TÍTULO: Saber Vender LOCAL: Portugal - Porto DATA: 1995 INFORMANTE SEXO: F IDADE: 46 anos ESCOLARIDADE: 9 anos PROFISSÃO: Comerciante OBSERVAÇÕES: A informante tem problemas na articulação da vibrante alveolar. - bom, diz que vende artigos de... -> decoração. - decoração. portanto esta época agora é uma época de grande ocupação para si, não é, -> imensa. não há horas, não, só há um Natal e... tem que se aproveitar esta altura do ano para... deitar cá para fora os produtos. - eh, é também cansativo, não é, -> bastante. em Janeiro descansa-se. - pois. eh, o que eu lhe ia perguntar era o seguinte: eh, portanto isto começa a preparar... muito, com muita antecedência, não é verdade? -> eh, nós começamos a apresentar... artigos de Natal em Setembro, princípios de Setembro. - e para isso teve que os adquirir ainda antes, não é, -> eh, pois. primeiro são importados, eh, e depois fazemos feiras a nível, no Porto e em Lisboa, apresentamos os produtos aos nossos clientes. clientes - só lojas. - ah!... -> que revendemos... para as lojas. - para as lojas. portanto não é uma coisa de, de venda directa ao público? -> não, e depois eu tenho as minhas lojas onde vendo directamente ao público. - sim, já estou a perceber. portanto isso acaba por ocupar o, de facto o... -> ocupa. - uma parte do ano. -> precisava de mais... umas horinhas além das vinte e quatro horas. - e portan[...] -> por vezes. - hum, hum. e agora, eh, po[...], eh, eh, disse-me que importava coisas, não é, -> hum, hum. não sou eu que importo directamente. - não? -> eu trabalho para uma pessoa que importa - que importa -> os artigos. - os artigos. -> Inglaterra, Alemanha. - hum. olhe, e os artigos de decoração, o que é que as pessoas mais compram, quando se trata de decorar uma casa? -> candeeiros. - candeeiros. -> muitos candeeiros. gostam de luz. eu acho. é, é, é, estão, há, há uma fa[...], eu acho que para tudo há fases. eu acho que neste momento as pessoas estão, estão numa de... dar cor à casa - hum, hum. -> dar luz. nós estamos a vender muito bem candeeiros. - e candeeiros de que tipo? -> eh, design diferentes, eh, são, são, eh, eh, candeeiros essencialmente diferentes. - hum, hum. -> e muito réplicas de anos cinquenta. - ah! quer dizer que não é só na música que há essa... -> não. eu acho que... mesmo a nível de moda... e de decoração as pessoas estão a voltar um bocado aos anos cinquenta. - porque será isso? -> eh, saudades. nostalgia dos anos cinquenta, não sei. porque a gente nova também está, está a voltar muito ao, a, a essa época. - pois. -> eu tenho dois filhos jovens e eles ouvem a música que nós ouvíamos. - pois. um certo romantismo, talvez -> romantismo também, sim. - em contraste com, com um certo, uma certa crueza que há agora. -> com a agressividade que há. sim. - pois. e então as pessoas voltam-se um pouco -> voltam mais para o... para o romântico. mais calma, mais tranquilidade. - então isso sugere que não devem ser aqueles grandes lustres de muita luz, não é, -> nada. nada. nada. nem, nem sequer... dão muita luz, esses candeeiros. - pois. -> eu acho que é mais por, por serem bonitos, por serem diferentes. - e... qual é o país que mais produz esse tipo de candeeiros? -> nós, neste momento estamos nós a produzi-los. - aqui em port[...] -> aqui em Portugal. e depois temos outros importados, Filipinas... - Filipinas?! -> Filipinas - quem diria! -> candeeiros com papel reciclado... - ah, ah. -> ferro forjado e papel reciclado. peças... bonitas. - interessante. bom, eu estive recentemente em Cabo Verde e vi que eles faziam coisas de ferro forjado muito bonito também. -> sim, sim. - lá. -> e está outra vez na moda. as pessoas estão, eu acho que as