulo - SP: WMF Martins Fontes, 2013.
ROMEIRO, Ademar. Revolução Industrial e mudança tecnológica na agricultura europeia. Revistas USP. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18633/20696>. Acesso em: 30 de outubro. 2019
Ligações externas
Primeiras escolas de agronomia do Brasil (1877 a 1936)
Glossário de Termos Usados em Atividades Agropecuárias, Florestais e Ciências Ambientais
Confea - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
Portal Agronomia
Revista Brasileira de Ciências Agrárias
Agronomia | 45,128 |
626 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo%20magn%C3%A9tico | Campo magnético | Campos magnéticos cercam materiais em correntes elétricas e são detectados pela força que exercem sobre materiais magnéticos ou cargas elétricas em movimento. O campo magnético em qualquer lugar possui tanto uma direção quanto uma magnitude (ou força), por tanto é um campo vetorial.
À luz da relatividade especial, os campos elétrico e magnético são dois aspectos inter-relacionados de um mesmo objeto, chamado de campo eletromagnético. Um campo elétrico puro em um sistema de referência é observado como uma combinação de um campo elétrico e um campo magnético em um sistema de referência em movimento em relação ao primeiro.
Na física moderna, o campo magnético e o campo elétrico são entendidos como sendo um campo fotônico. Na linguagem do Modelo Padrão a força magnética é mediada por fótons. Frequentemente esta descrição microscópica não é necessária por que a teoria clássica, mais simples e coberta neste artigo, é suficiente. A diferença é desprezível na maioria das circunstâncias.
Definição
Um campo magnético é um vetor que descreve a influência magnétrica de cargas elétricas em movimento e ímãs permanentes. Pode-se afirmar que as ligações químicas são produtos de desequilíbrios nos campos magnéticos, e não elétricos.
Um campo magnético pode ser descrito pela Lei de Biot-Savart:
ou
no qual:
é o vetor velocidade da carga elétrica, medido em metros por segundo,
indica o produto vetorial,
é a velocidade da luz no vácuo, medida em metros por segundo,
é o vetor campo elétrico, medido em newtons por coulomb ou volts por metro,
é o vetor deslocamento elétrico,
é a permeabilidade magnética.
Quando uma carga elétrica que se move em um campo magnético uniforme B com velocidade v, a carga fica sujeita à ação da força magnética , que tem direção perpendicular a v e a B. A força magnética é proporcional ao campo B, à carga q e à componente da velocidade v na direção perpendicular a B:
Se a carga elétrica móvel for negativa, a força magnética F terá sentido oposto. A força magnética altera a direção da velocidade, pois F sempre é perpendicular à velocidade, ou seja, é uma força centrípeta. Portanto, quando uma carga elétrica q está sob ação exclusiva de uma campo magnético, ela realiza um movimento circular uniforme, sua energia cinética permanece constante e o trabalho da força magnética é nulo.
B e H
A expressão campo magnético é usada para dois campos vetoriais diferentes, simbolizados por B e H.
Existem muitos nomes alternativos para os dois campos (veja tabela ao lado). Para evitar confusão, este artigo usa campo B e campo H para estes campos, e usa campo magnético onde qualquer um dos dois campos se aplicar.
O campo B pode ser definido de muitas formas equivalentes baseado nos seus efeitos sobre o ambiente. Por exemplo, uma partícula com carga elétrica, q, movendo-se em um campo B com uma velocidade v, experimenta uma força F:
onde × é o produto vetorial. O campo B é medido em tesla no SI, e em gauss em unidades cgs.
Quando uma partícula carregada "q" está sob a influência dos campos magnéticos e elétrico, duas forças são aplicadas sobre ela. A soma dessas forças é conhecida como Força de Lorentz:
Tecnicamente, B é um pseudovetor (também chamado de vetor axial — esta é uma afirmação sobre como o campo magnético se comporta quando você reflete o mundo em um espelho, conhecido como paridade). Este fato fica aparente da definição acima de B.
Apesar da maneira de ver B ter mudado com o passar dos anos, este é agora entendido como sendo a quantidade fundamental, enquanto H é um campo derivado. Este é definido como uma modificação de B devido a campos magnéticos produzidos pelo meio material, tal que (em unidades do SI):
onde M é a magnetização do material e μ0 é a permeabilidade do vácuo (ou a constante magnética). O campo H é medido em amperes por metro (A/m) em unidades do SI, e em oersteds (Oe) em unidades cgs.
Em materiais cujo M é proporcional a B a relação entre B e H pode ser colocada na forma mais simples: H = B ⁄ μ. onde μ é um parâmetro dependente do material, chamado de permeabilidade. No vácuo não há magnetização, M, de forma que H = B / μ0 (vácuo). Para muitos materiais, entretanto, não há uma relação simples entre B e M. Por exemplo, materiais ferromagnéticos e supercondutores possuem uma magnetização que é uma função de múltiplos valores de B, devido à histerese.
O campo magnético e ímãs permanentes
Ímãs permanentes são objetos que produzem seus próprios campos magnéticos persistentes. Todos os ímãs permanentes possuem os pólos sul e norte. Eles são feitos de materiais ferromagnéticos como ferro e níquel que foram magnetizados. A força do ímã é representada pelo seu momento magnético, m; para magnetos simples, m aponta na direção de uma linha desenhada do polo sul ao polo norte do magneto. Para mais detalhes sobre magnetos veja magnetização abaixo e o artigo ferromagnetismo.
Força em um magneto devido a um B não-uniforme
Pólos magnéticos iguais quando aproximados se repelem, enquanto polos opostos se atraem. Este é um exemplo específico de uma regra geral de que os magnetos são atraídos (ou repelidos dependendo da orientação do magneto) para regiões de campo magnético maior. Por exemplo, pólos opostos atraem-se por que cada magneto é empurrado no campo magnético maior do pólo do outro. A força é atrativa por que cada magneto m está na mesma direção do campo magnético B do outro.
Revertendo a direção de m reverte a força resultante. Magnetos com m oposto a B são empurrados para regiões de campo magnético menor, desde que o magneto, e portanto, m não girar devido ao torque magnético. Este fenômeno corresponde ao de pólos semelhantes de dois magnetos sendo aproximados. A capacidade de um campo magnético não uniforme de ordenar dipolos com orientação diferente a base do experimento de Stern-Gerlach, que estabeleceu a natureza quântica dos dipolos magnéticos associados com átomos e elétrons.
Matematicamente, a força em um magneto de momento magnético m é:
onde o gradiente ∇ é a mudança da quantidade m·B por unidade de distância e a direção é aquela do aumento máximo de m·B. O produto escalar m·B = |m||B|cos(θ), onde | | representa a magnitude do vetor e θ é o ângulo entre eles. Esta equação somente é válida para magnetos de tamanho zero, mas pode ser usada como uma aproximação para magnetos não muito grandes. A força magnética em magnetos maiores é determinada pela divisão deles em regiões menores tendo cada uma delas seu próprio m então somando as forças em cada uma destas regiões.
A força entre dois magnetos é bastante complicada e depende da orientação dos magnetos e da distância relativa entre eles. A força é particularmente sensível a rotações dos magnetos devido ao torque magnético.
Em muitos casos, a força e o torque em um magneto pode ser modelada assumindo uma 'carga magnética' nos pólos de cada magneto e usando um equivalente magnético à lei de Coulomb. Neste modelo, cada pólo magnético é uma fonte de um campo H que é mais forte próximo ao pólo. Um campo H externo exerce uma força na direção do H em um pólo norte e oposta a H em um pólo sul. Em um campo magnético não uniforme cada pólo vê um campo diferente e é sujeito a uma força diferente. A diferença entre as duas forças move o magneto na direção em que o campo magnético cresce e também pode causar um torque resultante.
Infelizmente, a ideia de "pólos" não reflete com precisão o que acontece dentro de um magneto (veja ferromagnetismo). Por exemplo, um pequeno magneto colocado dentro de um magneto grande é sujeito a uma força na direção oposta. A descrição mais correta fisicamente do magnetismo envolve laços de tamanho atômico de correntes distribuídas pelo magneto.
Torque em um magneto devido a um campo B
Um magneto colocado em um campo magnético sofre um torque que tenta alinhá-lo com o campo magnético. O torque em um magneto devido a um campo magnético externo é fácil de observar: basta colocar dois magnetos próximos, deixando com que um deles gire. O torque N em um magneto pequeno é proporcional ao campo B aplicado e ao momento magnético m do magneto:
onde × representa o produto vetorial.
O alinhamento de um magneto com o campo magnético da Terra é o mecanismo de funcionamento da bússola. Ele é usado para determinar a direção do campo magnético local também (veja a definição de B abaixo). Um pequeno magneto é montado tal que ele possui liberdade para girar (em um dado plano) e seu pólo norte é marcado. Por definição, a direção do campo magnético local é a direção que o pólo norte de uma bússola (ou qualquer outro magneto) tende a apontar.
O torque magnético é usado para movimentar motores elétricos simples. Em um projeto simples de motor, um magneto é fixado em um eixo rotativo (formando um rotor) e sujeito a um campo magnético criado por um grupo de eletromagnetos chamado de estator. Pela mudança contínua da corrente elétrica em cada um dos eletromagnetos, o que muda a polaridade de seus campos magnéticos, o estator coloca pólos de mesmo nome próximos ao rotor. O torque magnético resultante é transferido ao eixo. O processo inverso, a transformação do movimento mecânico em energia elétrica, é obtido pelo mecanismo inverso do acima no gerador elétrico.
Visualizando o campo magnético usando linhas de campo
O mapeamento da força e direção do campo magnético é simples, em princípio. Primeiro, meça a força e direção do campo magnético em um grande número de posições. Então marque cada localização com uma seta (chamada de vetor) apontando na direção do campo magnético local com um comprimento proporcional à intensidade do campo magnético. Um método alternativo de visualizar o campo magnético que simplifica enormemente o diagrama enquanto mantém as mesmas informações é 'conectar' os vetores para formar "linhas de campo magnético".
Vários fenômenos físicos têm o efeito de mostrar as linhas de campo magnético. Por exemplo, limalhas de ferro colocadas em um campo magnético se alinham de forma a mostrar visualmente a orientação do campo magnético (veja a figura à esquerda). Linhas de campo magnético também são apresentadas visualmente por auroras polares, nas quais interações de dipolo de partículas de plasma criam faixas de luz visível que se alinham com a direção local do campo magnético.
As linhas de campo fornecem uma forma simples de apresentar ou desenhar o campo magnético (ou qualquer outro campo vetorial). As linhas magnéticas podem ser estimadas a qualquer ponto (seja em uma linha de campo ou não) usando a direção e densidade das linhas de campo próximas. Uma densidade maior de linhas de campo próximas indicam um campo magnético mais forte.
As linhas de campo também são uma boa ferramenta qualitativa para visualizar as forças magnéticas. Em substâncias ferromagnéticas como o ferro e o plasma, as forças magnéticas podem ser compreendidas imaginando-se que as linhas de campo exercem uma tensão (como uma tira de borracha) ao longo de seu comprimento, e uma pressão perpendicular ao seu comprimento sobre as linhas de campo vizinhas. Pólos magnéticos 'diferentes' se atraem por que são ligados por muitas linhas de campo; pólos 'iguais' se repelem por que suas linhas de campo não se encontram, mas ficam em paralelo, empurrando umas às outras.
A direção de uma linha de campo magnético pode ser revelada usando uma bússola. Uma bússola colocada próxima ao pólo norte de um magneto aponta para longe daquele pólo — pólos iguais se repelem. O oposto acontece com uma bússola colocada próxima ao pólo sul de um magneto. O campo magnético aponta para fora do magneto no pólo norte e em direção ao magneto no pólo sul. As linhas de campo magnético fora do magneto apontam do pólo norte para o pólo sul. Nem todos os campos magnéticos são descritíveis em termos de pólos. Um fio reto conduzindo uma corrente elétrica, por exemplo, produz um campo magnético que não aponta em nenhum dos sentidos na direção do eixo do fio, mas circula o mesmo.
Linhas de campo B sempre formam laços fechados
As linhas de campo são uma maneira útil de representar qualquer campo vetorial e geralmente revelam propriedades sofisticadas dos campos de forma bastante simples. Uma propriedade importante do campo 'B' que pode ser verificada com as linhas de campo é que as linhas de campo magnético sempre fazem voltas completas. Elas não começam nem terminam (embora possam se estender ao infinito). Até hoje nenhuma exceção a esta regra foi encontrada.
O campo magnético sai do magneto em seu pólo norte e entra em seu pólo sul, mas dentro do magneto as linhas de campo B retornam do pólo sul de volta ao pólo norte. Se uma linha de campo B entra em um magneto em algum ponto ela deve sair em outro ponto. Por esta razão, pólos magnéticos sempre vêm em pares N e S. Cortar um magneto ao meio resulta em dois magnetos separados cada um deles com um pólo norte e outro sul.
Campos magnéticos são produzidos por correntes elétricas, que podem ser correntes macroscópicas em fios, ou correntes microscópicas associadas com os elétrons em suas órbitas atômicas. O campo magnético B é definido em termos da força que move uma carga na lei da força de Lorentz. A interação de campos magnéticos com cargas leva a muitas aplicações práticas. A unidade SI para o campo magnético é o tesla, que pode ser visto da parte magnética da equação de força de Lorentz Fmagnética = qvB como sendo composta de (newton × segundo)/(coulomb × metro). Uma unidade menor do campo magnético é o gauss (1 tesla = gauss).
Monopolo magnético (hipotético)
Um monopolo magnético é uma partícula hipotética (ou uma classe de partículas) que tem, como o nome sugere, somente um pólo magnético (um pólo sul ou um pólo norte). Em outras palavras, ele possui uma "carga magnética" análoga à carga elétrica.
O interesse moderno neste conceito vem da teoria de partículas, notavelmente Teorias da Grande Unificação e a teoria das supercordas, que predizem a sua existência ou possibilidade de existência de monopólos magnéticos. Estas teorias e outras inspiraram esforços na busca de monopólos. Apesar destes esforços, nenhum monopólo magnético já foi observado até hoje.
Linhas de campo H começam e terminam próximo a pólos magnéticos
Fora de um magneto, as linhas de campo H são idênticas às linhas de campo B, mas dentro elas apontam em direções opostas. O campo H, portanto, é análogo ao campo elétrico E que começa como uma carga positiva e termina como uma carga negativa. É tentador, portanto, modelar magnetos em termos de cargas magnéticas localizadas próximas dos pólos. Infelizmente, este modelo é incorreto. Ele falha para determinar o campo magnético dentro de magnetos, por exemplo.
O campo magnético e as correntes elétricas
As correntes de cargas elétricas geram um campo magnético e sofrem a ação de uma força devido a um campo B magnético.
Campo magnético gerado por correntes de cargas elétricas
Todas as cargas em movimento produzem campos magnéticos. Cargas pontuais em movimento produzem um campo magnético complicado mas bem conhecido que depende da carga, velocidade, e aceleração da partícula. Ele forma caminhos fechados em torno de uma linha apontando na direção em que a carga está se movendo.
Condutores com corrente geram campos magnéticos que formam círculos concêntricos. A direção do campo magnético nestas linhas é determinada pela regra da mão direita. Quando se movem com a corrente, para a esquerda o campo magnético aponta para cima enquanto que à direita aponta para baixo (veja a figura à direita). A intensidade do campo magnético diminui com a distância do condutor.
Se o condutor receber a forma de um laço o campo magnético é concentrado dentro do laço e enfraquecido do lado de fora. A colocação de mais laços destes para formar um solenóide torna o efeito mais acentuado. Estes dispositivos, chamados de eletroímãs ou eletromagnetos, são importantes porque podem gerar campos magnéticos fortes e bem controlados. Um eletromagneto infinitamente longo possui um campo magnético uniforme internamente e nenhum campo magnético do lado de fora. Um eletromagneto de tamanho finito produz um campo magnético que essencialmente é o mesmo de um magneto permanente da mesma forma e tamanho com uma intensidade (e polaridade) que é controlada pela corrente fornecida.
O campo magnético gerado por uma corrente elétrica contínua I (um fluxo constante de cargas elétricas em que a carga não está se acumulando ou sofrendo depleção em nenhum ponto) é descrito pela Lei de Biot-Savart:
onde a soma integral em todo o laço de um condutor com dl sendo uma parte infinitesimal deste laço, μ0 é a constante magnética, r é a distância entre a posição de dl e a localização em que o campo magnético está sendo calculado, e é um vetor unitário na direção r.
Uma forma um pouco mais geral de relacionar a corrente I com o campo B é através da lei de Ampère:
onde a integral é calculada sobre qualquer caminho fechado arbitrário e Ienc é a corrente envolvida pelo caminho. A lei de Ampère é sempre válida para correntes contínuas e pode ser usada para calcular o campo B para certas situações altamente simétricas, como um condutor infinito ou solenóide infinito.
De uma forma modificada que leva em conta os campos elétricos variáveis, a lei de Ampère é uma das quatro equações de Maxwell que descrevem a eletricidade e o magnetismo.
Força sobre uma carga em movimento devido a um campo B
Força sobre uma partícula com carga
Uma partícula com carga se movendo em um campo B experimenta uma força lateral que é proporcional à intensidade do campo magnético, à componente da velocidade que é perpendicular ao campo magnético e à carga da partícula. Esta força é conhecida como força de Lorentz e é dada por
onde
F é a força, q é a carga elétrica da partícula, v é a velocidade instantânea da partícula e B é o campo magnético (em teslas).
A força de Lorentz é sempre perpendicular tanto com a velocidade da partícula quanto ao campo magnético que a criou. Partículas estacionárias e partículas que se movem na direção das linhas do campo magnético não experimentam esta força. Por esta razão, partículas carregadas movem-se em um círculo (ou, de forma mais genérica, uma hélice)) em torno das linhas de campo magnética, este é chamado de movimento de ciclotron. Como a força magnética é sempre perpendicular ao movimento, o campo magnético não pode realizar trabalho em uma carga isolada. Ele pode, entretanto, mudar a direção da partícula, ao ponto de forçar a mudança de direção para uma direção perpendicular da direção original. A força magnética pode realizar trabalho em um dipolo magnético, ou a uma partícula carregada cujo movimento esteja limitado por outras forças.
Força em um condutor
A força em um condutor com corrente é similar à de uma carga em movimento como esperado, já que um condutor com corrente é uma coleção de cargas em movimento. Um condutor com corrente percebe uma força lateral na presença de um campo magnético. A força de Lorentz em uma corrente macroscópica é geralmente chamada de força de Laplace.
Direção da força
A direção da força sobre uma carga ou corrente positiva é determinada pela regra da mão direita. Veja a figura à direita. Usando a mão direita e apontando o polegar na direção do movimento da carga ou corrente positivas e os dedos na direção do campo magnético, a força resultante sobre a carga aponta para fora da palma da mão. A força em uma partícula de carga negativa está na direção oposta. Se tanto a velocidade e a carga são revertidas, então a direção da força permanece a mesma. Por esta razão, uma medida do campo magnético (por si mesma) não pode fazer a distinção entre uma carga positiva movendo-se para a direita ou uma carga negativa movendo-se para a esquerda, pois os dois casos produzem a mesma corrente. Por outro lado, um campo magnético combinado com um campo elétrico pode distinguir entre ambas, veja o efeito Hall abaixo.
H e B dentro e fora de materiais magnéticos
As fórmulas derivadas para o campo magnético acima estão corretas quando lidando com a corrente inteira. Um material magnético colocado dentro de um campo magnético, entretanto, gera sua própria corrente acoplada que pode ser muito difícil de calcular. Esta corrente acoplada é devido à soma dos laços de correntes de escala atômica e o spin das partículas subatômicas como elétrons que fazem parte do material. O campo H como definido acima ajuda a fatorar esta corrente acoplada, mas para ver como, é útil introduzir primeiro o conceito de magnetização.
Conexão entre a relatividade e os campos elétrico e magnético
Embora os campos Elétrico e Magnético já estivessem intrinsecamente interligados antes da Relatividade esta interligação era um dado experimental. Após a relatividade esta interligação tornou-se uma conclusão teórica. Assim, em um mundo onde existam o campo elétrico (ou magnético) e a teoria da relatividade deve necessariamente haver o campo eletromagnético.
Imagine um trem carregado com cargas negativas. A ele é presa uma carga positiva, conforme indica a figura. Em repouso, tanto um passageiro do trem como um observador no solo concordarão acerca da força que atrai a carga positiva e as cargas negativas
Em movimento, porém, o observador poderia supor que esta força aumentaria devido à diminuição do comprimento do trem prevista na teoria restrita da relatividade. Haveria, portanto, uma discrepância entre o passageiro e o observador caso não existisse uma misteriosa força de repulsão entre a carga positiva e as cargas negativas. Esta força misteriosa — que aumenta com a velocidade das cargas — é o resultado do que se convencionou chamar de campo magnético.
Magnetismo e magnetização
Eletromagnetismo: a relação entre os campos elétrico e magnético
O campo magnético devido a um campo elétrico variável
Força elétrica devido a um campo B variável
Medição de campo magnético
No Brasil, a ABNT é o órgão responsável pela padronização de medidas. Existem diversos instrumentos para a medição de campo magnético, entre eles o magnetômetro fluxgate, bobinas de indução e o sondas de efeito Hall. Os instrumentos podem apresentar medida em uma ou três dimensões (nesse caso deve indicar o valor r.m.s. da medida). O sistema de medição para campos magnéticos alternados deve indicar o valor r.m.s. de campos magnéticos uniformes com uma incerteza menor que ± (10% de leitura + 20 nT).
Exposição a campo magnético
A exposição a campos magnéticos de grande magnitude e/ou por longos períodos pode ser prejudicial a saúde. A Organização Mundial da Saúde mantém pesquisas sobre os efeitos da exposição a campos elétricos e magnéticos e recomenda que a exposição para público geral a campos magnéticos variáveis no tempo na frequência de 50 a 60 kHz seja de até 83x10-6 T.
Ver também
Diamagnetismo
Eletromagnetismo
Ferromagnetismo
Paramagnetismo
Ligações externas
Campos E, D, H e B. Propagação da Onda, Vetor de Poynting(vídeo em nível universitário)
Eletromagnetismo
Magnetismo | 61,682 |
627 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo%20el%C3%A9trico | Campo elétrico | Um é o campo de força provocado pela ação de cargas elétricas, (elétrons, prótons ou íons) ou por sistemas delas. Cargas elétricas colocadas num campo elétrico estão sujeitas à ação de forças elétricas, de atração e repulsão.
A equação usada para se calcular a intensidade do vetor campo elétrico (E) é dada pela relação entre a força elétrica (F) e a carga de prova (q):
O campo elétrico pode ser definido pelo negativo do gradiente do potencial elétrico:
Unidade no Sistema Internacional de Unidades:
Onde N é a unidade de força (Newton) e C a unidade de carga (Coulomb).
História
Os estudos a respeito da eletricidade estática, criadora dos campos elétricos, remontam ao filósofo grego Tales de Mileto no século VI a.C.. O filósofo e estudioso da natureza descreveu o fenômeno que consiste em uma barra de âmbar (seiva petrificada) que atrai pequenos objetos depois de atritada com uma pele de coelho. No cotidiano, é o mesmo que esfregar uma caneta de plástico (material isolante) contra um pano ou o próprio cabelo. Em ambas as situações, o objeto fica eletricamente carregado.
A explicação da força entre partículas através da existência de um campo vem desde a época em que foi desenvolvida a teoria da gravitação universal. A dificuldade em aceitar que uma partícula possa afetar outra partícula distante, sem existir nenhum contato entre elas, foi ultrapassada na física clássica com o conceito do campo de força. No caso da força eletrostática, o campo mediador que transmite a força eletrostática foi designado por éter; a luz seria uma onda que se propaga nesse éter lumínico. No século XIX foram realizadas várias experiências para detectar a presença do éter, sem nenhum sucesso.
No fim do século chegou-se à conclusão de que não existe tal éter. No entanto, o campo elétrico tem existência física, no sentido de que transporta energia e que pode subsistir até após desaparecerem as cargas que o produzem. Na física quântica a interação elétrica é explicada como uma troca de partículas mediadoras da força, que são as mesmas partículas da luz, os fotões. Cada carga lança alguns fotões que são absorvidos pela outra carga; no entanto, neste artigo falaremos sobre a teoria clássica do campo, onde o campo é como um fluido invisível que arrasta as cargas elétricas.
Vetor campo elétrico
O campo elétrico em um ponto é uma grandeza vetorial, portanto é representado por um vetor. Para verificarmos a sua presença neste ponto, colocamos neste uma carga de prova positiva. Se esta ficar sujeita a uma força eletrostática, dizemos que a região em que a carga se encontra está sujeita a um campo elétrico. O vetor campo elétrico tem sempre a mesma direção da força a que a carga está sujeita e, no caso da carga ser positiva, o mesmo sentido. Se negativa o oposto. O módulo é calculado da seguinte forma:
onde, caso a carga seja puntiforme, (lei de Coulomb)
O módulo do vetor campo elétrico pode ser definido por:
Substituindo
, é a constante de Coulomb ou constante eletrostática do meio e é a constante de permissividade do vácuo.
Nota-se, por essa expressão, que o campo elétrico gerado por uma carga em um ponto é diretamente proporcional ao seu valor e inversamente proporcional ao quadrado da distância.
Campo elétrico devido a uma carga elétrica
O campo elétrico sempre "nasce" nas cargas positivas (vetor) e "morre" nas cargas negativas. Isso explica o sentido do vetor mencionado acima. Quando duas cargas positivas são colocadas próximas uma da outra, o campo elétrico é de afastamento, gerando uma região entre as duas cargas isenta de campo elétrico. O mesmo ocorre para cargas negativas, com a diferença de o campo elétrico ser de aproximação. Já quando são colocadas próximas uma carga positiva e uma negativa, o campo "nasce" na primeira, e "morre" na segunda.
Na equação: F = k.Q.q/d² , k é a constante eletrostática do meio e não a constante dielétrica.
Campo elétrico uniforme
É definido como uma região em que todos os pontos possuem o mesmo vetor campo elétrico em módulo, direção e sentido. Sendo assim, as linhas de força são paralelas e equidistantes.
Para produzir um campo com essas características, basta utilizar duas placas planas e paralelas eletrizadas com cargas de mesmo módulo e sinais opostos. Um capacitor plano de placas paralelas pode ser citado como exemplo de criador de um campo elétrico uniforme.
Linhas de força
As cargas de prova positivas encontram-se em movimento dentro de um campo elétrico. A partir da trajetória dessas cargas, traçam-se linhas que são denominadas linhas de força, que têm as seguintes propriedades:
Saem de cargas positivas e entram nas cargas negativas;
As linhas são tangenciadas pelo campo elétrico;
Duas linhas de força nunca se cruzam;
A intensidade do campo elétrico é proporcional à concentração das linhas de força.
Campo elétrico gerado por uma esfera oca condutora
Quando uma esfera está eletrizada, as cargas em excesso repelem-se mutuamente e por isso migram para a superfície externa da esfera, atingindo o equilíbrio eletrostático. Assim, o campo elétrico dentro da esfera (em equilíbrio eletrostático) é nulo.
(No interior da Esfera)
(superfície exterior próxima da esfera)
(distante da esfera), onde R é o raio da esfera.
Campo elétrico produzido por cargas pontuais
A equação para o módulo do campo produzido por uma carga pontual pode ser escrita de forma vetorial. Se a carga Q estiver na origem, o resultado obtido é:
sendo r a distância até a origem, e o vetor unitário que aponta na direção radial, afastando-se da carga.
Se a carga for negativa, a equação anterior continua válida, dando um vetor que aponta no sentido oposto de (campo atrativo).
O vetor unitário calcula-se dividindo o vetor posição pelo seu módulo, r.
Se a carga não estiver na origem mas numa posição a equação acima pode ser generalizada facilmente, dando o resultado:
O campo produzido por um sistema de cargas pontuais obtém-se somando vetorialmente os campos produzidos por cada uma das cargas.
Por exemplo o lado esquerdo na figura acima à direita mostra os campos produzidos por duas cargas pontuais de 4 nC e 9 nC em alguns pontos. O lado direito mostra o campo resultante, obtido somando vetorialmente os dois campos.
A equação anterior pode ser generalizada para um sistema de n cargas pontuais. Vamos escrever a equação explicitamente, em função das coordenadas cartesianas no plano xy (a generalização para o espaço xyz será evidente).
Se as cargas estiverem nos pontos , o resultado é:
Lei de Gauss no campo
O fluxo elétrico produzido por várias cargas pontuais, através de uma superfície fechada, é igual à soma dos fluxos produzidos por cada uma das cargas. O fluxo das cargas pontuais que estejam fora da superfície fechada será nulo, e o fluxo das cargas que estejam dentro da superfície será vezes o valor da carga. Por exemplo, no caso da figura abaixo, unicamente as duas cargas e produzem fluxo, porque a carga encontra-se fora da superfície.
O fluxo total é:
O resultado do exemplo da figura acima pode ser generalizado para qualquer sistema de cargas e qualquer superfície fechada, e é designado de Lei de Gauss:
O fluxo através de qualquer superfície fechada é igual à carga total no interior da superfície, multiplicada por
Em termos matemáticos, a lei de Gauss determina que o fluxo elétrico através de qualquer superfície fechada é:
Se a carga total no interior for positiva, o fluxo será positivo, indicando que há linhas de campo a saírem da superfície. Se a carga interna total for negativa, o fluxo é negativo porque há linhas de campo a entrar na superfície.
O fluxo elétrico total à volta de uma carga pontual é diretamente proporcional à carga. Em alguns casos é possível desenhar um número de linhas de campo proporcional à carga, para dar uma ideia mais aproximada do valor do fluxo em diferentes regiões; por exemplo, na figura anterior foram desenhadas 8 linhas de campo a saírem da carga de 4 nC, e 18 linhas a saírem da carga de 9 nC.
A lei de Gauss é muito útil para calcular campos elétricos de sistemas com simetria.
Campo de um plano
Consideremos um plano, com carga distribuída uniformemente. Visto de lado, o plano aparece como um segmento de reta, e as linhas de campo serão semelhantes às linhas representadas no lado direito da figura ao lado.
Nas regiões perto do centro do plano, as linhas de campo são aproximadamente paralelas entre si. Quanto maior for o plano, maior será a região onde as linhas são aproximadamente paralelas..
No caso idealizado de um plano infinito, as linhas serão completamente paralelas e equidistantes, já que a aparência do plano seria a mesma em qualquer ponto.
Para calcular o campo elétrico usando a lei de Gauss, imaginamos um cilindro com as tampas paralelas ao plano, como se mostra na figura.
Nas paredes laterais do cilindro não existe fluxo elétrico, porque o campo é paralelo à superfície. Em cada uma das tampas circulares do cilindro, o campo é perpendicular e, com módulo constante, devido a que todos os pontos na tampa estão à mesma distância do plano.
Assim, o fluxo em cada uma das tampas do cilindro é , , em que A é a área da tampa, e o fluxo total através do cilindro é:
De acordo com a lei de Gauss, esse fluxo também deverá ser igual a:
Onde Q é a carga na parte do plano que está dentro do cilindro. Igualando as duas últimas equações obtemos o módulo do campo:
Em que é a carga superficial; nomeadamente, carga por unidade de área:
Campo de um fio retilíneo
Consideremos um fio retilíneo, muito comprido, com carga distribuída uniformemente. As linhas de campo deverão ser nas direções radiais. Imaginemos uma superfície fechada que é um cilindro de raio R e altura L, com eixo sobre o fio, como mostra a figura abaixo.
Nas tampas circulares do cilindro o fluxo é nulo, porque o campo é paralelo à superfície; na parede lateral do cilindro, o campo é perpendicular e com módulo constante.
onde E é o módulo do campo à distância R do fio. De acordo com a lei de Gauss, esse fluxo deverá ser também igual a:
onde Q é a carga do fio que está dentro do cilindro S. Igualando as duas equações anteriores,
obtemos o módulo do campo:
em que é a carga linear (carga por unidade de comprimento):
Campo de uma esfera condutora
Numa esfera condutora, com carga Q e raio a, a força repulsiva entre as cargas do mesmo sinal, faz com que as cargas se distribuam em forma uniforme, na superfície da esfera. Existe assim simetria esférica, e as linhas de campo deverão apontar na direção radial..
Para calcular o campo, imaginamos uma esfera de raio r,concêntrica com a esfera condutora. . Na superfície dessa esfera, o campo será perpendicular, e com módulo constante E; consequentemente o fluxo será:
Segundo a lei de Gauss, o fluxo através da esfera de raio r será nulo, se , ou igual a se . Portanto, o campo elétrico é nulo, no interior da esfera.
Fora da esfera o campo é:
Que é idêntico ao campo produzido por uma carga Q concentrada no centro da esfera.<.
Campo elétrico induzido
Um campo magnético variável no tempo induz um campo elétrico, e um campo elétrico variável induz um campo magnético.
O campo elétrico induzido é proporcional à derivada do fluxo magnético, e o campo magnético induzido é proporcional à derivada do fluxo elétrico. Quando um campo é uniforme, o fluxo através de uma superfície é maior se a superfície for perpendicular ao campo; isso implica que o campo induzido é perpendicular ao campo variável.
A figura ao lado mostra o campo elétrico induzido por um campo magnético uniforme mas variável, e o campo magnético induzido por um campo elétrico uniforme e variável. No primeiro caso, devido ao sinal negativo , o campo elétrico induzido é no sentido oposto ao obtido com a regra da mão direita em relação à derivada do campo magnético; como o campo magnético está a diminuir, a derivada do campo aponta para baixo e a regra da mão direita indica rotação no sentido horário; portanto, as linhas do campo induzido estão orientadas no sentido anti-horário.
O sinal positivo do último termo implica que as linhas do campo magnético induzido seguem a regra da mão direita em relação ao aumento do campo elétrico. No caso do campo elétrico variável no lado direito da figura , como o campo está a diminuir, a derivada do campo elétrico aponta para baixo, e a regra da mão direita indica que o campo magnético induzido é no sentido horário.
Propriedades das linhas de campo elétrico
O campo elétrico pode ser representado por vetores que indicam o valor do campo em vários pontos do espaço, como foi feito na figura acima. O problema com essa representação é que o campo varia rapidamente com a distância, o que faz com que o vetor seja muito grande em alguns pontos e muito pequeno em outros pontos.
A representação usando linhas de campo é mais conveniente. As linhas de campo seguem a direção do campo. Em cada ponto numa dessas curvas, o campo é tangente à curva e no sentido indicado pelas setas.
As linhas de campo elétrico têm várias propriedades:
Perto de uma carga pontual positiva há linhas a sair em todas as direções e perto de uma carga negativa há linhas a entrarem em todas as direções;
Duas linhas de campo nunca se podem cruzar; no ponto de cruzamento o campo teria duas direções diferentes, que não é possível;
A matriz jacobiana correspondente ao campo elétrico é sempre simétrica. Isso implica que os valores próprios dessa matriz serão sempre reais e nunca complexos. Assim, os únicos pontos de equilíbrio que podem existir num campo elétrico são nós e pontos de sela.
Um nó pode ser atrativo ou repulsivo. Se for atrativo, será um ponto onde existe uma carga pontual negativa; se for repulsivo, será um ponto onde existe uma carga pontual positiva. Os pontos de sela são pontos onde o campo é nulo, mas não existe nenhuma carga nesse ponto.
Outro exemplo são as linhas de campo de um dipolo elétrico, formado por duas cargas iguais mas de sinais opostos. Se admitirmos que as duas cargas estão localizadas nos pontos ( 1, 0) e (1, 0), o campo desenha-se assim:
O resultado aparece no lado esquerdo acima à direita
Uma distribuição contínua de cargas pode ser aproximada por uma série de cargas pontuais. Por exemplo, se existirem cargas distribuídas uniformemente no segmento do eixo dos x entre x = - 3 e x = 3, podemos admitir um sistema de cargas pontuais, equidistantes, sobre o segmento entre x = - 3 e x = 3.
Com 7 cargas pontuais, o gráfico obtido é apresentado no lado direito da figura ao lado.
Ver também
Lei de Coulomb
Potencial elétrico
Bibliografia
Tipler, Paul A. - Física (4a Edição), Vol 2. Editora LTC
R. P Feynman, R. B. Leighton e M. Sands, Lições de Física, vol. II, cap.6-7, Bookman Companhia Editora Ltda (2008).
Irodov, I. E. - Problems in General Physics, Mir Publishers of Moscow (1988).
Ligações externas
Campos E, D, H e B. Propagação da Onda, Vetor de Poynting(vídeo em nível universitário)
\\\con
Eletromagnetismo
Eletricidade
Grandezas físicas | 53,231 |
628 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra | Coimbra | Coimbra é a cidade portuguesa capital do Distrito de Coimbra, estando inserida na sub-região Região de Coimbra (NUT III) e na Região do Centro (NUT II).
É sede do Município de Coimbra que tem uma área total de 319,40 km2, 140 796 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 441 hab./km2, subdividido em 18 freguesias. O município é limitado a norte pelo município da Mealhada, a leste por Penacova, Vila Nova de Poiares e Miranda do Corvo, a sul pela Condeixa-a-Nova, a oeste por Montemor-o-Velho e a noroeste por Cantanhede.
Coimbra é uma cidade historicamente universitária, por causa da Universidade de Coimbra, uma das mais antigas da Europa e das maiores de Portugal, fundada em 1290 como Estudo Geral Português por D. Dinis em Lisboa que depois várias instalações nas duas cidades, se fixou definitivamente na cidade do Mondego em 1537. Na história recente a população estudantil da Universidade teve um papel importante ao ser ativamente defensora dos valores da liberdade e democracia frente à ditadura do Estado Novo. Uma das cidades mais antigas do país, foi a capital de Portugal antes de Lisboa, até 1255, e nela está o primeiro Panteão Nacional, o Mosteiro de Santa Cruz.
Coimbra é atravessada pelo rio Mondego, que nasce na Serra da Estrela, no sentido Este-Oeste.
É considerada uma das mais importantes cidades portuguesas, devido a infraestruturas, organizações e empresas nela instaladas para além da sua importância histórica e privilegiada posição geográfica no centro de Portugal continental, entre as cidades de Lisboa e do Porto. Ao nível de serviços oferecidos, é acima de tudo no ensino e nas tecnologias ligadas à saúde que a cidade consegue maior notoriedade. A população estudantil da cidade ronda os 37 000 matriculados, parte no ensino superior público não politécnico, parte no ensino superior público politécnico e parte no ensino superior privado.
O feriado municipal ocorre a 4 de julho, em memória da rainha Santa Isabel de Aragão, padroeira da cidade conhecida popularmente apenas por rainha santa. Foi Capital Nacional da Cultura em 2003. No dia 22 de junho de 2013, a Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, foi declarada Património Mundial pela UNESCO.
História
Cidade de ruas estreitas, pátios, escadinhas e arcos medievais, Coimbra foi berço de nascimento de seis reis de Portugal, da Primeira Dinastia, assim como da primeira Universidade do País e uma das mais antigas da Europa.
Os Romanos chamaram à cidade, que se erguia pela colina sobre o rio Mondego, Emínio. Mais tarde, com o aumento da sua importância passou a ser sede de Diocese, substituindo a cidade romana de Conímbriga, donde derivou o seu novo nome. Em 711 os mouros chegaram à Península Ibérica e a cidade passa a chamar-se Kulūmriyya, tornando-se num importante entreposto comercial entre o norte cristão e o sul árabe, com uma forte comunidade moçárabe. Em 871 torna-se Condado de Coimbra mas apenas em 1064 a cidade é definitivamente reconquistada por Fernando Magno de Leão.
Coimbra renasce e torna-se a cidade mais importante abaixo do rio Douro, capital de um vasto condado governado pelo moçárabe Sesnando. Com o Condado Portucalense, o conde D. Henrique e a rainha D. Teresa fazem dela a sua residência, e viria a ser na segurança das suas muralhas que iria nascer o primeiro rei de Portugal , D. Afonso Henriques, que faz dela a capital do condado, substituindo Guimarães em 1129.
No , Coimbra apresentava já uma estrutura urbana, dividida entre a cidade alta, designada por Alta ou Almedina, onde viviam os aristocratas, os clérigos e, mais tarde, os estudantes, e a Baixa, do comércio, do artesanato e dos bairros ribeirinhos populares.
Desde meados do que a história da cidade passa a girar em torno à história da Universidade de Coimbra, sendo apenas já no que a cidade se começa a expandir para além do seu casco muralhado, que chega mesmo a desaparecer com a reformas levadas a cabo pelo Marquês de Pombal.
A primeira metade do traz tempos difíceis para Coimbra, com a ocupação da cidade pelas tropas de Junot e Massena, durante a invasão francesa e, posteriormente, a extinção das ordens religiosas. No entanto, na segunda metade de oitocentos, a cidade viria a recuperar o esplendor perdido — em 1856 surge o primeiro telégrafo elétrico na cidade e a iluminação a gás, em 1864 é inaugurado o caminho-de-ferro e 11 anos depois nasce a ponte férrea sobre as águas do rio Mondego.
Com a Universidade como referência inultrapassável, desta surgem movimentos estudantis, de cariz quer político, quer cultural, quer social. Muitos desses movimentos e entidades não resistiram ao passar dos anos. Outros ainda hoje resistem com vigor ao passar dos anos. Da Universidade surgiram e resistem ainda hoje em plena atividade primeiro o Orfeon Académico de Coimbra, em 1880, o mais antigo coro do país, a própria Associação Académica de Coimbra, em 1887, a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, em 1888. Com presença em três séculos e um peso social e cultural imenso, o Orfeon Académico de Coimbra representou o país um pouco por todo o mundo, em todos os continentes, levando a música coral portuguesa e o Fado de Coimbra a todo o mundo. Na área do Teatro Universitário pode distinguir-se o TEUC — Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Este organismo autónomo da AAC da Universidade de Coimbra é o grupo de Teatro Universitário mais antigo da Europa em atividade contínua. Foi fundado em 1938 pelo Prof. Doutor Paulo Quintela e pelo Dr. Manuel Deniz-Jacinto, foi a segunda escola de Teatro em Portugal de onde saíram inúmeros atores do panorama cultural português, e sempre se caracterizou pelo seu papel de resistência cultural. O TEUC apresentou os seus espetáculos pela Europa, África e Brasil, tendo recebido numerosas condecorações e prémios ao longo da sua história. Ainda agora, na atualidade, o TEUC continua a ganhar prémios em diversos festivais de teatro universitário quer em Portugal quer além-fronteiras. Com o passar dos anos, inúmeros outros organismos foram surgindo.
A 26 de abril de 1919 foi feita Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Alcaides-Mores do Castelo de Coimbra e Presidentes da Câmara Municipal de Coimbra
Vasco Pais
Vasco Afonso ou Vasco Mouro
D. Pedro Pais da Silva
Martim de Freitas
Gonçalo Mendes de Vasconcelos
D. Gabriel Ponce de León de Lancastre
Rui Braga Carrington da Costa
Judite Mendes de Abreu (1976–1979)
António Moreira (1979–1982)
Fernando Silva (1982–1985)
António Moreira (1985–1989)
Manuel Machado (1989–2001), primeiro mandato
Carlos Manuel de Sousa Encarnação (2001–2010)
João Paulo Barbosa de Melo (2010–2013)
Manuel Machado (2013–2021)
José Manuel Silva (2021–presente)
População
(Obs.: Número de habitantes "residentes", ou seja, que tinham a residência oficial neste município à data em que os censos se realizaram.)
(Obs.: De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no município à data em que os censos se realizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente.)
Património
Torre de Bera
Torre de Anto ou Torre do Prior do Ameal ou Casa do Artesanato ou Núcleo Museológico da Memória da Escrita
Sé Velha de Coimbra ou Igreja da Sé Velha, compreendendo o túmulo de D. Sesnando
Paço de Sub-Ripas, Paço de Sobre-Ripas, Arco de Sub-Ripas ou Palácio de Sub-Ribas
Capela do Espírito Santo (Eiras) ou Capela do Sacramento
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova ou Mosteiro de Santa Isabel e túmulo da Rainha Santa Isabel, claustro e coros
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (primitivo)
Quinta das Lágrimas
Aqueduto de Santa Clara
Café Santa Cruz
Mosteiro de Santa Cruz ou Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e túmulos de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I
Igreja da Graça ou Igreja de Nossa Senhora da Graça ou Colégio da Graça
Claustro da Manga ou Jardim da Manga
Rua da Sofia
Igreja do Carmo (Coimbra)
Mosteiro de Celas
Igreja de Santo António dos Olivais ou Santuário de Santo António dos Olivais
Igreja de Santiago (Coimbra)
Edifício Chiado
Pelourinho de Coimbra
Igreja de São Bartolomeu
Colégio de São Jerónimo
Aqueduto de São Sebastião ou Arcos do Jardim
Sé Nova de Coimbra ou Colégio dos Jesuítas ou Igreja das Onze Mil Virgens
Paço Episcopal de Coimbra ou Museu Nacional de Machado de Castro
Parque de Santa Cruz ou Jardim da Sereia
Jardim Botânico da Universidade de Coimbra
Escola Secundária José Falcão
Seminário Maior da Sagrada Família
Educação
Por bastantes vezes, Coimbra é chamada de "Cidade do Conhecimento" ou "Cidade dos estudantes", principalmente por ter uma das mais antigas e prestigiadas universidades da Europa — a Universidade de Coimbra (UC) é a herdeira do Estudo Geral solicitado ao papa pelo rei D. Dinis e por um conjunto de prelados portugueses em 1288, e que viria a obter confirmação pontifícia em 1290, tendo-se estabelecido inicialmente em Lisboa. Após uma itinerância atribulada entre Lisboa e Coimbra durante os séculos XIII e XIV, a universidade viria a estabelecer-se estavelmente em Coimbra em 1537, tendo o rei cedido o próprio paço real para as instalações. Estas instalações foram adquiridas pela Universidade no reinado de Filipe I, sendo desde então conhecidas por Paço das Escolas. Nos dias correntes, a Universidade de Coimbra tem aproximadamente 21 000 alunos, contando com alguns dos mais seletivos e exigentes programas académicos do país, um elevado número de unidades de investigação acreditadas, e tendo cerca de 10% de alunos estrangeiros de 70 nacionalidades diferentes, sendo assim a mais internacional das universidades portuguesas.
Atualmente, toda a Alta Universitária e Rua da Sofia (onde a Universidade nasceu) estão em processo de modernização no âmbito do reconhecimento da Universidade de Coimbra a Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Toda a Alta vai sofrer uma intervenção que a vai tornar mais aprazível, mais bonita e mais dinâmica. É também aí que vai nascer o Tribunal Universitário Europeu, numa iniciativa inédita na Europa.
É também em Coimbra que existe a mais antiga e maior associação de estudantes do país — a Associação Académica de Coimbra fundada a 3 de novembro de 1887. Esta organização representa todos os alunos da Universidade.
Para além da bem conhecida Universidade de Coimbra com as suas 8 faculdades, existem muitas outras escolas e institutos de ensino superior públicos (como o Instituto Politécnico de Coimbra e a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra) e privados (Escola Universitária Vasco da Gama, Instituto Superior Miguel Torga, Instituto Superior Bissaya Barreto (ISBB), Escola Universitária das Artes de Coimbra), o que faz com que a cidade tenha um total de cerca de estudantes do ensino superior.
Para seguir estudos superiores, Coimbra foi durante séculos, escolhida por um largo número de jovens de todos os cantos de Portugal por ser a única universidade Portuguesa. Ainda hoje, apesar da existência de uma vasta rede de ensino superior em Portugal, a cidade goza de algum desse estatuto herdado do passado, a que não é alheia a diversificada oferta nos vários campos de educação, mas também a reconhecida qualidade e prestígio da maioria dos cursos da histórica e emblemática Universidade de Coimbra, assim bem como o seu famoso ambiente estudantil e a vasta tradição académica que lhe está associada.
A cidade tem também um vasto número de escolas públicas e privadas de ensino básico e secundário, sendo algumas, das melhores no ranking nacional — Escola Secundária Infanta Dona Maria (a melhor do país em ensino público), Escola Secundária de Avelar Brotero (pública), Colégio de São Teotónio (ensino privado), Colégio Rainha Santa Isabel (uma das melhores a nível nacional no ensino privado), Escola Secundária José Falcão (pública), Escola Secundária de Dom Duarte (pública), Escola Secundária de Dom Dinis (pública), Escola Secundária de Jaime Cortesão (pública) e a Escola Secundária da Quinta das Flores (pública).
Clima
A cidade de Coimbra apresenta um clima mediterrânico de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger. No Inverno as temperaturas variam entre 15 °C diurnos e 5º noturnos no mês mais frio, podendo beirar os 0º em vagas de frio, ao passo que no Verão as temperaturas oscilam entre os 29 °C diurnos e 16º noturnos podendo chegar aos 40 °C e até mesmo ultrapassar. As maior e menor temperaturas registadas em Coimbra no período 1971–2000 foram 41,6 °C e -4,9 °C. Porém,há registos de -7,8 °C em 1941 e 42,5 °C em 1943.
Cultura e lazer
O grande espaço museológico de Coimbra por excelência é o Museu Nacional de Machado de Castro junto à Sé Nova, instalado no
Palácio Episcopal de Coimbra. Considerado um dos mais importantes museus do país, possui coleções importantes de pintura, escultura, ourivesaria, cerâmica e têxteis.
A universidade possui também coleções museológicas de raro valor, destacando-se as coleções de instrumentos científicos dos séculos XVIII e XIX do Museu de Física, e as coleções de Antropologia, Zoologia, Botânica e Mineralogia do Museu de História Natural. Recentemente, estas coleções foram agrupadas no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, que é assim um dos núcleos museológicos de ciência mais importantes a nível europeu.
Coimbra é também uma cidade de arte, existem 31 galerias de arte espalhadas por toda a cidade, que receberam mais de 200 000 visitantes em 2003.
Jogos sem Fronteiras
Em 1993, Coimbra foi a cidade portuguesa anfitriã dos Jogos sem Fronteiras.
Numa primeira fase estiveram representadas as seguintes cidades de 7 países:
Šumperk, República Checa
Llantrisant, Reino Unido
Genebra, Suíça
Batalha, Portugal
Hajdúszoboszló, Hungria
Véria, Grécia
Tursi, Itália
Numa 2ª fase:
Siracusa, Itália
Coimbra, Portugal
Písek, República Checa
Tapolca, Hungria
Le Noirmont, Suíça
Caerfyrddin, Reino Unido
Patras, Grécia
Música
Enquanto uma das primeiras capitais de Portugal e sede da mais antiga universidade Portuguesa, Coimbra tem sido ao longo dos séculos um importante centro musical. Historicamente, a Sé Nova, o Mosteiro de Santa Cruz (fundado por D. Afonso Henriques) e a Universidade (com aula de música desde 1323) constituíram os principais centros de produção e prática musical. D. Pedro de Cristo e Carlos Seixas são referências cimeiras na música portuguesa, a que se juntam os nomes de D. Pedro da Esperança, D. Francisco de Santa Maria, D. Heliodoro de Paiva, Fernão Gomes Correia, Vasco Pires, Mateus de Aranda, Pedro Thalésio ou José Maurício.
O fado de Coimbra está intimamente ligado às tradições académicas e caracteriza-se por uma guitarra com uma estrutura, configuração e afinação própria. Nomes como Adriano Correia de Oliveira e Zeca Afonso, cantores e poetas da resistência à ditadura, revolucionaram a música tradicional portuguesa. É ainda ligado ao Fado de Coimbra que temos a mais emblemática casa de Fados; O Centro Cultural àCapella. Numa antiga capela do Séc. XIV, reúnem-se todas as noites os melhores músicos da atualidade fadística: Nuno Correia da Silva, Ricardo Dias, Nuno Botelho, Bruno Costa e outros dão-nos o que o fado tem de melhor!
Na música ligeira contemporânea, particularmente em géneros como o rockabilly e o blues, surgem vários nomes associados a Coimbra. Desses são exemplos JP Simões, Legendary Tiger Man (Paulo Furtado, vocalista dos WrayGunn), os WrayGunn e os Bunnyranch.
Atualmente, a cidade dispõe de vários centros de formação em música, aos mais diversos níveis, destacando-se o Conservatório de Música de Coimbra, a Escola Diocesana de Música Sacra e a Licenciatura em Estudos Artísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Coimbra é ainda considerada uma "cidade de coros", devido ao elevado número deste tipo de formação na cidade. Destacam-se, entre os coros académicos, o Orfeon Académico de Coimbra, o Coro Misto da Universidade de Coimbra e o Coro da Capela da Universidade de Coimbra. Outros agrupamentos ativos são o Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, o Coro D. Pedro de Cristo, o Choral Poliphonico de Coimbra e o Coro Aeminium.
A nível do reportório e/ou da formação, há ainda grupos mais especializados como a Capela Gregoriana Psalterium, o Coro Vox Etherea, o Grupo Vocal Ad Libitum ou o Coro dos Pequenos Cantores de Coimbra.
O Orfeon Académico de Coimbra (OAC) é um dos mais ilustres representantes da cidade, da Universidade e da Academia. Nos seus 130 anos de história, tem mantido uma presença reconhecida no panorama da cidade e do país. É o coro mais antigo de Portugal, em atividade e um dos mais antigos da Europa.
Por este organismo, mais antigo que a própria Associação Académica de Coimbra, passaram inúmeros nomes de relevo da vida cultural, política e social do país. Ícones da Canção de Coimbra como Luiz Goes, José Afonso, Fernando Machado Soares, Sutil Roque e Fernando Rolim, citando apenas alguns, fizeram parte do OAC.
Até 1974 era um coro exclusivamente masculino, tendo nesse ano começado a admitir elementos femininos de modo a melhor se adaptar à realidade estudantil.
O OAC é conhecido pelas inúmeras digressões que fez pelos 4 continentes. Para além disso, já representou Portugal ao mais alto nível no Festival Europália 91, na Expo'98, na UNESCO, e foi o primeiro coro português a cantar na Basílica de S. Pedro.
Hoje continua a sua atividade com cerca de 50 coralistas, estudantes de Coimbra, e continua a levar a música coral, a canção de Coimbra (Fado de Coimbra), e a música popular a todo o país e ao estrangeiro.
Por outro lado, o papel da mulher na música da Universidade de Coimbra foi reconhecido em 1956 pelo Coro Misto da Universidade de Coimbra (CMUC), o coro misto, em atividade, mais antigo da Academia.
De facto, não se permitia até aí às mulheres a participação em grupos musicais, tendo o Coro Misto da Universidade de Coimbra sido pioneiro.
Ao longo dos seus 50 anos de história, o CMUC serviu de exemplo aos outros coros universitários, os quais acabaram por se render ao peso da mulher na Universidade e se tornar mistos.
Hoje, o Coro Misto da Universidade de Coimbra é composto por cerca de 70 elementos e distingue-se dos restantes coros da cidade pela divulgação da música de Coimbra, empenhando-se na promoção de compositores da cidade de Coimbra, além do típico repertório de música popular e erudita, nacional e estrangeira.
De destacar o recém editado CD "Miserere", que reúne a obra de Francisco Lopes de Macedo e de José Maurício, a primeira das quais não foi cantada desde o .
Outro ícone incontornável da cena musical, cultural e académica conimbricense é a Orxestra Pitagórica. Não só pela sua antiguidade, mas, sobretudo, por representarem aquilo que de mais genuíno deve haver num estudante de Coimbra: espírito crítico, irreverência e muito boa disposição, este é um grupo que marca, de forma indelével, a passagem dos estudantes por Coimbra. Datam do final do século passado as primeiras atuações da Orxestra Pitagórica. Em 1981, pouco depois da fundação da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra, ressurge com o objetivo primordial de preencher um lacuna muito grave em termos académicos, ou seja, o de não haver ninguém capaz de dizer coisas serias a rir, o que equivale a dizer que a irreverência académica já não se manifestava genuinamente, isto é, que o estudante havia esquecido o que de mais sério há: a alegria e o espírito académico.
Assim, para o Sarau da Queima das Fitas de 1981, reorganizou-se a Orxestra Pitagórica, retomando o agrupamento que havia, em tempos, existido no seio da academia. Dotada de instrumentos sérios como violas, acordeão, cavaquinhos e bandolins, etc., e de instrumentos seríssimos, como sanitas, sinais de transito, autoclismos, cântaros, chapéu de chuva de guizos, etc., a Orxestra Pitagórica lançou ao público o seu repertório cénico e musical de cariz vincadamente "gargalhorico" e popular, dando o toque estudantil a algumas pitorescas músicas que popularmente são entoadas por esse Portugal além. Dos seus últimos 25 anos de vida, sem interrupções, a Orxestra Pitagórica já calcorreou todo este Portugal de norte a sul, ilhas, e vários programas de televisão. Lá por fora, Espanha, França, Itália, Cuba e República Dominicana, foram os países visitados. Por duas vezes venceu o extinto festival Grito Académico Super Bock, que só teve três edições. Já editou um trabalho fonográfico denominado "A2+B2=C2" quando comemorou o seu primeiro centenário. Tem um DVD ao vivo que, enquanto não é editado, pode ser visto na plataforma Youtube.
Teatro
TEUC — Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC)
Teatro Académico Gil Vicente
Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC)
Cena Lusófona
A Escola da Noite
O Teatrão
Encerrado para Obras
Bonifrates
Camaleão
Marionet
Teatrar — Arzila
Loucomotiva — Grupo Teatro Taveiro
Grupo Teatro do CPT de Sobral de Ceira — Ceira
Convento São Francisco
Monumentos e espaços de interesse
Coimbra é uma cidade romântica, tendo ficado conhecida pelo amor proibido do rei Dom Pedro e Dona Inês um dos seus episódios mais marcantes.
Festas académicas
Para além das festas da cidade em honra de Santa Isabel de Portugal, na primeira semana de julho (centradas em torno do feriado municipal a 4 de julho, festa da Rainha Santa Isabel), Coimbra é também conhecida pelas festas e tradições académicas.
A primeira das duas festas é a Latada ou a Festa das Latas e imposição das insígnias, que acontece no início do ano escolar, para dar as boas-vindas aos novos estudantes (caloiros ou novatos). As Latadas começaram no quando os estudantes exprimiam ruidosamente a sua alegria pelo termo do ano letivo em maio. Utilizavam para isso todos os objetos que produzissem barulho, nomeadamente latas. Foi a partir dos anos 1950/60 que as Latadas passaram a ocorrer, não no termo do ano letivo, mas sim no início, coincidindo com a abertura da Universidade e a chegada da população escolar de férias, o que dava à cidade um clima eminentemente académico. Atualmente os caloiros, incorporados no cortejo, vestem uma fantasia pessoal com as cores da sua faculdade ou a batina virada do avesso, transportando cartazes com legendas de conteúdo crítico, alusivos à vida escolar ou nacional. Os caloiros seguem em duas filas paralelas, com os padrinhos que devem ter um comportamento digno de um estudante de Coimbra, dando o exemplo aos novatos que se estão a iniciar na Praxe Académica. No fim do cortejo nas ruas da cidade, os novos estudantes são batizados no rio Mondego: "Ego te baptizo in nomine solemnissima praxis".
A segunda festa é a Queima das Fitas, bastante mais importante que a primeira, sendo a maior festa estudantil da Europa, tem lugar no fim do segundo semestre, mais concretamente no início do mês de maio, começando na noite de quinta-feira para sexta-feira com a Serenata Monumental nas escadas da Sé Velha. É a maior festa estudantil de toda a Europa e tem a duração de 8 dias, um dia para cada faculdade da universidade (Letras, Direito, Medicina, Ciências e Tecnologias, Farmácia, Economia, Psicologia e Ciências da Educação e Educação Física e Ciências do Desporto) e Antigos Alunos. Apesar de existirem mais festas do género em outras cidades, o aparecimento da Queima das Fitas começou em 1899 em Coimbra, fazendo assim com que seja única no país. Ela é a explosão delirante da Academia, consistindo para os Quartanistas Fitados e Veteranos, na solenização da última jornada universitária ou seja, o derradeiro trajeto de vivência coimbrã. Os festejos da Queima das Fitas consistem sobretudo no seu programa tradicional, composto por: Serenata Monumental, Sarau de Gala, Baile de Gala das Faculdades, Venda da Pasta (receitas para a Casa de Infância Dr. Elísio de Moura), "Queima" do Grelo (que deu o nome à festa) e Cortejo dos Quartanistas, Chá Dançante e as ainda chamadas Noites do Parque.
Transportes
Aéreo
A cidade ainda não tem aeroporto, mas dispõe de um aeródromo que procura assegurar ligações de âmbito nacional (Aeródromo Bissaya Barreto) e ligação marítima, graças à proximidade com o porto da Figueira da Foz, que é o porto mais central entre as cidades de Lisboa e Porto e que serve a cidade de Coimbra.
A nível de aeroportos internacionais, aquele que se encontra mais próximo é o Aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto a cerca de 130 km. O principal aeroporto do país, o Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa encontra-se a 180 km. Embora tanto um como outro se encontrem a mais de uma centena de quilómetros, as infraestruturas rodo e ferroviárias existentes permitem ligar Coimbra a cada um dos aeroportos em pouco mais de 1 hora e meia.
Existe a intenção de transformar a Base Aérea de Monte Real, no município de Leiria, num aeroporto internacional civil, com vista a servir a região das Beiras o que, a ser feito, colocaria Coimbra a apenas cerca de 60 km de um aeroporto internacional.
Rodovias
No centro da espinha dorsal do país, Coimbra tem uma localização estratégica com ligação rodoviária à auto-estrada A1 que a liga ao norte e ao sul do país e também à A14 que a liga à vizinha cidade da Figueira da Foz, o maior balneário das Beiras. A cidade também é servida pelo IP3 que a liga a Viseu (e à Guarda através do IC12 ou IC6) e pela A13 que a liga a Tomar. Não existem ligações diretas por autoestrada ao interior do distrito, facto que tem sido objeto de debate na região ao longo dos anos, por ser no interior onde se situam a maior parte dos municípios do distrito. A cidade é parcialmente contornada por duas vias circulares, uma circular interna, conhecida localmente por "variante do hospital", ao nordeste do centro da cidade e por uma circular externa que, não obstante o nome, está já praticamente incluída no miolo da cidade, e da qual fazem parte, entre outras, a Avenida Mendes Silva, a Avenida Fernando Namora e a Avenida Elísio de Moura.
Ferrovias
Possui ligação ferroviária ao norte e ao sul através do comboio rápido Alfa Pendular. Os serviços regionais realizam os percursos Coimbra-Aveiro; Coimbra-Entroncamento e Coimbra-Guarda e o suburbano limita-se ao trecho Coimbra-Figueira da Foz. O serviço suburbano CP Regional Coimbra-Serpins foi suprimido na sequência de projetos de introdução de um metropolitano ligeiro de superfície, que previa ligar os municípios de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã, com eventual extensão aos municípios de Góis e Arganil através do aproveitamento do canal aberto no início do século XX e nunca utilizado. A alternativa desde 2010 são as ligações por autocarro, resultantes de uma parceria entre a CP — Comboios de Portugal e a Metro Mondego, até estar pronta a ligação do metropolitano.
Possui duas estações ferroviárias:
Coimbra B ou Estação Velha
Coimbra, Coimbra A ou Estação Nova
E ainda os seguintes apeadeiros dentro da sua área urbana:
Bencanta
Adémia
Vilela-Fornos
Espadaneira
Casais
Taveiro
Os seguintes apeadeiros e estação, que serviam o extinto Ramal da Lousã e se encontram dentro da área urbana da cidade, encontram-se desativados:
Estação de Ceira
Coimbra-Parque
Coimbra-São José, São José (Calhabé) ou simplesmente São José
Carvalhosas
Conraria
Rede interna
No interior da cidade existe uma grande rede de transportes públicos coletivos, os SMTUC, que já completaram 100 anos de existência, operando autocarros, tróleis, e (até 1980) elétricos. O Elevador do Mercado é também um equipamento de transporte público.
Os táxis também são muito comuns na cidade, mantendo actualmente as cores emblemáticas dos táxis antigos: preto e verde, embora haja alguns de cor creme. Existem 22 praças de táxis nos principais pontos da cidade, onde circulam 117 veículos, dos quais 115 operados pela Politáxis, a única central de rádio táxi de Coimbra.
Economia e indústria
Segundo dados de 2005, o distrito possui 5 441 empresas com uma faturação anual de 2 318 M. EUR mas apenas 83 estão entre as mil maiores empresas do país.
De qualquer forma o seu tecido empresarial tem vindo a recuperar competitividade nos últimos anos e existem perspetivas de criação de novas áreas de localização empresarial na área do município de Coimbra. A cidade possui uma emergente indústria de alta tecnologia aplicada à saúde e serviços especializados na área da saúde, mas também muitas empresas de tecnologias de informação de ponta, ligadas à cultura, mas também em áreas como a defesa, aeroespacial, financeira, indústria, telecomunicações etc. Algumas destas empresas tecnológicas, são sobejamente conhecidas a nível internacional, como a Critical Software que colabora com a NASA e a ESA e mais recentemente com a China. Mas existem, muitas outras como a WIT ou a Cnotinfor. Encontra-se em Coimbra a melhor incubadora de empresas do mundo, premiada internacionalmente. Existem em Coimbra três hospitais centrais de dimensão regional: H.U.C. — Hospitais da Universidade de Coimbra, C.H.C. — Centro Hospitalar de Coimbra (que integra três estabelecimentos hospitalares: o Hospital Geral, também conhecido por Hospital dos Covões, o Hospital Pediátrico e a Maternidade de Bissaya Barreto) e I.P.O. Instituto Português de Oncologia.
Atualmente, as zonas industriais da cidade são o Parque Industrial de Taveiro, Parque Industrial de Eiras e o Pólo da Pedrulha e Eiras.
A cidade conta ainda com um parque de ciência e tecnologia — o Coimbra iParque — também apto a receber unidades industriais. Para além de lotes de terreno, para instalação de unidades empresariais, o Coimbra iParque disponibiliza também espaços de escritório, auditórios, salas de formação e de reuniões no business center Leonardo da Vinci — propriedade da sociedade gestora do parque.
Com um poder de compra per capita de €139,5 (2009) o município de Coimbra encontra-se em 3º lugar no ranking de importância económica atrás das áreas urbanas de Lisboa e Porto.
Em Coimbra existem centros comerciais de grandes dimensões, de que são exemplo o Coimbra Shopping, Alma Shopping (antigo Dolce Vita Coimbra), o Fórum Coimbra e o Atrium Solum.
Investigação e tecnologia
A cidade deve muito ao carácter interdisciplinar da Universidade de Coimbra, que a mantém na ribalta da investigação científica. A universidade, principalmente através do Instituto Pedro Nunes e respetiva incubadora de empresas e também do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), tem aprendido a cooperar com o tecido empresarial em vários domínios e efetivado a transferência de competências para as empresas. Entre as empresas geradas em resultado da investigação científica levada a cabo na Universidade ("spin-off" universitário) contam-se as empresas Critical Software (desenvolvimento de software), WIT Software (software para aplicações móveis), ISA (telemetria e instrumentação) e Crioestaminal (criopreservação e biomedicina). A inovação tecnológica na área da saúde é um dos exemplos desse novo modelo de desenvolvimento.
Política
Eleições autárquicas
(a) O BE apoiou a lista independente "Cidadãos por Coimbra" em 2017.
Eleições legislativas
Freguesias do município
O município de Coimbra está dividido em 18 freguesias (assinalam-se com asterisco (*) as consideradas pertencentes à zona urbana da cidade):
Cidades gémeas
As cidades gémeas de Coimbra são:
Beira, Sofala,
Chaves, Vila Real,
Cambridge, Massachusetts,
Curitiba, Paraná,
Díli, Díli, Timor-Leste
Damão, Damão e Diu, Índia
Esch-sur-Alzette, Esch-sur-Alzette, Luxemburgo
Fez, Fez-Boulemane,
Halle an der Saale, Saxónia-Anhalt,
Ilhas, Macau,
Lund, Suécia,
Mindelo,
Pádua, Véneto,
Poitiers, Vienne,
Salamanca, Castela e Leão,
Santa Clara, Califórnia
Santiago de Compostela, Galiza,
Saragoça, Aragão,
Santos, São Paulo,
São Paulo,
São Carlos, São Paulo,
Yaroslavl, Yaroslavl,
Aix en Provence,
Ver também
Baixa de Coimbra
Metro Mondego
Elétricos de Coimbra
Lista de percursos pedestres de pequena rota em Portugal
Ligações externas
Coimbra — Panorâmica de Alta Resolução
Coimbra — "Antes e Depois"
Coimbra, por Leo Duarte e Carlos Santarém Andrade
Oficiais da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito | 147,287 |
629 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Con%C3%ADmbriga | Conímbriga | Conímbriga é uma povoação estabelecida desde a Idade do Cobre que foi um importante centro durante a República Romana e que continuou habitada, pelo menos, até ao .
É um dos mais extensos e diversificados sítios arqueológicos de que há vestígio em Portugal. Está classificada como Monumento Nacional, tendo sido palco de escavações desde o .
Localiza-se a dezassete quilómetros de Coimbra, na freguesia de Condeixa-a-Velha, a dois quilómetros de Condeixa-a-Nova. A estação inclui o Museu Monográfico de Conímbriga, onde estão expostos muitos dos artefactos encontrados nas escavações arqueológicas.
Etimologia
Não se sabe ao certo a origem do nome da povoação, alguns acreditam que estaria relacionado com os cónios, povo que vivia no actual Baixo Alentejo, segundo esta hipótese, com a adição de briga, nome céltico, Conímbriga significaria "O castro dos Cónios". Contudo, as regras linguísticas fariam que se tornasse Coniumbriga e não Conimbriga. Outros acham que a etimologia de Conimbriga traça as suas origens até ao antiquíssimo lexema pré-celta Kºn, que significa "elevado pedregoso", desta maneira este lexema unido a briga significaria "cidade localizada num elevado pedregoso".
Descoberta
Tem-se conhecimento da existência de Conímbriga já no , porém, nenhum trabalho seria feito até o quando começaram em 1898 as primeiras escavações, em 1899 as primeiras sondagens importantes e o estudo científico do achado.
História
Pré-história
Traça-se a história desta povoação até à Idade do Cobre e à Idade do Bronze, porém, há a possibilidade que esta já existisse antes, na Idade da Pedra. Encontraram-se vestígios da Idade do Bronze, mais especificamente dos séculos IX e , entre os objetos achados podemos enumerar várias cerâmicas, uma fíbula e uma foice.
Antiguidade oriental
Neste último século, os fenícios, povo habitante do que actualmente é o Líbano, estabeleceram várias feitorias ao longo da costa mediterrânica da Península Ibérica. Depois de varar o Estreito de Gibraltar fizeram o mesmo na costa atlântica, uma delas, na zona do Baixo Mondego entre Montemor-o-Velho e Maiorca, o Castro de Santa Olaia, era quem comerciava com Conímbriga. Neste mercado vendiam-se marfins, pentes, louças e vidros, mais tarde, começaram a comercializar-se também vasos gregos.
Antiguidade Clássica
A primeira chegada dos Romanos da qual temos referência é de , quando as tropas de Décimo Júnio Bruto, na sua campanha para subjugar os galaicos, passaram pelas terras de Conímbriga.
Plínio, no seu recenseamento da tribos do occidente da Península, fala, abaixo do Vouga, já de oppida "cidades" e não de populi "tribos". Isto diz-nos que as populações abaixo do Vouga eram maiores e possuiam uma forma diferente de organização, não teriam tantos laços tribais mas linhagens, destas temos conhecimento de duas: a dos Dovilonici e a dos Pintones.
Seria apenas na época de Augusto que Conímbriga seria reformada, o imperador romano enviou arquitectos para a remodelar e adaptá-la ao urbanismo romano. O forum foi o primeiro edifício a ser levantado pelos romanos. Logo em seguida, criaram-se as termas da cidade tomando água de Alcabideque. Dotou-se à povoação duma muralha artificial, complementando a natural posição defensiva do assentamento, de dous quilómetros, a linha da muralha dava mais vinte e três hectáreas para a expansão de Conímbriga. Casas que se encontram junto da muralha, com azulejos, são do e III.
Os romanos trouxeram com eles novos elementos da engenharia civil: o mármore, a coluna, o estuque, a argamassa de cal e a pedra esquadriada. Isto, aliado à vinda de novos conceitos e métodos acelerou o crescimento do assentamento e criou um sincretismo arquitectónico entre a antiga tradição local e a hodierna romana.
Conímbriga ia avolumando-se cada vez mais, no governo de Vespasiano tornou-se num município entre 70 e 80. Consequência desta expansão da cidade, entre 77 e 78 um cidadão de Conímbriga, M. Júnio Latrão, foi escolhido como sacerdote do culto imperial da Lusitânia, esse mester obrigar-lhe-ia a morar em Emerita Augusta, actual Mérida, a capital da província. Tem-se como provável que tal designação foi feita como preito ao assentamento.
Posteriormente, entre os séculos II e III a cidade entra num período obscuro do qual não nos chegou muito até os nossos dias. Na metade do o Império começou a ser invadido por tribos bárbaras, em 262 vararam os Pirenéus e arrasaram o Levante peninsular, não se tem constância de que chegassem até ao litoral atlântico occidental. Nesse clima de instabilidade as defesas de Conímbriga foram reforçadas e o sistema de águas, incluindo o aqueduto, também.
Idade Média
Embora o Império já estivesse a ser assaltado há muito as ameaças continuavam relativamente longe, quiçá devido à posição geográfica da região, porém, essa calma da qual desfrutara o assentamento acabar-se-ia cedo, em 409 os vândalos e o suevos atacaram a Península. Na região de Conímbriga, a Lusitânia, fixar-se-iam os alanos. Este foi um período muito instável, no qual os bárbaros faziam e desfaziam os acordos com o governo romano e verificava-se uma situação económica desfavorável, neste clima de desassossego, as famílias mais influentes das cidades tomavam o poder nestas e tornavam-se seus senhores, no caso de Conímbriga tudo parece indicar que foi entregue à família dos Cântabros.
O assentamento cai em 464 sob o jugo dos suevos, a mulher e a prole do cabeça de família dos Cântabros são raptados por estes. Os suevos voltariam quatro anos mais tarde, em 468, para arrasar a cidade e a região. A cidade entrará num período com pouca informação documental.
Sabe-se que a cidade não seria abandonada desta vez (embora já estivesse em decadência), dado que em 561 era capital dum bispado, o prelado da mesma, Lucêncio, tomou parte no Primeiro Concílio de Braga. Constata-se também que ainda continuava a ter a mesma posição, o mesmo prelado assinou, em 572, a súmula do Segundo Concílio de Braga.
Em 586, a região caiu definitivamente sob domínio visigótico, depois de muito tempo de lutas entre estes e os suevos. Além de assinalar a derrota definitiva do Reino Suevo e a unificação política peninsular baixo o poder visigótico, para Conímbriga foi o fim, o bispo e o grosso dos seus vizinhos deixaram-na e foram morar a Emínio (actual Coimbra), sendo esta derradeira localização muito mais fértil e com um melhor abastecimento de água, bem essencial que começava a escassear para essas alturas em Conímbriga.
Sabe-se, porém, que o assentamento continuaria a ser habitado, pelo menos por alguma família abastada, uma moeda cunhada no reinado de Rodrigo do ano de 711, exactamente o mesmo ano do começo da Invasão muçulmana da Hispânia. Ainda foram encontradas algumas moedas da época muçulmana o que nos sugere que ainda não tinha sido totalmente abandonada, contudo, antes de 1086, teria sido definitivamente desabitada. As poucas gentes que ainda moravam nela estabelecer-se-iam no vale vizinho e fundariam Vila Cova, posterior Vila Cova da Condessa Domna Onega, que se tornaria na actual Condeixa-a-Velha.
Edifícios
Edifícios públicos
Seria apenas na época de Augusto que Conímbriga seria reformada, o imperador romano enviou arquitectos para a remodelar e adaptá-la ao urbanismo romano.
Anfiteatro
O anfiteatro de Conímbriga, outrora referto de terra, tinha uma arena oval com mais ou 98 x 86 metros. Para entrar neste recinto, haviam no total seis túneis, três de cada lado.
Fórum (antigo)
O fórum foi o primeiro edifício a ser levantado pelos romanos. Tornou-se no centro da vida na cidade, dado que era nele que se encontravam as autoridades e o comércio. Do lado do poente aos mercantes eram atribuídas nove lojas para o desenvolvimento das actividades comerciais. No outro lado, do nascente, achava-se a cúria e a basílica; a primeira era o local de debate entre os dois ou quatro homens-fortes do assentamento, chamados magistros; na segunda, estava o tribunal.
Forum (novo)
O novo fórum foi erguido como parte da celebração da promoção de Conímbriga a município. O antigo fórum foi demolido e este substituiu-o. Este novo já não seria palco nem da justiça nem do comércio. Estava rodeado por altos muros e expunham-se as estátuas dos homens reconhecidos.
Sabe-se que o novo fórum continuaria em pé até ao quando se colocou numa das suas zonas uma colossal cisterna.
Praça
A entrada à praça era feita varando um arco, daí chegava-se até o templo e uma fonte, podemos inferir que aqui havia um local de culto; do outro lado, do poente, dada a péssima preservação é impossível determinar o seu uso. Os pilares estavam ornamentados com filetes que os dividiam em meia-cana.
A praça tinha um pórtico que a rodeava em três lados diferentes. Mais à frente havia um outro pórtico, servia de ádito à varanda do templo.
Templo
O templo de Conímbriga está em muito mau estado de conservação, dele já só restam poucas pedras. O templo era tão pequeno que nele só cabiam as estátuas divinas, não haveria espaço para a realização de ofícios religiosos. Este edifício estava ligado à praça por uma pequena escada lateral.
Termas
As termas datam também da época de Augusto. Como não havia nascente em Conímbriga que pudesse suportar o abasticimento de água para as termas, decidiu-se procurar fontes externas de alimentação. Achou-se um poço a um bocado mais de meia légua que poderia suportar a demanda.
O edifício tinha à entrada três divisões para o segurança e os vestuários. O complexo termal de Augusto é relativamente pequeno, mas suficiente para a cidade que estava a crescer. Como era norma romana nos banhos, havia três piscinas; uma de água fria, uma morna de transição e uma de água quente. Fora dos banhos própriamente ditos, o complexo tinha um ginásio.
Casas
As casas em Conímbriga tinham uma forma rectangular e estavam alinhadas, diferentemente das antigas povoações das actuais regiões da Beira central (Beira alta, Beira litoral), de Trás-os-Montes, da Galiza e do Minho. De destaque são a Casa de Cantaber, a Casa dos Repuxos, a Casa da Cruz Suástica e a Casa dos Esqueletos.
Museu Monográfico de Conímbriga
O Museu Monográfico de Conímbriga é o museu encarregado da divulgação ao pública dos achados do sítio arqueológico de Conímbriga e está consagrado inteiramente a este. Foi criado em 1962, paralelamente ao recomeço da actividade exploradora nas Ruínas.
Segundo a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o Museu Monográfico de Conímbriga tem como objetivo:
O Museu é dirigido por Virgílio Hipólito Correia, pessoa que tem sido responsável por muitos dos trabalhos e estudos arqueológicos feitos na estação.
Em 2017 o Ministério da Cultura reclassificou o Museu Monográfico de Conímbriga para Museu Nacional. Acerca da decisão, o ministro disse:
Com esta nova classificação o Museu poderá usufruir de fundos comunitários destinados à exploração e estudo das Ruínas de Conímbriga, tudo possível graças ao Protocolo assinado com a DFPC em Junho de 2015 e a colaboração entre o Governo e a Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova através do programa de Desenvolvimento Infra-estrutural do Programa Museológico de Conímbriga. Os investimentos de valorização dos vestígios perfazem três milhões de euros no total.
Localização
Status actual e conservação
As ruínas de Conímbriga são agora classificadas como ZEP (Zona Especial de Protecção) pela Direcção-Geral do Património Cultural. De acordo a DGPC, o status de Zona Especial de Protecção confere ao sítio:
A actual condição de ZEP foi outorgada pela Portaria de 12 de novembro de 1971, publicada no DG, II Série, nº 277, de 25 de novembro de 1971. Embora o status de Zona Especial de Protecção confira ao sítio um perímetro reservado, o IC3 entra neste, descumprindo a regulação.
Este sítio arqueológico foi reconhecido em 1910 como Monumento Nacional através do Decreto de 16 de junho de 1910, DG, n.º 136, de 23 de junho de 1910.
Em 1930, na sequência XI Congresso Internacional de Arqueologia, o Estado português obtém alguns terrenos na estação arqueológica.
Em 1962 no decorrer da investigação das ruínas criou-se o Museu Monográfico de Conímbriga como veículo de transmissão dos novos conhecimentos acerca dos achados à população geral.
Explorações arqueológicas
Foi no que se começaram a fazer as primeiras explorações arqueológicas no terreno, as quais continuariam ao longo do até os nossos dias. Em 1873, o Instituto de Coimbra abriu uma secção destinada ao estudo das Ruínas. Em 1898 fazem-se escavações mas será em 1899 quando se haverão de fazer as primeiras sondagens importantes. O arqueólogo Virgílio Correia fez algumas explorações arqueológicas ao sítio em 1930, também em 1940 foram feitos trabalhos na zona, muitos pela Universidade de Coimbra. Na década de 40 e 50 fazem-se trabalhos de restauro e preservação.
Desde 1964 têm se feito trinta e cinco trabalhos arqueológicos em Conímbriga, numeram-se abaixo:
Década de 1960
Escavação (1964-1966) – Descoberta do forum; Responsáveis: Bairrão Oleiro - Robert Etienne
Escavação (1967) – Escavação total do forum e parte residencial da cidade; Responsáveis: Jorge Manuel N. L. Alarcão e Silva - Robert Etienne
Escavação (1968) – Escavação no forum, nas ruas contíguas e numa casa a setentrião das Grandes Termas Meridionais; Responsáveis: Jorge Manuel N. L. Alarcão e Silva - Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão e Silva - Robert Etienne
Escavação (1969) – Escavação total da esplanada, trabalhos no forum e descoberta de casas rectangulares da Idade da Pedra; Responsáveis: Jorge Manuel N. L. Alarcão e Silva - Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão - Silva e Robert Etienne
Década de 1970
Escavação (1970) – Trabalhos a austral do forum, no complexo industrial meridional e nas Termas flávias; Responsáveis: Jorge Manuel N. L. Alarcão e Silva, Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão e Silva e Robert Etienne
Escavação (1971) – Escavações nas Termas flávias e em fundos de cabanas e muros pré-romanos; Responsáveis: Robert Etienne
Década de 1980
Escavação (1988) – Escavações no "Bairro Indígena", na esplanada do forum flávio e o "Bico da Muralha"; Responsável: Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves
Escavação (1989) – Trabalhos no compartimento nº 7 do "Bairro Indígena", na parte lesto do "Bico da Muralha" e descoberta de cerâmica manual; Responsável: Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves
Década de 1990
Escavação (1991) – Continuação dos trabalhos desenvolvidos pela mesma responsável; Responsável: Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves
Escavação (1991) – Investigação para o esclarecimento da forma estrucural e arquitectónica das muralhas da cidade; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (1992) – Determinação das cotas de funcionamento da arena e das maeniana; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (1993) – Continuação da campanha anterior e conclusões; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (1995) – Estudo exaustivo da 'Casa de Cantaber'; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (1996) – Continuação e conclusão da campanha anterior; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Conservação e restauro (1996) – Consolidação de mosaicos e estruturas em opus signinum; Responsável: Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão e Silva
Escavação (1997) – Escavação do vestíbulo da 'Casa de Cantaber'; Responsáveis: Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão e Silva - Virgílio Nuno Hipólito Correia
Conservação e restauro (1997) – Consolidação de estruturas e mosaicos, especialmente na 'Casa de Cantaber'; Responsáveis: Maria Adília Rocha Moutinho Alarcão e Silva - Virgílio Nuno Hipólito Correia
Década de 2000
Sondagem (2001) – Aprofundamento do conhecimento acerca da destruição da Basílica e da construção do forum flávio; Responsáveis: Jorge Manuel N. L. Alarcão e Silva - Pedro Jorge Cardoso de Carvalho - Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2001) – Aprofundamento do conhecimento acerca da arquitectura doméstica e das características da mesma; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Levantamento (2002) – Continuação da campanha anterior; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Levantamento (2002) – Continuação da campanha anterior; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2002) – Continuação da campanha anterior, intervenção na 'Casa dos Solidi'; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2002) – Continuação da campanha anterior; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Conservação e restauro (2002) – Continuação da campanha anterior, conservação e restauro dos materiais; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2003) – Continuação da campanha anterior, intervenção na 'Casa dos Solidi'; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2003) – Continuação da campanha anterior; Responsável: Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2004) – Intervenção na casa do Mediano Absidiado; Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2004) – Continuação e conclusão dos trabalhos na 'Casa de Cantaber'; Responsável: Adriaan Louis De Man
Escavação (2004) – Aprofundamento do conhecimento acerca da Basílica Paleo-Cristã; Responsáveis: Jorge López Quiroga e Virgílio Nuno Hipólito Correia
Escavação (2005) – Escavação no "Bico da Muralha"; Responsável: Adriaan Louis De Man
Escavação (2006) – Continuação da campanha anterior; Responsável: Adriaan Louis De Man
Escavação (2007) – Identificação do muro perimetral do anfiteatro; Responsável: Adriaan Louis De Man
Escavação (2007) – Documentação dos mosaicos da 'Casa do Tridente e da Espada'; Responsável: José da Silva Ruivo
Década de 2010
Prospecção (2010) – Estudo e caracterização do ambiente que rodeia o assentamento e a sua ZEP; Responsável: Emanuel Ribeiro
Escavação (2010) – Aprofundamento do conhecimento acerca da arquitectura doméstica e da sua estrutura; Responsável: José da Silva Ruivo
Bibliografia
Ligações externas
Decreto de 16-06-190, DG, n.º 136, de 23 de junho de 1910 – Texto original
Povoações romanas em Portugal
Cidades da Lusitânia
Cidades destruídas
Condeixa-a-Velha
Património edificado em Condeixa-a-Nova
Monumentos nacionais no distrito de Coimbra
Cidades da Roma Antiga
Sítios arqueológicos romanos classificados como monumento nacional em Portugal
Sítios arqueológicos do distrito de Coimbra | 32,060 |
630 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo | Cabo |
Geografia
Cabo (geografia) — acidente geográfico
Cidade do Cabo — capital da África do Sul, sede do poder legislativo
Cabo (província) — antiga subdivisão da África do Sul
Los Cabos — município do estado de Baja California Sur, México
Cabó — município da Catalunha, Espanha
Arraial do Cabo — município do estado do Rio de Janeiro, Brasil
Outros usos
Corda — ou cabo; feixe de fibras
Cabo de aço
Cabo (náutica) — cordas de utilização naval
Cabo (militar) — graduação militar
Rede por cabo — infraestrutura informática
Televisão a cabo — sistema de difusão de televisão, rádio e outros serviços
Cable modem — modalidade de acesso à Internet que usa a mesma infraestrutura da televisão a cabo
Desambiguações de tecnologia
Desambiguações de topônimos | 8,721 |
632 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo%20Pessanha | Camilo Pessanha | Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de setembro de 1867 — Macau, 1 de março de 1926) foi um poeta português.
É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação. A sua obra influenciou escritores como , , , Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade.
Vida
Nasceu como filho ilegítimo de Francisco António de Almeida Pessanha, um aristocrata estudante de Direito e de Maria Espírito Santo Duarte Nunes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de 1867, às 11h00, na Sé Nova, Coimbra, Portugal. O casal teria mais quatro filhos.
Tirou o curso de direito em Coimbra. Procurador Régio em Mirandela (1892), advogado em Óbidos, em 1894, transfere-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, deixando de lecionar por ter sido nomeado, em 1900, conservador do registo predial em Macau e depois juiz de comarca. Entre 1894 e 1915, voltou a Portugal algumas vezes, para tratamentos de saúde, tendo, numa delas, sido apresentado a Fernando Pessoa, que era, como Mário de Sá-Carneiro, apreciador da sua poesia.
Foi iniciado na Maçonaria em 1910, na Loja Luís de Camões, em Macau, com o nome simbólico de Angélico.
A 8 de março de 1919, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Publicou poemas em várias revistas e jornais, mas seu único livro Clepsidra (1920), foi publicado sem a sua participação (pois se encontrava em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha se salvaram do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a Clepsidra original, acrescentando-lhe poemas que foram encontrados. Essas edições foram publicadas em 1945, 1954 e 1969.
Na area da imprensa, encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas Ave Azul (1899-1900), Atlantida (1915-1920) e Contemporânea [1915]-1926 e, postumamente, na revista Prisma (1936-1941).
