TÍTULO: Cartografia Portuguesa LOCAL: Portugal - Lisboa DATA: 1989 INFORMANTE SEXO: M IDADE: ESCOLARIDADE: Curso Superior PROFISSÃO: Oficial da Marinha OBSERVAÇÕES: O texto faz parte de uma conferência proferida na Academia da Ciências de Lisboa. -> o Visconde de Santarém foi o primeiro fogacho, no sé[...], há mais de um século, como acabo de dizer, e no início desse século, ou melhor, no final da segunda década deste século, aparece Armando Cortesão. Armando Cortesão é o grande entusiasta, foi membro, desta academia, sócio desta academia, e até ao final da vida aqui veio com muita frequência, dar conta dos seus trabalhos... de investigação. Armando Cortesão publicou, interessou-se, pelo estudo da cartografia... e, portuguesa, do tempo dos descobrimentos, e começou por publicar uma monografia. era a ideia dele, primeiro há que classificar as coisas, juntá-las, saber onde é que estão os mapas, estudá-los, ver como são. ele começou por fazer um trabalho, eh, sobre... os homens, que eram cartógrafos, do século... dezasseis, de meados do século dezasseis, aproximadamente, segunda metade do século dezasseis, um pai e dois filhos. afinal eles são irmãos, hoje sabe-se isso, embora, inicialmente, tivesse havido du[...], dúvidas, sobre as relações entre eles. Armando Cortesão publicou esse trabalho, se não erro, eu estou a citar de cor, em mil novecentos e vinte e oito, mas já acalentava a ideia de percorrer todos os cartógrafos possíveis, portugueses e do século dezasseis, o que veio a dar lugar a um... livro, dois volumes publicados inicialmente pela Seara Nova, quando ele já estava exilado, em Madrid. pode dizer-se que foi um bom exílio, porque deu essa obra, eh, um livro que se intitula, "Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos Quinze e Dezasseis". obra bem conhecida, que ainda hoje é uma fonte de... informação... segura; os lapsos que há nessa obra são pequeníssimos, são... pouco numerosos, Cortesão era um homem... cuidadoso, pelo menos nesse tempo era muito cuidadoso com o que dizia, e essa obra é realmente o que vai lançar, a obra que vai lançar, outras pessoas no mesmo caminho. lança, por exemplo Teixeira da Mota, que também foi, eh, membro, nosso... companheiro nesta casa; lança, António Barbosa; lança Abel Fontoura da Costa, que também passou por esta casa. todos estes homens trabalharam na cartografia, com aspectos diferentes, porque além da classificação e do estudo dos cartógrafos que elaboraram essa, ah, da vida desses cartógrafos, a biografia desses cartógrafos que elaboraram tais cartas, há que saber também como é que as faziam, e aí, os cartógrafos começaram, os historiadores da cartografia começaram a ficar em desacordo. eu penso, há, houve discussões variadas e até acesas, entre estes homens, de, para se chegar a uma conclusão, de como é que se fazia, uma carta, no século dezasseis. não há motivo para discussões, penso eu, por uma razão muito simples: é que nós temos um documento, um texto, dum padre, o padre Francisco da Costa, que estava em inédito mas foi publicado há relativamente pouco tempo, que indica como é que se fazia uma carta. como há outros textos que dizem como é que se faz um globo. bom, em todo o caso, hav[...], houve especulações acerca do sistema de projecção, a meu ver não há nenhum sistema de projecção, houve especulações acerca duma chamada carta plana-quadrada, que teria sido até inventada segundo alguns pelo Infante Dom Henrique, a carta plana-quadrada é um perfeito equívoco, e o António, e o António mac[...], e o António Barbosa mostrou-o, num livro que publicou, e que teve reedição, aliás publicou também, e a reedição, foi paga exactamente pelo Instituto de Alta Cultura, foi há pouco aqui falado, não foi pelo Senhor Professor Abreu Faro, mas foi por um dos seus antecessores, que publicou, a reedição do António Barbosa, que tem o se[...], tem um título muito comprido "Subsídios, eh, para a História da Cartografia Portuguesa", é um título muito comprido que eu agora não sei reproduzir, eh, textualmente. mas aí ele prova duma maneira muito f[...], muito... clara, a meu ver, que não há lugar para tais discussões; e por uma razão, ele diz o seguinte: de facto, nas cartas portuguesas, a partir de determinado momento, como se começaram a observar, no mar, latitudes, nas cartas portuguesas foi inserida uma escala de latitudes, embora as cartas não estivessem preparadas para isso. foi abusivamente, podemos dizer, inserida uma escala de latitudes e mais tarde alguém teve a ideia de transferir a mesma escala de latitudes para o equador, o que deu como resultado que a carta está, não expressamente mas implicitamente, dividida em pequenas quadrículas. é uma quadrícula. e então nasceu a tal célebre carta plana-quadrada, que efectivamente não foi com esse intuito que o cartógrafo desenhou a carta, foi um acaso de sucessivas, foi uma consequência de sucessivas... abusos, porque se é, se já a escala de latitudes era um abuso, porque a carta tinha sido desenhada por [...] magnéticos e por distâncias estimadas, em que, a, em, a passagem dessa escala para o equador foi outro abuso. bom, esses eram os problemas da cartografia que estavam em suspensos, mas em mil novecentos e sessenta deu-se um grande passo. deu-se um grande passo quando se publicou a "Portugalia Monumenta Cartographica".