TÍTULO: Eu Gosto Dela Demais LOCAL: Brasil - Rio de Janeiro DATA: Década de 80 INFORMANTE SEXO: M IDADE: 31 anos ESCOLARIDADE: PROFISSÃO: Técnico de contabilidade OBSERVAÇÕES: 'nenam' é utilizado pelo informante para substituir o discurso que está a relatar; equivale a dizer "e não sei quê"; "cesárea" é um brasileirismo que significa "cesariana". -> ah! mas aí, quando chegou o dia, não é, da op[...], aí a doutora marcou "vamos fazer dia dez de Maio." aí, pronto, eu sofri até o dia dez de Maio. quando chegou dia dez de Maio que eu ligo para a doutora "não, deixa para o dia treze de Maio." eu falei "oh, uma bonita data, dia de preto velho, tudo bem. está, está melhor." quando chegou no dia treze que eu ligo, que eu liguei no dia doze "não, deixa para o dia quinze". eu falei "doutora, se a senhora me troca mais um dia, eu me mato." e eu com medo, não é, podia, porque ela não podia mais sentir a dor do parto assim. ela tinha que ter um parto, hum, sem dor. - hum. -> porque a, a placenta estava no[...], quase no colo do útero. se ela chega no colo do útero, a placenta sai na frente e a criança fica atrás, morre. e t[...], você sabendo disso, qualquer ser humano, é, sofre. aí, graças a Deus, no dia quinze ela fez a cesárea, foi onze horas, quando foi onze e vinte me deram a notícia. estava eu e o meu cunhado e eu só fazia chorar de nervoso, não é, porque nessa, eu sou muito bonzinho e tudo, mas nessas horas só faço chorar, meu nervoso ataca para chorar. pessoal até me encarna de bebé chorão, mas eu não tenho isso comigo não. eu choro mesmo. aí, quando o médico chegou, não é, falou assim "quem é o papai?" eu só fiz assim. eu não tinha nem força para falar de tanto nervoso. "é uma menina" eu só faltei dar um ataque de tanta alegria e esqueci até que eu estava contando com Rodrigo. e ela anestesiada e o médico depois perguntou "como é que é o nome da criança?" eu falei "sabe que eu não sei." eu falei "bom, se fosse menino ia ser Rodrigo, agora, menina eu não sei. ah! bota Carolina!" porque quando, assim, eu me juntei com a minha mulher, eu não estava numa boa em casa, a senhora sabe, a situação estava periclitante para mim. que eu sempre briguei muito com meu padrasto e realmente eu não estava numa legal com eles. então, eu acho que a minha mulher apareceu na hora exacta para mim. mas não foi por causa disso que eu me juntei com ela nem nada. nós se juntámos, porque ela, não sei, ela, eu acho que ela ainda gosta mais de mim do que eu próprio dela. ela tem uma certa gamação por mim que é fora do comum. o que ela puder fazer por mim, ela faz, sabe, é o tipo de pessoa que é assim, qualquer coisa que eu depender dela - e eu também faço por ela que eu gosto dela demais, não é, porque eu tive muitas aventura na rua e nunca quis ter filho com ninguém. já com ela eu aceitei a criança porque eu gostava dela e, e senti nela, você sente quando a pessoa é - hum, hum. -> legal. então acho que... não tem jeito. ali estou mais amarrado do que se eu fosse casado. para separar ali vai ser uma briga. porque - eu nem quero pensar nisso - porque, assim, eu amo a minha filha demais e amo minha mulher. e eu não acho legal a gente ter o filho com uma pessoa, o pai viver num lugar e a mãe viver em outro. eu acho que de acordo, tem que procurar contornar a situação, procurar viver bem, procurar se entender, conversar bastante, ter bastante diálogo, que eu acho que é o que falta no, na maioria dos casais hoje em dia é o diálogo, para poder ter uma vida assim bem, sabe, sem briga, sem esse negócio de atrito, sem essas confusões toda. eu cá acho isso besteira, não leva a nada. - hum, hum. -> e sou contra, também, os homem que bate em mulher, porque eu acho assim: a mulher não serve para o homem, larga. aí, quando um casal chega a ponto de partir para a agressão eu acho que já não dá mais para viver junto, então cada um para o seu lado. se eu digo para a minha mulher "se eu quis essa criança, é porque eu te amo e sei que você me ama", porque você viveu dez anos casado com uma pessoa, você nunca quis um filho, então você querer o meu é porque você gosta demais de mim. então desde o momento que eu sei que você quis essa criança é porque você me ama, então eu também te amo, vamos viver nossa vida. - hum! que bonito! -> é. é, tudo tranquilo. porque a outra - eu namorei a Sueli dez ou doze anos - a Sueli nunca quis. tira duas criança. o primeiro houve um probleminha, ela teve que tirar. tudo bem, eu tive que aceitar. na época eu sofri à beça, estava com uns vinte e um ano. eu sofri muito. mas já o segundo não. fez, não me falou nada, quando eu vim a saber já tinha feito. então, acho que desde o momento que ela fez isso, não tomou assim nem uma, assim, não teve consideração nenhuma comigo, não é, porque ela para fazer, tinha que falar comigo. não falou. e eu, e eu qui[...], sempre quis assumir, não é, um compromisso com ela. ela que sempre me dava uma volta "ah, nenam." então, eu achei que aquilo foi demais. e continuámos mais por algum tempo assim, mas não deu para levar o barco muito adiante não. - hum. -> aí começou briga, briga, briga. fiquei revoltado, aí fui perdendo aquele amor que eu tinha por ela, acabou. aí tem aquele ditado que "amar só existe uma vez", mas eu acho que para mim não, existiu duas. porque eu amei muito Sueli, mas hoje em dia se a Sueli vem coberta de ouro, eu não troco a minha mulher por ela. eu sou ainda mais a minha mulher.