Morreu a 1 de março de 1926, em Macau, devido ao uso excessivo de ópio e a tuberculose pulmonar. A sua campa encontra-se no Cemitério São Miguel de Arcanjo, em Macau.
Em 1949, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o poeta dando o nome dele a uma rua junto à Avenida da Igreja, em Alvalade.
Obra e características estéticas
Além das características simbolistas que sua obra assume, já bem conhecidas, antecipa alguns princípios de tendências modernistas.
Buscou em Charles Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo “Clepsidra”, que elegeu como título do seu único livro de poemas, praticando uma poética da sugestão como proposta por Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e imediatamente.
Por outro lado, segundo o investigador da Universidade do Porto Luís Adriano Carlos, o seu chamado "metaforismo" entraria no mesmo rol estético do imagismo, do interseccionismo e do surrealismo, buscando as relações analógicas entre significante e significado por intermédio da clivagem dinâmica dos dois planos.
Junto de sua fragmentação sintática, que, segundo a investigadora da Universidade do Minho Maria do Carmo Pinheiro Mendes, substitui um mundo ordenado segundo leis universalmente reconhecidas por um mundo fundado sobre a ambiguidade, a transitoriedade e a fragmentação, podemos encontrar na obra de Camilo Pessanha, de acordo com os dois autores citados, duas características que costumam ser mais relacionadas à poesia moderna que ao Simbolismo mais convencional.
Obras
Manuscritos
Poesia
Caderno Poético de Camilo Pessanha. (A.H.M.)
Ó Meu Coração Torna para Trás. s.d., s.l.. (B.N.L.)
Viola Chinesa . s.d., s.l. (poema dedicado a Wenceslau de Moraes). (B.N.L.)
Desejos. 8 Novembro 1889. (B.M.P.)
San Gabriel. Macau, 7 Maio 1898. (B.N.L.)
Rosas de Inverno. Macau, 1901. (B.N.L.)
Passou o Outono Já, Já Torna o Frio… Lisboa, 20 Janeiro 1916. (B.M.P.)
Processos judiciais
Camilo Pessanha Advogado Oficioso (Processo Crime). Macau, 1894. (A.T.)
Camilo Pessanha Queixoso (Processo Crime). Macau, 1911. (A.T.)
Camilo Pessanha Juiz Substituto (Processo Civil). Macau, 1917. (A.T.)
Camilo Pessanha Conservador do Registo Predial. Macau, 1919. (A.T.)
Impressos
Poesia
Livros
Clepsydra. Lisboa, Lusitânia Ed. Ana de Castro Osório, 1920, 1a edição (Há edição fac-símile publicada pela Ecopy em 2009)
Clepsidra. Lisboa, Atica, Ed. João de Castro Osório, 1945, 1956 (reimp.)
Clepsidra e Outros Poemas, Ed. João de Castro Osório, Lisboa, Atica 1969
Caderno Poético de Camilo Pessanha, Macau, Edição dos Serviços de Educação e Cultura da Biblioteca Nacional de Macau, 1985.
Clepsydra - Poemas de Camilo Pessanha, São Paulo, Editora da UNICAMP, 1992.
Textos dispersos em publicações periódicas
"San Gabriel". Jornal Único, Macau, 7 Maio 1897.
"Rosas de Inverno". O Porvir, Hong-Kong, 21 Dezembro 1901
"Branco e Vermelho". Ideia Nova, Macau, (13) 18 Março 1929 (número integralmente dedicado a Camilo Pessanha).
"O "Caderno" de Camilo Pessanha" (apresentação de Danilo Barreiros). Persona, Porto, (10) Julho 1984.
Ensaios e Traduções
Livros
Kuok Man Kan To Shu – Leituras Chinesas (livro escolar, em colaboração com José Vicente Jorge). Macau, Editora da Tipografia Mercantil de N. T. Fernandes e Filhos, 1915.
Catálogo da Colecção de Arte Chinesa Oferecida ao Museu Nacional. Macau, Imprensa Nacional, 1916 (exemplar, com dedicatória, oferecido a José Vicente Jorge).
Homenagem aos Aviadores que Completaram o 1o Raid Aéreo Lisboa-Macau. Macau, 1924.
Oito Elegias Chinesas. Lisboa, Edições Descobrimento, 1931 (separata).
China, Estudos e Traduções, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1944.
Camões nas Paragens Orientais (em colaboração com Wenceslau de Moraes). Porto, Tipografia Mendonça, , 1951., (inclui o ensaio "Macau e a Gruta de Camões").
Testamento de Camilo Pessanha, Lisboa, Bertrand Editora, 1961.
Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista de Castro e Ana de Castro Osório (organização de Maria José Lancastre). Lisboa, Imprensa Nacional, 1984.
Contos, Crónicas, Cartas Escolhidas e Textos de Temática Chinesa, Lisboa, Publicações Europa-América, 1988.
Camilo Pessanha – Prosador e Tradutor, organização, prefácio e notas de Daniel Pires; IPOR / ICM, 1992
Textos dispersos
"Estética Chinesa". A Verdade, Macau, (85) 2 Junho 1910.
Prefácio a Esboço Crítico da Civilização Chinesa de J. António Filipe de Morais Palha. Macau, Tipografia Mercantil de N. T. Fernandes e Filhos, 1912.
"Violoncelos". Centauro, Lisboa, (1) Outubro 1916.
"Macau". O Mundo Português, Lisboa, (17) Maio 1935.
"Uma Conferência de Camilo Pessanha". Persona, Porto, (11/ 12) Dezembro 1985.
"Legenda Budista". A Academia, Macau, (3) 1 Dezembro 1920.
"Vozes do Outono" in Anuário de Macau para 1927. Macau, coordenação do Governo da Província.
"Chon–Kôc–Chao" in China País de Angústia de Ruy Sant'Elmo, Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 1938.
Ver também
Manuel da Silva Mendes
Portugueses na Ásia
Bibliografia
Saraiva, António José e Óscar Lopes (1993). História da Literatura Portuguesa. Oporto: Porto Editora, 17° ed. ISBN 972-0-30170-8
Biblioteca Nacional de Portugal. Camilo Pessanha.
Ligações externas
Camilo Pessanha (Instituto Camões)
WebCite Biografia (em português)
Camilo Pessanha: No virar da clepsidra
Clepsidra (em português)
Vida e obra de Camilo Pessanha: apresentação crítica, seleção, notas e linhas de leitura de CLEPSIDRA e outros poemas.
Clepsidra, Lisboa, 1916,na Biblioteca Nacional de Portugal
Camilo Pessanha, sítio web, Biblioteca Nacional de Portugal
Escritores de Portugal
Poetas de Portugal
Poetas do simbolismo
Simbolismo
Precursores da poesia moderna
Naturais de Coimbra
Pessoas de Macau
Literatura de Macau
Portugueses na Ásia
Alumni da Universidade de Coimbra
Maçons de Portugal
Maçons do século XX
Maçons escritores
Comendadores da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada | 11,852 |
633 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Condeixa-a-Velha | Condeixa-a-Velha | Condeixa-a-Velha é uma antiga freguesia portuguesa do município de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra, com 24,18 km² de área e 3 472 habitantes (2011). A sua densidade populacional era 143,6 hab/km².
Foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada à freguesia de Condeixa-a-Nova, para formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Condeixa-a-Velha e Condeixa-a-Nova com a sede em Condeixa-a-Nova.
A povoação foi fundada pela população de Conímbriga, depois do abandono desta cidade.
População
Património edificado
Aqueduto romano de Conímbriga e Castelo de Alcabideque
Igreja Matriz de Condeixa-a-Velha
Ruínas de Conímbriga
Ligações externas
Diagnóstico de Condeixa | 2,622 |
634 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Condeixa-a-Nova | Condeixa-a-Nova | Condeixa-a-Nova (por vezes dita pela forma sincopada de Condeixa) é uma vila portuguesa do distrito de Coimbra, fazendo parte da antiga província da Beira Litoral, e atualmente inserida na sub-região Região de Coimbra (NUT III) da região Centro (NUT II), sendo sede da União das Freguesias de Condeixa-a-Velha e Condeixa-a-Nova, freguesia que contava 8743 habitantes em 2021. Situa-se a da capital do distrito.
A vila de Condeixa-a-Nova é também a sede do Município de Condeixa-a-Nova que tem de área e habitantes (2021), subdividido em 7 freguesias que incluem um total de 88 lugares. O município é limitado a norte pelo município de Coimbra, a leste por Miranda do Corvo, a sueste por Penela, a sudoeste e oeste por Soure e a noroeste por Montemor-o-Velho.
O município de Condeixa-a-Nova
É um município que apresenta uma componente serrana, onde predomina a agricultura de subsistência e uma outra mais plana, em que a atividade agrícola é bastante mais rentável. Apesar de ser um município em que a população se dedica principalmente à agricultura, começam a implantar-se algumas industriais, resultantes certamente da sua localização estratégica.
Na freguesia do Sebal está implantada uma zona industrial onde sobressaem, entre outras, fábricas de indústria farmacêutica e de cerâmica para revestir pavimentos e paredes. A produção artesanal de louças pintadas à mão é uma atividade que ainda emprega muitas dezenas de pessoas, devido à grande percentagem destes artigos que se consegue enviar para exportação. A zona industrial de Condeixa, de 651.566 metros quadrados, encontra-se a 40 km do porto da Figueira da Foz, a 70 km do porto de Aveiro, a 130 km do Aeroporto do Porto e 200 km do Aeroporto de Lisboa.
Património
Bem perto de Condeixa-a-Nova, estão localizadas as Ruínas de Conímbriga, cujo Museu Monográfico constitui um pólo de grande interesse turístico e de investigação histórica. Segundo o jornal Expresso , o Museu de Conímbriga é o segundo mais visitado do país, ultrapassado apenas pelo Museu dos Coches em Lisboa.
Quanto à atividade sócio-cultural, há a destacar, entre outras, o Museu Monográfico de Conímbriga, a Casa Museu Fernando Namora, o Museu PO.RO.S, a Fundação de Condeixa e muitas associações espalhadas um pouco por todo o município.
É considerada por alguns como a vila portuguesa com mais casas apalaçadas. Podemos, num pequeno passeio encontrar o Palácio dos Costa Alemão, infelizmente já só temos uma pequena parte das ruínas da casa solarenga da Quinta de São Tomé, temos o Palácio dos Sotto Mayor, as atuais instalações da Câmara Municipal também eram um Palácio, na Praça da República temos mais uma casa senhorial e a recuperada Pousada de Santa Cristina, antigo palácio incendiado aquando das invasões francesas.
Freguesias
Depois da reforma administrativa nacional de 2013, o Município de Condeixa-a-Nova está subdividido em 7 freguesias::
Anobra
Condeixa-a-Velha e Condeixa-a-Nova
Ega
Furadouro
Sebal e Belide
Vila Seca e Bem da Fé
Zambujal
História
No local de Conímbriga existem vestígios que indiciam a sua povoação desde o Neolítico, com testemunhos diversos a partir do Calcolítico. Depois da ocupação por parte dos Celtas, foi ocupado pelos romanos em 138 a.C. até ao fim do Império Romano.
Apenas em 1219 surge o primeiro documento que enuncia Condeixa, um pequeno sítio com uma área aproximada de 800 metros quadrados, embora seja provável que as terras de Condeixa fizessem parte dos territórios doados por D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Os frades do Mosteiro ficaram encarregues de povoar as terras que lhes pertenciam e, entre outras terras, fundaram Condeixa-a-Nova porque Condeixa-a-Velha já existia, pelo menos, desde o abandono de Conímbriga.
Nos primeiros séculos da sua existência, Condeixa-a-Nova cresceu pouco e no início do século XVI contava apenas com 20 famílias (fogos). Mas em 1502, o rei de Portugal , D. Manuel I quando se deslocava para Santiago de Compostela passou por Condeixa-a-Nova e gostou da paisagem e do clima. Talvez por isso, mandou construir a Igreja Matriz e em 1514 deu um foral à vila. Formou-se então a Freguesia de Condeixa-a-Nova com terras que pertenciam às freguesias de Condeixa-a-Velha e do Sebal.
Por causa do foral e sobretudo devido à localização estratégica na estrada Lisboa-Coimbra-Porto, Condeixa-a-Nova foi-se desenvolvendo e crescendo bastante, de tal modo que em 1601 já tinha aproximadamente 200 fogos, ou seja, entre 800 e 1000 pessoas.
Apesar da sua prosperidade, vila sofreu imensamente com as com as invasões francesas, tendo sido invadida e violentamente saqueada e posteriormente, incendiados diversos palácios e outros edifícios, entre os quais a Igreja Matriz, que teve de ser reconstruída no estilo neo-clássico que exibe atualmente.
A 17 de Abril de 1838, Condeixa deixou de fazer parte do concelho de Coimbra e passou ela própria a ser concelho.
Atualmente, Condeixa é uma vila relativamente desenvolvida, com indústria e comércio próprios. Além disso, beneficia da proximidade com Coimbra e com Conímbriga.
Evolução da População do Município
(Obs.: Número de habitantes "residentes", ou seja, que tinham a residência oficial neste município à data em que os censos se realizaram.)
De acordo com os dados do INE o distrito de Coimbra registou em 2021 um decréscimo populacional na ordem dos 5.0% relativamente aos resultados do censo de 2011. No concelho de Condrixa-a-Nova esse decréscimo rondou os 2.0%.
''(Obs: De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no município à data em que os censos se realizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente)''
Política
Eleições autárquicas
Eleições legislativas
Património Histórico
Ruínas de Conímbriga
Igreja Matriz de Condeixa
Igreja Matriz da Ega
Palácio dos Figueiredos (atual sede dos Paços do Concelho de Condeixa-a-Nova)
Palácio dos Almadas (atual Pousada de Santa Cristina)
Palácio Sotto Mayor
Palácio dos Sás
Palácio do Conde de Podentes (atualmente conhecido pelo Hospício)
Castelo de Alcabideque
Pelourinho da Ega
Paço dos Comendadores (atual Paço da Ega, turismo rural)
Igreja matriz do Sebal Grande
Palácio dos Mattos, Sebal Grande
Cultura
Museu Monográfico de Conímbriga
Casa Museu Fernando Namora
Fundação de Condeixa
Museu POROS
Personalidades ilustres
Visconde de Condeixa
Conde de Condeixa
Fernando Namora, médico, escritor e pintor.
António Pimentel, pintor e ilustrador.
Manuel Deniz-Jacinto, teatrólogo, ensaísta, professor, ator e encenador.
João Franco de Oliveira, Arcebispo de São Salvador da Bahia, Bispo de São Paulo de Luanda e Bispo de Miranda
Dr. João Antunes (Padre Boi) - músico, pintor, escritor, ensaísta, professor, ator, encenador
Geminações
A vila de Condeixa-a-Nova é geminada com as seguintes cidades::
Bretten, Baden-Württemberg, Alemanha (1985)
Longjumeau, Essonne, França (1990)
Pontypool, Torfaen, País de Gales (1999)
Idanha-a-Nova, Distrito de Castelo Branco, Portugal (1994)
Ver também
Lista de percursos pedestres de pequena rota em Portugal
Ligações externas | 13,739 |
635 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Condado%20Portucalense | Condado Portucalense | O Condado Portucalense (868–1143) foi um condado que surge ao longo do processo de reconquista da península ibérica pelos cristãos e que é dissolvido com a assinatura do Tratado de Zamora. Deste nome provém o atual Portugal, pois durante a Alta Idade Média a atual Região Norte portuguesa foi denominada como Condado Portucalense, para diferenciá-la do Reino da Galiza. Houve, no actual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista, dois governos denominados de Condado Portucalense ou Condado de Portucale. Em documentos coevos, o território denominava-se Portugália, sendo o condado fundado por Vímara Peres em 868, após a presúria aos mouros de Portucale (o Porto). A partir de finais do e com Gonçalo Mendes, os condes portugueses passaram a usar o título de duques, o que poderia indicar maior importância e maior extensão territorial.
A província portugalense que correspondia sensivelmente ao Entre-Douro-e-Minho tinha inicialmente o Porto como capital, mas dada a revelia e poder dos condes de Portugal, agora duques, que ingeriam na monarquia leonesa, um deles acabou por ser regente do reino entre 999 e 1008. O condado, embora gozando de autonomia significativa, era vassalo do reino de Leão.
O Condado Portucalense reemergiu, em 1096 pela mão de Henrique de Borgonha como oferta do rei Afonso VI de Leão pelo auxílio na Reconquista de terras aos mouros, a quem deveria prestar vassalagem, tendo também recebido a mão de sua filha, a infanta D. Teresa de Leão. A "Terra de Portugal" foi concedida como dote hereditário de D.Teresa. Este último condado era maior em extensão e abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra, suprimido em 1091, partes de Trás-os-Montes e ainda do sul da Galiza, a diocese de Tui. De notar que Condado é um termo genérico para designar o território português, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados comite (conde), dux (duque), princeps (príncipe) e até regina (rainha).
Fundação do condado
A reocupação e possível reconstrução ou fortificação de Portucale verificou-se após a presúria de Vímara Peres, em 868, vivendo, a partir de então, um próspero período da sua história: daí partiu toda a acção de reorganização, bem sucedida, e nalguns casos de repovoamento, para além dos limites da antiga diocese nela sediada, quer ao norte do rio Ave, quer ao sul do rio Douro. Por esta altura, o território designava-se de Terra Portugalense ou Portugalia. Desta forma, o antigo burgo de Portucale deu o nome a um novo estado ibérico.
Paulo Merêa refere a existência de documentos comprovadamente encontrados na província de Ourense, na Galiza, nos quais surge a referência expressa a terras situadas em Portugal, ou seja, ao sul do rio Lima, e que então pertenciam, e vieram ainda a pertencer durante algum tempo, no âmbito da organização eclesiástica de Tui, repovoada durante o reinado de .
Apenas dez anos decorridos sobre a reconquista definitiva de Portucale tivesse sido tomada a cidade de Coimbra e erigida em condado independente às mãos de Hermenegildo Guterres em 878; a sua posição de charneira entre os mundos cristão e muçulmano permitiu uma vivência de maior paz no Entre-Douro-e-Minho, se bem que a região era alvo de incursões normandas regulares. As campanhas do Almançor, em finais do , porém, fizeram recuar a linha de fronteira de novo até ao Douro e o condado de Coimbra é suprimido. Na segunda metade do , reconstituiu-se ao sul o condado de Coimbra, que incluía ainda as terras de Lamego, Viseu e Feira, sendo entregue ao conde ou alvazil Sesnando Davides, que conquistara definitivamente a cidade em 1064. Este condado viria mais tarde a ser incorporado no Portucalense.
Em 1065, o Condado Portucalense e a Galiza fizeram parte do território atribuído por ao seu filho mais novo . No entanto, ele lutava por controlar o conde Nuno Mendes. Com a sua vitória em 1071, na Batalha de Pedroso, entre a cidade de Braga e o rio Cávado, onde derrota Nuno Mendes, Garcia passa a intitular-se "Rei de Portugal e Galiza" (GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE), o Condado Portucalense é extinto dado que os herdeiros naturais, Loba Nunes e Sesnando Davides, filha e genro do conde, que tinham o direito de herdar o título, vêem boa parte dos bens confiscados por Garcia II.
Pouco depois, em 1071, os seus irmãos e tomaram o reino de Portugal e Galiza, expulsando Garcia. Na primavera seguinte, Sancho, por sua vez, expulsou Afonso, voltando a juntar os três reinos, o de Leão, o de Portugal e Galiza e o de Castela. Sancho aparece identificado como rei num documento português de 1072. Com o assassinato de Sancho, mais tarde, no mesmo ano, D. Afonso VI sucedeu na coroa de Leão, que abrangia os três reinos.
Portucale
A povoação que deu origem ao nome do condado, localizava-se junto à foz do rio Douro e tinha o nome de Portus Cale. O rei visigodo Leovigildo e seus sucessores cunharam moeda com a legenda Portucale. Forma que passou a Portugale em documentos do para o VIII. O topónimo que significa "Porto de Cale", que se julga ser um nome híbrido formado por um termo latino (Portus, "porto") e outro grego (καλός, transl. kalós, "belo"), donde qualquer coisa como "Porto Belo". Outra explicação é de que o nome derivaria dos povos de cultura castreja que habitariam a área de Cale nos tempos pré-romanos - os galaicos. Uma explicação alternativa é a de que o nome deriva da deusa venerada pela tribo e que poderia historicamente relacionar-se com a palavra Cailleach (definida como "deusa ancestral"), na Irlanda, numa invasão celta proveniente da Galécia e que teria nesses primórdios invadido a actual Irlanda. Uma outra teoria afirma que a palavra cale ou cala, seria celta e significava "porto", uma "enseada" ou "abrigo", e implicava a existência de um porto celta mais antigo. Ainda outra teoria propõe que Cale deriva de Caladunum.
No , as "Histórias de Salústio" referem uma "Cales civitas" localizada na Galécia; Cale teria também sido conquistada por Perpena; no , no "Itinerário de Antonino", fala-se de uma povoação chamada de Cale ou Calem; no , Idácio de Chaves escreve sobre um "Portucale castrum".
Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização exacta; o Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo cónego Pierre David após a sua identificação pelo também cónego Avelino de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes da diplomacia portuguesa, refere-se, séculos depois, a um povoado que designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro, o Portucale Castrum Novum, na direita.
Aquando do domínio dos suevos, Portucale foi palco de vários acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário durante a invasão dos visigodos comandados por Teodorico II (457), a revolta do seu governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a última batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo.
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a segunda metade do , a sede da diocese Portucalense, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a reconquista do Porto, em 868.
Condes de Portucale
Foram condes da (nem sempre em linha recta, mas recorrendo às vezes à sucessão cognática):
Casa de Borgonha
A ambição de Afonso VI de Leão reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca. A esta altura, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território: um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a ocidente, entregue a Raimundo; este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI de reforçar ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de Borgonha.
O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram propícias.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias, muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste, Teresa de Leão, a governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.
Em virtude do reconhecimento pelo , D. Teresa começa a intitular-se rainha em 1116-1117, mas os conflitos com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios públicos.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro — segundo o costume dos reis — tornando-se assim guerreiro independente. Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida, D. Afonso Henriques toma as rédeas do condado e dá o primeiro e firme passo para a constituição do reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos do Reino de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques conseguiu uma importante vitória contra os mouros na Batalha de Ourique, em 1139. Passou a intitular-se "rei dos Portugueses" a partir de 1140, e com o Tratado de Zamora de 1143 veria o seu poder legitimado. A Independência de Portugal inicia-se com a sua primeira dinastia, sendo coroado D. Afonso I.
Ver também
Tratado de Zamora
Independência de Portugal
Condado de Coimbra
Bibliografia
Ligações externas
De Condado Portucalense a Reino de Portugal, A Alma e Gente - Tesouros da Sé de Braga (Extrato de Programa), por José Hermano Saraiva, RTP/ Videofono, 2006
Estados e territórios fundados em 868
1143 em Portugal | 77,179 |
636 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Carta%20apost%C3%B3lica | Carta apostólica | Sob a denominação de carta apostólica pode-se compreender duas espécies de documentos emitido pelo papa: Epistola Apostolica e Litterae Apostolicae. A primeira trata de matéria doutrinária, de carácter menos solene que a encíclica. O documento é dirigido aos bispos e, por meio deles, a todos os fiéis.
Exemplo: Mulieris Dignitatem (papa João Paulo II, 15 de agosto 1988) sobre a dignidade e vocação da mulher. Esse tipo de documento pode conter algo de doutrinariamente definitivo, como a Ordinatio Sacerdotalis (papa João Paulo II, 22 de maio de 1994) sobre a ordenação sacerdotal reservada somente a varões.
A segunda espécie (Litterae Apostolicae) é usada para vários outros assuntos: constituição de santos padroeiros, promoção de novos beatos, normas disciplinares, etc.
Referências
Ver também
Documentos pontifícios
Encíclica
Bula pontifícia | 2,108 |
637 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o%20apost%C3%B3lica | Constituição apostólica | Constituição apostólica (do latim: Constitutio apostolica) é um documento pontifício que trata de assuntos da mais alta importância. Distingue-se em Constituição Dogmática que contém definições de dogmas. Por exemplo: do Papa Pio XII, a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, com a qual foi definido o dogma da Assunção de Nossa Senhora e a Constituição Disciplinar, que diz respeito a determinações canónicas; do Papa João Paulo II, as Constituições Apostólicas Sacrae Disciplinae Leges (25 de Janeiro de 1983) de promulgação do CIC de 1983; Pastor Bonus (28 de Junho de 1988) sobre a nova constituição da Cúria Romana.
O conceito de constituição para o direito canónico deriva diretamente do conceito de constituição do direito romano, onde reservava-se o título de constititio para as leis mais importantes. Nesse sentido difere um pouco do moderno conceito de constituição como lei fundamental de um estado, mas, de certa forma, a ideia central é a mesma.
Exemplos de Constituições Apostólicas
Outros exemplos notáveis de constituições dogmáticas seriam a Lumen Gentium e a Dei Verbum, e, como constituição pastoral (disciplinar) a Gaudium et Spes.
Ver também
Bula pontifícia
Breve apostólico
Catecismo
Direito Canónico
Encíclica | 2,298 |
638 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conceito | Conceito | Conceito (do latim conceptus, do verbo concipere, que significa "conter completamente", "formar dentro de si"), substantivo masculino, é aquilo que a mente concebe ou entende: uma ideia ou noção, representação geral e abstracta de uma realidade. Pode ser também definido como uma unidade semântica, um símbolo mental ou uma "unidade de conhecimento". Um conceito corresponde geralmente a uma representação numa linguagem ou simbologia. O termo é usado em muitas áreas, como na sociologia, na matemática, na astronomia, na estatística, na filosofia, nas ciências cognitivas, na física, na biologia, na química, na economia e na informática.
Conceitos são universais ao se aplicarem igualmente a todas as coisas em sua extensão. Conceitos são portadores de significado. Um único conceito pode ser expresso em qualquer número de linguagens: o conceito cão pode ser expresso como Hund em alemão, hond em Afrikaans, dog em inglês, perro em castelhano, gos em catalão, hundo em esperanto, txakur na língua basca, chien em francês, can em galego, cane em italiano, canis em latim, inu em japonês etc. O fato de que conceitos são, de uma certa forma, independentes das linguagens torna a tradução possível; palavras em várias línguas "querem dizer" o mesmo porque expressam um e o mesmo conceito.
Conceito é uma frase (juízo) que diz o que a coisa é ou como funciona. O conceito, enquanto o-que-é é a expressão de um predicado comum a todas as coisas da mesma espécie. Chega-se a esses predicados ou atributos comuns por meio da análise de diversas coisas da mesma espécie. O homem é um ser racional. A racionalidade é o predicado comum a todos os homens. Numa linguagem mais iluminista, o Conceito é "um juízo sintético a priori". Sendo assim, conceito não é a mesma coisa que definição. Outros autores usam a expressão "definição real" como sinônimo de conceito.
Ver também
Rede semântica
Meme
Categorização
História dos conceitos
Nome
Arquétipo
Definição
Ligações externas
Linguagem
Pensamento
Conceitos metafísicos | 90,013 |
639 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho%20da%20Uni%C3%A3o%20Europeia | Conselho da União Europeia | O Conselho da União Europeia, ou simplesmente Conselho constitui a principal instância de decisão da União Europeia. É a expressão da vontade dos Estados-Membros, cujos representantes se reúnem regularmente a nível ministerial.
Funções
Em função das questões a analisar, o Conselho reúne-se em diferentes formações: política externa, economia e finanças, agricultura, educação, telecomunicações, etc.
O Conselho assume várias funções essenciais:
É o órgão legislativo da União; em relação a um grande conjunto de competências comunitárias, exerce este poder legislativo em codecisão com o Parlamento Europeu.
Assegura a coordenação das políticas económicas gerais dos Estados-Membros.
Celebra, em nome da Comunidade, os acordos internacionais entre esta e um ou vários Estados ou organizações internacionais.
Partilha a autoridade orçamental com o Parlamento Europeu.
Aprova as decisões necessárias à definição e à execução da política externa e de segurança comum, com base em orientações gerais definidas pelo Conselho Europeu.
Assegura a coordenação da acção dos Estados-Membros e adopta as medidas no domínio da cooperação policial e judiciária em matéria penal.
A presidência do Conselho da União Europeia é rotativa entre os membros da União Europeia.
O secretário-geral do Conselho da União Europeia é Javier Solana.
Votações
O Conselho é composto pelos ministros nacionais relevantes para o assunto de discussão, com cada ministro representando o governo nacional. Na votação por maioria qualificada, estados diferentes têm pesos diferentes com base no voto da população. Por exemplo, uma votação pela Alemanha ou a França tem um peso de 29 num total de 345, enquanto que um voto do Chipre e da Letónia só tinha um peso de quatro votos. A lista completa da votação é mostrada abaixo:
Presidente
A Presidência do Conselho da União Europeia é uma responsabilidade sobre o funcionamento do Conselho da União Europeia, que é rotativo entre os Estados membros da União Europeia, de seis em seis meses. Não há um único presidente, mas a tarefa é levada a cabo por todo um governo nacional, o que, consequentemente, permite influenciar a direcção da política da União Europeia. Embora seja rotativa de seis em seis meses, a partir de 2007, de três em três presidências irão co-operando num programa político comum.
Futuro do Conselho
A proposta do Tratado de Lisboa retoma no essencial as reformas enunciadas da rejeitada Constituição. O corpo seria renomeado, tornando-se oficialmente num Conselho de Ministros, com uma separação oficial do Conselho Europeu (que se tornará uma instituição com um sistema separado da Presidência). Da nota particular é uma alteração no sistema de votação por maioria dos casos de dupla maioria, a votação por maioria qualificada, substituindo o sistema de votação anterior. As decisões tomadas pelo Conselho deverão ser tomadas por 55% dos Estados-Membros e 65% da população da União Europeia. Nos termos do Tratado de Lisboa, a implementação deste sistema de votação será adiada para 1 de novembro de 2014.
Em termos de configuração do Conselho, o facto de existirem diferentes configurações é mencionado pela primeira vez nos tratados, mas apenas dois são mencionados pelo nome na Constituição (os outros são acordados pelo Conselho Europeu), eles são o Conselho de Assuntos Gerais e o Conselho de Relações Externas, a divisão do actual Conselho dos Assuntos Gerais e Relações Externas. Este último não será presidido pela Presidência, mas pelo novo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. A Presidência será realizadas de três em três ou de dezoito em dezoito meses, facto que está consagrado na Constituição. Além disso, o Conselho é chamado a responder em público. O Ecofin da Eurozona será mais formalizado e elegerá o seu próprio Presidente em separado.
Conselho Europeu
Em termos formais, o Conselho da União Europeia não é o mesmo que o Conselho Europeu. O primeiro é uma reunião a nível ministerial, enquanto que o segundo reúne os chefes de Estado e de governo. O Conselho Europeu não tem funções legislativas, mas é lá que as grandes questões efectivamente se decidem.
Ligações externas | 10,304 |
640 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o%20Europeia | Comissão Europeia | A Comissão Europeia é a instituição que é politicamente independente e que representa e defende os interesses da União Europeia (UE) na sua globalidade. Propõe legislação, política e programas de ação e é responsável por aplicar as decisões do Parlamento Europeu (PE) e o Conselho da União Europeia (CUE).
A Comissão Europeia materializa e defende o interesse geral da Comunidade Europeia. O presidente da Comissão é eleito pelo Parlamento Europeu, por proposta do Conselho Europeu. Os restantes comissários são escolhidos com base num sistema de rotação estabelecido por unanimidade pelo Conselho Europeu.
O termo "Comissão" faz referência aos membros da Comissão e aos Comissários designados pelos Estados membros e aprovados pelo Parlamento, mas entretanto também se refere à própria instituição e ao seu pessoal.
Funcionamento
A Comissão é o motor do sistema institucional comunitário. São diversas as suas principais funções:
Propor legislação ao Parlamento e ao Conselho (segundo o direito de iniciativa legislativa).
Gerir e aplicar as políticas da UE, assegurando a execução das normas emanadas do Conselho, ou do Conselho e do Parlamento Europeu (directivas, regulamentos, decisões), do orçamento e dos programas adoptados pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia.
Fazer cumprir a legislação Europeia, zelando pelo respeito do direito comunitário, juntamente com o Tribunal de Justiça
Representar a União internacionalmente, negociando acordos internacionais, essencialmente em matéria comercial e de cooperação.
Além de outras pequenas funções
A Comissão elabora propostas para as novas leis Europeias, que apresenta ao PE e ao CUE. A Comissão garante que as decisões da UE se apliquem correctamente e supervisiona o modo de utilização dos fundos da União. Também vigia o respeito pelos tratados europeus e o Direito comunitário.
A Comissão foi criada para representar o interesse de todos os Estados-Membros da UE. Para manter os Tratados e defender o interesse geral, foi dado à Comissão o direito de mexer no processo legislativo.
A partir de 2004, o Comissariado é composto por 25 pessoas, assistidas por cerca de 24 mil funcionários. O Presidente é eleito pelos Governos dos Estados membros da UE e deve ser aprovado pelo Parlamento Europeu. Os demais membros são nomeados pelos governos dos Estados membros em consulta com o presidente nomeado e também devem ser aceites pelo Parlamento. A Comissão é nomeada por um período de cinco anos, mas pode em qualquer momento ser destituída pelo Parlamento.
Vigora o princípio de responsabilidade solidária entre os comissários e estes são aprovados pelo Parlamento em bloco; não obstante, compete ao Presidente da Comissão distribuir as áreas de responsabilidade política entre os Comissários e pode, se contar com a aprovação da Comissão, exigir também a demissão de um Comissário.
As competências da Comissão, e especialmente do seu presidente, seriam substancialmente fortalecidas caso tivesse sido aprovado o Tratado da Constituição Europeia.
A maioria dos funcionários, mas não a totalidade, trabalha em Bruxelas, particularmente na sede situada no Edifício Berlaymont.
Grande parte do impulso político a favor da União Europeia foi dado pelos Presidentes da Comissão. Examinar o perfil e as iniciativas das pessoas que já ocuparam este cargo é uma indicação do estado em que se encontra a União.
Selo Europeu Para as Línguas
Em 1999 a Comissão Europeia instituiu o European Language Label um prémio que distingue os projectos mais inovadores na área da aprendizagem de línguas de cada país participante no projecto. É coordenado pela Comissão Europeia, mas gerido pelos próprios Estados-Membros, com júris nacionais a decidir face a critérios especificados. Em 2012, em Portugal, o prémio foi atribuído a 2 projectos: à escola de Vila Verde pelo seu projecto audio-visual e de criação de um livro "Six teen stories", e à Associação Fazer Avançar pelo seu projecto SPEAK, um projecto de partilha cultural e linguística criado em Leiria.
História
A Comissão Europeia é fruto da unificação da Alta Autoridade da CECA, da Comissão da CEE e da Comissão do Euratom, ao entrar em vigor em 1 de Julho de 1967 o Tratado de Bruxelas de 8 de Abril de 1965, de unificação dos executivos comunitários.
A lista que se segue mostra os presidentes da Comissão Europeia:
Walter Hallstein (1958-1967)
Jean Rey (1967-1970)
Franco Maria Malfatti (1970-1972)
Sicco Mansholt (1972-1973)
François-Xavier Ortoli (1973-1977)
Roy Jenkins (1977-1981)
Gaston Thorn (1981-1985)
Jacques Delors (1985-1995)
Jacques Santer (1995-1999)
Romano Prodi (1999-2004)
José Manuel Durão Barroso (2004-2014)
Jean-Claude Juncker (2014-2019)
Ursula von der Leyen (2019-)
Até 1 de maio de 2004 havia 20 comissários, dois de cada um dos Estados membros com mais habitantes (Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Espanha) e um dos restantes, mas após a ampliação da União Europeia que se oficializou nesse dia, o número de comissários passou a ser 30.
A partir de 22 de novembro de 2004, data em que tomou posse a Comissão 2004-2009 (Comissão Barroso), o número passou a ser de apenas 27 comissários, um por país.
Cronologia
A "Comissão Barroso"
O português José Manuel Durão Barroso foi designado como presidente da Comissão Europeia, pelo Conselho da União.
A sua participação como anfitrião na "cimeira das Lajes", que formalizou a invasão do Iraque de 2003, foi o principal ponto de divisão nas negociações que levaram à sua nomeação.
Na eleição de Durão Barroso para presidir à Comissão Europeia não somente foi ponderada a sua pertença ao dominante Partido Popular Europeu, mas também as suas boas relações com os Estados Unidos da América, numa altura em que a UE tenta retomar a excelência das relações com esse país.
2004
29 de Junho: O Conselho da União Europeia designa Durão Barroso como seu candidato "à presidência da Comissão Europeia para o período de 1 de Novembro de 2004 a 31 de Outubro de 2009".
22 de Julho: O Parlamento Europeu ratifica a nomeação do novo presidente.
27 de Outubro: O presidente designado retirou a equipa de candidatos a comissários do voto de investidura do Parlamento Europeu devido às críticas da câmara a vários membros, especialmente ao designado por Itália.
29 de Outubro: Durão Barroso assiste à assinatura do Tratado pelo qual se estabelece uma Constituição para a Europa.
22 de Novembro: Com três semanas de atraso, a nova Comissão iniciou funções logo que o Parlamento Europeu aceitou a modificação realizada por Durão Barroso na equipa de comissários.
14 de Dezembro: Durão Barroso apresentou no P.E. as orientações políticas e estratégicas do Executivo para o quinquénio. Desenvolvimento económico, luta contra o terrorismo e defesa dos valores europeus são as prioridades.
2005
6 de Janeiro: Durão afirmou na Cimeira de Jacarta que a ajuda dos 25 países da UE para os países afectados pelo Terramoto do Oceano Índico de 2004 será de 1.500 milhões de euros. Anunciou ainda "um pacote adicional de até 450 milhões de euros em ajuda humanitária e para a reconstrução". O número não inclui as doações provenientes de cidadãos e empresas da UE.
25 de Abril: Simeon Sachsen-Coburg Gotha, primeiro-ministro da Bulgária, e Traian Basescu, primeiro-ministro da Roménia, assinam, perante o presidente da Comissão, o Tratado para a Adesão dos respectivos países à UE.
10 de Maio: Durão e o presidente russo Vladimir Putin subscrevem em Moscovo um plano que contempla "Quatro espaços comuns" entre a UE e a Rússia.
Setembro: Celebrou-se em Pequim a oitava cimeira anual entre a China e a UE.
2006
17 de Julho: Durão assiste à cimeira do G-8 em São Petersburgo.
Ver também
História da União Europeia
Portal de Dados Abertos da UE
Ligações externas
O membros da Comissão Europeia | 21,156 |
642 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Classifica%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica | Classificação científica | A expressão classificação científica, taxonomia ou classificação biológica, designa o modo como os biólogos agrupam e categorizam as espécies de seres vivos tanto extintas como actuais. A classificação científica moderna tem as suas raízes no sistema de Karl von Linnée (latim: Carolus Linnaeus), que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas. Estes agrupamentos foram subsequentemente alterados múltiplas vezes com o fim de melhorar a consistência entre a classificação e o princípio darwiniano da ascendência comum. O advento da sistemática molecular que utiliza a análise do genoma e os métodos da biologia molecular levou a profundas revisões da classificação de múltiplas espécies e é provável que as alterações taxonómicas continuem a ocorrer à medida que se caminha para um sistema de classificação assente na semelhança genética e molecular em detrimento dos critérios morfológicos. A classificação científica pertence à ciência da taxonomia ou sistemática biológica.
Características da classificação biológica
A classificação das espécies não obedece a critérios rigidamente formais. Caso fosse aplicado aos primatas o mesmo critério científico usado para classificar os coleópteros, dos quais há mais de 300 mil espécies catalogadas, o ser humano (Homo sapiens) faria parte do género Pan, o mesmo género dos chimpanzés (Pan troglodytes) e dos bonobos (Pan paniscus).
Assim a classificação biológica é um sistema organizativo que se rege por um conjunto de regras unificadores e de critérios que se pretendem universais, mas que, dada a magnitude do conjunto dos seres vivos e a sua inerente diversidade, são necessariamente adaptados a cada um dos ramos da biologia.
Tradicionalmente, a classificação de plantas e de animais seguiu critérios diferenciados, hoje fixos no Código Internacional de Nomenclatura de algas, fungos e plantas e no Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, respectivamente, reflectindo a história das comunidades científicas associadas. Outras áreas, como a micologia (que segue a norma botânica), a bacteriologia e a virologia, seguiram caminhos intermédios, adoptando muitos dos procedimentos usados nas áreas consideradas mais próximas.
Nos últimos tempos, com o advento das técnicas moleculares e dos estudos cladísticos, as regras tendem apara a unificação, levando a uma rápida mutação dos sistemas classificativos e alterando profundamente a estrutura classificativa tradicional.
A classificação científica é, por isso, um campo em rápida mutação, com frequentes e profundas alterações, em muitos casos quebrando conceitos há muito sedimentados. Nesta matéria, mais importante do que conhecer a classificação de uma qualquer espécie, importa antes conhecer a forma como o sistema se organiza. Até porque aquilo que é hoje uma classificação aceite em pouco tempo pode ser outra bem diferente.
História
O sistema mais antigo de classificação de seres vivos que se conhece deve-se ao filósofo grego Aristóteles, que classificou todos os organismos vivos então conhecidos em plantas e animais. Os animais eram, por sua vez, subdivididos de acordo com o meio em que se moviam (terra, água e ar).
Em 1172, o sábio Ibn Rushd (Averroes), que era juiz (Qaadi) em Sevilha, traduziu para a língua árabe e comentou o livro de Aristóteles intitulado De Anima (Sobre a alma). O seu trabalho original perdeu-se, mas conhece-se uma tradução para latim da autoria de Michael Scot. Foi através desta via que a classificação aristotélica chegou aos nossos dias e inspirou muitos dos trabalhos taxonómicos iniciais.
O professor suíço Conrad von Gesner (1516–1565) produziu um importante avanço sobre a estrutura aristotélica, ao publicar uma compilação de todos os seres vivos então conhecidos, ainda assim agrupados segundo um método baseado no de Aristóteles.
A exploração de novos territórios que se seguiu aos Descobrimentos trouxe para a Europa centenas de novas espécies de plantas e animais, desafiando os velhos sistemas de classificação e identificação. Por outro lado, a curiosidade pela ciência que o Renascimento europeu despertou levou à constatação de que, mesmo na Europa, existiam muitos milhares de seres vivos distintos, a maior parte dos quais não descritos nem catalogados.
Perante esta explosão no conhecimento da biodiversidade, e da consequente actividade colecção e análise de espécimes, rapidamente se constatou que os velhos sistemas de catalogação tornavam muito difícil estudar e localizar os exemplares nas colecções. Tal levava a que a mesma espécie recebesse nomes distintos, já que as colecções eram demasiada grandes para o que o seu conteúdo pudesse ser memorizado.
Foi então necessário delinear um sistema que agrupasse os espécimes de forma lógica, permitindo uma rápida localização dos exemplares semelhantes. Desse esforço nasceu o sistema binomial baseado na morfologia externa, agrupando exemplares com um aspecto semelhante.
Entretanto, o movimento que se tinha centrado essencialmente nas plantas foi-se estendendo aos animais: em finais do século XVII e princípios do século XVIII iniciou-se o estudo científico dos animais, primeiro dos domésticos, depois generalizado a toda a fauna. Este estudo lançou as bases para a anatomia comparada e para os sistemas classificativos baseados na morfologia e função dos órgãos.
Também os médicos, com o seu conhecimento de anatomia e o seu interesse pelas plantas usadas para fins medicinais, contribuíram fortemente para o progresso do conhecimento dos seres vivos. Entre aqueles profissionais, destacaram-se, pelos seus conhecimentos anatómicos ou botânicos, Hieronymus Fabricius (1537–1619), Petrus Severinus (1580–1656), William Harvey (1578–1657) e Edward Tyson (1649–1708).
Outra frente de progresso foi aberta pelo aparecimento dos primeiros entomologistas e pelos primeiros microscopistas, destacando-se nestes campos Marcello Malpighi (1628–1694), Jan Swammerdam (1637–1680) e Robert Hooke (1635–1702).
No campo mais filosófico, o escocês James Burnett (1714-1799), mais conhecido por Lord Monboddo, foi um dos primeiros pensadores a tentar estabelecer uma correlação entre a espécies e a procurar descobrir regras lógicas que pudessem colocar alguma ordem no aparente caos da diversidade morfológica dos seres vivos. Nesta busca, estabeleceu as primeiras normas de ordenação e as primeiras explicações para a variabilidade das formas, sendo um verdadeiro precursor das teorias evolucionárias.
Os desenvolvimentos sucessivos verificados na história da sistemática dos insectos pode ser consultada no seguinte sítio Nomina Circumscibentia Insectorum, seguindo as hiperligações que descrevem cronologicamente cada passo.
Os metodistas
Desde finais do século XV que um número crescente de naturalistas se dedicava à procura de um método de ordenar racionalmente o mundo natural, procurando classificar os minerais, as rochas e os seres vivos em categorias que permitissem fazer sentido da sua enorme diversidade e ao mesmo tempo das suas extraordinárias semelhanças. Esta procura de uma arrumação lógica para a diversidade da natureza foi ganhando favor entre os estudiosos, transformando-se num dos principais campos de estudo da História Natural.
Foi neste contexto que Carolus Linnaeus, na sua obra Bibliotheca Botanica, cunhou o termo metodistas (não confundir com Metodista, a denominação religiosa homónima) para se distinguir os naturalistas que se interessavam pela classificação dos seres vivos, em contraste com os colectores, cuja única preocupação era encontrar e determinar novas espécies. Avultaram entre os primeiros metodistas da biologia, o botânico e filósofo italiano Andrea Caesalpino, o naturalista inglês John Ray, o médico e botânico alemão Augustus Quirinus Rivinus, e o médico, botânico e explorador francês Joseph Pitton de Tournefort.
Andrea Caesalpino (1519 - 1603), na sua obra De plantis libri XVI (1583), propôs a primeiro sistema hoje conhecido de ordenação lógica das plantas: com base na estrutura do tronco e no desenvolvimento e forma dos frutos dividiu em 15 genera as plantas então conhecidas.
John Ray (1627–1705) foi um naturalista inglês que publicou importantes trabalhos sobre plantas, sobre animais e sobre aquilo que designava por teologia natural. A forma de abordagem à problemática da classificação das plantas que utilizou na sua obra Historia Plantarum foi um importante passo na fundação da moderna taxonomia vegetal. John Ray rejeitou o sistema de simples dicotomia então usado na classificação das plantas, no qual as espécies eram ordenados com base na presença ou ausência de determinado carácter (por exemplo: plantas de flor vermelha ou plantas sem espinhos), para o substituir por um sistema em que se procurava maximizar as semelhanças morfológica, distinguindo os géneros pelo seu grau de analogia ou de diferenciação.
Tanto Andrea Caesalpino como John Ray usaram os nomes tradicionais das plantas, pelo que as designações utilizadas não reflectiam a sua posição taxonómica. Por exemplo, ainda que a macieira e o pessegueiro pertencessem a diferentes genera do methodus de John Ray, aquelas espécies recebiam a designação de Malus e de Malus Persica, respectivamente.
O passo seguinte na estruturação da denominação binomial foi dado por Rivinus e por Pitton de Tournefort, que fizeram de género uma categoria distinta dentro da hierarquia taxonómica, e com essa inovação introduziram a prática de denominar as espécies de acordo com o género a que pertencem.
Augustus Quirinus Rivinus (1652–1723) introduziu a classificação das plantas com base na morfologia dos seus órgãos reprodutores, considerando que a morfologia das flores e das sementes tinha um particular significado biológico. Ao introduzir uma classificação baseada nesses caracteres, Rivinus criou o conceito de Ordem como forma de agrupamento de géneros similares, integrando e alargando o conceito de genera superior já postulado por John Ray e por Andrea Caesalpino.
Deve-se também a Rivinus a abolição da clássica divisão das plantas em ervas e árvores, já que ele insistia que o verdadeiro método de divisão se deveria basear na morfologia das flores, frutos e sementes, e não em aspectos anatómicos tão variáveis como a dimensão dos troncos e a sua lenhificação. Rivinus também popularizou o uso de chaves dicotómicas para definir géneros e ordens, criando a base do sistema de identificação ainda hoje utilizado.
O método utilizado por Rivinus assemelhava-se ao utilizado por Joseph Pitton de Tournefort: o nome de todas as espécies pertencentes ao mesmo género deveria começar pela mesma palavra, o nome genérico. Nos géneros contendo mais de uma espécie, a primeira espécie identificada recebia apenas o nome do género, enquanto as restantes recebiam uma frase diferenciadora, um modificador que ele apelidou de differentia specifica.
Joseph Pitton de Tournefort (1656–1708) introduziu um sistema ainda mais sofisticado de hierarquização, com classes, secções, géneros e espécies. Foi o primeiro a compor de forma consistente e uniforme nomes específicos contendo um nome genérico seguido de uma frase descritiva que definia a differentia specifica. Ao contrário de Rivinus, Tournefort usava as differentiae com todas as espécies pertencentes a géneros politípicos.
Linnaeus
Carolus Linnaeus (1707–1778) nasceu dois anos após a morte de John Ray. A sua principal obra, a Systema Naturae, teve 12 edições durante a sua vida (com a 1.ª edição em 1735). Nesta obra, a natureza é dividida em três reinos: mineral, vegetal e animal. Para sistematizar a natureza, em cada um dos reinos Linnaeus usou um sistema hierárquico de cinco categorias: classe, ordem, género, espécie e variedade.
Outra das suas principais contribuições foi o abandono dos longos nomes descritivos até então em uso para designar as classes e ordens. Também promoveu o fim dos nomes de géneros constituídos por duas palavras (por exemplo Bursa pastoris era um género). Esta simplificação marca uma ruptura com os métodos dos seus antecessores imediatos (Rivinus e Pitton de Tournefort), e foi acompanhada pelo estabelecimento de diagnoses rigorosas e detalhadas para cada um dos géneros (a que ele chamou characteres naturales). Também procedeu à integração das variedades nas respectivas espécies, evitando que a botânica tivesse que criar novos taxa para acomodar todas as variedades cultivadas que são constantemente criadas.
Contudo, apesar das suas múltiplas contribuições para a taxonomia e sistemática, Linnaeus é melhor conhecido pela introdução do método binomial, a técnica ainda em uso para formular o nome científico das espécies. Antes de Linnaeus estavam em uso nomes longos, compostos por um nome genérico e por uma frase descritiva da própria espécie (a differentia specifica). Esses nomes não eram fixos, já que cada autor parafraseava o descritivo, acentuando os caracteres que considerava mais relevantes.
Na sua obra Philosophia Botanica (1751), Linnaeus colocou grande ênfase na melhoria da composição dos nomes e na redução da sua extensão, abolindo as expressões retóricas desnecessárias que tradicionalmente se usavam na descrição das espécies e introduzindo novos termos descritivos cujo significado procurou fixar rigorosamente. Este esforço resultou numa definição de espécies com um rigor sem precedentes.
Em finais da década de 1740, Linnaeus começou a utilizar um sistema paralelo de construção do nome das espécies, que designou por nomina trivialia. Cada nomen triviale, o nome trivial, era um epíteto, de uma ou duas palavras, colocado à margem do texto frente ao nome científico clássico de carácter descritivo.
Na construção dos seus nomen triviale, as únicas regras que Linnaeus usou foram: (1) os nomes devem ser curtos; (2) os nomes devem ser únicos dentro de cada género; e (3) os nomes devem ser permanentes, mantendo-se mesmo quando o enquadramento taxonómico mude. Usando essas regras simples, Linnaeus aplicou de forma consistente nomina trivialia às espécies de plantas que incluiu na sua obra Species Plantarum (com 1.ª edição em 1753) e às espécies de animais incluídas na 10.ª edição de Systema Naturae, publicada em 1758. Essas duas obras, e os respectivos anos de edição, são hoje considerados o referencial base para a nomenclatura botânica e zoológica, respectivamente.
Ao utilizar de forma consistente os mesmos epítetos específicos, Linnaeus separou a nomenclatura da taxonomia, o que se viria a revelar um passo decisivo na consolidação do sistema de nomenclatura biológica, já que os nomes da espécies passaram a ser fixos, permitindo que os agrupamentos taxonómicos superiores se desenvolvessem independentemente. Apesar do uso paralelo dos nomina trivialia e dos nomes descritivos se ter mantido até finais do século XVIII, eles foram sendo progressivamente substituídos pela utilização de nomes curtos, combinando simplesmente o nome do género com o nome trivial da espécie.
No século XIX esta nova prática foi codificada nas primeiras regras e leis da nomenclatura biológica, acabando por se transformar naquilo que hoje é geralmente referido como a sistema de nomenclatura binomial, ou mais genericamente como a taxonomia lineana, a qual é ainda, com poucas alterações, o padrão universalmente aceite de atribuição de nomes aos seres vivos.
A estrutura actual da classificação biológica
Enquanto Carolus Linnaeus classificava as espécies de seres vivos tendo como objectivo principal facilitar a identificação e criar uma forma de arquivo nos herbários e nas colecções zoológicas que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos modernos sistemas taxonómicos aplicados à biologia procura-se antes de mais fazer reflectir o princípio Darwiniano de ancestralidade comum. Isto significa que se pretende agrupar as espécies por proximidade filogenética, isto é relacionar as espécies pela sua proximidade genética, a qual reflecte o grau de comunalidade de ancestrais. Biólogos, em 2016, identificaram a assinatura molecular do reino animal, fornecendo evidências genéticas para a classificação animal de sistema de Karl von Linnée, que tem sido utilizada por quase 300 anos. A pesquisa serve biólogos do desenvolvimento, biólogos evolutivos, biólogos computacionais e pesquisadores.
Desde a década de 1960 que se vem fortalecendo a tendência para utilizar estruturas taxonómicas baseadas nos conceitos da cladística, hoje designadas por taxonomia cladística, distribuindo os taxa numa árvore evolucionária. Se um taxon inclui todos os descendentes de uma forma ancestral, é designado um taxon monofilético. Quando o inverso acontece, o taxon é designado parafilético. Os taxa que incluem diversas formas ancestrais são designados por polifiléticos. Idealmente todos os taxa deveriam ser monofiléticos, pois assim reflectiriam a ancestralidade comum das espécies que integrem.
Um novo tipo de nomenclatura, baptizado como PhyloCode, está em desenvolvimento, tendo como objectivo criar uma estrutura de clades em vez de uma estrutura de taxa. Em caso de implementação generalizada não é clara a forma de coexistência entre esse sistema e o actual.
O conceito de domínio como taxon de topo é de introdução recente. O chamado Sistema dos Três Domínios foi introduzido em 1990, mas apenas recentemente ganhou aceitação generalizada. Apesar de hoje a maioria dos biólogos aceitar a sua validade, a utilização do sistema dos cinco reinos ainda domina. Uma das principais características do sistema dominial é a separação dos reinos Archaea e Bacteria, ambos anteriormente parte do reino Monera. Alguns cientistas, mesmo sem aceitar os domínios, admitem Archaea como um sexto reino.
Hierarquia da classificação
O quadro seguinte apresenta a classificação científica de cinco espécies pertencentes a estruturas taxonómicas diversas: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), o ser humano, a ervilha, o cogumelo amanita e a bactéria Escherichia coli. Com ele pretende-se demonstrar a flexibilidade e a universalidade do sistema, incluindo numa mesma estrutura organismos tão diversos como os seleccionados.
Os taxa mais elevados, em especial os intermédios, têm sofrido ultimamente profundas e frequentes alterações, resultado da descoberta de novas relações entre os grupos e as espécies. Por exemplo, a tradicional classificação dos primatas (classe Mammalia — subclasse Theria — infraclasse Eutheria — ordem Primatas) está posta em causa por novas classificações, como, por exemplo, a de McKenna e Bell (classe Mammalia — subclasse Theriformes — infraclasse Holotheria — ordem Primatas). Estas alterações resultam essencialmente da existência de um pequeno número de taxa em cada nível, sendo neles necessário acomodar um registo fóssil muito ramificado.
A tendência para privilegiar a constituição de grupos monofiléticos em detrimento dos parafiléticos levará, seguramente, a sucessivas alterações da estrutura classificativa, com especial foco nas classes e ordens. A progressiva introdução de conceitos cladísticos também terá um impacte profundo e conduzirá à reformulação de muitos dos actuais agrupamentos.
Sufixos dos taxa
Taxa acima do nível do género recebem em geral nomes derivados do género mais representativo neles incluído ou daquele que, por razões históricas ou outras, é mais conhecido. Os sufixos utilizados na construção desses nomes dependem do Reino e, por vezes, do Filo e Classe, seguindo um padrão preestabelecido. O quadro seguinte apresenta as regras de construção de sufixos mais comummente aceites.
Note-se que em botânica e micologia, os nomes dos taxa de família para baixo são baseados no nome de um género, por vezes referido como o género-tipo, ao qual é acrescentado um sufixo padronizado. Por exemplo, o género Rosa é o género-tipo a partir do qual a família Rosacea recebe o seu nome (Rosa + -aceae). Os nomes dos taxa acima de família podem ser formados a partir do nome da família, com o sufixo adequado, ou ser descritivos de uma ou mais características marcantes do grupo.
No caso dos animais, apenas existem sufixos padronizados até ao nível da superfamília (ICZN, artigo 27.2).
A formação de um nome com base na designação de um género não é tão simples quanto possa parecer, já que a língua latina tem declinações irregulares. Por exemplo, os nomes baseados em homo têm como base o genitivo da palavra, ou seja hominis, pelo que humanos pertencem aos Hominidae (hominídeos) e não aos Homidae (que, obviamente, nem existem).
Classificação infra-específica
Embora a espécie seja considerado o nível de classificação mais baixo, existe por vezes necessidade de recorrer a classificações infra-específicas para acomodar a biodiversidade reconhecida ou para descrever certos traços fenotípicos, nomeadamente os de interesse económico entre as espécies domesticadas.
Os animais podem ser classificados em subespécies (por exemplo Homo sapiens sapiens, para os humanos modernos), ou morfos ou formas (como por exemplo Corvus corax varius morpha leucophaeus, uma forma característica de corvo).
As plantas podem ser classificadas em subespécies (por exemplo Pisum sativum subsp. sativum, a ervilha-de-cheiro), ou variedades (por exemplo, Pisum sativum var. macrocarpon, uma variedade de ervilha). As plantas cultivadas podem ser identificadas por cultivares, cada um deles correspondente a um determinado fenótipo (por exemplo, Pisum sativum var. macrocarpon 'Snowbird', o cultivar Snowbird de ervilha).
As bactérias podem ser classificadas por estirpe (por exemplo Escherichia coli O157:H7, uma estirpe de E. coli que pode causar intoxicação alimentar).
Citações de autor
O nome de qualquer taxon pode ser seguido pela explicitação da "autoridade" que o criou, ou seja pelo nome do autor que primeiro publicou uma descrição válida da entidade taxonómica. Estes nomes de autor são em geral abreviados, seguindo um padrão de abreviatura fixado por critérios de tradição ou de história. Em Botânica, onde existe uma lista de abreviaturas do nome de botânicos e micologistas padronizada, por exemplo, Carolus Linnaeus é sempre abreviado para "L." e Gregor Mendel para Mendel.
Apesar do sistema de atribuição de autoria dos taxa ser ligeiramente diferente em botânica e em zoologia (veja Citação de autor (botânica) e Citação de autor (zoologia)), é padrão aceite que se o nome de um taxon for alterado, a abreviatura ou nome do autor original é sempre mantido, sendo então colocado entre parêntesis. O nome do autor da versão em vigor é colocado a seguir ao parêntesis (geralmente só em botânica).
Ver também
Nomenclatura binomial
Nomenclatura trinomial
Taxonomia
Código Internacional de Nomenclatura de algas, fungos e plantas
Código Internacional de Nomenclatura Zoológica
Código Internacional de Nomenclatura de Procariotos
Código Internacional de Nomenclatura de Plantas Cultivadas
Complexo de espécies crípticas
Sistemática
Árvore filogenética
Classificação dos vírus
Bibliografia
Atran, S. Cognitive foundations of natural history: towards an anthropology of science. Cambridge: Cambridge Univ. Press. 1990. xii+360 p. (ISBN 0-521-37293-3).
Larson, J. L. Reason and experience. The representation of Natural Order in the work of Carl von Linne. Berkeley: Univ. of California Press. 1971. VII+171 p.
Stafleau, F. A. Linnaeus and the Linnaeans. The spreading of their ideas in systematic botany, 1753-1789. Utrecht: Oosthoek. 1971. xvi+386 p.
Ligações externas
Phylocode - um sistema cladístico de classificação
Classificação de todas as coisas vivas
Wikiquote: Mnemónicas da Biologia
The Tree of Life Web
Código Internacional de Nomenclatura Zoológica (versão: 4.ª edição, 2000)
Wikispecies: um directório da vida
Classificação de todas as coisas vivas
Nomina Circumscribentia Insectorum.
Taxonomia | 85,912 |
645 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade%20do%20M%C3%A9xico | Cidade do México | Cidade do México (, ), anteriormente Distrito Federal (até 29 de janeiro de 2016), é a capital do México e sede dos poderes federais dos Estados Unidos Mexicanos, constituindo uma de suas 32 entidades federativas, bem como figurando como a maior e mais importante entidade urbana do país.
A Cidade do México, com habitantes (2020), é a cidade mais populosa do México e da América do Norte. Ocupa uma décima parte do Vale do México no centro-sul do país, em um território que se formou da bacia hidrográfica do lago de Texcoco. Em seu crescimento demográfico nos últimos dois séculos, a Cidade do México foi incorporando vários povoados vizinhos. A sua referida região metropolitana, nomeada oficialmente como "Zona Metropolitana do Vale do México", reúne mais de 40 municípios além da capital e abriga mais de 20 milhões de habitantes (dados de 2010), ou cerca de 1/5 da população mexicana, o que faz dela, independente de como se define, a segunda maior aglomeração urbana do continente americano, e a sétima mais populosa do mundo.
A Cidade do México que hoje corresponde à capital mexicana foi fundada por volta do e era a capital do Império Asteca, quando se chamava Tenochtitlán, que acabou por ser completamente destruída pelos colonos espanhóis em 1524, tendo sido reconstruída nas décadas seguintes seguindo os padrões de colonização de exploração implementados pelo Império Espanhol. Ainda no , a entidade, já quase totalmente reconstruída, recebeu o nome de México. Durante os dois séculos seguintes, se estabeleceu como um importante núcleo político-administrativo do Império Espanhol, servindo como principal centro financeiro e urbano das colônias da Espanha na América já no , figurando como a maior aglomeração urbana da colônia mexicana (atual república mexicana) desde então. Depois de concretizada a independência mexicana em relação à Espanha por volta de 1822, foi adotada como capital da República Mexicana, tendo sido dado o nome de Distrito Federal em 1824. Em 2016, a entidade passa a se chamar oficialmente Cidade do México.
A Cidade do México é o principal e mais desenvolvido centro urbano, econômico, cultural e político do país, além de ser uma das maiores metrópoles do mundo — tendo sido considerada por organizações internacionais uma "cidade global alfa". Apenas a Cidade do México responde por 21% do PIB total do país e sua área metropolitana, por mais de 34%. Em 2013, a área metropolitana da Cidade do México ocupava o 8º lugar das localidades mais ricas do mundo ao possuir um PIB de 390 bilhões de dólares, que, segundo projeções, deveria se duplicar até 2020.
História
Período asteca
A cidade de México Tenochtitlán foi fundada pelo povo asteca em 1325. A antiga capital asteca, agora chamada simplesmente de Tenochtitlan, foi construída em uma ilha no centro do Lago de Texcoco, no Vale do México, região que partilhava com uma cidade-Estado menor chamada de Tlatelolco. Segundo a lenda, o principal deus responsável pelos mexicas, Huitzilopochtli, indicou o local onde eles deveriam construir a sua casa. O deus apresentou uma águia empoleirada em um cacto nopal com uma serpente em seu bico como um símbolo de onde a civilização asteca deveria construir a sua cidade.
Entre 1325 e 1521, Tenochtitlan cresceu em tamanho e força, acabou dominando as outras cidades-Estados em torno do lago Texcoco e no Vale do México. Quando os espanhóis chegaram, o Império Asteca tinha conquistado grande parte da Mesoamérica, desde o Golfo do México até o Oceano Pacífico.
Conquista espanhola
Após o desembarque em Veracruz, o explorador espanhol Hernán Cortés avançou sobre Tenochtitlan com a ajuda de outros povos nativos, chegando à capital asteca em 8 de novembro de 1519. Cortés e seus homens marcharam ao longo da calçada que conduzia à cidade de Iztapalapa e o governante da cidade, Moctezuma II, cumprimentou os espanhóis; eles trocaram presentes, mas a camaradagem não durou muito tempo. Cortés colocou Moctezuma sob prisão domiciliar, na esperança de governar através da autoridade dele.
As tensões aumentaram, até que na noite de 30 de junho de 1520 - durante uma luta conhecida como "La Noche Triste" - os astecas levantaram-se contra a invasão espanhola e conseguiram capturar e expulsar os europeus e seus aliados tlaxcaltecas. Cortés reagrupou-se suas forças em Tlaxcala. Os astecas pensaram que os espanhóis tinham ido embora permanentemente e elegeram um novo rei, Cuitláhuac, mas ele morreu logo; o próximo rei foi Cuauhtémoc.
Cortés começou um Cerco de Tenochtitlan em maio de 1521. Durante três meses, a cidade sofreu com a falta de comida e água, bem como a propagação da varíola trazida pelos europeus. Cortés e seus aliados desembarcaram suas forças na parte sul da ilha e lentamente abriram caminho através da cidade. Cuauhtémoc rendeu-se em agosto de 1521. Os espanhóis praticamente arrasaram a cidade de Tenochtitlán durante o cerco final da conquista.
Cortés primeiro se estabeleceu-se em Coyoacán, mas decidiu reconstruir a cidade asteca para apagar todos os vestígios da velha ordem. Ele não estabeleceu um território sob o seu próprio domínio pessoal, mas permaneceu leal à coroa espanhola. O primeiro vice-rei espanhol chegou na Cidade do México quatorze anos mais tarde. Nessa época, a cidade tinha se tornado novamente uma importante cidade-Estado, tendo um poder que se estendia muito além de suas fronteiras.
Embora os espanhóis tenham preservado o formato básico das ruas de Tenochtitlán, eles construíram igrejas católicas sobre os antigos templos astecas e reivindicaram os palácios imperiais para si. Tenochtitlán foi rebatizada de "México" porque era uma palavra mais fácil de pronunciar em espanhol.
Período colonial
A cidade foi a capital do Império Asteca e na era colonial, a Cidade do México tornou-se a capital do Vice-Reino da Nova Espanha. O vice-rei vivia no palácio vice-real na praça Zócalo. A Catedral Metropolitana da Cidade do México, a sede do arcebispado da Nova Espanha, foi construída em outro parte do Zócalo, sobre as ruínas do antigo Templo Mayor.
As cidades espanholas coloniais eram construídas em um padrão de quadras, ao menos se nenhum obstáculo geográfico impedisse. Na Cidade do México, o Zócalo (a praça principal) era o lugar central a partir do qual os quarteirões da cidade foram construídos. Os espanhóis viviam na área mais próxima à praça principal no que era conhecido como traza, em ruas tranquilas e bem ordenadas. As residências dos povos nativos foram colocadas fora dessa zona exclusiva e as casas eram remotamente localizadas.
O Império Espanhol procurou manter os índios separados dos espanhóis, mas como o Zócalo era um centro comercial importante para os índios, eles eram uma presença constante na área central da cidade, o que fazia com que a rigorosa segregação étnica não fosse cumprida. O Zócalo também era o palco de grandes celebrações, bem como de execuções. A praça também foi o local de duas grandes rebeliões no , uma em 1624 e outra em 1692.
A cidade cresceu, assim como a sua população, o que deixou cada vez menos espaço para as águas do lago. Como a profundidade da água do lago oscilava, a Cidade do México estava sujeita a inundações periódicas. Um grande projeto de infraestrutura fez com que milhares de índios fossem postos em regime de trabalho forçado para evitar novas inundações. As enchentes não só eram um inconveniente, mas também um perigo para a saúde, uma vez que durante os períodos de cheias os dejetos humanos poluíam as ruas da cidade. Com a drenagem da área, a população de mosquitos caiu, assim como a frequência de doenças. No entanto, a drenagem dos pântanos também mudou o habitat para peixes e aves e as áreas de acesso para os cultivos de índios perto da capital.
No , houve uma proliferação de igrejas, muitas das quais ainda podem ser vistas no centro histórico da capital mexicana. Economicamente, a Cidade do México prosperou como resultado do comércio. Ao contrário do Brasil ou do Peru, o México tinha contato fácil com os oceanos Atlântico e Pacífico. Embora a coroa espanhola tenha tentado regulamentar completamente todo o comércio na cidade, a empreitada teve sucesso apenas parcial.
O conceito de nobreza floresceu em Nova Espanha de uma forma não vista em outras partes da América. Os espanhóis encontraram uma sociedade na qual o conceito de nobreza parecido com o europeu, o que fez com que os conquistadores respeitassem e ampliassem a ordem de nobreza indígena. Nos séculos que se seguiram, um título nobre no México não significava grande poder político. O conceito de nobreza no México não era político, mas sim social e conservador, com base no merecimento da família. A maioria dessas famílias provaram o seu valor, fazendo fortunas na Nova Espanha fora da própria cidade e, em seguida, investindo suas receitas na capital, com a construção de novas igrejas, instituições de caridade e casas apalaçadas extravagantes. A mania de construir a residência mais opulenta possível atingiu seu auge na última metade do . Muitos destes palácios ainda pode ser encontrado, o que fez com que Alexander von Humboldt desse a alcunha de "cidade de palácios" à capital mexicana.
Independência e Guerra Mexicano-Americana
A ocupação espanhola durou três séculos, até que Miguel Hidalgo, um padre da povoação de Dolores, proclamou o famoso "grito de Dolores", iniciando a Guerra da Independência do México, que foi conquistada três anos depois. Após a proclamação da independência, em 27 de setembro de 1821, os conflitos que se travaram até final do dificultaram o desenvolvimento da cidade. Nos princípios do referido século, a cidade expandiu-se e nasceram as primeiras "colônias" residenciais, mas após a revolução o seu crescimento populacional aumentou.
A Batalha da Cidade do México, parte da Guerra Mexicano-Americana, refere-se à série de enfrentamentos ocorridos entre 8 e 15 de setembro de 1847, na vizinhança da cidade. Incluem-se as principais ações nas batalhas de Molino del Rey e Chapultepec, culminando com a queda da Cidade do México. O Exército dos Estados Unidos, sob o comando de Winfield Scott, teve um grande sucesso que terminou com a guerra. A invasão estadunidense do Distrito Federal foi rejeitada pela primeira vez durante a Batalha de Churubusco, em 8 de agosto, quando o batalhão de São Patrício, que era composto principalmente de irlandeses católicos e imigrantes alemães, mas também por canadenses, ingleses, franceses, italianos, poloneses, escoceses, espanhóis, suíços e mexicanos, lutou pela causa mexicana ao repelir os ataques estadunidense. Depois de derrotar o Batalhão de São Patrício, a Guerra Mexicano-Americana chegou ao fim depois dos Estados Unidos implantar unidades de combate no México, o que resultou na captura da Cidade do México e de Veracruz pela 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Divisões do Exército dos EUA. A invasão culminou com a tomada de Castelo de Chapultepec, na própria cidade.
Durante esta batalha, em 13 de setembro, a 4ª Divisão, sob o comando de John A. Quitman, liderou o ataque contra Chapultepec e tomou o castelo. Os futuros generais confederados George E. Pickett e James Longstreet participaram do ataque. Servir na defesa mexicana foram os cadetes mais tarde imortalizada como Los Niños Héroes (os "Meninos Heróis"). As forças mexicanas foram para trás de Chapultepec e retiraram-se de dentro da cidade. Os ataques aos portões de Belén e San Cosme vieram depois. O Tratado de Guadalupe Hidalgo foi assinado no que é hoje o extremo norte da cidade.
Revolução Mexicana e período contemporâneo
Conflitos como a Guerra Mexicano-Americana, a Intervenção Francesa e a Guerra da Reforma deixaram a cidade relativamente intocada, especialmente durante o governo do presidente Porfirio Díaz. Durante este período, a capital mexicana desenvolveu uma moderna infraestrutura, como estradas, escolas, além de sistemas de comunicação e transporte. No entanto, o regime concentrou recursos na cidade, enquanto o resto do país definhava na pobreza.
O rápido desenvolvimento levou à Revolução Mexicana. O episódio mais significativo deste período para a cidade foi a La decena trágica ("Os Dez Dias Trágicos"), em 1913, um golpe de Estado contra o presidente Francisco I. Madero e seu vice, José María Pino Suárez. Victoriano Huerta, general chefe do Exército Federal, viu uma chance de tomar o poder, forçando Madero e Pino Suárez a assinar suas renúncias. Os dois foram assassinados mais tarde, enquanto eram levados para a prisão.
As forças zapatistas, que estavam baseadas no estado vizinho de Morelos, tinham pontos fortes no extremo sul do Distrito Federal, que incluía Xochimilco, Tlalpan, Tláhuac e Milpa Alta para lutar contra os regimes de Victoriano Huerta e Venustiano Carranza. Após o assassinato de Carranza e um curto mandato de Adolfo de la Huerta, Álvaro Obregón tomou o poder. Depois disposto a ser reeleito, ele foi morto por José de León Toral, um católico devoto, em um restaurante perto do parque La Bombilla, em San Ángel, em 1928. Plutarco Elías Calles substituiu Obregón e culminou na Revolução Mexicana.
A partir do início do , desenvolveram-se novos planos urbanísticos e a cidade cresceu ainda mais. Em 19 de setembro de 1985, no entanto, a cidade foi arrasada por um forte terremoto de magnitude 8,1 na escala de Richter. Embora este sismo não tenha sido tão mortal ou destrutivo quanto muitos eventos semelhantes em outras partes da Ásia e da América Latina, ele provou ser um desastre político para o governo unipartidário que comandava o México há anos. O governo foi paralisado por sua própria burocracia e corrupção, forçando os cidadãos comuns a criar e dirigir seus próprios esforços de resgate para reconstruir grande parte das construções destruídas.
Geografia
A Cidade do México está localizada no Vale do México, às vezes chamada de Bacia do México. Este vale está localizado no Eixo Neovulcânico, nos planaltos do centro-sul do México. Tem uma altitude mínima de metros acima do nível do mar e é cercada por montanhas e vulcões que atingem altitudes de mais de metros. Este vale não tem drenagem natural para as águas que fluem das montanhas, o que torna a cidade vulnerável a inundações. A drenagem foi manipulada através da utilização de canais e túneis a partir do .
A Cidade do México repousa principalmente sobre o que era o lago Texcoco. A atividade sísmica é frequente na região. O Texcoco foi drenado a partir do . Embora o lago tenha desaparecido, a cidade repousa sobre seu saibro fortemente saturado. Esta base macia está em colapso devido ao excesso de extração de águas subterrâneas. Desde o início do , a cidade afundou cerca de nove metros em algumas áreas, o que causa problemas com o escoamento e a gestão de águas residuais, levando a problemas de inundação, especialmente durante a estação chuvosa. Todo o leito do lago está agora pavimentado e a maioria das áreas florestais restantes da cidade encontram-se nos bairros de Milpa Alta, Tlalpan e Xochimilco, na região sul.
Clima
O clima da Cidade do México é considerado oceânico (Cwb de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger). A temperatura média anual é de 17 °C. O verão é morno, com precipitação, e o inverno é fresco, com pouca precipitação. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 6 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 26 °C e raramente são inferiores a 1 °C ou superiores a 30 °C.
A região do Vale do México recebe sistemas anticiclónicos. Os ventos fracos destes sistemas não permitem a dispersão, fora da bacia, dos poluentes atmosféricos que são produzidos pelas 50 mil indústrias e 4 milhões de veículos que circulam em torno da área metropolitana.
A estação chuvosa vai de junho a outubro, quando ventos trazem umidade tropical do mar. A estação seca vai de novembro a maio, quando o ar é relativamente seco. Esta estação seca subdivide-se em um período de frio e um período quente. O período de frio ocorre de novembro a fevereiro, quando as massas de ar polares vêm partir do norte e mantém o ar bastante seco. O período quente se estende de março a maio, quando os ventos tropicais voltam a dominar, mas ainda não carregam umidade suficiente para a chuva.
A região recebe cerca de 610 milímetros de precipitação anual, que concentram-se de junho a setembro, com pouca ou nenhuma precipitação no restante do ano. O vale central do México raramente recebe precipitação na forma de neve durante o inverno; os dois últimos casos registrados de um evento como esse foram em 5 de março de 1940 e 12 de janeiro de 1967.
A temperatura mais baixa já registrada foi de -7,4 °C e a temperatura mais alta foi de 33,9 °C.
Problemas ambientais
Na década de 1990, a Cidade do México tornou-se famosa como uma das cidades mais poluídas do mundo; no entanto, a cidade tornou-se um modelo por reduzir drasticamente os níveis de poluição. Em 2014 a poluição por monóxido de carbono caiu drasticamente, enquanto os níveis de dióxido de enxofre e dióxido de azoto foram quase três vezes menores do que os registrados em 1992. Apesar dos esforços de limpeza, a região metropolitana ainda é a parte mais poluída por ozônio do país, com os níveis de ozônio até 2,5 vezes superiores aos limites de segurança definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para acabar com a poluição, os governos federal e locais implementaram vários planos, como o acompanhamento constante e relatórios de condições ambientais, como de ozônio e óxido de nitrogênio. Quando os níveis destes dois poluentes atingem patamares críticos, ações de contingência são implementadas, como fechamento de fábricas, mudança do horário escolar e prorrogação do programa um dia sem carro para dois dias da semana.
O governo também instituiu melhorias tecnológicas industriais, uma inspeção bianual rigorosa de emissões dos veículos e a reformulação de combustíveis como gasolina e diesel. A introdução do ônibus de trânsito rápido Metrobus e o programa de compartilhamento de bicicletas Ecobici também estão entre os esforços para incentivar formas de transportes alternativas e mais ecológicas.
Demografia
Composição étnica
A maior parte dos habitantes da cidade é de mestiços (pessoas com ascendência mista de europeus e indígenas) e crioulos (descendentes de Europeus). Apesar de que em números relativos à população indígena não representa mais do um por cento do total da população da capital, a Cidade do México é o âmbito de população ameríndia mais amplo de México e da América com mais de indígenas de quase todas as etnias do país.
O maior dos grupos étnicos que habitam na Cidade do México é o dos nahuas. Outros grupos indígenas que habitam na Cidade do México não são nativos da região. As comunidades indígenas migrantes mais amplas da Cidade do México são os mixtecos, otomíé, zapotecas e mazahuas, ainda que encontram-se também os tlahuicas, purepechas e grupos de origem maia. As delegações com o maior número de indígenas são: Milpa Alta, Xochimilco, Tláhuac, Iztapalapa e Cuauhtémoc.
Costuma ocorrer que as gerações de indígenas nascidos na Cidade do México se assimilem à cultura cosmopolita dominante, ainda que nas duas últimas décadas se observem movimentos reivindicativos das culturas indígenas da capital. A maior parte dos indígenas que vivem na Cidade do México abandonou o uso de sua língua vernácula, que reserva só para certos âmbitos da vida doméstica. tanto que a produção papeleira florescia em Peña Pobre e Loreto.
A indústria capitalista se transformou até o início do , quando se promoveu um modelo de substituição de importações. Entre as décadas de 1950 e 1980, o Distrito Federal chegou a produzir 36% do PIB nominal nacional. Depois o Distrito Federal perdeu importância no PIB nacional, alcançando apenas 25% do total no começo do .
Igualmente, o Distrito Federal dava emprego a 45% dos trabalhadores da indústria manufaturada no México em 1980, mas, uma década mais tarde, a proporção havia caído para 33%. Das quinhentas empresas mais importantes do país, em 1982, a Cidade do México abrigava 257 delas. Sete anos mais tarde só permaneciam na capital mexicana 145.
O retrocesso da atividade industrial no Distrito Federal implicou, por uma parte, no crescimento em termos relativos dos ingressos aportados pelo setor terciário (de serviços), e por outra parte, também se refletiu no crescimento da economia informal na cidade. Apesar de todos esses retrocessos, depois da crise mexicana das décadas de 1980 e 1990, o Distrito Federal foi uma das poucas entidades federativas cuja participação no PIB nacional melhorou. Passou de 21% em 1998 para 23% em 1996. Com isso, a renda per capita aumentou, devido em parte à contração demográfica resultante do terremoto de 1985.
Em 2004 produziu 20,52% do PIB nacional mexicano, que equivale a quase 133 milhões de dólares. O PIB per capita da cidade também é superior ao do México, estimado em US$ . Esse valor equivale a 2,5 vezes o PIB per capita mexicano e é similar a de países como Portugal, Estônia, Porto Rico e Barbados.
De acordo com um estudo realizado pela PricewaterhouseCoopers, a Cidade do México e sua área metropolitana ocupavam o oitavo lugar das cidades mais ricas do mundo ao ter um GPD de milhões de dólares que deve se duplicar, segundo o mesmo estudo, até 2020.
Infraestrutura
Transportes
A Cidade do México é servida pelo Sistema de Transporte Coletivo, um sistema de metrô de 225,9 km de extensão, o maior da América Latina. Os primeiros trechos foram inaugurados em 1969 e o sistema foi expandido para 12 linhas com 195 estações. O metro é um dos mais movimentados do mundo e transporta aproximadamente 4,5 milhões de pessoas todos os dias, superado apenas pelo metrô de Moscou (7,5 milhões), Tóquio (5,9 milhões) e Nova York (5,1 milhões).
A primeira linha de ônibus de trânsito rápido da cidade, a Metrobús, começou a operar em junho de 2005, ao longo da Avenida de los Insurgentes. A linha 2 foi inaugurada em dezembro de 2008, a linha 3 em fevereiro de 2011, e a linha 4, que liga o aeroporto com São Lázaro e da Estação de Buenavista em Insurgentes, em abriu de 2012. Como os micro-ônibus foram removidos do seu percurso, esperava-se que o Metrobús pudesse reduzir a poluição e diminuir o tempo de trânsito para os passageiros. Em junho de 2013, 367 ônibus Metrobús transportaram 850 mil passageiros por dia.
No final dos anos 1970 muitas estradas arteriais foram redesenhadas como as ejes viales, rodovias de grande capacidade que cruzam, em teoria, a Cidade do México de lado a lado. A rede é baseada em uma grade quase cartesiana. O sistema também conta as circulares, como são o Circuito Interior (anel interno), o Anillo Periférico; o Circuito Exterior Mexiquense, que contorna as bordas leste e nordeste da região metropolitana, o Chamapa-La Venta, que contorna a borda noroeste, e o Arco Norte, que transpassa a metrópole. Um segundo nível de circulares, coloquialmente chamado de "Segundo Piso", foi aberto oficialmente em 2012, com trechos ainda a ser concluídos.
A capital mexicana é servida pelo Aeroporto Internacional da Cidade do México (código aeroportuário IATA: MEX). Este aeroporto é de segundo mais movimentados do mundo, com voos diários domésticos e internacionais para Estados Unidos e Canadá, América Central e Caribe, América do Sul, Europa e Ásia. A Aeroméxico (Skyteam) tem seu hub neste aeroporto. Em 2014, o aeroporto transportou cerca de 34 milhões de passageiros, aproximadamente 2 milhões a mais que no ano anterior.
Durante seu discurso anual em 2 de Setembro de 2014, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, revelou planos para um novo aeroporto internacional para aliviar o notório congestionamento do tráfego aéreo da cidade, provisoriamente programados para ser inaugurado em 2018. O novo aeroporto, que teria seis pistas, vai custar 9,15 bilhões de dólares e seria construído sobre terrenos vagos do governo federal a leste do Aeroporto Internacional da Cidade do México. A meta é para, eventualmente, transportar 120 milhões de passageiros por ano, o que tornaria o aeroporto o mais movimentado do mundo.
O governo local se esforça continuamente pela redução dos enormes congestionamentos e aumentou os incentivos para tornar a cidade amigável aos ciclistas, como o segundo maior sistema partilha de bicicletas da América do Norte, o EcoBici, lançado em 2010, que registra os moradores que podem usar bicicletas por 45 minutos com uma assinatura pré-paga de 300 pesos por ano. Em setembro de 2013, havia 276 estações com 4 mil bicicletas em toda uma área que se estende desde o centro histórico de Polanco. As estações estão a menos de 300 metros uma da outra e são totalmente automáticas, utilizando um cartão. Os usuários dos serviços de bicicleta têm acesso a várias ciclovias, inclusive ao longo do Paseo de la Reforma e da Avenida Chapultepec, bem como um corredor 59 quilômetros de Polanco para Fierro del Toro, localizado ao sul do Parque Nacional Cumbres del Ajusco, perto do de Morelos.
Educação
A Cidade do México tem muitas escolas públicas e privadas, e é a cidade com o maior número de alunos. E, embora alguns estudos indiquem que o nível de ensino deixa muito a desejar (muito longe de atingir a excelência a nível mundial, especialmente quando se refere às escolas secundárias públicas), é o melhor de todos os Estados mexicanos. Conta com creches (Kinders), escolas primárias e secundárias, que são comandados pelo Ministério da Educação do país. A Cidade do México é a entidade da federação com o maior grau de alfabetização. Das mais de oito milhões de pessoas que vivem na Cidade do México e estão em idade de frequentar a escola ou ter concluído o ensino primário, 94,83% sabem ler e escrever. A média nacional é de 90,69%. No que diz respeito à escolaridade, a média é de cerca de onze anos de instrução. A Cidade do México concentra uma alta proporção de pessoas que tenham concluído ao menos um curso superior ou licenciatura.
Também se encontram vários centros de ensino superior, que embora sejam muitos não são suficientes, criando conflitos com os estudantes que foram reprovados pelo COMIPEMS, que é usado para escolher os estudantes que irão às escolas e colégios públicos através de um competitivo exame de admissão, mas a oferta de espaços para o nível superior é pequena em comparação a cada vez maior procura por instituições educativas, assim como muitos alunos não estudam na sua primeira ou segunda opção do COMIPEMS.
A Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), é a maior universidade no continente, com mais de 300 mil estudantes de todas as origens. Três prêmios Nobel, vários empresários e a maioria dos presidentes contemporâneos do México estão entre os seus ex-alunos. A UNAM realiza 50% da pesquisa científica nacional e tem presença em todo o país, com campi satélites, observatórios e centros de pesquisa. A UNAM foi classificada na 74.ª posição na classificação universitária publicada pela Times Higher Education (então chamado Times Higher Education Supplement) em 2006, sendo a instituição de ensino superior melhor classificada no mundo de língua espanhola. O principal campus da universidade, conhecida como Ciudad Universitaria, foi nomeado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2007.
A cidade tem escolas que pertencem às duas grandes universidades da cidade e do país, no caso da Universidad Nacional Autónoma de México se encontram a Escuela Nacional Preparatória e o Colegio de Ciências y Humanidades e, por outro lado, tem-se o Instituto Politécnico Nacional com o Centro de Estudios Científicos y Tecnológicos e o Centro de Estudios Tecnológicos. Em seguida temos as instituições que pertencem ao Ministério da Educação como o Colégio de Bacharéis, Centros de Estudios Tecnológicos, Industriales y de Servicios e o Colegio Nacional de Capacitación Profesional, bem como a recente criação da Instituto de Ensino Médio Superior da Cidade do México, que é administrado pelo governo local. Na Cidade do México estão os mais populares e importantes centros de ensino de nível superior, como Universidade Nacional Autônoma do México, Instituto Politécnico Nacional, Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey, Universidade Autónoma Metropolitana e El Colegio de México. A prestigiosa Universidade da Califórnia também mantém um campus conhecido como "Casa de California" na cidade.
Cultura
Arte
Como foi a capital de um vasto império pré-hispânico e também a capital do mais rico vice-reinado dentro do Império Espanhol (que dominava vastos territórios na América e nas Índias Ocidentais), e, finalmente, a capital do Estados Unidos Mexicanos, a Cidade do México tem uma história rica de expressão artística. Desde o período pré-clássico mesoamericano os habitantes dos assentamentos em torno do lago Texcoco produziram muitas obras de arte e artesanato complexos, alguns dos quais são hoje exibida no mundialmente famoso Museu Nacional de Antropologia e no museu do Templo Mayor.