pessoas estão mesmo a voltar para coisas que nós já vimos os nossos pais terem e... - eh, a capacidade criativa também se vai esgotando, não é, -> pois. talvez seja isso também. já não há muito que inventar. - pois. e portanto as pessoas retomam o... -> retomam o, o de antigamente. - hum, hum. e à parte os candeeiros, há assim algum artigo em segundo lugar que as pessoas comprem muito? -> para casa? - para casa. -> para casa... gostam de mudar muitas vezes as peças que têm na cozinha, que eu noto isso, todos os dias se vendem peças para a cozinha. acho que cada vez mais, eh, se vê homens a comprar esse tipo de peças, que era uma coisa que não se via aqui há uns anos atrás. são eles que procuram os... talheres novos, que vieram e que são bonitos e vamos substituir pelos velhos que lá estão. eh, molduras, vendem-se imenso as molduras - espelhos. -> para pôr fotografias. - para pôr fotografias. -> molduras para... - hum. -> para fotos. papel reciclado. mas isso é mais a nível de, já de... papel de carta. - hum, hum. -> as pessoas estão já a começar... a achar que é melhor comprar papel reciclado. - melhor, porque mais bonito ou porque mais...? -> eh, hum, talvez não, não polua tanto o ambiente, pensam eles, eh, é mais bonito. quanto a mim é mais bonito. - também acho. eu também tenho, pessoalmente, também tenho. -> eu pessoalmente acho que é bonito. e talvez porque é moda, não sei. - pois. -> porque isto tudo é um bocado... por ondas. - e a nível de papel de embrulho, também usam papel reciclado? para isso? -> o nosso papel é todo reciclado, só usamos fio reciclado e usamos lacre em todas as prendas. - ah, mas isso é mesmo uma coisa... -> que é uma coisa que... ninguém usa quase. - é uma coisa ab[...] -> é. temos um ritual de embrulho, que agora nesta altura é um bocado complicado, mas nós continuamos a fazer. - e, portanto, o pessoal que trabalha consigo tem que ter uma preparação especial para... tudo is[...]. -> eh, é assim: eu é raro ter gente a trabalhar. tenho lá, está lá o meu marido, e depois nesta altura metemos sempre alguém. eh, tivemos muita sorte que metemos uma rapariga que viveu sempre em Inglaterra, eh, está cá há dois anos em Portugal, ela é do Sri Lanka, ela em dois dias estava a fazer os embrulhos. ficou assim, foi a única rapariga que entrou para lá e que realmente, em muito pouco tempo, aprendeu tudo, fala com os clientes, eh, teve uma adaptação óptima. porque é difícil. esteve lá uma que nem esteve oito dias. porque não sabia embrulhar, não, queimava-se, o lacre não dava, eh, é, tudo tem que ter uma aprendizagem. - claro. -> ela, realmente, olhou, viu, aprendeu. - é preciso ter uma sensibilidade -> e é muito sens[...], é sens[...], é mesmo muito sens[...], ela talvez do sangue indiano que tem - hum, hum. -> ela tem uma sensibilidade muito apurada. - pois. e portanto a clientela... adere a esse, bem, a esse tipo de coisas. -> gosta muito, é. sim, sim, gostam muito. somos bastante elogiados pelo embrulho, pela, pelo atendimento, eh, aqui há uns anos atrás, há dois ou três anos que começámos a fazer esses embrulhos, e havia gente que dizia "ai, olhe, isso é para prenda". porquê? porque levava um fio, eh, e não tinha ar de prenda. - pois. -> agora já não sentimos isso. mesmo a nível de... pessoas mais de idade, que gostava de ver os laçarotes, o brilho no papel, eh, já não se sente isso. por isso acho mesmo que as pessoas estão, estão-se a educar... para uma coisa mais natural. não tanto plástico, tão artificial. - não tanto fogo de vista. -> sim. porque às vezes é, é só mesmo... a embalagem, o interior... - não conta. -> não conta. - pois. é interessante. é, é, é agradável que isso aconteça, não é, -> é.