Grande parte do início de arte colonial resultou de códices (livros ilustrados astecas), com o objetivo de recuperar e preservar alguma iconografia indígena asteca. A partir de então, as expressões artísticas no México eram em sua maioria religiosas. A Catedral Metropolitana ainda exibe obras de Juan de Rojas, Juan Correa e uma pintura a óleo cuja autoria foi atribuída a Murillo.
Durante o , um importante produtor de arte era a Academia de San Carlos, fundada durante a época colonial, e que mais tarde tornou-se a Escola Nacional de Artes Plásticas, incluindo pintura, escultura e design gráfico, uma das escolas de arte da UNAM. Muitos dos trabalhos produzidos pelos alunos e professores daquela época agora são exibidos no Museu Nacional de São Carlos. Um dos estudantes, José María Velasco Gómez, é considerado um dos maiores pintores de paisagens mexicanas do .
Após a Revolução Mexicana, um movimento artístico de vanguarda originado na Cidade do México: o muralismo. Muitas das obras de muralistas de José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros e Diego Rivera são exibidas em vários edifícios na cidade, mais notavelmente no Palácio Nacional e do Palacio de Bellas Artes. Frida Kahlo, a esposa de Rivera, com uma forte expressão nacionalista, foi também uma das mais renomadas pintoras mexicanas. Sua casa tornou-se um museu que exibe muitas das suas obras.
Museus
A Cidade do México tem vários museus dedicados à arte, incluindo arte colonial mexicana, arte moderna e arte contemporânea. A maioria dos mais de 150 museus da Cidade do México pode ser visitada de terça a domingo, dez horas - cinco horas, embora alguns deles estenderam os horários, como o Museu de Antropologia e História. Além disso, entrada para a maioria dos museus está livre aos domingos.
O Museu Tamayo foi inaugurado em meados dos anos 1980 para abrigar a coleção de arte contemporânea internacional doada pelo famoso pintor mexicano Rufino Tamayo. A coleção inclui obras de Picasso, Klee, Kandinsky, Warhol e muitos outros, embora a maior parte da coleção fique armazenada enquanto exposições são realizadas. O Museu de Arte Moderna é um repositório de artistas mexicanos do , incluindo Rivera, Orozco, Siqueiros, Kahlo, Gerzso, Carrington, Tamayo, entre outros, e também organiza regularmente exposições temporárias de arte moderna internacional. No sul da cidade, o Museu de Arte Carrillo Gil reúne um mostruário com artistas de vanguarda, assim como o Museu Universitário de Arte Contemporânea, projetado pelo famoso arquiteto mexicano Teodoro González de León e inaugurado no final de 2008.
O Museu Soumaya, o nome da esposa do magnata mexicano Carlos Slim, tem a maior coleção privada de esculturas originais de Rodin fora de Paris. Ele também tem uma grande coleção de esculturas de Salvador Dali, e recentemente começou a mostrar peças em sua coleção mestres, incluindo El Greco, Velázquez, Picasso e Canaletto. O museu inaugurou uma nova instalação de design futurista em 2011 ao norte de Polanco.
A Colección Jumex é um museu de arte contemporânea localizado no terreno da empresa de suco Jumex no subúrbio industrial do norte de Ecatepec e mantém a maior coleção provada de arte contemporânea na América Latina, bem como exposições itinerantes pelos principais artistas contemporâneos.
O Museu de San Ildefonso, alojado no Antigo Colégio de São Ildefonso, no distrito do centro histórico da Cidade do México, é um edifício do que hospeda regularmente exposições de arte mexicana e internacional, como de David LaChapelle e Ron Mueck. O Museu Nacional de Arte também está localizado em um antigo palácio no centro histórico. Ele abriga uma grande coleção de obras de todos os grandes artistas mexicanos dos últimos 400 anos e também abriga exposições regulares.
Esportes
Na Cidade do México se alojam algumas das instituições esportivas mais importantes do país. É a sede do Comitê Olímpico Mexicano, da Escola Nacional de Educação Física e da Escola Nacional de Treinadores Esportivos. Conta com várias unidades esportivas, dentre elas a maior é a de La Magdalena Mixiuhca, construída no local em que habitou o povo de mesmo nome (em Iztacalco). Justamente nesse espaço que se encontram instalações como o Autódromo Hermanos Rodríguez, o Foro Sol, o Palacio de los Deportes, o Velódromo Olímpico e a Sala de Armas. Em outras partes da cidade se encontram uma Piscina e Ginásio Olímpicos (Benito Juárez), a Pista Olímpica de Canotaje (Xochimilco), assim como três estádios de futebol: o Azteca, o Azul e o Olímpico Universitário.
A Cidade do México recebeu em 1968 os Jogos Olímpicos de Verão, nos quais a delegação esportiva nacional alcançou a melhor atuação de sua história, com nove medalhas no total; sendo até os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, além disso, a única cidade latino-americana a sediar os Jogos Olímpicos. Além do mais, foi a sede dos Jogos Pan-americanos em 1955 e 1975, dos Jogos Centroamericanos e do Caribe em 1926, 1954 e 1990; assim como da Universíada de 1979.
A cidade sediou partidas das Copas do Mundo de 1970 e 1986, incluindo os dois jogos da final, sendo junto com Roma e Rio de Janeiro a única a sediar duas finais. A Cidade do México é a cidade com mais partidas de Copas do Mundo de Futebol, no total, 24.
A Cidade do México é a sede de algumas equipes da primeira divisão da Liga mexicana de futebol: Club América, Cruz Azul, Club Universidad Nacional. O Estádio Azteca, sede do Club América e de sua filial, o Clube Socio Águila F.C, tem capacidade para até espectadores.
A Cidade do México também é sede da melhor equipe da história da Liga Mexicana de Beisebol: os Diablos Rojos del México, que já ganharam 14 títulos e jogam no Foro Sol da Cidade Esportiva.
A NASCAR organiza desde 2005 a competição anual Busch Séries races no Autódromo Hermanos Rodríguez, na cidade.
Ver também
Praça de Zócalo
História do México
Ligações externas | 277,624 |
646 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Claude%20Jade | Claude Jade | Claude Jade (Dijon, 8 de outubro de 1948 — Boulogne-Billancourt, 1 de dezembro de 2006) foi uma actriz francesa.
Biografia
Tornou-se conhecida principalmente devido à sua participação no ciclo de filmes de François Truffaut sobre Antoine Doinel: Beijos Roubados; Domicílio Conjugal e Amor em Fuga. Claude Jade estrelaria em um dos papéis principais, Christine Darbon. Christine agradou ao personagem, ao diretor e ao público, e a bela francesinha ia ganhando reconhecimento internacional. A actriz participou também no filme do inglês Alfred Hitchcock 'Topaz' (1969, interpretando o personagem de Michèle Picard, filha de um agente secreto e esposa de um periodista) e, nesse mesmo ano, contracenou com o cantor Jacques Brel em 'Mon Oncle Benjamin'.
Com uma carreira internacional - em inúmeras produções francesas além de outros filmes belgas, italianos, japoneses (in 'Kita No Misaki' de Kei Kumai Claude Jade interpretou 1975 uma freira missionária suíça que se apaixona por um engenheiro japonês a bordo de um navio que faz a viagem entre Marselha e Yokohama). O casamento permitiu à jovem morar na Rússia (URSS, na época) e ter algumas oportunidades de trabalhar lá, como em "Lênin v Parizhe" e "Teheran 43". A actriz manteve-se activa nas duas décadas seguintes, interpretando personagens nos palcos e em televisão. Entrou na série que, em Portugal, recebeu o título de "A ilha dos trinta caixões" (de 1979).
No mundo de língua portuguesa, seu papel ambivalente de Eleanore em O Barco sobre a Grama é bem conhecido. Quando esse filme foi apresentado no Brasil, ela conheceu seu futuro marido, Bernard Coste, no Rio de Janeiro. O filme foi exibido várias vezes em retrospectivas no Brasil, mais recentemente em 2011.
O seu contributo para a cultura francesa foi reconhecido em 1998, quando foi agraciada com o título de Cavaleiro da Legião de Honra e em 2000 recebeu o prémio New Wave Award, do Festival de Cinema de Palm Beach, por ter "marcado uma tendência no mundo cinematográfico".
O último trabalho de Claude Jade decorreu este Verão, numa peça de Jacques Rampal, intitulada 'Celimene e le Cardinal' (2006).
Filmografia
Baisers volés (Beijos Roubados, 1968)
Sous le signe de Monte Cristo (1968)
Topaz (Topázio, 1969)
Mon oncle Benjamin (1969)
Le témoin (1969)
Domicile conjugal (Domicílio Conjugal,1970)
Le bateau sur l'herbe (O Barco na Relva, 1971)
Les feux de la chandeleur (1972)
Home Sweet Home (1973)
Prêtres interdits (1973)
Le malin plaisir (1975)
Le choix (1976)
Una spirale di nebbia (1977)
Le pion (1978)
L'amour en fuite (Amor em Fuga, 1979)
A ilha dos trinta caixões (1979)
Teera 43 (1981)
Lenin v Parizhe (1981)
Lise et Laura (1982)
L'honneur d'un capitaine (1982)
Une petite fille dans les tournesols (1984)
L'homme qui n'était pas là (1987)
Tableau d'honneur (1992)
Bonsoir (1994)
Le radeau de la Méduse (1998)
Cap des pins (série 1998-2000)
Célimène e o Cardeal (2006)
Atores da França
Naturais de Dijon | 2,354 |
648 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%B3rdia | Concórdia | Concórdia é um município brasileiro do estado de Santa Catarina. O município tem uma extensão territorial de 799 km² e população estimada de habitantes, conforme dados do IBGE de 2019.
Foi eleita como a cidade com o melhor índice de desenvolvimento do Estado de Santa Catarina e a 6ª melhor do Brasil pelo IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal) em 2017.
Foi fundado por colonizadores provenientes do Rio Grande do Sul, principalmente descendentes de italianos e alemães que haviam emigrado para o Brasil no século XIX. Concórdia situa-se na região do Oeste Catarinense, sendo a segunda maior cidade desta região do estado, após Chapecó. Fica a aproximadamente 450 km da capital Florianópolis.
História
A colonização de Concórdia, como a do Meio Oeste e Oeste de Santa Catarina, passou a ser intensificada após a Guerra do Contestado, especialmente nos anos de 1920 e 1930. Nesta época os governos estadual e federal estimularam a venda de pequenas propriedades rurais aos colonos gaúchos. Até então, a região era habitada somente por caboclos.
Ao contrário do que algumas pessoas divulgam, a denominação "Concórdia" não se deve a nenhum acordo de paz para o fim da Guerra do Contestado, que aconteceu no início do século passado na região Meio Oeste de Santa Catarina. Isso pelo simples fato de que não houve qualquer acordo de paz, já que os caboclos foram dizimados pelo Exército Brasileiro e pelas forças policiais do Paraná e Santa Catarina. Ao que tudo indica, o nome Concórdia surgiu em função da necessidade de se estabelecer uma nova denominação para a vila, até então chamada de Queimados, em razão do riacho que corta seu centro. "Queimados" este sim seria um nome pouco charmoso para a cidade, enquanto Concórdia soa melhor e é mais simpático. O nome Concórdia pode estar associado sim ao espírito de pacificação que existia, sem, entretanto, que se fizesse qualquer coisa para a integração social dos caboclos que viviam na região.
Devido ao grande crescimento da cidade, diversas etnias podem ser encontradas em Concórdia, mas sua população mantém as características originais, sendo predominantemente descendente de italianos, alemães e por alguns poloneses.
Geografia
O município de Concórdia é banhado por vários rios da bacia hidrográfica do rio Uruguai. Além do próprio Uruguai, destacam-se o Jacutinga, Rancho Grande e o Queimados que passa pelo centro da cidade, além de inúmeros outros riachos que se destacam por suas belezas. Localizado na divisa com os municípios de Irani, Lindoia do Sul, Ipumirim, Arabutã e Itá, o rio Jacutinga recebe água de uma série de afluentes, com sérios riscos de contaminação com dejetos suínos. A preocupação é maior porque é dele que Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) capta cerca de 80% da água que é distribuída no município.
A construção da Usina Hidrelétrica de Itá fez com que o curso do rio Uruguai em toda a extensão que banha o município de Concórdia, na divisa com o Rio Grande do Sul, se transformasse numa grande represa. O mesmo ocorreu com a parte final dos cursos de seus afluentes (incluindo Rancho Grande, Queimados e Jacutinga e o Lajeado Fragosos). Este lago possui mais de 80 km de extensão, com uma profundidade de mais de 70 metros e uma largura média superior a 500 metros.
A bandeira do município é composta por três listras verticais vermelhas (as laterais) e verde (a central). No centro da bandeira há um losango branco, com o brasão do município.
Economia
A economia de Concórdia se concentra na agroindústria e na agropecuária, principalmente com a criação de suínos e aves e plantações de milho e soja em minifúndios, além de ter um comércio bem desenvolvido e que atende também os municípios vizinhos. A região de Concórdia é berço de algumas das maiores empresas frigoríficas do país. A Sadia S.A. surgiu e tem sua matriz em Concórdia. No início denominada Sociedade Anônima Concórdia, o nome Sadia surgiu da junção do "S" de Sociedade, "A" de Anônima e "DIA" de Concórdia. Em 2009, a Sadia foi incorporada pela Perdigão S.A., quando fundiram-se e passaram a ser uma única empresa, a Brasil Foods S.A., atual BRF.
Cultura
Aniversário e festas
O aniversário do município é comemorado em 29 de julho, tendo em vista a emancipação político-administrativa do município ter ocorrido nesta data, em 1934. As comemorações em geral envolvem uma grande exposição de animais, indústria e comércio, shows, e um festival gastronômico baseado em carne suína. Como parte da festa do município, são oferecidos à população um bolo e uma mortadela com o comprimento, em metros, igual a idade que a cidade comemora.
Outras grandes festas que acontecem no município, são: Festa Nacional do Leitão Assado (FENAL), que acontece em julho; Expo Concórdia, que acontece de dois em dois anos em novembro; Concórdia Kerb Fest, que é uma festa estilo alemã, com muita música e comida, realizado em novembro.
Festa do Vizinho
É realizada todos os anos, tendo iniciado em 1997 com algumas ruas. Hoje, mais de 500 ruas participam da festa, reunindo mais de 30 mil pessoas. Nesta festa, vizinhos se reúnem e confraternizam durante um almoço, geralmente churrasco, na própria rua, que é totalmente decorada. A festa inicia-se logo de manhã e vai até o anoitecer, e normalmente são realizadas gincanas, brincadeiras e jogos. Geralmente a festa é apoiada pelas emissoras de rádio da cidade, que transmitem informações a respeito da organização da festa e distribuem brindes.
Ensino superior
O ensino superior é outro segmento que cresceu muito nos últimos anos em Concórdia. Hoje são pelo menos 10 instituições que oferecem cursos superiores no município:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - IFC (antigo IFET e Escola Agrotécnica)
Universidade do Contestado - UnC
Faculdade Concórdia - FACC
Fundação Adolfo Bósio de Educação no Transporte - FABET - Faculdade de Tecnologia Pedro Rogério Garcia - FATTEP
SENAC
SENAI
TERRA Cursos e Faculdade UNINTER
UNOPAR - CEMAP I
Cidadãos ilustres
Leonardo Boff, teólogo brasileiro, um dos expoentes da Teologia da Libertação.
Attilio Francisco Xavier Fontana, empresário, senador da República e fundador da Sadia
Luiz Fernando Furlan, empresário, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-presidente da Sadia.
Darlan Romani, Atleta olímpico e medalhista pan-americano.
Ver também
Lista de municípios de Santa Catarina por data de criação
Lista de municípios de Santa Catarina por população
Ligações externas
Página da prefeitura
Página da câmara
Concórdia no WikiMapia
Fundações em Santa Catarina em 1934 | 81,214 |
650 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Camille%20Pissarro | Camille Pissarro | Jacob Abraham Camille Pissarro (Charlotte Amalie, ilha de São Tomás nas Índias Ocidentais Dinamarquesas, hoje Ilhas Virgens Americanas, 10 de julho de 1830 — Paris, 13 de novembro de 1903) foi um pintor francês, co-fundador do impressionismo, e o único que participou nas oito exposições do grupo (1874-1886).
Biografia
Infância e juventude
O seu pai, Abraham Frederic Gabriel Pissarro, era português criptojudeu de Bragança, que, no final do século XVIII, quando ainda pequeno, emigrara com a sua família para Bordéus, onde na altura existia uma comunidade significativa de judeus portugueses refugiados da Inquisição. A mãe dele era crioula e tinha o nome Rachel Manzano-Pomie.
Com 11 anos Camille Pissarro foi enviado a Paris para estudar num colégio interno. Voltou para a ilha São Tomás, a fim de tomar conta do negócio da família. Algum tempo depois, a sua paixão pela pintura fê-lo mudar de vida: fez em 1852 amizade com o pintor dinamarquês, Fritz Melbye e a oportunidade de concretizar seu sonho surgiu com um convite para acompanhar uma expedição do Fritz Melbye, enviado pelo governo das Antilhas Dinamarquesas, para estudar a fauna e a flora da Venezuela, onde passou dois anos.
Pissarro conquistou sua liberdade aos 23 anos. Em 1855, ele já estava em Paris com ajuda de Anton Melbye, tentando iniciar sua carreira. O jovem antilhano fascinou-se com as telas de Camille Corot e travou amizade com Paul Cézanne, Claude Monet, Charles-François Daubigny, entre outros pintores impressionistas. Com Monet passou a sair para pintar ao ar livre, em Pontoise e Louvenciennes. Em 1861 casou com Julie Vellay, com quem teve oito filhos.
Faleceu em 13 de novembro de 1903. Encontra-se sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, Paris na França.
Vida profissional
No decorrer da guerra franco-prussiana (1870-1871), na qual praticamente todos os seus quadros foram destruídos, residiu em Inglaterra. Quando voltou, começou a pintar na companhia de Cézanne. Com o objectivo de descobrir novas formas de expressão, Pissarro foi um dos primeiros impressionistas a recorrer à técnica da divisão das cores através da utilização de manchas de cor isoladas – o seu quadro "The Garden of Les Mathurins at Pontoise" (1876) é um exemplo.
Em 1877 pintou "Les toits rouges, coin du village, effet d'hiver". Durante os anos 1880 juntou-se a uma nova geração de impressionistas, os "neo-impressionistas", como Georges Seurat e Paul Signac, pintando em 1881 "Jeune fille à la baguette, paysanne assise" e experimentou com o pontilhismo.
A partir de 1885, militou nas correntes anarquistas, criticando severamente a sociedade burguesa francesa, deixando-nos "Turpitudes Sociales" (1889), um álbum de desenhos. Nos anos 1890 abandonou gradualmente o "neo-impressionismo", preferindo um estilo mais flexível que melhor lhe permitisse captar as sensações da natureza, ao mesmo tempo que explorou a alteração dos efeitos da luz, tentando também exprimir o dinamismo da cidade moderna, de que são exemplos os vários quadros que pintou com vistas de Paris ("Le Boulevard Montmartre, temps de pluie, après-midi", 1897), Dieppe, Le Havre e Ruão.
A obra de Pissarro se caracterizou por uma paleta de cores cálidas e pela firmeza com que consegue captar a atmosfera, por meio de um trabalho preciso da luz. Seu material predileto foi o óleo, mas também fez experiências com aquarelas e pastel. A estrutura dos quadros de Pissarro encontra total correspondência na obra de Cézanne, já que foi mútua a influência entre ambos. Como professor teve como alunos Paul Gauguin e seu filho Lucien Pissarro. Ao jovem Gauguin aconselhou a utilização das cores - esses conselhos surtiram efeito e Gauguin começa a utilizar a cor no seu estado puro.
Durante seus últimos anos, realizou várias viagens pela Europa, em busca de novos temas. Hoje é considerado um dos paisagistas mais importantes do século XIX. Os seus trabalhos mais conhecidos são "Le Verger", "Les châtaigniers à Osny" e "Place du Théâtre Français". Camille Pissarro morreu a 13 de novembro de 1903 em Paris.
Obras
Le marché aux poissons - Museu Faure de Aix-les-Bains, França. Roubado em Novembro de 1981
Boulevard Montmartre de noite (1897), National Portrait Gallery, Londres.
Galeria
Bibliografia
Rewald, John, ed., with the assistance of Lucien Pissarro: Camille Pissarro, Lettres à son fils Lucien, Editions Albin Michel, Paris 1950; previously published, translated to English: Camille Pissarro, Letters to his son Lucien, New York 1943 & London 1944; 3rd revised edition, Paul P Appel Publishers, 1972 ISBN 0-911858-22-9
Bailly-Herzberg, Janine, ed.: , 5 volumes, Presses Universitaires de France, Paris, 1980 & Editions du Valhermeil, Paris, 1986–1991 ISBN 2-13-036694-5 - ISBN 2-905684-05-4 - ISBN 2-905684-09-7 - ISBN 2-905684-17-8 - ISBN 2-905684-35-6
Thorold, Anne, ed.: The letters of Lucien to Camille Pissarro 1883–1903, Cambridge University Press, Cambridge, New York & Oakleigh, 1993 ISBN 0-521-39034-6
Ligações externas
Museum of Modern Art: Pioneering Modern Painting - Cézanne and Pissarro 1865–1885. Selected works from the exhibition, introduction by Joachim Pissarro
Camille Pissarro - Doyen des impressionnistes, l'humble et généreux, forma Guillaumin, Cézanne et Gauguin
WikiArt.org: Camille Pissarro
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651 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Conquista%20de%20Ceuta | Conquista de Ceuta | A Conquista de Ceuta, cidade islâmica no Norte de África, por tropas portuguesas sob o comando de João I de Portugal, deu-se a 21 de Agosto de 1415 e encerrou-se em 22 de Agosto de 1415.
O contexto
Ceuta é uma cidade costeira do norte de África localizada estrategicamente no Estreito de Gibraltar. Em 711, logo após a conquista árabe do Norte da África, a cidade foi usada como ponto de partida para a Invasão muçulmana da Península Ibérica. Porém, a cidade foi destruída em 740 e só reconstruída no séc. IX, passando para o Califado de Córdoba no séc. X. Nos séculos seguintes, foi governado pelos Almorávidas. Ceuta viveu então um período de instabilidade política, sob interesses concorrentes do Império Merínida e do Reino de Granada. Uma frota nacérida enviada por Abuçaíde Faraje, governador de Málaga, conquistou Ceuta aos Azáfidas, que a governavam, em Maio de 1306. Mais tarde, em 1309, a cidade foi tomada pelos merínidas com o apoio de uma frota aragonesa.
A cidade mantinha um rico comércio com o Levante, Egito, Líbia, abundante pesca de atum e também apanha de coral, que constituía a sua principal indústria de exportação, além de ser também um conhecido valhacouto de piratas berberes, onde estes vendiam as suas presas capturadas nas costas ibéricas.<ref name="Joaquim Pedro Oliveira Martins 1891, p.28">Joaquim Pedro Oliveira Martins: ' 'Os Filhos de D. João I, Imprensa Nacional, 1891, p. 28</ref> A posição de Ceuta em frente ao estreito de Gibraltar conferia-lhe o controlo de um dos principais mercados do comércio transafricano de ouro sudanês. A sua posse poderia eventualmente permitir a Portugal flanquear o seu rival mais perigoso, Castela.<ref name=Payne>Payne, Stanley G., A History of Spain and Portugal, Vol. 1, Chap. 10 "The Expansion"]</ref> Defendia a cidade um sistema de muralhas construídas por várias dinastias marroquinas ao longo dos séculos, mais recentemente os Merínidas, com um elevado número de portas que podiam revelar-se difíceis de defender. Incluíam as defesas da cidade uma forte cidadela construída pelos Merínidas.
As relações entre os Merinidas de Marrocos e os Nacéridas de Granada encontravam-se tensas desde que Abuçaíde Otomão III de Marrocos tentara capturar Gibraltar em 1411, ao passo que Yusuf de Granada, por sua vez, instigou uma revolta em Marrocos.
Depois de ter derrotado um exército Castelhano que invadiu Portugal em 1385 na Batalha de Aljubarrota, o rei D. João I assinou um tratado de paz com Castela, em 1411.
Ainda antes de assinar a paz com o este seu único vizinho, D. João I havia lançado olhos a Ceuta e iniciou os preparativos já em 1409. O principal promotor da expedição de Ceuta foi João Afonso, vedor da fazenda, equivalente a ministro das finanças. O príncipe-herdeiro D. Duarte, o infante D. Pedro e infante D. Henrique (mais tarde apelidado de 'Infante Navegador') apoiaram com entusiasmo o projecto, pois a perspectiva de tomar Ceuta oferecia-lhes a oportunidade de ganhar riqueza, fama e glória.
Preparativos
Os preparativos para a conquista de Ceuta, como a recolha de materiais e dinheiro, iniciaram-se com anos de antecedência e progrediram lentamente, embora o objectivo tenha sido sempre mantido em segredo. Não foram aumentados os impostos pois isto exigia uma reunião de Cortes e acarretava o risco de vazar o objectivo da expedição projectada. Tampouco se desvalorizou a moeda. Foram contraídos empréstimos, fretados navios estrangeiros, reparadas ou construídas até 30 galés pelo almirante de Portugal Carlos Pessanha, sendo todas as despesas vigiadas de perto.
O Infante D. Henrique, mais tarde apelidado de 'Infante Navegador', foi encarregue de organizar o recrutamento de tropas nas províncias da Beira e Trás-os-Montes e reuní-las na cidade do Porto. O irmão do Infante D. Henrique, Infante D. Pedro foi encarregue de alistar homens no sul, nas províncias da Extremadura, Alentejo e Algarve, com ponto de encontro em Lisboa. Ao príncipe-herdeiro D. Duarte coube a papelada e e assuntos judiciais, tendo cumprido as suas funções com afinco ao ponto de cair em depressão.
Falsa embaixada à Sicília
A fim de explorar previamente as defesas de Ceuta, o rei D. João nomeou o Prior do Crato Dom Álvaro Gonçalves Camelo como embaixador ao Reino da Sicília, para propor oficialmente a D. Branca de Navarra, herdeira daquele trono e regente, o seu casamento com o Infante D. Pedro. Levou consigo duas galés, comandadas pelo capitão-mor-do-mar Afonso Furtado de Mendoça e parou propositadamente em Ceuta para comprar mantimentos. Ali ficaram durante quatro dias, medindo a profundidade do porto. Tendo chegado à Sicília e recebido da parte de D. Branca uma resposta negativa, tal como o rei D. João antecipara, regressaram a Portugal, parando novamente em Ceuta pelo caminho.
Ao regressarem a Portugal, dirigiram-se ao Palácio de Sintra e, ali, D. Álvaro desenhou a D. João e os príncipes, em privado, um mapa de Ceuta e da geografia envolvente com areia e fio.
Divulgação do plano ao conselho real
Só depois de estar na posse destas informações precisas relativas a Ceuta é que D. João revelou à sua esposa Filipa de Lencastre as suas intenções de conquistar Ceuta. Mais tarde, por ocasião de uma caçada em Montemor-o-Novo, o rei divulgou então o projecto ao Condestável de Portugal, o célebre general D. Nuno Álvares Pereira, que o aprovou com entusiasmo.
Por fim, o rei divulgou o projecto aos mais altos membros da sua Corte, em Torres Novas, para onde convocou a rainha, os príncipes, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, o chanceler-real João das Regras, o arcebispo de Braga Dom Lourenço, grão-mestre da Ordem de Cristo Dom Lopo Dias de Sousa, o grão-mestre da Ordem de Santiago Dom Fernando Afonso de Albuquerque, o grão-mestre da Ordem de Avis Fernão Rodrigues de Sequeira, o prior dos Hospitalários Álvaro Gonçalves Camelo, o Marechal de Portugal Gonçalo Vasques Coutinho, o D. Martim Afonso de Mello, e o alferes real João Gomes da Silva.Oliveira Martins, 1891, pág. 34 Por ordem do Rei, o Condestável expressou primeiro o seu voto, que foi a favor da expedição, depois o conselho votou por unanimidade também a favor.
Falsa embaixada à Holanda
O segredo que envolvia os visíveis preparativos da expedição fez com que surgissem entre a sociedade portuguesa numerosas teorias quanto ao seu objectivo. Alguns especulavam que o rei pretendia levar a cabo uma cruzada ao Levante, outros, que pretendia conquistar o Reino da Sicília, outros ainda especulavam (correctamente) que se destinava a Ceuta. Por então, já se haviam espalhado notícias e rumores entre muitos reinos vizinhos e pelos seus governantes relativamente aos preparativos em Portugal para um ataque a um alvo secreto. Os residentes de Ibiza e da Sicília preparam-se para resistir a um possível ataque português, no qual incorreram em despesas consideráveis. Alguns franceses escreveram ao rei Fernando I de Aragão expressando as suas suspeitas de que os portugueses se preparavam para participar na Guerra dos Cem Anos ao lado dos ingleses, em França.
O rei João II de Castela, o rei Fernando I de Aragão e o emir de Granada Iúçufe III de Granada enviaram embaixadas à Corte portuguesa para indagar o propósito dos preparativos do monarca português; ao embaixador castelhano e ao aragonês assegurou-lhes o rei de que a armada não visava nenhum dos seus reinos, mas ao embaixador de Granada só foram dadas respostas evasivas.
De forma a ocultar o verdadeiro objectivo da expedição, o rei D. João I enviou Fernão Fogaça como embaixador ao Conde da Holanda Guilherme VI, com a missão oficial de exigir publicamente ao conde uma compensação por uma série de abusos que os holandeses supostamente haviam cometido no mar contra marinheiros portugueses. O embaixador português avisou de antemão o conde do propósito real desta embaixada falsa e pediu-lhe a sua cooperação, ao que o conde acedeu, portanto o conde recebeu o Fogaça numa audiência pública na qual deu uma resposta tão rude que esta poderia ser entendida como uma declaração de guerra a Portugal. Em consequência disto, espalhou-se o boato de que D. João fazia-se prestes para atacar a Holanda.
Reunião em Lisboa antes da partida
Na Primavera de 1415 eclodiu a peste em Lisboa, obrigando a Corte a refugiar-se em Sacavém. A 10 de Julho de 1415, O Infante D. Henrique fez escala em Lisboa com uma frota de 7 galés e 20 naus transportando um numeroso corpo de homens bem equipados. Contava-se entre eles Aires Gonçalves de Figueiredo, um fidalgo de 90 anos, ao comando de uma nau.
A frota portuguesa contava provavelmente com 59 galés, 33 naus ou cocas e 120 navios mais pequenos, transportando cerca de 50.000 homens, dos quais cerca de 20.000 eram combatentes. Incluía mercenários ou aventureiros ingleses, franceses e alemães. Um barão alemão comandava 50 homens da sua casa, ao passo que um inglês chamado Mondo comandava quatro navios.
Contavam-se entre as fileiras da expedição quase todas as personalidades mais importantes de Portugal da época, para além do rei, como o príncipe-herdeiro Duarte, o Infante D. Pedro, o infante D. Henrique, o conde de Barcelos Dom Afonso de Cascais, o condestável D. Nuno Álvares Pereira, o sobrinho deste Dom Álvaro Pereira, o Grão-Mestre da Ordem de Cristo Dom Lopo Dias de Sousa, o Prior dos Cavaleiros Hospitalários Dom Álvaro Gonçalves Camelo, o Almirante Carlos Pessanha, o Conde de Viana D. Duarte de Meneses, o general-do-mar Afonso Furtado de Mendonça, o Duque de Bragança D. Afonso I, o Marechal de Portugal Gonçalo Vascques Countinho e o alferes-real João Gomes da Silva, entre outros. Participaram na expedição todas as principais casas nobres de Portugal, com a notável excepção da família Lima.
Pouco antes da partida, a rainha D. Filipa adoeceu devido à peste. Chamou seus filhos ao lado de sua cama para que ela pudesse dar-lhes sua bênção. A rainha ofereceu aos seus três filhos mais velhos espadas incrustadas com jóias e deu a cada um uma porção da Ver Cruz, "ordenando-lhes que preservassem sua fé e cumprissem os deveres de sua posição".
Embora tenha antes hesitado em casar com D. Filipa, o rei afeiçoara-se muito à sua esposa e estava "tão triste com a doença mortal dela que não conseguia comer nem dormir". Nas horas finais, a rainha estava lúcida e sem dores. Segundo consta a lenda, despertou-a um vento que soprava forte contra a casa e ao saber que era o vento norte, afirmou que era bastante benéfico para a viagem do filho e do marido à África, que ela havia ajudado a coordenar. Antes de morrer, rezou com vários padres e, "sem qualquer trabalho ou sofrimento, entregou a sua alma às mãos Daquele que a criou, com um sorriso como se ela desdenhasse a vida deste mundo". A expedição fora quase cancelada, mas o rei decidiu levá-la adiante. Foi decretado um dia de luto, ao fim do qual o Infante D. Henrique ordenou que todos os participantes se vestissem com as suas melhores roupas, os navios fossem ricamente enfeitados e as trombetas tocassem festivamente.
O grão-mestre da Ordem de Avis foi encarregue de gerir Portugal na ausência do rei no dia 23 de julho e nesse dia D. João embarcou na galé real. Dois dias depois toda a frota levantou âncora e partiu de Lisboa, enquanto os cidadãos e habitantes locais observavam das colinas e praias circundantes.Oliveira Marques, 1891, p. 46
De Sacavém, o espião o espião aragonês Ruy Dias de Vega escreveu alguns dias depois ao rei de Aragão D. Fernando I de que havia rumores de que o objectivo da expedição seria Ceuta ou Gibraltar, com um relatório das tropas.
Itinerário da frota portuguesa
Da foz do Rio Tejo, a frota portuguesa navegou para sul ao longo da costa sudoeste de Portugal e contornou o Cabo de São Vicente a 26 de Julho, sábado, ancorando naquela noite em Lagos.
Lagos
O rei desembarcou em Lagos um dia depois da chegada, para assistir na Sé de Lagos à missa dominical, dada pelo capelão real o franciscano João de Xira, que na ocasião leu à família real e aos comandantes a Bula da Cruzada emitida pelo Papa a favor de todos os que participassem no ataque contra Ceuta.
Faro
A 30 de Julho a frota largou âncora em Faro e, como o vento soprava fraco, permaneceu naquela cidade até 7 de Agosto, altura em que retomaram a sua viagem. Ao fim da tarde os portugueses avistaram o Cabo Espartel e viraram para o mar alto, entrando nessa noite no Estreito de Gibraltar e ancoraram na vila castelhana de Tarifa. Muitos membros da expedição estavam ainda convencidos de que o objectivo final da frota era atacar a Sicília.
Tarifa
Governava a vila de Tarifa o português Martim Fernandes Porto-Carreiro, que ofereceu ao rei mantimentos e gado como refresco. Estando a frota bem abastecida, D. João recusou a oferta, mas o Porto-Carreiro mostrou-se tão ofendido com a recusa que mandou abater e abandonar os animais na praia. Como compensação pela ofensa, o rei e os príncipes reais ofereceram ricas joias e 1000 dobras ao Porto-Carreiro.
Algeciras
De partir Tarifa, a frota ancorou em seguida em Algeciras, pertencente ao Emirado de Granada, este por sua vez vassalo dos Merínidas de Marrocos. D. João ordenou o ataque a Ceuta a partir de Tarifa no dia 12 de Agosto, mas quando partiram, correntes fortes e ventos contrários empurraram as naus portuguesas para leste quase até Málaga, ao passo que os navios a remos seguiram para Ceuta e ancoraram no seu porto.
A conquista
Assim que as galés portuguesas deram entrada no porto, o governador merínida de Ceuta Salá ibne Salá evacuou muitas das mulheres e crianças para as terras vizinhas e convocou em seu auxílio os habitantes, tribais, da região, muitos acorrendo voluntariamente liderados por líderes religiosos. Tantos pegaram em armas em defesa de Ceuta que os portugueses mais tarde afirmaram ter a cidade sido reforçada por nada menos que 100.000 pessoas. Ceuta não recebeu, porém, qualquer ajuda do próprio Sultão de Fez, seja porque este encontrava-se demasiado envolvido em querelas internas para poder organizar ajuda ou porque Salá ibne Salá agira de forma independente em anos recentes.
Deram-se então os primeiros confrontos entre os portugueses e os defensores de Ceuta, com as galés portuguesas a serem alvejadas a partir das muralhas, sendo a embarcação do almirante Carlos Pessanha a mais danificada, por ser a que se encontrava mais próxima da costa. Apesar da separação da frota, Pessanha desembarcou um destacamento de homens para combater os marroquinos em terra.
Tendo reunido a armada diante de Ceuta a 16, o rei decidiu atacar a cidade no dia seguinte, mas os fortes ventos dispersaram novamente a frota portuguesa, obrigando o rei a refugiar-se na baía de Algeciras com os navios a remos, ao passo que as naus foram empurradas mais para leste.
Vendo a frota portuguesa dispersar-se e acreditando que o ataque não se realizaria mais, muitos dos guerreiros e milícias indisciplinados que se tinham reunido na cidade para a sua defesa retiraram-se para as suas terras, enquanto o governador Salá ibne Salá tomou a decisão fatal de desmobilizar o resto do território. os voluntários para evitar novos conflitos, restando apenas a guarnição habitual.
Interlúdio
De Algeciras, o Infante D. Henrique foi mandado reunir todas as naus dispersas a reboque das galés. A peste eclodiu então entre a armada e dizimou as tripulações. O rei D. João então reuniu um Conselho de Guerra com os seus capitães enquanto se encontrava ancorado em Punta Carnero, Espanha, mas rejeitou a opinião daqueles que sugeriram cancelar o ataque. Na noite de 20 de agosto a frota portuguesa zarpou novamente, e ancorou no porto de Ceuta, com o desembarque agendado para o dia seguinte.
Salá ibne Salá mandou colocar o maior número possível de homens disponíveis nas muralhas e que tantas luzes e velas fossem acesas quanto possível, para dar a impressão aos portugueses de prontidão e de uma cidade grande e bem guarnecida mas, embora brilhante, o efeito revelou-se nulo.
O assalto à cidade
Na manhã de 21 de Agosto de 1415, o rei D. João I deu ordens para o desembarque das tropas e um assalto geral à cidade. No entanto, quando o rei embarcou num escaler para ser levado a terra, feriu-se numa perna. Foi então dado sinal ao Infante D. Henrique para que liderasse as tropas a terra.
O primeiro a desembarcar foi Rui Gonçalves, conhecido pela sua ousadia; este encontrou resistência ao desembarcar com os seus homens na actual Playa San Amaro. O infante D. Henrique foi o primeiro infante a desembarcar à frente de um esquadrão de homens. Seguiu-lhe o seu irmão e o príncipe-herdeiro D. Duarte e, à frente de cerca de 300 homens, ambos lograram expulsar os defensores muçulmanos de volta ao portão de Almedina, que foi penetrado pelos portugueses antes que fosse firmemente encerrado.
Os marroquinos lograram ainda opor alguma resistência aos portugueses entre as apertadas ruas logo além da porta da cidade, encorajados por um grande núbion ou sudanês que atirava grandes pedras. Depois de este ter sido morto por Vasco Martins de Albergaria, os muçulmanos viraram-se e fugiram, perseguidos pelo casario pelos homens chefiados pelo infante D. Pedro, pelo infante D. Henrique.
À medida que os portugueses tomavam conta da cidade, Salá ibne Salá desceu da cidadela para tentar conter o avanço dos atacantes nas ruas estreitas, a fim de permitir que os residentes pudessem ao menos fugir a tempo com as suas famílias. Vasco Fernandes de Ataíde tentou abrir outro portão à com alguns homens, mas foram rechaçados, sendo mortos 8 e Ataíde ferido mortalmente.
O infante D. Henrique deixou para trás um destacamento de homens a proteger a porta que fora aberta enquanto esperavam pelo resto do exército; chegou este pouco depois comandada pelo Rei, Príncipe D. Pedro e pelo Condestável Nuno Álvares Pereira. O rei D. João, no entanto, não participaria mais nos combates e sentou-se junto ao portão. Durante os combates urbanos, espalhou-se entre as tropas portuguesas o boato de que o príncipe Henrique havia morrido, pois não era possível localizá-lo. Ao ser informado dos rumores da morte de seu filho, o rei terá respondido que "tal é o fim que devem esperar os soldados".
Salá ibne Salá manteve a posse da cidadela de Ceuta até ao pôr-do-sol, mas não vendo forma de resistir aos portugueses, fugiu da cidade com alguns dos seus homens, levando as suas famílias e tudo o que conseguissem transportar. Só na manhã seguinte, a 21 de Agosto, é que os portugueses se deram conta de que a cidadela se encontrava abandonada. Ceuta caiu por inteiro em mãos portuguesas e os combates cessaram. A maioria dos residentes de Ceuta fugira da cidade, embora um número considerável tenha sido morto na acção e algumas mulheres, crianças e idosos incapazes de fugir ou pegar em armas tenham ainda sido encontrados nas suas residências.Oliveira Marques, 1891, pág. 53.
Mediante ordens do rei, o conde de Avranches Álvaro Vaz de Almada ou João Vasques de Almada içou, pela primeira vez, a bandeira de Lisboa (ou de São Vicente) sobre o castelo de Ceuta. Este símbolo ainda hoje é a bandeira de Ceuta, se bem que foi-lhe acrescentado ao centro o brasão de Portugal.
Rescaldo
A conquista foi conseguida com poucas baixas, pois apenas um fidalgo português - Vasco Fernandes de Ataíde, governador da casa do Infante D. Henrique - faleceu no ataque, morto por uma grande pedra lançada das muralhas da cidade, que o atingiu na cabeça. Uma inscrição em Latim, relativa a este evento, "parece ser...o único vestígio subsistente da permanência dos Portugueses em Ceuta".
"(...) Já passavam de sete horas e meia depois do meio dia, quando a cidade foi de todo livre dos mouros. (...) As outras Companhias [de soldados portugueses, não tinham maior cuidado doutra coisa que de apanharem o esbulho. (...) Muitos que se acercaram primeiramente naquelas lojas dos mercadores que estavam na rua direita, assim como entraram pelas portas sem nenhuma temperança nem resguardo, davam com suas facas nos sacos das especiarias, e esfarrapavam-nos todos, de forma que tudo lançavam pelo chão. E bem era para haver dor do estrago, que ali foi feito naquele dia. Que as especiarias eram muitas de grosso valor. E as ruas não menos jaziam cheias delas (...) as quais depois que foram calcadas pelos pés da multidão das gentes que por cima delas passavam, e de si com o fervor do sol que era grande, davam depois de si muy grande odor. (...)" (Crónica da Tomada de Ceuta, Gomes Eanes de Zurara, 1450.)
A mesquita foi consagrada e, na primeira missa lá realizada, os três príncipes da Ínclita geração presentes foram feitos cavaleiros pelo seu pai. Os portugueses encontrariam mais tarde no seu minarete dois sinos, saqueados por piratas de uma igreja portuguesa em Lagos. Ceuta foi constituída em diocese, e o Franciscano inglês confessor da falecida rainha D. Filipa, frei Aimar d'Aurillac foi nomeado primeiro bispo de Ceuta. A noite foi passada em redobrada vigilância; a manhã de 22 de agosto foi tempestuosa com chuva e granizo.
Imenso espólio recolheu-se de entre a cidade, se bem que a conquista tenha sido menos lucrativa do que o rei D. João antecipara. O conde de Barcelos D. Afonso de Bragança capturou mais de 600 colunas de mármore e alabastro do palácio de Salá ibne Salá e de outros edifícios, bem como um tecto abobadado feito em talha dourada de uma praça da cidade, que decoraria a sua residência em Portugal.
O rei enviou então mensageiros a várias Cortes europeias notificando-os da vitória. Convidou até o rei Fernando I de Aragão para se juntar a ele na conquista das terras do norte de África , que D. Fernando apreciou, mas este morreu pouco depois de receber a mensagem.
Contra a vontade de um número considerável de seus homens, o rei decidiu manter a cidade, a fim de levar a cabo novos empreendimentos na região.
No entanto, a nomeação de um governador revelou-se inesperadamente difícil, visto que muitos nobres de alto escalão, como o condestável Nuno Álvares Pereira, o Marechal Gonçalo Vasques Coutinho e o chefe da guarda-costas real Dom Martim Afonso de Melo recusaram a oferta do rei, mas o conde de Viana D. Pedro de Meneses voluntariou-se para a perigosa posição. O pai de D. Pedro havia-se aliado a Castela contra D. João durante a Guerra Civil de 1383–1385, o que poderá explicar porque é que D. Pedro procurou o cargo.
O rei ordenou que quase 3.000 homens ficassem para trás como guarnição. Incluía 300 escudeiros da casa real, 300 escudeiros da casa do príncipe-herdeiro D. Duarte, 250 escudeiros da casa do Infante D. Pedro, 300 escudeiros da casa do Infante D. Henrique, 600 besteiros a pé e a cavalo, um número inédito de escudeiros das cidades de Évora e Beja e vários nobres com os seus seguidores. Muitos ressentiam-se profundamente com a ideia de viver numa cidade fronteiriça isolada, rodeada por potências muçulmanas hostis, ávidas por vingança contra os cristãos e, temendo morte certa ou cativeiro, imploraram para serem levados de regresso a Portugal, subornaram funcionários para os levarem de volta aos navios ou fingiram doenças. Alguns se estabeleceram voluntariamente na cidade como milicianos, como os artesãos. Outros abraçaram de bom grado a vida de fronteiros. Provavelmente muitos eram nobres e seus vassalos, buscando riqueza e glória no serviço no exterior, como Rui de Sousa, que ficou para trás com 40 vassalos. Tais nobres poderiam ter-se tornado um sério factor de desestabilização e conflito interno finda a paz com Castela em 1411.
Ceuta foi a primeira possessão portuguesa em África, estratégica para a exploração Atlântica que começava a ser efectuada.
História posterior
Deixando ficar o conde de Viana, D. Pedro de Meneses, o rei, os infantes e o resto da frota regressaram a Lisboa em Setembro, tendo permanecido durante treze dias em Ceuta.
Partida a frota portuguesa para casa com a maior parte do exército, os residentes de Ceuta que se haviam refugiado nas colinas e pomares circundantes tentaram inúmeras vezes recuperar a cidade, mas foram sempre facilmente rechaçados pela guarnição em escaramuças quase diárias. Dom Pedro mandou demolir casas, torres, pomares e bosques ao redor da cidade e preencher valas para desimpedir a visão da cidade e evitar emboscadas.
Manter Ceuta constituía um problema logístico: era necessário enviar mantimentos, armas e munições; a maior parte dos soldados era recrutada à força, recorrendo-se a condenados e criminosos a quem o rei comutava a pena desde que fossem para Ceuta e ainda recompensar generosamente os nobres que ocupavam postos de chefia. Após a conquista de Ceuta, foi criada em Portugal a "Casa de Ceuta", sendo esta uma instituição real com escriturários, tesoureiros, funcionários de armazém e feitores, com repartições em Lisboa, Porto, Santarém e outros locais, encarregue de garantir o abastecimento da cidade e da sua guarnição.
Em 1419, o sultão de Marrocos Abuçaíde Otomão III sitiou Ceuta com a ajuda do emir Nacérida Maomé VIII de Granada, porém os portugueses, sob o hábil comando de Dom Pedro de Meneses, rechaçaram o ataque. Culpado pela perda de Ceuta, o sultão foi posteriormente assassinado quando se deu um golpe de estado em Fez, em 1420, deixando o sultão apenas um filho como herdeiro. Marrocos mergulhou no caos à medida que pretendentes rivais ao trono competiam entre si e governadores locais constituíam feudos regionais para si, vendendo o seu apoio a quem mais lhes oferecesse. A crise política em Marrocos libertou a pressão sobre Ceuta durante os anos seguintes.
A seu tempo, Ceuta veio a tornar-se uma formidável base militar e um dos principais refúgios para corsários cristãos no ocidente Mediterrâneo, a principal base a partir da qual os navios portugueses atacavam navios muçulmanos hostis, de Salé a Granada e Tunes, actividade que rendeu ao capitão de Ceuta D. Pedro de Meneses e a D. João I valiosos rendimentos. A navegação cristã no Estreito de Gibraltar também se tornou mais segura. Os ataques portugueses causaram o abandono da costa marroquina por número considerável de residentes, que fugiram para o interior, ao passo que o comércio externo marroquino definhou gradualmente. Ceuta era frequentada por aventureiros de diversas nacionalidades, entre castelhanos, aragoneses, flamengos, Alemães e até mesmo polacos, que buscavam de riqueza e glória.
Tendo-se distinguido em Ceuta como um comandante ousado, o infante D. Henrique foi convidado a comandar os exércitos de Henrique V de Inglaterra, Papa Martinho V, Imperador Sigismundo e Rei João II de Castela mas o infante recusou sempre semelhantes ofertas.
Durante o reinado de D. Duarte, a fortaleza de Ceuta rapidamente se tornou um peso nas finanças régias. As caravanas trans-saarianas mudaram de percurso para Tânger e o permanente estado de guerra comprometia o cultivo dos campos em redor e a produção de cereais. A situação agravou-se em função das elevadas despesas militares necessárias à manutenção da praça africana. Os membros da corte chegaram a cogitar o abandono da cidade. O Infante D. Pedro, em carta ao seu irmão, afirmava mais tarde:
Em 1437 Henrique e Fernando persuadiram o rei a lançar um novo ataque ao sultanato Marinida. O ataque a Tânger liderado pelo infante D. Henrique, foi um desastre. O Infante D. Fernando foi entregue aos merínidas como refém e prometida a entrega Ceuta para que o exército português pudesse partir a salvo. D. Fernando faleceu no cativeiro e a cidade continuou portuguesa (1443).
A posse de Ceuta levaria indirectamente a mais expansão portuguesa. A principal área de expansão portuguesa, nesta altura, era a costa de Marrocos, onde havia cereais, gado, açúcar e têxteis, bem como peixe, peles, cera e mel.
Os marroquinos não se conformaram e atacaram a cidade duas vezes, em 1418 e em 1419, sem sucesso. Ceuta teve que se aguentar sozinha, durante 43 anos, até que a posição da cidade ser consolidada com a tomada de Alcácer Seguer (1458), Arzila e Tânger (1471).
A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
Durante a Dinastia Filipina, Ceuta manteve uma administração portuguesa, assim como Tânger e Mazagão. Todavia, quando se deu a Restauração Portuguesa, a cidade não aclamou o Duque de Bragança, como rei de Portugal, mantendo-se espanhola. A situação foi oficializada em 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa entre os dois países, e que pôs fim à guerra da Restauração.
Motivos
As causas e origens da conquista de Ceuta não são hoje suficientemente claras: uma das razões, a Causa Bélica, teria sido a oportunidade dos infantes (D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique) serem armados cavaleiros por um feito de guerra. Outra, a Causa Religiosa, defendida por historiadores como Joaquim Bensaúde (1859-1951), viram na figura do infante D. Henrique um símbolo do espírito de cruzada, defendendo ter havido na génese da expansão um zelo religioso; Outra, a Causa Política, talvez a ameaça castelhana constante sobre a cidade, defendida por historiadores como Jaime Cortesão (1884-1960), que realçava o desejo da antecipação a Castela na expansão para o norte de África. Estes motivos não são incompatíveis com a Causa Económica, defendida por António Sérgio (1883-1969) e, mais recentemente, Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011) - Ceuta era uma cidade rica e teriam sido levados pela burguesia comercial, que queria canalizar para Lisboa o tráfego do Mediterrâneo ocidental feito por aquela cidade. Para se informar de todos os pormenores da cidade, D. João I enviou à Sicília dois embaixadores com o pretexto de pedirem a mão da rainha para o infante D. Pedro; estes na passagem colheram todas as informações sobre Ceuta.
Estas são consideradas as principais razões da conquista de Ceuta:
Geoeconómicas: a posição geográfica de Ceuta permitiria controlar a entrada e saída dos navios vindos do Atlântico para o Mediterrâneo e vice-versa através do estreito de Gibraltar, de modo que a costa do Algarve parasse de ser atacada por piratas oriundos ou baseados na cidade muçulmana.
Religiosas: havia um desejo de expansão da fé cristã através do incremento de territórios onde o cristianismo poderia ser implantado.
Sociais: as classes mais abastadas tinham vários interesses nesta conquista. A nobreza buscava novas terras, honras e rendas; o clero desejava expandir a fé cristã; e a burguesia estava à procura de novos produtos e mercados.
Económicas: Portugal sofria com a falta de diversos produtos como trigo, ouro, prata, e especiarias. A conquista de Ceuta significaria para o reino português o controle sobre uma cidade em que afluíam os produtos orientais vindos da Índia pelas rotas caravaneiras que traziam ouro, especiarias, etc. Ressalte-se ainda que a cidade era uma zona fértil, apropriada para a produção de cereais.
Políticas: o reino português procurava aumentar sua importância no quadro das monarquias ibéricas através do estabelecimento de Ceuta como o ponto mais oriental da reconquista cristã a ser feita por Portugal no norte da África.
Bibliografia
Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta (escrita em 1453, trata-se de uma importante obra relativa a esta guerra.)
Mestre Mateus Pisano, Livro da guerra de Ceuta (escrito, em 1460, em latim, este livro foi vertido em português por Roberto Correia Pinto.)
Antoine de la Sale (única testemunha ocular da guerra de Ceuta), Consolações dirigidas a Catharina de Neufville, Senhora de Fresne (escrita, em 1453, em francês, esta obra foi vertida em português pelo general Carlos du Bocage.)
Arkan Simaan, L'Ecuyer d'Henri le Navigateur (romance histórico, em francês, editado por Harmattan. Nos primeiros capítulos encontra-se uma descrição da tomada de Ceuta e da ocupação da cidade até o cerco de 1418-1419. Em seguida vem o relato das atividades do Infante Dom Henrique em Sagres, as expedições marítimas, as descobertas de Porto Santo e da Madeira, a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes, o desastre de Tanger e a chegada dos primeiros escravos africanos em Lagos.)
Aileen Gallagher, Prince Henry the Navigator: Pioneer of Modern Exploration (2003) ISBN 978-0-8239-3621-2
Jeff Kinard, Artillery: an illustrated history of its impact (2007) ISBN 978-1-85109-556-8
Kenneth Warren Chase, Firearms: a global history to 1700 (2003) ISBN 978-0-521-82274-9
Peter O. Koch, To the ends of the earth: the age of the European explorers (2003) ISBN 978-0-7864-1565-6
Ligações externas
A conquista de Ceuta: um dia de combate, Horizontes da Memória - A tomada de Ceuta (Extrato de Programa), por José Hermano Saraiva, Videofono / RTP, 2002
«O que terá levado o rei a arriscar tanto numa aventura africana?», por Manuel Carvalho e Sérgio C. Andrade. Público, 21 de Agosto de 2015
Recensão: As Décadas de Ceuta (1385-1460), coordenação por Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem, População e Sociedade, CEPESE, Porto, vol. 30, 2018
A cidade de Lisboa na preparação da conquista de Ceuta, por Carlos Guardado da Silva
A Campanha Militar de Ceuta (1415) Revisitada, pir João Gouveia Monteiro, Revista de História da Sociedade e da Cultura vol. 17, Universidade de Coimbra, 2.06.2019
Conquista de Ceuta | 41,346 |
652 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cris%C3%B3polis | Crisópolis | Crisópolis é um município brasileiro no interior do estado da Bahia. Fundada em 1962 a uma altitude de 149 metros. A população estimada em 2021 era de 21 219 habitantes, de acordo com o IBGE.
História
O território integrava o Município de Itapicuru. Seu povoamento iniciou-se na segunda metade do século XIX, por fazendeiros que ali se estabeleceram, formando as fazendas Dendê de Cima e Dendê de Baixo.
Com a chegada do peregrino Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, na década de 1880, formou-se o povoado Bom Jesus, tendo o peregrino construído uma igreja e edificando um cruzeiro.
Em 1898, criou-se o Município de Bom Jesus, extinto em 1913.
Restaurou-se o Município, em 1918, com sede no arraial de Cajueiros (Atualmente Acajutiba), porém foi novamente extinto, em 1931, e seu território anexado a Esplanada.
O Município foi novamente restaurado, em 1933, porém supresso em 1935, e seu território anexado a Itapicuru.
Em 1962, o Município foi definitivamente restaurado com o nome de Crisópolis, tomando como sede aquela vila.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, figura no Município de Itapicuru o Distrito de Bom Jesus.
Pelo Decreto Estadual nº 9673, de 13 de agosto de 1935, foi extinto o Município de Vila Rica, sendo seu território anexado ao distrito Bom Jesus do Município de Itapicuru.
Em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937, o Distrito de Bom Jesus figura no Município de Itapicuru.
Pelo Decreto Estadual nº 11089, de 30 de novembro de 1938, o Distrito de Bom Jesus passou a denominar-se Crisópolis, publicação feita no Diário Oficial da Bahia, edição de 4 de abril de 1939, deu-se também pelo Decreto Estadual nº 11627, de 27 de abril de 1940, baixado em cumprimento a dispositivo do Decreto-Lei Federal nº 2104, de 2 de abril de 1940.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o Distrito de Crisópolis, figura no Município de Itapicuru.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1960.
Elevado à categoria de Município com a denominação de Crisópolis, pela Lei Estadual nº 1638, de 12 de março de 1962, desmembrado de Itapicuru. Sede no antigo Distrito de Crisópolis. Constituído do distrito sede. Instalado em 7 de abril de 1963.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o Município é constituído do distrito sede.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2001.
Pela Lei Estadual nº 4579, de 5 de novembro de 1985, é criado o Distrito de Buril (ex-povoado) e anexado ao Município de Crisópolis.
Em divisão territorial datada de 2005, o Município é constituído de 2 distritos: Crisópolis e Buril.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.
Alteração toponímica distrital
Bom Jesus para Crisópolis, alterado pelo Decreto Estadual nº 11089, de 30 de novembro de 1938, o distrito de publicação feita no Diário Oficial da Bahia, edição de 4 de abril de 1939, deu-se também pelo Decreto Estadual nº 11627, de 27 de abril de 1940, baixado em cumprimento a dispositivo do Decreto-Lei Federal nº 2104, de 2 de abril de 1940.
*Confederação Nacional de Municípios; IBGE
Trabalho e Rendimento
Em 2015, o salário médio mensal era de 1,9 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 5,1%.
Na comparação com os outros municípios do estado, ocupava as posições 93 de 417 e 359 de 417, respectivamente. Já na comparação com cidades do país todo, ficava na posição 2500 de 5570 e 5114 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 58.1% da população nessas condições, o que o colocava na posição 11 de 417 dentre as cidades do estado e na posição 128 de 5570 dentre as cidades do Brasil.
Educação
Em 2015, os alunos dos anos inicias da rede pública da cidade tiveram nota média de 4,9 no IDEB. Para os alunos dos anos finais, essa nota foi de 3,7. Na comparação com cidades do mesmo estado, a nota dos alunos dos anos iniciais colocava esta cidade na posição 56 de 417. Considerando a nota dos alunos dos anos finais, a posição passava a 85 de 417. A taxa de escolarização (para pessoas de 6 a 14 anos) foi de 96m1 em 2010. Isso posicionava o município na posição 337 de 417 dentre as cidades do estado e na posição 4499 de 5570 dentre as cidades do Brasil.
Economia
Em 2014, tinha um PIB per capita de R$ 6.141,77. Na comparação com os demais municípios do estado, sua posição era de 279 de 417. Já na comparação com cidades do Brasil todo, sua colocação era de 4964 de 5570. Em 2015, tinha 95% do seu orçamento proveniente de fontes externas. Em comparação às outras cidades do estado, estava na posição 135 de 417 e, quando comparado a cidades do Brasil todo, ficava em 862 de 5570.
Saúde
A taxa de mortalidade infantil média na cidade é de 19.76 para 1.000 nascidos vivos. As internações devido a diarreias são de 1.4 para cada 1.000 habitantes. Comparado com todos os municípios do estado, fica nas posições 139 de 417 e 200 de 417, respectivamente. Quando comparado a cidades do Brasil todo, essas posições são de 1253 de 5570 e 1967 de 5570, respectivamente.
Território e Ambiente
Apresenta 5,8% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 61,9% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 6,8% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os outros municípios do estado, fica na posição 328 de 417, 241 de 417 e 173 de 417, respectivamente. Já quando comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 4729 de 5570, 3586 de 5570 e 3178 de 5570, respectivamente.
Crisópolis
Fundações na Bahia em 1962 | 28,460 |
654 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%20%28linguagem%20de%20programa%C3%A7%C3%A3o%29 | C (linguagem de programação) | C é uma linguagem de programação compilada de propósito geral, estruturada, imperativa, procedural, padronizada pela Organização Internacional para Padronização (ISO), criada em 1972 por Dennis Ritchie na empresa AT&T Bell Labs para desenvolvimento do sistema operacional Unix (originalmente escrito em Assembly).
C é uma das linguagens de programação mais populares e existem poucas arquiteturas para as quais não existem compiladores para C. C tem influenciado muitas outras linguagens de programação (por exemplo, a linguagem Java), mais notavelmente C++, que originalmente começou como uma extensão para C.
A linguagem C encontra-se na versão/padrão internacional C17 (ISO/IEC 9899:2018) lançada em junho de 2018, substituindo a versão C11 (ISO/IEC 9899:2011), disponível em ISO e IEC e com suporte para GCC8 e Clang LLVM6.
História
O desenvolvimento inicial de C ocorreu no AT&T Bell Labs entre 1969 e 1973. De acordo com Ritchie, o período mais criativo ocorreu em 1972. A linguagem foi chamada "C", porque suas características foram obtidas a partir de uma linguagem anteriormente chamada de "B", que de acordo com Ken Thompson era a versão reduzida da linguagem de programação BCPL.
A versão original PDP-11 do sistema Unix foi desenvolvido em Assembly. Em 1973, com a adição dos tipos struct, a linguagem C tornou-se poderosa o suficiente para que a maior parte do kernel do Unix fosse reescrito em C. Este foi um dos primeiros núcleos de sistemas operacionais implementados numa linguagem diferente da linguagem Assembly. Em 1977, foram feitas novas mudanças por Ritchie e Stephen C. Johnson para facilitar a portabilidade do sistema operacional Unix. O Portable C Compiler de Johnson serviu de base para várias implementações de C em novas plataformas.
C K&R
A linguagem C não teve um sucesso imediato após a sua criação e o seu uso ficou restrito a alguns laboratórios, mas em 1978 Brian Kernighan e Dennis Ritchie lançam o livro The C Programming Language que serviu de tutorial e mudou a história da programação em C. De fato essa primeira versão da linguagem é conhecida como "C Kernighan e Ritchie" ou apenas "C K&R".
Esse livro, conhecido pelos programadores de C como "K&R", serviu durante muitos anos como uma especificação informal da linguagem. A versão da linguagem C que ele descreve é usualmente referida como "K&R C". A segunda edição do livro cobriu o padrão posterior, o ANSI C. K&R C introduziu as seguintes características na linguagem:
Biblioteca padrão de E/S
Tipo de dados struct
Tipo de dados long int
Tipo de dados unsigned int
O operador =+ foi alterado para +=, e =- para -= (o analisador léxico do compilador fazia confusão entre i =+ 10 e i = +10. O mesmo acontecia com =-)
K&R C é frequentemente considerado a parte mais básica da linguagem, cujo suporte deve ser assegurado por um compilador de C. Durante muitos anos, mesmo após a introdução do padrão ANSI C, K&R C foi considerado o "menor denominador comum", em que programadores de C se apoiavam quando uma portabilidade máxima era desejada, já que nem todos os compiladores eram actualizados o suficiente para suportar o padrão ANSI C.
Nos anos que se seguiram à publicação do K&R C, algumas características "não oficiais" foram adicionadas à linguagem, suportadas por compiladores da AT&T e de outros vendedores. Estas incluíam:
Funções void e tipos de dados void *
Funções que retornam tipos struct ou union
Campos de nome struct num espaço de nome separado para cada tipo struct
Atribuição a tipos de dados struct
Qualificadores const para criar um objecto só de leitura
Biblioteca padrão, que incorpora grande parte da funcionalidade implementada por vários vendedores
Enumerações
Cálculos de ponto-flutuante em precisão simples (no K&R C, os cálculos intermediários eram feitos sempre em double, porque era mais eficiente na máquina onde a primeira implementação do C foi feita)
ANSI C e ISO C
Durante os finais da década de 1970, a linguagem C começou a substituir a linguagem BASIC como a linguagem de programação de microcomputadores mais usada. Durante a década de 1980, foi adaptada para uso no PC IBM, e a sua popularidade começou a aumentar significativamente. Ao mesmo tempo, Bjarne Stroustrup, juntamente com outros nos laboratórios Bell, começou a trabalhar num projecto onde se adicionavam extras para programação orientada por objectos à linguagem C. A linguagem que eles produziram, chamada C++, é nos dias de hoje a linguagem de programação de aplicações mais comum no sistema operativo Windows da companhia Microsoft. A linguagem C permanece a mais popular no mundo Unix.
Em 1983, o instituto norte-americano de padrões (ANSI) formou um comité, X3J11, para estabelecer uma especificação do padrão da linguagem C. Após um processo longo e árduo, o padrão foi completo em 1989 e ratificado como ANSI X3.159-1989 "Programming Language C". Esta versão da linguagem é frequentemente referida como ANSI C. Em 1990, o padrão ANSI C, após sofrer umas modificações menores, foi adotado pela Organização Internacional para Padronização (ISO) que cria o grupo de trabalho para cuidar da especificação da linguagem, denominado WG14, assim foi renomeada para ISO/IEC 9899:1990, também conhecido como C89 e C90. Um dos objetivos do processo de padronização ANSI C foi o de produzir um sobreconjunto do K&R C, incorporando muitas das características não oficiais subsequentemente introduzidas. Entretanto, muitos programas tinham sido escritos e que não compilavam em certas plataformas, ou com um certo compilador, devido ao uso de bibliotecas de funções não padrão e ao fato de alguns compiladores não aderirem ao ANSI C.
C99
Após o processo da padronização ANSI, as especificações da linguagem C permaneceram relativamente estáticas por algum tempo, enquanto a linguagem C++ continuou a evoluir. (em 1995, a Normative Amendment 1 criou uma versão nova da linguagem C mas esta versão raramente é tida em conta.) Contudo, o padrão foi submetido a uma revisão nos finais da década de 1990, levando à publicação da norma ISO 9899:1999 em 1999. Este padrão é geralmente referido como "C99" e foi adoptado como um padrão ANSI em março de 2000. As novas características do C99 incluem:
Funções em linha
Remoção de restrições sobre a localização da declaração de variáveis (como em C++)
Adição de vários tipos de dados novos, incluindo o long long int (para minimizar problemas na transição de 32-bits para 64-bits), um tipo de dados boolean explicito (chamado _Bool) e um tipo complex que representa números complexos
Vetores de dados de comprimento variável (o vetor pode ter um tamanho diferente a cada execução de uma função, mas não cresce depois de criado)
Suporte oficial para comentários de uma linha iniciados por //, emprestados da linguagem C++
Várias funções de biblioteca novas, tais como snprintf()
Vários ficheiros-cabeçalho novos, tais como stdint.h
O interesse em suportar as características novas de C99 parece depender muito das entidades. Apesar do GCC e vários outros compiladores suportarem grande parte das novas características do C99, os compiladores mantidos pela Microsoft e pela Borland suportam pouquíssimos recursos do C99, e estas duas companhias não parecem estar muito interessadas em adicionar tais funcionalidades, ignorando por completo as normas internacionais. A Microsoft parece preferir dar mais ênfase ao C++.
C11
Em 2007, se iniciou o trabalho em antecipação de outra revisão do padrão de C, informalmente chamada de C11 ou C1X. O comité dos padrões de C adotou regras para limitar a inserção de novos recursos que não tenham ainda sido testados por implementações existentes.
Em dezembro de 2011 foi publicada a versão estável da especificação, como ISO/IEC 9899:2011.
C17
Em 2017 começou a ser desenvolvida uma nova revisão do padrão C, informalmente chamada de C17, substituindo o C11. Esta revisão visou melhorar a revisão anterior sem introduzir nova funcionalidades na linguagem. Em junho de 2018 foi publicada a versão estável da especificação, como ISO/IEC 9899:2018. Como foi publicada em 2018, também é informalmente chamada de C18.
C2X
Atualmente está sendo desenvolvida a nova revisão do padrão C, que pretende incorporar novas funcionalidades à linguagem. Informalmente denominada C2x, deve ser finalizada em 2023 e se tornar C23.
Visão geral
C é uma linguagem imperativa e procedural para implementação de sistemas. Seus pontos de design foram para ele ser compilado, fornecendo acesso irrestrito à memória e baixos requerimentos do hardware. Também foi desenvolvido para ser uma linguagem de alto nível, para maior reaproveitamento do código. C foi útil para muitas aplicações que foram codificadas originalmente em Assembly.
Essa propriedade não foi acidental; a linguagem C foi criada com o objectivo principal em mente: facilitar a criação de programas extensos com menos erros recorrendo ao paradigma da programação procedural mas sobrecarregando menos o autor do compilador, cujo trabalho complica-se ao ter de realizar as características complexas da linguagem. Para este fim, a linguagem C possui as seguintes características:
Uma linguagem extremamente simples, com funcionalidades não essenciais, tais como funções matemáticas ou manuseamento de ficheiros (arquivos), fornecida por um conjunto de bibliotecas de rotinas padronizada
A focalização no paradigma de programação procedural
Um sistema de tipos simples que evita várias operações que não fazem sentido
Uso de uma linguagem de pré-processamento para tarefas tais como a definição de macros e a inclusão de múltiplos ficheiros de código fonte
Ponteiros dão maior flexibilidade à linguagem
Acesso de baixo nível, através de inclusões de código Assembly no meio do programa C
Parâmetros que são sempre passados por valor para as funções e nunca por referência (É possível simular a passagem por referência com o uso de ponteiros)
Definição do alcance lexical de variáveis
Estruturas de variáveis, (structs), que permitem que dados relacionados sejam combinados e manipulados como um todo
Algumas características úteis, que faltam em C, podem ser encontradas em outras linguagens, que incluem:
Segurança de tipo
Coletor de lixo (mais comum em linguagens interpretadas)
Vetores que crescem automaticamente
Classes ou objetos com comportamento (ver Orientação a objetos)
Clausuras
Funções aninhadas
Sobrecarga de operadores
Meta-programação
Apoio nativo de multithreading e comunicação por rede
Apesar da lista de características úteis que C possui não ser longa, isso não tem sido um impedimento à sua aceitação, pois isso permite que novos compiladores de C sejam escritos rapidamente para novas plataformas, e também permite que o programador permaneça sempre em controle do que o programa está a fazer. Isto é o que por várias vezes permite o código de C correr de uma forma mais eficiente que muitas outras linguagens. Tipicamente, só código de Assembly "afinado à mão" é que corre mais rapidamente, pois possui um controle completo da máquina, mas avanços na área de compiladores juntamente com uma nova complexidade nos processadores modernos permitiram que a diferença tenha sido rapidamente eliminada.
Uma consequência da aceitação geral da linguagem C é que frequentemente os compiladores, bibliotecas e até interpretadores de outras linguagens sejam implementados em C.
C tem como ponto forte a sua eficiência, e é a linguagem de programação preferida para o desenvolvimento de sistemas e softwares de base, apesar de também ser usada para desenvolver programas de computador. É também muito usada no ensino de ciência da computação, mesmo não tendo sido projetada para estudantes e apresentando algumas dificuldades no seu uso. Outra característica importante de C é o seu código resultante em Assembly ter funcionamento idêntico ao código fonte, que permite que um projetista seja capaz de fazer algumas previsões de como o software irá se comportar ao ser executado.
O ponto negativo de C está na possibilidade do programador cometer erros graças a liberdade que a linguagem oferece. Por exemplo é possível acessar área de memória que não pertence a um vetor ao acessar um índice maior que seu tamanho, possibilitando que ocorra um buffer overflow.
Isto acontece em C porque o dever de controlar a memória está nas mãos do programador.
O motivo de C dar total controle para o programador é porque a linguagem foi projetada para programar o sistema operacional UNIX, onde havia a necessidade desse controle sobre a forma como o sistema iria funcionar.
Tipos de dados
C tem um sistema de tipos semelhante ao de alguns descendentes da linguagem ALGOL, tais como Pascal. Possui tipos para números inteiros de vários tamanhos com e sem sinal, números de ponto flutuante, caracteres e estruturas (structs).
C usa extensivamente ponteiros, um tipo muito simples de referência que guarda o endereço de memória da variável. O ponteiro pode ser desreferenciado, uma operação que busca o objeto que se encontra na morada da memória que o ponteiro possui, morada essa que pode ser manipulada através de aritmética de ponteiros. Durante o tempo de execução, o ponteiro é simplesmente uma morada de máquina tais como aquelas manipuladas em Assembly, mas em tempo de compilação possui um tipo complexo que indica o tipo do objecto para onde ele aponta, permitindo que se verifique o tipo de expressões, incluindo ponteiros. O tipo "string" (cadeia ou linha de texto) de C é simplesmente um ponteiro para um vetor de caracteres e alocação dinâmica de memória, descrita abaixo, é efetuada através de ponteiros.
Os ponteiros em C possuem um valor reservado especial, NULL, que indica que não estão a apontar para uma morada. O uso desse valor como morada é muito útil na construção de várias estruturas de dados, mas causa comportamento não definido (possivelmente uma falha de sistema) ao ser desreferenciado. Um ponteiro que possui o valor NULL é chamado ponteiro nulo. Os ponteiros são declarados (e desreferenciados) com um * (asterisco), portanto o tipo int* denota um ponteiro para variável(eis) que comporta(m) número(s) inteiro(s). A linguagem C também fornece um tipo especial de ponteiros, o void*, que se traduz num ponteiro que aponta para um objeto de tipo desconhecido.
A linguagem C também tem apoio em nível de linguagem para vetores estáticos (de dimensão fixa) de tipos. As disposições de tipos podem parecer ter mais que uma dimensão apesar de serem tecnicamente disposições de disposições de tipos. Em memória, tais estruturas são posicionadas com as linhas uma depois da outra (a alternativa seria armazenar os dados em colunas, usado em outras linguagens). O acesso a disposições de tipos é feito através de ponteiros e aritmética de ponteiros; o nome da disposição é tratado como se fosse um ponteiro que aponta para o início da disposição. Em certas aplicações não é razoável usarem-se disposições de tipos de dimensão fixa e por isso a alocação dinâmica de memória pode ser usada para criar disposições de tipos de dimensão variável.
Como a linguagem C é regularmente usada em programação de baixo-nível de sistemas, há casos em que é necessário tratar um número inteiro como sendo um ponteiro, um número de ponto flutuante como sendo um número inteiro ou um tipo de ponteiro como sendo outro. Para estes casos, a linguagem C fornece a capacidade de "moldagem" (também denominado "conversão de tipo" ou "casting"), uma operação que, caso seja possível, força a conversão de um objeto de um tipo para outro. Apesar de ser por vezes necessário, o uso de conversões de tipo sacrifica alguma segurança oferecida pelo sistema de tipos.
int
O tipo de dado int (inteiro) serve para armazenar valores numéricos inteiros. Existem vários tipos de inteiros, cada um de um tamanho diferente (dependendo do sistema operacional e/ou arquitetura do processador):
int, pode possuir 16 bits, 32 bits ou 64 bits
short int, deve possuir tamanho de no mínimo 16 bits e não pode ser maior que int
long int, deve possuir tamanho mínimo de 32 bits
long long int, deve possuir tamanho mínimo de 64 bits
Todos estes tipos de inteiros podem ainda ser declarados precedidos da cláusula unsigned, o que faz com que só suporte números positivos. Isto faz com que, com o mesmo tamanho, uma variável suporte mais números positivos do que um signed (todos os inteiros são signed por omissão).
char
O tipo char ocupa 1 byte, e serve para armazenar caracteres ou inteiros. Isso significa que o programa reserva um espaço de 8 bits na memória RAM ou em registradores do processador para armazenar um valor (char de tamanho maior que 8 bits é permitido pela linguagem, mas os casos são raros). Com vetores do tipo char é possível criar cadeias de caracteres (strings).
float
O tipo de dado float serve para armazenar números de ponto flutuante, ou seja, com casas decimais. O padrão mais utilizado nos últimos 10 anos é o IEEE 754-1985.
double
O tipo de dado double serve para armazenar números de ponto flutuante de dupla precisão, normalmente tem o dobro do tamanho do float e portanto o dobro da capacidade. O padrão mais adotado também é o IEEE 754-1985.
struct
Em C podem ser usadas estruturas (chamados de registos em outras linguagens de programação). As estruturas são grupos de variáveis organizadas arbitráriamente pelo programador. Uma estrutura pode criar um novo tipo de variável caso typedef seja usado em sua declaração.
Relações com C++
A linguagem de programação C++ foi originalmente derivada do C para suportar programação orientada a objetos. À medida que as linguagens C e C++ foram evoluindo independentemente, a divisão entre as duas veio a aumentar.
O padrão C99 criou um número de características que entram em conflito. Hoje, as principais diferenças entre as duas linguagens são:
inline - em C++, funções em linha encontram-se no espaço global enquanto que em C encontram-se no espaço local. Por outras palavras, isso significa que, em C++, qualquer definição de qualquer função em linha (sem ser a respeito da sobrecarga de funções de C++) tem de estar em conformidade com a "regra de uma definição" da linguagem C++. Mas em C, a mesma função em linha pode ser definida de maneira diferente em diferentes arquivos (ou ficheiros)
A palavra-chave bool, igual à usada em C++, em C99 necessita que se inclua o ficheiro-cabeçalho <stdbool.h> (_Bool está sempre disponível). Padrões anteriores de C não definiam um tipo booleano e vários (e incompatíveis) métodos foram usados para simular um tipo booleano
Algumas características originalmente desenvolvidas em C++ também apareceram em C. Entre elas encontram-se:
protótipos de função (com declaração de tipos de parâmetros) e remoção do "int" implícito
comentários de linha, indicados por //; comentários de linha terminam com um carácter de nova-linha
a palavra-chave inline
tipagem mais forte
Exemplos
Programa Olá Mundo
A seguinte aplicação foi publicada na primeira edição de C de K&R, e tornou-se no programa de introdução padrão da maior parte dos livros sobre C. O programa envia o texto "Olá, Mundo!" para a saída padrão, que é normalmente o console, mas que também pode ser um ficheiro (ou arquivo), um outro dispositivo qualquer, ou até mesmo um bit bucket, dependendo de como a saída-padrão é mapeada na altura em que o programa é executado.
int main(void)
{
puts("Olá, Mundo!");
}
Apesar do programa acima correr corretamente, atualmente origina algumas mensagens de aviso quando compilado como C ANSI. Essas mensagens podem ser eliminadas efectuando umas pequenas alterações no programa original:
#include <stdio.h> /* Pacotes com funções de entrada e saída */
int main(void)
{
puts("Olá, Mundo!");
return 0; /* Retorna 0, pois `main` retorna um `int` */
}
/* Nova linha após fechar a chave principal */
A primeira linha do programa é uma diretiva de pré-processamento #include, que causa com que o pré-processador substitua aquela linha pela totalidade do conteúdo do arquivo qual diretiva se refere. Neste caso o arquivo padrão stdio.h (que contém protótipos de funções para trabalho com entrada e saída) irá substituir a linha. Os caracteres < e > indicam que o arquivo stdio.h encontra-se no local em que, quando da configuração do compilador, se definiu como padrão para localização dos ficheiros de inclusão (header files, geralmente com a extensão .h).
A linha (não vazia) seguinte indica que uma função denominada main será definida. A função main tem um significado especial nos programas em C, pois é a função que é inicialmente executada (em inglês, entry point). Os caracteres { e } delimitam a extensão da função. O termo int define a função main como sendo uma função que retorna um número inteiro. O termo void indica que a função não aceita parâmetros. A função main, normalmente aceita parâmetros, que são passado pela linha de comando. Os compiladores e sistemas operacionais atuais reconhecem as seguintes declarações de main:
int main();
int main(void);
int main(int argc, char *argv[]);
int main(int argc, char **argv);
A linha seguinte "chama", ou executa uma função chamada puts; o arquivo incluído, stdio.h, contém a informação que descreve a forma como a função puts deve ser chamada. Nesta chamada, é passado à função puts um único argumento, a linha de texto constante "Olá, Mundo!". A função puts retorna um valor, um int, mas como não é usado, é descartado pelo compilador. O comando return retorna o valor 0 para o sistema, que é interpretado pelo mesmo como que a função main() foi executada e encerrada com sucesso (sem erros). Por fim, o caracter } indica o fim da função main. Note-se que texto rodeado por /* e */ (comentários de texto) é ignorado pelo compilador. Os compiladores que obedecem à norma C99 também aceitam como comentários as linhas de texto que são precedidos por //.
Pode ser compilado e executado com o seguinte comando (considerando que o GCC está instalado):
$ gcc hello.c -o hello
$ ./hello
Algoritmo de Trabb Pardo-Knuth
#include <math.h>
#include <stdio.h>
double f(double t)
{
return sqrt(fabs(t)) + 5 * pow(t, 3);
}
int main(void)
{
double a[11] = {0}, y;
for (int i = 0; i < 11; i++)
scanf("%lf", &a[i]);
for (int i = 10; i >= 0; i--) {
y = f(a[i]);
if (y > 400)
printf("%d TOO LARGE\n", i);
else
printf("%d %.16g\n", i, y);
}
}
Pode ser compilado e executado com o seguinte comando:
$ gcc -lm tpk.c -o tpk
$ ./tpk
-lm instrui o linker a juntar o módulo de matemática (libm).
Estruturas de dados
No exemplo seguinte, é criada uma estrutura composta por 3 membros de tipos diferentes. Os membros podem ser acessados com a seguinte sintaxe: estrutura.membro.
#include <inttypes.h>
#include <stdio.h>
struct Pessoa
{
char nome[32];
char rg[14]; // 13 caracteres + '\0'
uint8_t idade;
};
int main(void)
{
struct Pessoa p1 = {
.nome = "Fulano",
.rg = "00.000.000-00",
.idade = 27,
};
printf(" Nome: %s\n", p1.nome);
printf(" RG: %s\n", p1.rg);
printf("Idade: %u\n", p1.idade);
}
Ou, equivalente:
#include <inttypes.h>
#include <stdio.h>
typedef struct
{
char nome[32];
char rg[14]; // 13 caracteres + '\0'
uint8_t idade;
} Pessoa;
int main(void)
{
Pessoa p1 = {
.nome = "Fulano",
.rg = "00.000.000-00",
.idade = 27,
};
printf(" Nome: %s\n", p1.nome);
printf(" RG: %s\n", p1.rg);
printf("Idade: %u\n", p1.idade);
}
É possível omitir os nomes dos membros durante a inicialização:
Pessoa p1 = { "Fulano", "00.000.000-00", 27 };
Ferramentas de programação
Bloodshed Dev-C++
IDE (Ambiente de desenvolvimento integrado), como Code::Blocks, NetBeans e JetBrains CLion
GNU Compiler Collection
Automação de compilação, como make
Ver também
C++
Go (linguagem de programação)
Objective-C
Pascal (linguagem de programação)
Ligações externas
Linguagens de programação procedurais | 913,091 |
655 | https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula%20animal | Célula animal | A célula animal é uma célula eucariótica, ou seja, uma célula que apresenta o núcleo delimitado pela membrana nuclear (carioteca). Como todas as células eucarióticas, a célula animal é delimitada pela membrana plasmática. Possui organelas citoplasmáticas como o ribossomo, responsável pela síntese proteica; o lisossomo, que atua na digestão; as mitocôndrias, que participam da produção de energia e respiração celular; entre outros.
A palavra célula (que vem da palavra cella, que significa "pequena cavidade") foi usada pela primeira vez em 1665, pelo inglês Robert Hooke (1635-1703). Com um microscópio rudimentar, ele observou pedaços de cortiça, e percebeu que esta era formada por compartimentos vazios que ele chamou de células.
Matthias Schleiden e Theodor Schwann, após muitos anos de observações, propuseram a teoria celular. Essa teoria afirma que todo ser vivo é formado por células. Em 1855, o pesquisador alemão Rudholph Virchow deu um passo adiante, afirmando que todas as células surgem de outras células preexistentes.
Na célula animal não há celulose nas suas paredes nem clorofila no seu interior, diferentes da célula vegetal. Ou seja é uma célula sem cloroplastos.
Outros componentes celulares:
Cílios e flagelos
Cromossomas
Ver também
Célula
Célula vegetal
Células | 23,336 |
660 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a%20de%20Creutzfeldt-Jakob | Doença de Creutzfeldt-Jakob | A doença de Creutzfeldt–Jakob (DCJ), também denominada encefalopatia espongiforme subaguda, é uma doença neurodegenerativa fatal. Os sintomas iniciais mais comuns são perda de memória, alterações no comportamento, falta de coordenação e perturbações visuais Entre os sintomas mais tardios estão demência, movimentos involuntários, perda de visão, fadiga e coma. Em cerca de 70% dos casos a pessoa morre no prazo de um ano após o diagnóstico.
A DCJ é causada por proteínas denominadas priões. Os priões são proteínas mal enoveladas que fazem com que proteínas corretamente enoveladas se tornem elas próprias desenoveladas. Cerca de 85% dos casos ocorrem por razões desconhecidas, enquanto cerca de 7,5% dos casos são herdados de um dos progenitores de forma autossómica dominante. A doença pode também ser transmitida por exposição ao cérebro ou tecidos da medula espinal de uma pessoa infetada. Não há evidências de que possa ser transmitida entre pessoas por contacto normal ou transfusão de sangue. O diagnóstico da doença requer que sejam descartadas outras potenciais causas e pode ser complementado por electroencefalograma, punção lombar ou ressonância magnética.
Não existe tratamento específico para a DCJ. A dor pode ser aliviada com opioides, enquanto o clonazepam ou o valproato de sódio podem ajudar com os movimentos involuntários. A DCJ afeta cerca de uma por cada milhão de pessoas por ano. A doença tem geralmente início por volta dos 60 anos de idade. Foi descrita pela primeira vez em 1920. É um tipo de encefalopatia espongiforme transmissível. A DCJ hereditária corresponde a cerca de 10% dos casos de doenças causadas por priões. A DCJ esporádica é diferente da encefalopatia espongiforme bovina (doença das vacas loucas) e da doença de Creutzfeldt–Jakob variante.
Ligações externas
Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) no Manual Merck
Doenças neurológicas
Doenças priônicas | 17,517 |
661 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia | Democracia | Democracia é um regime político em que os cidadãos no aspecto dos direitos políticos participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. Ela abrange as condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e igual da autodeterminação política.
O termo é do grego antigo δημοκρατία (dēmokratía ou "governo do povo"), que foi criado a partir de δῆμος (demos ou "povo") e κράτος (kratos ou "poder") no século V a.C. para denotar os sistemas políticos então existentes em cidades-Estados gregas, principalmente Atenas; o termo é um antônimo para ἀριστοκρατία (aristokratia ou "regime de uma aristocracia" como seu nome indica). Embora, teoricamente, estas definições sejam opostas, na prática, a distinção entre elas foi obscurecida historicamente. No sistema político da Atenas Clássica, por exemplo, a cidadania democrática abrangia apenas homens, filhos de pai e mãe atenienses, livres e maiores de 21 anos, enquanto estrangeiros, escravos e mulheres eram grupos excluídos da participação política. Em praticamente todos os governos democráticos em toda a história antiga e moderna, a cidadania democrática valia apenas para uma elite de pessoas, até que a emancipação completa foi conquistada para todos os cidadãos adultos na maioria das democracias modernas através de movimentos por sufrágio universal durante os séculos XIX e XX.
O sistema democrático contrasta com outras formas de governo em que o poder é detido por uma pessoa — como em uma monarquia absoluta — ou em que o poder é mantido por um pequeno número de indivíduos — como em uma oligarquia. No entanto, essas oposições, herdadas da filosofia grega, são agora ambíguas porque os governos contemporâneos têm misturado elementos democráticos, oligárquicos e monárquicos em seus sistemas políticos. Karl Popper definiu a democracia em contraste com ditadura ou tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução.
Diversas variantes de democracias existem no mundo, mas há duas formas básicas, sendo que ambas dizem respeito a como o corpo inteiro de todos os cidadãos no exercício dos direitos políticos executam a sua vontade. Uma das formas de democracia é a democracia direta, em que todos os cidadãos no exercício dos direitos políticos têm participação direta e ativa na tomada de decisões do governo. Na maioria das democracias modernas, todo o corpo de cidadãos no exercício dos direitos políticos permanece com o poder soberano, mas o poder político é exercido indiretamente por meio de representantes eleitos, o que é chamado de democracia representativa. No Brasil a soberania popular é exercida de forma indireta, por meio de representantes eleitos (CF/88, art. 1º, parágrafo único), e de forma direta, na forma da lei, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular (CF/88, art. 1º, parágrafo único, e art. 14, caput, I a III), O conceito de democracia representativa surgiu em grande parte a partir de ideias e instituições que se desenvolveram durante períodos históricos como a Idade Média europeia, a Reforma Protestante, o Iluminismo e as revoluções Americana e Francesa.
Características
Não existe consenso sobre a forma correta de definir a democracia, mas a igualdade, a liberdade e o Estado de direito foram identificadas como características importantes desde os tempos antigos. Estes princípios são refletidos quando todos os cidadãos elegíveis são iguais perante a lei e têm igual acesso aos processos legislativos. Por exemplo, em uma democracia representativa, cada voto tem o mesmo peso, não existem restrições excessivas sobre quem quer se tornar um representante, além da liberdade de seus cidadãos elegíveis ser protegida por direitos legitimados e que são tipicamente protegidos por uma constituição.
Uma teoria sustenta que a democracia exige três princípios fundamentais: 1) a soberania reside nos níveis mais baixos de autoridade; 2) igualdade política e 3) normas sociais pelas quais os indivíduos e as instituições só consideram aceitáveis atos que refletem os dois primeiros princípios citados.
O termo democracia às vezes é usado como uma abreviação para a democracia liberal, que é uma variante da democracia representativa e que pode incluir elementos como o pluralismo político, a igualdade perante a lei, o direito de petição para reparação de injustiças sociais; devido processo legal; liberdades civis; direitos humanos; e elementos da sociedade civil fora do governo. Roger Scruton afirma que a democracia por si só não pode proporcionar liberdade pessoal e política, a menos que as instituições da sociedade civil também estejam presentes.
Em muitos países, como no Reino Unido onde se originou o Sistema Westminster, o princípio dominante é o da soberania parlamentar, mantendo a independência judicial. Nos Estados Unidos, a separação de poderes é frequentemente citada como um atributo central de um regime democrático. Na Índia, a maior democracia do mundo, a soberania parlamentar está sujeita a uma constituição que inclui o controle judicial. Outros usos do termo "democracia" incluem o da democracia direta. Embora o termo "democracia" seja normalmente usado no contexto de um Estado político, os princípios também são aplicáveis a organizações privadas.
O regime da maioria absoluta é frequentemente considerado como uma característica da democracia. Assim, o sistema democrático permite que minorias políticas sejam oprimidas pela chamada "tirania da maioria" quando não há proteções legais dos direitos individuais ou de grupos. Uma parte essencial de uma democracia representativa "ideal" são eleições competitivas que sejam justas tanto no plano material, quanto processualmente. Além disso, liberdades como a política, de expressão e de imprensa são consideradas direitos essenciais que permitem aos cidadãos elegíveis serem adequadamente informados e aptos a votar de acordo com seus próprios interesses.
Também tem sido sugerido que uma característica básica da democracia é a capacidade de todos os eleitores de participar livre e plenamente na vida de sua sociedade. Com sua ênfase na noção de contrato social e da vontade coletiva de todos os eleitores, a democracia também pode ser caracterizada como uma forma de coletivismo político, porque ela é definida como uma forma de governo em que todos os cidadãos elegíveis têm uma palavra a dizer de peso igual nas decisões que afetam as suas vidas.
Enquanto a democracia é muitas vezes equiparada à forma republicana de governo, o termo república classicamente abrangeu democracias e aristocracias. Algumas democracias são monarquias constitucionais muito antigas, como é o caso de países como o Reino Unido e o Japão.
História
Origens na antiguidade
O termo "democracia" apareceu pela primeira vez no antigo pensamento político e filosófico grego na cidade-Estado de Atenas durante a antiguidade clássica. Liderados por Clístenes, os atenienses estabeleceram o que é geralmente tido como a primeira experiência democrática em 508-507 a.C. Clístenes é referido como "o pai da democracia ateniense".
A democracia ateniense tomou a forma de uma democracia direta e tinha duas características distintivas: a seleção aleatória de cidadãos comuns para preencher os poucos cargos administrativos e judiciais existentes no governo e uma assembleia legislativa composta por todos os cidadãos atenienses. Todos os cidadãos elegíveis eram autorizados a falar e votar na assembleia, que estabelecia as leis da cidade-Estado. No entanto, a cidadania ateniense excluía mulheres, escravos, estrangeiros (μέτοικοι, metoikoi), os que não eram proprietários de terras e os homens com menos de 20 anos de idade. Dos cerca de 200 a 400 mil habitantes de Atenas na época, havia entre 30 mil e 60 mil cidadãos. A exclusão de grande parte da população a partir do que era considerada cidadania está intimamente relacionada com a antiga compreensão do termo. Durante a maior parte da antiguidade, o benefício da cidadania era associado à obrigação de lutar em guerras.
O sistema democrático ateniense não era apenas dirigido no sentido de que as decisões eram tomadas pelas pessoas reunidas na assembleia, mas também era mais direto no sentido de que as pessoas, através de assembleias e tribunais de justiça, controlavam todo o processo político e uma grande proporção dos cidadãos estavam envolvidos constantemente nos assuntos públicos. Mesmo com os direitos do indivíduo não sendo garantidos pela constituição ateniense no sentido moderno (os antigos gregos não tinham uma palavra para "direitos"), os atenienses gozavam de liberdades não por conta do governo, mas por viverem em uma cidade que não estava sujeita a outro poder e por não serem eles próprios sujeitos às regras de outra pessoa.
A votação por pontos apareceu em Esparta já em 700 a.C. A Apela era uma assembleia do povo, realizada uma vez por mês. Nessa assembleia, os líderes espartanos eram eleitos e davam seu voto gritando. Todos os cidadãos do sexo masculino com mais 30 anos de idade podiam participar. Aristóteles chamava esse sistema de "infantil", em oposição a algo mais sofisticado, como a utilização de registros de voto em pedra, como os usados pelos atenienses. No entanto, em termos, Esparta adotou esse sistema de votação por causa da sua simplicidade e para evitar qualquer tipo de viés de votação.
Mesmo que a República Romana tenha contribuído significativamente com muitos dos aspectos da democracia, apenas uma minoria dos romanos eram considerados cidadãos aptos a votar nas eleições para os representantes. Os votos dos poderosos tinham mais peso através de um sistema de gerrymandering, enquanto políticos de alto gabarito, incluindo membros do senado, vinham de algumas famílias ricas e nobres. No entanto, muitas exceções notáveis ocorreram. Além disso, a República Romana foi o primeiro governo no mundo ocidental a ter uma república como um Estado-nação, apesar de não ter muitas características de uma democracia. Os romanos inventaram o conceito de "clássicos" e muitas obras da Grécia antiga foram preservadas. Além disso, o modelo romano de governo inspirou muitos pensadores políticos ao longo dos séculos e democracias representativas modernas imitam mais o modelo romano do que os gregos porque era um Estado em que o poder supremo era realizado pelo povo e por seus representantes eleitos, e que tinha um líder eleito ou nomeado. A democracia representativa é uma forma de democracia em que as pessoas votam em representantes que, em seguida, votam em iniciativas políticas; enquanto uma democracia direta é uma forma de democracia em que as pessoas votam em iniciativas políticas diretamente.
Era contemporânea
As transições do século XX para a democracia liberal vieram em sucessivas "ondas" de democracia, diversas vezes resultantes de guerras, revoluções, descolonização e por circunstâncias religiosas e econômicas. A Primeira Guerra Mundial e a subsequente dissolução dos impérios Otomano e Austro-Húngaro resultou na criação de novos Estados-nação da Europa, a maior parte deles, pelo menos nominalmente, democráticos.
Na década de 1920 a democracia floresceu, mas a Grande Depressão trouxe desencanto e a maioria dos países da Europa, América Latina e Ásia viraram-se para regimes autoritários. O fascismo e outros tipos de ditaduras floresceram na Alemanha nazista, na Itália, na Espanha e em Portugal, além de regimes não-democráticos terem surgidos nos países bálticos, nos Balcãs, no Brasil, em Cuba, na China e no Japão, entre outros.
A Segunda Guerra Mundial trouxe uma reversão definitiva desta tendência na Europa Ocidental. A democratização dos setores estadunidense, britânico e francês da Alemanha ocupada (disputado), da Áustria, da Itália e do Japão ocupado pelos Aliados serviu de modelo para a teoria posterior de "mudança de regime". No entanto, a maior parte da Europa Oriental, incluindo o setor soviético da Alemanha, caiu sob a influência do bloco soviético não-democrático. A guerra foi seguida pela descolonização e, novamente, a maioria dos novos estados independentes tiveram constituições nominalmente democráticas. A Índia emergiu como a maior democracia do mundo e continua a sê-lo.
Em 1960, a grande maioria dos Estados-nação tinham, nominalmente, regimes democráticos, embora a maioria das populações do mundo ainda vivesse em países que passaram por eleições fraudulentas e outras formas de subterfúgios (particularmente em nações comunistas e em ex-colônias). Uma onda posterior de democratização trouxe ganhos substanciais para a verdadeira democracia liberal para muitas nações. Espanha, Portugal (1974) e várias das ditaduras militares na América do Sul voltaram a ser um governo civil no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 (Argentina em 1983, Bolívia e Uruguai em 1984, o Brasil em 1985 e o Chile no início de 1990). Isto foi seguido por nações do Extremo Oriente e do Sul da Ásia no final da década de 1980.
O mal-estar econômico na década de 1980, juntamente com o ressentimento da opressão soviética, contribuiu para o colapso da União Soviética, o consequente fim da Guerra Fria e a democratização e liberalização dos antigos países do chamado bloco oriental. A mais bem-sucedida das novas democracias eram aquelas geográfica e culturalmente mais próximas da Europa Ocidental e elas são agora, em sua maioria, membros ou membros associados da União Europeia. Alguns pesquisadores consideram que a Rússia contemporânea não é uma verdadeira democracia e, em vez disso, se assemelha a uma forma de ditadura.
A tendência liberal se espalhou para alguns países da África na década de 1990, sendo o exemplo mais proeminente a África do Sul. Alguns exemplos recentes de tentativas de liberalização incluem a Revolução Indonésia de 1998, a Revolução Bulldozer na antiga Iugoslávia, a Revolução Rosa na Geórgia, a Revolução Laranja na Ucrânia, a Revolução dos Cedros no Líbano, a Revolução das Tulipas no Quirguistão e da Revolução de Jasmim na Tunísia (parte da chamada "Primavera Árabe").
De acordo com a organização Freedom House, em 2007, havia 123 democracias eleitorais (acima das 40 registradas em 1972). De acordo com o Fórum Mundial sobre a Democracia, as democracias eleitorais agora representam 120 dos 192 países existentes e constituem 58,2 por cento da população mundial. Ao mesmo tempo, as democracias liberais, ou seja, os países que a Freedom House considera livre e que respeitam os direitos humanos fundamentais e o Estado de direito são 85 e representam 38 por cento da população global. No entanto, segundo a própria Freedom House, há em curso uma recessão democrática global, que teve em 2020 o seu décimo quarto ano consecutivo.
Em 2010, as Nações Unidas declararam 15 de setembro o Dia Internacional da Democracia.
É possível destacar ainda, que durante toda sua trajetória, mas principalmente na era contemporânea, a democracia tem uma relação direta com a educação, com a escola e com os modelos de ensino que determinada sociedade estabelece. Dessa forma a democracia moderna como conhecemos hoje, está intimamente vinculada com a educação dos territórios que a elegem enquanto forma de governo.
Tipos
A democracia tem tomado diferentes formas de governo, tanto na teoria quanto na prática. Algumas variedades de democracia proporcionam uma melhor representação e maior liberdade para seus cidadãos do que outras. No entanto, se qualquer democracia não está estruturada de forma a proibir o governo de excluir as pessoas do processo legislativo, ou qualquer agência do governo de alterar a separação de poderes em seu próprio favor, em seguida, um ramo do sistema político pode acumular muito poder e destruir o ambiente democrático.
Direta
Democracia direta refere-se ao sistema onde os cidadãos decidem diretamente cada assunto por votação.
A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, e necessariamente se aproxima mais da democracia representativa, quando o número de cidadãos cresce. Historicamente, as democracias mais diretas incluem o encontro municipal de Nova Inglaterra (dentro dos Estados Unidos), e o antigo sistema político de Atenas. Nenhum destes se enquadraria bem para uma grande população (embora a população de Atenas fosse grande, a maioria da população não era composta de pessoas consideradas como cidadãs, que, portanto, não tinha direitos políticos; não os tinham mulheres, escravos e crianças).
É questionável se já houve algum dia uma democracia puramente direta de qualquer tamanho considerável. Na prática, sociedades de qualquer complexidade sempre precisam de uma especialização de tarefas, inclusive das administrativas; e portanto uma democracia direta precisa de oficiais eleitos. (Embora alguém possa tentar manter todas as decisões importantes feitas por voto direto, com os oficiais meramente implementando essas decisões). Exemplos de democracia direta que costumavam eleger Delegados com mandato imperativo, revogável e temporário podem ser encontrados em sedições e revoluções de cunho anarquista como a Revolução Espanhola, a Revolução Ucraniana e no levante armado da EZLN, no estado de Chiapas.
Contemporaneamente o regime que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a democracia semidireta da Suíça. Uma democracia semidireta é um regime de democracia em que existe a combinação de representação política com formas de Democracia direta (Benevides, 1991, p. 129).
A Democracia semidireta, conforme Bobbio (1987, p. 459), é uma forma de democracia que possibilita um sistema mais bem-sucedido de democracia frente as democracias Representativa e Direta, ao permitir um equilíbrio operacional entre a representação política e a soberania popular direta. A prática desta ação equilibrante da democracia semidireta, segundo Bonavides (2003, p. 275), limita a “alienação política da vontade popular”, onde “a soberania está com o povo, e o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública”.
Representativa
Em democracias representativas, em contraste, os cidadãos elegem representantes em intervalos regulares, que então votam os assuntos em seu favor. Do mesmo modo, muitas democracias representativas modernas incorporam alguns elementos da democracia direta, normalmente referendo.
Nós podemos ver democracias diretas e indiretas como os tipos ideais, com as democracias reais se aproximando umas das outras. Algumas entidades políticas modernas, como a Suíça ou alguns estados norte-americanos, onde é frequente o uso de referendo iniciada por petição (chamada referendo por demanda popular) ao invés de membros da legislatura ou do governo. A última forma, que é frequentemente conhecida por plebiscito, permite ao governo escolher se e quando manter um referendo, e também como a questão deve ser abordada. Em contraste, a Alemanha está muito próxima de uma democracia representativa ideal: na Alemanha os referendos são proibidos — em parte devido à memória de como Adolf Hitler usou isso para manipular plebiscitos em favor do seu governo.
O sistema de eleições que foi usado em alguns países capitalistas de Estado, chamado centralismo democrático, pode ser considerado como uma forma extrema de democracia representativa, onde o povo elegia representantes locais, que por sua vez elegeram representantes regionais, que por sua vez elegiam a assembleia nacional, que finalmente elegia os que iam governar o país. No entanto, alguns consideram que esses sistemas não são democráticos na verdade, mesmo que as pessoas possam votar, já que a grande distância entre o indivíduo eleitor e o governo permite que se tornasse fácil manipular o processo. Outros contrapõem, dizendo que a grande distância entre eleitor e governo é uma característica comum em sistemas eleitorais desenhados para nações gigantescas (os Estados Unidos e algumas potências europeias, só para dar alguns exemplos considerados inequivocamente democráticos, têm problemas sérios na democraticidade das suas instituições de topo), e que o grande problema do sistema soviético e de outros países comunistas, aquilo que o tornava verdadeiramente não-democrático, era que, em vez de serem escolhidos pelo povo, os candidatos eram impostos pelo partido dirigente.
Direito ao voto
O voto, também chamado de sufrágio censitário, é típico do Estado liberal (século XIX) e exigia que os seus titulares atendessem certas exigências tais como pagamento de imposto direto; proprietário de propriedade fundiária e usufruir de certa renda.
No passado muitos grupos foram excluídos do direito de voto, em vários níveis. Algumas vezes essa exclusão é uma política bastante aberta, claramente descrita nas leis eleitorais; outras vezes não é claramente descrita, mas é implementada na prática por meios que parecem ter pouco a ver com a exclusão que está sendo realmente feita (p.ex., impostos de voto e requerimentos de alfabetização que mantinham afro-americanos longe das urnas antes da era dos direitos civis). E algumas vezes a um grupo era permitido o voto, mas o sistema eleitoral ou instituições do governo eram propositadamente planejadas para lhes dar menos influência que outros grupos favorecidos.
Hoje, em muitas democracias, o direito de voto é garantido sem discriminação de raça, grupo étnico, classe ou sexo. No entanto, o direito de voto ainda não é universal. É restrito a pessoas que atingem uma certa idade, normalmente 18 (embora em alguns lugares possa ser 16— como no Brasil — ou 21). Somente cidadãos de um país normalmente podem votar em suas eleições, embora alguns países façam excepções a cidadãos de outros países com que tenham laços próximos (p.ex., alguns membros da Comunidade Britânica e membros da União Europeia).
A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando o legislador ateniense Sólon fez aprovar uma lei específica obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos. A medida foi parte de uma reforma política que visava conter a radicalização das disputas entre facções que dividiam a pólis. Além de abolir a escravidão por dívidas e redistribuir a população de acordo com a renda, criou também uma lei que impedia os cidadãos de se absterem nas votações da assembleia, sob risco de perderem seus direitos.
Critérios
Muitas sociedades no passado negaram a pessoas o direito de votar baseadas no grupo étnico. Exemplo disso é a exclusão de pessoas com ascendência africana das urnas, na era anterior à dos direitos civis, e na época do apartheid na África do Sul. A maioria das sociedades hoje não mantêm essa exclusão, mas algumas ainda o fazem. Por exemplo, Fiji reserva um certo número de cadeiras no Parlamento para cada um dos principais grupos étnicos; essas exclusões foram adotadas para barrar a maioria dos indianos em favor dos grupos étnicos fijianos. Até o século XIX, muitas democracias ocidentais tinham propriedades de qualificação nas suas leis eleitorais, o que significava que apenas pessoas com um certo grau de riqueza podiam votar. Hoje essas leis foram amplamente abolidas.
Outra exclusão que durou muito tempo foi a baseada no sexo. Todas as democracias proibiam as mulheres de votar até 1893, quando a Nova Zelândia se tornou o primeiro país do mundo a dar às mulheres o direito de voto nos mesmos termos dos homens. No Brasil, pela constituição de 1822 e suas emendas antes dessa data, permitiu-se o direito de voto feminino, desde que pertencesse à classe determinada dos fazendeiros e fosse alfabetizada. Isso aconteceu devido ao sucesso do movimento feminino pelo direito de voto, tanto na Nova Zelândia como no Brasil, sendo que houve participações parlamentares já no Brasil depois dessa época. Hoje praticamente todos os Estados permitem que mulheres votem; as únicas exceções são sete países muçulmanos do Oriente Médio: Arábia Saudita, Barém, Brunei, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã.
O direito de voto normalmente é negado a prisioneiros. Alguns países também negam o direito a voto para aqueles condenados por crimes graves, mesmo depois de libertados. Em alguns casos (p.ex. em muitos estados dos Estados Unidos) a negação do direito de voto é automático na condenação de qualquer crime sério; em outros casos (p.ex. em países da Europa) a negação do direito de voto é uma penalidade adicional que a corte pode escolher por impor, além da pena do aprisionamento. Existem países em que os prisioneiros mantêm o direito de voto (por exemplo Brasil e Portugal).
Problemas
Os pensadores italianos do Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca (independentemente) argumentaram que a democracia era ilusória, e servia apenas para mascarar a realidade da regra de elite. Na verdade, eles argumentaram que a oligarquia da elite é a lei inflexível da natureza humana, em grande parte devido à apatia e divisão das massas (em oposição à unidade, a iniciativa e a unidade das elites), e que as instituições democráticas não fariam mais do que mudar o exercício do poder de opressão à manipulação. Como Louis Brandeis uma vez postulou, "Podemos ter democracia ou podemos ter riqueza concentrada nas mãos de uns poucos, mas não podemos ter as duas coisas".
Hoje todos os partidos políticos no Canadá são cautelosos sobre as críticas de alto nível de imigração, porque, como observou The Globe and Mail, "no início de 1990, o antigo Partido da Reforma foi marcado como 'racista' por sugerir que os níveis de imigração deveriam ser reduzidos de 250 mil a 150 mil.". Como o professor de Economia Don J. DeVoretz destacou: "Em uma democracia liberal como o Canadá, o seguinte paradoxo persiste. Mesmo que a maioria dos entrevistados respondendo sim à pergunta: 'Há muitas imigrantes chegando a cada ano?' números de imigrantes continuam a subir até que um conjunto crítico de custos econômicos apareçam'".
A ideia de “crise da democracia” vem ganhando repercussão na Teoria Política Contemporânea. Desde a década de 1970, autores da vertente partipacionista associam a legitimidade dos regimes democráticos a fatores que vão além da mera possibilidade de exercício livre do voto. A demanda, nesse sentido, é por efetiva atuação na concepção das políticas públicas, o que causa resistência em agentes representativos receosos de compartilhar o poder que o design institucional moderno lhes conferiu.
Ver também
Índice de Democracia
Democracia ateniense
Democracia liberal
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Bibliografia
Rodrigo César Paes (org). Limites da Democracia. Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades, v. 1, p. 1-15, 2007. (ISSN 1982-3231)
Ligações externas
International Institute for Democracy and Electoral Assistance
CASTORIADIS, Cornelius "A Pólis grega e a constituição da democracia", in As Encruzilhadas do Labirinto II, trad. de José Oscar de Almeida Marques, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
"Anotações para um sistema republicano de controle"
e-Democracia da Câmara dos Deputados do Brasil | 286,769 |
666 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilema%20do%20prisioneiro | Dilema do prisioneiro | O dilema do prisioneiro faz referência a um problema da teoria dos jogos, sendo um exemplo claro, mas atípico, de um problema de soma não nula. Neste problema, como em muitos outros, supõe-se que cada jogador, de forma independente, quer aumentar ao máximo a sua própria vantagem sem lhe importar o resultado do outro jogador.
As técnicas de análise da teoria de jogos padrão, como por exemplo determinar o equilíbrio de Nash, podem levar a que cada jogador escolha trair o outro, embora ambos os jogadores obtenham um resultado mais favorável se colaborarem. Infelizmente para os prisioneiros, cada jogador é incentivado individualmente a defraudar o próximo, mesmo após a promessa recíproca de colaboração. Este é o ponto-chave do dilema, ou seja, deverá ou não deverá o prisioneiro egoísta colaborar com o próximo sem o trair, para que a vantagem do grupo, equitativamente distribuída, possa ser maximizada?
No dilema do prisioneiro iterado, a cooperação pode obter-se como um resultado de equilíbrio. Aqui joga-se repetidamente, e quando se repete o jogo, oferece-se a cada jogador a oportunidade de castigar o outro jogador pela não cooperação em jogos anteriores. Assim, num processo iterativo, o incentivo para defraudar pode ser superado pela ameaça do castigo, o que conduz a um resultado melhor, ou seja, mais cooperativo.
O dilema do prisioneiro clássico
O dilema do prisioneiro foi originalmente formulado em 1950 por Merrill Flood e Melvin Dresher enquanto trabalhavam na RAND. Mais tarde, Albert W. Tucker fez a sua formalização com o tema da pena de prisão e deu ao problema geral o nome pelo qual é conhecido. O dilema do prisioneiro (DP), dito clássico, funciona da seguinte forma:
Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?
O fato é que pode haver dois vencedores no jogo, sendo esta última solução a melhor para ambos, quando analisada em conjunto. Entretanto, os jogadores confrontam-se com alguns problemas: confiam no cúmplice e permanecem negando o crime, mesmo correndo o risco de serem colocados numa situação ainda pior, ou confessam e esperam ser libertados, apesar de que, se o outro fizer o mesmo, ambos ficarão numa situação pior em comparação com aquela em que ambos permanecessem calados?
Um experimento baseado no simples dilema encontrou que cerca de 40% de participantes cooperaram (ou seja, ficaram em silêncio). Em abstracto, não importa os valores das penas, mas o cálculo das vantagens de uma decisão cujas consequências estão atreladas às decisões de outros agentes, onde a confiança e traição fazem parte da estratégia em jogo.
Casos como este são recorrentes na economia, na biologia e na estratégia. O estudo das táticas mais vantajosas num cenário onde esse dilema se repita é um dos temas da teoria dos jogos. O enunciado clássico do dilema do prisioneiro, acima exposto, pode resumir-se, do ponto de vista individual de um dos prisioneiros, na seguinte tabela (tabela de ganhos):
Vamos supor que ambos os prisioneiros são completamente egoístas e a sua única meta é reduzir a sua própria estadia na prisão. Como prisioneiros têm duas opções: ou cooperar com o seu cúmplice e permanecer calado, ou trair o seu cúmplice e confessar. O resultado de cada escolha depende da escolha do cúmplice. Infelizmente, um não sabe o que o outro escolheu fazer. Incluso se pudessem falar entre si, não poderiam estar seguros de confiar mutuamente.
Se se esperar que o cúmplice escolha cooperar com ele e permanecer em silêncio, a opção óptima para o primeiro seria confessar, o que significaria que seria libertado imediatamente, enquanto o cúmplice terá que cumprir uma pena de 10 anos. Se espera que seu cúmplice decida confessar, a melhor opção é confessar também, já que ao menos não receberá a pena completa de 10 anos, e apenas terá que esperar 5, tal como o cúmplice. Se ambos decidirem cooperar e permanecerem em silêncio, ambos serão libertados em apenas 6 meses.
Confessar é uma estratégia dominante para ambos os jogadores. Seja qual for a eleição do outro jogador, podem reduzir sempre sua sentença confessando. Por desgraça para os prisioneiros, isto conduz a um resultado regular, no qual ambos confessam e ambos recebem longas condenações. Aqui se encontra o ponto chave do dilema. O resultado das interacções individuais produz um resultado que não é óptimo no sentido de Pareto; existe uma situação tal que a utilidade de um dos detidos poderia melhorar (ou mesmo a de ambos) sem que isto implique uma piora para o resto. Por outras palavras, o resultado no qual ambos os detidos não confessam domina o resultado no qual os dois escolhem confessar.
Se se pensar pela perspectiva do interesse óptimo do grupo (dos dois prisioneiros), o resultado correcto seria que ambos cooperassem, já que isto reduziria o tempo total de pena do grupo a um total de um ano. Qualquer outra decisão seria pior para ambos se se considerar conjuntamente. Apesar disso, se continuarem no seu próprio interesse egoísta, cada um dos dos prisioneiros receberá uma dura pena.
Se um jogador tiver uma oportunidade para castigar o outro jogador ao confessar, então um resultado cooperativo pode manter-se. A forma iterada de este jogo (mencionada mais abaixo) oferece uma oportunidade para este tipo de castigo. Nesse jogo, se o cúmplice trai e confessa uma vez, pode-se castigá-lo traindo-o na próxima. Assim, o jogo iterado oferece uma opção de castigo que está ausente no modo clássico do jogo.
Este jogo possui como solução do ponto de vista Ótimo de Pareto a estratégia:
A e B negam
Este jogo possui como Equilíbrios de Nash a estratégia:
A e B delatam: neste caso, é o Equilíbrio dominante.
Um jogo similar
O cientista cognitivo Douglas Hofstadter (ver as referências abaixo) sugeriu uma vez que as pessoas encontram muitas vezes problemas como o dilema do prisioneiro mais fáceis de entender quando são apresentados como um simples jogo ou intercâmbio. Um dos exemplos que usou foi o de duas pessoas que se encontrem e troquem malas fechadas, com o acordo de que uma delas contenha dinheiro e a outra contenha um objecto que está sendo comprado. Cada jogador pode escolher seguir o acordo pondo na sua mala o que acordou, ou pode enganar oferecendo uma mala vazia. Neste jogo de intercâmbio, ao contrário do dilema do prisioneiro, o engano é sempre a melhor opção.
Matriz de ganhos do dilema do prisioneiro
No mesmo artigo, Hofstadter também observou que a matriz de ganhos do dilema do prisioneiro pode, de facto, tomar múltiplos valores, sempre que se adira ao seguinte princípio:
T > R > C > P
onde T é a tentação para trair (isto é, o que se obtém quando se deserta e o outro jogador coopera); R é a recompensa pela cooperação mútua; C é o castigo pela deserção mútua; e P é a paga do ingénuo (isto é, o que se obtém quando um jogador coopera e o outro deserta).
A matriz de ganhos seria:
O dilema do prisioneiro cumpre a fórmula: 0 > -0,5 > -5 > -10 (em negativo porquanto os números representam anos de cárcere).
Costuma também cumprir-se (T + C)/2 < R, e isto é exigido no caso iterado.
As fórmulas anteriores asseguram que, independentemente dos números exactos em cada parte da matriz de ganhos, é sempre "melhor" para cada jogador desertar, faça o que fizer o outro.
Seguindo este princípio, e simplificando o dilema do prisioneiro ao cenário da troca de malas anterior (ou a um jogo de dois jogadores tipo Axelrod — ver mais abaixo), obteremos a seguinte matriz de ganhos canónica para o dilema do prisioneiro, isto é, a que se costuma mostrar na literatura sobre este tema:
Em terminologia "ganho-ganho" a tabela seria semelhante a esta:
Exemplos na vida real
Estes exemplos em concreto em que intervêm prisioneiros, troca de malas e coisas parecidas podem parecer rebuscados, mas existem, de facto, muitos exemplos de interacções humanas e interacções naturais nas quais se obtém a mesma matriz. O dilema do prisioneiro é só por si de interesse para as ciências sociais, como a economia, a ciência política e sociologia, além das ciências biológicas como a etologia e a biologia evolutiva.
Em ciência política, por exemplo, o cenário do dilema do prisioneiro usa-se para ilustrar o problema dos estados envolvidos nas corridas às armas. Ambos concluíram que têm duas opções: ou incrementar os gastos militares, ou chegar a um acordo para reduzir o seu armamento. Nenhum dos dois estados pode estar seguro de que o outro acatará o acordo; deste modo, ambos se inclinam para a expansão militar. A ironia está em que ambos os estados parecem actuar racionalmente, mas o resultado é completamente irracional.
Outro interessante exemplo tem a ver com um conceito conhecido das corridas no ciclismo, por exemplo, na Volta à França. Considerem-se dois ciclistas a metade da corrida, com o pelotão a grande distância. Os dois ciclistas trabalham em cooperação mútua, compartindo a pesada carga da posição dianteira, donde não se podem refugiar do vento. Se nenhum dos ciclistas faz um esforço para permanecer adiante, o pelotão alcançá-los-á rapidamente (deserção mútua). Um exemplo visto com frequência é que um ciclista faz sozinho todo o seu trabalho, mantendo ambos longe do pelotão. No final, isto levará provavelmente a uma vitória do segundo ciclista, que teve uma corrida mais fácil graças o trabalho do primeiro corredor.
Por último, a conclusão teórica do dilema do prisioneiro é a razão pela qual, em muitos países, se proíbem os acordos judiciais. Frequentemente aplica-se precisamente o cenário do dilema do prisioneiro: é do interesse de ambos os suspeitos ou confessar ou testemunhar contra o outro prisioneiro/suspeito, mesmo que ambos sejam inocentes do suposto crime ou actividade ilícita. Pode-se dizer que o pior caso dá-se quando apenas um deles é culpado: não é provável que o inocente confesse, enquanto o culpado tenderá a confessar e a testemunhar contra o inocente.
O dilema do prisioneiro iterado (DPI)
No seu livro A evolução da cooperação: o dilema do prisioneiro e a teoria de jogos (1984), Robert Axelrod estudou uma extensão ao cenário clássico do dilema do prisioneiro que denominou dilema do prisioneiro iterado (DPI). Aqui, os participantes devem escolher uma e outra vez a sua estratégia mútua, e têm memória dos seus encontros prévios. Axelrod convidou colegas académicos de todo o mundo a conceber estratégias automatizadas para competir num torneio de DPI. Os programas que participaram variavam amplamente na complexidade do algoritmo: hostilidade inicial, capacidade de perdão e similares. Axelrod descobriu que quando se repetem estes encontros durante um longo período de tempo com muitos jogadores, cada um com distintas estratégias, as estratégias "egoístas" tendiam a ser piores a longo prazo, enquanto que as estratégias "altruístas" eram melhores, julgando-as unicamente com respeito ao interesse próprio. Usou isto para mostrar um possível mecanismo que explicasse o que antes tinha sido um difícil ponto na teoria da evolução: como pode evoluir um comportamento altruísta a partir de mecanismos puramente egoístas na selecção natural?
Descobriu-se que a melhor estratégia determinista era a de "olho por olho" ("tit for tat"), que foi desenvolvida e apresentada no torneio por Anatol Rapoport. Era o mais simples de todos os programas apresentados, contendo apenas quatro linhas de BASIC, e foi o que ganhou o concurso. A estratégia consiste simplesmente em cooperar na primeira iteração do jogo, e depois de isso escolher o que o oponente escolheu na ronda anterior. Uma estratégia ligeiramente melhor é "Tit for Tat com capacidade de perdão". Quando o oponente deserta, na seguinte ronda coopera-se por vezes com ele com uma pequena probabilidade (de 1% a 5%). Isto permite a recuperação ocasional de ficar encerrado num círculo vicioso de deserções. A probabilidade exacta depende do alinhamento dos oponentes. "Tit for Tat com capacidade de perdão" é a melhor estratégia quando se introduzem problemas de comunicação no jogo. Isto significa que às vezes a jogada é transmitida incorrectamente ao oponente: coopera-se mas o oponente crê que se desertou.
Tit for Tat funcionava, segundo Axelrod, por dois motivos. O primeiro é que é "amável", isto é, começa cooperando e apenas deserta como resposta à deserção de outro jogador, e assim nunca é o responsável por iniciar um ciclo de deserções mútuas. O segundo é que pode ser provocado, ao responder sempre o que faz o outro jogador. Castiga imediatamente o outro jogador se este deserta, mas igualmente responde adequadamente se cooperam de novo. Este comportamento claro e directo significa que o outro jogador entende facilmente a lógica por trás das acções de Tit for Tat, e pode portanto encontrar uma forma de trabalhar com ele produtivamente. Não é uma coincidência que a maioria das estratégias que funcionaram pior no torneio de Axelrod fossem as que não estavam desenhadas para responder às escolhas dos outros jogadores. Contra esse tipo de jogador, a melhor estratégia é desertar sempre, já que nunca se pode assegurar ter estabelecido uma cooperação mútua fiável.
Para o DPI, nem sempre é correcto dizer que uma certa estratégia é a melhor. Por exemplo, considere-se uma população onde todos desertam sempre, excepto um único indivíduo que continua a estratégia Tit for Tat. Este indivíduo tem uma pequena desvantagem porque perde a primeira ronda. Numa população com um certa percentagem de indivíduos que desertam sempre e outros que continuam a estratégia Tit for Tat, a estratégia óptima para um indivíduo depende da percentagem, e da duração do jogo. Realizaram-se simulações de populações, onde morrem os indivíduos com pontuações baixas e se reproduzem aqueles com pontuações altas. A mistura de algoritmos na população final depende da mistura na população inicial.
Se um DPI vai ser iterado exactamente N vezes, para alguma constante conhecida N, há outro dato interessante. O equilíbrio de Nash é desertar sempre. Isto prova-se facilmente por indução: Pode-se desertar a última ronda, já que o oponente não terá oportunidade de castigar. Por isso, ambos desertarão na última ronda. Então, pode-se desertar a ronda anterior, já que o oponente desertará na última faça-se o que se fizer. E continua-se deste modo. Para que a cooperação continue atractiva, o futuro deve ser indeterminado para ambos os jogadores. Uma solução consiste em fazer aleatório o número total de rondas N.
Outro caso especial é "jogar eternamente" o dilema do prisioneiro. O jogo repete-se um número infinito de rondas, e a pontuação é a média.
O jogo do dilema do prisioneiro é fundamental para entender certas teorias de cooperação e confiança humana. Na suposição de que as transacções entre duas pessoas que exijam confiança podem ser modeladas pelo dilema do prisioneiro, o comportamento cooperativo em populações pode ser modelado por uma versão para vários jogadores e iterada do jogo. Por isso tem fascinado muitos estudiosos ao longo dos anos. Uma estimativa não demasiado actualizada (Grofman and Pool, 1975) situa o número de artigos dedicados ao mesmo acima dos 2.000.
Ao analisar as estratégias que conseguiram melhor pontuação, Axelrod estabeleceu várias condições necessárias para que uma estratégia tivesse êxito:
Amabilidade
A condição mais importante é a de que a estratégia deve ser "amável", ou seja, não desertar antes que o opositor o faça. Quase todas as estratégias melhor pontuadas eram amáveis; daí uma estratégia puramente egoísta não fará "batota" com o oponente, principalmente por razões puramente utilitárias.
Retaliação
Todavia, notou Axelrod, a estratégia vencedora não pode ser optimista cega. De vez em quando tem de retaliar. Um exemplo de uma estratégia não retaliadora é a de "colaborar sempre". É uma escolha muito má, pois estratégias oportunistas ou maldosas irão explorar essa fraqueza sem piedade.
Perdão
Uma qualidade das estratégias vencedoras é que são capazes de perdoar. Embora retaliem, tornam a cooperar logo que o opositor não continue a desertar. Isto evita grandes sequências de vinganças em círculo vicioso, maximizando os pontos.
Não-inveja
A última qualidade é não serem invejosas, ou seja, não tentarem fazer mais pontos que os opositores (impossível para uma estratégia "amável", isto é, uma estratégia "amável" nunca pode fazer mais pontos que o opositor).
Assim, Axelrod atinge a conclusão talvez utópica de que os indivíduos egoístas pelo seu próprio egoísmo tenderão a ser amáveis e colaborantes, indulgentes e não invejosos. Uma das mais importantes conclusões do estudo de Axelrod's quanto a este problema é que os indivíduos "amáveis" acabam com as melhores classificações.
Sociedades secretas no dilema do prisioneiro iterado
No vigésimo aniversário da competição do dilema do prisioneiro iterado (2004), a equipe da Universidade de Southampton ganhou as primeiras posições, vencendo, entre os demais competidores, algoritmos modelo tit-for-tat e seus derivados. A competição era da variante do dilema do prisioneiro iterado com problemas de comunicação (isto é, algumas vezes não se comunicavam bem os movimentos ao outro jogador).
Nessa edição apresentaram-se 223 competidores, dos quais 60 foram inscritos por Southampton. Todos eram variantes de um mesmo algoritmo, e nas primeiras 5 a 10 iterações do dilema do prisioneiro utilizavam as suas respostas como "saudação secreta" para se identificarem entre si. Então, identificavam-se ao outro jogador como pertencentes à "sociedade", e alguns algoritmos estavam desenhados para sacrificar-se colaborando sempre, de modo que os outros, traindo-os sempre, pudessem conseguir uma pontuação máxima. Se não identificavam o outro algoritmo como pertencente à sociedade, após ver as suas jogadas iniciais, todas as variantes o traíam sempre para baixar tanto quanto possível a sua pontuação.
Essa estratégia, embora de discutível correspondência com o espírito do jogo, já que requer uma comunicação inicial entre os participantes da "sociedade" para decidir o formato da "saudação", ajusta-se às regras da competição. seguindo-a, Southampton conseguiu que três de seus participantes ocupassem as três primeiras posições, mas à custa de muitos dos seus outros algoritmos terem ficado entre os de pior pontuação.
Psicologia da aprendizagem e teoria dos jogos
Quando os jogadores aprendem a estimar a probabilidade de deserção dos outros, o seu próprio comportamento é influenciado pela sua experiência desse comportamento externo. Estatísticas simples mostram que jogadores sem experiência são mais propensos a ter globalmente interacções invulgarmente boas ou más com os outros. Se agem na base dessas experiências (desertando ou cooperando mais do que fariam em outros casos) é mais provável que sofram em transacções futuras. Ao ganhar experiência consegue-se uma impressão mais verdadeira da probabilidade de deserção e o jogo torna-se mais favorável. As transacções iniciais feitas por jogadores imaturos poderão ter maior efeito no jogo futuro do que as que o são por jogadores já experientes. Este princípio explicará porque experiências formativas de jovens são tão influentes e porque é que estes são particularmente vulneráveis a violências psicológicas como o bullying, por vezes tornando-se eles próprios abusadores.
A probabilidade de traição/deserção numa população pode ser reduzida pela experiência da cooperação em anteriores jogos permitindo a construção de uma relação de confiança. Daí o comportamento de auto-sacrifício poderá, em alguns casos, aumentar a coesão moral de um grupo. Se o grupo for pequeno o comportamento positivo é mais provável de retornar de forma mútua, encorajando os indivíduos no grupo para que continuem a cooperar. Estes processos são preocupações de relevo no estudo do altruísmo recíproco, selecção de grupo, selecção de parentesco e filosofia moral.
Variantes
Existem algumas variantes do jogo, com diferenças sutis mas importantes nas matrizes de ganhos, que se mostram de seguida.
Galinha
Outro importante jogo de soma não nula chama-se "galinha". Neste caso, se o teu oponente deserta, te beneficias mais se cooperas, e este é o teu melhor resultado. A deserção mútua é o pior resultado possível (e por isso um equilíbrio instável), enquanto que no dilema do prisioneiro o pior resultado possível é a cooperação enquanto o outro jogador deserta (assim a deserção mútua é um equilíbrio estável). Em ambos os jogos, a "cooperação mútua" é um equilíbrio instável.
Uma matriz de ganhos típica seria:
Se ambos jogadores cooperam, cada um obtém +5.
Se um coopera e o outro deserta, o primeiro obtém +1 e o outro +10.
Se ambos desertam, cada um obtém -20.
Chama-se "galinha" devido ao jogo de corridas de carros homónimo. Dois jogadores correm um contra o outro para uma aparente colisão frontal: o primeiro a desviar-se da trajectória é o galinha. Ambos os jogadores evitam o choque (cooperam) ou continuam com a trajectória (desertam). Outro exemplo é dado quando dois fazendeiros usam o mesmo sistema de irrigação nos seus campos. O sistema pode ser mantido adequadamente por uma pessoa, mas ambos os fazendeiros beneficiam disso. Se um fazendeiro não contribui para a sua manutenção, continua sendo do interesse do outro fazendeiro fazê-lo, porque beneficiará faça o que fizer o outro. Assim, se um fazendeiro pode estabelecer-se como o desertor dominante — isto é, se seu hábito ficar tão enraizado que o outro faz todo o trabalho de manutenção — seguramente continuará com esse comportamento.
Jogo de confiança
Um jogo de confiança tem uma estrutura similar ao dilema do prisioneiro, excepto que a recompensa pela cooperação mútua é maior que a outorgada pela deserção mútua. Uma matriz de vitórias típica seria:
Se ambos jogadores cooperam, cada um obtém +10.
Se um jogador coopera e o outro jogador deserta, o primeiro obtém +1 e ele +5.
Se ambos desertarem, cada um obtém +3.
O jogo de confiança é potencialmente muito estável, já que dá a máxima recompensa a jogadores que estabelecem um hábito de cooperação mútua. Apesar disto, existe o problema de que os jogadores não sejam conscientes de que está em seu interesse cooperar. Podem, por exemplo, crer incorrectamente que estão a jogar um jogo de dilema do prisioneiro ou galinha, e escolher a sua estratégia de acordo com ela.
Amigo ou inimigo
"Amigo ou inimigo" (Friend or Foe) é um jogo emitido na televisão, no canal de cabo e satélite estado-unidense Game Show Network. É um exemplo do jogo do dilema do prisioneiro provado em pessoas reais, mas num ambiente artificial. No concurso, competem três pares de pessoas. Quando cada par é eliminado, jogam a um jogo do dilema do prisioneiro para determinar como se repartem seus ganhos. Se ambos cooperam ("amigo"), compartem benefícios em 50%. Se um coopera e o outro deserta ("inimigo"), o desertor leva todos os ganhos e o cooperador nenhum. Se ambos desertam, ninguém leva nada. Adverte-se que a matriz de ganhos é ligeiramente diferente do padrão dado anteriormente, já que os ganhos de "ambos desertam" e o de "eu coopero e o outro deserta" são idênticos. Isto faz que "ambos desertam" seja um equilíbrio neutral, comparado com o dilema do prisioneiro padrão. Se sabes que o teu oponente vai votar "inimigo", então a escolha não afecta os ganhos. De certo modo, "amigo ou inimigo" encontra-se entre o dilema do prisioneiro e a galinha.
A matriz de ganhos é:
Se ambos jogadores cooperam, cada um obtém +1.
Se ambos desertam, cada um obtém 0.
Se tu cooperas e o outro deserta, tu te levas +0 e ele +2.
"Amigo ou inimigo" é útil para alguém que queira fazer uma análise do dilema do prisioneiro aplicado à vida real. Fixe-se em que apenas se pode jogar uma vez, sendo que todos os conceitos que implicam jogos repetidos não se apresentam, e não se pode desenvolver a estratégia da vingança.
Em "amigo ou inimigo", cada jogador pode fazer um comentário para convencer o outro quanto à sua amizade antes de fazer a decisão em segredo de cooperar ou desertar. Um possível modo de "ganhar ao sistema" seria dizer ao rival: "Vou escolher 'inimigo'. Se confias em que te dê a metade dos benefícios depois, escolhe 'amigo'. De outro modo, iremos ambos embora sem nada." Uma versão mais egoísta disto seria: "Vou escolher 'inimigo'. Vou dar-te X% e ficarei com (100-X)% do prémio total. Assim que (é "pegar ou largar"), ambos levamos algo ou nenhum de nós leva nada."
Agora o truque está em minimizar X de modo que o outro concorrente continue escolhendo 'amigo'. Basicamente, deve-se saber o limiar no qual a utilidade (benefícios potenciais) que o opositor ganha ao ver-nos a nada receber ultrapassa a utilidade que ele ganha no caso de alinhar no jogo cooperativo. Todavia, nos seus contratos, os jogadores tiveram de acordar que no caso em que ambos vencem, nada podem dar ao parceiro, ou arriscam o prémio inteiro.
Esta aproximação não foi tentada no jogo: é possível que os juízes não a permitissem.
A "tragédia dos comuns"
A chamada "tragédia dos comuns" (dos pastos comunitários) é um caso de dilema do prisioneiro que envolve muitos agentes e que parece referir-se a situações reais.
Na formulação que popularizou Garrett Harding, cada vizinho de uma comunidade campestre prefere alimentar o seu gado em pastos comunitários que em outros próprios de pior qualidade; se o número de vizinhos que satisfaz esta preferência superar certo limite, os pastos comunitários ficam esgotados, e é a isto precisamente que conduz a solução do jogo. Para que algum vizinho beneficie dos pastos, outros devem pagar o custo de renunciar, ou cada um deve renunciar em parte; mas o equilíbrio está na situação onde cada qual utiliza os pastos sem se preocupar com os demais.
Traduzindo a situação no esquema de Hofstadter, cada vizinho tem aqui a tentação T de beneficiar dos pastos sem pagar o custo; a recompensa R pela cooperação mútua consiste em negociar quantos hão-de deixar de beneficiar dos pastos comunitários para os conservar em boas condições; o castigo C é para todos, quando cada um cede à tentação, e é a ruína dos pastos; a perda P é a de que ao não se aproveitar dos pastos comunitários, se permita que outros o venham a fazer. Estas possibilidades combinam-se como no dilema do prisioneiro bipessoal, fazendo que perante o risco de receber P, a paga do ingénuo, todos cedam à tentação de não cooperar e provoquem a situação de castigo.
A mesma estrutura pode aplicar-se a qualquer dinâmica de esgotamento de recursos por sobre-exploração, e parece estar no origem da contaminação ambiental – onde uma atmosfera não contaminada poderia desempenhar o papel dos pastos comunitários -, e o automóvel privado o papel do gado-. Interpretou-se que evitar soluções sub-óptimas como estas passa pela privatização dos bens de acesso público, limitando em função da renda o número de pessoas que podem cair na tentação.
Para o filósofo inglês Derek Parfit, são os jogos de muitos agentes, como a "tragédia dos comuns" – e não os jogos bipessoais ou os jogos iterados -, os que têm mais interesse para estudar a lógica do dilema do prisioneiro: por um lado, a situação que os provoca não depende de ganhos desenhados externamente - por um experimentador ou uma instituição-, mas da simples concorrência de múltiplos agentes; por outro, quantos mais sejam os participantes, mais irracional é abandonar unilateralmente a solução sub-óptima que leva a C – mais improvável são os benefícios de não ceder à tentação T -, e menos peso têm as soluções que se postulam em contextos artificiais de iteração. Em suma, o grande número de participantes é para Parfit tanto causa como garantia de que a não cooperação seja uma solução estável, e fá-la permanente e inevitável (para agentes racionais que procurem satisfazer o seu próprio interesse).
Paula Casal afirma que a capacidade secular das comunidades indígenas para manter em bom estado os pastos comunitários desmente a inevitabilidade de C, graças "à educação, aos costumes, aos conselhos dos anciãos ou a outras instituições sociais". Parece então que o dilema se supera graças à paradoxal receita que admite Parfit: o próprio interesse prescreve que, para chegar a soluções óptimas de Pareto estáveis, os indivíduos devem ser educados em teorias morais contrárias à satisfação do próprio interesse.
Bibliografia
Uma Mente Brilhante – Sylvia Nasar
The Handbook of Experimental Economics - John H. Kagel e Alvin E. Roth
Referências
Fontes
Axelrod, Robert e Hamilton, William D. (1981). The Evolution of Cooperation. Science, 211:1390-1396.
Axelrod, Robert (1986). La evolución de la cooperación: el dilema del prisionero y la teoría de juegos.
Grofman and Pool (1975). Bayesian Models for Iterated Prisoner's Dilemma Games. General Systems 20:185-94.
Hofstadter, Douglas R. (1985) The Prisoner's Dilemma Computer Tournaments and the Evolution of Cooperation Ch.29 en Metamagical Themas: questing for the essence of mind and pattern (ISBN 0465045669).
Poundstone, William (1995). El dilema del prisionero: John Von Neumann, la teoría de juegos y la bomba. Doubleday. ISBN 8420607479.
Wired News sobre a competição do 20º aniversário do DPI
Parfit, Derek (1987), Razones y personas. ISBN 8477747709.
Ligações externas
La Tragedia de los Comunes
Prisoner's Dilemma
Geopolítica
Teoria dos jogos
Experimentos mentais
prisioneiro | 26,452 |
667 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Dod%C3%B4 | Dodô | (nome científico: Raphus cucullatus) é uma espécie extinta de ave da família dos pombos que era endêmica de Maurício, uma ilha no Oceano Índico a leste de Madagascar. Era incapaz de voar e não tinha medo de seres humanos, pois evoluiu isolado e sem predadores naturais na ilha que habitava. Foi descoberto em 1598 por navegadores holandeses, e totalmente exterminado menos de cem anos mais tarde. A ave era caçada para servir de alimento para os marinheiros, e depois sofreu com o desmatamento e introdução de animais exóticos. Essa trágica história tornou o dodô um verdadeiro ícone da extinção. É considerado o mais famoso animal extinto em tempos históricos, com notável presença na cultura popular.
O dodô tinha cerca de um metro de altura e podia pesar mais de 20 kg na natureza. Sua aparência externa é conhecida apenas por pinturas e textos escritos no século XVII, e, por conta da escassez dessas descrições, ainda é um mistério; assim como pouco se sabe sobre seu habitat e comportamento. Foi descrito com plumagem cinza-acastanhada, patas amarelas, um tufo de penas na cauda, cabeça cinza sem penas, e o bico preto, amarelo e verde. A moela ajudava a ave a digerir os alimentos, incluindo frutas, e acredita-se que o principal habitat tenha sido as florestas costeiras nas áreas mais secas da ilha. Presume-se que o dodô tenha deixado de voar devido à facilidade de se obter alimento e a relativa inexistência de predadores em Maurício.
As primeiras menções conhecidas de dodôs foram feitas por marinheiros holandeses em 1598. Nos anos seguintes, a ave foi predada pelas tripulações famintas e seus animais domésticos, além de sofrer com a competição com espécies invasoras introduzidas. Estima-se que apenas onze dodôs levados de Maurício chegaram vivos aos seus destinos na Europa e no Oriente. A última ocasião aceita em que a ave foi vista data de 1662. A extinção não foi imediatamente noticiada e houve quem o considerasse uma criatura mítica. Por muito tempo, os únicos restos de dodô conhecidos foram de quatro exemplares incompletos do século XVII, até que a partir de 1860 uma grande quantidade de ossos fósseis começou a ser descoberta em Maurício, a maioria do pântano Mare aux Songes. A extinção do dodô em apenas cerca de um século após seu descobrimento chamou a atenção para um problema previamente desconhecido da humanidade: o desaparecimento por completo de diversas espécies.
A ave geneticamente mais próxima do dodô foi o também extinto solitário-de-rodrigues; juntos, eles compõem a subfamília Raphinae, dentro da família Columbidae, que engloba todos os pombos. Seu "primo" vivo mais próximo é o pombo-de-nicobar. Durante algum tempo, pensou-se erroneamente que existisse um dodô branco na vizinha ilha de Reunião, sabe-se hoje que essa ave na verdade é o íbis-terrestre-de-reunião. O dodô ficou amplamente conhecido por ser um dos personagens de Alice no País das Maravilhas. Aparece em animações, séries de TV e filmes, e na cultura popular é frequentemente usado como símbolo de extinção e obsolescência. O dodô virou mascote de Maurício, e sua imagem já estampou moedas locais.
Taxonomia
As primeiras descrições de cientistas retratavam o dodô de diversas maneiras: um pequeno avestruz, um frango-d'água, um tipo de albatroz e até mesmo uma espécie de abutre. Em 1842, o zoólogo dinamarquês Johannes Reinhardt propôs que os dodôs eram pombos terrestres, baseado no estudo de um crânio de dodô descoberto por ele mesmo na coleção real dinamarquesa em Copenhague. Esta ideia foi considerada ridícula a princípio, mas posteriormente recebeu apoio de Hugh Strickland e Alexander Melville na monografia deles publicada em 1848 — The Dodo and Its Kindred — na qual tentaram separar o que era mito e o que era realidade sobre a ave. Após dissecarem a cabeça e um pé preservados do espécime do Museu da Universidade de Oxford, e comparar com vestígios do também extinto solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), descobriram grandes semelhanças entre essas espécies. Strickland constatou que não eram idênticas, mas compartilhavam muitas características peculiares nos ossos das pernas, então conhecidas apenas em pombos.
A anatomia do dodô era parecida com a dos pombos em muitos aspectos. Strickland e Melville observaram que apenas uma pequena parte na extremidade do longo bico da ave é queratinizada, sendo a porção basal maior, delgada e pouco protegida. Pombos têm pele sem penas na região ao redor dos olhos e próxima ao bico, assim como os dodôs. A fronte era alta em relação ao bico, e a narina tinha uma localização baixa no meio do bico, sendo circundada por pele, uma combinação de características compartilhada somente com pombos. As pernas do dodô eram de um modo geral mais parecidas com as dos pombos terrestres do que com as de outras aves, tanto em relação às escamas como ao esqueleto. Representações de grandes papos sugerem parentesco com pombos, nos quais esses órgãos são bem desenvolvidos. A maioria dos pombos possuem ninhadas muito pequenas, e acredita-se que as fêmeas de dodô punham um único ovo por vez. Assim como os pombos, o dodô não tinha o osso vômer nem o septo das narinas, e compartilhava detalhes na mandíbula, no osso zigomático, no palato e no hálux. O dodô diferia de pombos principalmente pelo pequeno tamanho da asa e o grande bico em proporção ao resto do crânio.
Ao longo do século XIX, várias espécies foram classificadas como congêneres do dodô, incluindo o solitário-de-rodrigues e o íbis-terrestre-de-reunião, batizados respectivamente como Didus solitarius e Raphus solitarius (Didus e Raphus foram nomes de gêneros propostos para o dodô e eram usados por diferentes autores da época). Uma atípica descrição do século XVII sobre um dodô e um esqueleto encontrado na ilha Rodrigues, que atualmente se sabe que pertence a um solitário-de-rodrigues, levou Abraham Dee Bartlett a nomear uma nova espécie, Didus nazarenus, em 1852. Como foi baseado em vestígios de solitários, o termo é atualmente um sinônimo para esta espécie. Desenhos simples de outra ave endêmica, a galinhola-vermelha-de-maurício, também foram erroneamente interpretados como espécies de dodôs: Didus broeckii e Didus herberti.
Etimologia
Um dos primeiros nomes que o dodô recebeu foi Walghvogel, em holandês. Este termo foi usado pela primeira vez no diário de bordo do vice-almirante Wybrand van Warwijck, que visitou Maurício durante a Segunda Expedição Holandesa à Indonésia em 1598. Walghe quer dizer "sem gosto", "insípido" ou "desagradável", e vogel significa "pássaro". O nome foi traduzido para o idioma alemão como Walchstök ou Walchvögel, por Jakob Friedlib. O relatório holandês original, intitulado Waarachtige Beschryving, foi perdido; mas sua tradução para o inglês sobreviveu:
"À esquerda deles havia uma pequena ilha a qual deram o nome de ilha Hemskerk, e a uma baía nela chamaram baía Warwick (...). Ali permaneceram por 12 dias para descansar, encontrando neste lugar grande quantidade de aves duas vezes maiores que cisnes, as quais chamaram de Walghstocks ou Wallowbirdes, sendo muito boa sua carne. Mas quando encontraram pombos e papagaios em abundância, desdenharam de comer mais dessas grandes aves, chamando-as Wallowbirds, que quer dizer pássaro enjoativo ou repugnante.
Dos referidos pombos e papagaios, os encontraram em abundância, tendo a carne muito gordurosa e saborosa; esses pássaros podem ser facilmente capturados e mortos com pequenas varas: eles são tão mansos assim porque a ilha não é habitada, também porque nenhuma criatura que vive ali é acostumada a avistar homens."Tradução livre de: "On their left hand was a little island which they named Heemskirk Island, and the bay it selve they called Warwick Bay ... Here they taried 12. daies to refresh themselues, finding in this place great quantity of foules twice as bigge as swans, which they call Walghstocks or Wallowbirdes being very good meat. But finding an abundance of pigeons & popinnayes [parrots], they disdained any more to eat those great foules calling them Wallowbirds, that is to say lothsome or fulsome birdes. Of the said Pidgeons and Popiniayes they found great plenty being very fat and good meate, which they could easily take and kil euen with little stickes: so tame they are by reason ý the Isle is not inhabited, neither be the liuing creatures therein accustomed to the sight of men.".
Outro relato daquela viagem, talvez o primeiro a mencionar o dodô, afirma que os portugueses se referiam àquelas aves como pinguins, mas o termo pode não ter se originado de pinguim (pois o idioma português da época tratava tal ave como "sotilicário"), e sim de pinion, uma alusão às pequenas asas. A tripulação do navio holandês Gelderland chamou a ave de "dronte" (que significa "inchado") em 1602, palavra até hoje usada em algumas línguas. Esta tripulação também se referia aos dodôs como "griff-eendt" e "kermisgans", em referência às aves domésticas engordadas para um tradicional festival (quermesse) em Amsterdã, realizado no dia seguinte ao ancoramento deles na ilha Maurício.
A origem da palavra dodô não está clara. Alguns a atribuem a dodoor, que em holandês quer dizer "preguiçoso", porém é mais provável que venha de Dodaars, que pode significar "traseiro gordo" ou "nó no traseiro", referindo-se ao "nó" de penas na parte de trás do animal. O primeiro registro da palavra Dodaars está no diário do capitão Willem Van West-Zanen de 1602. O historiador inglês Thomas Herbert foi o primeiro a usar a palavra dodô na imprensa, em 1634, no seu livro de viagens, alegando que foi referido como tal pelos portugueses, que tinham visitado Maurício em 1507. Outro inglês, Emmanuel Altham, usou a palavra numa carta de 1628, na qual ele também alegou a origem na língua portuguesa. O nome dodar foi introduzido em inglês, ao mesmo tempo que dodô, mas só foi utilizado até o século XVIII. Pelo que se sabe atualmente, os portugueses nunca mencionaram a ave. No entanto, algumas fontes ainda afirmam que a palavra dodô deriva da palavra "doudo" em português antigo (atualmente "doido"). Também tem sido sugerido que "dodô" é uma aproximação onomatopoeica do canto da ave, um som de duas notas parecido com o emitido por um pombo, e que se assemelharia a "doo-doo".
O termo em latim cucullatus ("bordado") foi utilizado pela primeira vez por Juan Eusebio Nieremberg em 1635 como Cygnus cucullatus, em referência a uma representação de dodô feita por Carolus Clusius em 1605. Em sua obra clássica do século XVIII, "Systema Naturae", Carlos Lineu usou o nome específico cucullatus, mas combinou com o nome do gênero Struthio (avestruz). Mathurin Jacques Brisson cunhou o nome do gênero Raphus (referindo-se às abetardas) em 1760, resultando no nome atual: Raphus cucullatus. Em 1766, Lineu criou um novo nome binominal: Didus ineptus (que significa "dodô inepto"), mas posteriormente este termo veio a ser sinônimo do nome anterior em razão da prioridade nomenclatural.
Evolução
Durante muitos anos o dodô e o solitário-de-rodrigues foram catalogados numa família só deles, a Raphidae (antes denominada Dididae), já que o parentesco com outros pombos não estava suficientemente esclarecido. Depois, cada um foi classificado em sua própria família monotípica (Raphidae e Pezophapidae, respectivamente), pois acreditava-se que haviam desenvolvido suas características similares de forma independente. Informações osteológicas e moleculares levaram à dissolução da família Raphidae, e tanto o dodô como o solitário-de-rodrigues estão hoje alocados numa única subfamília, Raphinae, dentro da família Columbidae, que engloba todos os pombos modernos.
A comparação do citocromo b mitocondrial e das sequências 12S de RNA ribossomal, isolados de um tarso de dodô e de um fêmur de solitário-de-rodrigues, confirmou o parentesco próximo entre essas duas aves, bem como sua classificação dentro da família Columbidae. A interpretação dessas evidências genéticas mostrou que o "primo" vivo mais próximo do dodô é o pombo-de-nicobar, que habita o sudeste asiático, seguido pelas gouras da Nova Guiné e pelo Didunculus strigirostris de Samoa. O nome do gênero deste último, Didunculus, significa "pequeno dodô" em latim; a ave foi chamado pelo famoso naturalista Richard Owen de "dodlet". O cladograma a seguir, formulado por Beth Shapiro e colaboradores em 2002, mostra as relações do dodô com outros pombos dentro da família Columbidae.
Um cladograma similar, publicado em 2007, inverte os lugares da goura e do Didunculus, além de incluir o Otidiphaps nobilis e o Trugon terrestris na base do clado. Após estudar evidências comportamentais e morfológicas, Jolyon C. Parish propôs que o dodô e o solitário-de-rodrigues devem ser alocados na subfamília Gourinae junto com as pombas gouras e outras espécies, em acordo com os dados genéticos. Em 2014, a análise do DNA do único exemplar que restou do Caloenas maculata mostrou que ele é um parente próximo do pombo-de-nicobar, e, sendo assim, também é "primo" do dodô e do solitário-de-rodrigues.
Um estudo de 2002 indicou que os ancestrais do dodô e do solitário divergiram em torno do limite Paleogeno-Neogeno. As ilhas Mascarenhas (Maurício, Reunião e Rodrigues) são de origem vulcânica e têm menos de 10 milhões de anos de idade. Portanto, os antepassados de ambas as aves provavelmente permaneceram capazes de voar por um tempo considerável após a separação de suas linhagens. Os ancestrais dos Raphinae podem ter se espalhado a partir do sudeste asiático por salto de dispersão entre ilhas. A falta de mamíferos herbívoros competindo pelos recursos dessas ilhas permitiu que o solitário e o dodô perdessem a capacidade de voar e aumentassem muito de tamanho, fenômeno chamado de gigantismo insular. Outro pombo grande e incapaz de voar, o Natunaornis gigoura, foi descrito em 2001 a partir de material fóssil coletado em Fiji. Ele era apenas um pouco menor do que o dodô e o solitário-de-rodrigues, e também acredita-se que pode ter parentesco com os pombos coroados do gênero Goura.
Descrição
Como não restou nenhum exemplar completo de dodô, é difícil determinar com exatidão como era sua aparência externa, incluindo sua cor e plumagem. Ilustrações e relatos escritos de encontros com dodôs no período entre sua descoberta e extinção (1598 a 1662) são as evidências mais confiáveis sobre a aparência da ave. De acordo com a maioria das representações, o dodô tinha uma plumagem acinzentada ou acastanhada, com penas primárias mais claras e um tufo de penas leves encaracoladas na extremidade do traseiro. A cabeça era cinza e nua, o bico verde, preto e amarelo, e as pernas eram robustas e amareladas, com garras pretas. A ave apresentava dimorfismo sexual: machos eram maiores e possuíam bicos proporcionalmente mais longos. O bico media até 23 centímetros de comprimento e tinha uma parte em forma de gancho.
Fósseis achados em Maurício e restos dos dôdos levados para a Europa no século XVII mostram que eram animais muito grandes, tinham um metro de altura e, possivelmente, pesavam até 23 kg. Os maiores pesos foram atribuídos às aves em cativeiro; estima-se que na natureza pesavam na faixa 10,6 a 21,1 kg. Uma estimativa posterior apontou um peso médio mais baixo, de apenas 10,2 kg. Este dado tem sido questionado e ainda há controvérsias. Especialistas acreditam ainda que o peso do dodô variava conforme a estação do ano: eles seriam gordos durante as estações frias, mas nem tanto durante as quentes. Um estudo das poucas penas remanescentes na cabeça do exemplar de Oxford mostrou que elas eram penáceas em vez de plumáceas, e muito semelhantes as de outros pombos.
Muitas das características do esqueleto que distinguem o dodô e o solitário-de-rodrigues, seu parente mais próximo, de outros pombos têm sido atribuídas a sua incapacidade de voar. Os elementos pélvicos eram mais densos do que os dos pombos voadores; assim, o dodô e solitário-de-rodrigues podiam suportar um peso corporal maior. Além disso, a região peitoral e as pequenas asas eram pedomórficas, ou seja, durante a evolução, foram retidas na idade adulta algumas características típicas do período juvenil. O crânio, tronco e membros pélvicos eram peramórficos, o que significa que eles mudavam consideravelmente com a idade. O dodô compartilhava vários outros traços com o solitário-de-rodrigues, como características do crânio, pelve e esterno, bem como um porte grande. É diferente em outros aspectos, sendo mais robusto e mais curto do que o solitário-de-rodrigues, tendo crânio e bico maiores, a porção superior do crânio arredondada e órbitas menores. O pescoço e as pernas do dodô eram proporcionalmente mais curtos, e a ave de Maurício não dispunha de um equivalente à calosidade presente nos punhos do solitário-de-rodrigues.
Descrições contemporâneas
A maioria das descrições contemporâneas do dodô são encontradas em diários de bordo e documentos de navios da Companhia Holandesa das Índias Orientais que atracaram em Maurício no século XVII, na época governada pelo Império Holandês. Esses registros foram utilizados como guias para as viagens seguintes. Poucos relatos sobre o dodô são confiáveis: boa parte parece basear-se em descrições prévias, e nenhum deles foi escrito por cientistas.
Um dos primeiros registros sobre a fauna de Maurício, do diário de van Warwijck de 1598, descreve o dodô da seguinte maneira:
Papagaios azuis são muito numerosos por lá, bem como outras aves; entre as quais há uma espécie, conspícua pelo seu tamanho, maior do que os nossos cisnes, com enormes cabeças cobertas apenas a metade com pele, como se vestida com um capuz. Estas aves não possuem asas, no lugar das quais 3 ou 4 penas enegrecidas se sobressaem. A cauda consiste de algumas penas moles e encurvadas, que são de cor cinza. Costumávamos chama-las de 'Walghvogel', porque quanto mais cozinhávamos, menos macia e mais insípida a carne delas ficava. Não obstante, sua barriga e peito eram de um sabor agradável e facilmente mastigáveis.Tradução livre de: "Blue parrots are very numerous there, as well as other birds; among which are a kind, conspicuous for their size, larger than our swans, with huge heads only half covered with skin as if clothed with a hood. These birds lack wings, in the place of which 3 or 4 blackish feathers protrude. The tail consists of a few soft incurved feathers, which are ash coloured. These we used to call 'Walghvogel', for the reason that the longer and oftener they were cooked, the less soft and more insipid eating they became. Nevertheless their belly and breast were of a pleasant flavour and easily masticated.".
Uma das descrições mais detalhadas foi feita pelo historiador inglês Thomas Herbert na obra A Relation of Some Yeares Travaille into Afrique and the Greater Asia, datada de 1634:
Apenas aqui e em Dygarrois [ilha Rodrigues, provavelmente referindo-se ao solitário] nasce o dodô, que por forma e raridade pode antagonizar a fênix da Arábia: seu corpo é redondo e gordo, poucos pesam menos de 50 libras. Serve mais para admirar do que como comida, estômagos fortes podem aceitá-lo, mas para os delicados são ofensivos e sem serventia como alimento. Sua fisionomia revela melancolia, como se consciente do insulto da natureza em conceber um corpo tão grande para ser guiado com asas tão pequenas e impotentes, que servem apenas para provar que é uma ave. A metade de sua cabeça é nua, parecendo estar coberta com um fino véu, seu bico é encurvado para baixo, no meio dele fica a narina, daí até a extremidade é verde-claro, misturado com uma coloração amarela-pálida; seus olhos são pequenos e lembram diamantes redondos; suas plumas macias, sua cauda tem três pequenas plumas, curtas e desproporcionais, suas pernas se adaptaram ao corpo, suas garras afiadas, seu apetite forte e voraz. Pedras e ferro são digeridos, cuja descrição será mais bem exprimida em sua representação.Tradução livre de: "First here only and in Dygarrois [Rodrigues, likely referring to the solitaire] is generated the Dodo, which for shape and rareness may antagonize the Phoenix of Arabia: her body is round and fat, few weigh less than fifty pound. It is reputed more for wonder than for food, greasie stomackes may seeke after them, but to the delicate they are offensive and of no nourishment. Her visage darts forth melancholy, as sensible of Nature's injurie in framing so great a body to be guided with complementall wings, so small and impotent, that they serve only to prove her bird. The halfe of her head is naked seeming couered with a fine vaile, her bill is crooked downwards, in midst is the trill [nostril], from which part to the end tis a light green, mixed with pale yellow tincture; her eyes are small and like to Diamonds, round and rowling; her clothing downy feathers, her train three small plumes, short and inproportionable, her legs suiting her body, her pounces sharpe, her appetite strong and greedy. Stones and iron are digested, which description will better be conceived in her representation.".
Representações contemporâneas
O diário de bordo do navio holandês Gelderland (1601-1603), redescoberto na década de 1860, contém os únicos esboços conhecidos de dodôs, vivos ou recém-mortos, desenhados em Maurício. A autoria foi atribuída ao artista profissional Joris Joostensz Laerle, que também desenhou outras aves já extintas da ilha, e a um segundo artista menos refinado. Além destes desenhos, não se sabe quantas ilustrações de dôdos foram feitas usando como modelo animais vivos ou empalhados, o que afeta sua confiabilidade. Como os dodôs são conhecidos apenas por alguns poucos restos físicos e descrições, as obras de arte contemporâneas são importantes para reconstruir sua aparência em vida. Embora tenha havido um esforço desde meados do século XIX para listar todas as ilustrações históricas da espécie, representações antes desconhecidas continuam sendo descobertas ocasionalmente.
Todas as representações feitas após o ano de 1638 parecem ser baseadas em imagens anteriores, na medida em que menções ao dodô em relatos de viagem tornavam-se cada vez mais raros. As diferenças nas ilustrações levaram autores como Anthonie Cornelis Oudemans e Masauji Hachisuka a especular sobre dimorfismo sexual, traços ontogênicos, variação sazonal, e até mesmo a existência de espécies diferentes de dodôs, mas essas hipóteses não são aceitas atualmente. Certos detalhes, como as marcas do bico, a forma das penas da cauda e a cor do animal, variam de relato para relato, o que torna impossível determinar a morfologia exata dessas características, se elas sinalizam idade ou sexo, ou mesmo se refletem a realidade. O especialista em dodôs Julian Hume acredita que as narinas do dodô vivo tinham o formato de fenda, como visto nos desenhos do Gelderland, de Cornelis Saftleven, da Galeria de Arte Crocker e do indiano Ustad Mansur. De acordo com esse raciocínio, as narinas abertas, frequentemente vistas em pinturas, indicam que espécimes empalhados foram utilizados como modelos.
A imagem tradicional do dodô é de uma ave muito gorda e desajeitada, mas esta perspectiva pode ser exagerada. A opinião geral dos cientistas hoje é a de que muitas representações europeias antigas foram baseadas em aves cativas superalimentadas, ou em espécimes empalhados grosseiramente. Também foi sugerido que as imagens podem mostrar dodôs com penas bufantes, como parte do comportamento de exibição. O pintor holandês Roelant Savery foi o ilustrador mais influente e prolífico do dodô. Ele fez pelo menos dez representações, muitas vezes mostrando a ave no canto inferior das telas. Uma famosa pintura sua, datada de 1626, agora chamada Edward's Dodo por ter pertencido ao ornitólogo George Edwards, tornou-se a imagem padrão do animal. A pintura, atualmente guardada no Museu de História Natural de Londres, mostra uma ave particularmente gorda e serviu como inspiração para muitas outras ilustrações de dodôs.
Uma pintura mogol redescoberta em São Petersburgo na década de 1950 mostra um dodô junto a aves indianas. A gravura retrata uma ave acastanhada e mais esbelta que a dos desenhos europeus. Tanto seu descobridor, A. Iwanow, como o especialista em dodôs Julian Hume, a consideram como uma das representações mais precisas de um dodô vivo; as aves ao redor são claramente identificáveis e representados com uma coloração adequada. Acredita-se ser do século XVII e a autoria foi atribuída ao artista Ustad Mansur. O exemplar retratado provavelmente viveu no zoológico do imperador mogol Jahangir, localizado em Surat, onde o viajante inglês Peter Mundy também afirmou ter visto dodôs. Em 2014, uma outra ilustração indiana de um dodô foi encontrada, mas descobriu-se que foi derivada de uma ilustração alemã de 1836.
Comportamento e ecologia
Pouco se sabe sobre o comportamento do dodô, pois a maioria das descrições da época são muito breves. Com base em estimativas de peso, acredita-se que o macho pudesse chegar a 21 anos de idade, e as fêmeas 17. Estudos de cantiléver da força de seus ossos da perna indicam que ele poderia correr muito rápido. Ao contrário do solitário-de-rodrigues, não há nenhuma evidência de que o dodô usasse suas asas em combate com outros indivíduos da mesma espécie. Embora alguns ossos tenham sido encontrados com fraturas curadas, tinha músculos peitorais fracos e asas mais reduzidas em comparação com o solitário-de-rodrigues. O dodô pode sim ter usado seu grande bico encurvado em disputas territoriais. Uma vez que Maurício recebe mais chuva e tem menor variação sazonal do que Rodrigues, o que afeta a disponibilidade de recursos nesta ilha, os dodôs teriam menos motivos para evoluir para um comportamento territorial agressivo. O solitário-de-rodrigues foi, portanto, provavelmente o mais agressivo dos dois.
O habitat preferido do dodô é desconhecido, mas as descrições antigas sugerem que habitavam as florestas sobre as áreas costeiras mais secas do sul e oeste da ilha. Esta opinião é corroborada pelo fato de que o pântano Mare aux Songes fica perto do mar no sudeste de Maurício. Tal distribuição limitada na ilha poderia muito bem ter contribuído para a sua extinção. O mapa de 1601 do diário de bordo do navio Gelderland mostra uma pequena ilha ao longo da costa de Maurício, onde dodôs foram capturados. Julian Hume sugeriu esta ilha era a ilha Benitiers, na baía Tamarin, costa oeste de Maurício. Ossos fósseis também foram encontrados dentro de cavernas em regiões mais altas, indicando que o animal poderia habitar as montanhas. O trabalho no pântano Mare aux Songes mostrou que seu habitat era dominada por árvores tambalacoques e do gênero Pandanus, além de palmeiras endêmicas.
Muitas espécies endêmicas de Maurício foram extintas após a chegada dos seres humanos, de modo que o ecossistema da ilha está atualmente muito danificado e difícil de ser reconstruído. Antes da chegada dos colonos, Maurício era inteiramente coberta por florestas, da qual muito pouco resta hoje devido ao desmatamento. A fauna endêmica sobrevivente ainda está seriamente ameaçada. O dodô viveu ao lado de outras aves da ilha Maurício recém-extintas, como a galinhola-vermelha-de-maurício, papagaio-de-bico-largo, papagaio-cinzento-de-maurício, pombo-azul-de-maurício, coruja-de-maurício, Fulica newtonii (uma carqueja), Alopochen mauritiana (um ganso), Anas theodori (um pato), e Nycticorax mauritianus (um socó). Répteis extintos de Maurício incluem as duas espécies de tartarugas-gigantes endêmicas (Cylindraspis inepta e C. triserrata), o lagarto Leiolopisma mauritiana, e a jiboia-da-ilha-round. A Pteropus subniger e o caracol Tropidophora carinata viveram na ilha Maurício e ilha da Reunião, mas desapareceram de ambas as ilhas. Algumas plantas, como a Casearia tinifolia e a Angraecum palmiforme, também se tornaram extintas.
Dieta
Um documento holandês de 1631, redescoberto em 1887 mas agora perdido, é o único relato sobre a dieta do dodô. Ele também menciona que a ave usava seu bico para se defender:
Esses maiores são soberbos e orgulhosos. Mostram-se para nós com caras duras e severas, e bocas escancaradas. De marcha desenvolta e audaz, eles dificilmente movem um pé diante de nós. Sua arma de guerra era a boca, com a qual podem bicar ferozmente; sua alimentação era de frutos; eles não eram muito bem emplumados, mas abundantemente cobertos com gordura. Muitos deles foram trazidos a bordo, para o deleite de todos nós.Tradução livre de: "These mayors are superb and proud. They displayed themselves to us with stiff and stern faces, and wide-open mouths. Jaunty and audacious of gait, they would scarcely move a foot before us. Their war weapon was their mouth, with which they could bite fiercely; their food was fruit; they were not well feathered but abundantly covered with fat. Many of them were brought onboard to the delight of us all.".
Além de frutos caídos, o dodô provavelmente subsistiu com nozes, sementes, bulbos e raízes. Também foi sugerido que o dodô pudesse comer caranguejos e mariscos, como seus parentes pombos coroados. Seus hábitos alimentares devem ter sido versáteis, uma vez que provavelmente foram dadas a espécimes cativos uma grande variedade de comida nas longas viagens pelo mar. Anthonie Oudemans sugeriu que como Maurício tem estações seca e chuvosa bem definidas, o dodô provavelmente engordava comendo frutos maduros no fim da estação chuvosa para sobreviver à estação seca, quando a comida era escassa; relatos contemporâneos descrevem o apetite "ganancioso" da ave. France Staub sugeriu que eles eram alimentados principalmente com frutos de palmeiras, e ele tentou correlacionar o ciclo de engorda do dodô com o regime de frutificação desses vegetais.
Várias fontes da época afirmam que o dodô usava pedras na moela para auxiliar na digestão. O escritor Inglês Sir Hamon L'Estrange testemunhou um exemplar ao vivo em Londres e descreveu-o da seguinte maneira:
Em 1638, enquanto eu caminhava pelas ruas de Londres, vi uma imagem de um pássaro de aparência estranha pendurada numa cobertura e eu, em companhia de mais um ou dois, entrei para vê-lo. Era mantido numa câmara, e era uma ave grande, um pouco maior que um peru macho, com pernas e pés parecidos, porém mais grossos e robustos e de forma mais ereta, colorido na parte da frente como o peito de um faisão macho jovem, e na traseira com uma tonalidade amarelo-acinzentada. O tratador o chamava de dodô, e na câmara havia um recipiente com pedras de seixos, as quais deu várias à ave na nossa frente, algumas tão grande como uma noz, e o tratador nos contou que a ave as comia (para ajudar na digestão), e embora eu não lembre se o tratador foi questionado sobre mais detalhes, estou seguro de que depois ela botava tudo pra fora novamente.Tradução livre de: "About 1638, as I walked London streets, I saw the picture of a strange looking fowle hung out upon a clothe and myselfe with one or two more in company went in to see it. It was kept in a chamber, and was a great fowle somewhat bigger than the largest Turkey cock, and so legged and footed, but stouter and thicker and of more erect shape, coloured before like the breast of a young cock fesan, and on the back of a dunn or dearc colour. The keeper called it a Dodo, and in the ende of a chymney in the chamber there lay a heape of large pebble stones, whereof hee gave it many in our sight, some as big as nutmegs, and the keeper told us that she eats them (conducing to digestion), and though I remember not how far the keeper was questioned therein, yet I am confident that afterwards she cast them all again".
Não se sabe como os filhotes eram alimentados, mas os pombos, "primos" dos dodôs, fornecem leite de papo a suas crias. Representações da época mostram a ave com um grande papo, que provavelmente era usado tanto para armazenar o alimento ingerido como para a produção do leite de papo. Especialistas acreditam que o tamanho máximo que os dodôs e solitários-de-rodrigues atingiam era limitado pela quantidade de leite de papo que pudessem produzir para os filhotes durante seu crescimento inicial.
Em 1973, cientistas propuseram que o tambalacoque, também conhecido como árvore-dodô, estava desaparecendo de Maurício, ilha na qual é endêmico. Havia supostamente apenas 13 exemplares restantes, todos com idade estimada em cerca de 300 anos. Stanley Temple formulou a hipótese de que a árvore dependia do dodô para sua propagação, e que suas sementes somente germinavam depois de passar pelo aparelho digestivo da ave. Ele alegou que o tambalacoque estava praticamente co-extinto por causa do desaparecimento do dodô. Porém, Temple não viu relatos da década de 1940 que diziam que sementes da árvore germinaram, embora muito raramente, sem serem submetidas à digestão. Outros contestaram sua hipótese e sugeriram que o declínio da árvore foi exagerado, ou que as sementes também eram disseminadas por outros animais extintos, como as tartarugas Cylindraspis, morcegos-da-fruta ou o papagaio-de-bico-largo. De acordo com Wendy Strahm e Anthony Cheke, dois especialistas na ecologia das ilhas Mascarenhas, a árvore, apesar de rara, germinou desde o desaparecimento do dodô em números de várias centenas, e não 13, como reivindicado por Temple, portanto, desacreditam da visão dele quando afirma que o dodô era um único responsável pela sobrevivência da árvore.
O ornitólogo brasileiro Carlos Yamashita sugeriu em 1997 que o papagaio-de-bico-largo pode ter dependido de dodôs e de tartarugas Cylindraspis para comer frutos de palmeiras e excretar as suas sementes, para então virar alimento para os papagaios. Araras do gênero Anodorhynchus necessitavam da mesma forma da agora extinta megafauna sul-americana, mas agora dependem de gado domesticado para este serviço.
Reprodução
Como era uma ave terrestre e incapaz de voar, e por não haver mamíferos predadores nem outros tipos de inimigos naturais em Maurício, o dodô provavelmente construía seus ninhos sobre o solo. O relato de François Cauche, em 1651, é a única descrição do ovo e do som emitido pelo animal:
Tenho visto em Maurício aves maiores que um cisne, sem penas no corpo, o qual é coberto por uma penugem preta; a parte posterior é redonda, o traseiro adornado com penas encaracoladas em quantidade proporcional à idade do pássaro. No lugar das asas eles têm penas como estas últimas, pretas e curvas, sem tramas. Eles não têm línguas, o bico é grande, curvando-se um pouco para baixo; suas pernas são longas, escamosas, com apenas três dedos em cada pé. Tem um grito parecido com o de um ganso, e em hipótese alguma são tão saborosos para comer como os flamingos e patos dos quais falamos há pouco. Eles põe apenas um ovo, que é branco e do tamanho de um rolo de moedas, ao lado do qual colocam uma pedra branca do tamanho de um ovo de galinha. Eles assentam-se sobre a grama que coletaram, e fazem seus ninhos nas florestas; se alguém mata um filhote, uma pedra cinzenta é encontrada na moela. Chamamos-lhes de Ave de Nazaré. A gordura é excelente para relaxar músculos e nervos.Tradução livre de: "I have seen in Mauritius birds bigger than a Swan, without feathers on the body, which is covered with a black down; the hinder part is round, the rump adorned with curled feathers as many in number as the bird is years old. In place of wings they have feathers like these last, black and curved, without webs. They have no tongues, the beak is large, curving a little downwards; their legs are long, scaly, with only three toes on each foot. It has a cry like a gosling, and is by no means so savoury to eat as the Flamingos and Ducks of which we have just spoken. They only lay one egg which is white, the size of a halfpenny roll, by the side of which they place a white stone the size of a hen's egg. They lay on grass which they collect, and make their nests in the forests; if one kills the young one, a grey stone is found in the gizzard. We call them Oiseaux de Nazaret. The fat is excellent to give ease to the muscles and nerves".
O relato de Cauche é problemático, uma vez que também menciona que a ave que ele descrevia tinha três dedos no pé e não tinha língua, ao contrário do dodô. Isso levou alguns cientistas a acreditar que Cauche estava descrevendo uma nova espécie de dodô (Didus nazarenus). A descrição foi provavelmente misturada com a de um casuar, e as narrações de Cauche tem outras inconsistências. Uma menção de um "jovem avestruz" levado a bordo de um navio em 1617 é a única outra referência a um possível dodô jovem. Um ovo, que se alega ser de dodô, está armazenado no museu de East London, na África do Sul. Foi doado por Marjorie Courtenay-Latimer, cuja tia-avó tinha recebido de um capitão que alegou tê-lo encontrado em um pântano em Maurício. Em 2010, o curador do museu propôs o uso de estudos genéticos para determinar a sua autenticidade. O material pode, no entanto, tratar-se de um ovo aberrante de avestruz.
Devido à provável ninhada de um único ovo e ao grande tamanho da ave, foi proposto que o dodô era do tipo K-selecionado, ou seja, ele produzia um baixo número de descendentes altriciais, o que exigia cuidados dos pais até que os filhotes se desenvolvessem. Algumas evidências, incluindo o tamanho grande e o fato de que aves tropicais e frugívoras têm taxas de crescimento mais lentas, indicam que a ave pode ter tido um período de desenvolvimento prolongado. O fato de nenhum dodô jovem ter sido encontrado no pântano Mare aux Songes, onde a maioria dos restos de dodô foram escavados, pode indicar que a ave produzia pouca prole, que amadurecia rapidamente, que as áreas de reprodução eram longe do pântano, ou que o risco de atolamento era sazonal.
Relação com humanos
Maurício já havia sido visitado por embarcações árabes na Idade Média e navios portugueses entre 1507 e 1513, mas não foi colonizado por nenhum dos dois. Não há registros conhecidos de dodôs por estes visitantes, embora o nome português para Maurício, ilha do Cerné (cisne), pode ter sido uma referência aos dodôs. O Império Holandês adquiriu Maurício em 1598, renomeando-o em homenagem a Maurício de Nassau, e daí em diante a ilha foi utilizada para o abastecimento de navios mercantes da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Os relatos mais antigos conhecidos do dodô foram fornecidos por viajantes holandeses durante a Segunda Expedição Holandesa à Indonésia, liderada pelo almirante Jacob van Neck em 1598. O animal aparece em documentos divulgados em 1601, que também contêm a mais antiga ilustração publicada da ave. Uma vez que os marinheiros que chegavam em Maurício estavam no mar por um longo tempo, seu interesse por estas aves de grande porte era principalmente culinário. O diário de bordo escrito por Willem Van West-Zanen do navio Bruin-Vis, publicado em 1602, menciona que 24 a 25 dodôs foram caçados para servir de alimento, os quais eram tão grandes que dois dificilmente poderiam ser consumidos na hora de uma das refeições, sendo seus restos preservados por salga. Foi feita uma ilustração para a versão publicada em 1648 desta diário. A imagem mostra a morte de dodôs, um dugongo, e, possivelmente, um papagaio-cinzento-de-maurício; a legenda era um poema em holandês que mencionava que os marinheiros caçavam e comiam dodôs.
Alguns dos primeiros viajantes acharam o sabor da carne do dodô desagradável, e preferiram comer papagaios e pombos, já outros a descreveram como dura, mas boa. Alguns dodôs foram caçados apenas pela sua moela, considerada a parte mais deliciosa da ave. Eles eram fáceis de pegar, mas os caçadores tinham que ter cuidado para não serem mordidos por seus bicos robustos.
A semelhança do dodô com a galinhola-vermelha-das-maurícias (também já extinta) levou Peter Mundy a especular, 230 anos antes da teoria da evolução de Charles Darwin:
Duas dessas espécies de aves que mencionei, pelo que sabemos, não podem ser encontradas fora dessa ilha, a qual se encontra a 100 léguas de St. Lawrence. Uma questão pode ser levantada, porque elas estão justamente aqui e não em outro lugar, estando tão longe de outra terra e sem saber voar ou nadar; até que ponto uma mistura de espécies produz formas estranhas e monstruosas, ou a natureza do clima, antiguidade e o mundo alterando as primeiras formas durante um longo tempo, ou como.Tradução livre de: "Of these 2 sorts off fowl afforementionede, For oughtt wee yett know, Not any to bee Found out of this Iland, which lyeth aboutt 100 leagues From St. Lawrence. A question may bee demaunded how they should bee here and Not elcewhere, beeing soe Farer From other land and can Neither fly or swymme; whither by Mixture off kindes producing straunge and Monstrous formes, or the Nature of the Climate, ayer and earth in alltring the First shapes in long tyme, or how".
Dodôs exportados
O dodô foi considerado interessante o suficiente para que exemplares vivos fossem levados para a Europa e para o Oriente. O número exato de dodôs transportados nos navios e que atingiram seus destinos vivos é incerto. Também não se sabe como suas representações da época estão relacionadas com os poucos restos não-fósseis que ainda existem em museus europeus. Baseando-se na combinação de antigos relatos, pinturas e espécimes, Julian Hume estimou que pelo menos onze dodôs transportados chegaram vivos a seus destinos.
A descrição de Hamon L'Estrange de um dodô que ele viu em Londres, em 1638, é o único relato que menciona especificamente um espécime vivo na Europa. Em 1626, Adriaen van de Venne desenhou um dodô que ele alegou ter visto em Amsterdã, mas não mencionou se estava vivo, e sua representação é uma reminiscência do dodô de Edwards de Savery. Dois espécimes vivos foram vistos por Peter Mundy em Surat, Índia, entre 1628 e 1634, um dos quais pode ter sido o indivíduo pintado por Ustad Mansur em torno de 1625. Em 1628, Emmanuel Altham visitou a ilha Maurício e enviou uma carta ao seu irmão na Inglaterra:
Amado irmão, recebemos ordens para ir para uma ilha chamada Maurício, que encontra-se a 20 graus de latitude sul, onde chegamos em 28 de maio; esta ilha tem muitas cabras, porcos e vacas, e aves muito estranhas, chamadas de dodôs, que são muito raras, em todo o mundo só são encontradas aqui, eu enviei uma através do senhor Perce, que chegou com o navio William nesta ilha em 10 de junho. [Na margem da carta] Do senhor Perce você deve receber gengibre para a minha irmã, algumas pérolas para meus primos e suas filhas, e um pássaro chamado dodô, se tiver vivo.Tradução livre de: "Right wo and lovinge brother, we were ordered by ye said councell to go to an island called Mauritius, lying in 20d. of south latt., where we arrived ye 28th of May; this island having many goates, hogs and cowes upon it, and very strange fowles, called by ye portingalls Dodo, which for the rareness of the same, the like being not in ye world but here, I have sent you one by Mr. Perce, who did arrive with the ship William at this island ye 10th of June. [In the margin of the letter] Of Mr. Perce you shall receive a jarr of ginger for my sister, some beades for my cousins your daughters, and a bird called a Dodo, if it live".
Não se sabe se esse dodô sobreviveu à longa viagem, e a carta foi destruída pelo fogo no século XIX. A imagem mais antiga conhecida de um espécime de dodô na Europa data de cerca de 1610 numa coleção de pinturas que retratavam os animais do zoológico real do imperador Rodolfo II, em Praga. Esta coleção inclui também pinturas de outros animais de Maurício, incluindo a galinhola-vermelha-de-maurício. O dodô, que pode ter sido um filhote, parece ter sido seco ou embalsamado, e provavelmente viveu no jardim zoológico do imperador por um tempo junto com os outros animais. Os dodôs inteiros empalhados que existiam na Europa naquela época indicam que eles tinham sido trazidos vivos e morreram em solo europeu; é improvável que taxidermistas estavam a bordo dos navios que visitaram Maurício, e o formol ainda não era usado para preservar espécimes biológicos. A maioria dos exemplares tropicais foram preservados como cabeças e pés secos.
Um dodô teria sido enviado à cidade de Nagasaki, no Japão, em 1647, mas por muito tempo não se soube se ele realmente chegou a seu destino. Documentos da época publicados em 2014 confirmam a história e mostram que o animal chegou com vida. Foi levado como um presente, e, apesar de sua raridade, foi considerado de valor igual a um veado branco e uma pedra bezoar. É o último registro de um dodô vivo em cativeiro.
Extinção
Como muitos animais que evoluíram isolados e sem predadores significativos, o dodô não tinha medo de seres humanos. Este destemor e sua incapacidade de voar tornava-o presa fácil para os marinheiros. Embora alguns relatos dispersos descrevessem matanças em massa de dodôs para provisões de bordo, as investigações arqueológicas fornecem escassas evidências de predação humana. Ossos de pelo menos dois dodôs foram encontrados em cavernas de Baie du Cap, local que servia de refúgio para condenados e escravos fugitivos no século XVII e que não teria sido facilmente acessível para os dodôs por causa do terreno alto e acidentado. A população humana em Maurício (que tem uma área de km2) nunca excedeu 50 pessoas no século XVII, mas esses primeiros colonos introduziram outros animais, incluindo cães, porcos, gatos, ratos e macacos-do-mato, que saqueavam ninhos de dodô e competiram pelas limitadas fontes de alimento. Ao mesmo tempo, os humanos destruíram florestas que eram o habitat da ave. O impacto destes animais introduzidos, especialmente os porcos e macacos, sobre a população de dodôs é atualmente considerado mais grave do que a caça. Os ratos não foram, talvez, uma ameaça muito grande aos ninhos, uma vez que os dodôs estavam acostumados a lidar com os caranguejos terrestres locais.
Foi sugerido que o dodô já era raro ou ocupava uma área bastante restrita antes da chegada dos seres humanos em Maurício, uma vez que teria sido improvável que tivesse se extinguido tão rapidamente se ocupasse todas as partes remotas da ilha. Uma expedição em 2005 encontrou restos fósseis de dodôs e outros animais mortos por uma enchente. Tais mortes em massa teria prejudicado ainda mais uma espécie já em perigo de extinção.
Há algumas controvérsias envolvendo a data da extinção. O último registro amplamente aceito de um avistamento de dodô é o relato feito em 1662 pelo marinheiro náufrago Volkert Evertsz do navio holandês Arnhem, que descreveu aves capturadas em uma pequena ilhota de Maurício (atualmente acredita-se que seja a ilha Âmbar):
Estes animais, quando nos aproximamos deles, fixaram-nos o olhar e permaneceram imóveis no local, sem saber se tinham asas para voar ou pernas para fugir, e permitindo-nos aproximar tão perto quanto quiséssemos. Entre essas aves estavam aquelas que na Índia são chamadas de Dod-aersen (sendo uma espécie de ganso grande); estas aves são incapazes de voar, e em vez de asas, elas têm apenas alguns pequenos "pinos", mas podem correr muito rapidamente. Conseguimos agrupa-las num só lugar, de tal maneira que foi possível pegá-las com as mãos, e quando agarramos uma pela perna, ela fez um grande barulho, e as outras todas de repente vieram correndo o mais rápido que podiam para tentar socorre-la, e por causa disso foram capturadas e feitas prisioneiras também.Tradução livre de: "These animals on our coming up to them stared at us and remained quiet where they stand, not knowing whether they had wings to fly away or legs to run off, and suffering us to approach them as close as we pleased. Amongst these birds were those which in India they call Dod-aersen (being a kind of very big goose); these birds are unable to fly, and instead of wings, they merely have a few small pins, yet they can run very swiftly. We drove them together into one place in such a manner that we could catch them with our hands, and when we held one of them by its leg, and that upon this it made a great noise, the others all on a sudden came running as fast as they could to its assistance, and by which they were caught and made prisoners also".
Os dodôs nesta ilhota não foram, necessariamente, os últimos membros da espécie. O último avistamento reivindicado de um dodô foi relatado nos registros de caça de Isaac Johannes Lamotius em 1688. A análise estatística desses registros feita por Roberts e Solow dá uma nova data de extinção estimada de 1693, com um intervalo de confiança de 95% de 1688 a 1715. Os autores também assinalaram que, devido a última observação antes de 1662 ter sido a de 1638, o dodô provavelmente já era bastante raro na década de 1660, e, portanto, um relato controverso datado de 1674 feito por um escravo fugido não pode ser posto de lado.
Anthony Cheke apontou que algumas descrições pós 1662 usam os nomes "Dodo" e "Dodaers" quando se referem à galinhola-vermelha-de-maurício, indicando que os termos haviam sido transferidos para essa outra ave após o desaparecimento do próprio dodô. Cheke, portanto, aponta a descrição de 1662 como a última observação credível. Um relato de 1668 feito pelo viajante inglês John Marshall, que usou os nomes "Dodo" e "galinha vermelha" alternadamente para a galinhola-vermelha, mencionou que a carne era "dura", o que ecoa a descrição da carne no relato de 1681. Até mesmo a menção de 1662 tem sido questionada por Errol Fuller, pois a vocalização em situação de perigo coincide com a que foi descrita para a galinhola-vermelha. Até essa explicação ser proposta, acreditava-se que uma descrição de "dodôs" de 1681 era o último relato da espécie. Ainda assim, essa data ainda tem defensores. Manuscritos holandeses recentemente acessíveis indicam que nenhum dodô foi visto por colonos entre 1664 e 1674. Em 2020, Cheke e o pesquisador britânico Jolyon C. Parish sugeriram que todas as menções de dodôs depois de meados do século XVII se referiam a galinholas-vermelhas, e que o dodô havia desaparecido devido à predação por porcos selvagens durante um hiato na colonização das ilhas Maurício (1658–1664). A extinção do dodô, portanto, não foi percebida no momento em que aconteceu, uma vez que os novos colonos não tinham visto dodôs reais, mas, como esperavam ver aves que não voavam, se referiram às galinholas-vermelhas com esse nome. Como as galinholas provavelmente tinham ninhadas maiores do que os dodôs, seus ovos podiam ser incubados mais rápidos e seus ninhos talvez estivessem escondidos, elas provavelmente se reproduziam com mais eficiência e eram menos vulneráveis aos porcos.
É improvável que este problema seja resolvido algum dia, a menos que relatórios antigos citando o nome da ave ao lado de um descrição física da mesma sejam redescobertos. A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais aceita a justificativa de Cheke para escolher a data de 1662, acreditando que todos os avistamentos subsequentes se referem a galinholas-vermelhas. Em qualquer caso, o dodô foi provavelmente extinto em 1700, cerca de um século depois de sua descoberta em 1598. Os holandeses deixaram Maurício em 1710, mas até essa data o dodô e a maioria dos grandes vertebrados terrestres da ilha já haviam se tornado extintos.
Ainda que a raridade do dodô já tivesse sido relatada no século XVII, sua extinção não foi reconhecida até o século XIX. Isto aconteceu em parte porque, por motivos religiosos, não se acreditava que a extinção fosse possível até ser provada mais tarde por Georges Cuvier, e em parte porque vários cientistas duvidavam de que o dodô realmente tivesse existido. Parecia uma criatura estranha por demais, e muitos achavam que não passava de um mito. A ave foi usada pela primeira vez como um exemplo de extinção provocada pelo homem na Penny Magazine em 1833.
Restos físicos
Espécimes do século XVII
Os únicos vestígios de dodôs levados para a Europa no século XVII são: uma cabeça e um pé, ambos secos, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford; um pé que estava guardado no Museu Britânico, mas que foi perdido; um crânio do Museu Zoológico da Universidade de Copenhague; e um maxilar superior e ossos da perna no Museu Nacional de Praga. Os dois últimos foram redescobertos e identificados como restos de dodô em meados do século XIX. Vários dodôs empalhados foram também mencionados em antigos inventários de museus, mas não se sabe de nenhum que tenha resistido até os dias atuais. Além desses restos, um pé seco, que pertenceu ao professor holandês Pieter Pauw, foi mencionado por Carolus Clusius em 1605. Sua origem é desconhecida, e agora está perdido, mas pode ter sido coletado durante a viagem de van Neck.
As únicas amostras de tecido mole que persistiram ao tempo, a cabeça (espécime OUM 11605) e o pé de Oxford, pertenceram ao último dodô empalhado que se tem notícia. Esse exemplar foi mencionado pela primeira vez como parte da coleção de Tradescant em 1656, sendo transferido três anos mais tarde, em 1659, para o Ashmolean Museum. Acredita-se que podem ser os restos da ave que Hamon L'Estrange viu em Londres. Muitas fontes afirmam que o museu queimou o dodô empalhado por volta de 1755 por causa da grave deterioração da peça, salvando apenas a cabeça e uma perna. O estatuto 8 do museu diz "que como qualquer coisa envelhece e perece, o mantenedor pode removê-lo em um dos armários ou outro repositório. E alguns outros serem substituídos". Hoje acredita-se que a simples destruição deliberada da amostra é um mito; ela foi, na verdade, removida do local de exposição para preservar o que lhe restou. Este tecido mole de dodô foi ainda mais degradado depois; a cabeça teve a pele separada do crânio em duas metades na dissecação feita por Strickland e Melville. O pé está em estado esquelético, com apenas pedaços de pele e tendões. Muito poucas penas permanecem na cabeça. Provavelmente era uma fêmea, já que o pé é 11% menor e mais delicado que o do espécime de Londres, e parece ser um indivíduo já totalmente crescido.
O pé seco de Londres, mencionado pela primeira vez em 1665, e transferido para o Museu Britânico no século XVIII, foi exibido ao lado da pintura de dodô feita Edwards de Savery até a década de 1840. Também foi dissecado por Strickland e Melville. Não foi colocado numa postura ereta, o que sugere que foi separado de uma amostra fresca, e não de uma montada. Em 1896, foi mencionado como estando sem seus integumentos, e acredita-se que só os ossos permanecem até hoje, apesar de seu paradeiro atual ser desconhecido.
O crânio de Copenhagen (espécime ZMUC 90-806) é conhecido por ter sido parte da coleção de Bernardus Paludanus em Enkhuizen até 1651, quando foi transferido para o museu no castelo de Gottorf, em Schleswig. Depois que o castelo foi ocupado por tropas dinamarquesas em 1702, o acervo do museu foi assimilado na coleção real dinamarquesa. O crânio foi redescoberto por J. T. Reinhardt em 1840. Com base nessa história, pode ser o resquício mais antigo já conhecido da sobrevivência de um dodô trazido para a Europa no século XVII. É 13 milímetros mais curto que o crânio de Oxford, e pode ter pertencido a uma fêmea. Ele foi mumificado, mas a pele pereceu.
A parte da frente de um crânio (espécime NMP P6V-004389) e alguns ossos da perna no Museu Nacional de Praga foram encontrados em 1850, entre os restos do Museu Böhmisches. Pode ser o que restou de um dos dodôs empalhados que viviam no zoológico do imperador Rodolfo II, possivelmente, o espécime pintado lá por Hoefnagel ou Savery.
Espécimes fósseis
Por muito tempo, os únicos restos de dodô conhecidos foram os quatro exemplares incompletos do século XVII. Até que em 1860 o botânico inglês Philip Burnard Ayres encontrou os primeiros ossos fósseis, posteriormente enviados para Richard Owen no Museu Britânico, que não publicou os achados. Três anos depois, em 1863, Owen pediu ao bispo Vincent Ryan para divulgar na ilha que ele deveria ser informado caso algum osso de dodô fosse descoberto. Em 1865, George Clark, um professor da pequena cidade de Mahébourg, finalmente encontrou fósseis de dodô em grande quantidade. O material estava no pântano Mare aux Songes, no sul da ilha Maurício, e o achado foi fruto de uma pesquisa de 30 anos inspirada na monografia de Strickland e Melville. No ano seguinte, Clark explicou na Ibis, uma revista científica de ornitologia, como obteve sucesso em sua busca: ele orientou seus coolies a caminhar no meio do pântano, para sentir os ossos com os pés. No início encontraram poucos ossos, até que removeram a vegetação que cobria a camada mais profunda do pântano, e então encontraram muitos fósseis. Do local foram retirados restos de mais de 300 dodôs, mas muito poucos crânios e ossos das asas, possivelmente porque as partes superiores das aves foram "varridas" pela água, enquanto a porção inferior do corpo estava presa. Um cenário semelhante a muitos achados de restos de moas em pântanos da Nova Zelândia. A maioria dos ossos de dodô retirados do Mare aux Songes tem uma coloração marrom médio a escuro.
Os relatos de Clark sobre as descobertas reacenderam o interesse pela ave. Tanto Richard Owen como Alfred Newton queriam ser o primeiro a descrever a anatomia pós-craniana do dodô, e Owen comprou um carregamento de ossos originalmente destinada a Newton, o que gerou rivalidade entre os dois. Owen descreveu os ossos na obra Memoir on the Dodo, em outubro de 1866, mas errou ao basear sua reconstrução na pintura Edwards' Dodo feita por Savery, fazendo com que a ave parecesse muito atarracada e obesa. Em 1869 ele recebeu mais ossos e corrigiu sua representação, deixando-a mais ereta. Newton, por sua vez, direcionou seu foco para o solitário-de-reunião. Os ossos restantes, que não foram vendidos nem para Owen nem para Newton, foram leiloados ou doados a museus. Em 1889, Theodor Sauzier foi contratado para explorar as "lembranças históricas" da ilha Maurício e encontrar mais restos de dodô no Mare aux Songes. Não só alcançou esses objetivos como também encontrou resquícios de outras espécies extintas.
Louis Etienne Thirioux, um naturalista amador de Port Louis, também encontrou muitos ossos de dodô em vários locais da ilha por volta do ano 1900. Suas descobertas incluem o único resto de um exemplar juvenil, um tarsometatarso, posteriormente perdido; e o primeiro espécime articulado, que é também o único dodô fóssil encontrado fora da região do Mare aux Songes. Este último foi encontrado em 1904 num caverna perto da montanha Le Pouce, e é o único esqueleto completo de um mesmo dodô. Thirioux o doou ao Museu Desjardins (hoje Museu de História Natural de Maurício), onde ainda está em exibição. Os herdeiros de Thrioux venderam um segundo esqueleto (composto por ossos de pelo menos dois indivíduos, com a maior parte do crânio reconstruído) ao Durban Museum of Natural Science, na África do Sul, em 1918. Juntos, esses dois esqueletos representam os resquícios mais completos, incluindo elementos ossos anteriormente não registrados (como patelas e vários ossos da asa). Embora alguns escritores contemporâneos tenham notado a importância dos espécimes de Thrioux, eles não foram estudados cientificamente e ficaram esquecidos até 2011, quando foram examinados por um grupo de pesquisadores. Em 2014, tais amostras foram a base para a primeira reconstrução 3D de um esqueleto completo de dodô, que utilizou tecnologia de varredura a laser em três dimensões. A reconstrução foi exibida em Berlim, na 74ª Reunião Anual da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados.
Em outubro de 2005, depois de cem anos de negligência, uma parte do pântano Mare aux Songes foi escavada por uma equipe internacional de pesquisadores. Para prevenir a malária, os britânicos haviam coberto o pântano com núcleo duro durante o seu domínio sobre Maurício, que teve de ser removido. Muitos restos mortais foram encontrados, incluindo ossos de pelo menos 17 dodôs em vários estágios de maturidade (embora não juvenis), e vários ossos, obviamente, a partir do esqueleto de uma ave individual, que foram preservados na sua posição natural. Esses achados foram tornados públicos em dezembro de 2005 no museu Naturalis em Leiden. 63% dos fósseis encontrados no pântano pertencia a tartarugas do gênero Cylindraspis, já extinto, e 7,1% pertenciam a dodôs, que haviam sido depositados dentro de vários séculos, há anos. Escavações posteriores sugeriram que dodôs e outros animais ficaram atolados no Mare aux Songes ao tentar chegar a água durante um longo período de seca severa cerca de anos atrás. Além disso, as cianobactérias prosperaram nas condições criadas pelos excrementos de animais se reuniram em torno do pântano, que morreram de intoxicação, desidratação, atropelamento, e afundando. Apesar de muitos pequenos elementos do esqueleto foram encontrados durante as recentes escavações do pântano, poucos foram encontrados durante o século 19, provavelmente devido ao emprego de métodos de coleta menos refinados. Em junho de 2007, os aventureiros que exploravam uma caverna na ilha Maurício descobriram o esqueleto de dodô mais completo e mais bem preservado já encontrado. O espécime foi apelidado de "Fred", após o achado.
Em todo o mundo, 26 museus possuem quantidades significativas de material de dodô, quase todos encontrados no Mare aux Songes. O Museu de História Natural de Londres, Museu Americano de História Natural, Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge, Museu Senckenberg, dentre outros, têm esqueletos quase completos, montados a partir de restos fósseis de vários indivíduos. Em 2011, uma caixa de madeira contendo ossos de dodô da era eduardiana foi redescoberta no Grant Museum da University College London, durante os preparativos para uma mudança. Eles haviam sido armazenadas junto com ossos de crocodilo.
"Dodô branco"
O suposto "dodô branco" (ou "solitário") da ilha Reunião é hoje considerado uma conjectura errada baseada em relatos de avistamentos do íbis-terrestre-de-reunião e pinturas do século XVII de aves brancas parecidas com o dodô feitas por Pieter Withoos e Pieter Holsteyn, e que vieram à tona no século XIX. A confusão começou quando Willem Bontekoe, após visitar Reunião por volta de 1619, mencionou aves gordas e incapazes de voar, às quais se referiu como "Dod-eersen" em seu diário de bordo, embora sem mencionar de que cor eram. Quando o diário foi publicado em 1646, o relato foi acompanhado por uma gravura de um dodô da "Crocker Art Gallery sketch" de Savery. Uma ave branca, encorpada e que não voava foi mencionada pela primeira vez como parte da fauna de Reunião pelo oficial-chefe J . Tatton em 1625. Menções esporádicas foram posteriormente feitas por Sieur Dubois e outros escritores da época.
O barão Edmond de Sélys Longchamps cunhou o nome Raphus solitarius para estas aves em 1848, pois acreditava que os relatos se referiam a uma espécie de dodô. Quando pinturas do século XVII de dodôs brancos foram redescobertas por naturalistas do século XIX, acreditou-se que elas retratavam essas aves. Anthonie Cornelis Oudemans sugeriu que a discrepância entre as pinturas e as antigas descrições aconteceu porque os desenhos mostravam as fêmeas, e que a espécie tinha, portanto, dimorfismo sexual. Alguns autores também acreditavam que os animais descritos eram de uma espécie semelhante ao solitário-de-rodrigues, sendo por isso também chamados de "solitários", ou mesmo que havia espécies brancas tanto de dodô como de solitários na ilha.
A pintura de Pieter Withoos, descoberta primeiro, parece ter sido baseada numa pintura anterior de Pieter Holsteyn, e sabe-se que existiram três versões dela. De acordo com Hume, Cheke e Valledor de Lozoya, parece que todas as representações de dodôs brancos foram baseadas na pintura Landscape with Orpheus and the animals de 1611, feita por Roelant Savery, ou em cópias da mesma. A pintura mostra um espécime esbranquiçado e aparentemente foi feita com base num exemplar empalhado em Praga; um walghvogel descrito como tendo um "coloração esbranquiçada suja" foi mencionado em um inventário de espécimes na coleção de Praga do Sacro Imperador Romano Rodolfo II, que contratou Savery na época (1607-1611). Várias imagens posteriores de Savery mostram sempre aves acinzentadas, possivelmente porque ele viu outro exemplar. Cheke e Hume acreditam que o espécime pintado era branco devido ao albinismo. Valledor de Lozoya, por sua vez, sugeriu que a plumagem clara pode ser um traço juvenil, resultado do branqueamento de exemplares taxidermizados antigos, ou simplesmente licença artística.
Em 1987, cientistas descreveram fósseis de uma espécie de íbis recentemente extinta originária da ilha Reunião com um bico relativamente curto, Borbonibis latipes, antes de uma conexão com os relatos do solitário-de-rodrigues ter sido feita. Cheke sugeriu a um dos autores, Francois Moutou, que os fósseis podem ter sido do íbis-de-reunião, e esta sugestão foi publicada em 1995. O íbis foi transferido para o gênero Threskiornis, agora combinado com o epíteto específico "solitarius" do binomial R. solitarius. As aves deste gênero são também brancas e pretas com bicos finos, se enquadrando assim com as antigas descrições do íbis-de-reunião. Nenhum fóssil de animais parecidos com o dodô jamais foi encontrado na ilha.
Relevância cultural
A importância do dodô como um dos mais famosos animais extintos e sua aparência singular levou à sua utilização na literatura e na cultura popular como um símbolo de um conceito ou objeto desatualizado. Na língua inglesa, a expressão "dead as a dodo" ("morto como um dodô") quer dizer uma coisa inquestionavelmente morta ou obsoleta. Da mesma forma, a frase "to go the way of the dodo" ("seguindo o caminho do dodô") significa tornar-se extinto ou obsoleto, cair fora do uso ou da prática comum, ou virar uma coisa do passado. Embora sejam expressões de uso frequente, uma pesquisa da ONG internacional WWF publicada em 2015 mostrou que um em cada quatro britânicos acredita que os dodôs ainda existem. Em 2009, uma ilustração holandesa inédita de um dodô, datada do século XVII, foi colocada à venda na Christie's e esperava-se que fosse vendida por libras esterlinas. Não se sabe se a ilustração foi baseada em um espécime ou em uma imagem anterior. Foi arrematada por libras.
Mesmo antes de sua extinção, o dodô era frequentemente destacado na literatura europeia, além de ser usado como símbolo para terras exóticas e para a gula, devido a sua aparência obesa. Em 1865, mesmo ano em que George Clark começou a publicar relatórios sobre fósseis escavados de dodô, a ave recém vindicada virou um personagem de Alice no País das Maravilhas, obra-prima do escritor inglês Lewis Carroll. Acredita-se que ele incluiu o dodô porque se identificou com a ave e adotou o nome como apelido para si mesmo por causa de sua gagueira, o que o fez acidentalmente apresentar-se como "Do-do-dodgson", seu sobrenome oficial. A popularidade do livro fez do dodô um famoso ícone da extinção.
Atualmente, o dodô aparece em obras de ficção popular, como animações, séries de TV e filmes. É usado como mascote para muitos tipos de produtos, especialmente em Maurício. O dodô aparece como um defensor no brasão de armas de Maurício. É também usado como uma marca d'água em notas da moeda local, a rupia maurícia. Um dodô sorridente é o símbolo da Brasseries de Bourbon, uma popular marca de cerveja da ilha Reunião, cujo emblema mostra a espécie branca que se pensava ter vivido lá. A ave também é usada para promover a proteção de espécies ameaçadas de extinção por muitas organizações ambientais, como a Durrell Wildlife Conservation Trust, o Durrell Wildlife Park, e o Center for Biological Diversity, que oferece anualmente o irônico prêmio Rubber Dodo, uma "honraria" dada àqueles que mais contribuíram para extinguir espécies ameaçadas.
Em 2011, uma espécie de aranha da família Nephilidae − Nephilengys dodo – que habita as mesmas florestas que os dodôs viviam, foi nomeada em homenagem à ave com o intuito de aumentar a conscientização sobre a necessidade urgente de proteção da biota de Maurício. O termo dodô também foi imortalizado por cientistas através da nomeação de elementos genéticos, lembrando sua incapacidade de voar. Um gene da mosca-das-frutas situado numa região de um cromossomo necessário para a capacidade de voar foi batizado de "dodo". Além disso, um elemento de transposição defeituoso de Phytophthora infestans foi nomeado DodoPi, uma vez que continha mutações que eliminaram a capacidade do elemento de saltar para novos locais num cromossomo.
O poeta Hilaire Belloc incluiu um poema sobre o dodô na sua obra The Bad Child's Book of Beasts, de 1896:
Ver também
Lista de aves extintas
Bibliografia
Ligações externas
Aves descritas em 1758
Aves extintas
Columbídeos
Fauna da Maurícia | 197,214 |
671 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Debian | Debian | Debian (), anteriormente chamado Debian GNU/Linux e hoje apenas Debian, é um sistema operacional composto majoritariamente de software livre e mantido oficialmente pelo Projeto Debian. O projeto recebe, ainda, apoio de outros indivíduos e organizações de todo o mundo. O grupo distribui núcleos Unix-like, como o Debian GNU/kFreeBSD e o Debian GNU/Hurd. O Debian é especialmente conhecido pelo seu sistema de gestão de pacotes, chamado APT, que permite atualizações relativamente fáceis a partir de versões anteriores, a instalação quase sem esforço de novos pacotes e a remoção limpa de pacotes antigos. O nome Debian vem dos nomes dos seus fundadores, Ian Murdock e sua esposa Debra. O projeto Debian é mantido por meio de doações à organização sem fins lucrativos Software in the Public Interest (SPI).
O Debian Stable procura sempre manter os pacotes mais estáveis, e sendo assim, o Gnome e KDE, por exemplo, são mantidos em versões mais antigas do que muitas outras distribuições GNU/Linux usam por padrão. O fato dele conter pacotes mais antigos garante maior estabilidade e faz com que ele seja muito usado para servidores, bem como por usuários que desejam estabilidade em estações de trabalho ou desktops domésticos. Várias distribuições comerciais baseiam-se (ou basearam-se) no Debian, incluindo: Linspire (antigo Lindows), Xandros, Knoppix, Kurumin, BrDesktop e Ubuntu.
Características
O Debian possui acesso a repositórios online que contêm mais de 59.000 pacotes, fazendo desta uma das maiores compilações de software. Oficialmente, o Debian contém apenas softwares livres, porém softwares não-livres também integram seu repertório, e podem ser baixados e instalados. O Debian suporta programas populares, como LibreOffice, Firefox, K3b, VLC Media Player, GIMP e Evince.
História
O Debian foi lançado em 16 de agosto de 1993 por Ian Murdock, à época estudante universitário. Ele escreveu o Manifesto Debian, que sugeria a criação de uma distribuição GNU/Linux a ser mantida de uma maneira livre, segundo o espírito do GNU.
O Projeto Debian cresceu lentamente e lançou suas versões 0.9x em 1994 e 1995, quando o dpkg ganhou notoriedade. Os primeiros ports para outras arquiteturas começaram em 1995, e a primeira versão 1.x do Debian aconteceu em 1996.
Bruce Perens substituiu Ian Murdock como líder do projeto. Ele iniciou a criação de vários documentos importantes (o contrato social e o free software guidelines) e a legítima umbrella organization (SPI), bem como liderou o projeto através dos lançamentos das versões da ELF/libc5 (1.1, 1.2, 1.3).
Bruce Perens deixou o projeto em 1998 antes do lançamento da primeira versão Debian baseada em glibc, a 2.0. O projeto continuou elegendo novos líderes e fazendo mais duas versões 2.x, cada qual incluindo mais ports e mais pacotes. A APT foi lançada durante este tempo e o Debian GNU/Hurd também passou a ser desenvolvido.
O ano de 1999 trouxe as primeiras distribuições GNU/Linux baseadas em Debian, Corel Linux e Stormix's Storm Linux, hoje descontinuadas, mas que deram início ao que é hoje uma notável tendência nas distribuições baseadas em Debian.
Próximo ao ano 2000, o projeto passou a usar repositórios de pacotes e a distribuição "testing", alcançando um marco maior no que se refere a arquivos e o gerenciamento de lançamentos. Em 2001, os desenvolvedores iniciaram conferências anuais, Debconf, com conversas, workshops e a recepção aos usuários técnicos. A versão 3.0 de 2002 incluiu mais do que o dobro do número de pacotes da versão anterior e estava disponível para cinco novas arquiteturas.
O Debian celebrou o seu décimo aniversário em 16 de agosto de 2003, com muitas festas de aniversário em todo o mundo.
Veja A Brief History of Debian para maiores detalhes.
Logomarca
A logomarca "redemoinho" do Debian foi criada por Raul Silva em 1999 como parte de um concurso para substituir a logomarca semioficial que estava sendo usada. O vencedor do concurso ganhou um endereço de email @debian.org e um conjunto de CDs de instalação do Debian 2.1 para a arquitetura de sua escolha. Não houve nenhuma declaração oficial do projeto Debian sobre o significado da logomarca, mas no momento da sua eleição, sugeriu-se que representasse a magic smoke (fumaça cáustica produzida pela queima de circuitos ou componentes eletrônicos) que faz computadores funcionarem.
Uma teoria sobre a origem da logomarca do Debian é que Buzz Lightyear — o personagem escolhido para o nome do primeiro lançamento do Debian — tem um redemoinho em seu queixo. Stefano Zacchiroli, um dos desenvolvedores da distribuição, também sugeriu que esse redemoinho do personagem tivesse relação com o Debian 1.1.
Versões do Debian
O ciclo de desenvolvimento das versões do Debian passa por três fases:
"Unstable" — versão instável
"Testing" — versão de testes
"Stable" — versão estável
Quando as versões estão na fase testes, elas são identificadas por codinomes inspirados nos personagens do filme Toy Story. Ao se tornarem estáveis, as versões recebem um número de versão (ex: 5.0).
A versão de testes atual é a "Bookworm". A versão instável sempre leva o nome de Sid, personagem que quebrava os brinquedos de Toy Story, em alusão aos bugs que podem ocorrer. Há ainda uma sigla usada pela equipe que justifica o uso desse nome: Still In Development (ainda em desenvolvimento, em português).
O Debian não prioriza apenas uma interface gráfica. Ele suporta igualmente todas as interfaces conhecidas do servidor gráfico X11: GNOME, KDE, XFCE, LXDE (atualmente LXQt), Cinnamon, MATE, Fluxbox, etc, bem como as baseadas em tiling, como i3, Awesome, Xmonad e bspwm. Anteriormente, o ambiente GNOME vinha incluso no primeiro CD, já que estes são ordenados pelos pacotes mais usados. Hoje, com o aumento de tamanho dos pacotes que compõem o GNOME, o primeiro CD vem com o XFCE por definição. Já a versão em DVD vem com outros ambientes. Caso o usuário escolha por baixar o DVD, o primeiro já inclui os outros ambientes que podem ser escolhidos no ato da instalação. Somente o primeiro DVD é necessário para a instalação. Os demais contêm pacotes adicionais que também podem ser baixados pelo sistema instalado. São pacotes que já se encontram nos repositórios, mais úteis para quem tem uma internet limitada em termos de velocidade. Caso não seja escolhido nenhum ambiente gráfico no ato da instalação, manter as opções que estão pré-selecionadas como "Ambiente da área de trabalho do Debian" fará com que seja instalado o GNOME como a única interface, já que os pacotes são listados por ordem de popularidade no Debian. Mais de um ambiente gráfico pode ser escolhido durante o processo de instalação. Atualmente, o servidor gráfico Wayland vem instalado por padrão apenas com o ambiente GNOME, assim como em muitas distribuições que usam esse ambiente gráfico já fazem, mas devido à política de estabilidade do Debian e ao Wayland ser ainda relativamente novo, o servidor X11 está definido como padrão mesmo no GNOME e nos outros ambientes. Para utilizar o Wayland, baixa selecioná-lo no login. Em outros ambientes, ele deve ser instalado.
Organização do projeto
O projeto Debian é uma organização voluntária com três documentos de fundação:
O contrato social do Debian, que define um conjunto de princípios básicos e a partir dos quais os membros devem basear suas decisões;
As linhas mestras do software livre Debian, que clarificam o que se quer dizer com o termo "software livre", largamente referenciado no contrato social;
A constituição do Debian, que descreve a estrutura organizacional para tomadas de decisão formais dentro do projeto e enumera os poderes e responsabilidades do Debian Project Leader, o Debian Project Secretary e os programadores do Debian em geral.
Os programadores do Debian elegem um líder para o projeto entre os seus colegas todos os anos. O líder do projeto Debian tem vários poderes especiais, mas o seu poder não é absoluto. Ele pode ser contatado e a sua eleição revertida através dos votos dos programadores, de acordo com o processo da General Resolution (Resolução Geral, em português). Na prática, isto ocorre com alguma frequência (normalmente, apenas a eleição do líder do projeto Debian ocorre no âmbito da General Resolution, mas isso já ocorreu várias vezes).
O líder do projeto Debian é empossado para delegar a sua autoridade, e a vários programadores são confiadas responsabilidades especiais delegadas pelo líder, como por exemplo, a equipe Debian System Administration (Administração do Sistema Debian, que possui a senha do root das máquinas do projeto) e o Release Manager (Gerente de Lançamentos), que decide as metas dos releases de distribuição, supervisiona o processo e toma a decisão final de quando liberar uma nova versão. Muitos dos delegados mantêm-se nas suas posições durante vários mandatos de diferentes líderes; as posições mais importantes são mantidas por membros de grande confiança e há muito tempo ativos no projeto, e há poucas alterações nisso mesmo quando o líder do projeto muda.
Uma lista das posições mais importantes do Projeto Debian está disponível em The Debian Organization. Muitas, mas não todas as posições são delegadas pelo líder do projeto.
Líderes do projeto
Ian Murdock (Agosto de 1993 até Março de 1996), fundador do Projeto Debian;
Bruce Perens (Abril de 1996 até Dezembro de 1997);
Ian Jackson (Janeiro de 1998 até Dezembro de 1998);
Wichert Akkerman (Janeiro de 1999 até Março de 2001);
Ben Collins (Abril de 2001 até Abril de 2002);
Bdale Garbee (Abril de 2002 até Abril de 2003);
Martin Michlmayr (Março de 2003 até Março de 2005);
Branden Robinson (Abril de 2005 até Abril de 2006);
Anthony Towns (Abril de 2006 até Abril de 2007);
Sam Hocevar (Abril de 2007 até Abril de 2008);
Steve McIntyre (Abril de 2008 até Abril de 2010);
Stefano Zacchiroli (Abril de 2010 até Abril de 2013);
Lucas Nussbaum (Abril de 2013 até Abril de 2015);
Neil McGovern (Abril de 2015 até Abril de 2016);
Mehdi Dogguy (Abril de 2016 até Abril de 2017);
Chris Lamb (Abril de 2017 até Abril de 2019);
Sam Hartman (Abril de 2019 até Abril de 2020);
Jonathan Carter (Abril de 2020 até hoje);
Recrutamento de programadores, motivação e demissão
O projeto Debian tem um fluxo constante de pessoas que desejam ser programadores. Estas pessoas devem passar por um processo onde é estabelecida a identidade, motivação e conhecimento dos objetivos do projeto (definido no Contrato Social), além da competência técnica.
Os programadores do Debian juntam-se ao projeto pelos mais diversos motivos. No passado já foram citados vários, que incluem:
O desejo de retribuir à comunidade de Software Livre (praticamente todos são utilizadores de software livre);
O desejo de ter ideias de software realizadas (alguns veem a comunidade de utilizadores do Debian como um ambiente de valor para testar e provar a validade de novos softwares);
Um desejo de tornar ou manter o Software Livre competitivo em relação às alternativas licenciadas;
Um desejo de trabalhar mais perto de pessoas que partilham das mesmas atitudes, interesses e objetivos (a sensação de partilha das pessoas na comunidade do projeto Debian normalmente não é vivida por elas nos seus empregos assalariados);
O simples prazer no processo iterativo de desenvolvimento e manutenção de software (alguns programadores têm um nível de dedicação e refinamento de software quase obsessivo).
Os programadores do Debian podem pedir demissão de suas posições a qualquer momento, comunicando a intenção ao grupo privado do projeto (ou apenas aos Debian System Administrators, caso queiram ser mais discretos). Suas contas serão então apagadas e as suas chaves criptográficas removidas do project keyring (chaveiro do projeto, que permite o upload de pacotes assinados por eles para que sejam inseridos no arquivo).
Ciclo de vida dos pacotes Debian
Cada pacote Debian tem um mantenedor (tipicamente, apenas um, mas ocasionalmente pequenas equipes de programadores supervisionam peças de software particularmente complexas). É da responsabilidade dos mantenedores manter o ritmo de acordo com as (caso existam) versões definidas pelos autores do software (o que se chama de upstream), garantir a portabilidade do pacote com as arquiteturas que o Debian suporta, garantir que o pacote é compatível com a política técnica do Debian, corrigir defeitos no pacote relatados pelos usuários (que também podem ser outros programadores Debian), e melhorias aos pacotes criados pelos autores que os deixem mais fáceis de utilizar, configurar, mais seguro etc.
Periodicamente, um mantenedor de pacotes faz o release de um pacote enviando-o para a pasta incoming do arquivo de pacotes do Debian (ou usando uma fila de envios, que periodicamente transmite em batch os pacotes para o directório incoming). Após um intervalo (um dia, atualmente), o diretório incoming é verificado por um processo automático que garante que o upload está bem formado (todos os arquivos obrigatórios devem estar na pasta) e que o pacote tem a assinatura digital — produzida por software compatível com o OpenPGP — do programador Debian. Todos os programadores Debian têm chaves públicas. Os pacotes são assinados devido a dois motivos: 1) para permitir verificar se pacotes não assinados, que podem ter sido enviados de forma hostil, não serão processados no futuro; e 2) para permitir a contabilização caso um pacote contenha um defeito sério, uma violação de política ou código malicioso.
Se o novo pacote é validado como corretamente assinado e bem formado, ele será instalado em uma área chamada pool. Inicialmente, todos os envios de pacotes aceitos no arquivo são disponibilizados somente na versão instável, que contém a versão mais recente de cada pacote. No entanto, o novo código também é código não experimentado, por isso os pacotes são mantidos nesta área de desenvolvimento/QA durante vários dias (a duração exata depende da urgência do envio).
Para um pacote passar da área de desenvolvimento/QA para a versão de testes — ou seja, o grupo de pacotes que são candidatos a fazer parte da próxima release da distribuição Debian — tem de cumprir vários critérios:
Tem de ter estado na área de QA por um período apropriado;
Não pode ter nenhum bug release-critical a ele associado (bugs tão sérios que fazem com que não possam ser liberados);
Tem de ser compilado para todas as arquiteturas planejadas para o release (em outras palavras, pacotes para arquiteturas não liberadas existem apenas na versão de desenvolvimento/QA, não na versão release-candidate);
Não pode depender de versões de nenhum pacote que não cumpra as condições anteriormente definidas.
Desta forma, como é de esperar, um bug release-critical num pacote de que vários pacotes dependam, como por exemplo uma shared library, pode impedir muitos pacotes de entrarem na área de testes, porque essa biblioteca é considerada deficiente.
Periodicamente, o Release Manager, que é um delegado do Debian Project Leader, em concordância com as linhas mestras anunciadas aos programadores alguns meses antes, decide fazer um release. Isto ocorre quando todo o software importante está razoavelmente atualizado na versão release-candidate para todas as arquiteturas para as quais está planejado o release, e quando todos os outros objetivos definidos pelo Release Manager foram atingidos. Nesta altura, todos os pacotes na release-candidate passam a fazer parte do release.
Não é possível que um pacote — particularmente um antigo, estável e alterado frequentemente — pertença a mais do que uma versão ao mesmo tempo. As versões são apenas coleções de apontadores para a pool de pacotes acima mencionada.
Distribuições baseadas no Debian
linux educacional 2.0
linux educacional 2.0 multi terminal
linux Educacional 3.0 multi terminal
linux educacional 3.0
BackTrack
Big Linux
BrDesktop
BRLix
Crunchbang
DreamLinux
Dizinha Linux
gNewSense
GnuLinEx
Indymix
Kalango Linux
Kanotix
Knoppix
Kali Linux
Kurumin Linux
Kake Linux
Linux Mint Debian Edition (LMDE)
Linspire (antigo Lindows)
Muriqui Linux
Musix
MX Linux
Parsix
Progeny Debian
PureOS
Resulinux
Rxart
Sacix
Satux
Slax
Tails
Tucunaré (SuiteTelecentro)
Ubuntu
Whonix
Xandros
Ver também
DFSG
Manifesto Debian, escrito por Ian Murdock em 1994;
APT, importante comando do Debian;
Aptitude
Apt-get
Dpkg
Lista de distribuições de Linux
Ligações externas
Sistemas operativos
Distribuições Linux
Tecnologia da informação
Ciência da computação | 27,519 |
672 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito | Direito | Em sua acepção mais restrita, o direito, em seu sentido objetivo, é o sistema de normas que regula as condutas humanas por meio de direitos e deveres. Esse sistema se impõe em praticamente todos os âmbitos das relações sociais e, como tal, exerce um papel de enorme importância mas também de grande ambiguidade, visto que seu conteúdo e aplicação são influenciados por numerosos fenômenos, como a religião, a política, a economia, a cultura, a moral e a linguagem. Sua natureza precisa, incluindo suas condições de validade e os fundamentos de sua normatividade, é objeto de um antigo e complexo debate, em que se destacam as correntes juspositivista e jusnaturalista e suas múltiplas ramificações.
O conteúdo do direito é articulado a partir de fontes hierarquizadas em ordenamentos jurídicos. Como o direito é um fenômeno inerente ao processo civilizatório e, em certa medida, particular a cada sociedade, a formação, hierarquia e importância de cada fonte variam significativamente em cada Estado. No mundo todo prevalecem os ordenamentos jurídicos da família romano-germânica de direitos, nos quais as leis escritas são mais amplamente utilizadas e constituem a principal fonte do direito, e da família da common law, fundados principalmente em decisões precedentes. Outras famílias de direitos comuns pelo mundo incluem a dos direitos consuetudinários e a da xaria, dentre outras, sendo comuns ordenamentos mistos, que incorporam elementos de uma ou mais famílias.
Apesar dessas diferenças, diversos processos históricos, políticos e culturais têm ocasionado um movimento de aproximação dos direitos nacionais e, na Contemporaneidade, as fontes do direito tendem a ser articuladas de maneira semelhante. Quando criadas pelo Estado, por meio de uma assembleia com competência legislativa ou de uma autoridade com poder regulamentar, as normas jurídicas são formalizadas em leis, decretos, regulamentos e outros documentos. Estados também podem celebrar tratados entre si e com organizações com personalidade jurídica internacional, que criam regras com efeitos em âmbito externo e interno. Por sua vez, indivíduos e organizações podem celebrar contratos, que, subordinados às normas estabelecidas pelo Estado, criam regras juridicamente vinculantes. As normas jurídicas privadas e públicas são aplicadas, no âmbito de um processo, por tribunais e outros indivíduos com poder jurisdicional, normalmente com base em uma série de métodos interpretativos e à luz da doutrina jurídica, dos costumes e de decisões judiciais que formam a jurisprudência sobre o tema.
Além do binômio direito interno e direito internacional, historicamente o direito tem sido dividido em dois domínios maiores, sobretudo nos países cujos ordenamentos pertencem à família romano-germânica de direitos, e em ramos que agregam normas e teorias que compartilham um mesmo objeto e outras características. Assim, enquanto o direito público diz respeito ao Estado e à sociedade, incluindo ramos como o direito administrativo e o direito penal, o direito privado lida com a relação entre indivíduos e organizações, em áreas como o direito civil e o direito agrário. Contudo, as transformações sociais produzidas desde a Modernidade têm tornado essa divisão crescentemente incapaz de afiliar ramos do direito nascidos de novas necessidades sociais, sobretudo quanto a interesses transindividuais, meta-individuais e coletivos.
Etimologia
As origens e o processo de adoção da palavra direito são conhecidos apenas parcialmente, embora esteja claro que ambos estão conectados à Roma Antiga. Em latim clássico o termo usado para designar um direito era , que daria origem a "jurídico" e "justiça", dentre outros. Esse termo se originou da raiz sânscrita (que indica unir ou juntar, e, por extensão, o vínculo contido no direito) ou (que indica algo sagrado), e, em sua origem, indicava algo vinculante ou obrigatório e talvez possuidor de uma garantia divina. Contudo, diferentemente do uso moderno mais comum do termo direito, que designa um conjunto de regras e, portanto, salienta a sua dimensão normativa, dentre os romanos o termo estava imediatamente associado à noção de e era entendido como "a arte de realizar a justiça". Assim, a despeito do caráter normativo do direito romano, esse povo não utilizava o termo em referência a esse seu aspecto, mas sim salientando a sua dimensão prática, isto é, a proclamação da justiça pelo juiz.
O termo direito, por sua vez, pode ser traçado até (latim medieval erudito) e (latim vulgar), e sua forma adjetiva , que indica algo "dirigido" ou "guiado" em linha direta, ou ainda "sem desvio". Esse adjetivo é particípio passado do verbo ("endireitar", "ajustar", "desenhar em linha reta", "alinhar"), que se originou do verbo latino ("governar", "guiar", "liderar") e, mais anteriormente, do adjetivo ("reto", "direto"). Essas palavras evoluíram do termo em língua protoindo-europeia -, que indica o ato de endireitar algo e está na origem do termo proto-germânico rehtan, que mais tarde originou o inglês right (por meio do inglês antigo riht) e o alemão recht (por meio do alto-alemão antigo reht); do grego antigo orektos (estendido, ereto); dos termos em persa antigo rasta- ("reto", "direto") e aršta- ("retidão"); do galês rhaith; e do bretão reiz ("justo", "sábio").
Em relação à cronologia do seu uso pelos romanos, as línguas românicas contemporâneas invariavelmente comunicam o conceito de direito com termos que possuem uma mesma origem (o termo lusófono direito tem correspondência direta com diritto, do italiano, derecho, do espanhol, droit, do francês, dret, do catalão, drech, do occitano e drept, do romeno, dentre outros), e, portanto, parece claro que eles se difundiram anteriormente à queda do Império Romano do Ocidente.
Quanto às circunstâncias da sua adoção, uma teoria amplamente conhecida se ampara no e em análises da simbologia relacionada ao direito para demonstrar que o uso desse termo tem uma correspondência com a cultura grega e seria uma referência à posição ereta do fiel da balança, esta última um símbolo de equilíbrio associado à ideia de justiça no Antigo Egito do século XX AEC. Na Grécia Antiga, entre os sécs. XII e X AEC, a balança e o ideal de justiça vieram a ser associados a Zeus, que julgava o Homem em função de sua própria lei e de sua própria vontade. Mais tarde, pelos tempos de Homero, Zeus foi substituído, como símbolo da justiça, pela deusa Têmis, mas com a diferença que essa deusa julgava os homens em função da lei de Zeus; a deusa Têmis, portanto, era uma encarnação secundária do direito, pois seu julgamento era delimitado por uma lei externa a si mesma, estabelecida por um terceiro, Zeus. Por fim, pelo tempo de Hesíodo o panteão grego viu surgir a deusa Dice, filha de Zeus e Têmis, cuja representação incluía a balança em sua mão esquerda e uma espada na direita. A essa deusa foi atribuída a função de administrar a justiça ao Homem, isto é, de utilizar a balança para julgar os fatos de acordo com a lei de Zeus e declarar o que era justo em situações concretas. Os romanos teriam incorporado as mesmas alegorias em seu panteão, respectivamente nas figuras de Júpiter, Dione e Iustitia. Em comum a ambas alegorias, Dice e Iustitia identificavam o direito, e assim podiam declarar o que era era justo, quando os pratos da balança estivessem em equilíbrio () e, assim, o seu fiel estivesse perfeitamente ereto, isto é, direito (). Portanto, enquanto na Grécia o direito veio a ser conhecido como na linguagem mais popular, em Roma ele veio a ser designado informalmente pelo termo , mas com uma conotação diferente daquela do termo , referindo-se especificamente à sua dimensão moral (indicando aquilo que é escorreito, o caminho reto a ser seguido), e não sua dimensão prática ou de proclamação da justiça pelo juiz.
Dito de outro modo, o termo teria surgido como consequência de a maior parte da população romana apreender o direito por seu aspecto orientador das condutas, e não por seu aspecto técnico (a arte de realização da justiça), expresso pelo termo ius. Apesar de sua rejeição pelas classes mais educadas, que o consideravam vulgar, o termo difundiu-se dentre a sociedade romana e provavelmente coexistiu com o termo até os sécs. VII e VIII EC, quando os conteúdos dos manuais de direito romano começaram a cair em desuso. Por essa época o uso do termo técnico foi suplantado pelo termo vulgar , que então já era parte do vocabulário comum, tanto na linguagem falada quanto na escrita. O termo conheceria uma ressurgência com o renascimento do direito romano, iniciado com a redescoberta do Corpus Juris Civilis pelos juristas italianos no século XII, mas por essa época os termos e já eram amplamente utilizados para designar todo o conjunto ou uma norma jurídica específica. Do latim, eles evoluíram em português sucessivamente para directo (1277), dereyto (1292) e dereijto (1331), até chegar à sua grafia atual, documentada pela primeira vez no .
História
Sociedades arcaicas
O direito é um fenômeno inerente às sociedades humanas, exclusivo a elas e relacionado à sua própria formação. Toda sociedade humana, das culturas arcaicas às mais avançadas tecnologicamente, possui estruturas normativas que impõem "padrões, regras e valores" aos seus membros e que constituem instrumentos de controle social, isto é, regulam os comportamentos individuais e coletivos a fim de assegurar uma certa ordem social. Mesmo nas sociedades mais simples o direito é elemento estruturante do controle social, permitindo "prevenir, remediar ou castigar os desvios das regras prescritas".O nascimento do direito, portanto, remonta a tempos imemoriáveis, e tratar de sua história implica reconhecer seu surgimento em diferentes sociedades e momentos históricos. Embora não se possa identificar uma data, mesmo aproximada, para o seu surgimento, sabe-se que a vida em cidades data de pelo menos 7000 AEC e, por essa época, seguramente o direito já estava presente. Inicialmente as regras aplicáveis às sociedades eram transmitidas sem grande preocupação com a sua sistematização, oralmente e por meio de uma simbologia capaz de expressar normas e valores de maneira figurativa mas com clareza e precisão imediatas.
Assim, no âmbito das sociedades ágrafas o direito evidentemente não era legislado, mas sim constituído essencialmente de costumes, que foram se perpetuando através das gerações e se consolidando na forma de tradições e rituais. Como a mobilidade e o intercâmbio entre as primeiras sociedades eram limitados pelas distâncias geográficas e o desenvolvimento tecnológico, inicialmente os seus direitos apresentavam um grau acentuado de endogenia; os direitos de cada sociedade, portanto, eram bastante particulares e apresentavam pouca influência externa, daí se falar em uma "multiplicidade de direitos" desde logo cedo.
As evidências sobre o funcionamento desses direitos também sugerem que inicialmente as normas de direito tinham como objeto privilegiado os interesses do grupo em detrimento da regulação de interesses individuais; não por acaso, o direito penal surgiu cedo na história do direito e talvez mesmo tenha sido a sua origem. Da mesma forma, há consenso que os direitos primitivos eram fortemente contaminados pela religião, de modo que a autoridade das regras de direito estava fundada no sobrenatural: nas vontades das divindades, nas crenças dos antepassados e nos rituais. Assim sendo, naturalmente os sacerdotes tornaram-se os primeiros reveladores e intérpretes das normas e, na maior parte das sociedades arcaicas, as figuras do líder religioso, do legislador e do rei se confundiam ou estavam intimamente relacionadas. Ao longo do tempo as vontades das divindades, as crenças dos antepassados e os rituais tenderam a se fundir em uma coisa só, isto é, as normas de cunho religioso transformaram-se em costumes e rituais, que, por sua vez, foram sendo substituídos por leis. Por esse motivo, considera-se que os direitos primitivos possuíram três estágios de desenvolvimento: o direito oriundo dos deuses, o direito que toma a forma de costumes e o direito fundado nas leis.
Os primeiros textos expressando e organizando as normas jurídicas viram o dia concomitantemente ao surgimento da escrita, por volta de 3200 AEC, no seio das culturas que, por meio dessa nova tecnologia, buscaram registrar as informações sobre sua organização em um meio mais perene do que as memórias dos indivíduos. Os sumérios produziram alguns dos primeiros documentos com conteúdo jurídico que se conhece, na forma de documentos de caráter negocial. Os primeiros deles foram registros de transações fundiárias, datados por volta de 3000 AEC, e contratos relacionados a outros bens, incluindo a compra, venda e libertação de escravos, surgiram pela mesma época. Não muito mais tarde, entre 2300 e 2200 AEC, o Império Acádio produziu os primeiros documentos conhecidos estabelecendo tratativas entre dois povos diferentes, e que são os registros mais remotos do direito internacional.Quanto a textos de lei tratando da regulação interna da sociedade, embora se conheça indiretamente existência de leis como o Código de Urucaguina, produzido no século XXIV AEC, o mais antigo códice legal já encontrado por arqueólogos é o Código de Ur-Namu, produzido na Suméria provavelmente entre 2047 e 2030 AEC. Mesmo em relação a documentos posteriores, esse documento mostrou-se avançado por empregar uma fórmula casuística para as regras que previa e por conter numerosas regras buscando proteger a maioria mais fraca contra os abusos da minoria mais poderosa.
Um outro documento inicial, por décadas considerado o mais antigo documento desse tipo, foi o Código de Hamurabi, que desde a publicação de sua primeira tradução parcial, em 1902, tornou-se provavelmente o mais famoso códice das fases iniciais da Idade Antiga. A fama desse documento babilônio se assenta no fato dele apresentar "o mais coerente e elaborado engajamento com questões de justiça no período inicial da história mundial", de maneira que não se veria igual por outros mil anos. Datado de 1760 AEC, ele continha 282 leis relativas a questões econômicas (como preços, tarifas, e comércio), familiares (como a regulação do casamento e do divórcio), criminais (tipificação e punição por crimes) e de direito civil (relativas, por exemplo, à escravidão e ao pagamento de dívidas). As penas previstas variavam de acordo com a estratificação social dos infratores (escravo/livre, homem/mulher) e as circunstâncias dos crimes. Além do mais, esse documento também é testemunha do nascente processo de intercâmbio entre os direitos de diferentes culturas, pois incorporou regras que hoje se sabe estavam presentes em leis estrangeiras, como o Código de Ur-Namu, e influenciou outros corpos de leis, notadamente as Leis Bíblicas.
Exemplos arcaicos adicionais incluem o Código de Lipite-Istar ( 1930 AEC), o Código de Esnuna ( 1720 AEC), o Código dos Assírios (final do século XII AEC), as Leis Hititas (século XIII AEC), as Leis do Império Neobabilônico (século VI AEC), o Código da Aliança ( 1000 AEC) e o Código Deuteronômico (século VII AEC), além do Código de Atenas elaborado por Drácon (século VII AEC). Todos esses documentos empregaram a fórmula casuística do Código de Ur-Namu e incluíram regras voltadas à solução de problemas do dia a dia.
Direito romano
Os gregos e os romanos foram os primeiros povos a distanciar a moral e a religião do direito, e estes últimos foram os primeiros a organizar um verdadeiro direito, no sentido atual do termo, ao extrair, estudar e aplicar sistematicamente regras que poderiam ser utilizadas para resolver outros casos, a partir de decisões precedentes sobre casos concretos. Outra distinção fundamental do direito romano frente aos demais direitos da época é que ele tratava principalmente de questões de interesse privado. Assim, ele expressou, possivelmente pela primeira vez, "o advento do direito privado, isto é, o reconhecimento jurídico da esfera privada em oposição à esfera pública".O marco inicial do direito romano, tal qual ele foi transmitido à posteridade, foi um corpo de normas chamado Lei das Doze Tábuas (), que se originou em torno de 450 AEC, no início do período da República Romana. Até então os romanos haviam regulado sua sociedade por meio de costumes e rituais desenvolvidos ao longo de séculos, e esse documento codificou parte das regras até então praticadas. Embora não haja consenso sobre a veracidade da tradição de que teria se originado em um contexto de disputa entre a classe dos plebeus e a dos patrícios, está claro que a Lei das Doze Tábuas foi influenciada pelos direitos de outros povos, sobretudo códices da Mesopotâmia e a legislação ateniense elaborada por Sólon.
A cidade-estado onde a democracia se desenvolveu, Atenas possuía o direito da Antiguidade que apresentava maior desenvolvimento quanto ao processo judicial e à formação da legislação. O código de Solon substituíra o de Drácon, como parte de uma ampla reforma institucional, social e econômica, e a criação da corte suprema de Atenas, a Helieia, permitiu a qualquer pessoa recorrer de decisões injustas de tribunais inferiores, estabelecendo assim o princípio de que a lei se encontrava acima do magistrado, a quem cabia apenas aplicá-la. Talvez mais importante, o direito ateniense foi muito influenciado pela filosofia grega e, por meio dela, permitiu aos romanos "construir um direito sistematizado e governado pela razão e pelo dever", a ponto de se poder falar em um "sistema científico".
A Lei das Doze Tábuas era parte daquilo que os romanos entendiam como ius civile ou direito dos cidadãos, e que era aplicável unicamente aos cidadãos romanos. Conforme a república deu lugar a um império, seus governantes enfrentaram o crescente desafio de governar uma população cada vez mais diversa e decentralizada, e disputas entre os cidadãos romanos e os não-cidadãos, que viviam ou viajavam por seus territórios, mostraram a exaustão do ius civile frente a muitos desses casos. Assim, gradualmente foi se desenvolvendo o chamado ius gentium ou direito dos povos, constituído por leis aplicáveis a todas as pessoas livres, independente de sua nacionalidade, e que, na visão dos romanos, era fundado nos princípios e valores compartilhados por toda a humanidade. Mais tarde, com a sofisticação do direito romano, um outro desdobramento viu o dia na forma do ius honorarium, constituído de precedentes e soluções adotados por magistrados, particularmente o pretor, e que facilitava a aplicação das leis ao fornecer elementos para suprir suas lacunas e mesmo corrigi-las.Ao longo da história de Roma, cada uma dessas fontes do direito romano evoluiu consideravelmente em conteúdo e importância, permitindo ao direito transformar-se e manter sua vitalidade. Pelos idos de Cícero, o ius honorarium parece ter sido a maior e mais importante fonte do direito e, pela época de Diocleciano, já durante o Império, uma rica tradição de jurisprudência se encontrava consolidada. Pouco a pouco, as análises dos resultados das decisões relativas ao ius gentium e ao ius honorarium passaram a ser estendidas ao ius civile e, gradualmente, levaram a uma maior integração das fontes do direito romano e à constituição de uma legítima ordem jurídica (). Durante o império também surgiu um quarto elemento do direito romano, chamado ius novum, constituído de leis, opiniões do Senado Romano (), decretos do imperador e decisões de outros magistrados () sobre assuntos que não estavam vinculados pelas regras comuns do direito.
Com a maior complexidade do direito, a administração da justiça passou a necessitar de um grupo maior de profissionais para operar o sistema de leis e decisões que havia sido desenvolvido. Assim, na segunda metade do século III AEC surgiu uma nova classe de especialistas treinados em direito, chamados juristas, que não participavam diretamente da administração da justiça mas trabalhavam na interpretação do direito e na produção de pareceres formais sobre ele. O trabalho de sucessivas gerações de grandes juristas e a constituição de uma ciência jurídica — a jurisprudentia — elevaram-no ao seu ápice durante os sécs. I e II, que constituem o período clássico do direito romano.
No século que se seguiu à divisão entre o Império Romano do Ocidente e o Império Romano Oriental, Teodósio II ordenou uma compilação das leis romanas, o Código de Teodósio (), que foi aplicado em ambas as metades do império. Não muito depois, o Império Ocidental sucumbiu às migrações bárbaras que vinham ocorrendo na região, e o imperador bizantino Justiniano buscou reconquistar alguns dos territórios ocidentais que haviam sido perdidos para invasores germânicos, de forma a restabelecer o controle e um senso de unidade dentro do Império. Como parte desse desafio, o governo de Justiniano empreendeu um grande esforço de codificação das leis do império, e que resultou no Corpus Iuris Civilis, formado por três documentos: Institutos (), uma introdução ao sistema jurídico romano; Digesto () ou Pandectas (), uma coleção de excertos de textos de juristas consagrados; e o Código Justiniano propriamente dito (), um conjunto de doze volumes com as leis imperiais. O Corpus Iuris Civilis tornou-se a fonte primária do direito nas áreas controladas pelo Império Bizantino, ao passo que a península Itálica e as demais províncias do Império Romano do Ocidente foram gradualmente perdendo elementos importantes de sua identidade romana, com evidentes reflexos em seus direitos.
Idade Média
Apesar da queda do Império Romano do Ocidente, o direito romano continuou a ser aplicado em seu antigo território e também no Império Bizantino. Contudo, rapidamente o direito existente nessas duas regiões deu origem a direitos distintos, devido a processos evolutivos próprios.
No Império Bizantino, graças às codificações de Justiniano e à preservação das instituições e do tratamento científico do direito, o direito romano, tal qual inicialmente moldado por Justiniano, continuou a ser utilizado por séculos. Na sequência da elaboração do Corpus Iuris Civilis, Justiniano decretou limites para a sua interpretação por comentaristas, temeroso que o conteúdo da nova legislação fosse eclipsado por uma torrente de interpretações conflitantes. Essa limitação parece ter relaxado com o passar dos séculos, e o trabalho dos juristas bizantinos jamais deixou de existir efetivamente.
Conjuntamente a isso, os imperadores que sucederam Justiniano continuaram a promover mudanças no direito, de acordo com os problemas sociais e econômicos que foram se apresentando e também porque as codificações justinianas jamais se tornaram a única fonte do direito no império. O Corpus Iuris Civilis foi um produto do governo bizantino, mas com conteúdo em latim e tratando do direito romano, isto é, de instituições e conceitos criados por uma cultura distante e cujas raízes se perdiam no tempo; como consequência, seu conteúdo jamais esteve inteiramente ao alcance da cultura jurídica predominantemente grega dos juristas bizantinos. Assim, os sucessores de Justiniano realizaram esforços a fim harmonizar e atualizar o direito bizantino, que existiu formalmente até a liquidação final do império, em 1453, mas continuou a influenciar a evolução dos direitos das nações que anteriormente eram parte da esfera de influência bizantina.
Em paralelo, no território antes controlado pelo Império Ocidental, inicialmente o direito romano, na forma do Código de Teodósio, continuou a ser utilizado pelas populações de origem romana. Não obstante, com a ausência de um governo central e de uma classe de profissionais bem treinados para compreender e operar esse direito, ao longo dos séculos ele incorreu em processos de fragmentação e barbarização, ou seja, de fusão com os costumes dos povos germânicos que controlavam as diferentes regiões anteriormente romanas e de diversificação por conta da crescente feudalização. Pela época do reino de Justiniano, no antigo território ocidental surgiram ao menos três codificações empreendidas por povos germânicos, sendo a mais famosa a Lei Romana dos Visigodos (), que consistiam de compilações pouco refinadas de fontes jurídicas romanas. Como Roma havia construído o direito mais compreensivo e sofisticado até então, ele acabou adotado em grande medida pelos governos que a sucederam, embora de maneira pouco analítica e marcadamente desigual nas diferentes regiões. Assim, embora o direito romano jamais tenha deixado de existir completamente nas regiões que anteriormente eram parte do Império Ocidental, documentos do período mostram uma crescente quantidade de erros conceituais e ausência de originalidade e competência nas interpretações doutrinárias a seu respeito.
Ao longo dos séculos de declínio do direito romano, contudo, essas atividades se encarregaram de manter vivas a memória e a admiração por sua qualidade, e eventualmente permitiriam avanços consideráveis nos direitos locais dos reinos europeus. Pelo século XI a Europa emergia da idade das trevas, e isso foi acompanhado de uma revalorização da cultura clássica, que levaria à criação das universidades e ao Renascimento do século XII. Como efeito mais imediato, esse movimento encorajou uma renovação no estudo do direito romano, sobretudo no sul da França e no norte da Itália. Embora o estudo do Corpus Iuris Civilis tenha avançado em alguma medida por conta disso, sobretudo nas universidades de Pavia e Ravena, esse avanço foi limitado e só ganhou verdadeiro impulso com a redescoberta em Pisa, no final do século XI, de uma cópia completa do Digesto de Justiniano.
Esse documento foi imediatamente estudado pelos glosadores da Universidade de Bolonha, que, ao longo de um século e meio de trabalho, sucederam em estabelecer as bases teóricas para a compreensão atual do direito romano. Na Universidade de Bolonha milhares alunos de toda Europa aprendiam as técnicas de operação do direito lá desenvolvidas, e não o conteúdo de leis ou direitos específicos, e, a partir dela, os avanços no estudo do direito romano se difundiram por toda a Europa. Diversos motivos têm sido propostos para explicar esse fenômeno, dentre os quais a sobrevivência de instituições jurídicas romanas nos direitos praticados em diferentes partes da Europa; a versatilidade e amplitude do direito romano, que permitia resolver diversas questões para as quais os direitos dos países não tinham resposta; a adoção de novas leis, por diversos países, inspiradas no direito romano; e a crença no direito romano como sendo o direito comum a toda a cristandade. Esta última questão, de fato, parece ter sido a principal motivação dos glosadores.
Por um motivo ou por outro, o a partir do século XI o direito romano passou a permear todos os direitos da Europa, embora em diferentes medidas e com suas próprias cronologias. Em um movimento que prenunciava o processo de formação dos Estados nacionais, ele encontrou a simpatia dos monarcas europeus, pois mostrou-se útil em seus esforços para impor seu poder real frente à nobreza feudal. Consequentemente, muitos reinos viram surgir codificações inspiradas no direito romano, ao passo que muitos daqueles que detinham poder localmente protestaram em busca de manter seus costumes locais e antigos privilégios. Esse processo, contudo, foi apenas parcialmente efetivo, pois nenhum reino da época possuía a força necessária para substituir completamente os direitos locais por uma burocracia centralizada. Assim, em primeiro lugar, apenas os casos envolvendo a alta justiça passaram a ser julgados pela cortes reais, enquanto tudo o mais permaneceu sob a jurisdição da nobreza local. Depois, o direito local continuou a ter preferência em relação ao direito romano, e este passou a ser utilizado como fonte subsidiária.
Em última instância, em praticamente toda a Europa o ius commune () europeu, uma combinação de direito romano, direito canônico e direito local () continuou em uso até o final do século XVIII. Elementos do Corpus permaneceram uma fonte imediata do direito até tempos recentes, como na Alemanha, até em 1900, e na Escócia, África do Sul e Sri Lanka, até pelo menos a segunda metade do século XX; além disso, a técnica romana influenciou fortemente o processo das codificações nas Américas, na Europa e na Ásia a partir do século XVIII. Em grande medida por conta do Corpus, o direito romano tornou-se a fundação da família romano-germânica de direitos e pode ser considerado "uma das mais poderosas forças formativas no desenvolvimento da civilização ocidental".
Uma situação semelhante, mas em última instância excepcional, diz respeito à Inglaterra. No século XII a situação do direito desse país era essencialmente a mesma da Europa Continental: seu direito local era fundado nos costumes; diferentes condados, e até mesmo em unidades administrativas menores, possuíam diferentes direitos; o direito romano era estudado nas universidades e monastérios. Também como no continente, o direito romano penetrava o direito inglês por meio do direito canônico e das cortes eclesiásticas, que julgavam temas como casamentos e divórcios. Contudo, a partir de Henrique II o reino foi construindo um sistema de justiça relativamente bem organizado, e isso deu início a um processo de unificação do direito do país. O direito romano continuou a ser ensinado nas universidades, e, no século XIII, havia uma marcada distinção entre o direito romano, científico, e o direito dos tribunais ingleses, vernacular. Como na Europa, por essa época o perfil profissional desejado pela comunidade jurídica inglesa passou a compreender não apenas o direito romano, mas também o direito dos tribunais. O profissional ideal, portanto, passou a ser "mestre de ambos os direitos" () e, nessa qualidade, a conhecer bem o direito comum produzido pelos tribunais (). Essas bases do direito inglês se definiriam mais claramente durante a Era Tudor, quando os Inns of Court se impuseram às universidades quanto à formação dos juristas.
Modernidade e Contemporaneidade
A partir dos sécs. XV e XVI a Idade Moderna trouxe consigo um novo ideário, que rompeu com a mentalidade medieval em benefício da razão como valor dominante e teve como consequência lógica uma busca crescente por igualdade e progresso. Embora valores de independência do indivíduo já estivessem presentes no direito romano, o ideário moderno mostrou-se "radicalmente novo" ao combinar individualismo (a libertação do indivíduo da tutela e da dependência de uma pluralidade de amarras sociais) e universalismo (a busca de libertação do indivíduo de seu próprio condicionamento) e torná-los os dois pilares de uma liberdade integral do indivíduo.
Essa nova visão de mundo gradualmente ganhou toda a Europa, infiltrando primeiro as instituições e depois as mentalidades e maneiras, e chegou ao Novo Mundo, que, influenciado por ele, gradualmente passou a buscar sua própria independência. Enfim, em tempos mais recentes ela se generalizou por todo o planeta; como já se colocou, "essa globalização dos valores da modernidade ocidental é um fato histórico".
O desenrolar da Modernidade foi marcado por mudanças maiores, dentre as quais a emergência do absolutismo, que findou com o sistema feudal medieval e fez surgir o Estado-nação burguês centralizado e burocrático; a individualização cultural e linguística das nações; a Renascença e a Reforma, intimamente ligadas à emergência de um humanismo fundado no valor do indivíduo e em suas possibilidades de acesso ao conhecimento; a Revolução Científica, que forneceria bases para o Iluminismo; e, enfim, o reconhecimento da democracia como condição indispensável para a liberdade individual.
Como consequências dessas transformações, e em grande medida influenciada pelo pensamento político de Jean-Jacques Rousseau, a Europa e depois o mundo assistiram ao advento do direito individualista e universalizante moderno, que teve como expressão mais visível a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, considerada o marco fundador da nova relação do direito com o Estado e, portanto, um fundamento do direito na modernidade. O estabelecimento desse novo direito, cujo conteúdo é próprio a cada país, só foi possível com a formação do Estado-nação e sua estrutura sólida e ramificada, capaz de reclamar o desenvolvimento de um direito unificado e específico a ele; com o desenvolvimento de uma administração pública como algo mais amplo que a prestação da justiça e a gestão do tesouro; e com a gradual separação entre as funções de administração, prestação de justiça e legislativa. A partir de então, o Estado de direito veio a se consolidar como novo paradigma em todo o mundo, "equilibrando os direitos e as garantias individuais baseados numa concepção abstrata de indivíduo portador de direitos a serem salvaguardados pelo Estado e contra o Estado".
A ciência do direito em si conheceu um grande desenvolvimento a partir dos novos valores modernos, em consonância com os valores políticos e sociais em transformação. Durante a Renascença, o interesse renovado na Antiguidade Clássica forneceu um novo contexto intelectual para o estudo do direito romano na Europa, sobretudo pela escola do humanismo jurídico da França, que promoveu uma nova atitude crítica em relação a ele, contextualizando-o e historicizando-o. Ao fazer isso, ela passou a admirar e advogar a racionalidade do direito romano, mas acabou por questionar a sua autoridade e validade prática, pois, ao constatar que ele fôra um produto da sociedade romana e mudara com as circunstâncias de seu tempo, concluiu que o direito francês deveria ser um produto da sociedade francesa e adaptado às suas necessidades.
Paradoxalmente, o humanismo jurídico acabou defendendo uma separação estrita entre interesses históricos e práticos, e isso levou-o a permanecer um movimento sem forte influência na prática jurídica. Contudo, pela mesma época os Países Baixos e a Alemanha viram surgir uma nova escola do direito natural, influenciada pela filosofia grega e pelo racionalismo protestante. Fundada por Hugo Grócio, ela defendia a existência de princípios jurídicos racionais inerentes à razão natural dos seres humanos — independentemente da religião e valores sobrenaturais — e sua busca em textos e documentos da Antiguidade, especialmente no direito romano. Embora esse "novo direito natural do Iluminismo" não se confundisse o direito romano, utilizando-o apenas como base para seus próprios sistemas de leis, muitos dos seus princípios sobreviveram como princípios do direito natural. Além de ter lançado as bases do direito internacional moderno, essa escola desencadeou e influenciou fortemente a era das codificações; mesmo nos países da common law, onde esse movimento não se fez tão presente, ele deixou suas marcas no direito privado.
Era das codificações
O termo "era das codificações" foi cunhado pelo filósofo Jeremy Bentham para designar um movimento de codificação que varreu a Europa continental no século XVIII e se deu pela aplicação das teorias do direito natural na criação de legislações escritas abrangentes, com base, sobretudo, na razão natural (não religiosa ou de qualquer outra origem) do ser humano. A teoria do direito natural fundado na razão forneceu critérios e padrões para a definição de direitos subjetivos essenciais e permitiu ao jurista questionar o valor e a qualidade do direito, ao passo que o fenômeno da codificação "abriu as portas para a possibilidade de repensar e reformular todos os princípios, premissas e pilares fundamentais dos sistemas jurídicos europeus". Isso daria origem aos códigos especializados, que deveriam conter, de maneira coerente e sistematizada, a totalidade dos princípios e regras relativos a cada ramo do direito. O fenômeno da codificação foi particularmente significativo na França nos anos seguintes à Revolução de 1789, mas também foi importante na Confederação Germânica e se espalhou, em diferentes graus, por todo o mundo durante os sécs. XIX e XX.
O Código Napoleônico de 1804 foi a conquista mais proeminente da era das codificações; considerado um monumento à perfeição da razão, transpôs para o direito a articulação intelectual da soberania nacional: a França, como Estado unificado, deveria ter um direito comum para todos os cidadãos, baseado na razão e não nos costumes. Sua influência iniciou-se com as Guerras Napoleônicas, mas estendeu-se a outras partes da Europa (Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Itália, Espanha, Portugal, Hungria, Romênia e Grécia), e à América Latina, Turquia, Egito, China, Japão e Luisiana (Estados Unidos).
Já o posterior o Código Civil Alemão de 1900, embora tenha tido influência considerável do direito romano e seja um produto tardio do movimento de codificação, teve uma origem fundada no positivismo jurídico. O Código Napoleônico inspirou um movimento semelhante na Alemanha, interessado em sistematizar e unificar as várias leis heterogêneas vigentes no país, mas que foi oposto pela Escola Histórica do Direito, que defendia que um direito para todos os reinos alemães não poderia ser identificado unicamente a partir da razão, porque o direito seria um produto da cultura e dos hábitos de cada sociedade. Seu membro mais ilustre, Friedrich Carl von Savigny, defendia que povo tem uma história, um caráter e uma consciência próprios — um "espírito nacional" () — que imprimem suas marcas no direito e nas instituições jurídicas. Seu discípulo Georg Friedrich Puchta daria continuidade a esse trabalho e, com base no método da jurisprudência dos conceitos, deu passos importantes para o estabelecimento do direito como uma ciência jurídica positiva, com uma existência independente dos aspectos éticos, políticos e econômicos da vida social. Nessa nova concepção, as regras de direito somente poderiam ser extraídas de um sistema integrado de normas positivadas. Embora no longo prazo tenha prevalecido o interesse em unificar e codificar o direito civil alemão, o Código Civil Alemão, que começou a ser elaborado algumas décadas depois, foi muito influenciado pela perspectiva da Escola Histórica do Direito e influenciaria o direito de numerosos países, notadamente Japão, Suíça, Grécia, Rússia e os países escandinavos.
Globalização do direito
Um dos eixos centrais da Modernidade, a globalização foi acompanhada de um fenômeno de difusão de modelos jurídicos que se convencionou chamar "globalização do direito". Esse fenômeno jurídico, iniciado com a Modernidade e que se estende até a Contemporaneidade, corresponde à "constituição progressiva de uma base de regras e princípios comuns que se traduz em um movimento de aproximação dos sistemas jurídicos dos Estados" ou ainda à "intensidade em que o mundo inteiro vive sob um conjunto único de regras jurídicas [...] imposto por um único ator coercitivo, adotado por consenso global ou alcançado por desenvolvimento paralelo em todas as partes do globo".
Dito de outro modo, a globalização do direito constitui "a criação de um fundo comum de regras de aplicação geral" que não se confunde com uma verdadeira "ordem jurídica transnacional" que supera os direitos do Estado, mas sim que, normalmente, se difunde pela incorporação de regras comuns pelos diferentes direitos nacionais. A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 é um exemplo disse tipo, que, embora seja um documento não vinculante, orientou, voluntariamente, o desenvolvimento dos direitos nacionais rumo a objetivos comuns: ela levou à criação, negociação e aprovação de regras em direito internacional pelos Estados, que em seguida têm sido incorporadas aos direitos nacionais.
Contudo, embora o desenvolvimento expressivo do direito internacional ao longo do século XX seja um eixo da globalização do direito, esta corresponde "a uma etapa radicalmente nova e qualitativamente diferente", pois, enquanto a internacionalização do direito foi apoiada e levada a cabo pelos Estados-nação, "a globalização escapou amplamente de suas garras e seu escopo não é mais apenas econômico, mas também social, cultural e político". A globalização do direito, portanto, se apoia também em outros eixos não necessariamente tutelados pelos procedimentos convencionais do Estado: esse fenômeno jurídico é inseparável da globalização em geral, e a globalização de certos valores contribui positivamente para a construção de regras comuns entre os Estados.
Para alguns autores seria possível falar em um processo de globalização do direito dividido em três fases que sobrepõem parcialmente. A primeira delas, que vai da metade do século XIX até o princípio da Primeira Guerra Mundial, teve como mecanismos de ação a imposição do direito das metrópoles ocidentais ao mundo colonizado, a "abertura forçada" de nações não ocidentais que escaparam ao colonialismo e "o prestígio da ciência jurídica alemã" no mundo ocidental. A segunda fase dessa globalização se estende do início do século XX a 1968, e foi alimentada principalmente pelos movimentos reformistas de todas as faixas políticas no Ocidente desenvolvido, pelos movimentos nacionalistas nos países periféricos e pelas elites dos países que se tornaram independentes após o fim da Segunda Guerra Mundial. A terceira fase, correspondente ao período que vai do fim da Segunda Guerra Mundial até o princípio do século XXI, foi movida pela influência americana na sequência da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, e uma "nova consciência jurídica" dos Estados que, para poderem participar no mercado mundial, se veem compelidos a respeitar as "condições estabelecidas por empresas multinacionais e instituições reguladoras internacionais".
Inflação regulamentar
Ao longo dos sécs. XIX e XX o positivismo jurídico se firmou como tendência dominante, tanto nos direitos romano-germânicos quanto nos da common law, e o direito, apreendido como uma ordem normativa pura ou carregado das aspirações éticas do humanismo, continua amplamente ancorado no pensamento racionalista clássico e na premissa de que é "possível apreender objetivamente a realidade, racionalizá-la de acordo com categorias jurídicas abstratas e atuar sobre elas por meio de comandos escritos de valor geral, impessoal e permanente".
Assim, a chamada "inflação legislativa" se estabeleceu como uma forte tendência da Contemporaneidade, como testemunha da crença no poder da lei em produzir resultados práticos e alimentada pelo apelo à lei por parte de múltiplos grupos de interesse e de lobismo e pelo impulso regulador do Estado. Apesar de críticas contundentes clamando por uma redução da pressão jurídica sobre a vida social, especialmente a vida econômica, e do estabelecimento de mecanismos para conter o reflexo regulatório da administração pública (por meio do controle parlamentar, da avaliação prévia das repercussões das lei, e de uma abertura maior à participação pública no processo legislativo), ela tem se mostrado persistente e imune a tentativas de redução radical do volume do arcabouço jurídico. Em geral, mesmo a "política de menos Estado" tem se mostrado incapaz de realizar uma varredura, e, como já se colocou, mesmo os governos neoliberais mais extremados se veem obrigados a continuamente introduzir novas leis e a regulamentar novos setores e atividades.
Juridicização e judicialização das relações sociais
Por fim, a Contemporaneidade tem sido marcado por uma crescente juridicização das relações sociais — a tendência generalizada de que conflitos sociais sejam discutidos sob o ponto de vista jurídico, que tem como uma de suas principais consequências a judicialização das relações sociais, entendida como a tendência de que litígios sejam submetidos ao judiciário, em detrimento de outros modos de solução de conflitos.
As discussões sobre esses fenômenos foram iniciadas na Alemanha no início do século XX por Otto Kirchheimer, no contexto da institucionalização dos conflitos de classes e da progressiva reorientação de disputas sociais e políticas para formas jurídicas de resolução de conflitos, que ocorriam na transição do Império Alemão para o modelo de Estado social que se iniciava com a República de Weimar. Segundo Jürgen Habermas, essa foi uma etapa dos "surtos sucessivos de juridicização" que se iniciaram com a formação do Estado burguês e depois continuaram com as suas transições sucessivas para o Estado de Direito, o Estado de Direito democrático e o Estado de Direito social e democrático no decorrer do século XX.
A juridicização, portanto, é um "inevitável efeito secundário do êxito do compromisso social" do Estado e se manifesta em face de uma crescente interferência da economia e do Estado na esfera da experiência dos indivíduos. Consequência de um movimento civilizatório, ela apresentou benefícios evidentes, embora frequentemente intangíveis e imensuráveis, como maior justiça social, maiores oportunidades para as mulheres e minorias, expansão das liberdades civis, procedimentos justos no interior das instituições e limites mais firmes ao governo; e a expansão dos direitos subjetivos individuais e coletivos e um melhor conhecimento, por parte do cidadão ou pessoa moral, a respeito dos seus direitos.
Contudo, nesse contexto o Poder Judiciário assumiu gradualmente um papel mais pronunciado na garantia e concretização de direitos encartados nas Constituições, e foi se transformando em depositário das esperanças individuais e coletivas "como um verdadeiro superórgão capaz de resolver todas as diferenças existentes", em detrimento de meios alternativos de composição em conflitos. No longo prazo, isso acarretou uma "crise no Poder Judiciário", que tem como efeitos mais visíveis o abarrotamento dos tribunais, que impede que atendam satisfatoriamente as demandas que lhe são submetidas, e também uma "cultura da litigância" que produz outras consequências indesejadas. No âmbito econômico, além da litigância em si ser custosa, ela leva à adoção de estratégias “defensivas” nos negócios e reprime a inovação. No âmbito do setor público, ela onera o Estado e reprime programas e projetos, e leva à multiplicação do número de órgãos jurisdicionais e dos riscos de incerteza jurisdicional, que resultam em maior lentidão da justiça e, em última instância, na necessidade de reformas do aparato do Judiciário. Por fim, no âmbito das relações humanas, o direito de ação e o processo judicial por vezes passam a ser instrumentos de vinganças pessoais, tornando o Poder Judiciário "palco de rixas pessoais, íntimas e odiosas, quando não uma verdadeira loteria jurídica"; e expõem os limites do modelo judicial de resolução de conflitos, na medida em que ele — adversarial e fundado na oposição de interesses — se revela particularmente mal adaptado a conflitos envolvendo partes comprometidas em relacionamentos contínuos ou comunitários, como as relações de vizinhança e família.
Natureza
Numerosas definições do direito convivem no quotidiano da comunidade jurídica, em geral salientando sua dimensão prática — por exemplo, como "a ciência da justiça" — ou, principalmente, sua dimensão normativa, isto é, a norma jurídica como seu elemento-base. Dentre as definições de direito mais comumente aceitas, estão sua caracterização como um corpo ou sistema de regras que busca "guiar o comportamento humano" e "oferece razões para a ação", ou ainda de "regras de ação ou conduta [...] com força legal vinculativa" e "que regulam o comportamento das pessoas [...] através do estabelecimento de direitos e deveres".
Apesar da utilidade dessas definições, aqueles que se debruçaram mais longamente sobre essa questão têm sugerido que dificilmente o fenômeno jurídico poderá ter sua natureza expressa, satisfatoriamente, na forma de uma definição concisa. Na realidade, a busca por uma caracterização precisa do direito tem desafiado desde longa data operadores do direito, cientistas sociais e, principalmente, jusfilósofos, em parte porque o direito é "um fenômeno social complexo que é [...] um dos aspectos mais intrincados da cultura humana" mas também porque essa tarefa pressupõe que ele possui certas características e uma natureza universais, presentes onde e quando ele jamais existiu.
Não por acaso, as tentativas de produzir uma definição de direito suscitaram questionamentos importantes a respeito das limitações dessa empreitada e da possibilidade de realizá-la. Assim, enquanto invariavelmente os especialistas reconhecem a dificuldade de se produzir uma definição precisa mas também operacional de direito, alegando que a maior parte daquelas que já se pôde produzir são excessivamente genéricas ou restritivas, outros vão mais longe e consideram-na impraticável, embora nem sempre concordando a respeito da utilidade de se buscar realizá-la. Notadamente, enquanto já se sugeriu que tal definição não poderia ser produzida, e que, na realidade, não existiria necessidade de produzi-la pois a operação do direito e a realização da justiça não dependeriam necessariamente de uma definição tecnicamente precisa do que é o direito, outros, que concordam quanto à impossibilidade de definir o que é o direito, salientam como sendo igualmente evidente a necessidade de que a luta para defini-lo nunca seja abandonada.
Os principais esforços para definir o direito de maneira precisa e universal partem da constatação de que o direito é um domínio normativo — tal qual outros domínios que buscam orientar o comportamento humano, como a moral, a religião, as normas sociais e a etiqueta — e buscam explicar em quê ele difere desses outros tipos de domínios normativos, como se dá a sua relação com eles e em que medida sua operação depende desses outros domínios, sobretudo o da moral.
Nessa linha, muitos buscaram individualizar o caráter do direito por meio do seu conteúdo, alegando que cada uma de suas normas “institui ao mesmo tempo um direito a um sujeito e um dever a um outro” e, portanto, que a norma jurídica se distinguiria por sempre regular uma relação intersubjetiva — diferentemente das normas morais, que são unilaterais. Como já se colocou, contudo, embora essa noção seja muito difundida por explicar a dimensão prática do direito, ela falha em diferenciar o direito de outros domínios normativos intersubjetivos, como aquele das normas sociais.
Outros, buscaram diferenciar o direito a partir de sua finalidade, alegando que ele regula relações intersubjetivas diferentes daquelas reguladas pelas normas sociais, isto é, apenas as relações intersubjetivas envolvendo ações necessárias à "conservação da sociedade". Dito de outro modo, nem toda ação humana é necessária à conservação da sociedade mas, aquelas que o são, ao longo da história vão se distinguindo e passam a ser normatizadas, isto é, tornam-se direito. Contudo, também aqui se apresenta uma forte objeção, pelo fato de as normas jurídicas — aquelas que seriam necessárias à conservação da sociedade — serem diferentes em cada sociedade e mudarem no curso do tempo, e, por esse motivo, ser impossível "fixar de modo unívoco os caracteres que fazem de uma norma uma regra essencial à conservação da sociedade.
Enfim, o debate a respeito da natureza do direito tem como eixo maior as questões das condições de validade e dos fundamentos da normatividade do direito. Historicamente, duas tradições filosóficas principais têm se concentrado sobre esse propósito, as chamadas correntes jusnaturalista e juspositivista, que se desdobram em uma ampla variedade de concepções e teses e se opõe frontalmente quanto a algumas delas. Embora alguns autores apontem a diminuição da importância dessa dicotomia na atualidade e indiquem a emergência de rótulos, como direito pós-moderno, pós-positivismo e não-positivismo principiológico, que expressariam a sua superação, alguns aspectos da relação entre essas duas correntes permanecem profundamente divergentes e, portanto, continuam a alimentar um intenso debate.
Tradição do direito natural
A tradição do direito natural, também chamada jusnaturalista, é a mais antiga das duas principais correntes filosóficas que buscam explicar a natureza do direito, e, em sua forma contemporânea, remonta à Idade Média Tardia. Embora suas bases possam ser traçadas até a Antiguidade, na forma das concepções mítico-religiosas que as civilizações grega e romana atribuíam ao direito, e algumas de suas concepções tenham sido objeto da atenção de filósofos cristãos iniciais, como Agostinho de Hipona, ela viria a se desenvolver como uma tradição filosófica autônoma a partir da Escolástica da Baixa Idade Média. A Idade Moderna, por sua vez, viu surgirem novos vetores de justificação do direito natural, desprendidos da religião e fundados em uma "natureza [humana] racional e autônoma".Dentre as diversas correntes específicas que se filiam a essa tradição filosófica, ao menos dois postulados centrais são comuns a todas elas. O primeiro deles sustenta que "existem princípios morais de justiça que são universalmente válidos e acessíveis à razão humana” e pode ser dividido em dois postulados menores: de um lado a tese de que existem princípios morais de justiça que são universalmente válidos, e que, portanto, incidem sobre todas as pessoas, individual ou coletivamente, independentemente de onde e quando essas pessoas existem; e a tese de que esses princípios morais de justiça são acessíveis à razão humana, ou seja, podem ser deduzidos ou intuídos. E o segundo desses postulados maiores consiste na ideia de que o direito positivado seria uma expressão desses princípios morais universalmente válidos e acessíveis à razão humana, o que, por sua vez, implica que "um sistema normativo ou uma norma não podem ser qualificados de jurídicos se contradizem ou não passam pelo crivo de tais princípios”.
Assim, o jusnaturalismo carrega em seu cerne a noção de que a autoridade de que o direito se reveste — a sua normatividade — repousa sobre uma "criteriologia e autoridade externa [...] ao órgão produtor do direito", isto é, provém "da natureza das coisas ou da natureza do homem, da razão humana ou da vontade de Deus". As normas positivadas na legislação e nas outras fontes jurídicas seriam apenas uma expressão do direito natural. Como o direito natural seria o fundamento do direito positivo, ele constituiria "um critério aferidor da atividade legislativa" e, portanto, imporia limites à atividade do legislador em termos do que pode ou não ser objeto de normas de direito.
Da mesma forma, em uma concepção jusnaturalista os conteúdos das normas positivadas devem ser julgados em relação aos princípios morais derivados do direito natural, e só seriam normas jurídicas as normas positivadas que são justas — aquelas que se identificam com esses princípios morais (a chamada "versão forte" da tese jusnaturalista) ou não os contradizem (a "versão fraca"). Para os adeptos das teses jusnaturalistas, portanto, falar em "direito justo" é um pleonasmo e falar em "direito injusto" constitui uma contradição. Nos termos de um famoso ditado, atribuído a Agostinho de Hipona, "lex iniusta non est lex" ().
Ao longo de sua história, o jusnaturalismo angariou críticas contundentes por permitir justificar toda sorte de valor moral e por fundar-se em "construções arbitrárias e subjetivas". Mais especificamente, sua versão tradicional e mais difundida encontrou uma grande objeção com a emergência daquele que se tornou o "fator determinante da desqualificação recente do direito natural": a progressiva emergência da "ciência moderna e o seu paradigma da cientificidade" e a consequente constatação de que "é, simplesmente, difícil sustentar que a lei moralmente ruim não é lei".
Assim, a tradição do direito natural passou por reformulações consideráveis no século XX, notadamente por meio do trabalho de Ronald Dworkin. Ao contrário de outros membros dessa tradição, Dworkin, um jusnaturalista atípico, jamais sustentou que um conteúdo moralmente aceitável seria um pré-requisito para a validade da norma jurídica, preferindo concentrar-se na distinção entre fatos e valores (entre o que a lei é e o que deveria ser) e em argumentar que a relação entre essas duas instâncias é muito mais confusa do que o positivismo jurídico gostaria de fazer ver. Para ele, "determinar o que é o direito, em casos particulares, depende inevitavelmente de considerações político-morais sobre o que deveria ser", e, além do mais, uma categoria específica de normas jurídicas, os princípios, seria essencialmente moral em seu conteúdo.
Tradição do positivismo jurídico
Embora as origens da tradição filosófica do positivismo jurídico, também referida como juspositivista, remontem aos trabalhos de filosofia política de Thomas Hobbes, ela foi articulada principalmente desde o início do século XIX por estudiosos como Jeremy Bentham e John Austin. Mais recentemente, a tradição juspositivista foi continuada e refinada por alguns dos mais importantes e influentes juristas do século XX, como Hans Kelsen, Joseph Raz e H. L. A. Hart.
A emergência desta tradição filosófica foi uma expressão do paradigma da cientificidade na reflexão sobre o direito, ensejada pela busca de "um direito não duvidoso, inequívoco, e que estivesse a salvo das arbitrariedades e injustiças". Gradualmente, ela viria a desqualificar a pretensão de cientificidade do jusnaturalismo até então defendido. A tese central da tradição positivista, por vezes chamada tese do positivismo conceitual, é comum a todas as suas principais correntes e sustenta que "o direito não deve ser identificado utilizando critérios valorativos, mas sim critérios fáticos, empíricos, objetivos" ou ainda "fatos sociais". Dito em outras palavras, para juspositivistas o direito é "um artefato humano, o resultado de uma escolha, convenção ou práticas sociais convergentes", cujo conteúdo pode ser identificado objetivamente. Essa proposição se desdobra em duas outras, ditas tese social e tese da separação.
Em primeiro lugar, a tese social sustenta que o direito é um fenômeno intrinsecamente social e que, portanto, as regras do direito são produto da sociedade e as condições para sua validade são fundadas nas práticas da sociedade. Inicialmente inspirados nas constatações de Hobbes de que o direito é sobretudo um instrumento de soberania política, os primeiros positivistas argumentaram que o direito seria essencialmente o comando do soberano. Mais tarde expoentes dessa vertente modificaram essa tese, passando a justificar os fundamentos da validade do direito em uma norma fundamental (no caso de Kelsen) ou regra de reconhecimento (no caso de Hart). Este é um dos pontos fundamentais de discordância entre as tradições filosóficas juspositivistas e jusnaturalistas, visto que essa última sustenta que o conteúdo do direito positivado deve responder aos preceitos do direito natural, isto é, à moralidade universal, sob pena de não constituir direito. Dito de outro modo, as correntes jusnaturalistas — em oposição à tese social juspositivista — sustentam que o conteúdo moral das normas, e não apenas sua fundamentação em uma norma fundamental, também é necessário à sua validade jurídica.
Em seguida, a tese da separação é consequência da tese social e sustenta que há uma separação fundamental entre o direito e a moralidade, ou seja, "entre o que o direito é e o que o direito deveria ser". Essa tese, evidentemente, não implica a negação de que o direito possa, pela sua natureza ou pelas funções essenciais que cumpre na sociedade, conter algo de bom que seja merecedor de apreciação moral; ou ainda a negação de que muitas vezes as normas de direito apresentam uma sobreposição considerável com a moralidade. O conteúdo dessa tese refere-se às condições de validade jurídica, e, mais especificamente, à independência entre essas condições e os méritos morais das normas em questão. Como consequência, a vertente positivista do direito admite que se possa identificar e descrever o direito de um povo sem que isso implique em julgamentos de valor a respeito do seu conteúdo e, semelhantemente, que regras jurídicas podem ser consideradas injustas, sem que isso as torne menos jurídicas.
Coercitividade e normatividade
Historicamente o direito tem sido percebido como uma instituição que impõe suas demandas práticas por meio de ameaças e violência institucionalizadas; de fato, muitos filósofos positivistas sustentaram que a normatividade do direito reside em sua coercitividade, e essa permanece a opinião mais comum dentre os juristas. Essa questão, inclusive, tem levado parte da comunidade jurídica a julgar que o direito internacional na realidade não seria parte do direito, visto que não existe "um governo mundial capaz de legislar e fazer cumprir essas leis por meio de um sistema supranacional de sanções, como uma força militar internacional independente".
Essa posição é amplamente difundida dentre os adeptos da concepção positivista do direito, mas também foi defendida pelos primeiros sociólogos do direito, como Max Weber, para quem a essência do direito seria um poder de polícia ostensivo, isto é, "uma ordem será chamada de direito se for externamente garantida pela probabilidade de que a coerção [...] será aplicada por uma equipe de pessoas especialmente preparadas para esse fim". Contudo, enquanto positivistas iniciais, como Bentham, Austin e Kelsen adotaram uma posição reducionista a esse respeito, sustentando que a coercitividade é a característica fundamental do direito, aquela que permite distingui-lo dos outros domínios normativos e constitui sua principal função na sociedade, ao longo do século XX essa questão tem conhecido uma revisão, inclusive devido a aportes mais recentes da sociologia jurídica.Alguns autores, por exemplo, argumentaram que a coercitividade não é exclusiva ao direito, visto que alguns tipos de punição — como multas, suspensões, processos disciplinares e demissão, mas não a capacidade de prisão — existem em setores exteriores ao direito. Outros, ainda, buscaram demonstrar que, embora toda norma jurídica seja prescritiva, quer dizer, busque influenciar e modificar o comportamento humano, nem toda estabelece um comando ou imperativo, visto que existem normas que permitem comportamentos e atribuem faculdades.
Joseph Raz e Herbert Hart, ao tratarem desse tema, sustentaram que a coercitividade do direito é um aspecto mais marginal do que seus antecessores presumiram, e que o direito desempenha outras funções fundamentais na sociedade, para além de fornecer uma previsibilidade de reação hostil aos infratores e, assim, incitar as pessoas a buscar evitar sanções. Notadamente, Hart defendeu uma concepção do direito como um fenômeno fornecedor de razões para a ação humana, e que, além de oferecer a previsibilidade de sanção para infratores, também supre a "razão ou justificação" para que essas sanções sejam aplicadas. Embora tenha enfatizado a importância da normatividade do direito, esse autor considera que indivíduos e instituições se sujeitam a ele porque aceitam as suas regras como sendo válidas e, portanto, vinculativas.
Ainda mais recentemente, a aplicação da teoria dos jogos à investigação da natureza do direito tem apresentado evidências que, em uma grande variedade de arranjos jurídicos, o funcionamento do direito pode ser explicado por sua função em resolver problemas de oportunismo, como no exemplo do dilema do prisioneiro. Essas evidências apontam, portanto, que o direito pode exercer uma função de "fornecer incentivos coercitivos para o benefício mútuo de todas as partes envolvidas". Além disso, outras vertentes filosóficas têm sublinhado que o direito exerce outras funções na sociedade, como resolver problemas de coordenação entre diversas pessoas, estabelecer padrões para comportamentos desejáveis, positivar expressões simbólicas de valores comunais e resolver disputas sobre fatos, todas elas funções que "têm muito pouco a ver com o aspecto coercitivo do direito e suas funções de imposição de sanções".
Estrutura
Historicamente, a estrutura do direito tem sido dividida em uma série de categorias. Embora por vezes elas sejam difíceis de constatar e suas fronteiras possam se sobrepor, essa tradição de qualificação do direito oferece vantagens evidentes em termos de sistematização e organização, e também oferece ao jurista elementos adicionais que o permitem identificar o regime jurídico adequado a cada situação de fato. De uma maneira semelhante, essas categorias orientam o jurista quanto a outras informações relevantes para a solução problemas concretos, e que podem estar relacionadas a cada categoria: dados históricos, princípios filosóficos, elementos do contexto social, dentre outras.
Direito público e privado
Tradicionalmente considerada a divisão primária e estruturante do direito, a distinção entre direito público e direito privado é uma classificação interna, que é aplicada a cada direito com o objetivo de categorizar as normas que o compõem; assim, em tese ela permite enquadrar toda norma e instituto jurídico. Dada a sua abrangência e notoriedade, ela é frequentemente chamada "summa divisio" do direito, a sua divisão interna suprema.
Essa classificação tem como pano de fundo os direitos subjetivos de que são portadoras pessoas de direito envolvidas em uma relação jurídica. Sua história remonta à Roma Antiga e parte da distinção entre os interesses da esfera particular, envolvendo indivíduos e grupos de pessoas, e os interesses públicos, intimamente relacionados à noção de Estado e merecedores de proteção privilegiada por importarem à coletividade.
Assim, do ponto de vista formal, o direito público compreende "todas as normas jurídicas relativas à existência, organização, funcionamento e relações do Estado", ao passo que o direito privado é constituído das "normas que disciplinam o exercício das atividades privadas", ou seja, as normas "relativas à existência, organização, funcionamento e relações das pessoas privadas, dos indivíduos". Enquanto ao primeiro cabe "disciplinar o sujeito que exerce a atividade pública", ao segundo compete fazer o mesmo em relação ao sujeito que exerce atividade privada.
A dicotomia direito público/direito privado se encontra amplamente presente no quotidiano da comunidade jurídica, desde a organização das faculdades de direito até a divisão dos tribunais. Contudo, o seu interesse não é meramente uma questão de organização e sistematização, pois todo ato jurídico deve respeitar os princípios jurídicos da esfera a que pertence. Assim, essa divisão tem interesse prático porque parte dos princípios aplicáveis ao direito público e ao direito direito privado são diferentes, isto é, os atos praticados na esfera pública tendem a ser orientados pelos princípios da supremacia e da indisponibilidade do interesse público e, na esfera privada, os atos respondem a princípios como o da liberdade e da autonomia da vontade. Assim, a análise da legalidade de um ato jurídico frequentemente depende da identificação da esfera, pública ou privada, a que ele pertence. A identificação do direito aplicável a situações concretas, contudo, frequentemente é uma tarefa complexa, e diversos critérios têm sido propostos para que o intérprete do direito possa diferenciar normas de direito público e de direito privado, notadamente o critério do interesse (predominância do interesse público ou do interesse privado na relação jurídica em questão); o critério do sujeito (natureza dos sujeitos envolvidos na relação jurídica em questão); e o critério da subordinação (se o Estado age como ente soberano ou se age de igual para igual com os demais sujeitos da relação jurídica, o que configuraria uma situação de direito privado).
Apesar do seu interesse, essa dicotomia tem sido objeto de críticas devido ao seu caráter absoluto, incapaz de "encarnar a verdade eterna e universal de todos os fenômenos jurídicos". Como já se colocou, enquanto no passado essa dicotomia podia compreender com mais precisão a realidade das relações sociais e, portanto, do direito, a Modernidade e a Contemporaneidade viram transformações radicais que diminuíram a nitidez da distinção entre as esferas publica e privada. Além disso, a Modernidade viu surgirem novas categorias de interesses transindividuais, meta-individuais e coletivos, nas quais o interesse de grupos sociais e da sociedade como um todo não se confundem com o do Estado, e que, portanto, trazem subjetividade à tarefa de identificação da esfera a que pertencem os interesses a serem protegidos.
Direito interno e internacional
Historicamente, a divisão entre direito interno e direito internacional tem como objeto a distinção entre, respectivamente, as normas aplicáveis no interior de um Estado e as normas aplicáveis às relações entre os Estados. Embora no passado essa concepção do direito internacional, com base unicamente nas relações entre Estados, tenha sido lugar-comum, muitos especialistas consideram-na ultrapassada devido a um fenômeno recente de diversificação do direito internacional. Assim, concepções mais atuais do direito internacional podem tomar como base a noção de sujeito de direito internacional, que compreende uma diversidade de entidades como Estados, a Santa Sé, organizações internacionais, movimentos sociais com reconhecimento internacional, e, em algumas situações específicas, até mesmo indivíduos e empresas privadas; o critério do objeto das normas, segundo o qual o direito internacional é aquele relativo a assuntos internacionais; ou ainda o critério do processo de formação das normas, segundo o qual o direito internacional é aquele que emana de certas fontes, dentre as quais têm destaque os tratados.
A relação entre o direito interno e o direito internacional é complexa e suscita uma série de questionamentos, sobretudo a respeito da sua subordinação mútua. Ao menos duas correntes teóricas principais tentam explicar a relação entre eles, embora nenhum país siga à risca qualquer uma delas, preferindo adaptá-las para criar suas próprias maneiras de lidar com a relação entre as regras do direito interno e do internacional. Essas duas teorias são chamadas monista e dualista.
A corrente monista propõem a unidade das normas internas dos países e das aplicáveis internacionalmente; a proeminência do direito internacional ou a proeminência do direito interno em caso de conflito; e a aplicação direta das normas internacionais sem a necessidade de que elas sejam convertidas em lei interna. Dito em maior detalhe, as teorias monistas afirmam haver um sistema único composto pelas normas internas e internacionais, e caracterizado por uma hierarquia, que, dependendo da teoria em questão, pode ser encabeçada pelas regras internacionais (primado do direito internacional) ou pelas normas internas (primado do direito interno). As diferenças entre o direito interno e o direito internacional seriam apenas uma questão do escopo de sua validade (o direito interno válido somente para o território de um estado e para um período determinado e os domínios de validade do direito internacional, em tese, ilimitados) e de centralização (a relativa descentralização do direito internacional e a relativa centralização do direito interno). Um exemplo dessa concepção monista pode ser visto no direito dos Países Baixos, que, em caso de violação aos direitos humanos, autoriza o juiz a aplicar os dispositivos da Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos mesmo quando as suas normas estiverem em desacordo com a lei holandesa.
A corrente dualista, por sua vez, prega a separação dos dois tipos de normas, a superioridade do direito nacional em detrimento do internacional e a exigência de conversão da norma internacional em nacional, normalmente por meio de uma lei ordinária. Segundo as teorias dualistas, portanto, existe uma cisão absoluta entre direito interno e internacional e, consequentemente, duas ordens jurídicas, distintas a ponto de não ser possível conflito entre elas. Outras implicações dessa concepção da dicotomia entre direito interno e internacional incluem a possibilidade de normas internas contrárias ao direito internacional; a impossibilidade de uma ordem jurídica determinar a validade das normas da outra ordem; a inexistência de uma hierarquia, isto é, de superioridade de uma ordem sobre outra; e, portanto, uma separação nítida entre o Estado e a ordem internacional.
Assim como o direito interno, o direito internacional é frequentemente dividido em direito internacional privado e público. Contudo, alguns argumentam que o direito internacional privado seria, de fato, uma espécie de direito transnacional — um direito interno privado relacionado a casos que extrapolam a competência da justiça de um único Estado e sobre os quais, portanto, incidem normas de mais de um direito.
Ramos do direito
Após sua divisão em interno e internacional e público e privado, o direito tem sido divido em ramos distintos e autônomos que, em alguns casos, têm sido identificados desde o direito romano. O número de ramos existentes é elevado, e inclui o direito civil, o direito administrativo, o direito penal, o direito constitucional, o direito econômico, o direito do trabalho, o direito processual e o direito comercial, dentre muitos outros.
Assim como as outras categorias identificadas na estrutura do direito, os ramos do direito são construções teóricas que visam facilitar seu estudo e ensino, mas que também apresentam aplicação concreta pois constituem "uma forma de institucionalidade" que permite ao jurista produzir, escolher, validar e preservar o conhecimento jurídico, além de definir métodos de trabalho e estabelecer padrões para delimitar, gerir e resolver "problemas juridicamente relevantes". Mais especificamente, os ramos do direito são detentores "do poder de estabelecer seus próprios princípios [jurídicos]" e, assim, desempenham um papel importante na qualidade do trabalho do jurista.
Do ponto de vista científico, a divisão do direito em ramos ou disciplinas independentes normalmente é justificada na relativa autonomia de certas categorias, que podem ser constatadas por possuírem objeto, método e princípios informativos próprios. Como se reconhece, essa autonomia é objeto de uma permanente tensão com os princípios que caracterizam o direito como um todo, e que são parte de sua própria estrutura. Por conta disso e do dinamismo das transformações sociais, as linhas divisórias dos diferentes ramos do direito tendem a se sobrepor e se encontram em permanente evolução.
Por outro lado, do ponto de vista da sociologia do direito a divisão do direito em ramos se deve principalmente a fatores externos e seria sobretudo uma convenção útil para "dividir um campo de trabalho". Essa divisão do trabalho teria como consequências evidentes a especialização do jurista, incluindo sua maior eficácia, e o estabelecimento de "barreiras de entrada que evitam a interferência de estranhos", isto é, barreiras que protegem os interesses dos membros da comunidade de cada disciplina e também comprometem os novos membros "com a preservação da disciplina ao longo do tempo".
Classificação
O estudo, caracterização e classificação dos direitos adotados por diferentes grupos culturais, incluindo a identificação de suas semelhanças e diferenças e, portanto, daquilo que os distingue, é um objeto proeminente da disciplina do direito comparado. Assim, desde o século XIX comparatistas têm apresentado, baseados em diversos critérios, uma pluralidade de propostas de agrupamento e classificação dos direitos praticados ao redor do planeta. Além de sua diversidade, algumas dessas propostas têm conhecido modificações devido às transformações político-jurídicas ocorridas no período. Assim, enquanto determinadas categorias continuam a ser percebidas como dominantes, por sua difusão e por continuarem presentes em todo sistema de classificação, outras, outrora prevalentes, têm perdido sua significância.
Dentre as diversas tipologias que têm sido propostas, algumas se destacam pela difusão que encontraram. Talvez o mais conhecido desses sistemas de classificação seja aquele aventado pelo jurista francês René David no início dos anos 1950, e que mais tarde foi revisto em seu famoso Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo (no original, ), primeiro publicado em 1964. Em sua obra, ele identificou três "famílias" principais de direitos, todas de origem ocidental e consideradas as mais proeminentes ao redor do mundo, respectivamente a família romano-germânica de direitos, a família dos direitos socialistas e a família da common law; além de outras famílias de direitos menos difundidos, no caso os direitos muçulmanos, o direito da Índia, os direitos do Extremo Oriente e os direitos da África e de Madagascar. Os critérios considerados por David são duplos: ideológico e técnico — respectivamente, a noção de justiça subjacente a cada direito e aspectos da técnica jurídica presentes em cada um.
Um segundo sistema de classificação considerado clássico nessa temática foi proposto pelos comparatistas alemães Konrad Zweigert e Hein Kötz em sua obra Introdução ao Direito Comparado no Âmbito do Direito Privado (no original, ). Nessa obra, os autores propõe a classificação dos direitos nas famílias romanística, germânica, nórdica, anglo-americana, do Extremo Oriente e do direito religioso (que inclui as sub-famílias do direito islâmico e do direito hindu). Na mesma linha, provavelmente a mais comum das classificações identifica a existência de quatro famílias principais de sistemas jurídicos em todo o mundo, nomeadamente a família romano-germânica, a família da common law, a família dos direitos consuetudinários e a família dos direitos religiosos.
Enfim, mais recentemente um sistema de classificação original tem recebido considerável atenção da comunidade juscomparatista, que propõe classificar os direitos em função do tipo de norma que lhe é preponderante: de direito profissional, de direito tradicional ou de direito político. Concebido no final da década de 1990 pelo jurista italiano Ugo Mattei, esse sistema de classificação foi elaborado com base no pressuposto de que os sistemas de classificação anteriores haviam perdido sua pertinência e de que seria preciso adotar uma orientação menos centrada no ponto de vista ocidental e propor critérios que permitissem uma classificação mais dinâmica e menos suscetível às transformações político-jurídicas. Utilizando aportes metodológicos e teóricos da sociologia de Max Weber, esse sistema assume que a vida em sociedade é regulada principalmente por normas produzidas com base em três tipos-ideais de fontes de normas, e propõe classificar cada direito a partir do peso de cada uma dessas categorias de normas na vida social, identificando, assim, a categoria de normas "hegemônica" naquele direito.
Categorias dominantes
Embora seja grande a diversidade de categorias propostas ao longo dos anos, um pequeno número de categorias ou "famílias de direitos" se destaca por sua difusão e por estarem presentes em praticamente todo levantamento realizado por especialistas: a família romano-germânica de direitos, a família de direitos socialistas e a família da common law. Contudo, mudanças no panorama político-jurídico mundial têm se refletido sobre o assunto. Assim, enquanto ao longo do século XX era universalmente identificada uma família de direitos socialistas, desde a dissolução da União Soviética essa categoria tem perdido importância, visto que o número de países a adotarem direitos desse tipo diminuiu consideravelmente.
Família romano-germânica
A família romano-germânica de direitos, também chamada família do direito civil, é formada pelo conjunto dos direitos nacionais ou, eventualmente, subnacionais, construídos sobre as bases do direito romano e do seu intenso e contínuo estudo nas universidades européias a partir do século XII. Seu nome é uma referência ao fato do seu desenvolvimento tardio ter ocorrido nas universidades dos países latinos e germânicos, e, alternativamente, ao papel central desempenhado pelo ramo do direito civil no seu desenvolvimento inicial. De fato, uma das marcas dessa família de direito é o fato de ter se desenvolvido, historicamente, com o intuito de regular as relações entre os cidadãos; outros ramos do direito só foram desenvolvidos mais tarde, e a partir dos princípios já consolidados desse "direito civil".
Esse grupo de direitos foi fortemente influenciado pelo movimento de codificação que varreu o mundo no século XIX, e, assim, a lei escrita permanece a fonte por excelência desses direitos. De fato, são comuns menções à "primazia da lei como critério de racionalidade do modelo romanogermânico". Nessa família, portanto, as outras fontes de normas jurídicas ocupam um papel necessário mas complementar, fruto do reconhecimento que a lei escrita nem sempre é capaz de prever a diversidade de situações concretas que se apresentam ao juiz ou, ainda, de uma preferência do legislador, que pode buscar tratar com abundância de detalhes certas temáticas mas escolher tratar outras de maneira mais vaga, de modo que as lacunas sejam supridas pelo judiciário de acordo com a conveniência de caso concreto.
Em termos espaciais, a família romano-germânica de direitos se encontra difundida por todo o mundo; além de predominar na Europa, sobretudo nos países existentes dentro das antigas fronteiras do Império Romano, ele está presente em toda a América Latina, em grande parte da África e dos países do Oriente Próximo, no Japão e na Indonésia. Sua difusão em todo o mundo deve-se principalmente à constituição dos impérios coloniais europeus, que levou à criação de numerosos direitos nacionais pertencentes ou aparentados a essa família de direito, e também a processos de "recepção voluntária", através dos quais países que jamais estiveram submetidos a uma metrópole acabam por adotar estruturas jurídicas desta, em busca de modernização ou ocidentalização.
Família da common law
A família da common law é formada pelo direito inglês e os direitos dele derivados. Essa família de direito foi constituída a partir das decisões tomadas pelos tribunais responsáveis por julgar casos envolvendo a coroa ou que exigiam a intervenção do poder real, e, portanto, suas raízes concernem principalmente um direito público, ligado às questões de governo, pois disputas envolvendo cidadãos particulares só podiam ser submetidas aos tribunais reais "na medida em que pusessem em jogo o interesse da Coroa ou do reino".
Embora os direitos da common law também contem com legislações escritas, essas são consideravelmente mais breves e, consequentemente, a grande maioria das normas jurídicas resulta de precedentes judiciais que, eventualmente, vão se firmando em jurisprudência. Nesses direitos, portanto, o juiz, ao decidir casos concretos, cria regras de direito que passam a se impor a outras decisões futuras. Em contraposição às regras dos direitos romano-germânicos, essas regras da common law são menos abstratas e visam dar solução a processos judiciais concretos, isto é, sua preocupação imediata é "restabelecer a ordem perturbada, e não a de lançar as bases da sociedade".
Como os direitos romano-germânicos, a common law se difundiu pelo mundo todo como resultado da colonização e da recepção voluntária de estruturas jurídicas. Também como quanto aos direitos romano-germânicos, a common law foi recebida com maior ou menor densidade em diferentes países, inclusive dando origem a direitos híbridos.
Fontes
O termo "fonte do direito" é polissêmico e designa, dentre outras coisas, as fontes materiais (também chamadas "fontes reais" e "fontes genéticas"), que são a causa da produção da norma jurídica ou, melhor dizendo, os fatos sociais que ensejaram a sua produção; as fontes formais do direito, também chamadas formas de leis, que são os meios por meio dos quais as normas jurídicas se exteriorizam ou tornam-se conhecidas; e as fontes de validade do direito, noção que designa os fundamentos de validade de cada norma jurídica e esta está intimamente relacionada à ideia de hierarquia do ordenamento jurídico.
Fontes materiais
As fontes materiais referem-se ao conteúdo axiológico das normas, isto é, os múltiplos fatores sociais — históricos, religiosos, políticos, sociológicos, geográficos e econômicos, dentre outros — que ensejam o conteúdo das normas jurídicas e, assim, condicionam o aparecimento e as transformações do direito. Noção que remete àquilo que Montesquieu chamou de "espírito das leis", elas são muito diversificadas pois "decorrem das convicções, das ideologias e das necessidades de cada povo em certa época", isto é, consistem de toda sorte de valor caro a uma sociedade. Como já se disse, embora os incontáveis valores caros ao ser humano não careçam necessariamente de normas para serem vivenciados, não há norma que possa existir sem um valor que a anteceda. Por conta das fontes materiais, portanto, o direito apresenta-se como um instrumento essencial para a formalização das escolhas de valores e, consequentemente, como "um dos mais importantes repositórios e expressão dos valores de qualquer sociedade".
As fontes materiais antecedem o direito, e, portanto, não são normas ou podem ser invocadas por si mesmas no âmbito judicial; são, antes, valores que, a partir de escolhas e atos de vontade, adentram o direito por meio das fontes formais e, assim, adquirem uma presença tangível no dia-a-dia da sociedade. Kelsen, notadamente, distinguiu os valores que constituem as fontes materiais dos valores jurídicos positivados nas normas. Para ele, esses são conceitos "correlativos" e, enquanto os primeiros são subjetivos e relativos, visto que variam de pessoa para pessoa (inclusive quanto à sua hierarquia, isto é, sobre quais são mais importantes que outros), os segundos podem ser identificados objetivamente nas fontes formais. Ao direito, caberia descrever os valores contidos nas normas e realizar um julgamento a respeito das condutas reais em relação a eles (condutas condizentes com a norma seriam positivas, e, ao contrário, condutas em desacordo com a norma seriam valoradas negativamente), mas jamais realizar a crítica dos valores contidos nas normas, até porque um tal julgamento dependeria necessariamente dos valores do intérprete.
A coerência dos valores que servem como fontes materiais do direito tem ligação direta com a efetividade do direito e sua capacidade de manter a legitimidade do poder político em uma sociedade. Embora com frequência essas fontes encarnem valores concorrentes e pertencentes a grupos de interesse distintos, o que se traduz em um direito cujos objetivos são por vezes contraditórios entre si, a efetividade do direito depende em grande medida de valores e propósitos compartilhados por todos os membros da sociedade, visto que "a medida com que as normas jurídicas impõem obediência depende do quanto elas expressam ou estão de acordo com os valores sociais geralmente aceitos". Assim, como na maior parte das sociedades modernas as normas jurídicas constituem as principais regras de comportamento e penetram praticamente todas as atividades sociais e individuais, a relativa coesão dos valores expressos pelas normas jurídicas desempenha um papel crucial na manutenção do Estado democrático de direito.
Fontes formais
O direito é um sistema que tem a norma jurídica como elemento de base, e cada uma dessas normas descola de uma ou mais fontes do direito por meio de um processo de interpretação. Essas fontes — chamadas fontes formais do direito — podem ser entendidas como fontes de criação do direito, a "maneira como as normas se manifestam ou exteriorizam", ou como fontes de cognição do direito, isto é, "os meios empregados pelo jurista para conhecer o direito". Não por acaso, em grande medida a educação jurídica consiste em treinar estudantes para que encontrem informações pertinentes e produzam argumentos a respeito das normas criadas our expressas pelas fontes do direito.
Do ponto de vista filosófico, o debate sobre a natureza do direito tem reflexos importantes sobre a questão da natureza das suas fontes formais, sendo esse o chamado "problema das fontes do direito". Mais especificamente, o problema das fontes tem como objetivo "saber, de que modo, forma ou processo o direito se constitui e manifesta como vinculante normatividade vigente" — uma forma de normatividade vinculante ou obrigatória, com fundamentos válidos e que efetivamente se impõe à realidade social — e, portanto, está intimamente relacionado à próprio natureza do direito. Assim, cada concepção do direito determina uma teoria das fontes do direito, e, e sentido inverso, cada teoria das fontes condiciona uma concepção distinta do direito, pois, evidentemente, um deve ser expressão do outro.
Espécies
À parte dessa questão filosófica, do ponto de vista técnico e preocupado imediatamente com a aplicação do direito normalmente se reconhece a existência de quatro categorias de fontes formais do direito, entendidas como meios aos quais "os tribunais recorrem na decisão de controvérsias e advogados devem recorrer como fontes de informação quando chamados a oferecer seus conselhos". Essas categorias são as seguintes:
Legislação: também chamada "lei em sentido amplo", compreende textos editados por órgãos estatais que têm competência para legislar. Em geral, é composta por documentos provenientes do Poder Legislativo e da administração pública (da qual alguns agentes possuem poder regulamentar) e que são formulados por escrito e segundo procedimentos específicos estabelecidos em outras fontes do direito que lhe são superiores. Incluem uma diversidade de categorias que vão da constituição a circulares e portarias, passando por leis ordinárias, decretos e outras categorias próprias a cada ordenamento jurídico. A legislação tende a ser a fonte primária de normas jurídicas nos direitos da família romano-germânica.
Costume jurídico: uma das mais antigas fontes do direito, que predominou até o advento da escrita, é composto por regras não escritas que se formam a partir de dois elementos fundamentais: a convicção geral, no seio de uma sociedade, de que um comportamento é obrigatório e necessário, e a repetição reiterada desse comportamento.
Jurisprudência: normas do direito proferidas pelo Poder Judiciário no curso de processos judiciais, que encontram aceitação comum, reiterada e pacífica e se estabelecem como costumes jurídicos capazes de solucionar questões jurídicas com razoabilidade e consoante o senso de justiça. Via de regra, as normas que compõem a jurisprudência sobre um tema buscam suprir as lacunas deixadas pela legislação, e não podem se opor a ela. Nos direitos de tradição romano-germânica, a jurisprudência se torna mais persuasiva conforme a sua aceitação se torna reiterada e se estabelece em tribunais superiores, que ocupam o alto da hierarquia, ao passo que nos direitos da common law a jurisprudência tende a ter um caráter vinculante, isto é, obrigatório. Essas normas são válidas enquanto não surge uma lei tratando do assunto e enquanto os próprios juizes mantém o mesmo entendimento a seu respeito. Por serem criadas a partir de casos concretos e estarem em constante transformação, essas normas veiculam interpretação atual das demais fontes jurídicas e permitem ao direito manter-se atual.
Doutrina jurídica: formada pelas opiniões, ensinamentos e pareceres técnicos de juristas a respeito de uma matéria concreta do direito, e que são adotados de maneira consistente pela comunidade jurídica e pelos tribunais. As normas nascidas dessa fonte são produto do estudo do direito, da análise e sistematização das normas jurídicas, da produção de definições que explicam os conceitos jurídicos e da interpretação das leis, que são atividades a que se dedicam professores, jurisconsultos, tratadistas e outros especialistas no direito e facilitam a aplicação do direito a casos concretos e até mesmo preenchem lacunas deixadas por outras fontes.
Existe um rico debate a respeito de outras possíveis categorias de fontes formais, como os contratos, os tratados, os "escritos de sábios reverenciados", a analogia e formas de "normas supra-legislativas" como os princípios gerais do direito e a religião. Contudo, para boa parte dos especialistas essas potenciais fontes, ou ao menos parte de seus valores, constituem espécies do costume, da jurisprudência e, principalmente, da legislação e da doutrina, até porque normalmente elas encontram previsão, se manifestam ou são identificadas por meio de uma delas.
Articulação e hierarquia
Todo direito se articula por meio de uma hierarquia das fontes que reconhece, e que lhes permite resolver os conflitos entre essas normas. Como as hierarquias das fontes são específicas a cada direito, elas são uma evidência da maior ou menor importância atribuída a cada fonte por cada Estado, e, assim, constituem um dos critérios centrais na distinção das feições de cada direito e das famílias de direitos. Com efeito, na teoria comparatista das famílias de direitos que predominou desde a segunda metade do século XX, um dos principais critérios de diferenciação dos direitos é justamente os tipos de fontes que cada direito reconhece e a maneira como ele as articula.
Na Contemporaneidade, é comum que as legislações prevejam expressamente as categorias e espécies de fontes adotadas pelos direitos de que são parte, seja na legislação infra-constitucional ou na própria constituição nacional, e que elas também esbocem a hierarquia das fontes reconhecidas naquele direito. Embora seja teoricamente possível um direito fundado em apenas uma fonte, os direitos conhecidos ao longo da história são considerados complexos, no sentido de reconhecerem mais de uma delas. Naqueles que contam com legislação escrita, incluindo os pertencentes à família da common law, normalmente essa legislação se impõe às demais fontes do direito e, portanto, suas normas não podem ser modificadas ou revogadas por meio de outras fontes.
A hierarquia das fontes jurídicas se relaciona intimamente com a noção de ordenamento jurídico, que, por sua vez, é um elemento-chave da concepção dominante do direito na Contemporaneidade, o juspositivismo. Mais especificamente, em sua formulação mais refinada, elaborada por Kelsen, a teoria do ordenamento jurídico pressupõe o direito enquanto um sistema (quer dizer, mais do que um "acervo de normas singulares"), hierarquizado e encimado pela constituição e dotado de três atributos indispensáveis que permitem distingui-lo de um mero conjunto de normas: unidade, coerência e completude.
A unidade do ordenamento se dá como consequência de todas as normas vigentes em um direito serem postas por uma mesma fonte de autoridade e, portanto, poderem ser traçadas "à mesma fonte originária constituída pelo poder legitimado para criar o direito". Dito de outro modo, essa unidade resulta do fato de todas as normas do direito receberem sua autoridade de uma mesma fonte, isto é, uma única autoridade veiculada na norma fundamental, e que "atribui, direta ou indiretamente, caráter jurídico a todo o conjunto de normas".
A coerência e a completude, por sua vez, são dimensões de uma mesma questão, e correspondem ao que Savigny e Francesco Carnelutti chamaram, respectivamente, unidade negativa/unidade positiva e ausência de vício por excesso/ausência de vício por falta. Por um lado, a coerência consiste na qualidade do ordenamento de "afastar as contradições" entre normas, na sua capacidade de não apresentar normas incompatíveis entre si. Em outras palavras, no ordenamento apenas existem contradições aparentes entre duas normas, e ao jurista cabe "purgar" a norma excessiva do ordenamento. A completude, por outro lado, consiste na qualidade do ordenamento de não apresentar brechas ou lacunas. Atributo essencial à certeza do direito, ela impõe que, em caso de aparente lacuna, cabe ao jurista "integrar" o ordenamento por meio das normas disponíveis, a fim de produzir uma norma aplicável ao caso. Tanto a coerência quanto a completude são atributos que dependem da solução de problemas aparentes que se apresentam na operação do direito, nomeadamente a presença de antinomias e lacunas potencias.
Antinomias e lacunas aparentes
Em particular, a coerência do direito somente é possível por meio de certas normas que expressam critérios de solução de antinomias — normas incompatíveis entre si — e permitem determinar a norma cabível a cada caso e excluir outras normas potencialmente incompatíveis. Geralmente três critérios são encontrados nos direitos, para a solução de potenciais antinomias. O primeiro desses critérios é justamente o critério hierárquico, que estabelece que lei superior se impõe a lei inferior (). Os outros dois possíveis critérios, normalmente aplicáveis unicamente aos casos onde mais de uma fonte ocupa um mesmo nível da hierarquia, são o critério da especialidade, segundo o qual a norma mais específica (em relação ao caso concreto) prevalece em relação à norma mais geral () e, depois, o critério cronológico, segundo o qual a lei mais recente prevalece sobre a mais antiga ().
Como são possíveis antinomias mesmo com a aplicação desses critérios, é comum que cada direito estabeleça uma relação hierárquica entre eles, isto é, que se imponha uma ordem de preferência que permita resolver conflitos potenciais. Nesse sentido, o mais comum é que o critério hierárquico ou critério da especialidade seja prevalente, e que ambos se imponham ao critério cronológico. Persistindo a antinomia, é comum que se aplique um quarto critério, excepcional, que consiste em eleger a norma mais favorável (), nomeadamente aquela que estabelece uma permissão, em detrimento de uma norma que estabelece um imperativo (); continuando a haver uma antinomia, porque duas normas se enquadram exatamente nas mesmas categorias em relação a esses quatro critérios, essas normas se anulam mutuamente.
Quanto à completude do ordenamento, ela está ligada essencialmente às lacunas da legislação, e duas teorias concorrentes oferecem solução para a questão em situações concretas. A primeira delas, dita teoria do espaço jurídico, sustenta que todo tema que não é objeto de legislação é "juridicamente irrelevante" e se encontra fora do escopo do direito; assim, todo "fato não previsto por nenhuma norma está situado fora dos limites do direito". Depois, a teoria da norma geral sustenta que não existem lacunas ou fatos juridicamente irrelevantes, e que tudo que não é objeto de proibição é intrinsecamente lícito; assim, aquilo que é classificado como "juridicamente irrelevante" pela teoria do espaço jurídico é considerado "juridicamente lícito" pela teoria da norma geral.
Interpretação
A teoria do direito estabelece uma distinção entre as interpretações das fontes do direito pelos "órgãos de aplicação do direito” e as interpretações realizadas externamente ao âmbito judicial, pelo cidadão comum e por outros juristas. A interpretação pelo juiz, denominadas “autêntica”, é indissociável do processo de criação do direito, visto que suas decisões são vinculativas ou estabelecem precedentes, ao passo que a interpretação "não autêntica”, realizada por outros indivíduos, é “desprovida de força normativa e diz respeito exclusivamente à ordem do conhecimento”.
Por um lado, no âmbito da interpretação autêntica, a aplicação das normas jurídicas visa pôr fim a conflitos e litígios, mas de maneira que sejam produzidas decisões judiciais ostensivamente corretas e justas, isto é, decisões jamais arbitrárias, que inspiram "aceitação e convencimento a respeito de sua correição e justeza" e podem impor-se e gerar obrigatoriedade. Como pressuposto disso, a operação do direito é orientada por princípios jurídicos como a isonomia — a igual aplicação da lei a todos — e por práticas relativas à interpretação do seu conteúdo, notadamente o emprego de "uma metódica que garanta que casos iguais sejam tratados de maneira igual" e a imposição de limites a "leituras muito subjetivas, surpreendentes e alternativas" dos textos de lei. Por outro lado, mas no mesmo sentido, a interpretação não autêntica não constitui uma prerrogativa exclusiva dos profissionais do direito — visto que o cidadão é levado constantemente a questionar o significado da lei e, em sentido mais restrito, porque "a luta social e política também está localizada no terreno dos significados jurídicos" — mas é orientada por práticas sociais que visam preservar a autonomia da comunidade jurídica em relação ao campo político — "para os políticos, a tarefa de formular declarações [jurídicas]; para juristas, o de interpretar" — e assegurar que o intérprete seja portador de certos conhecimentos, sobre o direito, que lhe permitam dominar sua linguagem e modos de raciocínio.
Métodos tradicionais
Como consequência dessas práticas e necessidades, o processo interpretativo tradicional do direito se apoia em uma série de métodos onipresentes no dia-a-dia da comunidade jurídica, que subentendem uma divisão da atividade interpretativa em operações distintas e sucessivas: primeiro a compreensão do texto (a extração do seu conteúdo), seguida de sua interpretação e, enfim, sua aplicação ao caso concreto. A interpretação propriamente dita, portanto, constitui uma etapa desse processo e é executada com base em quatro métodos principais, que visam trazer maior cientificidade à tarefa de encontrar a norma jurídica aplicável a cada concreto:
Gramatical: corresponde àquilo que vulgarmente é descrito como “a letra da lei”, ou seja, é uma interpretação literal do texto legal, produzida a partir de seu sentido lexical e, por vezes, completada com sentidos especializados de termos técnicos. O limite do sentido atribuído ao texto pelo idioma é também o limite da sua interpretação. Dado o dinamismo temporal, geográfico e cultural da língua, os sentidos de certos termos tendem a ser cristalizados pela doutrina e pela jurisprudência;
Sistemático: é aquele em que visa preservar a integridade do ordenamento jurídico, e, portanto, busca garantir a coerência da norma com o conjunto regulatório em que está imersa. Em outra, ele reconhece que cada norma se relaciona com outras normas, da mesma lei e também de outras leis que lhe são superiores e inferiores, e que o conteúdo destas pode ser determinante para o estabelecimento do seu sentido;
Histórico: tem como base a intenção do autor e o contexto histórico da elaboração da lei. Normalmente se funda em justificativas retiradas de documentos legislativos que possam esclarecer os sentidos atribuídos aos termos da lei, as finalidades pretendidas e outros elementos. Também pode buscar contextualizar o texto em função da “situação social, política e econômica no momento da aprovação da lei”;
Teleológico: toma como norte a finalidade pretendida com a norma, ou seja, o objetivo almejado pelo legislador. A finalidade atribuída à norma carece justificativa razoável pelo intérprete, isto é, “exige um convencimento argumentativo sobre o juridicamente correto”. É o mais elástico dos métodos interpretativos clássicos, e, por isso, é possivelmente “o preferido na prática da interpretação”.
Ao longo do século XX esse processo interpretativo tradicional, que contempla uma diversidade de métodos que são empregados com base na conveniência, tem sido objeto de uma série de críticas no âmbito da hermenêutica jurídica, ciência cuja problemática é comumente ilustrada por meio da metáfora que seu nome carrega: Hermes era o mensageiro dos deuses olímpicos e o responsável por transmitir e esclarecer seus desejos à humanidade; ao Homem jamais era possível conhecer diretamente o conteúdo dos desejos dos deuses, sendo-lhe dado conhecer apenas aquilo que Hermes dizia a respeito da vontade divina. Como já se colocou, "as disposições, os enunciados, os textos, nada dizem: eles dizem o que os intérpretes dizem que eles dizem", e esse é o problema central sobre o qual se debruça a hermenêutica do direito.
Ao tratar das práticas interpretativas, Kelsen demonstrou que todos os métodos de interpretação "conduzem sempre a um resultado apenas possível, nunca a um resultado que seja o único correto”, isto é, como diversos métodos são possíveis, possíveis resultados válidos também o são. Assim, há quem afirme que a "retórica da vinculação estrita entre o texto da lei e o resultado de sua aplicação pelo agente público" no fundo consiste em uma ficção, embora seja legitimamente um dos elementos considerados na aplicação do direito aos casos concretos, juntamente com a busca por correição. Depois, com base nos trabalhos de Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer outros sustentam que a interpretação e aplicação do direito constituem uma única operação, pois o ato interpretativo implica interpretar não apenas as fontes do direito, mas também os fatos relativos ao caso concreto. Como interpretar a norma implica interpretar os fatos, a maneira como esses fatos são apresentados — operação que passa pela linguagem e envolve valoração pelo intérprete — é determinante na produção das normas que lhe são aplicáveis. Mais detalhadamente, a diversidade de sentidos que cada sujeito pode atribuir ao mundo ao seu redor é limitada por sua própria compreensão do mundo; essa crítica considera que a atividade interpretativa é condicionada pela "faticidade e historicidade do intérprete" e que, como consequência, há uma diferença entre o texto e o sentido desse texto, isto é, "entre texto e norma não há uma equivalência e tampouco uma total autonomização". Por isso, seria impossível ao intérprete "'retirar' do texto 'algo que o texto possui-em-si-mesmo'", tal qual se tornou prática corriqueira da comunidade jurídica desde que o juspositivismo se tornou dominante. Isso não significa uma separação absoluta entre texto e norma, que permitiria atribuir sentidos arbitrários aos textos jurídicos, ou tampouco autoriza o intérprete a escolher o sentido que mais lhe é mais conveniente. Ela implica afastar "todas as formas de decisionismo e discricionariedade" que dão lugar a múltiplas e variadas respostas a um mesmo problema jurídico, por meio do reconhecimento de que interpretar consiste unicamente em "explicitar o compreendido", isto é, que "uma interpretação é correta quando desaparece, ou seja, quando fica 'objetivada' através dos 'existenciais positivos', em que não mais nos perguntamos sobre como compreendemos algo ou por que interpretamos dessa maneira e não de outra: simplesmente, o sentido se deu".
Ver também
Ciências jurídicas
Dogmática jurídica
Filosofia do direito
Sociologia do direito
Teoria geral do direito
Direito subjetivo
Direitos humanos
Advocacia
Solicitadoria
Bibliografia
Ligações externas
Direito Eterno, Natural, Divino e Humano, Veratatis, 22 de janeiro de 2023, im Pe. D. Rafael Bluteau, «Vocabulário Português e Latino», Tomo VIII, 1721.
Direito | 192,785 |
674 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Deus | Deus | Deus é um conceito de Ser Supremo presente em diversas religiões monoteístas, henoteístas ou politeístas, sendo geralmente definido como o espírito infinito e eterno, criador e preservador do Universo. O conceito de Deus, conforme descrito pelos teólogos, geralmente inclui os atributos da onisciência (todo conhecimento), a onipotência (poder ilimitado), a onipresença (presente em todos os lugares), a simplicidade divina e a existência eterna e necessária. Muitos teólogos também descrevem Deus como sendo onibenevolente (perfeitamente bom) e amoroso.
É mais frequentemente descrito como incorpóreo (imaterial) e sem gênero, embora muitas religiões descrevam Deus usando a terminologia masculina, através do uso de termos como "Ele" ou "Pai", sendo que algumas religiões (como o judaísmo) atribuem apenas um "gênero" puramente gramatical a Deus. A incorporeidade e a corporeidade de Deus estão relacionadas a concepções de transcendência (estar fora da natureza) e imanência (estar na natureza, no mundo) de Deus, com posições de síntese como o panenteísmo e a "transcendência imanente" da teologia chinesa.
Deus foi concebido como pessoal ou impessoal. No pensamento monoteísta, Deus é o Ser Supremo e principal foco de fé. No teísmo, Deus é o criador e sustentador do Universo, enquanto no deísmo, Deus é o criador, mas não o sustentador do Universo. No panteísmo, Deus é o próprio Universo. No ateísmo, Deus não existe, enquanto é considerado incognoscível no contexto do agnosticismo. Deus também foi concebido como a fonte de todas as obrigações morais". Muitos filósofos notáveis desenvolveram argumentos a favor e contra a existência de Deus.
As muitas concepções diferentes de Deus e as reivindicações concorrentes quanto às suas características, objetivos e ações levaram ao desenvolvimento de ideias do pandeísmo ou de uma filosofia perene, que postula que existe uma verdade teológica subjacente, a qual todas as religiões expressam um entendimento parcial, e a respeito da qual "os devotos nas diversas grandes religiões do mundo são, de fato, adorando o mesmo Deus, mas através de conceitos diferentes que se sobrepõem ou com imagens mentais diferentes Dele."
Etimologia
O termo deus tem origem no termo latino deus, que significa divindade ou deidade. Os termos latinos Deus e divus, assim como o grego διϝος = "divino", descendem do Proto-Indo-Europeu *deiwos = "brilhante/celeste", termo esse encerrando a mesma raiz que Dyēus, a divindade principal do panteão indo-europeu, igualmente cognato do grego Ζευς (Zeus).
Na Antiguidade Clássica, o vocábulo em latim era uma referência generalizante a qualquer figura endeusada e adorada pelos pagãos. Em um mundo dominado pelas religiões abraâmicas, com destaque ao cristianismo, o termo é usado hodiernamente com sentido mais restrito - designando uma e a única deidade - em frases e expressões religiosas como Deus sit vobiscum, variação de Dominus sit vobiscum, "o Senhor esteja convosco"; no título do hino litúrgico católico Te Deum, proveniente de Te Deum Laudamus, "A Vós, ó Deus, louvamos". Mesmo na expressão que advém da tragédia grega Deus ex machina, de Públio Virgílio, Dabit deus his quoque finem, que pode ser traduzida como "Deus trará um fim a isto", e no grito de guerra utilizado no Império Romano Tardio e no Império Bizantino, nobiscum deus, "Deus está conosco", assim como o grito das cruzadas Deus vult, que, em português, traduz-se por "assim quer Deus", ou "esta é a vontade de Deus", verifica-se o mesmo sentido restrito.
Em latim, existiam as expressões interjectivas "O Deus meus" e "Mi Deus", delas derivando as expressões portuguesas "(Oh) meu Deus!", "(Ah) meu Deus!" e "Deus meu!". Dei é uma das formas flexionadas ou declinadas de "Deus" no latim. É usada em expressões utilizadas pelo Vaticano, como as organizações católicas apostólicas romanas Opus Dei (Obra de Deus, sendo obra oriunda de opera), Agnus Dei (Cordeiro de Deus) e Dei Gratia (Pela Graça de Deus). Geralmente trata-se do caso genitivo ("de Deus"), mas é também a forma plural primária adicionada à variante di. Existe o outro plural, dii, e a forma feminina deae ("deusas").
A palavra Deus, através da forma declinada Dei, é a raiz de deísmo, panteísmo, panenteísmo, e politeísmo, e ironicamente referem-se todas a teorias na qual qualquer figura divina é ausente na intervenção da vida humana. Essa circunstância curiosa originou-se do uso de "deísmo" nos séculos XVII e XVIII como forma contrastante do prevalecente "teísmo". Teísmo é a crença em um Deus providente e interferente. Seguidores dessas teorias, e ocasionalmente seguidores do panteísmo, podem vir a usar, em variadas línguas, especialmente no inglês, o termo "Deus" ou a expressão "o Deus" (the God), para deixar claro de que a entidade discutida não trata-se de um Deus teísta. Arthur C. Clarke usou-o em seu romance futurista, 3001: The Final Odyssey. Nele, o termo "Deus" substituiu "God" no longínquo século XXXI, pois "God" veio a ser associado com fanatismo religioso. A visão religiosa que prevalece em seu mundo fictício é o deísmo. São Jerônimo traduziu a palavra hebraica Elohim (אֱלוֹהִים, אלהים) para o latim como Deus.
A palavra pode assumir conotações negativas em algumas conotações. Na filosofia cartesiana, a expressão Deus deceptor é usada para discutir a possibilidade de um "Deus malévolo" que procura iludir-nos. Esse personagem tem relação com um argumento cético que questiona até onde um demônio ou espírito mau teria êxito na tentativa de impedir ou subverter o nosso conhecimento. Outra é deus otiosus ("Deus ocioso"), um conceito teológico para descrever a crença num Deus criador que se distancia do mundo e não se envolve em seu funcionamento diário. Um conceito similar é Deus absconditus ("Deus absconso ou escondido") de São Tomás de Aquino. Ambas referem-se a uma divindade cuja existência não é prontamente reconhecida nem através de contemplação nem via exame ocular de ações divinas in loco. O conceito de deus otiosus frequentemente sugere um Deus que extenuou-se da ingerência que tinha neste mundo e que foi substituído por deuses mais jovens e ativos que efetivamente se envolvem, enquanto deus absconditus sugere um Deus que conscientemente abandonou este mundo para ocultar-se alhures.
A forma mais antiga de escrita da palavra germânica gott vem do Codex Argenteus cristão do século VI. A própria palavra inglesa "God" é derivada da Proto-Germânica "ǥuđan". A maioria dos linguistas concordam que a forma reconstruída da Proto-Indo-Europeia (ǵhu-tó-m) foi baseada na raiz (ǵhau(ə)-), que significa também "chamar" ou "invocar".
A forma capitalizada deus foi primeiramente usada na tradução gótica Wulfila do Novo Testamento, para representar o grego "Theos". Na língua inglesa, a capitalização continua a representar uma distinção entre o "God" monoteísta e os "gods" do politeísmo. Apesar das diferenças significativas entre religiões como o cristianismo, islamismo, hinduísmo, a fé bahá'í e o judaísmo, o termo "God" permanece como uma tradução inglesa comum a todas. O nome pode significar deidades monoteísticas relacionadas ou similares, como no monoteísmo primitivo de Aquenáton e Zoroastrismo.
Nomes
Há muitos nomes para Deus e nomes diferentes são anexados a diferentes ideias culturais sobre sua identidade e atributos. No Egito Antigo, o atonismo, possivelmente a primeira religião monoteísta registrada, esta deidade se chamava Aton, com base em ser o verdadeiro Ser Supremo e o criador do universo.
Na Bíblia hebraica e no judaísmo, "Ele que é", "Eu Sou o Eu Sou", e o tetragrama YHWH (, que significa: "Eu sou quem eu sou", "Ele que existe") são usado como nomes de Deus, enquanto Yahweh e Jeová às vezes são usados no cristianismo como vocalizações de YHWH. Na doutrina cristã da Trindade, Deus, consubstancial em três pessoas, é chamado de Pai, Filho e Espírito Santo. No judaísmo, é comum se referir a Deus pelos nomes Elohim ou Adonai, o último dos quais é acreditado por alguns estudiosos como originário do Aten egípcio.
No Islã, o nome Alá é usado, apesar dos muçulmanos também terem vários nomes para Deus. No hinduísmo, Brâman é muitas vezes considerado um conceito monista de Deus.
Na religião tradicional chinesa, Deus é concebido como o progenitor (primeiro antepassado) do universo, intrínseco e constantemente ordenando. Outras religiões têm nomes para Deus, por exemplo, Baha na Fé Bahá'í, Waheguru no sikhismo, e Aúra-Masda no zoroastrismo.
Concepções de Deus
As concepções de Deus variam amplamente. Filósofos e teólogos têm estudado inúmeras concepções de Deus desde o início das civilizações, focando-se sobretudo nas concepções socializadas ou institucionalizadas, já que concepções de Deus formuladas por pessoas individuais usualmente variam tanto que não há claro consenso possível sobre a natureza de Deus.
As concepções abraâmicas de Deus incluem a visão cristã da Trindade, a definição cabalística de Deus do misticismo judaico, e os conceitos islâmicos de Deus.
As religiões indianas diferem no seu ponto de vista do divino: pontos de vista de Deus no hinduísmo variam de região para região, seita, e de casta, que vão desde as monoteístas até as politeístas; sendo o ponto de vista sobre Deus no budismo praticamente não teísta.
Na filosofia grega antiga, pré-socráticos já supuseram sobre a natureza de um Deus maior, como defendia Xenófanes, o conceito de Nous em Anaxágoras, o Esfero em Empédocles, o Logos e a união de opostos em um deus em Heráclito, a Deusa do poema de Parmênides. Sócrates faz referência ao termo singular "Théos" tanto nos diálogos de Platão quanto na obra de seu outro discípulo, Xenofonte, este último tendo atribuído essa definição em seu Memoráveis: "Aquele que coordena e mantém unido o universo, onde todas as coisas são justas e boas, e as apresenta sempre intactas, sãs e sem idade para nosso uso, e mais rápido do que se pensa para nos servir infalivelmente, é manifesto em suas obras supremas e ainda assim não é visto por nós na ordenação delas". Platão descreve atributos supremos de uma entidade em o Um, demiurgo e Ideia do Bem. Aristóteles discute em sua Metafísica e Física e o conceito de uma causa primeira e do Motor Imóvel. A noção de providência divina é abordada por Platão e pelos estoicos. O platonismo e neoplatonismo influenciaram toda a teologia ocidental posterior nas religiões abraâmicas.
Nos tempos modernos, mais alguns conceitos abstratos foram desenvolvidos, tais como teologia do processo e teísmo aberto. O filósofo francês contemporâneo Michel Henry tem proposto entretanto uma definição fenomenológica de Deus como a essência fenomenológica da vida.
Doutrina espírita – Considera Deus a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom. Reconhecem a inexorabilidade das leis naturais, contudo todas as leis da natureza são leis divinas, pois Deus é seu autor.
Martinismo – Nesta doutrina, podemos encontrar no livro Corpus Hermeticum a seguinte citação: "vejo o Todo, vejo-me na mente… No céu eu estou, na terra, nas águas, no ar; estou nos animais, nas plantas. Estou no útero, antes do útero, após o útero - estou em todos os lugares."
Teosofia, baseada numa interpretação não ortodoxa das doutrinas místicas orientais e ocidentais, afirma que o Universo é, em sua essência, espiritual, e o homem é um ser espiritual em progresso evolutivo cujo ápice é conhecer e integrar a Realidade Fundamental, que é Deus.
Algumas pessoas especulam que Deus ou os deuses são seres extraterrestres. Muitas dessas teorias sustentam que seres inteligentes provenientes de outros planetas visitaram a Terra no passado e influenciaram no desenvolvimento das religiões. Alguns livros, como o livro "Eram os Deuses Astronautas?" de Erich von Däniken, propõem que tanto os profetas como também os messias foram enviados ao nosso mundo com o objetivo exclusivo de ensinar conceitos morais e encorajar o desenvolvimento da civilização.
Especula-se também que toda a religiosidade do homem criará no futuro uma entidade chamada Deus, a qual emergirá de uma inteligência artificial. Arthur Charles Clarke, um escritor de ficção científica, disse em uma entrevista que: "Pode ser que nosso destino nesse planeta não seja adorar a Deus, mas sim criá-Lo".
Vários pensadores de renome e muitos não tão conhecidos especulam que as religiões e mitos são derivados do medo. Medo da morte, medo das doenças, medo das calamidades, medo dos predadores, medo de um "inferno eterno", ou mesmo medo do desconhecido. Com o passar do tempo, essas religiões foram subjugadas sob a tutela das autoridades dominantes, as quais se transformaram em governantes divinos ou enviados pelos deuses. Nessa linha de raciocínio, a religião é vista simplesmente como um meio para se dominar a massa que se vale das fraquezas humanas intrínsecas. Napoleão Bonaparte disse: "o povo não precisa de Deus, mas precisa de religião"; afirmando em essência que a massa necessita de uma doutrina que lhe discipline e lhe estabeleça um rumo, sendo que Deus é um detalhe meramente secundário, o meio para um fim.
Teísmo
No Teísmo, mais especificamente o Teísmo de cunho monoteísta ou monolátrico, Deus é descrito de uma forma personificada, um ser com atributos humanizados e personalidade bem definida. Essas características muitas vezes foram reveladas aos homens através de textos contidos nos livros sagrados, quais sejam: o Bagavadguitá, dos hinduístas; o Tipitaca, dos budistas; o Tanaque, dos judeus; o Avestá, dos zoroastrianos; a Bíblia, dos cristãos; o Livro de Mórmon, dos santos dos últimos dias; o Alcorão, dos islâmicos; o Guru Granth Sahib dos siquis; o Kitáb-i-Aqdas, dos bahá'ís; o Evangelho do Monstro do Espaguete Voador dos ensinamentos do Pastafarianismo.
Esses livros relatam histórias e fatos envolvendo personagens supostamente escolhidos para testemunhar e transmitir a vontade divina na Terra ao povo de seu tempo, tais como: Abraão e Moisés, na fé judaica, cristã e islâmica; Zoroastro, na fé zoroastriana; Críxena, na fé hindu; Buda, na fé budista; Jesus Cristo, na fé cristã e islâmica; Maomé, na fé islâmica; Guru Nanak, no siquismo, Báb e Bahá'u'lláh, na fé Bahá'í.
O teísmo sustenta que Deus existe realmente, objetivamente, e independentemente do pensamento humano, sustenta que Deus criou tudo; que é onipotente e eterno, e é pessoal, interessado, e responde às orações. Afirma que Deus é tanto imanente e transcendente, portanto, Deus é infinito e de alguma forma, presente em todos os acontecimentos do mundo.
A teologia católica sustenta que Deus é infinitamente simples, e não está sujeito involuntariamente ao tempo. A maioria dos teístas asseguram que Deus é onipotente, onisciente e benevolente, embora esta crença levante questões acerca da responsabilidade de Deus para com o mal e sofrimento no mundo. Alguns teístas atribuem a Deus uma autoconsciência ou uma proposital limitação da onipotência, onisciência, ou benevolência.
O teísmo aberto, pelo contrário, afirma que, devido à natureza do tempo, a onisciência de Deus não significa que a divindade pode prever o futuro. O "Teísmo" é por vezes utilizado para se referir, em geral, para qualquer crença em um Deus ou deuses, ou seja, politeísmo ou monoteísmo.
O pandeísmo e o panendeísmo, respectivamente, combinam as crenças do deísmo com o panteísmo ou panenteísmo.
Monoteísmo
Nas religiões monoteístas atuais, a citarem-se o cristianismo, judaísmo, islamismo,
siquismo e a fé bahá'í, o termo "Deus" refere-se à ideia de um ser supremo, infinito, perfeito, criador do universo, que seria a causa primária e o fim de todas as coisas. Os povos da Mesopotâmia o chamavam pelo Nome, escrito em hebraico como יהוה (o Tetragrama YHVH), que quer dizer "Yahweh", que muitos pronunciam em português como "Jeová". Mas, com o tempo, deixaram de pronunciar o seu nome diretamente, apenas se referindo a ele por meio de associações e abreviações, ou através de adjetivos como "O Senhor", "O Salvador", "O Todo-Poderoso", "O Deus Altíssimo", "O Criador" ou "O Supremo", "O Deus de Israel", ou títulos similares.
Um bom exemplo desse tipo de associação entre Deus e suas características ou ações, bem como da expressão do relacionamento dos homens com deus, ainda fazem-se explícitas em alguns nomes e expressões hebraicas, como Rafael, "curado - (Raf) - por Deus - (El)"; e árabes, por exemplo em "Abdallah", "servo - (abd) - de Deus - (Allah)".
As principais características deste Deus-Supremo seriam: a onipotência: poder absoluto sobre todas as coisas; a onipresença: poder de estar presente em todo lugar; a onisciência: poder de saber tudo; e a onibenevolência: poder da bondade infinita.
Tradição abraâmica
Segundo as perspectivas abraâmicas, as doravante enfocadas, Deus é, muitas vezes, expressado como o Criador e Senhor do Universo. Teólogos têm relacionado uma variedade de atributos utilizados para estabelecer as várias concepções de Deus. Os mais comuns entre essas incluem onisciência, onipotência, onipresença, benevolência ou bondade perfeita, simplicidade divina, zelo, sobrenaturalidade, transcendentalidade, eternidade e existência necessária.
Deus também tem sido compreendido como sendo incorpóreo, um ser intangível com personalidade divina e justa; a fonte de toda a obrigação moral; em suma, o "maior existente".
Tais atributos foram todos, anteriormente, defendidos em diferentes graus pelos filósofos teológicos judeus, cristãos e muçulmanos, incluindo-se, entre eles, Rambam, Agostinho de Hipona e Al-Ghazali, respectivamente. Muitos filósofos medievais notáveis desenvolveram argumentos para a existência de Deus, intencionando, entre outros, elucidar as "aparentes" contradições decorrentes de muitos destes atributos quando justapostos.
Henoteísmo / Monolatria
O Zoroastrismo é um exemplo de religião henoteísta e na opinião de alguns estudiosos, monolátrica, uma vez que o deus-criador, Zurvan, não é adorado, mas sim seu filho Aúra-Masda (o deus que representa o bem), por oposição a seu inimigo, Arimã (o deus mal). Os filhos de Aúra-Masda também são considerados deidades mas não recebem adoração.
Filosofia grega
A cultura grega exerceu forte influência sobre a formação da ideia de Deus no Ocidente, a partir da tentativa, desde os seus primórdios, em explicar a ordem do universo e o fato de que ele não se transforme em caos. Inicialmente, a resposta que pareceu mais simples aos pensadores gregos afirmava que o sensível permanece contínuo e integrado por ser a expressão material e diversificada de uma única substância fundamental. Parmênides e Heráclito, posteriormente, afirmaram que a unidade do mundo não reside no próprio mundo, mas numa instância suprema que, sem ser material e sensível, consiste em ordem e unidade.
Deísmo
Panteísmo
No Panteísmo, Deus é visto como tudo o que existe, ou seja o próprio Universo (ou a Natureza). Sendo assim, os panteístas não acreditam num deus pessoal ou antropomórfico, e ainda que existam divergências dentro do panteísmo, as ideias centrais dizem que deus é encontrado em todo o cosmos como uma unidade abrangente.
A Umbanda segue princípios animistas e neo-panteístas, onde Zambi, também chamado Deus, é associado aos diversos elementos da Natureza, descritos como os Orixás originários do Candomblé, que nada mais seriam, na Umbanda, do que manifestações da presença do próprio Pai Eterno. Ainda na Umbanda neo-panteísta, Deus está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe, também podendo ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do mundo.
Existência
Há milênios, a questão da existência de Deus foi levantada dentro do pensamento do homem. As principais correntes filosóficas que investigam e procuram dar respostas para a questão são:
Deísmo – Doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada. O deísmo é uma postura filosófica-religiosa que admite a existência de um Deus criador, mas rejeita a ideia de revelação divina.
Teísmo – O teísmo é um conceito que surgiu no século XVII. Contrapõe-se ao ateísmo, deísmo e panteísmo. O teísmo sustenta a existência de um Deus (oposto ao ateísmo), ser absoluto transcendental (contra o panteísmo), pessoal, vivo, que atua no mundo através de sua providência, mantendo-o (contra o deísmo). No teísmo a existência de um Deus pode ser provada pela razão e por evidências empíricas, prescindindo da revelação; mas não a negando, contudo. Seu ramo principal é o teísmo Cristão, que fundamenta sua crença em Deus e na Sua revelação sobrenatural através da Bíblia.
Teísmo agnóstico - Existe ainda o teísmo agnóstico, que é a filosofia que engloba tanto o teísmo quanto o agnosticismo. Um teísta agnóstico é alguém que admite não poder ter conhecimento algum acerca de Deus, mas decide acreditar em Deus mesmo assim. A partir do teísmo se desenvolve a teologia, que é encarada principalmente, mas não exclusivamente, do ponto de vista da fé. Embora tenha suas raízes no teísmo, pode ser aplicada e desenvolvida no âmbito de todas as religiões. Não deve ser confundida com o estudo e codificação dos rituais e legislação de cada credo.
Agnosticismo – Dentro da visão agnóstica, não é possível provar racional e cientificamente a existência de Deus, como também é igualmente impossível provar a sua inexistência. O agnóstico pode ser teísta ou ateísta, dependendo da posição pessoal de acreditar (sem certeza) na existência ou não de divindades.
Ateísmo – O ateísmo engloba tanto a negação da existência de divindades quanto a simples ausência da crença em sua existência.
Em resumo, podem-se distinguir três linhas centrais de pensamento:
Entre os teístas, além das revelações oriundas de livros considerados sagrados, como a Bíblia, muitos argumentam que pode-se conhecer Deus e suas qualidades observando a natureza e suas criações. Argumentam que existem evidências científicas suficientes que inequivocamente implicam uma fonte de energia ilimitada, e que esta seria o criador da substância do universo. Alegam que, observando a ordem, o poder e a complexidade da criação, tanto macroscópica quanto microscópica, podem inequivocamente concluir pela existência de Deus. Como exemplo, uma das correntes cristãs que defendem tal posição é a dos protestantes norte-americanos engajados no movimento do Desenho Inteligente. William Dembski é um dos defensores dessa linha de pensamento.
Para vários ateístas e agnósticos, a situação é diferente. Para a maioria desses, a definição de Deus, conforme proposta pelos teístas, se faz por sentença não testável frente ao mundo natural, que segue seu curso seguindo regras inexoráveis; e, nesses termos, Deus é sustentado apenas por fé, não havendo razão física natural que permita decisão racional ou a favor ou contra Sua existência. Citam, não raramente, a fim de corroborar seu posicionamento, a postura similar adotada pela ciência moderna; a de que deus(es) transcende(m) aos "tubos de ensaio"; e que, por tal não se pode entrar empiricamente nos "méritos daquEle(s)". Adotam, em essência, o posicionamento definido pela ciência, sendo Marcelo Gleiser um dos defensores dessa linha de pensamento.
Há, ainda, os que vão além, e afirmam que a situação inicial se inverte. Para alguns ateístas a análise fria do universo e do que nele e na Terra ocorre mostra-nos, claramente, que não há um Deus ou mesmo outra deidade onipotente qualquer atrelados. Segundo essa corrente de pensamento, o universo, se fosse projetado e concebido por um ser onipotente, onisciente, justo e paternal - como geralmente definido pelos teístas -, teria, certamente, características muito distintas das cientificamente observadas. Richard Dawkins é um dos mais famosos defensores dessa linha de pensamento.
Abordagens teológicas
Teólogos e filósofos atribuíram um número de atributos para Deus, incluindo onisciência, onipotência, onipresença, amor perfeito, simplicidade, e eternidade e de existência necessária. Deus tem sido descrito como incorpóreo, um ser com personalidade, a fonte de todos as obrigações morais, e concebido como o melhor ser existente. Estes atributos foram todos atribuídos em diferentes graus por acadêmicos judeus, cristãos e muçulmanos desde épocas anteriores, incluindo Santo Agostinho, Al-Ghazali e Maimônides.
Muitos argumentos desenvolvidos por filósofos medievais para a existência de Deus buscaram compreender as implicações precisas dos atributos divinos. Conciliar alguns desses atributos gerou problemas filosóficos e debates importantes. A exemplo, a onisciência de Deus implica que Deus sabe como agentes livres irão escolher para agir. Se Deus sabe isso, a aparente vontade deles pode ser ilusória, ou o conhecimento não implica predestinação, e se Deus não sabe, então não é onisciente.
Nos últimos séculos, tem-se visto, na filosofia, vigorosas perguntas acerca dos argumentos para a existência de Deus, propostas por filósofos tais como Immanuel Kant, David Hume e Antony Flew. Mesmo Kant, embora considerasse que o argumento de moralidade era válido, fez várias críticas aos usuais argumentos empregados.
A resposta teísta tem sido, usualmente, fundada em argumentos como os de Alvin Plantinga, que afirmam que a fé é "adequadamente básica", ou em argumentos, como Richard Swinburne, fundados na posição evidencialista. Alguns teístas concordam que nenhum dos argumentos para a existência de Deus são vinculativos, mas alegam que a fé não é um produto da razão, mas exige risco. Não haveria risco, dizem, se os argumentos para a existência de Deus fossem tão sólidos quanto as leis da lógica, uma posição assumida por Pascal bem ao estilo: "O coração tem razões que a razão não conhece."
Posições científicas e críticas a respeito da ideia de Deus
Stephen Jay Gould propôs uma abordagem dividindo o mundo da filosofia no que ele chamou de "magistérios não sobrepostos". Nessa visão, as questões do sobrenatural, tais como as relacionadas com a existência e a natureza de Deus, são não empíricas e estão no domínio próprio da teologia. Os métodos da ciência devem ser utilizadas para responder a qualquer questão empírica sobre o mundo natural, e a teologia deve ser usada para responder perguntas sobre o propósito e o valor moral.
Nessa visão, a percepção de falta de qualquer passo empírico do magistério do sobrenatural para eventos naturais faz da ciência o único ator no mundo natural.
Outro ponto de vista, exposto por Richard Dawkins, é que a existência de Deus é uma questão empírica, com o fundamento de que "um universo com um deus seria um tipo completamente diferente de um universo sem deus, e poderia ser uma diferença científica".
Carl Sagan argumentou que a doutrina de um Criador do Universo era difícil de provar ou rejeitar e que a única descoberta científica concebível que poderia trazer desafio seria um universo infinitamente antigo.
Stephen Hawking argumenta que, em vista das recentes descobertas e avanços da ciência, sobretudo na área da cosmologia, a existência de um deus responsável pela existência e pelos eventos do universo mostra-se não apenas desnecessária mas também altamente improvável, para não dizer incompatível.
Antropomorfismo
Pascal Boyer argumenta que, embora exista uma grande variedade de conceitos sobrenaturais encontrados ao redor do mundo, em geral seres sobrenaturais tendem a se comportar tanto como as pessoas. A construção de deuses e espíritos como as pessoas é um dos melhores traços conhecidos da religião. Ele cita exemplos de mitologia grega, que é, na sua opinião, mais como uma novela moderna do que outros sistemas religiosos. Bertrand du Castel e Timothy Jurgensen demonstram através de formalização que o modelo explicativo de Boyer corresponde ao que a epistemologia física faz ao trabalhar com entidades não diretamente observáveis como intermediários.
O antropólogo Stewart Guthrie afirma que as pessoas projetam características humanas sobre os aspectos não humanos do mundo porque isso os torna mais familiares e por tal "compreensíveis". Sigmund Freud também sugeriu que os conceitos de Deus são projeções de um pai.
Da mesma forma, Émile Durkheim foi um dos primeiros a sugerir que os deuses representam uma extensão da vida social humana para incluir os seres sobrenaturais. Em linha com esse raciocínio, o psicólogo Matt Rossano afirma que quando os humanos começaram a viver em grupos maiores, eles podem ter criado os deuses como um meio de garantir a moralidade. Em pequenos grupos, a moralidade pode ser executada por forças sociais, como a fofoca ou a reputação. No entanto, é muito mais difícil impor a moral usando as forças sociais em grupos muito maiores. Ele indica que, ao incluir sempre deuses e espíritos atentos, os humanos descobriram uma estratégia eficaz para a contenção do egoísmo e a construção de grupos mais cooperativos.
O anarquista Mikhail Bakunin faz uma crítica à ideia de Deus, posicionando-O como sendo uma ideia criada pelas elites - reis, senhores de escravos, senhores feudais, sacerdotes, capitalistas etc. - que busca justificar a sociedade autoritária, projetando, ideologicamente, as relações de dominação para o universo como um todo: Deus como senhor ou rei, e o universo como escravo ou súdito. A ideia de Deus serviria, segundo ele, como um mero instrumento de dominação cuja função seria fazer os dominados aceitarem sua exploração como se fosse um fato natural, cósmico e eterno, ou seja, um fato do qual não podem fugir, restando-lhes, apenas, a opção de resignarem-se.
Ver também
Absoluto
Conceitos religiosos | 511,479 |
679 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Darwinismo | Darwinismo | Darwinismo é um conjunto de movimentos e conceitos relacionados às ideias de transmutação de espécies, seleção natural ou da evolução, incluindo algumas ideias sem conexão com o trabalho de Charles Darwin. A característica que mais distingue o darwinismo de todas as outras teorias é que a evolução é vista como uma função da mudança populacional e não da mudança do indivíduo.
O termo foi cunhado por Thomas Henry Huxley em abril de 1860, e foi usado para descrever conceitos evolutivos, incluindo conceitos anteriores, como malthusianismo e spencerismo apesar desse pensamento ter sido criticado pelo próprio Darwin e por cientistas independentes. No final do século XIX passou a significar o conceito de que a seleção natural era o único mecanismo de evolução, em contraste com o lamarckismo e o criacionismo. Por volta de 1900 o darwinismo foi eclipsado pelo mendelismo até a síntese evolutiva moderna unificar as ideias de Darwin e Gregor Mendel. A medida que a teoria da evolução moderna se desenvolve, o termo tem sido associado às vezes com ideias específicas.
Embora o termo tenha permanecido em uso entre os autores científicos, tem sido cada vez mais discutido que é um termo inapropriado para a moderna teoria da evolução. Por exemplo, Darwin não estava familiarizado com o trabalho de Gregor Mendel, e como resultado teve apenas uma compreensão vaga e imprecisa de hereditariedade. Ele, naturalmente, não tinha noção dos desenvolvimentos mais recentes e, como o próprio Mendel, não sabia nada de deriva genética, por exemplo.
Concepções do darwinismo
Embora o termo darwinismo tenha sido usado anteriormente para se referir ao trabalho de Erasmus Darwin no final do século XVIII, o termo como é entendido hoje foi lançado á época do lançamento do livro de Charles Darwin de 1859 a Origem das Espécies e foi revisado por Thomas Henry Huxley no exemplar de abril de 1860 da revista Westminster Review. Depois de ter saudado o livro como "um verdadeiro rifle Whitworth no arsenal do liberalismo" promovendo o naturalismo científico sobre a teologia, e louvando a utilidade das ideias de Darwin enquanto expressava reservas profissionais quanto ao gradualismo de Darwin e duvidando que ele pudesse provar que a seleção natural podia formar novas espécies, Huxley comparou a realização de Darwin com a de Copérnico para explicar o movimento planetário:
Outro importante teórico evolucionista do mesmo período foi Peter Kropotkin que, em seu livro Mutualismo: Um Fator de Evolução, defendia uma concepção de darwinismo contrária ao de Huxley. Sua concepção era centrada em torno do que ele viu como o uso generalizado de cooperação como mecanismo de sobrevivência nas sociedades humanas e animais. Ele usou argumentos biológicos e sociológicos em uma tentativa de mostrar que o principal fator para facilitar a evolução é a cooperação entre indivíduos em sociedades e grupos associados livremente. Isso foi com o fim de neutralizar a concepção de uma concorrência feroz como o núcleo da evolução, que fornecia uma racionalização para as teorias dominantes políticas, econômicas e sociais da época; e as interpretações prevalentes do Darwinismo, tais como as de Huxley, que é apontado como um adversário por Kropotkin. A concepção de Kropotkin do darwinismo poderia ser resumida pela seguinte citação:
O uso no século XIX
O "darwinismo" logo veio a representar toda uma gama de filosofias evolucionistas (e muitas vezes revolucionárias) sobre a biologia e a sociedade. Uma das abordagens mais proeminentes, resume-se na frase de 1864 "sobrevivência do mais apto" pelo filósofo Herbert Spencer, mais tarde se tornou emblemática do darwinismo, embora o entendimento próprio de Spencer da evolução (como expresso em 1857) era mais parecido com o de Jean-Baptiste de Lamarck do que com o de Darwin, e antecedeu a publicação da teoria de Darwin em 1859. O que agora é chamado de "darwinismo social" era, na época, sinônimo de "Darwinismo" — a aplicação de princípios darwinianos de "luta" para a sociedade, geralmente em suporte à agenda política antifilantrópica. Outra interpretação, que contava nomeadamente com o favor do meio primo de Darwin Francis Galton, era que "Darwinismo" implica que pelo fato de que a seleção natural aparentemente não mais funcionava com as pessoas "civilizadas", era possível para cepas de pessoas "inferiores" (que normalmente seriam filtradas fora do pool genético) prevalececem sobre as cepas "superiores", e medidas correctivas voluntários seriam desejáveis - o fundamento da eugenia.
Nos dias de Darwin, não havia uma definição rígida do termo "darwinismo", e este era usado pelos oponentes e proponentes da teoria biológica de Darwin tanto para significar o que eles queriam em um amplo contexto. As ideias tiveram influência internacional, e Ernst Haeckel desenvolveu o que ficou conhecido como Darwinismus na Alemanha, embora, como a "evolução" de Spencer, o "darwinismo" de Haeckel tinha apenas uma semelhança grosseira com a teoria de Charles Darwin, e não era centrado sobre a seleção natural de forma nenhuma. Em 1886, Alfred Russel Wallace foi a uma turnê de palestras nos Estados Unidos, começando em Nova York e passando por Boston, Washington, Kansas, Iowa e Nebraska para a Califórnia, palestrando sobre o que ele chamou de "darwinismo", sem quaisquer problemas.
Após a síntese moderna
O darwinismo é usado dentro da comunidade científica para o distinguir das modernas teorias evolucionistas, algumas vezes chamadas de "neodarwinismo", daquele inicialmente proposto por Darwin. O Darwinismo também é usado pelos historiadores para diferenciar a sua teoria a partir de outras teorias evolucionistas correntes do mesmo período. Por exemplo, o darwinismo pode ser usado para se referir ao mecanismo proposto por Darwin da seleção natural, em comparação com mecanismos mais recentes, como a deriva genética e o fluxo gênico. Também pode se referir especificamente ao papel de Charles Darwin ao contrário de outros na história do pensamento evolutivo - particularmente resultados contrastantes de Darwin com as teorias anteriores, como o lamarckismo ou os posteriores, como a síntese moderna.
Algoritmos genéticos
O darwinismo é utilizado por biólogos, filósofos, matemáticos e cientistas para descrever processos evolucionários semelhantes à evolução da vida, como o desenvolvimento de software com algoritmos genéticos.
Neste contexto mais abstracto, o darwinismo é independente dos detalhes da evolução biológica. Um processo darwinista requer as condições seguintes:
Reprodução: os agentes devem ser capazes de produzir cópias de si próprios e essas cópias devem ter igualmente a capacidade de se reproduzirem;
Hereditariedade: As cópias devem herdar as características dos originais;
Variação: Ocasionalmente, as cópias têm que ser imperfeitas (diversidade no interior da população);
Recombinação: Troca de informações genéticas entre pares de cromossomos;
Seleção Natural: Os indivíduos são selecionados pelo ambiente. A seleção natural destrói, e não cria. O problema da existência de um objetivo não surge da eliminação dos inaptos, e sim da origem dos aptos.
Em qualquer sistema onde ocorram essas características deverá ocorrer evolução.
Alguns autores, adicionalmente, propõe a elaboração de modelos matemáticos de seleção sexual.
Ver também
Charles Darwin
Darwinismo social
Pangênese (Mecanismo hipotético de Charles Darwin para a hereditariedade)
Prémios Darwin
Seleção natural
Síntese evolutiva moderna (Neodarwinismo)
Criacionismo
Evolucionismo teísta
Ligações externas
O que é Darwinismo?
A teoria da evolução de Darwin, As Ilhas de Darwin, Paulo Santos, Thomas Dellinger, RTP Madeira, 2009
A origem do Homem explicada por Darwin, Cuidado com a Língua! (Extrato de Programa), por José Mário Costa, Produção: até ao Fim do Mundo
As bactérias contradizem Darwin: a mais apta não sobrevive, por ZAP -16 Outubro, 2019
História do pensamento evolutivo | 48,810 |
680 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Damas | Damas | Jogo de damas ou simplesmente damas é um grupo de jogos de tabuleiro de estratégia para dois jogadores que envolvem movimentos diagonais de peças de jogo uniformes e capturas obrigatórias saltando sobre o oponente peças. Damas é desenvolvido a partir de alquerque. No Brasil e em Portugal é mais conhecida a versão de 64 casas (8 por 8), mas a versão mais conhecida mundialmente é a que usa um tabuleiro de 100 casas (10 por 10).
Regras
O jogo de damas pratica-se entre dois jogadores, num tabuleiro quadrado, de 64 casas (damas brasileiras) ou 100 casas (damas internacionais) alternadamente claras e escuras, dispondo-se de 12 peças brancas e 12 peças pretas ou 20 peças brancas e 20 peças pretas.
O objetivo é capturar ou imobilizar as peças do adversário. O jogador que conseguir capturar todas as peças do inimigo ou deixá-lo sem movimentos ganha a partida.
O tabuleiro deve ser colocado de modo que a casa angular à esquerda de cada parceiro seja escura.
No início da partida, as peças devem ser colocadas no tabuleiro sobre as casas escuras, da seguinte forma: nas três primeiras filas horizontais, as peças brancas; e, nas três últimas, as peças pretas.
A peça movimenta-se em diagonal, sobre as casas escuras, para a frente, e uma casa de cada vez.
A peça pode capturar a peça do adversário movendo-se para frente ou para trás.
A peça que atingir a oitava casa adversária, parando ali, será promovida a dama, peça de movimentos mais amplos que a simples peça. Assinala-se a dama sobrepondo, à pedra promovida, outra da mesma cor.
A dama recém-promovida só pode jogar depois do lance adversário. Isto difere das regras russas, por exemplo, e é detalhado mais adiante.
A dama pode mover-se para frente ou para trás em diagonal várias casas, tal qual o bispo move-se no xadrez, diferente das outras peças, que movimentam-se apenas para frente e uma casa. A dama pode também tomar outra peça para frente ou para trás.
Quando na casa contígua a uma peça houver uma peça adversária, com uma casa imediata vaga, na mesma diagonal, a peça toma-la-á passando para a citada casa vaga. Assim, a peça toma para a frente e para trás, sendo este o único movimento retrógrado da peça. Se após a tomada de uma peça, a circunstância se repetir, a peça continuará a tomada no mesmo lance, chamando-se a este movimento tomada em cadeia.
Se, nas diagonais da casa de partida da dama, houver uma peça adversária cuja casa imediata esteja vaga, a dama toma-la-á passando para qualquer casa vaga após a peça tomada. A dama também toma em cadeia.
A tomada é obrigatória. A peça e a dama têm o mesmo valor para tomar ou ser tomada. Se, no mesmo lance, se apresentar mais de um modo de tomar, é obrigatório executar o lance que tome o maior número de peças (lei da maioria).
A peça que toma poderá passar mais que uma vez pela mesma casa vazia, porém não poderá tomar qualquer peça mais de uma vez. Não será promovida a peça que, numa tomada em cadeia, apenas passe pela oitava casa adversária. As peças tomadas só deverão ser retiradas do tabuleiro depois de completado o lance (tema turco).
As brancas têm sempre a saída, isto é, o primeiro lance da partida. Determina-se por sorteio ou convenção, para a primeira partida; nas seguintes, as brancas cabem alternadamente aos dois parceiros.
O lance é executado quando se leva diretamente à nova casa a peça tocada; a peça deve ser imediatamente solta.
O lance está completo quando a mão do jogador tiver largado a peça, ao movê-la de uma casa para outra.
Se o jogador, a quem cabe efectuar o lance, tocar:
uma de suas peças, deverá jogá-la; e,
várias de suas peças, o adversário terá o direito de designar qual a peça, dentre as tocadas, que deverá ser jogada.
Nota: se nenhuma dessas peças puder ser jogada legalmente, não haverá penalidade, entretanto, a reincidência é passível de punição.
A partida termina empatada quando:
os dois parceiros concordarem com o empate;
a partir de qualquer ponto da partida, ocorrer 20 lances sucessivos de damas, sem tomada ou deslocamento de pedra;
uma mesma posição se produzir pela terceira vez, cabendo ao mesmo jogador o lance, deverá o interessado reclamar o empate, antes que a posição se modifique (esta regra só vale se a partida estiver sendo anotada em uma planilha); e,
na luta de três damas contra uma, o lado maior não conseguir obter vitória em vinte lances.
O jogo de damas, difundido que foi por todo o mundo, acabou por receber alterações, dependendo da região em que é jogado. Também foram feitas modificações nas regras, visando dinamizar o jogo. A seguir, algumas variantes do jogo.
No Brasil e em Portugal
Damas sem captura: A dama move-se em diagonal, percorrendo as casas vagas que quiser, para diante ou para trás, não tomando no seu percurso qualquer peça de cor contrária e não podendo mudar dessa diagonal.
Damas com captura: Se em sua diagonal houver uma outra peça, sendo essa da cor adversária, a captura só pode ser efetuada se houver uma ou mais casas vazias após a peça adversária, a captura é obrigatória. A dama não é obrigada a ficar uma casa após a peça capturada. Também é muito conhecido no mundo inteiro, está entre os jogos mais populares como: o xadrez, a dama e o dominó
Damas italianas
As regras são as mesmas das damas tradicionais, com as seguintes mudanças: o tabuleiro é colocado de modo a ficar uma casa branca a esquerda; as peças não podem tomar a Dama; se um jogador não tomar uma peça quando for possível fazê-lo, perde o jogo; e quando houver mais de uma opção para tomada de peças, deverá optar o jogador por tomar a peça mais valiosa, isto é, a camisa.
Damas inglesas
Mesmas regras das damas tradicionais, exceptuando-se o fato do jogador poder optar por capturar qualquer peça e não fazer obrigatoriamente a jogada que o permita tomar o maior número de peças. Além disso, as damas não se movem em longa distância. A única vantagem de uma dama sobre uma peça normal é a capacidade de se mover e capturar para trás, bem como para frente.
Damas russas
As únicas alterações com relação às regras oficiais, são o fato de a tomada ser obrigatória, mas não haver lei da maioria, podendo-se, com isso, escolher qualquer opção de captura e realizando todas as capturas da sequência. E também o fato de, no caso de uma tomada em cadeia, se a peça passar pela última fileira, ser promovida a dama e continuar a captura como dama, se possível.
Damas turcas
Possivelmente a mais exótica das variantes tradicionais de damas.
Usa o tabuleiro de oito por oito casas. Cada jogador tem dezesseis peças e as coloca inicialmente na segunda e terceira fileiras mais próximas de si.
As peças se movem de forma ortogonal, para os lados ou para a frente, mas não para trás.
A captura também é feita para a frente ou para os lados. A peça que faz a captura é colocada na posição seguinte à previamente ocupada pela peça capturada, que é imediatamente eliminada (durante a jogada, e não ao final da mesma).
Quando uma peça chega à última fileira torna-se Dama.
As Damas podem se mover tantas casas vazias quanto quiserem para a frente, para trás ou para os lados.
A captura feita por uma Dama é igual à das peças normais, excepto por poder saltar por uma linha de casas vazias até alcançar a peça capturada.
Quando possível, a captura é obrigatória e deve ser feita de forma a eliminar o máximo possível de peças adversárias.
A vitória ocorre ao capturar todas as peças do adversário, imobilizá-lo ou deixá-lo com, no máximo, uma peça contra uma Dama.
Perde-ganha
Variante em que as regras são as mesmas do jogo oficial, mas, nesta variante, aquele que ficar sem peças é quem ganha. O jogador, portanto, deve oferecer suas peças ao adversário, o mais rápido possível.
História
Percursores clássicos
Um jogo similar foi jogado por milhares de anos. Um tabuleiro semelhante a um tabuleiro de damas foi encontrado em Ur que data de 3000 a.C. No Museu Britânico, os exemplares de antigos tabuleiros de damas são egípcios, foram encontrados com suas peças em câmaras mortuárias e o jogo foi jogado pela rainha Hatchepsut. Platão mencionou um jogo, πεττεία ou petteia , também denominado pente grammaí («o jogo das cinco linhas») como sendo de origem egípcia, também mencionado por Homero. Os romanos jogavam uma derivação do petteia chamada Latrúnculo.
Antigo Egipto
Presuntivamente, o jogo precursor das variedades do alquerque dos tres e dos nove (e por seu turno, mais remotamente, do jogo das damas) terá nascido no Antigo Egipto, pelo que se se encontraram tabuleiros gravados na pedra no telhado do templo de Kurna na cidade de Luxor, datados de 1500 a.C. que se destinariam a esse fim.
Grécia Antiga
O jogo terá chegado aos gregos antigos, se bem que não se saiba a data exacta, sabe-se que já no séc. V a.C se jogava uma versão que era designada de "jogo das cinco linhas" («Pente Grammai», daqui originará o vocábulo "pentagrama"), porque na época o jogo ainda seria composto apenas de um só quadrado (quatro linhas), intersectado por uma diagonal (a quinta linha). Esta quinta linha dava pelo nome de "linha sagrada", pela sua importância no jogo, num poema de Alceu de Mitilene, do séc. V a.C., alude a essa importância. Esse verso, ulteriormente teve relevo aforístico "retirar a peça da linha sagrada" era um aforismo usado por generais gregos para se referirem à perda de uma posição estratégica, conforme resulta da passagem 97 do capítulo VII do Onomasticon de Polux.
O jogo também foi, por vezes designado "jogo dos heróis", por se acreditar que teria sido jogado na época heróica, havendo representações vasculares de Aquiles e Ájax a jogar o penta grammai. O jogo destinava-se a dois jogadores, cada qual, posto frente-a-frente, sendo que além das peças e das cinco linhas, também se jogava com o auxílio de um dado. Há versões deste jogo em que as cinco linhas estão dispostas como num quadrado com uma diagonal ao meio, enquanto que noutras representações aparece como um rectângulo com cinco linhas paralelas, não se sabe se será uma variante do tabuleiro, se será uma representação apócrifa.
O exemplar mais antigo, alguma vez descoberto na grécia, foi um tabuleiro de terracota, descoberto em Anagiros na Ática, numa sepultura do século VII a.C., que se acredita que poderá ter sido usado para jogar o jogo das cinco linhas.
Roma Antiga
Na Roma Antiga havia um jogo, que terá sido um possível percursor do alquerque (e este, por seu turno, do jogo das damas), que se chamaria o "jogo das doze linhas" (Duodecim Scripta), que se jogava num tabuleiro análogo ao pente grammai grego ou mesmo ao jogo das nove linhas egípcio. O nome é intuitivo, jogava-se em tabuleiros com peças.
Tratar-se-ia de um jogo de sorte e de estratégia, com semelhanças ao gamão moderno. As peças, que seriam entre 12 e 30, representavam homens, sendo que, por vezes, eram designadas exactamente como tal, e apresentavam as cores preta e branca. Havia capturas de peças saltando sobre a peça do adversário e ocupando a casa por ela ocupada. As peças capturadas saiam do tabuleiro e regressavam ao jogo mais tarde. O vencedor seria aquele que completasse o percurso do jogo, ou capturando os "homens" do adversário ou impossibilitando a captura dos seus homens. Além das peças, também se jogaria com dois ou três dados, consoante se jogava com 12 ou 30 peças. Não se conhece em que posições estariam as peças ao começar o jogo.
Com base na passagem « ὀπισθιδίη ὁδὸς» escrita por Agátias fica-se com a ideia de que o jogo tanto se poderia jogar em casa como na rua.
A mais antiga menção a este jogo encontra-se na obra de Ovídio Ars Amatoria (A Arte de Amar) (escrita entre 1 a.C e 8 d.C). Um exemplar antigo deste jogo foi exumado nas escavações arqueológicas de Kibrya no Sul da Turquia.
O tabuleiro dava pelo nome de tabula, ou, mais raramente abacus, ou, ainda, se tivesse uma borda com relevo, alveus (por exemplo, Plínio, no capítulo XIII, do Livro VII, da obra História Natural, menciona «“alveus cum tesseris lusorius»- lit «tabuleiros com dados de jogar»); às 'peças chamavam-se "homens" ou então "pedrinhas", do gr. ψῆφοι ( 'psífoi' = lit. «pedrinha; seixo; gogo») ou do lat. "calculi" (pedrinha); à situação do jogo num dado momento chamava-se θέσις (gr. 'thésis' = lit. «posição; disposição»); Ao avanço com a peça, τιθέναι (tithénai= pisar, pousar, depositar, colocar), chamava-se "colocação"; à retirada ou captura de uma peça do tabuleiro ἀνατιθέναι (gr. 'anathema' = lit. «remeter; preterir») ou reducere (lat.), chamava-se "retirada".
Dada a popularidade da língua grega no império romano, à data em que se jogava este jogo, alguns termos designavam-se pelo nome grego, não tendo chegado até nós o seu equivalente latino.
O primeiro jogador romano de duodecim scripta de que há registo foi o cônsul Públio Múcio Cévola, que viveu no século II a.C., de acordo com Cícero, Públio jogava tão bem que "era capaz de jogar de olhos vendados" (o que poderá muito bem ser simplesmente uma força de expressão).
Quintiliano,na obra Institutio Oratoria, Livro décimo primeiro, capítulo II, inclusive faz o relato de que Cévola, certa vez, depois de perder um jogo, foi capaz de se recordar de todas as jogadas anteriores, indicando concretamente a jogada em que cometera o erro que lhe custara a derrota e logo confirmando com o adversário as passagens e jogadas que cada um fez. Isto é citado, com o intuito de salientar a boa memória deste cônsul.
Vestígios encontrados Mediterrâneo da Idade do Bronze
Tendo dito isto, há vestígios de jogos protótipos ou percursores do al-qirkat, um pouco por toda a orla Mediterrânea. Há vestigios da Idade do Bronze, de peças de jogar, a que chamamos «Tiras», encontradas gravadas na pedra, nas regiões alpinas, maxime ao pé do lago Garda. Há vestigios de tabuleiros semelhantes ao do al-qirkat gravados nos rochedos na Galiza, em Maia e Baiona, que datam da época romana, sendo certo que também já foram encontrados outros exemplares desse período na antiga cidade de Mulva (actual Sevilha).
Percursores modernos
Alquerque
Tal como consta da obra «Board and Table Games from Many Civilizations» de R. C. Bell, aquele escreve que «quando os mouros invadiram a Península Ibérica, no séc. VIII, trouxeram El-qirkat consigo».. Portanto, sabe-se que o jogo já existiria, pelo menos, desde o século VIII, na sua forma perfectivada, fosse como alquerque dos seis, dos nove ou dos doze.
O Jogo não aparece na literatura até o final do século X, quando o autor Abu al-Faraj al-Isfahani faz menção ao al-qirkat no «Kitab al-Aghani» (lit. Livro das Canções), obra de vinte e quatro volumes, onde, todavia, não consta qualquer menção das regras do jogo. As regras mais antigas conhecidas do jogo do alquerque dos doze são as que aparecem, no século XIII, na obra «Livro de xadrez, dados e tabuleiros» de Afonso X de Castella. Em 1283, no reinado de Afonso X de Castela já há registos a respeito do alquerque do 3, do 9 e do 12.
O alquerque dos doze fundiu-se, no século XV, com o tabuleiro de xadrez e deu lugar às damas.
A "regra do sopro", terá surgido em França no séc.XV, já quando o jogo começava a adquirir a feição de jogo das damas e consistia numa inovação às regras, que passava por penalizar o jogador que, por esquecimento ou outro motivo, não efectuasse uma captura da peça do adversário, quando tinha a oportunidade para o fazer. Passava, então a instituir-se a obrigatoriedade de capturar a peça do adversário, obrigação essa que existe em alguns jogos do alquerque, mas que não é comum a todos, mesmo no alquerque moderno.
De acordo com o autor Arie Van Der Stoep, há registos da época, que mostram ter-se popularizado a prática de retirar a peça do jogador que não efectuou a captura obrigatória, chegá-la aos lábios e soprar-lhe em cima, antes de a retirar do tabuleiro. Daí o nome "regra do sopro" e da ulterior expressão "soprar a peça". Cada peça foi alcunhada de "fers", o mesmo nome que, então, se dava à rainha no xadrez, daqui se terá propiciado o ulterior aparecimento do jogo das damas, por ambas se movimentarem no tabuleiro da mesma maneira.
O tabuleiro do jogo do alquerque é quadrado e divide-se em dezasseis quadrados. Todos os dezasseis quadrados são atravessados por linhas paralelas e diagonais, que foram vinte e cinco intersecções (a que se chamam pontos ou casas) onde de se põem as 24 peças. Há 12 peças de uma cor e outras 12 de outra, normalmente branco e preto. O objectivo do jogo é ir capturando peças ao adversário até que não lhe sobrem mais peças ou, então, impedir o adversário de capturar mais peças, o que se consegue quando se põem as peças ao longo das arestas do tabuleiro, deixando de haver a possibilidade de saltar por cima delas, por não haver linhas paralelas ou diagonais, que permitam passar por cima da peça e aterrar numa casa livre (a isto chama-se coloquialmente "afogar o jogo").
Vestígios arqueológicos em Portugal
Há uma tendência arqueológica portuguesa expressiva, que se caracteriza pela presença de tabuleiros de jogo gravados nos muros baixos e nos degraus das escadarias de inúmeros monumentos portugueses, desde a Alta Idade Média, até depois do Renascimento. A título de exemplo, encostado à muralha do castelo de Castelo Rodrigo, há vestígios de um tabuleiro do alquerque dos nove gravado na pedra. O mesmo sucede com a escadaria da Igreja das Servas, em Borba.
Na nomenclatura tradicional portuguesa, as peças do jogo do alquerque também podem, elas-mesmas, dar pelo nome de alquerque, há também a possibilidade de se chamar alquerque ao jogo e alguergue às peças ou vice-versa.
Crowning
As regra de Crowning foi usado pelo século XIII, como é mencionado em Chronique do Philip Mouskat em 1243, quando o jogo era conhecido como Fierges, o nome usado para a rainha de xadrez (derivado do persa firz, significando conselheiro do rei ou vizir). As peças se tornaram conhecidas como "damas", quando esse nome também foi adotado para a rainha de xadrez. A regra forçando os jogadores a tomar sempre que possível, foi introduzido na França em torno de 1535, altura em que o jogo se tornou conhecido como Jeu forcé, idêntico ao jogo de damas inglês moderno. O jogo sem a captura forçada ficou conhecido como Le jeu plaisant de dames, o precursor dos jogos de damas internacionais.
No século XVIII, o escritor inglês Samuel Johnson escreveu um prefácio para um livro de 1756 sobre damas de William Payne, o mais antigo livro em língua inglesa sobre o jogo.
Damas no computador
Em julho de 2007, um grupo da Universidade de Alberta liderado por Jonathan Schaeffer anunciou, num artigo publicado na Revista Science, que havia resolvido o jogo de damas. O programa Chinook desenvolvido pelo grupo desde 1989, chegou a um ponto de sua evolução em que comprovadamente tornou-se imbatível. Desta forma, o grupo pôde demonstrar que as damas são um jogo de empate, ou seja, sempre terminará em empate se ambos os adversários realizarem as jogadas corretas.
O Chinook já se havia destacado anteriormente por ter sido o vencedor do Campeonato Mundial Homem x Máquina, em 1994.
Bibliografia
Westerveld, Govert (2004), La reina Isabel la Católica, su reflejo en la dama poderosa de Valencia, cuna de ajedrez moderno y origen del juego de damas. En colaboración con José Antonio Garzón Roger, Valencia. (Prólogo de Prof. Dr. Juan Torres Fontes). Generalidad Valenciana, Secretaria Automòmica de Cultura. ISBN 84-482-3718-8
Ligações externas
Vídeo aulas online
Federação Paulista de Jogo de Damas
Federação Portuguesa de Damas (FPD)
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682 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Ti%C3%ABsto | Tiësto | Tiësto é o nome artístico do DJ, remixer e produtor musical holandês Tijs Michiel Verwest. Tiësto tem extrema importância na cena da música eletrônica devido ao seu pioneirismo e é descrito por muitos como um dos maiores nomes da história da música eletrônica, por vezes, como o maior DJ de todos os tempos. Apesar de ele ter utilizado muitos apelidos no passado, ele é mais conhecido pelo seu trabalho como Tiësto. Nas suas produções mais recentes, no entanto, ele abandonou o rótulo de "DJ" e é conhecido agora como simplesmente "Tiësto", uma alcunha que deriva de seu apelido de infância.
Conforme sua popularidade cresceu no início dos anos 2000, ele tornou-se o primeiro DJ a apresentar-se para um grande público sem nenhum outro DJ ou outros actos de abertura. Ele também é notado por ser o primeiro DJ a tocar ao vivo no palco em Jogos Olímpicos na cerimónia de abertura das olimpíadas de 2004 em Atenas. Além de receber inúmeros prémios pelo seu trabalho ele foi coroado como o "Melhor Dj do mundo" 3 vezes consecutivas pela DJ Magazine de 2002/2003/2004.
Ele também realizou contribuições de caridade. Em Abril de 2006, Tiësto foi nomeado o embaixador mundial para a fundação Dance4Life, combatendo a disseminação da Sida, para a qual ele gravou a faixa "Dance4life." Em Dezembro de 2007, Tiësto e Giorgio Armani colaboraram juntos numa edição limitada de uma camisola de Tiësto disponível nas lojas Armani Exchange. O seu single "Sweet Things" inclui a camisola, com os lucros da venda beneficiando os Mercy Corps, uma ONG de acção humanitária.
Ele recebeu uma nomeação para um Grammy Award em 2008, por seu álbum Elements of Life.
Em 2008 e 2009, Tiësto estabelecidas entre o 7 Julho e 22 de Setembro, toda segunda-feira como o novo DJ residente na Privileg em Ibiza.
2008 e 2009, Tiësto foi eleito para o International Dance Music Awards (IDMA) no Winter Music Conference, em Miami, como o melhor DJ do mundo.
Em 2020, Tiësto lançou seu novo projeto chamado: VER:WEST
Início de carreira
Tiësto começou a sua carreira de DJ profissional em festas escolares, conseguindo depois ser DJ residente em vários clubs holandeses, entre 1985 e 1993. Foi no clube "The Spock" que as coisas arrancaram mesmo para ele: Tijs, que até aí tinha produzido faixas hardcore/gabber, sob os nomes artísticos de "Da Joker" e "DJ Limited" e começou a produzir um som mais próprio e próximo do que é hoje conhecido. Muito embora Tiësto seja considerado um DJ de trance, ele passa nos seus sets também um pouco de techno e house.
Em 1997, juntamente com Arny Bink, formou a Black Hole, a editora que lançou para o mercado as compilações Magik (a compilação de música eletrônica mais vendida de todos os tempos), In Search Of Sunrise e Nyana e na qual ele lançou diversos singles, sobre os nomes de Drumfire, Stray Dog, Tom Ace, Wild Bunch.
Lançou ainda diversos singles com outros DJs, sob os nomes de A3, Alibi, Andante, Clear View, Control Freaks, Glycerine, Gouryella, Hammock Brothers, Hard Target, Kamaya Painters, Main Men, Major League, T-Scanner, TB X-Press, Tiësto, Storm & Montana, Two Deejays, Vimana e West & Storm. A editora cresceu tanto que Tiësto, em 2001, fundou uma sub-editora, a Magik Muzik. Algumas das produções lançadas pela sub-editora são o single Flight 643, e os seus álbuns de estúdio In My Memory, Just Be, Elements of Life e Kaleidoscope.
O sucesso
Em 1997, Tiësto lança o primeiro de sete volumes da série Magik, a compilação mais vendida da história da música electrónica. Em 1999, junta-se a Ferry Corsten, para formar a dupla Gouryella, que produziu os singles Gouryella, Walhalla e Tenshi. Em 2001, lança o seu primeiro álbum com músicas próprias, In My Memory, que contém muitos dos singles que marcam a sua carreira, como Lethal Industry, Suburban Train, Obsession e Flight 643.
Em 2002 é eleito, pela primeira vez, o melhor Dj do Mundo pela DJ Magazine. Em 2003, renova o título e promove "Tiësto In Concert", um grandioso evento, pioneiro na música electrónica, seguindo o conceito de um DJ a actuar a solo. Nesse concerto, Tiësto tocou duas noites seguidas em Arhnem, Gelredome, para 25 mil pessoas. Em 2004, ganha o título pela terceira vez, sendo o primeiro DJ a consegui-lo. Além disso, lança o seu segundo álbum, Just Be, de onde saíram singles como Just Be, Love Comes Again, Traffic, Nyana e Adagio for Strings. O grande "destaque" da carreira de Tiësto, é, segundo muitos fãs, a presença de Tiësto nos Jogos Olímpicos de Atenas, Grécia, em 2004, onde foi o artista convidado pela organização para abrir a cerimónia de abertura dos Jogos. Ainda neste ano, repetiu o seu "Tiësto In Concert", novamente um grande sucesso. Em 2006, é nomeado embaixador oficial da Dance4Life, organização contra a SIDA/HIV, para a qual compôs o single Dance4Life, com Maxi Jazz, do Faithless. Já em 2007, abriu o ano tocando na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, ao vivo para 200 mil pessoas, e lançou o seu novo show e álbum, Elements of Life. Com este álbum que começou uma gigantesca digressão mundial.
2008 e 2009, Tiësto foi eleito para o International Dance Music Awards (IDMA) no Winter Music Conference, em Miami, como o melhor DJ do mundo.
2013, Tiësto foi eleito pela DJ Magazine na cerimônia do Top 100 DJs Awards, categoria Legend Award, como melhor DJ dos últimos 20 anos. (1993 - 2013)
Discografia
Álbuns de estúdio
Just Be (2004)
Elements of Life (2007)
Kaleidoscope (2009)
A Town Called Paradise (2014)
The London Sessions (2020)
DRIVE (2023)
Ver também
Gouryella
Paul van Dyk
Ligações externas
DJs dos Países Baixos
Músicos de música eletrônica
Naturais de Breda
Produtores musicais dos Países Baixos
Remixers
Trance | 26,913 |
684 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito%20Federal%20%28Brasil%29 | Distrito Federal (Brasil) | O Distrito Federal é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Situado na Região Centro-Oeste, é a menor unidade federativa brasileira e a única que não tem municípios, sendo dividida em 35 regiões administrativas, totalizando uma área de . Em seu território, está localizada a capital federal do Brasil, Brasília, que é também a sede de governo do Distrito Federal.
O Distrito Federal é praticamente um enclave no estado de Goiás, não fosse a pequena divisa de pouco mais de dois quilômetros de extensão com o estado de Minas Gerais, marcada pela passagem da rodovia DF-285. Por via terrestre, o Distrito Federal se conecta a Minas Gerais por uma pequena ponte de 130 metros sobre o rio Preto.
Durante o Império, o predecessor ao Distrito Federal atual era o Município Neutro, onde se situava a corte, na cidade do Rio de Janeiro. Depois da proclamação da república, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se a capital federal, que, no início da década de 1960, foi transferida para Brasília, no centro do Brasil, no leste do estado de Goiás e a oeste do estado de Minas Gerais, no atual Distrito Federal. Quando de sua transferência, o território onde se localizava anteriormente o antigo Distrito Federal, onde a cidade do Rio de Janeiro se situava, passou a ser o estado da Guanabara (de 1960 a 1975).
Com a reordenação republicana do território brasileiro, as províncias passaram a estados e cada um deles passou a ser uma unidade da federação. Quase todos os estados surgiram das províncias de mesmos nomes, exceto o Distrito Federal e outros estados criados pela divisão territorial. O atual Distrito Federal foi idealizado por um projeto do então presidente Juscelino Kubitschek de mudança da capital nacional da cidade do Rio de Janeiro para o centro do país.
Em 8 de janeiro de 2023, Alexandre de Moraes determinou o afastamento do até então governador Ibaneis Rocha por 90 dias, após as invasões na Praça dos Três Poderes. Diante isso, Celina Leão, vice-governadora, assumiu a vaga.
Origem do nome
O topônimo "Distrito Federal" () é uma versão brasileira de distrito federal, utilizada normalmente em países que se organizam de forma federal. No Brasil Império, a cidade do Rio de Janeiro passou a compreender-se em um Município Neutro a partir de 1834. Após a Proclamação da República, em 1891, quando da promulgação da Constituição Federal de 1891, este ente transformou-se em Distrito Federal, mantendo a antiga capital imperial como sede do novo regime político. Com a mudança dos três poderes do Sudeste para o Centro-Oeste do Brasil, o novo Distrito Federal passou a sediar a nova capital, Brasília, de acordo com a Constituição de 1946.
Um dos gentílicos tanto do Distrito Federal como de Brasília é "brasiliense", que significa "brasileiro". O termo "candango", que é também utilizado para designar tanto os habitantes quanto os nascidos em Brasília, foi originalmente usado pelo presidente Juscelino Kubtschek para se referir aos trabalhadores que, em sua maioria provenientes da Região Nordeste do Brasil, foram contratados ou migravam à região da futura capital para sua construção, com o passar do tempo passou a representar também seus descendentes nascidos na cidade. Uma das interpretações sobre seu significado diz que o termo "candango" era usado pelos africanos para designar os portugueses. A denominação é derivada de uma língua africana e possuía originalmente a conotação de "ordinário, ruim", embora alguns dicionários apontem como de origem duvidosa. Assim como o termo "gaúcho", também de origem depreciativa, mas que com o tempo tornou-se razão de orgulho para os nascidos na região Sul do Brasil, além de Uruguay e Argentina, também o gentílico "candango" é utilizado por muitos habitantes de Brasília, nascidos ou não na capital, por significar ainda aqueles que continuam a contribuir para construir o presente e o futuro da capital de todos os brasileiros.
História
Primórdios da ocupação humana
Até a chegada dos portugueses ao litoral do Brasil, no século XVI, a porção central do país, na qual se inclui o atual Distrito Federal, era ocupada por indígenas do tronco linguístico macro-jê, como os acroás, os xacriabás, os xavantes, os caiapós, os javaés, etc. No século XVIII, a atual região ocupada pelo Distrito Federal, que era cortada pela linha do Tratado de Tordesilhas que dividia os domínios portugueses dos espanhóis, tornou-se rota de passagem para os garimpeiros de origem portuguesa em direção às minas de Mato Grosso e Goiás. Data dessa época a fundação do povoado de São Sebastião de Mestre d'Armas (atual região administrativa de Planaltina, no Distrito Federal).
Antecedentes
A cidade de Salvador foi a primeira sede administrativa do Brasil durante o período que vai de 1549 a 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro. Os participantes da Conjuração Mineira de 1789 defendiam que a capital do país deveria ser a cidade de São João del-Rei, enquanto os nordestinos da Revolução Pernambucana defendiam que a capital do Brasil deveria ficar no Nordeste e nas proximidades do mar. Mesmo com todas essas divergências, havia o consenso de que o Brasil deveria ter, como sede administrativa, uma cidade que facilitasse tanto o desenvolvimento do país como sua defesa. Havia preferências para que esta sede funcionasse no interior do país, pois isto estimularia a ocupação do interior do Brasil, bem como tornaria a capital menos predisposta às invasões estrangeiras, que aconteciam com mais frequência na zona litorânea.
O sonho com Brasília, a capital federal, começou a existir a partir de 1823, na primeira Constituinte no Império Brasileiro, com uma proposta feita por José Bonifácio de Andrada e Silva, que defendeu a mudança da capital para uma região mais central no país, mostrando as vantagens de se construir a capital em uma das vertentes do Rio São Francisco. Durante a defesa de sua proposta, ele até sugeriu o nome da cidade tal qual conhecemos hoje. Porém, somente partir de 1839 iniciou-se uma reflexão sobre a construção de uma cidade no cerrado do planalto central, nas proximidades do rio São Francisco. Em 1852, essa questão despertou o interesse do historiador Varnhagen, que defendeu essa ideia em vários artigos, reunidos em um pequeno bloco de textos, com o nome "A Questão da Capital Marítima ou no Interior". Para a sua satisfação pessoal, Varnhagen, em 1877, fez a primeira visita prática ao local, onde definiu o lugar mais apropriado para a construção da futura capital: um triângulo formado pelas lagoas Feia, Formosa e Mestre d'Armas. A construção da Capital Federal ficou consolidada no artigo 3.º da Constituição da República de 1891, que estabelece:
Floriano Peixoto, o segundo presidente da república, pretendendo dar continuidade ao que tinha sido determinado pelo texto da Constituição, estabeleceu, em 1892, a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil que foi chefiada pelo geógrafo Luís Cruls. Este, após seu retorno, apresentou um relatório, no qual delimitava uma área retangular, no mesmo ponto definido por Varnhagen, a qual ficou conhecida como Retângulo Cruls. Após essa expedição, devido às dimensões desse empreendimento, o plano de construção foi um pouco esquecido, porém, com a vitória da Revolução de 1930, o assunto voltou à tona.
Em 1922, uma comissão do governo federal estabeleceu a localização no cerrado goiano, mas o projeto ficou engavetado. No dia do centenário da Independência, o presidente Epitácio Pessoa mandou erigir no Morro do Centenário, em Planaltina, um obelisco com os seguintes dizeres:
Interiorização da capital federal
Em 1946, uma comissão chefiada por Poli Coelho atestou a excelente qualidade do lugar já preestabelecido para a construção. Em 1954, outra comissão, chefiada pelo general José Pessoa, finalizou os estudos já realizados e definiu que a área da futura capital seria o espaço delimitado pelos rios Preto e Descoberto e pelos paralelos 15°30 e 16°03, que abrangia áreas territoriais de três municípios goianos: Formosa, Luziânia e Pirenópolis.
Em 1955, durante um comício na cidade goiana de Jataí, Juscelino Kubitschek (JK), que em seus discursos sempre defendia o respeito à Constituição e às leis, foi perguntado se respeitaria, se eleito, a Constituição e mudaria a capital federal para o Planalto, de acordo com o que ela determinava. Juscelino respondeu que cumpriria com o que a Constituição decretava. Em 1956, após ser eleito para a presidência da República, JK, por iniciativa própria, enviou ao congresso uma mensagem propondo a criação da Companhia Urbanizadora na Nova Capital (Novacap). Após a aprovação desse projeto pelo congresso, em setembro do mesmo ano, o presidente sancionou a lei que criou a empresa.
Com isso, a Novacap, empresa de caráter público, foi incumbida de planejar e executar a construção da capital federal na região delimitada pelo general José Pessoa. Após um concurso público que selecionaria o plano-piloto da cidade, uma comissão julgadora escolheu o projeto urbanístico do arquiteto Lúcio Costa, que foi aprovado, como lei, por unanimidade na Câmara e no Senado. Com isso, também foi oficializado o nome Brasília, bem como a escolha de Oscar Niemeyer como arquiteto e de Joaquim Cardozo como engenheiro estrutural. Em 2 de outubro de 1956, Juscelino Kubitschek assinou, no local da futura capital federal, o primeiro ato, nomeando Mário Meneghetti como ministro da Agricultura, ocasião em que proclamou o seguinte:
Construção de Brasília e era contemporânea
Nesse mesmo ano deu-se início às obras, sob a fiscalização de Oscar Niemeyer e Israel Pinheiro. Formou-se, então, o Núcleo Bandeirante, com candangos (trabalhadores que atuaram na construção de Brasília vindos, inicialmente, de Goiás, Minas Gerais e principalmente do Nordeste). Os trabalhos de terraplenagem foram iniciados em novembro de 1956. Trinta mil operários construíram Brasília em 41 meses. Israel Pinheiro foi nomeado o primeiro prefeito do Distrito Federal em 17 de abril de 1960, um pouco antes da sua inauguração, ocorrida em 21 de abril de 1960, data escolhida em homenagem a Tiradentes, por Juscelino Kubitschek. Quando o cargo foi transformado em governador, o indicado pelo presidente da República, foi Hélio Prates.
Em 1987, ano em que Brasília é declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a Comissão de Sistematização da Assembleia Nacional Constituinte aprovou a autonomia política do Distrito Federal, o que resultou, pela promulgação da Constituição em 1988, nas eleições diretas para governador, vice-governador e 24 deputados distritais. O primeiro governador eleito pelo voto direto foi Joaquim Roriz, que teve o seu mandato compreendido de 1988 a 1990.
Geografia
O Distrito Federal se localiza a 15°50’16" de latitude sul e a 47°42’48" de longitude oeste, com altitudes entre e metros acima do nível do mar, no chamado Planalto Central, cujo relevo é, na maior parte, plano, apresentando algumas leves ondulações. A flora corresponde à predominantemente típica do domínio do cerrado. Em alguns lugares da cidade é possível observar espécies de gimnospermas, como os pinheiros, e também diversos tipos de árvores provenientes de outros biomas brasileiros. As espécies não nativas da região têm sido retiradas pela empresa pública arborizadora da cidade (a Novacap) e substituídas por espécies nativas, como ipês.
Biodiversidade
A vegetação do Distrito Federal, caracterizada pelo cerrado, é o resultado de um longo processo de evolução, no qual as plantas buscaram adaptar-se às difíceis condições ambientais como: pouca água, falta de umidade no ar e acidez no solo. Em virtude disso, as principais vegetações do Distrito Federal são o cerrado, vegetação composta por árvores de galhos e caules grossos e retorcidos, distribuídos de uma forma esparsa, onde também existem gramíneas, várias espécies de capins, que se desenvolvem embaixo das árvores e umas espécies semiarbustivas; a mata ciliar composta por florestas estreitas e densas, formadas ao longo do leito dos rios e riachos, por encontrarem solos mais férteis e com boa umidade, o que proporcionam o bom desenvolvimento dessas espécies, e os brejos, que são localizados nas nascentes de água onde desenvolve-se em grandes proporções o buriti.
O DF possui grande variedade de vegetação, reunindo 150 espécies. A maioria é nativa, típica do cerrado, e de porte médio, com altura de 15 a 25 m. Muitas são tombadas pelo Patrimônio Ecológico do Distrito Federal, para garantir sua preservação. Algumas das principais: pindaíba, paineira, ipê-roxo, ipê-amarelo, pau-brasil e buriti. Diferentemente de outras regiões brasileiras, durante o período dos meses de verão, o Distrito Federal adquire uma paisagem muito verde, porém, durante os meses de inverno, o capim seca e praticamente todas as árvores mudam suas folhagens, cada árvore ao seu tempo, de modo que não acontece de todas as árvores de uma mesma espécie trocarem de folhas, todas ao mesmo tempo.
A preservação da vegetação no DF é um tema recorrente, principalmente pela preocupação em conservar a flora original. O desmatamento provocado pela expansão da agricultura é um dos problemas enfrentados no Distrito Federal, sendo que, segundo a Unesco, desde sua criação, nos anos 1950, 57% da vegetação original não existe mais. Para colaborar com a preservação, são realizados programas de conscientização e de reformas estruturais para diminuir a degradação da vegetação e também da fauna e rios da região.
Durante a elaboração do projeto para a Construção de Brasília houve uma grande preocupação e cuidado com a relação ao trinômio cidade-natureza-homem, para que nessa cidade houvesse equilíbrio ambiental entre esses três elementos, objetivando o mantimento de um alto padrão na qualidade de vida dos seus habitantes Isto é evidente quando observamos que a relação área verde por habitante é a maior do país. Desde sua construção até os dias de hoje, há uma série de medidas adotadas para que seja mantido equilíbrio ambiental e para que sejam preservados os recursos naturais existentes em todo o Distrito Federal. Essas medidas resultaram na criação de várias unidades de conservação ambiental, bem como em áreas protegidas ambientalmente e reservas ecológicas, além da criação do Parque Nacional de Brasília. Chega a apresentar uma fauna com mais de 60 000 espécies diferentes, destacando-se a onça-pintada, suçuarana, veado-campeiro, lobo-guará, tamanduá-bandeira e tatu-canastra.
Relevo
O Distrito Federal está localizado no Planalto Central do Brasil, onde se localizam as cabeceiras de afluentes de três dos maiores rios brasileiros - o Rio Maranhão (afluente do Rio Tocantins), o Rio Preto (afluente do Rio São Francisco) e os rios São Bartolomeu e Descoberto (tributários do Rio Paraná). O seu relevo é constituído por planaltos, planícies e várzeas, características típicas do cerrado, que possui terreno bem plano ou com suaves ondulações. Sua altitude varia de 600 a 1 100 metros acima do nível do mar, e o ponto mais alto é o Pico do Roncador, com 1 341 metros, localizado na Serra do Sobradinho.
Situado na denominada Província Hidrogeológica do Escudo Central, a qual inclui parcialmente a Faixa de Dobramentos Brasília e se estende para norte/noroeste, ocupando a Faixa de dobramentos Paraguai/Araguaia e a parte sul do Cráton Amazônico. Esta província é amplamente dominada por aquíferos fraturados cobertos por mantos de intemperismo (solos e rochas alteradas) com características físicas e espessuras variáveis.
Hidrografia
O território do Distrito Federal está situado em um alto regional que não apresenta grandes drenagens superficiais, sendo um divisor natural de três grandes bacias hidrográficas. Por isso, as águas subterrâneas têm função estratégica na manutenção de vazões dos cursos superficiais e no abastecimento de núcleos rurais, urbanos e condomínios. Em 2010, por meio de decreto administrativo, o Distrito Federal foi dividido em três Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH).
Os rios do DF estão bem supridos pelos lençóis freáticos, razão pela qual não secam, mesmo durante o período da estação seca. A fim de aumentar a quantidade de água disponível para a região, foi realizado o represamento de um dos rios da região, o rio Paranoá, para a construção de um lago artificial, o Lago Paranoá, que tem 40 quilômetros quadrados de extensão, profundidade máxima de 48 metros e cerca de 80 quilômetros de perímetro. O lago possui uma grande marina e é frequentado por praticantes de wakeboard, windsurf e pesca profissional.
Clima
O clima do DF é o tropical com estação seca (do tipo Aw na classificação climática de Köppen-Geiger), com temperaturas médias mensais sempre superiores a e índice pluviométrico de aproximadamente milímetros (mm) anuais, concentrados entre os meses de outubro e abril. As precipitações ocorrem sob a forma de chuva e, algumas vezes, de granizo, podendo ainda virem acompanhadas de raios e trovoadas.
Durante a estação seca (maio a setembro), é comum que os níveis de umidade relativa do ar fiquem muitas vezes abaixo de 30%, bem abaixo do ideal considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60%.
Em 10 de junho de 1985, foi registrada pela primeira vez a ocorrência de geada, quando a temperatura mínima chegou a , a mais baixa registrada em um mês de junho. Na tarde do dia 1 de outubro de 2014, também foi registrada pela primeira vez a formação de um tornado, observado na região do Aeroporto JK, onde os ventos atingiram a velocidade de .
Demografia
O crescimento demográfico se situa em 2,82%. A densidade média é de 410,8 hab./km² e a taxa de urbanização, uma das mais altas do país, alcança 94,7%. Relativamente ao desenvolvimento sócioeconômico são significativos os valores dos seguintes indicadores: a mortalidade infantil é de 17,8 por mil nascimentos; a taxa de analfabetismo alcança 4,7 por cento entre as pessoas maiores de 15 anos e o número de leitos hospitalares é de 3 777. Além disso, quase a totalidade da população tem acesso à água corrente e à rede de esgoto. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a população brasiliense em 2006 era composta por brancos (49,15 por cento), negros (4,80 por cento), pardos (44,77 por cento), asiáticos (0,39 por cento) e indígenas (0,35 por cento).
O ritmo de crescimento populacional na primeira década foi de 14,4% ao ano, com um aumento populacional de 285%. Na década de 1970, o crescimento médio anual foi de 8,1%, com um incremento total de 115,52%. A população total do Distrito Federal, que não deveria ultrapassar habitantes em 2000, atingiu esta cota no início da década de 1970, e, entre 1980 e 1991, a população expandiu em mais 32,8%. O Plano Piloto, que, na inauguração, concentrava 48% da população do Distrito Federal, gradativamente perdeu importância relativa, chegando a 13,26% em 1991, passando o predomínio para as cidades-satélite. Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicou habitantes. O Índice de Desenvolvimento Humano em 2021 era de 0,814, o maior do país. e a taxa de analfabetismo em 2010 era de 4,35%. Brasília também se caracteriza pela sua desigualdade social, sendo a quarta área metropolitana mais desigual do Brasil e a décima sexta do mundo, segundo um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas.
A população local é formada por migrantes de todas as regiões brasileiras, sobretudo do Nordeste e do Sudeste, além de estrangeiros que trabalham nas embaixadas espalhadas pela capital. Dados de 2010 apontavam que quase metade da população não nasceu ali, sendo que eram brasilienses (53,73%) e (46,27%) de outros locais (incluindo estrangeiros, ou 0,33% da população), principalmente de Goiás, Minas Gerais e Bahia.
Região integrada
Conhecida como RIDE, a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno compreende o Distrito Federal mais os municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Alto Paraíso de Goiás, Alvorada do Norte, Barro Alto, Cabeceiras, Cavalcante, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Flores de Goiás, Formosa, Goianésia, Luziânia, Mimoso de Goiás, Niquelândia, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, São João d'Aliança, Simolândia, Valparaíso de Goiás, Vila Boa e Vila Propício, e os municípios mineiros de Arinos, Buritis, Cabeceira Grande e Unaí. Segundo estimativa do IBGE para julho de 2021, o DF contava com habitantes.
Segundo a geógrafa Nelba Azevedo Penna, do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, "em consequência dos processos de ordenamento de seu território, ocorreu uma intensa expansão da urbanização para a periferia limítrofe ao Distrito Federal, que deu origem a formação da região metropolitana de Brasília (atualmente institucionalizada como Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – RIDE)".
Religião
Tal qual a variedade cultural verificável no Distrito Federal, são diversas as manifestações religiosas presentes. Embora tenha se desenvolvido sobre uma matriz social eminentemente católica, tanto devido à colonização quanto à imigração — e ainda hoje a maioria dos brasilienses declara-se católica —, é possível encontrar atualmente no Distrito Federal dezenas de denominações protestantes diferentes, assim como a prática do budismo, do islamismo, espiritismo, umbanda, candomblé, entre outras.
De acordo com dados do censo de 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população do Distrito Federal era composta naquele ano por: católicos (66,16 por cento), protestantes (19,50 por cento), pessoas sem religião (8,64 por cento), espíritas (2,69 por cento), budistas (0,14 por cento), muçulmanos (0,03 por cento), umbandistas (0,15 por cento) e judeus (0,03 por cento).
Desigualdade social e criminalidade
Brasília possui a maior desigualdade de renda entre as capitais brasileiras, além de ser uma das capitais em que mais se registram homicídios para cada cem mil habitantes no país. Na região administrativa de Ceilândia, está localizada a segunda mais populosa favela do Brasil, a comunidade do Sol Nascente, com 61 mil habitantes — segundo estimativas de lideranças locais, no entanto, a população seria de 100 mil pessoas, que superaria a da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Os índices de criminalidade são altos principalmente no Entorno do Distrito Federal. Segundo sociólogos, a criminalidade no Distrito Federal, principalmente nas cidades-satélites, é uma herança do crescimento desordenado, ainda que assentado em núcleos urbanos planejados. Os níveis de criminalidade no DF estão entre os maiores do Brasil, chegando ao ponto de haver uma média de até dois assassinatos diários. Em 2012, houve 1031 homicídios, com taxa de 38,9 por 100 mil habitantes, a 478º maior do país. Existem diversas propostas para tentar diminuir a criminalidade na capital: entre elas, um maior policiamento, medida esta que, aplicada, tem levado a uma retração da violência.
Governo e política
A política e a administração do Distrito Federal distinguem-se das demais unidades da federação em alguns pontos particulares, conforme definido na Constituição do Brasil de 1988:
O Distrito Federal rege-se por lei orgânica, típica de municípios, e não por uma constituição distrital. Acumula as competências legislativas reservadas aos estados e municípios, não vedadas pela Constituição.
O caráter híbrido do Distrito Federal é observável por sua Câmara Legislativa, mistura de Câmara Municipal (Poder Legislativo Municipal) e Assembleia Legislativa (Poder Legislativo Estadual).
O Poder Legislativo do Distrito Federal é exercido pela câmara legislativa, com 24 deputados distritais eleitos; sendo que o chefe do Poder Executivo é o governador.
O Distrito Federal é pessoa jurídica de direito público interno, ente da estrutura político-administrativa do Brasil de natureza sui generis, pois não é nem um estado nem um município, mas sim um ente especial que acumula as competências legislativas reservadas aos estados e aos municípios, conforme dispõe o art. 32, § 1º da CF, o que lhe dá uma natureza híbrida de estado e município.
O artigo 32 da Constituição Federal de 1988 proíbe expressamente que o Distrito Federal seja dividido em municípios, sendo considerado uno. O poder executivo do Distrito Federal foi representado pelo prefeito do Distrito Federal até 1969, quando o cargo foi transformado em governador do Distrito Federal.
O poder legislativo do Distrito Federal é representado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, cuja nomenclatura representa uma mescla de assembleia legislativa (poder legislativo das demais unidades da federação) e de câmara municipal (legislativo dos municípios). A Câmara Legislativa é formada por 24 deputados distritais.
O poder judiciário que atende ao Distrito Federal também atende a territórios federais. O Brasil não possui territórios atualmente, portanto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios só atende ao Distrito Federal.
Definição territorial e administrativa
No Brasil, por definição legal, "cidade" é a sede de um "município". A partir do Estado Novo, pelo decreto-lei nº 311, todas as sedes dos municípios passaram a ser cidades, sendo que, até então, as menores sedes de municípios eram denominadas "vilas". No Distrito Federal, porém, são chamados de cidades os diversos núcleos urbanos, sendo o principal deles a região administrativa do Plano Piloto, que por sua vez também se confunde com a ideia de Brasília. O Distrito Federal acumula competências estaduais e municipais e, portanto, não pode ser, juridicamente, dividido em municípios, de acordo com a Constituição da República. Assim, os outros núcleos, que são oficialmente regiões administrativas aparecem ora como bairros distantes da capital do país além de aparecer com a nomenclatura coloquial de "cidades". Brasília é constituída por toda a área urbana do Distrito Federal e não apenas a parte tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ou a região administrativa central, pois a cidade é polinucleada, constituída por várias regiões administrativas, de modo que as regiões afastadas estão articuladas às centrais.
Há quem argumente que por todo o Brasil há regiões metropolitanas, onde cidades afastadas acabam articuladas em relação às cidades principais, sem que deixem por isso de ser consideradas cidades. A diferença é que elas são sedes de município. Apesar disso, outros núcleos urbanos do Distrito Federal, hoje chamados regiões administrativas, sempre foram conhecidos por cidades-satélites. Alguns, atualmente, entendem como Brasília apenas a região administrativa de Brasília (formada por parte do Plano Piloto e pelo Parque Nacional de Brasília), e não todo o Distrito Federal. Contundo alguns destes núcleos urbanos, como Planaltina e Brazlândia, são mais antigos do que a própria Brasília. Planaltina já existia como município de Goiás, antes de perder parte de seu território ao Distrito Federal.
Por outro lado, a lei de organização do Distrito Federal é uma lei orgânica, típica de municípios e não uma constituição, como ocorre nos estados da federação brasileira, embora esta lei orgânica regule tanto matérias típicas de leis orgânicas municipais quanto de constituições estaduais. Ademais, todas as regiões administrativas do Distrito Federal dispõem de certa autonomia administrativa, sendo seus administradores regionais indicados pela população local de cada região administrativa, através de um processo seletivo dos candidatos indicados pelas entidades representativas dos diversos segmentos da sociedade. Mas vale esclarecer que órgãos oficiais de pesquisa, como o IBGE, o Dieese e o IPEA, não distinguem Brasília do Distrito Federal para efeitos de contagem e estatística pois seus dados são sempre elaborados levando-se em conta o município. Como o Distrito Federal não possui municípios, é considerado como um único ente.
Entre 1989 e 2017, com a vigência das divisões regionais em mesorregiões e microrregiões, a unidade federativa era formada unicamente pela mesorregião do Distrito Federal, composta apenas pela microrregião de Brasília. Em 2017, o IBGE extinguiu as mesorregiões e microrregiões, criando um novo quadro regional brasileiro, com novas divisões geográficas denominadas, respectivamente, regiões geográficas intermediárias e imediatas. Segundo a divisão vigente a partir de então, a entidade é composta pela Região Geográfica Intermediária do Distrito Federal, que por sua vez abrange a Região Geográfica Imediata do Distrito Federal.
Regiões administrativas
A Constituição de 1988, em seu artigo 32, veda expressamente a divisão do Distrito Federal em municípios. O Distrito Federal é dividido em 33 regiões administrativas, sendo a região administrativa de Brasília a principal delas; dessas apenas dezenove são reconhecidas pelo IBGE, pelo fato de os limites das regiões restantes ainda não terem passado por aprovação na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
No Brasil, a ideia de cidade está intimamente ligada à de sede de município. Porém, no Distrito Federal, são chamados de cidades os diversos núcleos urbanos sedes das regiões administrativas. Alguns destes núcleos são mais antigos do que a própria Brasília, como Planaltina, que era município de Goiás antes de ser incorporado ao Distrito Federal, e Brazlândia, fundada na década de 1930.
Por população
Economia
Além de abrigar o centro político, o Distrito Federal também é um importante centro econômico, sendo a sétima unidade federativa com o maior produto interno bruto (PIB) do Brasil (171,2 bilhões de reais - 2012) e o maior PIB per capita do país, 64.653 reais (2012).
A principal atividade econômica da capital federal resulta de sua função administrativa. Por isso seu planejamento industrial é estudado com muito cuidado pelo Governo do Distrito Federal. Por ser uma cidade tombada pelo IPHAN e que recebeu o Título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco a ocupação do território do Distrito Federal tem características diferenciadas para preservação da cidade. Assim, o Governo do Distrito Federal tem optado em incentivar o desenvolvimento de indústrias não poluentes como a de software, cinema, vídeo, gemologia, entre outras, com ênfase na preservação ambiental e na manutenção do equilíbrio ecológico, preservando o patrimônio da cidade.
Brasília foi construída em terreno totalmente livre, portanto ainda existem muitos espaços nos quais se pode construir novos edifícios. À medida que a cidade recebe novos moradores, a demanda pelo setor terciário aumenta, motivo pelo qual Brasília tem uma grande quantidade de lojas, com destaque para o shopping Conjunto Nacional, localizado no centro da capital. A agricultura e a avicultura ocupam lugar de destaque na economia brasiliense. Um cinturão verde na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno abastece a cidade e já exporta alimentos para outros locais.
A economia do Distrito Federal também está baseada na pecuária (criação de bovinos, suínos, equinos, asininos, muares, bubalinos, coelhos, ovinos, aves e apicultura); agricultura permanente (plantação de abacate, banana, café, goiaba, laranja, limão, mamão, manga, maracujá, tangerina, urucum e uva) e temporária (cultivo de abacaxi, algodão, alho, amendoim, arroz, batata-doce, batata-inglesa, cana-de-açúcar, cebola, feijão, mandioca, melancia, milho, soja, sorgo granífero, tomate e trigo); indústria alimentícia, pesqueira, extrativistas, de transformação, produção e distribuição elétrica e de gás, indústria de transporte e imobiliária; comércio e serviço. A pauta de exportação em 2012 foi baseada principalmente em Carne de Aves (64,04%) e Soja (8,24%).
Infraestrutura
Saúde
Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Distrito Federal dispunha de um total de estabelecimentos de saúde em 2009, sendo 148 públicos e privados, os quais dispunham no seu conjunto de leitos para internação, sendo que quase são públicos. O Distrito Federal também conta com atendimento médico ambulatorial em especialidades básicas, atendimento odontológico com dentista e presta serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A região administrativa de Brasília possui diversos hospitais públicos, como o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), o Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, além do Hospital Universitário de Brasília, da Universidade de Brasília (UnB). Algumas das demais regiões administrativas também possuem hospitais públicos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em um total de 12. O Distrito Federal tem um dos maiores projetos de informatização do sistema de saúde no Brasil. A região administrativa de Brasília possui quatro setores hospitalares: Setor Hospitalar Local Norte (SHLN) - fim da Asa Norte; Setor Hospitalar Local Sul (SHLS) - fim da Asa Sul; Setor Médico Hospitalar Norte (SMHN) - Zona Central Norte, onde está o HRAN; Setor Médico Hospitalar Sul (SMHS) - Zona Central Sul, onde está o HBDF.
Quanto a doenças comuns, o Distrito Federal teve 3.147 ocorrências de dengue de janeiro a agosto de 2008, quase duas vezes mais ddata=19380302o que o registrado no mesmo período de 2007. O Distrito Federal tem uma das maiores taxas de ocorrência de câncer do Brasil. Em 2005, o Distrito Federal foi o recordista nacional de mortes de mulheres por câncer de mama, e os novos casos não diminuíram no ano seguinte. Também são numerosos os casos de câncer de pulmão, devido aos altos índices de tabagismo.
Transportes
O Distrito Federal, por estar localizada no centro do Brasil, serve como ligação terrestre e aérea para o país. O Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek é um dos mais movimentados do Brasil por número de passageiros, recebendo quase 20 milhões de passageiros em 2015, tornando-o o segundo mais movimentado do país. Oito rodovias radiais fazem a ligação da capital federal com outras regiões do Brasil.
A atual conjuntura do sistema de transportes do Distrito Federal gera um quadro de pouca mobilidade urbana, com um serviço de ônibus notadamente caro e ineficiente, e uma infraestrutura que privilegia o automóvel particular. Isso gera uma tendência de aumento no número de carros a níveis para os quais a cidade não foi projetada. A cada mês, 5 mil veículos entram em circulação no Distrito Federal, existindo um veículo para 2,3 habitantes do Distrito Federal.
Em março de 2008 a frota do Distrito Federal chegou a 995 903 veículos, correspondente a uma taxa de motorização de 390 veículos por cada 1 000 habitantes, e esta taxa é ainda maior na área central de Brasília (Plano Piloto, Sudoeste, Lago Sul e Norte). Começaram a surgir inúmeros engarrafamentos na cidade e alguns lugares se tornam intransitáveis nas horas de pico (rush). Os ônibus transportam pouco mais de 14 milhões de passageiros por mês, mas a maior parte da frota já ultrapassou os sete anos limite impostos por lei.
Para tentar amenizar esse quadro, foi construído um metrô, mas devido à sua extensão limitada e ao próprio crescimento da cidade, ele não alterou significativamente o problema de trânsito na cidade e desde o início da sua construção em 1991, gera prejuízos da ordem de 60 milhões de reais anuais ao governo. Das 29 estações planejadas, 24 estão em funcionamento, ligando o centro do Plano Piloto (rodoviária) ao Guará, Águas Claras, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. O Metrô do Distrito Federal transporta cerca de 150 mil usuários por dia. Em 1 de fevereiro de 2009, entrou em funcionamento a integração dos sistemas de micro-ônibus e metrô, com bilhetes eletrônicos. Ainda está em implementação o projeto Brasília Integrada, que contempla a criação de corredores especiais para ônibus e a integração destes com o metropolitano. Um novo terminal rodoviário interestadual foi inaugurado em julho de 2010, ao lado da Estação Shopping do metrô.
Educação
O fator educação do Índice de Desenvolvimento Humano do Distrito Federal em 2020 atingiu a marca de 0,817 – o segundo maior do país, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A taxa de alfabetização da população acima dos dez anos indicada pelo último censo demográfico foi de 96,7%, acima da média nacional (91%).
No ensino superior, destacam-se importantes universidades públicas e privadas, muitas delas consideradas centros de referência em determinadas áreas. Dentre as principais instituições de ensino superior da unidade federativa, estão a Universidade de Brasília (UnB), Universidade do Distrito Federal Jorge Amaury (UnDF), Instituto Federal de Brasília (IFB), Universidade Católica de Brasília (UCB), Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), Universidade Paulista (UNIP) e União Pioneira da Integração Social (UPIS).
No entanto, há uma concentração extrema de instituições de ensino superior no Plano Piloto. Em 2006, foi instalado um novo campus da Universidade de Brasília em Planaltina. Existem também campi da UnB nas regiões administrativas de Ceilândia e Gama. O número de bibliotecas não é proporcional ao tamanho da população na área central. As principais bibliotecas públicas do Distrito Federal se localizam no Plano Piloto, como a biblioteca da Universidade de Brasília, a Biblioteca da Câmara e do Senado, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, também conhecida como Biblioteca Nacional de Brasília, inaugurada em 2006.
Quanto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2003, a capital brasileira obteve notas de 5,9 na primeira fase do ensino fundamental, 4,4 na segunda fase do ensino fundamental e 4,0 no ensino médio. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2008, duas escolas particulares da unidade federativa figuraram entre as 50 melhores do ranking, sendo os colégios Olimpo e Sigma os respectivos sexto e quadragésimo nono colocados.
Cultura
Em função da construção de Brasília e em busca de melhores condições de vida, muitas pessoas vieram de todas as regiões do país. Por conta disso, o Distrito Federal possui diferentes costumes, sotaques e culturas. O Distrito Federal não possui uma cultura de características próprias, porém dessa mistura, e com o passar do tempo surgiu sua identidade cultural. Muitas pessoas acreditam que particularmente Brasília possui atributos místicos. Os religiosos, por exemplo, acreditam que a capital federal é resultado de uma profecia, mostrada a Dom Bosco em 30 de agosto de 1883, através de um sonho, no qual ele relata que entre os paralelos 15° e 20° havia uma depressão bastante larga e comprida, partindo de um ponto onde se formava um lago. Então, repetidamente, uma voz assim falou que quando vierem escavar as minas ocultas, no meio destas montanhas, surgirá aqui a terra prometida, vertendo leite e mel.
A segurança pública do Distrito Federal é a que possui maior efetivo e é mais moderna do país. No Distrito Federal, o metro quadrado de área residencial é um dos mais caros do país. E particularmente, em Brasília, por ser uma cidade planejada, possui um vasto patrimônio arquitetônico que compreende desde a própria estrutura da cidade até seus prédios públicos e monumentos. Brasília possui outros destaques, como a torre de TV com vista panorâmica, a Catedral, o Catetinho, as feiras de artesanato, o Jardim Botânico e o Autódromo Internacional Nelson Piquet.
Esportes
O Distrito Federal é sede de dois clubes de futebol reconhecidos nacionalmente: o Brasiliense Futebol Clube (de Taguatinga) e a Sociedade Esportiva do Gama (ou simplesmente Gama), que chegaram a participar da primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, sendo que o melhor resultado da história foi o vice-campeonato do Brasiliense na Copa do Brasil na edição de 2002. Os principais estádios de futebol são o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o Estádio Elmo Serejo Farias (Serejão) e o Estádio Walmir Campelo Bezerra (Bezerrão). O Estádio Edson Arantes do Nascimento (Pelezão) foi o primeiro e principal estádio da cidade à época de sua inauguração, mas foi abandonado e demolido em 2009.
Brasília foi uma das seis cidades-sede dos jogos da Copa das Confederações de 2013 e uma das doze da Copa do Mundo de 2014, cujos jogos ocorreram no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Inicialmente, a FIFA vetou o nome "Mané Garrincha" para as partidas da Copa das Confederações e da Copa do Mundo da FIFA, mas uma forte pressão popular fez ela voltar atrás e reconhecê-lo como Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O estádio está localizado no Complexo Poliesportivo Ayrton Senna (antigo Setor Esportivo), que possui ainda o Ginásio de Esportes Nilson Nelson, que já recebeu partidas da seleções masculina e feminina de vôlei e do Campeonato Mundial de Futsal de 2008, o Autódromo Internacional de Brasília Nelson Piquet, entre outras estruturas. Localizado às margens do Eixo Monumental, no Setor de Recreação Pública Norte (SRPN), é um dos mais completos centros poliesportivos do Brasil. Brasília foi postulante a sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2000, mas teve sua candidatura retirada, e também se candidatou a Universíada de Verão de 2017, quando perdeu para Taipei.
A cidade iria sediar a Universíada de Verão de 2019 após a renúncia das duas outras candidatas Baku e Budapeste poucos dias antes da escolha da sede do evento. Em 23 de dezembro de 2014, o então futuro secretário da casa civil Hélio Doyle anunciou que o governador eleito Rodrigo Rollemberg foi forçado a desistir de sediar o evento devido ao calote de 23 milhões de euros que o governo anterior havia dado na FISU e que o governo local não poderia assumir tal compromisso.
Por ser uma unidade federativa localizada em altitude superior a mil metros do nível do mar, O Distrito Federal tem revelado atletas de alto nível, corredores de fundo e meio fundo como: o campeão olímpico Joaquim Cruz e Hudson de Souza (800 e 1500 mts rasos); Carmem de Oliveira e Lucélia Peres (5 000, 10 000 e maratona); Valdenor Pereira dos Santos (5000 e 10 000 m); Marilson Gomes dos Santos (5000, 10 000, meia-maratona e maratona). No tênis, o principal torneio é o Aberto de Brasília, disputado em oito quadras da Academia de Tênis Resort, às margens do Lago Paranoá. Com o fechamento da Academia, o torneio que faz parte do ATP Challenger Tour, circuito que acontece em cerca de 40 países, com 178 eventos atuais, foi transferido para o Iate Clube. O Distrito Federal é também a sede do UniCeub/BRB/Brasília, um dos maiores times do basquete nacional e campeão brasileiro.
Ver também
Fórum de Governadores do Brasil Central
Lista de regiões administrativas do Distrito Federal por população
Lista de governadores do Distrito Federal
Bibliografia
CAETANO, Nilson F. Apostila Alub/Pré-vestibular. Editora Exato. Caderno IV, p. 2 (Geografia). Brasília-DF, 2004.
Ligações externas
Distrito Capital e territórios
Fundações no Brasil em 1960 | 431,080 |
686 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Desporto | Desporto | é toda a forma de praticar atividade física, de forma metódica, com objetivos competitivos, que por meio de participação casual ou organizada, procure usar, manter ou melhorar as habilidades físicas, proporcionando diversão aos participantes e, em alguns casos, entretenimento para os espectadores.
Os objetivos do esporte podem ser, além da competição, também recreativos, ou de melhoria da saúde, ou ainda de melhoria de aptidão física e/ou mental.
No esporte, o vencedor ou os vencedores podem ser identificados por obtenção de um objetivo, e pode exigir um grau de habilidade, especialmente em níveis mais elevados. São centenas os tipos de desportos existentes, incluindo aqueles para um único participante, até aqueles com centenas de participantes simultâneos, em equipas ou individualmente.
De acordo com A.T. Kearney, uma consultoria, a indústria esportiva global vale até US$ 620 bilhões a partir de 2013.
Definições
O esporte é geralmente reconhecido como um sistema de atividades baseadas no físico atletismo ou físico destreza, com as maiores competições importantes como os Jogos Olímpicos admitindo apenas esportes que atendem a essa definição, e outras organizações, como o Conselho da Europa, usam definições que impedem atividades sem um elemento físico da classificação como esporte. No entanto, várias atividades competitivas, mas não físicas, reivindicam reconhecimento como esporte esportivo. O Comitê Olímpico Internacional (por meio da ARISF) reconhece o xadrez e bridge como esportes de boa-fé e a SportAccord, a associação da federação internacional de esportes, reconhece cinco esportes não físicos: bridge, xadrez, Damas, Go e xiangqi, e limita o número de jogos mentais que podem ser admitidos como esportes.
Desportos são normalmente geridos por um conjunto de regras ou costumes. Eventos físicos, tais como marcar gols ou cruzar uma linha em primeiro muitas vezes definem o resultado de um desporto.
Etimologia
A palavra "desporto" vem do francês antigo desport, que significa "recreação, passatempo, lazer". Surgiu na língua portuguesa no século XV, com o sentido de "divertimento". No entanto, apenas a partir do século XIX a influência do termo inglês sport, que também tem origem em desport, contribuiu para o incremento do seu uso com o significado moderno em Portugal. Já no Brasil, a par das variantes "desporto" e "desporte" — esta última também presente no português europeu —, surgiu a variante "esporte" adaptada da palavra inglesa sport, que viria a popularizar-se e a ser a mais comum atualmente.
Algumas reminiscências do uso da variante "desporto" no Brasil ainda hoje se podem verificar em nomes de clubes e organizações, como a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, a Confederação Brasileira de Desportos na Neve, a Confederação Brasileira do Desporto Universitário, bem com as extintas Conselho Nacional de Desportos e Confederação Brasileira de Desportos, entre outras.
Desportivismo
O desportivismo é uma atitude que luta pelo fair play, pela delicadeza com os adversários e colegas de equipa, pelo comportamento ético e integridade, pelo jogo limpo, e pela ética na vitória ou na derrota.
O desportivismo expressa uma aspiração ou espírito de que a atividade vai ser apreciada por si mesma. O sentimento é bem conhecido pelo jornalista desportivo Grantland Rice, que disse "não interessa como ganhaste ou perdeste, mas como jogaste o jogo". O lema dos Jogos Olímpicos modernos é expresso pelo seu fundador Pierre de Coubertin: "O mais importante não é vencer, mas sim, participar". Estas são expressões típicas desse sentimento.
A violência no desporto envolve cruzar a linha entre a concorrência leal e a violência agressiva intencional. Atletas, treinadores, fãs, e pais, por vezes, desencadeiam comportamentos violentos sobre pessoas ou bens, em demonstrações equivocadas de lealdade, dominância, raiva e/ou celebração. Tumultos ou vandalismo são problemas comuns e em curso em competições desportivas nacionais e internacionais.
Desporto profissional
O aspecto dos desportos, juntamente com o aumento do poder dos meios de comunicação e lazer, tem levado ao "profissionalismo" do desporto. Isso fez resultar algum conflito na prática desportiva, pois aí o salário passa a ser mais importante que o aspecto recreativo, e os desportos passam a ser estruturados de forma a torná-los mais rentáveis e populares, perdendo-se, assim, valiosas tradições éticas. De facto, o desporto, por definição, é uma atividade de lazer, e "desporto profissional" não o é e não pode existir como tal. No entanto, o termo é comum e aceite para nomear um jogo ou outra atividade considerada pela população em geral como desporto e que seja realizada por pessoas pela recompensa com a intenção de entreter os espectadores. O aspecto de entretenimento significa também que os desportistas e as suas mulheres são muitas vezes elevados ao status de celebridade na mídia e cultura populares. Por este motivo, muitos jornalistas têm sugerido que o desporto não deve ser divulgado pela mídia em geral, mas apenas por revistas especializadas.
Política e desporto
O desporto e a política podem influenciar-se muito mutuamente. Quando o apartheid era a política oficial na África do Sul, houve um boicote internacional ao país, inclusive no campo esportivo, e em especial no rugby de quinze. Alguns sentem que esta foi uma contribuição efetiva para a eventual queda da política de apartheid, outros acham que esta pode ter prolongado e reforçado os seus piores efeitos.
Os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, realizados em Berlim, foram uma ilustração, talvez a mais reconhecida em retrospecto, de um momento em que uma ideologia aproveitou-se de um evento para reforçar a sua disseminação através de propaganda política.
Na história da Irlanda, os desportos gaélicos estavam conectados com o nacionalismo cultural. Até meados do século XX, podia-se ser proibido de jogar futebol gaélico, hurling, ou outros desportos geridos pela Gaelic Athletic Association (GAA),se jogasse ou apoiasse futebol, ou outros desportos de origem britânica. Até recentemente, a GAA continuou a proibir o futebol e o râguebi em locais gaélicos. Esta proibição, foi modificada para permitir que o futebol e o rugby pudessem ser jogados em Croke Park (um estádio de futebol gaélico), enquanto Lansdowne Road era substituído pelo novo Aviva Stadium. Até recentemente, de acordo com a Regra 21, a GAA proibia também os membros das forças de segurança britânicas e membros da Royal Ulster Constabulary (RUC) de jogar jogos gaélicos, mas o Acordo de Belfast, em 1998, levou à remoção da proibição.
O nacionalismo é frequentemente evidente nos desportos, ou na sua cobertura jornalística: as pessoas competem em equipas nacionais, e comentadores e público podem adotar uma visão partidária. Em certas ocasiões, essas tensões podem levar a um confronto violento entre os jogadores ou espectadores dentro e fora do recinto desportivo, como na Guerra do Futebol. Estas tendências são vistas por muitos como contrária ao espírito fundamental do desporto, que é o do bem e gozo dos seus participantes.
Um caso muito famoso de quando o desporto e a política colidiram foi nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972 em Munique. Homens mascarados entraram no hotel da equipa olímpica israelita e mataram muitos dos seus homens. Este caso ficou conhecido como o Massacre de Munique.
Ver também
Árbitro
Jogos da Lusofonia
Jogos Olímpicos
Lista de desportos
Logística desportiva
Ligações externas | 120,890 |
687 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Dante%20Alighieri | Dante Alighieri | Dante Alighieri (Florença, entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 d.C. – Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321 d.C.) foi um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta ("o sumo poeta"). Disse o escritor e poeta francês Victor Hugo (1802-1885) que o pensamento humano atinge em certos homens a sua completa intensidade, e cita Dante como um dos que "marcam os cem graus de gênio". E tal é a sua grandeza que a literatura ocidental está impregnada de sua poderosa influência, sendo extraordinário o verdadeiro culto que lhe dedica a consciência literária ocidental.
Seu nome, segundo o testemunho do filho Jacopo Alighieri, era um hipocorístico de "Durante". Nos documentos, era seguido do patronímico "Alagherii" ou do gentílico "de Alagheriis", enquanto a variante "Alighieri" afirmou-se com o advento de Boccaccio.
Foi muito mais do que literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia ("A Divina Comédia"), o grande poema de Dante, que é uma das obras-primas da literatura universal. A Commedia se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo.
Essa obra foi originalmente intitulada Comédia e mais tarde foi rebatizada com o adjetivo "Divina" por Giovanni Boccaccio. A primeira edição que adicionou o novo título foi a publicação do humanista veneziano Lodovicco Dolce, publicado em 1555 por Gabriele Giolito de Ferrari.
Nasceu em Florença, onde viveu a primeira parte da sua vida até ser exilado. O exílio foi ainda maior do que uma simples separação física de sua terra natal: foi abandonado por seus parentes. Apesar dessa condição, seu amor incondicional e capacidade visionária o transformaram no mais importante pensador de sua época.
Vida
Primeiros anos de vida e família
Não há registro oficial da data de nascimento de Dante. Ele informa ter nascido sob o signo de Gêmeos, entre fim de maio e meados de junho. A referência mais confiável é a data de 25 de maio de 1265. Dante, na verdade, é uma abreviação de seu real nome, Durante.
Nasceu numa importante família florentina (cujo apelido era, na realidade, Alaghieri) comprometida politicamente com o partido dos guelfos, uma aliança política envolvida em lutas com outra facção de florentinos: os gibelinos. Os guelfos estavam ainda divididos em "guelfos brancos" e "guelfos negros". Dante, no "Inferno" (XV, 76), pretende dizer que a sua família tem raízes na Roma Antiga, ainda que o familiar mais antigo que se lhe conhece citado pelo próprio Dante, no livro "Paraíso", (XV, 135), seja Cacciaguida do Eliseu, que terá vivido, quando muito, à volta do ano 1100 (o que, relativamente ao próprio Dante, não é muito antigo).
O seu pai, Alighiero di Bellincione, foi um "guelfo branco". Não sofreu, porém, qualquer represália após a vitória do partido gibelino na Batalha da Montaperti. Essa consideração por parte dos próprios inimigos denota, com alguma segurança, o prestígio da família.
A mãe de Dante chamava-se Bella degli Abati, nome algo comentado por significar "a bela dos abades", ainda que Bella seja uma contracção de Gabriella. Morreu quando Dante contava apenas com cinco ou seis anos de idade. Alighiero rapidamente se casou com Lapa di Chiarissimo Cialuffi. Há alguma controvérsia quanto a esse casamento, propondo alguns autores que os dois se tenham unido sem contrair matrimónio, graças a dificuldades levantadas, na época, ao casamento de viúvos. Dela nasceram o irmão de Dante, Francesco, e Tana (Gaetana), sua irmã.
Com a idade de doze anos, em 1277, sua família impôs o casamento com Gemma, filha de Messe Manetto Donati, prática comum — tanto no arranjo quanto na idade — na época. Era dada uma importância excepcional à cerimónia que decorria num ambiente muito formal, com a presença de um notário. Dante teve vários filhos de Gemma. Como acontece, geralmente, com pessoas famosas, apareceram muitos supostos filhos do poeta. É provável, no entanto, que Jacopo, Pietro e Antonia fossem, realmente, seus filhos. Antonia tomou o hábito de freira, com o nome de Irmã Beatriz. Um outro homem, chamado Giovanni, reclamou também a filiação mas, apesar de ter estado com Dante no exílio, restam algumas dúvidas quanto à pretensão.
Educação e poesia
Pouco se sabe sobre a educação de Dante, presumindo-se que tivesse estudado em casa, de forma autodidata. Sabe-se que estudou a poesia toscana, talvez com a ajuda de Brunetto Latini (numa idade posterior, como se dirá de seguida). A poesia toscana centrava-se na Scuola poetica siciliana, um grupo cultural da Sicília que se dava a conhecer, na altura, na Toscânia. Esse interesse depressa se alargou a outros autores, dos quais se destacam os menestréis e poetas provençais, além dos autores da Antiguidade Clássica latina, de entre os quais elegia, preferencialmente, Virgílio, ainda que também tivesse conhecimento da obra de Horácio, Ovídio, Cícero e, de forma mais superficial, Tito Lívio, Séneca, Plínio, o Velho e outros de que encontramos bastantes referências na Divina Comédia.
É importante referir que durante estes séculos escuros (em italiano Secoli Bui), expressão usada por alguns para referir-se à Idade Média, designando-a como "Idade das trevas" - noção que hoje em dia é rebatida por muitos historiadores que demonstram que essa época foi muito mais rica culturalmente do que aquilo que a tradição pretende demonstrar), a península Itálica era politicamente dividida em um complexo mosaico de pequenos estados, de modo que a Sicília estava tão longe, cultural e politicamente, de Florença quanto a Provença. As regiões do que hoje é a Itália ainda não compartilhavam a mesma língua nem a mesma cultura, também em virtude das vias de comunicação deficitárias. Não obstante, é notório o espírito curioso de Dante que, sem dúvida, pretendia estar a par das novidades culturais a um nível internacional.
Aos dezoito anos, com Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Cino da Pistoia e, pouco depois, Brunetto Latini, Dante lança o Dolce Stil Nuovo. Na Divina Comédia (Inferno, XV, 82), faz-se uma referência especial a Brunetto Latini, onde se diz que terá instruído Dante. Tanto na Divina Comédia como na Vita Nuova depreende-se que Dante se terá interessado por outros meios de expressão como a pintura e a música.
Ainda jovem (18 anos), conheceu Beatrice Portinari, a filha de Folco dei Portinari, ainda que, crendo no próprio Dante, a tenha fixado na memória quando a viu pela primeira vez, com nove anos (teria Beatriz, nessa altura, oito anos). Há quem diga, no entanto, que Dante a viu uma única vez, nunca tendo falado com ela. Não há elementos biográficos que comprovem o que quer que seja.
É difícil interpretar no que consistiu essa paixão, mas, é certo, foi de importância fulcral para a cultura italiana. É sob o signo desse amor que Dante deixou a sua marca profunda no Dolce Stil Nuovo e em toda a poesia lírica italiana, abrindo caminho aos poetas e escritores que se lhe seguiram para desenvolverem o tema do Amor (Amore) que, até então, não tinha sido tão enfatizado. O amor por Beatriz (tal como o amor que Petrarca demonstra por Laura, ainda que numa perspectiva diferente) aparece como a justificativa da poesia e da própria vida, quase se confundindo com as paixões políticas, igualmente importantes para Dante.
Quando Beatriz morreu, em 1290, Dante procurou refúgio espiritual na filosofia da Literatura latina. Pelo Convívio, sabemos que leu a De consolatione philosophiae, de Boécio, e a De amicitia, de Cícero. Dedicou-se, pois, ao estudo da filosofia em escolas religiosas, como a Dominicana de Santa Maria Novella, tanto mais que ele próprio era membro da Ordem Terceira de São Domingos. Participou nas disputas entre místicos e dialécticos, que se travavam, então, em Florença nos meios académicos, e que se centravam em torno das duas ordens religiosas mais relevantes. Por um lado, os franciscanos, que defendiam a doutrina dos místicos (São Boaventura), e, por outro, os dominicanos, que se socorriam das teorias de Tomás de Aquino. A sua paixão "excessiva" pela filosofia é criticada por Beatriz (representando a Teologia), no "Purgatório".
Carreira política em Florença
Dante participou, também, na vida militar da época. Em 1289, combateu ao lado dos cavaleiros florentinos, contra os de Arezzo, na batalha de Campaldino, em 11 de junho. Em 1294, estava com os soldados que escoltavam Carlos I, Conde de Anjou (também referido por vezes como Martel) quando este estava em Florença.
Foi, também, médico e farmacêutico; não pretendia exercer essas profissões mas, segundo uma lei de 1295, todo nobre que pretendesse tomar um cargo público devia pertencer a uma das guildas (Corporazioni di Arti e Mestieri - ou seja, "Corporação de Artes e Ofícios"). Ao entrar na guilda dos boticários, Dante podia, assim, ascender à vida política. Esta profissão não era, de todo, inadequada para Dante, já que, na época, os livros eram vendidos nos boticários. De 1295 a 1300, fez parte do "Conselho dos Cem" (o conselho da comuna de Florença), onde fez parte dos seis priores que governavam a cidade.
O envolvimento político de Dante acarretou-lhe vários problemas. O papa Bonifácio VIII tinha a intenção de ocupar militarmente Florença. Em 1300, Dante estava em San Gimignano, onde preparava a resistência dos guelfos toscanos contra as intrigas papais. Em 1301, o papa enviou Carlos de Valois, (irmão de Felipe o Belo, rei de França), como pacificador da Toscânia. O governo de Florença, no entanto, já recebera mal os embaixadores papais, semanas antes, de forma a repelir qualquer influência da Santa Sé. O Conselho da cidade enviou, então, uma delegação a Roma, com o fim de indagar ao certo as intenções do Sumo Pontífice. Dante chefiava essa delegação.
Exílio e morte
Bonifácio rapidamente enviou os outros representantes de Florença de volta, retendo apenas Dante em Roma. Entretanto, a 1 de novembro de 1301, Carlos de Valois entrava em Florença com os guelfos negros que, por seis dias, devastaram a cidade e massacraram grande número de partidários da facção branca. Instalou-se, então, um governo apoiante dos guelfos negros, e Cante dei Gabrielli di Gubbio foi nomeado Podestà (funcionário público designado pelas famílias mais influentes da cidade). Dante foi condenado, em Florença, ao exílio por dois anos, além de ser condenado a pagar uma elevada multa em dinheiro. Ainda em Roma, o papa "sugeriu-lhe" que aí se mantivesse, sendo considerado, a partir de então, um proscrito. Não tendo pago a multa, foi, por consequência, condenado ao exílio perpétuo. Se fosse, entretanto, capturado por soldados de Florença, seria sumariamente executado, queimado vivo.
O poeta participou em várias tentativas para repor os guelfos brancos no poder; em Florença, no entanto, devido a diversas traições, todas falharam. Dante, amargurado com o tratamento de que foi alvo por parte dos seus inimigos, afligia-se também com a inacção dos seus antigos aliados. Declarou solenemente, na altura, que pertencia a um partido com um único membro. Foi nesta altura que começou a fazer o esboço do que viria a ser a "Divina Comédia", poema constituído por 100 cantos, divididos em três livros ("Inferno", "Purgatório" e "Paraíso") com 33 cantos cada (exceptuando o primeiro livro que, dos seus 34 cantos, o primeiro é considerado apenas como Canto introdutório).
Foi para Verona, onde foi hóspede de Bartolomeo Della Scala; mudou-se para Sarzana (Ligúria), e, depois, supõe-se que terá vivido algum tempo em Lucca com Madame Gentucca, que o acolheu de forma calorosa (o que, mais tarde, será referido de forma agradecida no Purgatório XXIV,37). Algumas fontes afirmam que teria estado em Paris, entre 1308 e 1310. Outras fontes, menos credíveis, porém, dizem que teria ido até Oxford.
Em 1310, Henrique VII do Luxemburgo invadiu a Itália. Dante viu nele a hipótese de se vingar. Escreveu-lhe, bem como a vários príncipes italianos, cartas abertas onde incitava violentamente à destruição do poderio dos guelfos negros. Misturando religião e assuntos privados, invocou a ira divina sobre a sua cidade, sugerindo como alvo principal do desagrado de Deus os seus mais tenazes inimigos pessoais.
Em Florença, Baldo d'Aguglione perdoou a maior parte dos guelfos brancos que estavam no exílio, permitindo-lhes o seu regresso. Dante, no entanto, tinha ultrapassado largamente os limites toleráveis para o partido negro nas suas cartas a Henrique VII, pelo que o seu regresso não foi permitido.
Em 1312, Henrique assaltou Florença, derrotando os "guelfos negros". Não há, no entanto, qualquer evidência de uma possível participação de Dante no evento. Há quem diga que Dante se recusou a participar num ataque à sua cidade ao lado de um estrangeiro. Outros, porém, sugerem que o seu nome se tinha tornado incómodo para os próprios "guelfos brancos", pelo que qualquer traço da sua passagem foi prontamente apagado para a posteridade. Em 1313, com a morte de Henrique, morreu também a esperança de Dante de rever a sua cidade. Voltou para Verona onde Cangrande I della Scala, o Senhor de Verona, lhe permite viver seguro, confortável e, presume-se, com alguma prosperidade. Cangrande é um dos personagens admitidos por Dante no seu Paraíso (XVII, 76).
Em 1315, Florença foi obrigada, por Uguccione della Faggiuola (oficial militar que controlava a cidade) a outorgar amnistia a todos os exilados. Dante constava na lista daqueles que deveriam receber o perdão. No entanto, era exigido que estes pagassem uma determinada multa e, acima de tudo, que aceitassem participar numa cerimónia de cariz religioso onde se retractariam como ofensores da ordem pública. Dante recusou-se a semelhante humilhação, preferindo o exílio.
Quando Uguccione derrotou, finalmente, Florença, a sentença de morte que recaía sobre Dante foi comutada numa pena de prisão, sob a única condição de que teria de ir a Florença jurar solenemente que jamais entraria na cidade. Dante não foi. Como resultado, a pena de morte estendeu-se aos seus filhos.
Dante ainda esperou, mais tarde que fosse possível ser convidado por Florença a um regresso honrado. O exílio era como que uma segunda morte, privando-o de muito do que formava a sua identidade. No Canto XVII, 55-60, do Paraíso, Dante refere o quanto era dolorosa para si a vida de exilado, quando o seu trisavô, Cacciaguida, lhe "profetiza" aquilo que o espera:
* Tradução retirada de J. P Xavier Pinheiro (Série Ouro)
Quanto à esperança de um dia voltar a Florença, Dante descreve o seu sentimento melancólico, como se já estivesse resignado a essa impossibilidade, no Canto XXV, 1-9 do Paraíso:
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{| border="0"
|-----
| align="left" |
{| class="prettytable"
|----- bgcolor=#DDDDDD
! Paraíso (Canto XXV)Italiano
! Paraíso (Canto XXV)Português *
|-----
|{{Quote|<poem>
"Se mai continga che 'l poema sacroal quale ha posto mano e cielo e terra,
sì che m'ha fatto per molti anni macro,vinca la crudeltà che fuor mi serra
del bello ovile ov'io dormi' agnello,nimico ai lupi che li danno guerra;
con altra voce omai, con altro velloritornerò poeta, e in sul fonte
del mio battesmo prenderò 'l cappello …"</poem>}}
|
|}
|}
* Tradução livre, feita pelo editor da primeira versão deste artigo na Wikipédia Lusófona
</center>
É claro que isto nunca aconteceu. Os seus restos mortais mantêm-se em Ravena, não em Florença.
Guido Novello da Polenta, príncipe de Ravena, convidou-o para aí morar, em 1318. Dante aceitou a oferta. Foi em Ravenna que terminou o "Paraíso" e, pouco depois, falecia, talvez de malária, em 1321, com 56 anos, sendo sepultado na Igreja de San Pier Maggiore (mais tarde chamada Igreja de San Francesco). Bernardo Bembo, pretor de Veneza, decidiu honrar os restos mortais do poeta, erigindo-lhe um monumento funerário de acordo com a dignidade de Dante Alighieri.
Na sepultura, constam alguns versos de Bernardo Canaccio, amigo de Dante, onde se refere a Florença com os seguintes termos:
parvi Florentia mater amoris "Florença, mãe de pequeno amor"
Posteriormente, Florença chegou a lamentar o exílio de Dante e fez repetidos pedidos para o retorno de seus restos mortais. Os responsáveis pela guarda de seu corpo em Ravenna se recusaram a cumprir, chegando ao ponto de esconder os ossos em uma parede falsa do mosteiro. No entanto, em 1829, um túmulo foi construído para ele em Florença, na basílica de Santa Cruz. Esse cenotáfio está vazio desde então, com o corpo de Dante remanescendo em Ravenna, longe da terra que ele amava tão ternamente. Em frente do seu túmulo em Florença lê-se Onorate l'altissimo poeta - que pode ser traduzido como "Honra ao poeta mais exaltado". A frase é uma citação do quarto canto do Inferno, representando as boas-vindas de Virgílio quando ele volta entre os grandes poetas antigos passando a eternidade no limbo. A continuação da linha, L'ombra sua torna, ch'era dipartita ("seu espírito, que tinha nos deixado, volta"), é uma lamúria ao túmulo vazio.
Em 2007, a reconstrução do rosto de Dante foi concluída em um projeto colaborativo. Artistas da Universidade de Pisa e engenheiros da Universidade de Bolonha em Forli completaram o modelo revelador, que indicou que as características de Dante eram um pouco diferentes do que se pensava.Benazzi S. (2009). "The face of the poet Dante Alighieri reconstructed by virtual modelling and forensic anthropology techniques". Journal of archaeological science 36 (2):278–283.
Obras
A Divina Comédia escreve uma viagem de Dante através do Inferno, Purgatório, e Paraíso, primeiramente guiado pelo poeta romano Virgílio (símbolo da razão humana), autor do poema épico Eneida, através do Inferno e do Purgatório e, depois, no Paraíso, pela mão da sua amada Beatriz – símbolo da graça divina – com quem, presumem muitos autores, nunca tenha falado e, apenas visto, talvez, de uma a três vezes).
Em termos gerais, os leitores modernos preferem a descrição vívida e psicologicamente interessante para a sensibilidade contemporânea do "Inferno", onde as paixões se agitam de forma angustiada num ambiente quase cinematográfico. Os outros dois livros, o Purgatório e o Paraíso, já exigem outra abordagem por parte do leitor: contêm subtilezas ao nível filosófico e teológico, metáforas dificilmente compreensíveis para a nossa época, requerendo alguma pesquisa e paciência. O Purgatório é considerado, dos três livros, o mais lírico e humano. É interessante verificar que é, também, aquele onde aparecem mais poetas. O Paraíso, o mais pesadamente teológico de todos, está repleto de visões místicas, raiando o êxtase, onde Dante tenta descrever aquilo que, confessa, é incapaz de exprimir (como acontece, aliás, com muitos textos místicos que fazem a história da literatura religiosa). O poema apresenta-se, como se pode ver num dos excertos acima, como "poema sagrado" o que demonstra que Dante leva muito a sério o lado teológico e, quiçá, profético, da sua obra. As crenças populares cristãs adaptaram muito do conceito de Dante sobre o inferno, o purgatório e o paraíso, como por exemplo o fato de cada pecado merecer uma punição distinta no inferno. A Comédia é o maior símbolo literário e síntese do pensamento medieval, vivido pelo autor.
O poema chama-se "Comédia" não por ser engraçado mas porque termina bem (no Paraíso). Era esse o sentido original da palavra Comédia, em contraste com a Tragédia, que terminava, em princípio, mal para os personagens.
Dante escreveu a "Comédia" no seu dialeto local. Ao criar um poema de estrutura épica e com propósitos filosóficos, Dante demonstrava que a língua toscana (muito aproximada do que hoje é conhecido como língua italiana, ou língua vulgar, em oposição ao latim, que se considerava como a língua apropriada para discursos mais sérios) era adequada para o mais elevado tipo de expressão, ao mesmo tempo que estabelecia o Toscano como dialecto padrão para o italiano.
Outras obras importantes do autor são:
De vulgari eloquentia ("Sobre a Língua vulgar", escrita, curiosamente, em latim);
Vita Nuova ("Vida Nova"), onde insere sonetos, comentados, onde narra a história do seu amor por Beatriz. A língua utilizada é a toscana, tanto para os poemas (o que não é grande novidade, já que muitas obras líricas tinham sido escritas em língua vulgar) como para os comentários que, pelo seu carácter mais teórico, já inovam ao prescindir do latim.
Le Rime - "As rimas", também chamadas de "Canzoniere", onde aparecem vários textos de cariz lírico (sonetos, canções, baladas, sextinas…), onde, novamente, canta o amor idealizado (amor platónico), Beatriz, bem como a Ciência, a Filosofia, a Moral (num sentido alargado do termo);
Il Convivio - "O Convívio", de carácter filosófico, é apresentado pelo poeta como um banquete com 14 pratos (simbolizando as canções), acompanhados do pão (os comentários). Faz parte das obras que pretendem dignificar a língua vulgar, tanto mais que Dante chega aqui a citar autores tão importantes como Aristóteles ou São Tomás de Aquino;
De Monarchia - "Monarquia", onde expõe as suas ideias políticas. O livro, escrito em latim possivelmente entre 1310 e 1314, defende a supremacia do poder temporal sobre o poder papal, lembrando que até Jesus Cristo ressaltou que não desejava o poder temporal. Ao final, recomenda que ambos respeitem-se um ao outro, obedecendo àquele "que é o único governador de todas as coisas, espirituais e temporais";
Outras obras, consideradas menores, como "As Epístolas", "Éclogas" e "Quaestio de aqua et terra".
Nota: Quando nos referimos a excertos da Divina Comédia, indicamos primeiro o livro (por exemplo, "Inferno"), depois o Canto, em numeração romana; e, finalmente, em algarismos indo-arábicos, os versos (que aparecem numerados na maior parte das edições da obra).
Reabilitação
Em julho de 2008, o Comitê Cultural de Florença revogou o exílio e concedeu a seus herdeiros, como forma de compensação a mais alta honraria da cidade, Il Fiorino D'Oro. A proposta, aprovada na câmara de vereadores da cidade,foi apresentada pelo vereador Enrico Bosi, do Partido Povo da Liberdade, tendo sido aprovada por apenas um voto acima do quórum mínimo, uma vez que recebeu oposição de muitos vereadores da esquerda, que a consideraram apenas uma forma de beneficiar o único herdeiro vivo de Dante, Peralvise Serego Alighieri, um produtor de vinho da região de Valpolicella.
Imagens de Dante
Dante foi homenageado por grandes artistas ao longo dos séculos. Em 2007, cientistas italianos da Universidade de Bologna recriaram a face de Dante. Crê-se que o modelo seja o mais próximo possível de sua verdadeira aparência. Seu retrato, feito por Sandro Botticelli, foi usado como base junto ao crânio.Neste retrato de Botticelli, Dante esta usando cappuccio, um gorro vermelho trançado com abas nas orelhas. Nesta representação Botticelli acrescentou uma coroa de louros por expertise em artes poéticas. Um símbolo tradicional emprestado da Grécia Antiga e até hoje usando em cerimônias de premiação de poetas laureados e ganhadores do prêmio Nobel.
Ver também
Escritores italianos
Asteróide 2999 Dante, que recebeu o nome em honra do poeta.
A Divina Comédia
Beatrice Portinari
Bibliografia
Étienne Gilson, Dante et la philosophie, Paris, 2002
René Guénon, O Esoterismo de Dante, Lisboa, 1990.
Titus Burckhardt, Because Dante is right, in: The Essential Titus Burckhardt'', Bloomington, EUA, 2004.
Ligações externas
A Divina Comédia - Texto integral - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Inferno - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Purgatório - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
A Divina Comédia - Paraíso - tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
IntraText Digital Library - Obras de Dante Alighieri -
Obras de Dante Alighieri PDF, TXT, RTF
Políticos da Itália
Naturais de Florença
Filósofos da Itália
Escritores da Itália
Religiosos da Itália
Cristãos da Itália
Sonetistas
Poetas do Dolce Stil Nuovo
Mortes por malária
Escritores cristãos
Poetas cristãos
Poetas da Itália do século XIII
Poetas da Itália do século XIV
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688 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Diego%20de%20Almagro | Diego de Almagro | Diego de Almagro (Chile) — comuna do Chile, na região de Atacama
Pessoas
Diego de Almagro, o Velho (1475–1538) — conquistador espanhol que comandou a conquista do Chile
Diego de Almagro, o Moço (1522–1542) — filho do anterior
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689 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Dan%C3%A7a | Dança | A dança (do francês: "danse" ou "dancier"; do grego: "ορχήομαι", romaniz. "orchḗomai": "danzare") é a arte de fazer movimentos ritmados com o corpo. É uma expressão artística e cênica que envolvem os movimentos corporais em sua relação com diferentes estilos musicais. É o uso do corpo seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre), com passos ritmados ao som e compasso de uma música, envolvendo a expressão de sentimentos potenciados por ela. É uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música, pois no antigo Egito existia danças astro-teológicas e na Grécia era frequentemente vinculada aos jogos.
A dança é formada por três elementos: movimento corporal, espaço e, tempo.
A dança pode existir como manifestação artística ou como forma de divertimento ou cerimónia. Atualmente, a dança manifesta-se nas ruas, em eventos como videoclipe ou em qualquer outro ambiente em que for contextualizado o propósito artístico.
Em 29 de abril, anualmente, comemora-se internacionalmente o Dia da Dança.
História da dança
O surgimento da dança, se deu ainda na época da Pré-História, quando os homens batiam os pés no chão. Com o passar do tempo, foram dando mais intensidade aos sons, descobrindo que seriam capazes de criar outros ritmos, conciliando os passos com as mãos, através das palmas.
Sendo a dança uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. No antigo Egito já se realizavam as chamadas danças astro-teológicas em homenagem a Osíris. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos.
A história da dança cênica representa uma mudança de significação dos propósitos artísticos através do tempo.
Com o Balé Clássico (século XV), as narrativas e ambientes ilusórios é que guiavam a cena. Com as transformações sociais da época moderna, começou-se a questionar certos virtuosismos presentes no balé e começaram a aparecer diferentes movimentos de Dança Moderna. É importante notar que nesse momento, o contexto social inferia muito nas realizações artísticas, fazendo com que então a Dança Moderna Americana acabasse por se tornar bem diferente da Dança Moderna Europeia, mesmo que tendo alguns elementos em comum.
A dança contemporânea como nova manifestação artística, sofrendo influências tanto de todos os movimentos passados, como das novas possibilidades tecnológicas (vídeo, instalações). Foi essa também muito influenciada pelas novas condições sociais - individualismo crescente, urbanização, propagação e importâncias da mídia, fazendo surgir novas propostas de arte, provocando também fusões com outras áreas artísticas como o teatro por exemplo.
Em 1982, o Comitê Internacional da Dança da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) instituiu o dia internacional da dança em "29 de abril", em homenagem ao criador do balé moderno, Jean-Georges Noverre.
Na educação física
A dança no contexto educacional brasileiro aparece como conteúdo da disciplina Artes e nas atividades rítmicas e expressivas da Educação Física. Na disciplina Arte a dança é trabalhada como atividade e linguagem artística, forma de expressão, socialização, como conceito e linguagem estética de arte corporal. Como atividade de arte cênica e para apresentações.
Já na educação física o propósito da dança é diferente podendo até se inserir como cultura corporal de movimento humano. Mas a abordagem da dança dentro do contexto da Educação Física é diferente da abordagem da dança no contexto da Arte.
Na educação física a dança é utilizada de forma instrumental, assim como a ginástica, os esportes e as lutas, deve enfocar o aspecto motor, biopsicossocial, como forma de atividade para condicionamento físico, emagrecimento, bem estar e saúde. Pode ser verificado em clubes, academias e demais espaços de lazer e ginástica. A dança na educação física é uma atividade física instrumental e não artística, que assim como as demais atividades físicas, pode ser utilizada como ferramenta para a melhoria do convívio intra e interpessoais, saúde e qualidade de vida.
No âmbito de formação acadêmico-profissional, existem graduações e pós graduações específicas na área de dança. Os bacharelados em Dança que qualificam profissionais de dança, seja o artista bailarino, dançarino ou coreógrafo e ainda as licenciaturas em Dança que forma os professores de dança. Estes cursos são vinculados à área de conhecimento das Artes. No Brasil, a formação para professores e artistas de dança é adquirida nos cursos superiores de dança (bacharelados e licenciaturas). Sendo esta profissão regulamentada pela Lei 6 533/78 a Lei do Artista.
Ligação com a saúde
Dançar pode auxiliar no tratamento de doenças como diabetes, síndrome do pânico, transtorno bipolar, depressão e até alguns tipos de câncer. A dança pode ser considerada um remédio que melhora a saúde física e mental.
Classificação e gêneros
Várias classificações das danças podem ser feitas, levando-se em conta diferentes critérios.
Quanto ao modo de dançar:
dança solo (ex.: coreografia de solista no balé, sapateado, samba);
dança em dupla (ex.: tango, salsa,kizomba, valsa, forró, etc.);
dança em grupo (ex.: danças de roda, sapateado, gavota).
Quanto a origem:
dança folclórica (ex.: catira, carimbó, reisado, etc.);
dança histórica (ex.: sarabanda, bourré, gavota, etc.);
dança cerimonial (ex.: danças rituais indianas);
dança étnica (ex.: danças tradicionais de países ou regiões).
Quanto a finalidade:
dança erótica (ex.: can can, striptease);
dança cênica ou performática (ex.: balé, dança do ventre, sapateado, dança contemporânea);
dança social (ex.: dança de salão, axé music, tradicional);
dança religiosa/dança profética (ex.: dança sufi);
dança coreografada (ex.: Casamento, Debutantes, Bodas), etc.
Existem muitos estilos de dança, onde os vinte mais praticados no mundo são: Balé; Jazz; Cigana; Contemporâneo; Sapateado; Flamenco; de Rua; Stiletto; Africana; Yangko; do Ventre; Kathak; Country; Zouk; Tango; Samba; Zumba; Poiledance; Bolero; Clássica Indiana.
Estudos e técnicas
No início dos anos 1920, os estudos de dança (dança prática, teoria crítica, análise musical e história) começaram a ser considerados uma disciplina acadêmica. No final do século XX, esses estudos são parte integrante de muitos programas de artes e humanidades das universidades, incluindo:
prática profissional: performance e habilidades técnicas;
prática de pesquisa: coreografia e performance;
etnocoreografia, abrangendo os aspectos de dança relacionados com antropologia, estudos culturais, estudos de gênero, estudos de área, teoria pós-colonial, etnografia, etc.;
dançaterapia ou terapia por movimentos de dança;
Dança e tecnologia: novos meios de comunicação e o desempenho de tecnologias;
Análise de Movimento de Laban e estudos somáticos.
Graus acadêmicos estão disponíveis desde o bacharelado até o doutorado e também programas de pós-doutorado, com alguns estudiosos de dança fazendo os seus estudos como estudantes maduros depois de uma carreira profissional de dança.
Competições
Uma competição de dança é um evento organizado em que os concorrentes executam danças perante um juiz ou juízes visando prêmios e, em alguns casos, prêmios em dinheiro. Existem vários tipos principais de competições de dança, que se distinguem principalmente pelo estilo ou estilos de dança executados. Os principais tipos de competições de dança incluem:
Dança competitiva, em que uma variedade de estilos de danças teatrais, como dança acro, balé, jazz, hip hop, dança lírica e sapateado, são permitidos;
Competições abertas, que permitem uma grande variedade de estilos de dança. Um exemplo disto é o popular programa de TV So You Think You Can Dance;
Dança esportiva, que é focada exclusivamente em dança de salão e dança latina. Exemplos disso são populares programas de televisão Bailando por um Sonho e Dancing with the Stars;
Competições de estilo único, como dança escocesa, dança de equipe (dance squad) e dança irlandesa, que só permitem um único estilo de dança.
Hoje, há vários concursos de dança na televisão e na internet.
Balé e seus repertórios
O Balé (do francês Ballet) é um estilo de dança criado nas cortes itálianas renascentista (século XV), que desenvolveu-se como uma forma de dança de concerto. É um tipo de dança influente a nível mundial que possui uma forma altamente técnica e um vocabulário próprio.
O Lago dos Cisnes
O Quebra Nozes
A Bela Adormecida
Don Quixote
Romeu e Julieta
La Sylphide
Coppélia
Petrushka
A Sagração da Primavera
O Pássaro de Fogo
La Bayadère
Diana e Acteon
Les Sylphides
La Esmeralda
Ver também
Lista de coreógrafos notáveis
Sapateado
Escola Superior de Dança
A Dança na Pintura
Ritmo | 131,052 |
690 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenho | Desenho | O desenho é um suporte artístico ligado à produção de obras bidimensionais, diferindo, porém, da pintura e da gravura. Neste sentido, o desenho é encarado tanto como processo quanto como resultado artístico. No primeiro caso, refere-se ao processo pelo qual uma superfície é marcada aplicando-se sobre ela a pressão de uma ferramenta (em geral, um lápis, caneta ou pincel) e movendo-a, de forma a surgirem pontos, linhas e formas planas. O resultado deste processo (a imagem obtida), portanto, também pode ser chamada de desenho. Desta forma, um desenho manifesta-se essencialmente como uma composição bidimensional formada por linhas, pontos e formas.
O desenho envolve uma atitude do desenhista (o que poderia ser chamado de desígnio) em relação à realidade: o desenhista pode desejar imitar a sua realidade sensível, transformá-la ou criar uma nova realidade com as características próprias da bidimensionalidade ou, como no caso do desenho de perspectiva, a tridimensionalidade.
Desenho como projeto
O desenho livre nem sempre é um fim em si. O termo é muitas vezes usado para se referir ao projeto ou esboço para um outro fim. Nesse sentido o desenho pode significar a composição ou os elementos estruturais de uma obra. Mais corretamente, isso é denominado bosquejo, debuxo, esboço ou rascunho.
Na língua espanhola existe a distinção entre as palavras diseño (que se refere à disciplina conhecida como design nos países lusófonos, ou ao projeto, de uma forma geral) e dibujo (que se refere ao desenho propriamente dito). Estudos etimológicos de Luis Vidal Negreiros Gomes indicam que também no português existiam essas nuances de significado, no entanto as palavras foram mudando de sentido. Debuxo atualmente significa apenas esboço, bosquejo, ou desenho nos seus estágios iniciais. A palavra desenho além do sentido de projeto, ganhou as significações de "qualquer desenho", "qualquer esboço", "desenho (debuxo) no seu estado final". Com o tempo debuxo deixou de significar "qualquer desenho" e significa apenas "esboço", "bosquejo", "rascunho". Desenho mudou de significado (projeto apenas), e englobou vários outros, mas preservou algumas dos sentidos de projeto. Atualmente a língua portuguesa incorporou a palavra design que comporta o sentido de desenho como projeto. A palavra "debuxo" também está sendo usada no sentido de "design" (uma inversão do sentido original).
O primeiro registro da palavra Desenho com o sentido de projeto foi em 1548 na obra Diálogos em Roma do pintor e humanista português, Francisco de Holanda. ''O desenho, a que e outro nome se chamam debuxo, nele consiste e é a fonte e o corpo da pintura e da escultura e da arquitetura e de todo outro gênero de pintar e a raiz de todas as ciências." Sobre este tema também merecem destaque as obras do mesmo autor: DA FÁBRICA QUE FALECE A CIDADE DE LISBOA e DE QUANTO SERVE A CIÊNCIA DO DESENHO E ENTENDIMENTO DA ARTE DA PINTURA NA REPÚBLICA CRISTÃ, ASSIM COMO NA PAZ COMO NA GUERRA, ambas de 1571.
Desenho, portanto, é uma palavra de origem portuguesa.
Desenho, gravura, pintura
Entre os suportes artísticos tradicionais, três deles manifestam-se em duas dimensões: o próprio desenho, a gravura e a pintura. Embora o resultado formal de cada um deles seja bastante diferente (embora o desenho e a gravura sejam similares), a grande diferença entre eles se encontra na técnica envolvida.
A gravura difere do desenho na medida em que ela é produzida pensando-se na sua impressão e reprodução. Seus meios mais comuns de confecção são a xilogravura (em que a matriz é feita de madeira), a litogravura (cuja matriz é composta de algum tipo de pedra), a gravura propriamente dita (cuja matriz é metálica) e a Serigrafia (cuja matriz é uma tela) uma técnica de imprimir sobre tecido. Existe ainda uma técnica chamada monotipia, mais próxima da pintura, na qual se obtêm apenas uma impressão.
Gesto
A composição pictórica expressa pelo desenho pode representar situações e realidades diversas: aquilo que o artista vê quando desenha, uma cena lembrada ou imaginada, uma realidade abstrata ou, no caso do desenho automático (proposto pelos surrealistas), pode vir a surgir com o movimento livre da mão do artista através do papel (ou de outra superfície). No processo da grafomania entóptica, em que os pontos são feitos nos locais das impurezas ou de variações de cor em uma folha de papel em branco, e as linhas são feitas então entre os pontos, superficialmente falando, o tema do desenho é o próprio papel.
Estas várias atitudes do desenhista em relação ao resultado do desenho manifestam-se através da técnica escolhida por ele, evidenciada pelo seu gesto. O gesto está profundamente relacionado à natureza dos movimentos da mão humana e à forma como a visão (ou o raciocínio visual, de uma forma geral) os influencia. Algumas técnicas, quando de uma abordagem figurativista do desenho, incluem:
Linha pura
Este é um desenho composto predominantemente por linhas (as quais simplesmente delimitam os objetos desenhados, sem a intenção de explicitar seus sombreados ou texturas). É normalmente o primeiro tipo de desenho com o qual um estudante entra em contato - o que não significa que seja este um tipo de desenho de pouca complexidade. A linha pura também é utilizada como etapa inicial do desenho de uma perspectiva.
Tom de linha
Este é um tipo de desenho que pretende, além de delimitar os objetos, representar suas texturas, mas ainda não incorpora dégradés ou matizados, gerados pela gradação de tons de cinza (embora o peso das texturas aplicadas assumam efetivamente tal papel). Pelo seu caráter, é também uma técnica bastante utilizada na gravura.
O principal elemento deste tipo de desenho é o traçado, trama ou textura, padrões gráficos que são usados para representar uma determinada textura, cuja manipulação e gradação de peso permite sombrear os objetos. A aplicação de valores tonais, organizados a partir de uma fonte de luz que indica zonas de luz e sombra, acentua a percepção de volume e tridimensionalidade dos objetos em uma composição, características que reforçam a ilusão de profundidade em um desenho. Os materiais mais comuns para o uso dessa técnica são os nanquins (bico-de-pena) e lápis de grafite mais rígido, em espessuras variadas.
Tom puro
Este tipo de desenho faz uso extenso das técnicas conhecidas como sfumato e chiaroscuro, de modo a construir formas, figuras e espaços através de relações de contraste entre luz e sombra e meios-tons, sendo assim uma representação composta por manchas e texturas suaves onde a linha praticamente desaparece entre vários degradês. Os materiais mais usados aqui são o grafite, o carvão e os pastéis. Instrumentos como o esfuminho auxiliam o espalhamento do grafite e a gradação de meios-tons e sombras. Materiais como nanquins e bicos de pena são inadequados para evidenciar os volumes, as sombras e as formas dos objetos, sendo mais apropriado o uso de aguadas em nanquim aplicadas em pincel, técnica que concilia tanto uma grande versatilidade expressiva como um refinado detalhamento tonal.
Material
A escolha dos meios e materiais está intimamente relacionada à técnica escolhida para o desenho. Um mesmo objeto desenhado a bico de pena e a grafite produz resultados absolutamente diferentes.
As ferramentas de desenho mais comuns são o lápis, o carvão, os pastéis, crayons e pena e tinta. Muitos materiais de desenho são à base de água ou óleo e são aplicados secos, sem nenhuma preparação. Existem meios de desenho à base d'água (o "lápis-aquarela", por exemplo), que podem ser desenhados como os lápis normais, e então umedecidos com um pincel molhado para produzir vários efeitos. Há também pastéis oleosos e lápis de cera. Muito raramente, artistas utilizam tinta invisível (geralmente já revelada).
Computação gráfica
Desde a década de 1990 o computador tem se tornado um instrumento importante na produção e acabamento de desenhos. Originalmente ele era usado principalmente para simular as técnicas e os materiais supracitados, mas nos últimos anos tem sido desenvolvidas linguagens próprias da ilustração em tela. Entre os programas mais utilizados estão o Corel Draw, Adobe Illustrator, entre outros. No campo do desenho técnico, existem diversos aplicativos CAD responsáveis por um considerável aumento de produtividade e velocidade na produção de desenhos. Existem também programas mais simples, como o Microsoft Paint, distribuído com o sistema operacional Microsoft Windows, e que possuem mais um apelo recreativo que efetivamente produtivo. Os softwares de modelamento 3D, como o 3D Studio Max, o Autodesk Maya e o Blender, ainda que não sejam tecnicamente aplicativos voltados à produção de desenhos, também possuem um papel importante nesta área (são bastante utilizados pela indústria cinematográfica e publicitária).
Os softwares de computação gráfica tem evoluído muito rapidamente. À medida que os equipamentos de hardware ficam mais eficientes, o nível de qualidade das imagens estão cada vez melhores. Hoje em dia quase não distinguimos o que é gráfico computacional e o que é real. O ramo do entretenimento é um dos que mais se beneficiam com esta evolução. Cada ano que passa vemos efeitos especiais nos filmes, jogos eletrônicos e filmes completamente digitais cada vez mais realísticos. É quase impossível prever até que ponto esta tecnologia poderá nos oferecer em criações e realidade.
Modalidades de desenho
O desenho não é necessariamente sempre um fim em si mesmo, podendo vir a assumir uma função ou caracterizar-se como mediação para outro fim. Entre as várias modalidades possíveis de desenho, incluem-se:
Desenho geométrico - estudo padronizado e normatizado do desenho em duas dimensões, voltado à representação plana de entes geométricos para a simples exibição ou resolução geométrica de problemas de Matemática;
Desenho projetivo - estudo padronizado e normatizado do desenho em duas dimensões acerca de entes de três dimensões. É composto de variações como o desenho técnico (representação de elementos tridimensionais em duas dimensões, voltado primordialmente para a exibição em si), Geometria descritiva (representação de elementos tridimensionais em duas dimensões, voltado principalmente para a determinação da verdadeira grandeza de ângulos, distâncias e áreas);
Desenho arquitetônico - desenho voltado especialmente ao projeto de arquitetura;
Ilustração - um tipo de desenho que pretende expressar alguma informação, normalmente acompanhado de outras mídias, como o texto;
Croquis ou esboço - um desenho rápido, normalmente feito à mão sem a ajuda de demais instrumentos que não propriamente os de traçado e o papel, feito com a intenção de discutir determinadas ideias gráficas ou de simplesmente registrá-las. Normalmente são os primeiros desenhos feitos dentro de um processo para se chegar a uma pintura ou ilustração mais detalhada. Os croquis são muito usados por estilistas de moda;
Modelo vivo - ilustração feita a partir de cópia do natural, tendo-se como tema o corpo ou a situação vivida por um modelo.
História
O desenho tem sido um meio de manifestação estético e uma linguagem expressiva para o homem desde os tempos pré-históricos. Neste período, porém, o desenho, assim como a arte de uma forma geral, estava inserido em um contexto tribal-religioso em que acreditava-se que o resultado do processo de desenhar possuísse uma "alma" própria: o desenho era mais um ritual místico que um meio de expressão. À medida que os conceitos artísticos foram, lentamente, durante a Antiguidade separando-se da religião, o desenho passou a ganhar autonomia e a se tornar uma disciplina própria. Não haveria, porém, até o Renascimento, uma preocupação em empreender um estudo sistemático e rigoroso do desenho enquanto forma de conhecimento.
A partir do Século XV, paralelamente à popularização do papel, o desenho começou a tornar-se o elemento fundamental da criação artística, um instrumento básico para se chegar à obra final (sendo seu domínio quase uma virtude secundária frente às outras formas de arte). Com a descoberta e sistematização da perspectiva, o desenho virá a ser, de fato, uma forma de conhecimento e será tratado como tal por diversos artistas, entre os quais destaca-se Leonardo da Vinci.
Mestres do desenho nos séculos XV e XVI incluem Leonardo da Vinci, Albrecht Dürer, Michelângelo e Rafael. No século XVII, destacam-se Claude Monet, Nicolas Poussin, Rembrandt e Peter Paul Rubens. No século XVIII, Jean-Honoré Fragonard, Francisco Goya, Giovanni Battista Tiepolo, e Antoine Watteau. No XIX, Jacques Louis David, Edgar Degas, Theodore Gericault, Odilon Redon, Henri de Toulouse-Lautrec, Paul Cézanne e Vincent Van Gogh. Finalmente, no século XX, pode-se destacar Max Beckmann, Willem de Kooning, Jean Dubuffet, Arshile Gorky, Paul Klee, Oskar Kokoschka, Henri Matisse, Jules Pascin, Pablo Picasso.
Desenhistas historicamente importantes
Leonardo da Vinci - Mestre renascentista, usava o desenho como instrumento para compreender a realidade.
Albrecht Dürer - Mestre do desenho e gravura renascentista. Seu desenho teve especial importância no desenvolvimento da ilustração através da gravura.
Filippo Brunelleschi - Arquiteto renascentista, atribui-se a ele as regras para o desenho em perspectiva com um ponto de fuga.
Rembrandt - Mestre do desenho e gravura barroca, conhecido por seus estudo de claro-escuro.
Michelângelo Buonarroti - Mestre renascentista cujo desenho expressivo não segue necessariamente a harmonia do Renascimento.
Ingres - O grande mestre do desenho na França do século XIX.
M. C. Escher - Mestre do desenho e da gravura cujo trabalho é baseado em questões de percepção visual e do desenho na geometria.
Referências bibliográficas
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CHAVES, Dario, JUBRAN, Alexandre, Manual prático de desenho, São Paulo, Editora Tipo, 2002. ISBN 8588516160
DONDIS, Donis A., Sintaxe da linguagem visual, São Paulo, Martins Fontes, 1997. ISBN 8533605838
EDWARDS, Betty; Desenhando com o lado direito do cérebro, São Paulo, Ediouro, 2001. ISBN 8500007486
FRUTIGER, Adrian, Sinais e Símbolos: Desenho, projeto e significado, São Paulo, Martins Fontes, 1999. ISBN 8533610998
HOLANDA, Francisco de, Diálogos em Roma, Lisboa, Horizonte, 1984.
HOLANDA, Francisco de, Da Pintura Antiga, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1983.
KANDINSKY, Wassily, Ponto e linha sobre o plano, São Paulo, Martins Fontes, 2001. ISBN 8533605781
PAIXAO, Pedro A.H., Desenho: A Transparência dos Signos. Estudos de Teoria do Desenho e Práticas Disciplinares Sem Nome, Lisboa, Assírio & Alvim, 2008. ISBN 978-972-37-1297-1
SILVA, Vitor Oliveira da, Ética e Política do Desenho: Teoria e Prática do Desenho na Arte do Século XVII, Lisboa, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2004. ISBN 972-9483-62-0
WONG, Wucius, Princípios de Forma e Desenho, São Paulo, Editora Martins Fontes. ISBN 8533608616
Ver também
Arte
Gravura
Pintura
Ilustração
Design Gráfico
Desenho geométrico
Desenho técnico
Animação
Cartoons
Arte digital | 615,331 |
692 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Deslocamento | Deslocamento | Em física, o deslocamento de um corpo é uma grandeza vetorial (possui módulo, direção e sentido) definida como a variação de posição de um corpo em um dado intervalo de tempo. Dessa forma, o vetor deslocamento pode ser obtido pela diferença entre as posições final e inicial.
Vetor deslocamento
O deslocamento é independente da trajetória e seu módulo representa a menor distância entre o ponto inicial e final de um corpo em movimento; pode ser expresso na forma vetorial ou em módulo. (Os respectivos símbolos são e ).
No espaço cartesiano, o vetor deslocamento une o ponto de partida ao ponto de chegada. Para a determinação do deslocamento escalar pode ser necessário utilizar o cálculo.
Na figura abaixo, o móvel deslocou-se de s0 a s1, portanto, .
Considerando certo intervalo de tempo, pode haver duas possibilidades de o deslocamento reduzir-se a zero: (1) o objeto em estudo permaneceu parado ou (2) o objeto moveu-se e retornou para a posição inicial. Deste exemplo, conclui-se que o deslocamento espacial não pode ser tomado sempre como o espaço total percorrido pelo móvel, mas sim como a variação do espaço percorrida em certo intervalo de tempo.
Consideramos um ponto ocupando um instante , denominado , a Posição cujo espaço chamamos de . Em um instante posterior o ponto ocupa a posição do espaço. Entre essas posições, a variação do espaço escrevemos assim:
O vetor representado pelo ponto de origem , e seu ponto de extremidade recebe a nomenclatura de vetor deslocamento dos instantes
e .
Em uma situação de ilustração, em que a trajetória é curvilínea , o módulo do vetor de deslocamento é menor do que o módulo da variação do espaço.
Em uma situação de uma trajetória ser retilínea, o módulo do vetor deslocamento é igual ao módulo da variação do espaço .
Velocidade vetorial média
A velocidade vetorial média é o quociente entre o vetor deslocamento e o correspondente intervalo de tempo, representado por :
Onde a velocidade vetorial média possui a mesma direção e sentido do vetor de deslocamento (d). Seu módulo é representado por:
Portanto, em trajetórias curvilíneas, temos e por conseguinte e para trajetórias em movimento retilíneo,
temos:
porque .
Aceleração vetorial média
Nos movimentos variados, define-se a aceleração escalar como sendo o quociente entre a variação da velocidade escalar pelo intervalo de tempo correspondente .
De um modo análogo, podemos caracterizar a aceleração vetorial média sendo a velocidade vetorial de um ponto no instante e a velocidade posterior no instante . Calcula-se a aceleração vetorial média por:
Exemplificando, uma partícula passando pelo ponto , no instante , com velocidade e, no instante chega no ponto com velocidade assim: .
Observamos que e são tangentes à trajetória dos pontos e e os mesmos têm o sentido do movimento.
Ou seja:
Conclui-se:
Aceleração vetorial instantânea
Entende-se como, aceleração vetorial instantânea , sendo uma aceleração vetorial média, quando o intervalo de tempo é muito pequeno. Havendo sempre variação de velocidade vetorial , também vai haver a aceleração vetorial.
A velocidade vetorial pode variar no módulo e na direção. Portanto a aceleração vetorial é bipartida em: aceleração tangencial , estando relacionada com a variação do módulo de , e a aceleração centrípeta , que está relacionada com a variação da direção da velocidade vetorial.
Aceleração tangencial
A aceleração tangencial se dá através de diversas características como:
- A direção é tangente à trajetória;
- O sentido é o mesmo da velocidade vetorial, se o movimento for acelerado, ou oposto ao de se o movimento for desacelerado. Em movimentos uniformes, o módulo da velocidade vetorial não varia e, por conseguinte, a aceleração tangencial é 0. A só existe em movimentos variados e é independente do tipo de trajetória (retilínea ou curvilínea).
Aceleração centrípeta
A aceleração centrípeta tem as seguintes características:
- O seu módulo é dado pela expressão , em que v é a velocidade escalar do móvel e R é o raio da curvatura da trajetória.
- A direção é perpendicular à velocidade vetorial em cada ponto da trajetória.
- O sentido orienta-se para o centro da curvatura de uma trajetória.
Em movimentos retilíneos, a direção da velocidade vetorial não varia e a aceleração centrípeta é 0. Esta, só existe em movimentos de trajetórias curvas e é independente do tipo de movimento aplicado (uniforme ou variado).
Aceleração vetorial
A aceleração vetorial é o resultado da soma da aceleração centrípeta com a tangencial. Onde sua expressão é representada por:
No módulo:
onde está relacionada com a variação da velocidade vetorial
Relação entre deslocamento e velocidade média
Sabemos que a velocidade média é a relação entre o deslocamento (), e o intervalo de tempo empregado para realizá-lo ().
Mecânica clássica
Cinemática
Grandezas físicas | 25,119 |
693 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Din%C3%A2mica | Dinâmica | Em física, a dinâmica é o ramo da mecânica clássica responsável por estudar a ação de forças no movimento de um corpo e seus efeitos, além de determinar suas causas.
Os fundamentos da dinâmica foram estudados, inicialmente, por Galileu Galilei em seus experimentos com corpos em queda livre e movimento em plano inclinado. No entanto, Isaac Newton foi o primeiro a formular sistematicamente conceitos como inércia, a definição de força e o princípio da ação e reação.
Princípios
Normalmente, os cientistas envolvidos na dinâmica estudam como um sistema físico pode se desenvolver ou alterar ao longo do tempo, e estudam as causas dessas alterações. Além disso, Newton estabeleceu as leis físicas fundamentais que conduzem a dinâmica da física. Ao estudar o seu sistema de mecânica, a dinâmica pode ser compreendida.
A dinâmica está principalmente relacionada com a Segunda Lei de Newton. No entanto, as três leis do movimento são tidas em conta porque estão internamente relacionadas em qualquer observação ou experiência.
Princípio da relatividade de Galileu
Ao construir qualquer teoria, é essencial determinar as condições sob as quais dois observadores veem os fenômenos evoluir da mesma maneira e, portanto, podem descrevê-los com as mesmas leis. No contexto da mecânica clássica, dois observadores que realizam simultaneamente uma medição enquanto estão em movimento relativo retilíneo uniforme , podem traduzir os dados de posição e velocidade observados por um nos dados medidos correspondentes pelo outro, por meio das transformações galileanas.
Esses observadores são chamados de observadores inerciais , ou observadores Galileanos , e o sistema de referência no qual eles são inseridos é um sistema de referência inercial .
Dinâmica Linear e Rotacional
Dinâmica Linear
A dinâmica linear diz respeito a objetos que se movem em uma linha e envolve quantidades como força , massa , deslocamento (em unidades de distância), velocidade (distância por unidade de tempo), aceleração (distância por unidade de tempo ao quadrado) e momento (tempo de massa unidade de velocidade).
Dinâmica Rotacional
A dinâmica rotacional se refere a corpos que estão girando ou se movendo em um caminho curvo e envolve quantidades como torque , momento de inércia / inércia rotacional , deslocamento angular(em radianos ou graus), velocidade angular (radianos por unidade de tempo), aceleração angular (radianos por unidade de tempo ao quadrado) e momento angular (momento de inércia vezes unidade de velocidade angular).
Muitas vezes, os objetos exibem movimento linear e rotacional.
Força
A força é um dos conceitos mais importantes da mecânica clássica. Ela tem a função de alterar os efeitos estáticos e os efeitos dinâmicos dos corpos em que age. Assim, a ela é uma grandeza vetorial que possui módulo, direção e sentido.
A força é essencial para alterar o estado de movimento de um corpo, é a partir do estudo de sua atuação sobre um corpo que fazemos uma análise dinâmica.
Conforme aplica mais de uma força sobre um corpo surge a força resultante, que é a soma de todas as forças aplicadas. Elas se classificam em força de contato, que são aquelas que agem sobre os corpos apenas com contato, e força de campo, que são aquelas que atuam sobre os corpos sem ter contato, através do campo magnético.
Leis de Newton
Primeira Lei de Newton
Em princípio se pensava que para que um corpo se mantivesse em movimento com velocidade constante era necessário que ele fosse impulsionado, caso contrário ele pararia “naturalmente”. Isso pode ser observado quando se faz um objeto deslizar sobre uma superfície qualquer, ele irá parar. Para fazer com que ele se mova sobre a superfície com uma velocidade constante poderíamos amarrar um cordão nele e puxar. Porém, se colocássemos este objeto em superfícies diferentes, como por exemplo uma superfície de gelo de um rinque de patinação e um chão de concreto, notaríamos que o objeto iria percorrer distâncias diferentes. A distância percorrida na superfície de gelo é muito maior do que a distancia percorrida no chão de concreto. Isto acontece porque a superfície de gelo é mais lisa (menor atrito) do que o chão de concreto (maior atrito). Isto nos leva a pensar que quanto mais lisa for a superfície, ou quanto menor for o atrito, maior será a distancia percorrida. Se imaginarmos uma superfície muito lisa, de modo que o atrito seja quase nulo, a velocidade do objeto não diminuiria.
Com isso, acabamos concluindo que não precisamos de força para manter um corpo em movimento com velocidade constante, e que, ao contrário do que se pensava inicialmente, não é da natureza de um corpo parar quando posto em movimento, mas resistir à desaceleração e à aceleração.
Isto nos leva à Primeira Lei de Newton, que diz o seguinte: Todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou de movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compelido a modificar esse estado pela ação de forças impressas sobre ele.
Segunda Lei de Newton
O princípio fundamental da dinâmica enuncia que a taxa de variação no tempo da quantidade de movimento (também chamada de momento linear ) de um corpo é igual à soma das forças aplicadas neste corpo. Este princípio é chamado também de Segunda Lei de Newton. Quando a massa é constante a força é dada por:
Nessa equação, é a massa e a aceleração.
Terceira Lei de Newton
O Princípio da ação e reação afirma que se um determinado ponto material “A” exerce uma força sobre um outro ponto material “B”, então “B” exercerá sobre “A” uma força de mesma intensidade, mesma direção e sentido contrário, ou seja a toda ação tem uma reação. O par ação e reação sempre é composto por forças de mesma natureza (ambas de contato, ou elétricas etc.) e que agem em corpos distintos, portanto não tem sentido físico dizer que ação e reação se neutralizam. A este Princípio chamamos de Terceira Lei de Newton (conhecida também como Lei da Ação e Reação).
Mecânica clássica
Dinâmica | 19,279 |
694 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Darwin%20%28sistema%20operacional%29 | Darwin (sistema operacional) | Darwin é um kernel de código aberto lançado pela Apple Inc. em 2000. É composto por código desenvolvido pela Apple, bem como código derivado do NeXTSTEP, BSD, Mach, e outros projetos de software livre.
Darwin forma o conjunto central de componentes sobre os quais macOS (anteriormente OS X e Mac OS X), iOS, watchOS, tvOS e iPadOS são baseados. Sua maioria é compatível com POSIX, mas nunca, por si só, foi certificado como compatível com qualquer versão do POSIX. Começando com o Mac OS X Leopard,o macOS foi certificado como compatível com a versão 3 da Single UNIX Specification (SUSv3).
História
A herança do Darwin começou com o sistema operacional NeXTSTEP da NeXT (mais tarde, desde a versão 4.0, conhecida como OPENSTEP), lançada pela primeira vez em 1989. Depois que a Apple comprou a NeXT em 1997, anunciou que basearia seu próximo sistema operacional no OPENSTEP. Este foi desenvolvido no Rhapsody em 1997, Mac OS X Server 1.0 em 1999, Mac OS X Public Beta em 2000, e Mac OS X 10.0 em 2001. Em 2000, os principais componentes do sistema operacional Mac OS X foram lançados como software de código aberto a Licença de Fonte Pública da Apple (APSL) como Darwin; os componentes de alto nível, como as estruturas do Cocoa e Carbon, permaneceram como software proprietário. O nome é um tributo ao naturalista britânico Charles Darwin.
Kernel
O núcleo do Darwin é o XNU, um kernel híbrido que usa OSFMK 7.3 (Open Software Foundation Mach Kernel) da OSF, vários elementos do FreeBSD (incluindo o modelo de processo, pilha de rede, sistema de arquivos virtuais), e um driver de dispositivo orientado a objetos API chamado Kit I/O. O design do kernel híbrido fornece a flexibilidade de um microkernel e o desempenho de um kernel monolítico.
Suporte a hardware e software
O Darwin atualmente inclui suporte para a variante de 64-bit x86-64 dos processadores Intel x86 usados em Macs e os processadores ARM de 64 bits usados no iPhone 5S, o iPod Touch de 6ª geração, o iPad Air, a quarta geração Apple TV, modelos originais HomePod, e posteriores, bem como os processadores ARM de 32 bits usados no iPhone 5C e mais antigos, gerações anteriores do iPod Touch, o iPad até a quarta geração, e a segunda e terceira geração da Apple TV. Existe uma porta de código aberto do kernel XNU que suporta Darwin nas plataformas Intel e AMD x86 não suportadas oficialmente pela Apple, embora não pareça ter sido atualizada desde 2009. Uma porta de código aberto do kernel XNU também existe para plataformas ARM. Versões mais antigas suportavam alguns ou todos os PowerPC de 32 bits, PowerPC de 64 bits e 32 bits x86.
Ele suporta a API POSIX por meio de sua linhagem BSD (em grande parte FreeBSD userland) e um grande número de programas escritos para vários outros sistemas UNIX-like podem ser compilados em Darwin sem alterações no código-fonte.
Darwin não inclui muitos dos elementos definidores do macOS, como as APIs Carbon e Cocoa ou a interface de usuário Quartz Compositor e Aqua, e, portanto, não pode executar aplicativos Mac. Ele, no entanto, suporta uma série de características menos conhecidas do macOS, como o mDNSResponder, que é o respondente DNS multicast e um componente central da tecnologia de rede Bonjour; e launchd uma avançada framework de gerenciamento de serviços.
Licença
Em julho de 2003, a Apple lançou o Darwin sob a versão 2.0 da Licença de Fonte Pública da Apple (APSL), que a Free Software Foundation (FSF) classifica como uma licença de software gratuita incompatível com a Licença Pública Geral GNU. Versões anteriores foram lançadas sob uma versão anterior da licença APSL, que não atendeu à definição FSF de software livre, embora tenha cumprido os requisitos da Definição de Código Aberto.
Versões
Tabela de grandes lançamentos do Darwin e suas datas e lançamentos no macOS. Observe que a versão correspondente do macOS pode ter sido lançada em uma data diferente; consulte as páginas do macOS para essas datas.
O salto nos números de versão de Darwin 1.4.1 para 5.1 com o lançamento do Mac OS X v10.1.1 foi projetado para ligar Darwin à versão Mac OS X e ao sistema de numeração de compilação, que por sua vez é herdado do NeXTSTEP. No sistema de numeração de compilação do macOS, cada versão tem um número de compilação inicial único, que identifica a versão inteira do macOS que faz parte. Mac OS X v10.0 tinha números de compilação começando com 4, 10.1 tinha números de compilação começando com 5, e assim por diante (números de compilação anteriores representavam lançamentos de desenvolvedores).
O comando uname -r no Terminal mostrará o número da versão de Darwin, e o comando uname -v mostrará a string de versão de compilação XNU, que inclui o número da versão de Darwin.
Projetos derivados
Devido à natureza do software livre de Darwin, houve projetos que visam modificar ou melhorar o sistema operacional.
OpenDarwin
OpenDarwin era um sistema operacional baseado no sistema Darwin. Foi fundada em abril de 2002 pela Apple Inc. e pela Internet Systems Consortium. Seu objetivo era aumentar a colaboração entre os desenvolvedores da Apple e a comunidade de software livre. A Apple se beneficiou do projeto porque as melhorias no OpenDarwin seriam incorporadas aos lançamentos do Darwin; e a comunidade de código livre/aberto beneficiou-se de ter controle total sobre seu próprio sistema operacional, que poderia então ser usado em distribuições de software livre, como GNU-Darwin.
Em 25 de julho de 2006, a equipe OpenDarwin anunciou que o projeto estava sendo encerrado, pois eles achavam que OpenDarwin tinha "se tornado uma mera instalação de hospedagem para projetos relacionados ao Mac OS X", e que os esforços para criar um sistema operacional Darwin independente haviam falhado. Eles também afirmam: "Disponibilidade de recursos, interação com representantes da Apple, dificuldade de construção e rastreamento de recursos e falta de interesse da comunidade contribuíram para isso." O último lançamento estável foi a versão 7.2.1, lançada em 16 de julho de 2004.
PureDarwin
PureDarwin é um projeto para criar uma imagem bootável de sistema operacional do código-fonte Darwin lançado pela Apple. Desde o encarramento do OpenDarwin e o lançamento de imagens bootáveis desde Darwin 8.x, tem sido cada vez mais difícil criar um sistema operacional completo à medida que muitos componentes se tornaram de codigo fechado. O projeto conseguiu criar uma versão de Natal baseada em Darwin 9 com uma GUI X11 e uma com apenas linha de comando, a 17.4 Beta baseada em Darwin 17.
Outros projectos derivados
MacPorts (anteriormente DarwinPorts), Fink e Homebrew são projetos bem conhecidos para portar programas UNIX para o sistema operacional Darwin e fornecer gerenciamento de pacotes. Além disso, vários gerenciadores de pacotes padrão UNIX , como RPM, pkgsrc e Portage, têm portas Darwin. Alguns deles operam em seu próprio namespace para não interferir com o sistema base.
GNU-Darwin é um projeto que porta pacotes de software livre para Darwin. Eles empacotam imagens do Sistema Operacional de forma semelhante a uma distribuição Linux.
O projeto Darwine foi uma portabilidade do wine que permite executar o software Microsoft Windows em Darwin.
SEDarwin é uma porta de estrutura de controle de acesso obrigatório TrustedBSD e partes da estrutura SELinux para Darwin. Foi incorporado ao Mac OS X 10.5.
O projeto Darbat é um porto experimental de Darwin para a família de micronúcleos L4. Ele tem como objetivo ser binário compatível com os binários darwinianos existentes.
O projeto Darling é uma camada de compatibilidade para a execução de binários macOS em sistemas Linux. Usa algum código fonte de Darwin.
Existem vários projetos que se concentram no suporte ao driver: por exemplo, drivers wireless, drivers para NIC, drivers de modem, leitores de cartão, e os sistemas de arquivos ext2 e ext3.
Ver também
A/UX
mkLinux
OSF/1
Ligações externas
Darwin Releases na Apple Developer Connection
Darwin Build Number List
Darwin Source Repository na SourceForge
Hexley, the Darwin mascot
PureDarwin.org
Apple
BSD | 5,561 |
696 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Dam%C3%A3o | Damão | Damão (; ) é uma cidade da Índia, capital do território da União de Dadrá e Nagar Aveli e Damão e Diu. Até 1961 foi sede de distrito do antigo Estado Português da Índia. Tem 72 km² e cerca de 191.173 habitantes (2011).
Situada na costa do golfo de Cambaia, era um dos três concelhos que constituíam o distrito. Dadrá e Nagar-Aveli (enclaves no território indiano) eram os outros dois concelhos de Damão. O antigo concelho de Damão era constituído pelas freguesias de Damão Grande (Moti Daman), Damão Pequeno (Nani Daman) e Sé.
O primeiro contacto dos portugueses com Damão deu-se em 1523, quando chegaram ali os navios de Diogo de Melo. Em 1534, o vice-Rei D. Nuno da Cunha enviou António Silveira arrasar os baluartes mouriscos de Damão, por saber que se situavam ali os estaleiros e as demais instalações necessárias ao apetrechamento das frotas islâmicas que vinham dar combate às armadas portuguesas. Também seria enviado a Damão o capitão-mor Martim Afonso de Sousa, para bombardear e destruir as fortificações islâmicas. Mas só em 1559 viria a ser definitivamente tomada a cidade de Damão, pelo Vice-rei D. Constantino de Bragança.
A zona do Pequeno Damão, na margem direita do rio Damanganga, foi ocupada em 1614. Sucessos e insucessos das guerras locais, em que se destacam as lutas contra os sidis (mercenários abissínios) e com os maratas, levaram à perda de territórios de Baçaim, no antigo Reino de Cambaia (Sultanato de Guzarate). Nas mãos dos portugueses, desde as lutas do rei de Cambaia com os mogores, Baçaim passará para a posse dos maratas em 1739.
E, no ano seguinte, será a vez de Chaúl cair em poder dos mesmos maratas. Entretanto, muitas vilas e aldeias serão perdidas pelos Portugueses, até que, pelo auxílio militar que estes deram a Madeva Pradan, detentor do trono, contra o príncipe Ragobá que, aliado aos ingleses, pretendia derrubar o peshwá e ocupar o seu lugar, Portugal receberia, pelo Tratado de 1780, como restituição, 72 aldeias correspondentes a territórios outrora perdidos. E com essas aldeias se formaram os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli.
Em 18 de dezembro de 1961 o distrito português de Damão foi invadido e ocupado pelas tropas da União Indiana e incorporado no território de Damão e Diu. Desde 2020 é a capital do território de Dadrá e Nagar Aveli e Damão e Diu.
Damao | 10,073 |
697 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Diu | Diu | Diu (antigamente grafada Dio) é uma cidade e sede de distrito que pertence ao território de Dadrá e Nagar Aveli e Damão e Diu, da Índia. Fez parte do antigo Estado Português da Índia até que, em 1961, foi anexado pela Índia.
O território de Diu possui uma área de 40 km² e situa-se na península indiana de Guzerate e é composto pela ilha de Diu (separada da península pelo estreito rio Chassis e que mais propriamente pode ser considerado um braço de mar) e pelos pequenos enclaves continentais de Gogolá e Simbor.
História
Diu era uma cidade de grande movimento comercial quando os portugueses chegaram à Índia. Em 1513, tentaram os portugueses estabelecer ali uma feitoria, mas as negociações não tiveram êxito. Em 1531 a tentativa de conquista levada a efeito por D. Nuno da Cunha também não foi bem sucedida. No entanto, Diu veio a ser oferecida aos portugueses em 1535 como recompensa pela ajuda militar que estes deram ao sultão Bahadur Xá de Guzerate, contra o Grão-Mogol de Deli. Assim, cobiçada desde os tempos de Tristão da Cunha e de Afonso de Albuquerque, e depois das tentativas fracassadas de Diogo Lopes de Sequeira, em 1521, de Nuno da Cunha em 1523, Diu foi oferecida aos portugueses, que logo transformaram a velha fortaleza em castelo português.
Arrependido da sua generosidade, Bahadur Xá pretendeu reaver Diu, mas foi vencido e morto pelos portugueses, seguindo-se um período de guerra entre estes e a gente do Guzerate que, em 1538, veio pôr cerco a Diu. Coja Sofar, senhor da Cambaia, aliado aos turcos de Sulimão Paxá, tendo-se, então, deparado com a heroica resistência de António Silveira. Um segundo cerco será depois imposto a Diu, pelo mesmo Coja Sofar, em 1546, saindo vencedores os portugueses, comandados em terra por D. João de Mascarenhas e, no mar, por D. João de Castro. Pereceram nesta luta o próprio Coja Sofar e D. Fernando de Castro (filho do vice-rei português).
Depois deste segundo cerco, Diu foi de tal modo fortificada que pôde resistir, mais tarde, aos ataques dos árabes de Mascate e dos holandeses (nos finais do ). A partir do , declinou a importância estratégica de Diu, que veio a ficar reduzida a museu ou marco histórico da sua grandeza comercial e estratégica de antigo baluarte nas lutas entre as forças islâmicas do Oriente e as cristãs do Ocidente.
Diu permaneceu na posse dos portugueses desde 1535 até 1961, vindo a cair na posse das tropas da União Indiana, que invadiram todo o antigo Estado Português da Índia, no tempo de Nehru.
Ver também
Lista de governadores, capitães e castelões de Diu
Cerco de Diu
Forte de Santo António de Simbor
Aeroporto de Diu
Ligações externas
Diu, a ilha da sedução. www.almadeviajante.com
Liuro primeyro [-segundo] do cerco de Diu que os Turcos poseram à fortaleza de Diu, Coimbra, 1556, na Biblioteca Nacional de Portugal
Antigos territórios de Portugal | 11,004 |
702 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito%20de%20Beja | Distrito de Beja | O distrito de Beja é um distrito português, pertencente à província tradicional do Baixo Alentejo. Limita a noroeste com o distrito de Setúbal, a norte com o distrito de Évora, a leste com a província de Huelva (Espanha), a sul com o distrito de Faro e a oeste com o oceano Atlântico. Tem uma área de (o maior distrito português) e uma população residente de (2021). A sede do distrito é a cidade com o mesmo nome.
Subdivisões
Municípios
O distrito compõe-se nos seguintes catorze municípios:
Na atual divisão principal do país, o distrito encontra-se totalmente incluído na região do Alentejo. Relativamente a subregiões, a subregião do Baixo Alentejo inclui 13 concelhos, e o concelho de Odemira pertence à subregião do Alentejo Litoral. Em resumo:
Região Alentejo
Alentejo Litoral
Odemira
Baixo Alentejo
Aljustrel
Almodôvar
Alvito
Barrancos
Beja
Castro Verde
Cuba
Ferreira do Alentejo
Mértola
Moura
Ourique
Serpa
Vidigueira
Cidades
Beja
Moura
Serpa
Vilas
Aljustrel
Almodôvar
Alvito
Amareleja (Moura)
Barrancos
Beringel (Beja)
Castro Verde
Cuba
Ferreira do Alentejo
Mértola
Odemira
Ourique
Pias (Serpa)
São Teotónio (Odemira)
Vidigueira
Vila Nova de Milfontes (Odemira)
Vila Nova de São Bento (Serpa)
Messejana (Aljustrel)
Entradas (Castro Verde)
Casével (Castro Verde)
Panóias (Ourique)
Garvão (Ourique)
População
* População residente; ** População presente (1900-1950)
Geografia física
O distrito de Beja corresponde à metade sul da planície alentejana, irrigada por cursos de água em geral pequenos e que quase secam (ou secam mesmo) no verão, e pontuada aqui e ali por serras baixas e pouco inclinadas.
O principal acidente do distrito é o vale do rio Guadiana, que atravessa de norte para sul a sua parte oriental, separando a planície principal de um território entre o rio e a fronteira espanhola que, conjuntamente com as serras algarvias que limitam o distrito a sul (Serra de Monchique, Serra do Caldeirão e Serra de Espinhaço de Cão) são as áreas mais acidentadas e de maior altitude do distrito: A Serra da Adiça e os primeiros contrafortes da Serra Morena espanhola ultrapassam os de altitude. Para além destas elevações, só a Serra do Cercal, no limite com o distrito de Setúbal perto de Vila Nova de Milfontes e a Serra do Mendro no limite com o distrito de Évora, a norte da Vidigueira são dignas de nota, atingindo e de altitude, respetivamente.
Na rede hidrográfica, para além do Guadiana e dos seus muitos mas pouco caudalosos afluentes, há duas outras bacias hidrográficas relevantes: a do Rio Sado, que nasce no distrito, nas imediações de Ourique e se dirige para o distrito de Setúbal, e a do rio Mira, que nasce na serra do Caldeirão e vai desaguar no Atlântico junto a Vila Nova de Milfontes. Além destas redes, penetram também no distrito partes da bacia hidrográfica do rio Arade, cuja nascente é muito próxima da do Mira mas se dirige para o Algarve e da Ribeira de Seixe, cujo vale serve de fronteira com o Distrito de Faro. Ficam no distrito de Beja algumas barragens de grandes dimensões, nomeadamente a maior do país, a Barragem do Alqueva (Rio Guadiana, partilhada com o distrito de Évora e com Espanha), a barragem do Chança (rio Chança, partilhada com Espanha), barragem de Santa Clara (rio Mira), a barragem do Monte da Rocha (rio Sado) a barragem do Roxo (ribeira do Roxo) e a barragem de Odivelas (ribeira de Odivelas).
A costa é rochosa e estende-se quase em linha recta de norte para sul, sendo os principais acidentes a embocadura do Mira e o Cabo Sardão.
Política
Eleições legislativas
Eleições autárquicas
Abaixo encontra-se uma tabela com o partido pelo qual foram eleitos os presidentes das 14 câmaras do distrito de Beja desde 1976. É de destacar a FEPU/APU/CDU como uma grande força autárquica do distrito, que chegou a ter 13 das 14 câmaras e foi a primeira força durante os primeiros 25 anos de eleições autárquicas. A partir do início do milénio, no entanto, o PS claramente superou os resultados dos comunistas e verdes, tendo atualmente 10 das 14 câmaras. Destaca-se, por último, a existência do bastião comunista de Serpa, e também a câmara de Almodôvar, por ser a única nunca pertencente às coligações lideradas pelo PCP.
Legenda:
FEPU - Frente Eleitoral Povo Unido
APU - Aliança Povo Unido
CDU - Coligação Democrática Unitária
PS - Partido Socialista
PSD - Partido Social Democrata
IND - Grupo de Cidadãos
Património
Lista de património edificado no distrito de Beja | 32,253 |
703 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito%20de%20Braga | Distrito de Braga | O distrito de Braga é um distrito português pertencente à província tradicional do Minho. Limita a norte com o distrito de Viana do Castelo e com Espanha, a leste com o distrito de Vila Real, e a sul com o distrito do Porto. A oeste com o oceano Atlântico. Tem uma área de (16.º maior distrito português) e uma população residente de (2021). A sede do distrito é a cidade com o mesmo nome.
Subdivisões
O distrito de Braga subdivide-se nos seguintes catorze municípios:
Na atual divisão principal do país, o distrito encontra-se integrado na região do Norte. No seu território existem duas subregiões, o Cávado, a norte, e o Ave, a sul. Em resumo:
Região do Norte
Ave
Cabeceiras de Basto
Celorico de Basto
Fafe
Guimarães
Póvoa de Lanhoso
Vieira do Minho
Vila Nova de Famalicão
Vizela
Cávado
Amares
Barcelos
Braga
Esposende
Terras de Bouro
Vila Verde
População
Freguesias com menos de 100 habitantes
Gontim (Fafe), 89 habitantes
Gondomar (Vila Verde), 71 habitantes
Brufe (Terras de Bouro), 50 habitantes
Geografia Física
O distrito de Braga é um território bastante acidentado, dominado por altitudes elevadas a leste, junto à fronteira espanhola e aos limites com o distrito de Vila Real, e descendo até ao litoral ocidental, num relevo cortado pelos vales de vários rios que correm de nordeste para sudoeste.
As altitudes maiores encontram-se na Serra Amarela (1361m) e a serra do Gerês, que tem a sua maior altitude, , precisamente no limite com o distrito de Vila Real e muito perto da fronteira espanhola, e na parte leste encontra-se a serra da Cabreira, que atinge no Alto do Talefe, dentro do distrito de Braga, de altitude.
O vale do rio Cávado é o acidente mais importante relacionado com a rede hidrográfica, cortando totalmente o distrito e dividindo as suas montanhas em duas áreas distintas. O Cávado entra no distrito a leste, onde serve de fronteira com o distrito de Vila Real ao longo de alguns quilómetros, e vai desaguar no Oceano Atlântico no litoral de Esposende, a oeste, a única zona do distrito relativamente plana. A bacia hidrográfica do Cávado inclui ainda o vale do rio Homem, que nasce na serra do Gerês e desagua no Cávado na confluência dos concelhos de Braga, Vila Verde e Amares.
A sul do Cávado, outro vale importante é o do rio Ave, rio que nasce no concelho de Vieira do Minho, na serra da Cabreira, e atravessa a sua parte sul, servindo de fronteira com o distrito do Porto ao longo de quase . Um dos afluentes do Ave, o rio Vizela, continua o limite sul do distrito ao longo de outros . O rio Este, que passa na capital do distrito, é outro afluente relevante do Ave.
A norte, é o vale do rio Neiva, rio que nasce na Serra do Oural, em Vila Verde, a servir de limite com o distrito de Viana do Castelo ao longo de toda a parte baixa do curso deste rio (bastante curto). Por outro lado, a parte sueste do distrito faz parte da bacia hidrográfica do rio Douro, por intermédio do rio Tâmega, que serve de fronteira com o distrito de Vila Real e com o distrito do Porto, e de alguns dos seus afluentes de pequenas dimensões.
Há várias barragens no distrito. A mais conhecida é a barragem de Vilarinho das Furnas, no curso superior do rio Homem. No baixo Cávado situa-se a barragem de Penide e no alto Cávado ficam a barragem da Caniçada, a barragem de Salamonde e a barragem da Venda Nova. No rio Ave ficam algumas barragens pequenas e a barragem do Ermal, bastante maior.
A costa, incluída por inteiro no concelho de Esposende, é arenosa.
Património
Lista de património edificado no distrito de Braga
Governadores Civis
Francisco Saraiva da Costa de Refóios, 1.º barão de Ruivós (19 de setembro de 1833 — 25 de julho de 1835)
José Teixeira de Aguilar (25 de julho de 1835 — 28 de novembro de 1835)
Manuel de Castro Pereira (5 de dezembro de 1835 — 7 de maio de 1836)
José Teixeira de Aguilar (7 de maio de 1836 — 7 de setembro de 1836)
José Manuel Teixeira de Carvalho (6 de dezembro de 1836 — 1 de junho de 1838)
João de Vasconcelos e Sá (1 de junho de 1838 — 22 de outubro de 1841)
Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado, 1.º barão de Vila Pouca (26 de fevereiro de 1842 — 19 de dezembro de 1843)
João de Melo Pereira de Sampaio (2 de julho de 1842 — 11 de julho de 1842)
António de Nápoles Vaz Vieira de Melo e Alvim (11 de julho de 1842 — 27 de janeiro de 1844)
João Elias da Costa Faria (27 de janeiro de 1844 — 29 de maio de 1846)
Francisco Lopes de Azevedo Velho (29 de maio de 1846 — 6 de julho de 1846)
Silvério da Silva e Castro (6 de julho de 1846 — 6 de outubro de 1846)
Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado, 1.º barão de Vila Pouca (6 de outubro de 1846 — 8 de novembro de 1847)
Nicolau de Arrochela Vieira de Almeida do Sodré, 1.º conde de Arrochela (8 de novembro de 1847 — 3 de janeiro de 1848)
Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado, 1.º visconde e 1.º conde de Vila Pouca (3 de janeiro de 1848 — 3 de maio de 1851)
António Clemente de Sousa Gião (3 de maio de 1851 — 15 de setembro de 1852)
Gonçalo Pereira da Silva de Sousa e Meneses, 1.º visconde e 1.º conde de Bertiandos (15 de setembro de 1852 — 2 de junho de 1856)
Custódio Rebelo de Carvalho (22 de julho de 1856 — 21 de janeiro de 1857)
D. Rodrigo José António de Meneses, 3.º conde de Cavaleiros (22 de abril de 1857 — 29 de setembro de 1857)
João Silvério de Amorim da Guerra Quaresma (6 de abril de 1858 — 20 de junho de 1859)
Bernardo Correia Leite de Morais Almada e Castro, 2.º visconde e 1.º conde da Azenha (20 de junho de 1859 — 8 de agosto de 1860)
António Maria José de Melo Silva César e Menezes, 8.º conde e 3.º marquês de Sabugosa, 10.º conde de São Lourenço, 10.º alferes-mor do Reino (15 de dezembro de 1860 — 19 de março de 1862)
Francisco de Campos de Azevedo Soares, 1.º visconde e 1.º conde de Carcavelos (14 de abril de 1862 — 17 de setembro de 1862)
José Gerardo Ferreira Passos (17 de setembro de 1862 — 20 de outubro de 1862)
Januário Correia de Almeida, 1.º barão, 1.º visconde e 1.º conde de São Januário (20 de outubro de 1862 — 26 de dezembro de 1864)
José Joaquim Vieira (15 de fevereiro de 1865 — 8 de setembro de 1865)
João Machado Pinheiro Correia de Melo, 1.º Visconde de pindela (8 de setembro de 1865 — 13 de janeiro de 1868)
José Joaquim Vieira (13 de janeiro de 1868 — 1 de junho de 1869)
Jerónimo Barbosa de Abreu e Lima (25 de novembro de 1869 — 23 de maio de 1870)
D. José de Meneses e Távora de Rappach da Silveira e Castro, 2.º marquês de Valada, representante do título de conde de Caparica (25 de maio de 1870 — 23 de junho de 1870)
António José Teixeira (23 de junho de 1870 — 30 de agosto de 1870)
António Alves Carneiro (5 de setembro de 1870 — 4 de fevereiro de 1871)
José Barbosa da Costa e Lemos (14 de fevereiro de 1871 — 12 de outubro de 1871)
Luís Cardoso Martins da Costa de Macedo, 1.º visconde e 1.º conde de Margaride (12 de outubro de 1871 — 15 de março de 1877)
D. José de Meneses e Távora de Rappach da Silveira e Castro, 2.º marquês de Valada, representante do título de conde de Caparica (5 de abril de 1877 — 6 de fevereiro de 1878)
Joaquim Cabral de Noronha e Meneses (6 de fevereiro de 1878 — 6 de junho de 1879)
João Machado Pinheiro Correia de Melo, 1.º visconde de Pindela (5 de junho de 1879 — 28 de março de 1881)
Jerónimo da Cunha Pimentel (7 de abril de 1881 — 11 de dezembro de 1884)
D. José de Meneses e Távora de Rappach da Silveira e Castro, 2.º marquês de Valada, representante do título de conde de Caparica (11 de dezembro de 1884 — 21 de janeiro de 1886)
Joaquim Peito de Carvalho (21 de janeiro de 1886 — 18 de fevereiro de 1886)
António Alberto da Rocha Páris (25 de fevereiro de 1886 — 8 de outubro de 1886)
João Machado Pinheiro Correia de Melo, 1.º visconde de Pindela (8 de outubro de 1886 — 20 de dezembro de 1888)
Joaquim Pais de Abranches (20 de dezembro de 1888 — 13 de janeiro de 1890)
Jerónimo da Cunha Pimentel (18 de janeiro de 1890 — 6 de novembro de 1890)
José Frederico do Casal Ribeiro, 2.º conde de Casal Ribeiro (9 de novembro de 1890 — 18 de junho de 1891)
Jerónimo da Cunha Pimentel (18 de junho de 1891 — 28 de janeiro de 1892)
Adriano Carneiro de Sampaio (28 de janeiro de 1892 — 24 de novembro de 1892)
António Bernardo da Fonseca Moniz (12 de janeiro de 1893 — 9 de março de 1893)
José de Abreu do Couto de Amorim de Novais (9 de março de 1893 — 1 de setembro de 1894)
Manuel Inácio de Amorim de Novais Leite (12 de setembro de 1894 — 31 de janeiro de 1895)
João Feio de Magalhães Coutinho, 1.º barão e 1.º visconde da Torre (31 de janeiro de 1895 — 4 de fevereiro de 1897)
Alexandre Ferreira Cabral Pais do Amaral (11 de fevereiro de 1897 — 24 de março de 1898)
Álvaro de Mendonça Machado de Araújo (24 de março de 1898 — 23 de junho de 1900)
João Feio de Magalhães Coutinho, 1.º barão e 1.º visconde da Torre (2 de julho de 1900 — 1 de junho de 1901)
D. Tomás Maria de Almeida Manoel de Vilhena, 8.º conde de Vila Flor (1 de junho de 1901 — 18 de outubro de 1904)
João Lobo Machado Cardoso do Amaral de Menezes, 2.º visconde de Paço de Nespereira (20 de outubro de 1904 — 22 de março de 1906)
D. Tomás Maria de Almeida Manoel de Vilhena, 8.º conde de Vila Flor (23 de março de 1906 — 17 de maio de 1906)
Manuel Inácio de Amorim de Novais Leite (5 de junho de 1906 — 15 de fevereiro de 1908)
Francisco Botelho de Carvalho de Oliveira Leite (22 de fevereiro de 1908 — 21 de janeiro de 1909)
Francisco de Campos de Azevedo Soares, 1.º visconde e 1.º conde de Carcavelos (17 de março de 1909 — 2 de março de 1910)
Álvaro de Azeredo Leme Pinto e Melo (16 de abril de 1910 — 25 de junho de 1910)
Francisco Botelho de Carvalho de Oliveira Leite (27 de junho de 1910 — 5 de outubro de 1910)
Manuel Joaquim Rodrigues Monteiro (5 de outubro de 1910 — 7 de junho de 1913)
João Lopes Soares (19 de junho de 1913 — 6 de abril de 1914)
José Joaquim Álvares Pedreira de Moura (6 de abril de 1914 — 17 de agosto de 1914)
Carlos Augusto de Oliveira (26 de setembro de 1914 — 5 de fevereiro de 1915)
Miguel de Abreu (5 de fevereiro de 1915 — 24 de maio de 1915)
Eduardo Cerqueira Machado da Cruz (24 de maio de 1915 — 13 de dezembro de 1917)
Miguel de Abreu (13 de dezembro de 1917 — 9 de fevereiro de 1918)
José Feria Dordio Teotónio (9 de fevereiro de 1918 — 13 de dezembro de 1918)
Francisco de Pádua (13 de dezembro de 1918 — 28 de fevereiro de 1919)
Alberto Álvaro Dias Pereira (28 de fevereiro de 1919 — 16 de junho de 1919)
João Caetano da Fonseca e Lima (16 de junho de 1919 — 9 de novembro de 1920)
João Rodrigues Baptista (9 de novembro de 1920 — 20 de maio de 1921)
Armindo de Freitas Ribeiro de Faria (20 de maio de 1921 — 20 de junho de 1921)
Alberto David Branquinho (20 de junho de 1921 — 13 de agosto de 1921)
Artur Brandão (11 de outubro de 1921 — 14 de novembro de 1921)
José Leão Ferreira da Silva (14 de novembro de 1921 — 9 de novembro de 1922)
João Carrington Simões da Costa (15 de fevereiro de 1923 — 16 de novembro de 1923)
Artur Brandão (20 de novembro de 1923 — 17 de dezembro de 1923)
Vasco Martins Morgado (27 de dezembro de 1923 — 9 de agosto de 1924)
João Evangelista de Meneses Pinheiro (16 de agosto de 1924 — 18 de setembro de 1925)
Miguel Augusto Alves Ferreira (18 de setembro de 1925 — 8 de fevereiro de 1926)
João Evangelista de Meneses Pinheiro (8 de fevereiro de 1926 — 11 de junho de 1926)
José Ribeiro Barbosa (26 de junho de 1926 — 18 de abril de 1929)
Francisco Filipe dos Santos Caravana (18 de abril de 1929 — 27 de fevereiro de 1930)
Alfredo Balduíno de Seabra (12 de março de 1930 — 10 de dezembro de 1930)
Artur José dos Santos (10 de dezembro de 1930 — 1 de agosto de 1931)
Domingos José Soares (1 de agosto de 1931 — 1 de novembro de 1932)
José Gomes de Matos da Graça (1 de novembro de 1932 — 30 de novembro de 1933)
Lucínio Gonçalves Presa (2 de fevereiro de 1934 — 17 de dezembro de 1938)
José Joaquim de Oliveira (26 de janeiro de 1939 — 9 de outubro de 1944)
Henrique Cabral de Noronha e Meneses (9 de outubro de 1944 — 25 de fevereiro de 1947)
Armando Neri Teixeira (18 de março de 1947 — 2 de julho de 1957)
António Eduardo de Azevedo Abranches (4 de julho de 1957 — 3 de outubro de 1961) (faleceu)
Francisco Leandro Pessoa Monteiro (2 de fevereiro de 1962 — 30 de novembro de 1968)
António Maria dos Santos da Cunha (30 de novembro de 1968 — 26 de março de 1972 (faleceu)
Francisco Carlos Leite Dourado (18 de abril de 1972 — 19 de março de 1973)
Manuel Augusto de Ascenção de Azevedo (19 de março de 1973 — 25 de abril de 1974)
José de Araújo Pereira de Sampaio (30 de setembro de 1974 — 18 de outubro de 1975)
Eurico da Silva Teixeira de Melo (18 de outubro de 1975 — 22 de setembro de 1976)
Parcídio de Matos Summavielle Soares (23 de setembro de 1976 — 14 de fevereiro de 1980)
Fernando Alberto Ribeiro da Silva (21 de fevereiro de 1980 — 16 de dezembro de 1982)
Artur de Sousa Lopes (11 de julho de 1983 — 16 de dezembro de 1985)
Fernando Alberto de Matos Ribeiro da Silva (16 de dezembro de 1985 — 16 de novembro de 1995)
Pedro Bacelar de Vasconcelos (16 de novembro de 1995 — 11 de novembro de 1999)
Fernando Ribeiro Moniz (11 de novembro de 1999 — 13 de setembro de 2001)
José Marcelino da Costa Pires (13 de setembro de 2001 — 14 de maio de 2002)
Luís Cirilo Amorim de Campos Carvalho (14 de maio de 2002 — 29 de abril de 2003)
José de Araújo (29 de abril de 2003 — 5 de abril de 2005)
Fernando Ribeiro Moniz (5 de abril de 2005 — 8 de setembro de 2011)
Eleições
O distrito de Braga é o único em Portugal, desde as primeiras eleições para a Assembleia da República em 1976 até às mais recentes em 2022, onde o partido mais votado no círculo acabou por ser sempre o vencedor das legislativas.
Desde 1976, sempre que o PS venceu no círculo de Braga acabou por vencer as eleições e o mesmo aconteceu com o PSD - quando concorreu sozinho ou coligado.
Os socialistas venceram as eleições legislativas de 1976, 1983, 1995, 1999, 2005, 2009, 2019 e 2022 e, em todos estes anos, venceu o "cor-de-rosa" no distrito de Braga. Já o PSD venceu em 1979, 1980 e em 2015 - em pré-coligação - e em 1985, 1987, 1991, 2002 e 2011, sendo que em todas estas eleições o distrito de Braga foi "laranja".
Política
Eleições legislativas
Ligações externas
Governo civil do distrito de Braga
Lista completa de governadores civis (1835-2008) | 53,239 |
704 | https://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito%20de%20Bragan%C3%A7a | Distrito de Bragança | O distrito de Bragança é um distrito do nordeste de Portugal, pertencente à província tradicional de Trás-os-Montes e Alto Douro. Limita a norte e a leste com Espanha (províncias de Ourense, Zamora e Salamanca), a sul com o distrito da Guarda e com o distrito de Viseu e a oeste com o distrito de Vila Real. A sua área soma , sendo assim o quinto maior distrito português, habitado por uma população residente de (2021). A sede do distrito é a cidade de Bragança.
Subdivisões
Municípios
O distrito de Bragança subdivide-se nos seguintes doze municípios:
Na atual divisão principal do país, o distrito encontra-se integrado na Região Norte e dividido em duas subregiões, ambas integrando também concelhos de outros distritos: Alto Trás-os-Montes e Douro. Em resumo:
Região Norte
Alto Trás-os-Montes
Alfândega da Fé
Bragança
Macedo de Cavaleiros
Miranda do Douro
Mirandela
Mogadouro
Vimioso
Vinhais
Douro
Carrazeda de Ansiães
Freixo de Espada à Cinta
Torre de Moncorvo
Vila Flor
Cidades
Bragança
Mirandela
Macedo de Cavaleiros
Miranda do Douro
Vilas
Alfândega da Fé
Argozelo (Vimioso)
Carrazeda de Ansiães
Freixo de Espada à Cinta
Izeda (Bragança)
Mogadouro
Sendim (Miranda do Douro)
Torre de Dona Chama (Mirandela)
Torre de Moncorvo
Vila Flor
Vimioso
Vinhais
População
* População residente; ** População presente (1900-1950)
Freguesias com mais de 1000 habitantes
Sé (Bragança), 17913 habitantes
Mirandela, 11852 habitantes
Macedo de Cavaleiros, 6257 habitantes
Santa Maria (Bragança), 3940 habitantes
Mogadouro, 3549 habitantes
Torre de Moncorvo, 2891 habitantes
Vila Flor, 2269 habitantes
Miranda do Douro, 2254 habitantes
Vinhais, 2245 habitantes
Freixo de Espada à Cinta, 2188 habitantes
Alfândega da Fé, 2055 habitantes
Carrazeda de Ansiães, 1701 habitantes
Sendim (Miranda do Douro), 1366 habitantes
Carvalhais (Mirandela), 1299 habitantes
Vimioso, 1285 habitantes
Samil (Bragança), 1246 habitantes
Torre de Dona Chama (Mirandela), 1105 habitantes
Izeda (Bragança), 1006 habitantes
Freguesias com menos de 100 habitantes
Calvelhe (Bragança), 97 habitantes
Avantos (Mirandela), 96 habitantes
Navalho (Mirandela), 96 habitantes
Cicouro (Miranda do Douro), 95 habitantes
Edroso (Macedo de Cavaleiros), 95 habitantes
Souto da Velha (Torre de Moncorvo), 93 habitantes
Ribalonga (Carrazeda de Ansiães), 92 habitantes
Saldonha (Alfândega da Fé), 92 habitantes
Sendim da Ribeira (Alfândega da Fé), 92 habitantes
Sendim da Serra (Alfândega da Fé), 91 habitantes
Vila Boa (Mirandela), 90 habitantes
Freixeda (Mirandela), 89 habitantes
Soeira (Vinhais), 87 habitantes
Brunhosinho (Mogadouro), 86 habitantes
Fresulfe (Vinhais), 83 habitantes
Vila Verde (Mirandela), 81 habitantes
Vales (Alfândega da Fé), 78 habitantes
Castanheira (Mogadouro), 77 habitantes
Rio de Onor (Bragança), 76 habitantes
Vilar de Rei (Mogadouro), 72 habitantes
Vilarinho do Monte (Macedo de Cavaleiros), 67 habitantes
Vale Peseiro (Alfândega da Fé), 64 habitantes
Alvaredos (Vinhais), 62 habitantes
Santa Cruz (Vinhais), 57 habitantes
Santa Combinha (Macedo de Cavaleiros), 56 habitantes
Mofreita (Vinhais), 54 habitantes
Burga (Macedo de Cavaleiros), 53 habitantes
Pombares (Bragança), 41 habitantes
São Jomil (Vinhais), 38 habitantes
Soutelo Mourisco (Macedo de Cavaleiros), 31 habitantes
Algumas das freguesias, acima referidas, poderão, a partir de 2013, passado a pertencer a Uniões de Freguesias.
Geografia
O distrito é composto por duas regiões distintas. Mais a norte, as regiões de maior altitude constituem a Terra Fria Transmontana, onde a paisagem é dominada pelos baixos declives do planalto transmontano; a sul, fica a Terra Quente Transmontana, de clima mais suave, marcada pelo vale do rio Douro e pelos vales dos seus afluentes. Em nível geral o distrito de Bragança é um distrito bastante montanhoso dominado por serras, montes e planaltos.
É, aliás, o Douro que constitui a característica geográfica mais importante, visto que serve de limite ao distrito ao longo de toda a sua fronteira sul, e da maior parte da fronteira oriental, até à extremidade nordeste do território português. É no vale do Douro que se situam os terrenos de menor altitude do distrito, que se situam quase todos acima dos , com exceção dos vales dos rios principais e da região de Mirandela.
Além do Douro, os principais rios do distrito correm de norte para sul ou de nordeste para sudoeste, e fazem todos parte da bacia hidrográfica do Douro. Os principais são o rio Tua, que nasce em Mirandela da junção dos rios Tuela e Rabaçal e banha a zona ocidental do distrito, e o rio Sabor, que também nasce em Espanha, mas que corre através da zona oriental do distrito. Ambos têm uma rede de afluentes significativa, sendo que o Tuela recebe as águas do rio Baceiro, o Rabaçal as do rio Mente, e o Sabor as do Rio Azibo.
Entre os vales dos rios, erguem-se serras. A serra da Nogueira separa os vales do Tuela e do Sabor, erquendo-se até aos . Mais a sul, fica a serra de Bornes, nos concelhos de Macedo de Cavaleiros e Alfândega da Fé que separa o Tua do Sabor, subindo até aos . A leste, a serra do Mogadouro é pouco mais que uma série de colinas que separam o Sabor do Douro, mas mesmo assim chega aos . A norte, junto à fronteira espanhola, erguem-se as serras maiores: a serra da Coroa que sobe até aos de altitude a norte de Vinhais, e a serra de Montesinho que se prolonga por território espanhol, que utltrapassa os de altitude.
A maior parte das barragens do distrito situa-se no Douro. São elas, de jusante para montante, a barragem da Valeira, a barragem do Pocinho, a barragem de Saucelle (já no Douro Internacional), a barragem de Aldeiadávila, a barragem da Bemposta, a barragem do Picote e a barragem de Miranda do Douro. Nos afluentes do Douro, existem as barragens do Azibo, Nuzedo de Baixo e de Rebordelo, estas duas bem próximas uma da outra, no extremo sul do concelho de Vinhais.
Montanhas por Altitude (metros)
Lombada Grande - 1486 - Serra de Montesinho (Bragança)
Nogueira - 1320 - Serra da Nogueira (Bragança)
Coroa - 1273 - Serra da Coroa (Vinhais)
Pena Mourisca - 1231 - Serra da Nogueira (Macedo de Cavaleiros)
Bornes - 1199 - Serra de Bornes (Macedo de Cavaleiros/Alfândega da Fé)
Picaraúnha - 1176 - Serra de Bornes (Macedo de Cavaleiros/Alfândega da Fé)
Igrejinha - 1147 - Serra do Coelho (Vinhais)
Cerro da Esculqueira - 1145 - Serra da Esculqueira (Vinhais)
Coroto - 1121 - Serra de Montesinho (Bragança)
Lomba Rasa - 1074 - Serra das Barreiras Brancas (Bragança)
Srª da Assunção - 997 - Serra de Mogadouro (Mogadouro)
Cabeça Velha - 981 - Planalto de Entre Sabor e Maçãs (Bragança)
Variz - 970 - Serra de Mogadouro (Mogadouro)
Pinela - 965 - Serra da Nogueira (Bragança)
Agra - 958 - Planalto de Entre Sabor e Maçãs (Bragança)
Deilão - 958 - Planalto de Entre Sabor e Maçãs (Bragança)
Mó - 955 - Serra de Mourigo (Vimioso)
Serro - 931 - Serra de Montesinho (Bragança)
Arrasca - 923 - Alto da Arrasca (Vinhais)
Vilar do Rei - 922 - Serra de Mogadouro (Mogadouro)
Figueira - 918 - Serra de Mogadouro (Serra da Figueira)
Reboredo - 913 - Serra de Reboredo (Torre de Moncorvo)
Mua - 902 - Serra de Reboredo (Torre de Moncorvo)
Srª da Graça - 898 - Serras de Ansiães (Carrazeda de Ansiães)
Corujas - 894 - Serra de Corujas (Macedo de Cavaleiros)
Forca - 891 - Serra da Coroa (Vinhais)
Lagoaça - 884 - Serra de Mogadouro/ Serra de Reboredo (Freixo de Espada à Cinta)
Fonte Longa - 883 - Serras de Ansiães (Carrazeda de Ansiães)
Cabrões - 882 - Serra da Coroa (Vinhais)
Carpinteiro - 870 - Serras de Ansiães (Carrazeda de Ansiães/Torre de Moncorvo)
Gajope - 848 - Serra de Mogadouro (Mogadouro)
Assunção - 847 - Serras de Ansiães (Carrazeda de Ansiães)
Cochicho - 845 - Serra de Reboredo (Torre de Moncorvo)
Cabeço Alto - 843 - Serras de Ansiães (Carrazeda de Ansiães)
Edral - 842 - Alto de Edral (Vinhais)
Moaz - 828 - Serra da Coroa (Vinhais)
Porrinhela - 823 - Serra de Reboredo (Freixo de Espada à Cinta)
Faro - 822 - Serra de Faro (Vila Flor)
Turismo
O distrito de Bragança integra em pleno a Região de Turismo do Nordeste Transmontano
Património
Lista de património edificado no distrito de Bragança
Política
Eleições legislativas
Saúde
Hospitais
Hospital de Bragança
Hospital de Mirandela
Hospital de Macedo de Cavaleiros
Transportes
Rodoviário
A4 (Autoestrada Transmontana) - Porto/Matosinhos - Amarante - Túnel do Marão - Vila Real - Mirandela - Bragança - Quintanilha (Bragança)
IP2- Amendoeira (Macedo de Cavaleiros) - Macedo de Cavaleiros - Trancoso - A25 (Celorico da Beira-Guarda) - A23(Guarda-Castelo Branco- Gardete) - Gardete (Nisa) - Portalegre - Estremoz - Évora - Vidigueira - Beja - Castro Verde
IP4
IC5- Pópulo (Murça) - Alijó - Vila Flor - Mogadouro - Duas Igrejas (Miranda do Douro)
Ferroviário
Metro Ligeiro de Mirandela- Cachão (Mirandela) - Mirandela
Linha do Douro- Ermesinde (Valongo) - Peso da Régua - Pinhão (Alijó) - Foz do Tua (Carrazeda de Ansiães) - Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) - Barca d' Alva (Figueira Castelo Rodrigo)
Aéreo
Aeródromo Municipal de Bragança
Aeródromo Municipal de Mirandela
Aeródromo de Mogadouro
Aeródromo de Macedo de Cavaleiros
Ligações externas
Governo Civil de Bragança
Trás-os-Montes | 30,605 |
Subsets and Splits